O Governo alemão acaba de avisar Bruxelas que o acordo comercial CETA com o Canadá não poderá ser aplicado na Alemanha sem a aprovação do Parlamento alemão e do Conselho Federal.
Este é um aviso às instituições da UE e aos lóbis de Bruxelas de que a democracia também tem uma palavra a dizer num negócio que não deveria ser feito à margem dos parlamentos de países europeus em que os governantes respeitam o parlamento e o cidadão.
O Governo alemão vê-se obrigado a intervir porque o povo tem feito muita pressão.
Primeiro uma referência à Noruega: o maior produtor de petróleo do chamado “Ocidente”, tem conduzido de forma admirável os excedentes financeiros dessa exploração, para investimentos que assegurem, no futuro, a continuação do nível de vida, impecável, que hoje usufruem os noruegueses. Nada de espaventos arábicos ou idiotas dos venezuelanos. O maior investidor mundial, tem aplicado dinheiro em largas dezenas de países, jamais ultrapassando 5% do capital das empresas onde aplica, diversificando ao máximo e garantindo que se uma ou outra empresa falir a Noruega não vai sentir.
David Cameron apostou tudo num idiota referendo, colocou os ovos todos no mesmo cesto, orgulhoso e “seguro”, não soube conduzir a opinião pública e... dançou!
Não parece ter sido muito difícil derrubar a imbecilidade de slogans do “out” como “Give us our country back”, como se alguma vez o Reino Unido tivesse perdido a sua TOTAL independência. Não entraram no Euro, não alinharam no Schengen, não aceitaram lutar contra paraísos fiscais e se não gostavam muito das directrizes de Bruxelas, o que estavam lá a fazer 2.000 funcionários?
Boris bramava que a UE custava £ 400 milhões por semana, o que é mentira. Mandavam cerca de 350 e recebiam de volta 200, e tinham 2.000 funcionários, regiamente pagos, não pelo UK mas pela EU. O malandro do Boris, e seus correligionários usaram e abusaram disso, e ninguém os desmentiu. O que era de esperar?
Razão teve o Putin em dizer, há já quase duas semanas, que tinha sido a maior burrada do Sr. Cameron. E foi.
Quem ficou a ganhar com esta saída da UE? Todos os outros blocos económicos do mundo, sobretudo China e América do Norte, não esquecendo a Rússia, agora com a obsessão de reconstruir o Império Soviético e adorando ver a Europa se enfraquecer (vidé Ucrânia) e até o imbecil Donald Trump que vai dizer nos EUA que até os ingleses não querem mais imigrantes!
Quem votou no “out”? A velharia inglesa apavorada com os “imigrantes”! Teria votado na Rainha Vitória ou no Henrique VIII do mesmo modo, recordando os “bons velhos tempos” em que os marajás beijavam a mão do governador da Índia, ou quando morreu o rei Jorge VI, o futuro Eduardo VII estava de visita ao Quénia, recebeu o telegrama a avisar da morte do pai e que regressasse imediatamente a Londres. Eduard não regressou logo. Quis ficar mais uma noite porque sabia que nessa noite ia “comer a mulher do governador”. Comeu e quando chegou a Londres o velho rei já estava em baixo da terra. Esta é a Inglaterra que votou no “out”. Querem continuar com o seu snob “five ó clock tea”, e o futuro, como não será deles... que se lixe.
Quem saiu prejudicado? Os jovens que sabem que o futuro está inexoravelmente ligado à Europa, mesmo com o exemplo desastroso e infeliz que tem sido até hoje a condução super burocratizada do Parlamento Europeu.
Se em vez de implodir a Europa este BREXIT for bem mastigado por todos os países membros, pode ser que a Europa saia fortalecida.
Terá que reduzir o custo do Conselho e do Parlamento em 50% ou mais, para ver se alguma eficiência pode vir a ter, terá que bater o pé à sra. Adolph H. Merkel e sua fobia de conquistar a Europa esmagando os pequenos, terá que consertar a livre circulação de mercadorias, conscientes de que a França tem custos altíssimos nos produtos alimentares, mas que país nenhum pode depender de importação para comer – como é o caso de Portugal desde pelo menos... sempre – continuar a luta contra os paraísos fiscais, dos quais a Inglaterra é um carro chefe, e etc., além de inúmeros etcs., e tentar resolver o programa da invasão dos refugiados que já fez mais de 10.000 mortes por afogamento, entre estas mais de 2.000 crianças.
A sensação que fica é que o “glorioso” Reino Unido, depois de dominar o mundo, desde a China às Américas e África, demonstrou agora uma falta de raciocínio e bom senso, dignos de imberbes mentecaptos.
São historietas de que me lembro, as que me fazem bradar o título ali em cima.
Os meus avós tinham na Beira Alta uns vizinhos que não paravam de ter filhos – uns dos quais iam nascendo mortos e outros exalavam o supremo suspiro pouco depois dos primeiros vagidos – pelo que era uma vitória cada um que vingava.
Quando, dos vivos, o mais velho deu o nome para a tropa, logo todos se apressaram a convencê-lo a calçar alguma coisa. Começou por umas botifarras largueironas – que dariam para um gigante muito maior que ele – onde mal lhe cabiam os dedos esparramados e foi vê-lo coxo a toda a hora, sentado as mais das vezes, a dar largas aos horrores de tanto martírio... e o meu avô lá o ia animando com palavras de encorajamento e botas menos agigantadas para que ele, assentando praça, pudesse então calçar botas da Ordem. E de cada vez que ia com o meu avô à feira comprar botas menos anormais, lá vinha ele sentado sobre um carro de bois a gemer a sua desgraça. E é que nem pensar em vir a pé os três quilómetros da feira até casa. Mas no dia seguinte, entre plangências e palavras horríveis a condizer, lá ele se ia habituando à tarefa de juntar os dedos que sempre tinham andado apartados à moda dos palmípedes.
Passado o negrume de tanta dor, chegou o dia de assentar praça, foram muitos que acompanharam os mancebos da terra à estação do comboio e fez-se grande escuridão de notícias. Breu completo, houve quem mandasse rezar missas pelos jovens da terra de quem nada se sabia.
Até que o nosso militar escreveu uma carta a dar prova de vida daquele género «Espero que esta vos encontre bem que eu por cá nunca pior...». E certa vez a carta dizia que iria para Angola embarcando no navio “Não Sei Quê” e por aí fora como mandava o Movimento Nacional Feminino «e adeus, até ao meu regresso».
Foi cerca de dois anos depois que o nosso homem voltou de Angola, foi desmobilizado, passado à «peluda» e regressou a casa.
Ileso, habituado a três refeições diárias completas, a cama limpa e a hábitos de higiene, ei-lo completamente desadaptado à vida que veio reencontrar de refeições aleatórias, enxerga fétida e descargas fisiológicas a trás das moitas.
O homem não queria de modo nenhum regressar à vida do bicho bravo de antigamente e a primeira coisa que fez, antes da primeira noite depois do regresso, foi pedir ao meu avô se o deixava dormir no quarto dos fundos da escada de serviço, ali ao lado da porta da adega. A resposta imediata foi positiva e a vida retomou um ritmo sem toques de clarim mas de grandes inovações para o obscurantismo até então vulgar.
Esta leva de soldados restituídos à terra que os vira nascer fez com que a autarquia se visse na obrigação de fazer algo parecido com «banhos públicos» na sede do Concelho, iniciasse as prospecções necessárias ao fornecimento de água potável a todas as sedes de Freguesia, promovesse a iluminação (esparsa) das estradas municipais e, consequentemente, fizesse chegar a electricidade a locais que até aí viviam como no tempo dos moiros.
E porquê? Porque a tropa educara os embrutecidos que, entre grunhidos de resmungo, tinham um dia assentado praça, fizera deles pessoas normais e lhes dera novos horizontes geográficos e civilizacionais.
O meu primo sempre achara que era muito melhor ir para a praia e fazer ginástica do que queimar as pestanas a estudar as chatíssimas matérias que lhe impingiam no Liceu.
Atlético e praticante de luta livre, foi Sargento miliciano em Angola. Relativamente pouco o tempo que esteve numa unidade operacional algures «no mato» daí transitando para uma qualquer unidade em Luanda onde deu aulas de educação física a militares e, nas horas vagas, a civis.
Ileso, adorou estar em Angola mas quando lhe perguntei qual fora a missão que lá desenvolvera, deixou-me espantado quando me disse que se dedicara a domar selvagens.
Como assim?
Que eu não imaginava o que era a selvajaria dos soldados (nomeadamente dos brancos) à mesa no refeitório e o que era a falta de ética na luta livre que ensinava a militares, civis, brancos, pretos e mistos.
Então, passou a dar o exemplo à mesa no refeitório militar para que o vissem direito e não debruçado com o queixo dentro do prato, comer com colher, garfo e faca e nas aulas de ginástica, a sua preocupação foi, mais do que os truques e golpes de mestre, a de inculcar a ética cavalheira naquelas cabeças frequentemente estouvadas e por vezes até vingativas. Sim, terá sido muito frutificante domar selvagens.
Conseguiu?
Talvez o homem da primeira história lhe tenha passado pelo refeitório mas não consta que tivesse feito ginástica.
MILHÕES DE CASAMENTOS INFANTIS ROUBAM A DIGNIDADE E A INFÂNCIA ÀS MENINAS
Em Moçambique, metade das meninas realizam casamento precoce e 15 % delas em idade inferior a 15 anos.
Estatísticas da UNICEF relatam que em 2014 em todo o mundo (África, Ásia e Médio Oriente) havia mais de 700 milhões de mulheres casadas antes dos 18 anos e um terço delas são casadas antes dos 15. E, todos os anos, são obrigadas a casar 15 milhões de meninas, geralmente com homens muito mais velhos. Deste modo se impede o desenvolvimento humano e social e se tira a possibilidade às meninas de uma frequência escolar adequada e rouba-se-lhe uma infância e juventude a que teriam direito.
Discriminação por razões culturais e sociais. A família das meninas recebe um dote dos pais do nubente ficando, estes, muitas vezes, arruinados para toda a vida.
Perguntado sobre o que penso acerca do BREXIT, gostaria de só responder depois de ter a informação completa sobre o PIB per capita britânico (£ 36700 em 2012) e sobre o PNB também per capita mas apenas relativo à Inglaterra propriamente dita (que optou pela saída mesmo correndo o risco de perder a Escócia e a Irlanda do Norte).
Desde o Banco de Inglaterra até à ONU, bem procurei na Internet mas nada encontrei.
Admito perfeitamente que possa ter sido aselha na busca mas, na verdade, continuo a crer que essa comparação nos poderá elucidar sobre se a decisão foi egoisticamente racional (PNB pc inglês > PIB pc britânico) ou economicamente absurda (PNB pc inglês < PIB pc britânico).
Recordemos que:
- PIB é o valor de todos os bens e serviços produzidos por nacionais e estrangeiros no interior de um certo país durante um ano;
- PNB é o valor de todos os bens e serviços produzidos por nacionais durante um ano dentro ou fora do país considerado.
Será que alguém me pode ajudar com o número em falta?
O Reino Unido vai sair da Europa? Parece. E vai implodir a União Europeia? Talvez.
Mas deve começar por se implodir a si própria com a saída da Escócia e, quem sabe, da Irlanda do Norte.
Boris Johnson amedrontou os britânicos, normalmente valentes, como se viu nos seus soldados a ajudar a Europa na I e II Guerras Mundiais, com a alegação de que têm no seu território 3 milhões de emigrantes, mas esqueceu-se de dizer que, em contrapartida, espalhados pelo mundo tem mais de 2,5 milhões de britânicos.
Argumentou e bramou que os roms roubam os alojamentos que deveriam ser para os filhos da terra, os búlgaros e agora os sírios – que pouquíssimos lá entraram – estão a ocupar postos de trabalho dos nativos british, mas também se esqueceu de dizer que eles roubaram as melhores terras e palácios quando colonizaram a Índia, e os países africanos, que foram, e SÃO, os responsáveis pela desgraça que desde há um século se tem abatido sobre o Curdistão, quando quiseram monopolizar o petróleo do Médio Oriente e “ofereceram” o Curdistão aos iraquianos!
Ainda se esqueceu dos primeiros imigrantes: os celtas, os normandos, os bretões, que devem ter ocupado – e ocuparam mesmo – os altos cargos da então incipiente Inglaterra... sem referendos!
Não falou do assalto que fizeram à Irlanda, da transferência de ingleses para o Norte, para continuarem com aquela parte anexada, e que quer continuar na UE.
E os babacas ingleses decidiram sair da UE, e comemoram como se tivessem ganho a Copa do Mundo de futebol, que isso sim, eles inventaram bem!
A moeda já desvalorizou, vai cair mais, e a Inglaterra vai ficar um paisínho, isolado, a pensar que pode competir com o bloco norte-americano, o asiático e até o europeu, se este não ruir também, vendendo Rolls-Royces, e produtos farmacêuticos.
Boris, o mesmo cabelinho amarelo, igualzinho ao seu comparsa Donald Trump, que está a levar o terror aos americanos, ajudando a bandalha dos republicanos a venderem mais armas para matarem mais americanos, repetindo os desastres do George Bush quando decidiu atacar o Iraque, dizendo ao povo que era preciso acabar com o ditador, e depois com o Bin Laden. Tudo isto à custa de milhares de mortos entre os seus soldados e muito mais milhares de estropiados, mas... vendendo armas.
Por aqui houve também – e ainda não está “morto” – um demagogo que bramou contra as “zelites que roubavam o povo” e quando deitou a mão ao poder roubou dos cofres públicos, ele e a camarilha, algo que deve andar por volta de um trilhão de reais ou dólares, ninguém sabe ainda quanto!
Cerca de 40% das exportações britânicas vão para países da UE. Agora vão pagar direitos, e como consequência, vão cair essas exportações. Do mesmo modo vão encarecer os produtos de importação.
E se é tanta a fobia contra os imigrantes, que têm mantido a taxa de reposição populacional, apesar de abaixo da média mínima de 2,1 filhos por casal, a um nível de 1,7, que, se esses “indesejáveis” não continuarem a afluir, qualquer dia a população da Britânia ficará de tal modo reduzida que...
No fim de contas de quem é a culpa de tudo isto? Raciocinemos um pouco.
- O custo exorbitante do Parlamento Europeu que se reúne em Bruxelas e Estrasburgo. Para quê dois lugares? E para quê aquela montuêra de eurodeputados que ganham uma fábula e se aposentam ainda quase imberbes?
- Os egos desses parlamentares a quererem impor, muitas vezes copiando o de triste memória “ultimato” inglês a Portugal em 1890, medidas idiotas, selváticas, insensatas, como quando há uns anos quiseram obrigar Portugal a “baptizar” o vinho com açúcar, porque havia excedentes de açúcar de beterraba no Norte da Europa, ou quando ficaram a pagar a agricultores portugueses para não produzirem cereais, e permitirem que os agricultores ingleses sobrevivessem de subsídios e não deixar que isso se passe nos países mais pobres, etc.
- Está muita gente a mamar à custa dessa tal União Europeia. Os resultados não são nada do que seria de esperar, mas os “mamadores” acham que está óptimo! Depois admiram-se que haja tantos euro cépticos, alguns até ferozmente anti UE. Dá a sensação que, em muitos casos esse parlamento legisla em causa própria, esquecendo os 300 milhões de europeus que sonhavam com um aumento do seu nível de vida com essa União que já leva 23 anos de vida, e não se envergonha de no seu conjunto ter uma taxa de desemprego de 9,6% (2015) e uma Dívida pública de 87,4% do PIB (2015), números estes que... serão verdadeiros? E não terão piorado em 2016?
Acabar com a UE não parece ser uma boa solução para todos os países da Europa. Mas reforçar PROFUNDAMENTE os conceitos, o Parlamento, e a arrogância, parece que é uma necessidade urgente, que o BREXIT deixou bem evidente ao dizer não ao lento, e por vezes desastroso arrastar dessa Europa, aparentemente uma União, bastante desunida.
A feroz Merkel e o desastrado Hollande beijam-se e abraçam-se. A Suécia e a Dinamarca com os seus sistemas que funcionam perfeitamente também não estão interessados em continuar a manter uma União desunida.
Enfim. A União Europeia foi um sonho começado por Napoleão, mas não tem Napoleão nenhum no seu comando. Tem uma pseudo democracia onde, parlamentando à italiana, todos puxam a brasa à sua sardinha.
Lembra um versinho que fizeram ao ex Presidente Américo Tomás à saída da sua visita a Angola:
Angola no coração
A Gertudes no beliche
Os presentes... no porão
E o preto... que se lixe!
24/06/2106 – Dia de S. João, quando a sardinha pinga no pão!
Para os amigos reflectirem, uma das muitas pérolas literárias de Padre Manuel Bernardes.
“Quatro mães muito formosas parem quatro filhos muito feios.
A verdade pare o ódio; a prosperidade, orgulho; a familiaridade, desprezo; e a segurança o perigo”.
Padre Manuel Bernardes (Lisboa/1644-1710) foi um dos maiores clássicos da língua portuguesa. Estilo elegante na descrição dos conceitos. Profundo nos ensinamentos, ama e exalta a Deus incondicionalmente, a quem relaciona todas as coisas.
“Em Bernardes os defeitos pertencem às épocas, ao passo que as elegâncias e belezas nunca envelhecem”, disse Rebelo da Silva.
Foi em 1964, pelos seus 28 anos de idade, que o Padre Jorge Bergoglio ensinou literatura nos dois últimos anos do Liceu no Colegio de la Inmaculata Concepción em Santa Fé[1].
Encaminhando os alunos para a escrita criativa, sigamos a narrativa do Papa Francisco:
Foi uma coisa um pouco arriscada. Devia fazer de tal modo que os meus alunos estudassem «El Cid». Mas os rapazes não gostavam. Pediam-me para ler Garcia Lorca. Então decidi que deveriam estudar «El Cid» em casa e durante as lições eu trataria os autores de que os rapazes mais gostavam. Obviamente, os jovens queriam ler as obras literárias mais “picantes”, contemporâneas como «La casada infiel» ou clássicas como «La Celestina» de Fernando de Rojas. Mas ao ler estas coisas que os atraíam naquele momento, ganhavam mais gosto em geral pela literatura, pela poesia e passavam a outros autores. Para mim, esta foi uma grande experiência. Cumpri o programa mas de modo desestruturado, isto é, não ordenado segundo aquilo que estava previsto, mas segundo uma ordem que resultava natural da leitura dos autores. E esta modalidade tinha muito que ver comigo: não gostava de fazer uma programação rígida, mas eventualmente saber mais ou menos onde chegar. Então comecei também a fazê-los escrever. No final decidi dar a ler a Borges[2] dois contos escritos pelos meus rapazes. Conhecia a sua secretária, que tinha sido a minha professora de piano. Borges gostou muitíssimo e então ele propôs escrever a introdução de uma colectânea.
Perguntar-se-á agora o que chamou a minha atenção em história tão plausível e, quase diria, banal...
Inesperadamente, o que chamou a minha atenção foi aquela Senhora que secretariava um escritor da envergadura universal de Jorge Luis Borges e que foi professora de piano dum futuro Papa.
Dá para imaginar a estatura humana e cultural daquela porteña anónima? Quantas pessoas assim fantásticas andarão por aí escondidas e esquecidas? E quem era ela?
Perguntem ao Papa!
Henrique Salles da Fonseca
(à porta do Seminário de Rachol, Goa, NOV15)
BIBLIOGRAFIA:
“Entrevista exclusiva do Papa Francisco às revistas da Companhia de Jesus”, António Spadaro, SJ, BROTÉRIA – Agosto/Setembro de 2013, pág. 112 e seg.
... E A NOVA AGENDA DOS PARTIDOS DE ESQUERDA NA EUROPA
Uma Europa tão aberta que não sabe onde é dentro nem onde é fora
Ponto de partida
Vivemos numa Europa que não sabe o que a Europa quer! A sociedade europeia parece ter chegado aos seus limites. De facto, a sua abertura é tanta que já não se sabe onde é dentro e onde é fora.
Toda a sociedade que não se preocupa com a sua definição, com a sua identidade, perde a razão do seu existir.Uma sociedade não se pode definir apenas pelas suas demarcações territoriais, ela precisa também de um tecto cultural espiritual, no caso, precisa de se reencontrar no cristianismo.
A moral baseada nos dez mandamentos foi substituída pelo moralismo do pensamento politicamente correcto, da falsa tolerância, do “não deves…” e de um insidioso desenraizamento que se agarra à rotina de uma desgraçada filosofia niilista que reduz o ideário do cidadão à mera satisfação das suas necessidades primárias.
A consequência natural da ausência de um tecto metafísico torna-se visível nas crises de identidade individual, de identidade nacional e de identidade civilizacional. Isto leva socialmente à formação de uma economia dominada por um capitalismo predatório e de uma cultura submetida a um socialismo predatório. No vácuo cultural formam-se bolhas islâmicas e mundivisões mecanicistas que conduzem à arrogância, à insatisfação e à frustração de pessoas humanistas adultas, mais conscientes e sensíveis.
A insatisfação social e a situação partidária
Grande parte do povo europeu tem a sensação de que não é senhor na própria casa e tem a impressão de ter uma classe dominante composta de lobos vestidos de cordeiros. Assim, o povo, cada vez mais se afasta da classe política estabelecida e reinante. Em todas as nações alastra o descontentamento social e a desilusão observando-se, na sequência disso um amplo movimento social para o centro-direita e um radicalismo nos extremos.
Os ventos neoliberais que assediam a social-democracia europeia desestabilizam o centro social-democrático de esquerda e de direita, o que leva os partidos andarem agora à procura de noivas nos partidos radicais.
Os grandes partidos do consenso perdem as penas, correndo perigo de se tornarem ultrapassados; por outro lado os partidos das bordas têm-se encontrado demasiado centrados em si mesmos, e, como rastejo acompanhante, assiste-se a protuberâncias sociais no activismo político da extrema-esquerda e da extrema-direita. (A sociedade portuguesa é pacífica e moderada; politicamente é de inclinação republicana esquerda não possuindo extrema-direita).
Reacção apressada à situação
Atendendo à insatisfação generalizada do povo europeu os partidos que antes giravam em torno do centro esquerda reagem querendo perfilar-se com posições ainda mais radicais à esquerda como forma de responderem à acentuação do crescente nacionalismo provocado pelo vácuo cultural criado principalmente por ideologias prepotentes que fizeram das leis as rédeas do povo; essa elite reage agora assustada quando este parece querer beneficiar os partidos do centro direita e favorecer as bordas da sociedade, o que implica maior fragmentação política e social.
Tanto a esquerda radical (comunista) como a esquerda socialista, em vez de agirem reagem, chegando apressadamente à conclusão de que o povo precisa de assédio e de mais estímulo emocional. Para isso as famílias partidárias da esquerda europeia pretendem seguir uma agenda ainda mais virada para um “populismo de esquerda, empático e iluminado". A agenda de radicalização foi anunciada na Alemanha pelo partido Die Linke (A Esquerda), seguindo-se-lhe o moderado SPD alemão (desgastado pela governação) e por último o Congresso do PS em Portugal. O PS já se encontra demasiado à esquerda (se tivermos em conta o SPD). A experiência do governo de Aléxis Tsípras na Grécia e de António Costa em Portugal parecem encorajar a esquerda a tornar-se mais radical.
Armam-se em escudo protector de uma classe que também exploram e para melhor se perfilarem usam uma posição ambígua em relação aos governos e de alas dentro do próprio partido. Numa época em que as questões sociais não se resolvem só a nível nacional nem partidário, a esquerda parece abdicar da responsabilidade ao acentuar uma estratégia baseada no ressentimento e na inveja e na luta entre os de cima e os de baixo; por outro lado um capitalismo liberal desenfreado dá-lhes razão.
Perante o Zeitgeist (espírito da época) europeu, que de momento expressa a necessidade de corrigir um movimento político progressista a perder cada vez mais as referências da cultura europeia, a esquerda europeia, em vez de reflectir sobre erros e exageros na imposição da sua ideologia, quer reagir mais agressivamente nos debates da sociedade, para assim poder ganhar para si a razão da emoção.
Portugal derrapa à esquerda enquanto a Europa se corrige reorganizando-se um pouco mais à direita. O povo português teria muito a dizer à UE mas a sua elite, enquanto não se descobrir como povo, será levada a viver da ideologia importada, impingindo ao povo gato por lebre, quando no país há tanta lebre!
Como Portugal não tem nenhum partido de extrema-direita, a nova estratégia da esquerda significará para Portugal uma escorregadela ainda mais à esquerda; em relação aos países do centro nórdico europeu, a sociedade portuguesa continua a nível ideológico político um passo à esquerda da Europa.
Quem manda pode e quem pode manda; só manda vir quem não pode ou quem não está consciente de que também pode poder organizando-se!
Maria de Fátima da Silva Patriarca nasceu no Monte do Sol Posto, no Couço, concelho de Coruche, em 19 de Janeiro de 1944 e morreu em Lisboa, no Hospital da CUF, na manhã do dia 11 de Março de 2016.
A sua família era natural de Manteigas, e Fátima Patriarca nasceu no Ribatejo por uma circunstância fortuita: o seu pai trabalhava no Monte do Sol Posto como contabilista da casa agrícola dos Ribeiro Telles e professor dos filhos dos trabalhadores daquela herdade.
Em 1949, a família partiu para Benguela, em Angola, onde Fátima Patriarca passou a infância e os primeiros tempos de juventude. Aí fez a escola primária, o curso comercial e o liceu, após o que veio estudar Germânicas na Universidade de Lisboa. Tendo ingressado em Letras em plena crise académica de 1961, duas reprovações inesperadas – a Inglês e a Alemão – deram-lhe pretexto para abandonar um curso que não a motivava, indo ao encontro do seu interesse pelos problemas sociais. Assim, transferiu-se em 1963 para o Instituto Superior de Serviço Social, onde se diplomou, com 17 valores, em 1967. Em Novembro desse ano, participou nas acções de socorro às vítimas das cheias que devastaram a Grande Lisboa, e provocaram centenas de mortos. Recordaria para sempre o cenário dantesco desses dias, um momento decisivo na formação cívica e política de muitos jovens da sua geração.
Entre 1968 e 1973, foi técnica de Serviço Social na Direcção-Geral de Previdência e Habitações Económicas. A actividade desenvolvida aí permitiu-lhe enriquecer o seu já profundo conhecimento do país, sendo um factor determinante da futura carreira académica e da obra que produziu.
Tendo decidido ir para Paris em 1969, Fátima Patriarca foi, entre 1970 e 1972, bolseira da Fundação Gulbenkian. Nessa qualidade, frequentou o Troisième Cycle em Sociologia, na École Pratique des Hautes Études, VIe Séction, onde obteve o Diplôme d’Études Approfondies en Sciences Sociales (deass).
Após regressar de França, reassumiu funções na Direcção-Geral de Previdência e Habitações Económicas e, em simultâneo, colaborou no Grupo de Sociologia do Gabinete Técnico de Habitação da Câmara Municipal de Lisboa. Em 1973, transitou para o Centro de Documentação e Informação deste organismo, onde permaneceu até 1975.
Quando, em 1974/1975, colaborou, no Gabinete de Investigações Sociais (GIS), na investigação sobre “Conflitos de trabalho após o 25 de Abril”, sob responsabilidade de Maria de Lourdes Lima dos Santos, Marinús Pires de Lima e Victor Matias Ferreira, Fátima Patriarca possuía já alguma experiência docente, pois leccionara entre 1969 e 1970 no Instituto Superior de Serviço Social, funções que retomaria em 1974/1975 (sendo responsável pela disciplina de Sociologia do Trabalho). Neste ano de 1975 foi assistente do ISCTE, sendo igualmente em 1975 que ingressou no Gabinete de Investigações Sociais. A partir daí, inicia em pleno o seu percurso como investigadora, encerrando--se um ciclo de vida até então pontuado pelo trabalho como técnica de Serviço Social e por uma passagem pelo ensino, que não terá sido especialmente relevante para a sua obra posterior.
Em 1980, licencia-se em Sociologia no ISCTE, com a classificação final de 18 valores. A sua área de especialização – a Sociologia Industrial – levara-a a contactar directamente o meio fabril português, acompanhando de perto a laboração de empresas como a Lisnave, a Sidul, a Sorefame, a Setenave e, sobretudo, a Mague. Com a integração do GIS na Universidade de Lisboa, passa a Assistente de Investigação no Instituto de Ciências Sociais (ICS). Entre 1989 e 1991, primeiro sob orientação de Maria Filomena Mónica e Manuel de Lucena e, depois, de Adérito Sedas Nunes, desenvolve o projecto de investigação “O processo de instauração do corporativismo, no domínio das relações entre o capital e o trabalho (1930-1947)”, o qual culmina na sua dissertação, em Janeiro de 1992.
Antes desse trabalho de grande fôlego, Maria de Fátima Patriarca estivera envolvida noutros importantes projectos: entre 1975 e 1978, com Marinús Pires de Lima e José David Miranda, “A acção operária nas empresas após o 25 de Abril – significado do movimento conflitual e grevista”; em 1978, num trabalho financiado pela Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica e intitulado “O trabalho e a acção operária na indústria metalomecânica pesada”; e, entre 1983 e 1986, “Sindicatos, contratação colectiva e greve: o caso dos metalúrgicos portugueses (1968-1972)”.
Em Janeiro de 1992, concluiu as provas da carreira de investigação no ICS, com a classificação máxima. Para o efeito, apresentou a dissertação “Processo de implantação e lógica e dinâmica de funcionamento do corporativismo em Portugal – os primeiros anos do salazarismo”, volumoso trabalho, mais tarde publicado em livro, em dois tomos, com o título A Questão Social no Salazarismo, 1930-1947 (Lisboa, INCM, 1995). A obra é dedicada a Adérito Sedas Nunes, a quem agradece “uma total liberdade e uma crítica implacável, condições indispensáveis ao trabalho e maturidade intelectuais”. Além desse agradecimento, Fátima Patriarca manifesta a sua gratidão a diversos colegas, mas destaca dois: Maria Filomena Mónica, com quem colaborou durante anos sobre as “questões operárias”, e Manuel de Lucena, que apelida de “pioneiro nos estudos sobre o corporativismo”, e ao qual agradece o estímulo e, em particular, as críticas e as sugestões nascidas de uma “leitura atenta e rigorosa” do texto, traço que é fácil reconhecer por todos quantos beneficiaram da argúcia e generosidade de Manuel de Lucena.
Além da dissertação, prestou provas complementares, tendo apresentado o trabalho “Projecto de investigação: sindicatos e luta social no regime corporativo – dos anos 50 a 1974”. Tratava-se de um projecto que prosseguiu mesmo após a sua jubilação, ocorrida em Outubro de 2005. Ao jubilar-se, Fátima Patriarca concluía uma carreira que a fizera percorrer todos os passos de um exigente caminho, de Assistente a Investigadora Principal.
Maria de Fátima Patriarca concentrou praticamente toda a sua actividade no ICS. Foi aí que, com Maria Filomena Mónica, criou em 1979 o Arquivo Histórico das Classes Trabalhadoras, mais tarde Arquivo de História Social do ICS. No GIS e, depois, no ICS, exerceu as mais diversas funções, entre as quais as de vogal do Conselho de Gestão e do Conselho Científico do GIS, membro do Conselho de Redacção do Boletim de Estudos Operários, representante dos investigadores do ics na Assembleia da Universidade de Lisboa, responsável pelo Arquivo de História Social do ICS, membro da Comissão Permanente do Conselho Científico, do Conselho de Redacção da Análise Social, da Imprensa de Ciências Sociais e presidente da Assembleia de Representantes.
O reconhecimento dos seus méritos como cientista social e o apreço pela integridade do seu carácter fizeram com que fosse chamada a desenvolver trabalhos sobre questões relacionadas com o ensino superior e a investigação. Entre 1991 e 1993, participou na pesquisa dirigida por José Mariano Gago sob o título “Papel das investigações científicas e tecnológicas e do ensino superior no planeamento estratégico de Lisboa”. Entre 1993 e 1994, foi membro do Grupo de Trabalho – Inquéritos, no quadro da avaliação da Universidade de Lisboa. Sendo muito vasta a sua acção nestes domínios, seria fastidioso recordar cada um dos momentos em que Fátima Patriarca neles teve intervenção, bastando mencionar a sua participação em 2004 – e a convite de António Barreto –no painel de avaliação de projectos de investigação apresentados à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e ao Ministério da Segurança Social.
É certo que, como atrás se referiu, a sua obra como investigadora se destaca em face da actividade docente. No entanto, Fátima Patriarca ministrou cursos e palestras, organizou conferências e, sobretudo, mobilizou e integrou várias equipas de cientistas sociais. Neste contexto, entre 1974 e 1976 leccionou no ISCTE o “Seminário sobre a sociedade portuguesa – área de conflitos de trabalho”. Em paralelo, de 1975 a 1983 iria, com Marinús Pires e Lima e Maria Filomena Mónica, promover a realização de palestras e seminários de investigadores estrangeiros, como Alain Touraine, Michelle Perrot, ou Patrick Friedenson. Foi também convidada a proferir conferências ou leccionar em seminários de pós-graduação ou cursos de mestrado nos mais variados lugares – Escola Nacional de Saúde Pública, ISCTE, FCSH da Universidade Nova de Lisboa, ICS. Foi, todavia, em colaboração com Maria Filomena Mónica que mais frequentemente trabalhou, seja nas iniciativas atrás citadas, seja na organização, em 1981, do colóquio “O movimento operário em Portugal”, seja, enfim, na coordenação do seminário “Fontes e arquivos com importância para o estudo do movimento operário”, de 1984.
Além do Budo, que praticou durante quase 50 anos, cultivava outras artes, igualmente marciais. Entre elas, a maior de todas, a amizade. Por leal amizade, tomou entre mãos e chamou a si tarefas que a obrigaram a abandonar a sua “zona de conforto”, como agora se diz, mergulhando a fundo, por exemplo, na coordenação científica da exposição “1936 – Tarrafal – Guerra Civil de Espanha”, inaugurada na Torre do Tombo em 2006. Antes disso, recolhera apoios para a elaboração, a que procedeu, de um fac-símile do Álbum Fontoura, composto por 549 fotografias da antiga colónia portuguesa de Timor e depositado no Arquivo de História Social do ICS. Mais tarde, a amizade com Manuel de Lucena levá-la-ia, sob coordenação deste, e em colaboração com Rita Almeida de Carvalho, a acompanhar a transcrição e disponibilização online de fontes escritas e orais preciosas sobre a descolonização portuguesa. Não seria este o último gesto de amizade que teria para com Manuel de Lucena, cuja morte inesperada a abalou profundamente. Dedicou-se, com alguns colegas, à organização da obra colectiva Estados, Regimes e Revoluções. Estudos em Homenagem a Manuel de Lucena (2012), para a qual contribuiu com um texto sobre “A batalha de Pomigliano d’Arco”.
Ao longo da sua carreira, publicou dois livros. Um, já citado, sobre a questão social no salazarismo. O outro chama-se Sindicatos contra Salazar.
A Revolta do 18 de Janeiro de 1934, e foi dado à estampa pela Imprensa de Ciências Sociais em 2000. Além disso, cerca de uma vintena de artigos de revista, textos breves, entradas de dicionários. Tratou um dos mais importantes documentos que se conhecem sobre a génese do Estado Novo: o “Diário” do chefe de gabinete de Salazar, Antero Leal Marques, que, graças à generosidade da família, deu entrada no Arquivo de História Social e daí saiu impecavelmente transcrito, anotado e apresentado por Fátima Patriarca nas páginas desta revista. Realizou o seu último trabalho – a revisão científica de Cronologias de Portugal Contemporâneo (1960-2015) – de forma tremendamente séria, com o perfeccionismo que decorria do profundo sentido de responsabilidade que colocava em tudo quanto fez em vida.
Ao evocar a sua obra, num texto notável lido por ocasião da oportuna homenagem que em 2015 o ICS prestou aos seus historiadores, Álvaro Garrido observou: “Publicou sempre textos amadurecidos e só publicou quando entendeu que tinha coisas importantes a dizer porque entendeu submeter resultados de investigação ao escrutínio dos pares”.
Como também sublinhou Álvaro Garrido, Sindicatos contra Salazar. A Revolta do 18 de Janeiro de 1934 é uma “obra sofisticada, de grande maturidade e de culto pela micro-história à Carlo Ginzburg”. Intrigada pelo 18 de Janeiro como um dos mitos fundadores da imagem revolucionária do proletariado português, Fátima Patriarca deslinda-o com a exasperante minúcia de um médico legista ou de um detective de romance.
Avessa aos desconcertos do mundo, nunca buscou a polémica, ainda que neste seu livro haja desmantelado, pedra a pedra, mitos quase sacrais e crenças bem arreigadas sobre o “soviete da Marinha Grande”. A dado passo da Introdução, a autora fornece-nos uma pálida imagem do que foi a dimensão do seu esforço: além de uma cronologia ao minuto de tudo o que se passou em Portugal no dia 18 de Janeiro de 1934, a pesquisa envolveu a elaboração de um ficheiro onomástico de perto de 400 pessoas referenciadas pela imprensa. Depois, com a abertura do arquivo da PIDE/DGS, houve que reabrir o labor de pesquisa, meses a fio.
Escrevendo no dia da sua morte, a sua grande amiga Maria de Fátima Bonifácio disse, sagazmente, que “a maior dificuldade da Fátima Patriarca era convencer-se a si mesma”. A humildade era um dos traços mais vincados do seu carácter. Mas foi dessa humildade que nasceu a enorme solidez da sua obra. Nada ousava dizer sem a certeza absoluta de que as suas afirmações eram apoiadas em dados certos, indesmentíveis. Tinha, aliás, a consciência de que, trabalhando com arquivos, estes nem sempre são fiáveis.
Deixou-se para último aquilo que é primeiro. Estas linhas foram escritas porque alguém me fez chegar às mãos o curriculum vitae de Fátima Patriarca.
Esse alguém tem um rosto e um nome: Jorge Almeida Fernandes. Casaram em 1965, na Igreja de São João de Brito, Lisboa. Estiveram juntos, portanto, mais de cinco décadas. Num sábado de tempo incerto, lançou-lhe as cinzas ao mar – e, com elas, um pouco de todos nós.