Fui ao Brasil para confirmar que o Zica estava solto e que o Lula estava preso mas nenhuma das ocorrências se verificou: logo que cheguei a Manaus disseram-me que por ali não se registou até agora qualquer caso de padecimento causado pelo vírus e enquanto por lá andei, o debate jurídico-político foi muito tenso mas rondou apenas a destituição da auto intitulada «Presidenta» bem como a impugnação da golpada presidencial para arranjar estatuto especial que assegurasse a imunidade ao putativo gatuno.
Decididamente, a «Globo» tirou o tapete debaixo dos pés do PT, da «Presidenta» e do putativo. E quando a Rede decide levar uma campanha por diante, nada a pára. Assim foi que sempre que passei frente a um televisor, lá estava o canal 25 a contar as enormidades por que o Brasil tem passado sob a égide da mais desenfreada e abjecta corrupção. Atendendo a que, no Brasil, a «Globo» tem muito mais credibilidade do que o «Diário do Governo» ou lá como se chama o jornal oficial deles, as consequências são devastadoras para o Poder instituído. Um dos resultados imediatos desta campanha de desacreditação dos políticos com a mão na porta do cofre público é o aumento vertiginoso da economia paralela com o Contribuinte a fazer o mais que pode por fora da legalidade tributária gozando com um Fisco incapaz de chegar a toda a imensa parte onde a fuga acontece. «Para que vou eu pagar se o meu contributo vai por certo parar à mão dos gatunos?» – eis o mote que se ouve por todo o lado. Se a economia paralela cresce mais do que a fiscalizada e se dentro das grandes empresas estatais vale tudo menos deixar de roubar, o resultado fica à vista: o PIB dá um trambolhão, o défice público mostra as garras, o serviço da dívida encarece, a emissão monetária intensifica-se, a credibilidade da moeda fenece, a inflação floresce... E se ao cidadão comum começa a sobrar muito mais mês no fim do dinheiro, ai «Presidenta, Presidenta»... não digo onde vais parar porque o pudor mo impede.
Eis o Brasil que fui encontrar, eis o cenário que estava longe de desejar. Depois do que ouvi, creio agora que, quanto pior, melhor, para que os acontecimentos políticos avancem decisivamente e algo de muito significativo possa ocorrer e não mais seja necessário que a Oposição política e o Poder Judicial brasileiros venham reunir-se em Lisboa como que temendo represálias físicas lá dentro. E se esses temores são reais (durante esta minha breve estadia em solo brasileiro, um advogado que pedira a prisão de Lula foi assassinado no seu escritório por um matador que se fizera passar por cliente), então dá para perguntar onde está o Estado de Direito.
Garanto que o General Villas Bôas, Comandante Geral do Exército Brasileiro, não foi a Manaus enquanto eu lá estava para me pedir opinião sobre os acontecimentos no país dele mas, em compensação, explicou-me que as Forças Armadas agirão apenas no quadro constitucional. Sim, fiquei bastante mais tranquilo pois quando lá cheguei vi jeitos de se envolverem todos num grande sarilho connosco, inocentes turistas, metidos na algazarra. O Exército não está de prevenção, está alerta. O que quer isso dizer objectivamente na terminologia militar brasileira? Ignoro mas admito que tenham apenas posto a bala na câmara. Na câmara da espingarda, ainda não na dos Deputados.
E porquê tanta relevância à quadrícula militar amazonense? É que é lá que está toda a estrutura de guerra na floresta (a tal que foi à Colômbia acabar com as FARC a pedido do Governo daquele país) a fazer a segurança do triângulo fronteiriço Brasil-Venezuela-Colômbia, região por onde o PT poderia ter a veleidade de pedir ajuda a um qualquer Maduro esquerdino das redondezas.
O que captei da mensagem do General ao Governo foi: não agiremos fora do quadro constitucional vigente mas não pensem que os vossos amiguinhos de fora podem entrar por aqui nem por qualquer outro ponto mais aberto da fronteira.
E eu fiquei muito mais tranquilo para navegar no Solimões e no Negro e me embrenhar na floresta a ver cobras, macacos e índios. Avisadamente, não me propus nadar com jacarés nem com piranhas.
Nasceu há mais de 2.500 anos. Foi Grande Mestre, teve inúmeros seguidores que o veneravam e obedeciam, e cuidadosamente transmitiram seus ensinamentos, quase considerado um santo, foi perseguido, escreverem-se livros atacando o seu pensamento, dois mil anos mais tarde renegado, um “quase inimigo” do povo, novamente reabilitado, enfim um Grande Mestre cuja filosofia de vida até hoje se discute, mas a quem jamais se pode chamar de fraco ou “inimigo” a não ser da mentira.
Renegado e amaldiçoado pelos que não conseguem ou querem ser “homens”!
A base dos seus ensinamentos estava alicerçada no “homem de bem”, na “humanidade” que em chinês se expressa por ren.
Curioso, eu, como tudo que envolve a escrita chinesa, é um ideograma que transmite a ideia de ren, composto de dois elementos: homem ou pessoa 人 e três 三, 任.
Não significa uma ideia abstracta, mas o bem que um homem pode fazer a quem está à sua volta. Virtude de humanidade tão rara que Confúcio chega a pensar que ninguém é digno de tal classificação, excepto em lendas.
E disto tira algumas lições: “O que queres que te façam, não faças aos outros”, o mesmo princípio do Antigo Testamento. Em outras das suas abordagens: “Praticar o ren é começar por si mesmo: querer elevar os outros tanto quanto queremos nos elevar a nós próprios, e desejar o seu êxito, quanto desejamos o nosso. Acolhe em ti o que podes fazer pelos outros, eis o que te porá no caminho do ren!” Ou ainda quando lhe perguntaram o que era o ren ele responde secamente: “É amar os homens!”
Nas virtudes de ren entram igualmente duas virtudes de honestidade, zhong : composta de coração, 心, e de meio 中,que são a lealdade para consigo próprio e em particular pelo seu soberano; e xin, composto de homem 人 e palavra; a fidelidade à palavra dada, que torna um homem digno de confiança. A antiga garantia da palavra que era dada por um fio da barba.
Mas não se fica por aí. O homem de bem deve possuir duas qualidades sem as quais não poderá assumir responsabilidades políticas: discernimento zhi, e coragem , yong. Sem discernimento ele não pode tomar decisões judiciosas, nem sondar o carácter dos homens para escolher os seus auxiliares. Quanto à coragem, uma arma de dois gumes que ainda que necessária, deve ser temperada com outras virtudes.
Muitas mais citações, ou lições, ou conselhos do Grande Mestre poderiam continuar neste pequeno texto. Mas tudo isto vem a propósito dos gravíssimos momentos que estamos a atravessar, com particular incidência sobre a autêntica “esculhambação” política que o Brasil está a exibir perante si próprio e o mundo.
Pior é que está a destruir o pouco de orgulho que muitos brasileiros ainda tinham, e alguns têm, pelo seu país, pela bandeira verde/amarela, envergonhando-os face aos acontecimentos dos últimos tempos.
Finalmente a justiça brasileira sai da covardia e do buraco em viveu tanto tempo escondida e amedrontada, e assume a sua postura de independência, com alguns juízes e promotores a fazerem o seu trabalho sem se preocuparem com quem está no banco dos réus. Regressa o orgulho de ser brasileiro.
Isso é o que está a animar o povo: FINALMENTE, os “colarinhos brancos”, os corruptos e corruptores vão acabar na cadeia, sejam eles quem forem.
Os bandidos – lula, sovietes, baderneiros e comprados – como foi na ocasião noticiado, ameaçaram até com guerra. Mas o Comando Militar fez um sóbrio e claro aviso: “Os Serviços de Inteligência Militar, mesmo depois que acabou a ditadura, nunca foram desmontados, e continuam a funcionar perfeitamente. As Forças Armadas não vão interferir nos processos políticos. A sua missão, além da defesa do país contra eventuais inimigos é garantir a Constituição, e se necessário, a ordem interna. Se uma ou outra estiverem ameaçadas... nós continuamos de prontidão.”
Foi claro o recado! Os famosos 250.000 homens que o soviete que preside o MST diz que pode pôr armados em pé de guerra em 24 horas, se o “cara” se armar em che guevarinha, vai apanhar na cabeça, ou, o que é mais provável, fugir, rapidinho, talvez para Pyongyang junto do king kong III e seu cabelinho de ***. Cuba começa a entrar em nova fase!
Imaginemos o que seria se fossem dizer ao Mestre Confúcio aquilo que se passa no Brasil, em Portugal, Espanha, Síria, Iraque, Estados Unidos, etc. A única coisa que ele poderia dizer seria, ao comentar o que lhe contassem, que não fossem mentirosos!
Tais desgovernos não são coisa de homens, jamais de homens de bem. Diria a esses mensageiros:
“Ver e ouvir os maus é já um começar de maldades.
Uma grande pobreza de acções encontra-se muitas vezes na opulência das palavras.
Os homens sem virtude somente encontram nas riquezas meios para satisfazer seus vícios.”
Perguntaram-lhe: “Mestre! O que é um homem de bem? Responde: “É aquele que não aconselha o que se deve fazer enquanto não fez aquilo que prega.”
Em muitos milhares de anos tantos Mestres nos mostraram o Caminho, o certo, e o homem, besta-fera, teima em seguir os caminhos errados.
“O homem de bem acarinha a virtude, o homem medíocre os bens materiais. O homem de bem tem em si o sentido da lei, o homem medíocre só pensa em privilégios. ”
Quanta gente, em altos postos, se encaixa na mediocridade?
Quando o Sol começar a arrefecer... daqui a mais uns bilhões de anos, pode ser que melhore!
Entretanto o valor do homem Confúcio... é imortal.
... actualmente, ser-se político de direita consiste em reduzir a dívida pública, aligeirar o quadro legislativo e fazer crescer o bolo a que chamamos PIB pela via da produção de bens e serviços transaccionáveis; ser-se da esquerda consiste em distribuir o bolo independentemente da dinâmica que ele possua, regulamentar todos os escaninhos da vida do cidadão, aumentar o Consumo e, se calhar, o endividamento público sempre sob a máxima de «os ricos que paguem a crise», mesmo que já não haja ricos.
O caos instalou-se nessa farsa grotesca e gigantesca auto-denominada União Europeia com os resultados trágicos que se conhecem e que dispensam a abundância de comentários por despicienda.
Já o escrevi no Facebook e repito-me: "A UE é de um imobilismo total, por um lado é o receio de ser considerada xenófoba, racista ou, no mínimo, politicamente incorrecta (uma doença "mental" que se espalhou por toda a parte e que impede que a verdade emirja) e, por outro, a descoordenação, inconsistência e ineficácia dos serviços de informações (intelligence), não só belgas, mas europeus, que impediram que se tomassem as medidas preventivas que se impunham."
Podemos enumerar alguns factores e a lista não é exaustiva: a incapacidade real e efectiva de lutar contra o terrorismo: o medo prevalecente, instalado e abrangente; a emergência de forças nacionalistas um pouco por toda a parte, a não absorção ou, nalguns casos, mesmo, a rejeição integral das consequências do 13 de Novembro; o problema dos refugiados/migrantes ainda sem solução à vista, mas com cedências inauditas à Turquia; o eventual termo da live circulação de pessoas, leia-se do acordo de Schengen; a crise financeira, carente de soluções sólidas e minimamente consensuais. Chegámos ao fim do caminho?.
Depois admiramo-nos do que diz Donald Trump, Viktor Orban, Kaczynski, Marine Le Pen, o Pegida,a AfD? Admira-me, isso, sim, que as reacções não sejam ainda mais fortes e mais generalizadas.
Temos, pois, dois problemas, ambos internos: o terrorismo está entre nós (aliás, sempre esteve), o extremismo impõe-se com força acrescida (o que é uma verdade Lapaliciana)
O blogue ARROZCATUM (arrozcatum.blogspot.pt), de Zito Azevedo, postou uma imagem elucidativa dos atentados terroristas cometidos na Bélgica ontem, 22 de Março, contendo a seguinte legenda:
NÃO TERÁ CHEGADO O MOMENTO DE COLOCARMOS AS NOSSAS BARBAS DE MOLHO?!
COMEÇO A DUVIDAR, SERIAMENTE, SE VALERÁ A PENA CONTINUAR A HIPOTECAR INDEFINIDAMENTE A SEGURANÇA E O DIREITO À VIDA E À LIBERDADE UNIVERSAL!
As palavras do editor do blogue são breves mas são avisadas, contendo a síntese de uma questão verdadeiramente dilemática. Merecem a mais séria e urgente ponderação ao mundo civilizado. É que a liberdade universal não passa de uma abstracção e não pode sobrepor-se ao direito à vida. Ela é, efectivamente, uma abstracção humana, e por isso um valor sempre aferido pelo relativismo, ao passo que a vida é de uma transcendência e concretude tais que não pode ser posta em causa por qualquer outro princípio regulador da nossa convivência comum. Aliás, toda a criatividade humana deve ter como finalidade última o respeito pela vida, a sua dignificação e a sua preservação. Tudo lhe deve ser subordinado.
Estamos assim perante um dilema. O inimigo utiliza o espaço das nossas liberdades, direitos e garantias para nos aniquilar. Restringir a fruição desse espaço resulta sem dúvida em prejuízo da comunidade geral, mas facilita seguramente o combate ao inimigo, o controlo dos seus passos, a sua detecção, o seu cerco e a sua captura. Só que os ideólogos de um mundo livre entendem que alterar os nossos hábitos é dar um trunfo ao inimigo. Interessará é saber até quanto é permissível ficar incautamente a mercê das fauces da morte inesperada e traiçoeira.
O ideal seria que a liberdade universal cuidasse, antes de mais, de situar a vida humana ao mais alto patamar dos princípios invioláveis, e que esse entendimento fosse partilhado por todas as culturas e credos. Quando as filosofias iluministas foram concebidas há 3 séculos, a esperança era que irradiassem clarividência para toda a humanidade, mais cedo ou mais tarde. Mas o que se tem visto neste século XXI de acelerado progresso material frustra em absoluto qualquer expectativa. É que as luzes da civilização estão a ser desviadas do seu curso por incompreensíveis fenómenos de obliteração, e, por estranho paradoxo, com uma frequência e intensidade mais acentuadas desde que entrámos na era da globalização. A impressão é que não chegou ainda o momento certo para a universalização das regras de vida civilizada. A globalização falhou nos seus propósitos de galgar etapas de progresso, com resultados que até nos colocam perante quadros de autêntico retrocesso civilizacional. Pois outra conclusão não permitem as cenas de selvajaria demencial a que assistimos. Donde é lícito inferir que a globalização parece estar a ser o melhor catalisador da entropia em que o mundo mergulhou desde o início deste século.
Insistir em que coabitem connosco os que se instalam convictamente em quadrantes mentais adversos, não passa de uma inutilidade perversa, de um estoicismo sem sentido e que pode até fazer ruir o castelo das nossas próprias crenças e princípios civilizacionais. Se nada se fizer de forma firme e concludente, enquanto for ainda possível, não tardarão a eclodir no mundo energias de sinal contrário tão primárias como aquelas que actualmente ameaçam o mundo civilizado e cristão. E aí o planeta voltará a mergulhar num conflito provavelmente sem precedentes e com consequências imprevisíveis. Para isso, basta conferir mandato a mentes retrógradas do nosso espaço civilizacional como um Donald Trump e outros que provavelmente andam à espreita da sua oportunidade.
Dizia o editor do blogue: “Primeiro, Madrid... depois, Paris... hoje, Bruxelas…” Mas pergunto por que só esses países. E o resto, a Síria, o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, onde a barbárie não tem hora marcada, onde se instalou com armas e bagagens? Se não conseguimos espalhar globalmente o bem-estar e a felicidade, ao menos que apreendamos globalmente as dores e as tristezas do mundo. Sem fronteiras e sem delimitações. É que quando a tragédia bate à porta do mundo ocidental, sentimo-la com um impacto mais doloroso e mais angustiante. Iluminamos com as respectivas cores os símbolos emblemáticos dos países atingidos, o clamor da emoção é partilhado irmãmente pelos que são do mesmo credo e cultura. Nada a obstar. Mas porque não generalizar a mesma simbologia expressiva da consternação quando, todos os dias, a barbárie bate à porta dos que se situam em outras coordenadas geográficas e são ainda mais vítimas do que nós? Bem, reconheça-se que seria um procedimento tão repetitivo que acabaria por banalizar o acto simbólico, esvaziando-lhe o significado. Por isso é que chegou o momento de agir para evitar que o avolumar das nossas perplexidades filosóficas nos trave o discernimento e a noção da verdadeira extensão da tragédia.
Alguém afirmou que a ameaça terrorista é uma autêntica guerra mundial. Outros admitem que apenas estamos no início do terror. Assim sendo, com justa razão se pergunta por que não se lhe declara guerra total, com todas as consequências que isso implica. Continuar a responder com proclamação de princípios é proceder como a avestruz. É portar-se com a mesma passividade com que se assistiu à ascensão da Alemanha nazi. É uma retórica que fica bem na fotografia mas que não nos protege do mal, como se tem visto.
Posto isto, só restam duas hipóteses. Ou o mundo ocidental continua na sua atitude timorata e comedida até que, por via eleitoral, surjam líderes totalitários que entrem pela via da irracionalidade, ou então se tem de enveredar por uma estratégia de intervenção ainda possível dentro de limites controláveis, como sejam:
─ Investir nos meios e nos efectivos de forças de segurança e militares adequados à contenção e/ou destruição da ameaça. Isto porque é sabido que a Europa descurou o investimento na sua defesa e se desarmou psicologicamente;
─ Suspender sine die o Acordo de Schengen;
─ Reforçar o controlo da circulação dentro dos parâmetros exigidos pela luta contra o terrorismo global;
─ Convocar os líderes das comunidades islâmicas dos países de acolhimento para a assunção plena das suas responsabilidades;
─ Encarar como inevitável a urgente intervenção de uma força militar mundial com mandato das Nações Unidas, orientada para a Síria, o Iraque e o Afeganistão, empenhando especialmente o mundo árabe, e não dar tréguas até à aniquilação total das forças do terror, onde quer que estejam instaladas ou dissimuladas;
─ Aceitar como incontornável o redesenhar da geografia política do Médio Oriente, já que aí reside a causa remota do problema, o que exige uma acção diplomática de elevada complexidade e mestria.
Se alguém rotular de profeta da desgraça quem elenca estas medidas, é porque ainda não acordou para a realidade. Outros, que preferem o idealismo hipócrita e vazio, dirão que a montante de tudo isto está a má conduta política da Europa e dos Estados Unidos, para quem a geopolítica foi e tem sido um fato talhado à medida dos seus interesses. É verdade irrefutável. Mas não é por culpas do passado remoto e mais recente que se tem de enterrar a cabeça na areia. Se não há líderes mundiais capazes, que se arranje uma lanterna de Diógenes para procurar alguém que tenha herdado os genes de um Winston Churcchil.
Quando cheguei percebi que aquele jantar iria ser muito especial. A sala era toda de pedra e o tecto uma beleza, com arcos e ogivas e as colunas que os suportavam espalhavam-se pela sala deixando um espaço central para a mesa, enorme, que estava posta de uma maneira muito simples. As paredes estavam pintadas de cor-de-rosa velho realçando ainda mais a beleza da pedra antiga. Numa das paredes estava acesa uma lareira enorme e ouvia-se o barulhar da lenha, o que fazia um ambiente muito acolhedor.
Todos os que estávamos ali tínhamos recebido o mesmo estranho convite: “Desejo ardentemente que venhas cear comigo nesta Páscoa”. Eu olhava à roda a ver quem poderia ter sido o da ideia mas percebi que todos tinham a mesma curiosidade.
A certa altura entrou na sala um homem que começou a cumprimentar cada um de uma maneira muito calorosa. Dizia qualquer coisa enquanto nos abraçava, sem pressas e com uma imensa ternura. Quem seria ele?
Chegou a minha vez. Avançou para mim com os braços muito abertos e um sorriso de uma bondade tal que senti o coração estremecer. Instintivamente estendi também os braços e deixei-me envolver naquele abraço eterno, apertando-o contra mim com toda a força de que fui capaz. Quando me largou, olhou-me intensamente e disse-me numa voz imensamente suave: “Não imaginas como desejei que viesses! Que bom teres aceitado o convite. A tua presença enche o meu coração de uma enorme alegria. És um filho muito amado. Senta-te aqui”. E arrastando um banco, mostrou-me o meu lugar. Sentia-me muito comovido, era aconchegante tudo o que ali se passava, as pessoas estavam agora com um olhar lavado e alegre, era uma alegria que vinha de dentro, como se todos os corações estivessem chapados nas nossas caras.
Começámos a comer e a conversar alegremente, o anfitrião estava num lugar central, mas era como se estivesse ao meu lado, ao lado de cada um. Falava pouco mas estava atento a todos e à conversa. A certa altura disse como se fosse a coisa mais natural do mundo – “Hoje alguém me vai trair!”. Foi uma bomba e fez-se silêncio – quem poderia trair esta pessoa que tão bem nos recebia, que nos tinha abraçado com tanto amor, junto de quem nos sentíamos tão profundamente queridos? Alguém perguntou quase num sussurro: “Quem?”. E o anfitrião respondeu: “aquele”.
Nessa altura senti uma coisa muito estranha que mais tarde soube que todos sentiram também. Era para mim que ele olhava, era para cada um de nós que ele olhava pessoalmente. E era um olhar tão fundo que vi - num relâmpago - toda a minha história de miséria, de negação, de infidelidade, de mentira, de orgulho, de vaidade, de injustiça, de maledicência... e era espantoso porque todas as pessoas a quem eu tinha feito mal, de quem tinha pensado mal, a quem magoei, tinham todas SEMPRE a cara do anfitrião. Voltei a olhar para ele e reparei que me olhava com uma bondade e uma doçura que me trespassaram.
Havia um silêncio muito violento na sala que só se quebrou quando ele se levantou, pegou numa toalha e numa bacia e veio lavar os pés de cada um. Um burburinho cortou então aquele silêncio pesado. A minha primeira reacção foi dizer: “Não! Não Senhor... como posso deixar que me laves os pés?” Mas ele de joelhos, totalmente despojado, olhava-me humildemente como se aquilo fosse para ele a coisa mais importante do mundo: “Deixas? Posso? Por favor!” E voltei a ver o mesmo filme de há pouco: todas as vezes em que O ofendi, e troquei, e julguei, e esqueci, e fingi... em cada pessoa a quem o fiz... “Achas que não tens nada para lavar?” Deixei-me então lavar... perdoar... amar. A todos ele lavou os pés com um carinho incrível e, no fim, disse-nos com autoridade: “Assim como vos fiz, façam também vocês uns aos outros”.
Vim a pé para casa, devagar e pensativo. Precisava de arejar, tinha o coração aos saltos. Até que “VI”! Vi que aquele era O Senhor que eu procurava há tanto tempo, O Senhor a Quem queria amar e seguir... “O SENHOR” da minha vida. E percebi também que não Lhe interessa ser amado se O separar do meu irmão, daquele familiar, daquele amigo, daquele que me fez mal, daquele de quem não gosto, mas que é em cada um deles que Ele quer ser reconhecido e querido.
Disseram-me depois que no fim daquele jantar o tinham morto, mas não é verdade porque passados 3 dias voltei a encontrá-lO. Ía eu pela rua e ao passar por um beco vi-O: estava deitado a dormir despido e cheio de chagas em cima de um cartão. E voltei a vê-lO quando fui a um lar de velhinhos, estava num canto só e triste. E vi-O também na televisão, num país de África, parecia cheio de fome, muito magro e com uma barriga enorme, e vi-O ainda num irmão desprezado e caluniado... Não morreu nada! ESTÁ VIVO! Vejo-O muitas vezes. Sempre que O vejo Ele volta a dizer-me ao ouvido: “Assim como te fiz, faz tu também aos outros...”
* * *
Mandaram-me hoje este texto, de autor desconhecido, que achei uma beleza, uma profunda e sempre oportuna meditação e, por todas as razões, sobretudo por ser Páscoa, não posso deixar de o mandar a todos. Recomendo que o leiam, pelo menos, duas vezes
... a crise por que passam os nossos países, nomeadamente Brasil e Portugal, pouco tem a ver com o facto de terem ou terem tido Governos de esquerda; o problema está no facto de serem ou terem sido governados por gatunos.
Continuamos a ser o pequeno David vivido entre dois vizinhos gigantes. Mas o David, Rei de Israel que eu conheço, era um simples pastor que soube esperar o tempo. Um guerreiro que sabe de onde vem e para onde quer ir. Eu penso que a história de pequeno David e gigante Golias está repleta de lições para nós. Que cada vitória conquistada seja para glória colectiva e não para nós mesmos.
Em todo o caso, é preciso encontrar urgentemente uma solução para o equilíbrio entre o "poder carismático-político e o poder técnico-racional". Caso contrário, o nosso sistema de governação não se adapta nunca à democracia que sempre queremos para este país. Tenho-o dito desde há muito tempo que o processo de transição de liderança foi precisamente para encontrar uma solução para o Governo, não um Governo de solução para os problemas do país! Temos um Governo inspirado em geração nova liderado por um grande homem chamado Dr. Rui Araújo mas quando não se tem equipa não se pode fazer milagres!
Timor-leste não é um país difícil de governar. Tenho, por vezes, algumas dúvidas sobre como os representantes do país exercem as suas competências. Há uma grande discrepância entre capacidade de criar ideias e competência de implementar ideias. O perigo de insucesso da governação mora aqui. Os Partidos têm de estar à altura do desafio. Se não têm, é e será uma desgraça! Porque para governar, não basta ter sentido de politiqueiro, é preciso estar preparado.
A actual crise é fruto disso. Temos dificuldades de nos adaptar ao processo evolutivo da globalização. Quando decidimos desafiar os nossos limites, tínhamos consciência de que a única forma de ultrapassar estes obstáculos era estar unidos e ter uma cultura de compromisso em função da realidade. Estamos em desvantagem sob o ponto de vista social e económico no contexto regional! Há um ditado que diz: "podes escolher amigos mas não podes escolher vizinhos".
O país está numa fase em que o "jogo de passa culpas" tem de acabar e dar espaço ao diálogo reflectindo sobre o porquê de nós não conseguimos sair do ciclo de impasse. A origem da crise está muito mais atrás. E está fortemente associada à justiça e de confiança nas instituições do Estado. Há um aumento de indignação e de desconfiança sobre o nosso sistema judiciário que é um pilar e um espelho da nossa democracia, uma referência ético-politica de um Estado de Direito. Temos um Ministro da Justiça que não está à altura do desafio continuando a não encontrar as medidas necessárias para tornar o sector da justiça mais transparente e independente. Ora, isto, naturalmente, coloca em causa o normal funcionamento das instituições do Estado em especial a própria democracia!
O futuro Governo terá que ser um defensor da boa governação, que saiba representar da melhor forma o sistema da governação, um sistema em prol do Estado social.
Se não for por este caminho, então estamos diante de um sistema anti-social e teremos que desobedecer porque ninguém é escravo da sua própria lei.
Este Estado não pode gerir e ser administrado por mãos invisíveis. Para tal, temos que encontrar um Governo de solução.
Dada a actual conjuntura política, sobretudo os comportamentos dos eleitores, creio que a formação do futuro Governo passará por entendimentos em diferentes níveis entre a liderança histórica. Uma transição saudável passará por uma liderança de consenso que reúna condições para decidir e ter coragem para implementar a política de reforma. A começar pelas reformas estruturais.