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A bem da Nação

AMAZÓNIA – 2

 

 

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Todos sempre ouvimos dizer que o rio Amazonas nasce nos Andes peruanos e que é o mais comprido em todo o mundo no seu longo percurso até ao Atlântico, ali não muito longe do Equador.

 

Mas na vertente onomástica não é assim: nasce nos Andes, sim, onde lhe chamam Ucayali sendo que à entrada no Brasil lhe mudam o nome para Solimões assim se mantendo até que, lá bem à frente, na zona de Manaus, se encontra com o rio Negro e só então e conjuntamente, assumem o nome de Amazonas numa amizade que se prolonga por cerca de 1800 quilómetros sem deixarem de unir esforços para vencerem a Pororoca não muito longe da foz.

 

Mas a verdade geográfica é a de que aquele curso de água é, de facto, o mais comprido do mundo. E tem ainda mais: há poucos anos descobriu-se que a verdadeira nascente é uns tantos quilómetros mais a montante do que se considerava até então pelo que o recorde mundial, se já era muito grande, aumentou ainda mais para uns impressionantes 7.025 kms desde a nascente até à foz (o Nilo tem 6.671 kms e o Mississipi 6.270 kms).

 

Só que não nos podemos referir apenas ao comprimento e devemos comparar também os caudais. Assim, o Amazonas tem um caudal médio de 209.000 m3/segundo, o Mississipi 18.000 m3/segundo e o Nilo tem uns «modestos» 2.830 m3/segundo. Para nós, lisboetas, termos uma ideia mais concreta, fiquemo-nos com a informação de que o nosso Tejo tem um caudal médio de 444 m3/segundo. Todos eles medidos na respectiva foz e, de acordo com a Wikipédia, com recurso à mesma técnica de medição.

 

Compreendemos deste modo por que razão os primeiros navegadores do Amazonas julgavam estar perante um braço de mar que entrava pela terra dentro. Foi preciso verificarem a salinidade para se deixarem de ilusões e terem que reconhecer que nunca tinham imaginado coisa assim.

 

A cena em que o avião nos poisou em Manaus tem, pois, uma dimensão que classifico de “mega” nas três dimensões em que habitualmente nos movemos mas também a quarta dimensão, a do tempo, tem algumas particularidades interessantes. E aí está a velocidade média das águas alcalinas do Solimões a ser registada na ordem dos 10 kms/hora assim transportando muitos materiais que não têm tempo de se sedimentarem e dando ao rio a cor barrenta opaca que o caracteriza enquanto as águas ácidas do Negro se deslocam apenas a cerca de 2 kms/hora assim deixando afundar tudo o que lá caia e dando ao rio uma aparência negra pela decomposição desses materiais lá no fundo. Eis como, conjugando as questões dos Ph’s, das velocidades e dos materiais em suspensão, se nos apresenta um espectáculo digno de nota na confluência desses dois prodígios da Natureza, o Solimões e o Negro, com as respectivas águas a não se misturarem e a correrem paralelas durante quilómetros e quilómetros Amazonas a baixo.

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E o que é a Pororoca que referi lá a trás? Pois é o resultado do confronto das águas do Amazonas com as do Atlântico assumindo a forma de uma onda que se desloca rio acima até por aí além... incitando muitos aventureiros a surfarem-na ao longo dos cerca de 50 kms que ela percorre e muitos barqueiros a evitarem-na porque ela não é uma onda vulgar, é semelhante a um tsunami que chega a ter 6 metros de altura e se desloca a uma velocidade de 30 kms/hora lançando o pandemónio nas margens que derruba.

 

Mas eu não fui meter-me com ela, deixei-a para os aventureiros e para as vítimas porque continuo a achar que com o mar não se brinca, porque não sendo propriamente sossegado também não sou surfista e sobretudo porque não tenho vocação de vítima.

 

Acho que o Amazonas tem aspectos mais benignos do que a Pororoca e desses contarei mais lá mais para a frente...

 

Até logo!

 

(continua)

 

Março de 2016

 

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Henrique Salles da Fonseca

A ZIKA E A GRANDE ZICA

 

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Zika é um vírus e, como tal, mais um desconhecido das ciências médicas, aqui, em toda a parte e até na Moita.

 

Zica é uma gíria brasileira que significa algo ruim, uma confusão, um desentendimento ou um problema. A expressão tem diversos outros significados, de acordo com a região do Brasil em que é empregada.

 

Zica significa, na gíria, uma maldição, um momento de baixo astral, pode ser também um mau presságio, um mau agouro. Quando uma pessoa é enrolada ou azarada, costuma-se dizer que é uma "zicada ".

 

Saiu à rua, complicou-se, não encontrou o que queria, apanhou chuva, entrou num engarrafamento, quebrou os óculos, chegou a casa e faltou a luz, etc., “foi uma grande zica”!

 

Agora por aqui estamos com duas “zicas”, esta do azar, e a do vírus “Zika”.

Nesta família três já foram zikados – eu entre eles – e devo dizer que, se não parece grave, é chato p’ra caramba! Corpo todo empipocado, comichão a ter que amarrar as mãos para não coçar, depois quando se pensa que está a passar vem a “sessão” das dores no corpo, relativamente suportadas e ao fim de uns oito dias – dizem – o vírus que nos zicou, ele mesmo se zica!

 

E assim estarão, no país, largos milhares de pessoas. Felizmente nem eu nem dois filhos zicados estamos grávidos! E depois também alimentamos a esperança que estes “8 dias” passem rapidinho. Apanhámos na Semana Santa... mas houve quem passasse muito pior nesta Santa semana!

 

Aguentemos.

 

Mas a grande, GRANDE ZICA, a super zica, não está com cara de passar numa semana, nem em muitos meses.

 

Num país que tinha menos de 5% de desemprego está com 9,6%, o que corresponde a mais de 9.500.000 de desempregados, sem esperança de voltar a trabalhar enquanto a GRANDE ZICA não se resolver.

 

Onde o governo do Estado do Rio de Janeiro tem uma despesa com funcionários que atinge 110% das receitas.

 

Onde a dívida da SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados) para com as duas empresas que fazem a segurança cibernética se acumula desde... desde... chega a R$ 225 milhões! IBM, Oracle, e pelo menos mais 70 fornecedores, coloca em risco o ataque de hackers e até a paralisação do sistema!

 

Onde os homicídios dolosos, em 2015, bateram o recorde: 59.000 em todo o país! E ainda falam da Síria, Iraque, Sudão, etc. Se o Atlântico não fosse tão largo já estaríamos a desembarcar no Algarve!

 

Aqui há uns anos inventaram o dia de Zumbi, um “herói” de quem muito já escrevi, que morreu de pelo menos três maneiras de acordo com a lenda – porque tudo é lenda; pois agora a assembleia legislativa do Rio de Janeiro inventou outra lenda: a mulher do Zumbi!!! Não bastava uma lenda, vem mais outra, e desta vez com saber agridoce: a “esposa” do Zumbi (se existiu como parece, chefe dum quilombo deveria ter, no barato, meia dúzia de “amantíssimas esposas” - ter-se-á chamado Dandada, o que não consta em literalmente nenhum documento histórico, foi também uma heroína: combateu em 1694, ferozmente, ao lado do amado esposo contra o governo pernambucano. O que mais gosto é do requinte da data! Só não se sabe em que dia da semana e qual horário!

 

Uma deslavadíssima MENTIRA, para inventarem mais um feriado, e procurarem mais uns votitos: “O dia da mulher negra”.

 

É assim que o Brasil vai vivendo as suas zicas, um feriado disto, outro daquilo, mas educação, saúde, segurança, economia, desenvolvimento, tudo isso é de somenos importância.

 

Chegamos finalmente à apoteose ZICANTE: a vergonha que vai pelo país, todos parecendo apavorados com o impeachment da madama e, o mais catastrófico, o regresso do sapo barbudo ao abrigo dum ministério.

 

Se o cara, por azar dos azares, lá chegar, a zica vai ser braba. O mais esperto, hábil e corrupto presidente que o país já teve, com centenas de milhares de seguidores que querem continuar a mamar na teta da res publica, vão lutar com todo os meios ao seu alcance para derrubarem a Lava-Jato, cilindrar o Judiciário e perpetuarem-se no chafurdar da corrupção.

 

Quem soube “prever” o que o “cefalópode” irá fazer como ministro, se... for, foi o jornalista e escritor que escreveu em “O Globo”:

 

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CARLOS EDUARDO NOVAES

 

Quer dizer então que o ex-presidente Lu­la quer voltar de mala e cuia ao Planalto para ser o novo chefe da Casa Civil da sua ex-chefe da Casa Civil, agora Presidente. Em tese, apenas uma troca de posições ainda que - se suspeita - o ex-presidente volte para ser o presidente enquanto a presidente se­rá a chefe da Casa Civil de sua própria Presidên­cia.

São muitas as atribuições do chefe da Casa Ci­vil - li no site oficial -, mas me parece que Lula está se lixando para elas. Ele tem muitas outras tarefas a cumprir. Listo algumas abaixo:

1- Fazer articulações políticas com 300 picaretas (ou seus parentes e sucessores) que, se­gundo ele, povoavam o Congresso Nacional em 1993;

2 - Correr atrás de 171 votos na Câmara dos Deputados para evitar que o impeachment de Dilma siga para o Senado;

3 - Conseguir que 41 senadores (metade mais um) votem contra o impeachment para evitar que o processo siga para o STF;

4 - Telefonar para alguns ministros do STF lembrando que foi ele. Lula, quem os indicou para a mais alta corte do país;

5 - Ajudar a Justiça a enfiar os processos no... vocês sabem onde;

6 - Convencer o novo ministro da Justiça, Eugénio Aragão, a substituir a chefia da Polícia Fe­deral;

7 - Procurar um meio de retirar a Operação Lava-Jato das mãos do juiz Sérgio Moro;

8 - Provar que o Supremo é uma corte acovardada, como já declarou em alto e bom som;

9 - Estudar um meio de acabar com a Operação Lava-Jato;

10 - Tirar uma foto (sorrindo) com o japonês da Federal;

11 - Se declarar vítima da imprensa, da opo­sição, do Judiciário, da Polícia Federal, do Mi­nistério Público e do Delcídio Amaral;

12 - Visitar seu amigão Marcelo Odebrecht na cadeia e anunciar sua inocência;

13 - Trocar o Procurador-geral da República;

14 - Mostrar à opinião púbica que o PT não tem nada a ver com a corrupção que inundou a Petrobrás e outras estatais;

15 - Vociferar contra o Ministério Público e acusar seus procuradores de não entenderem nada do que está se passando no país;

16 - Juntar os cacos do seu partido;

l7 - Exigir de Dilma a revogação da Lei 12.850 de 2013, que trata da delação premiada;

18 - Forçar o ministro da Fazenda e o presi­dente do Banco Central (que Dilma disse "esta­rem mais dentro do Governo do que nunca") a pedirem demissão;

19 - Jogar para o alto todas às medidas propostas por Dilma que tiram votos (reforma da Previdência, entre elas) e abrir o cofre das reservas internacionais (US$ 372 bi);

20 - Ordenar a Dilma que não diga nada, não faça nada sem lhe consultar antes;

21 - Proibir no Planalto fofocas e comentári­os sobre o tríplex e o sítio (incluindo pedalinhos);

22 - Jurar de pés juntos que as milionárias doações para as campanhas do PT (e aliados) de 2010 e 2014 foram feitas dentro da lei;

23 - Transferir as investigações da PF para, digamos, o Corpo de Bombeiros;

24 - Salvar a própria pele.

OBS: Sugiro aos leitores que recortem esta lis­ta, preguem-na na parede e vão ticando nas ta­refas à medida que forem cumpridas.

(Carlos Eduardo Novaes é escritor)

 

Como estão a ver o Brasil está todo zicado, e esta GRANDE ZICA ainda vai continuar a destruir o que existe, até que se consiga cortar a cabeça da hidra, i. é, da... jararaca!

 

25/03/2016

 

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Francisco Gomes de Amorim

 

P.S.- 28/ Março: os familiares zicados estão quase deszicados. Da mais benigna, é evidente.

 

VIA CRUCIS – O CAMINHAR DA PESSOA CONSCIENTE – 7

 

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  1. Jesus é despojado de suas vestes

 

Jesus confessa: “O Filho do Homem será entregue aos seres humanos”. Os discípulos não entendiam o significado daquelas palavras (Lc 9,44s).

Os soldados roubaram-lhe a roupa mas embora ladrões, foram justos, à maneira mundana, no repartir entre eles a roupa (Jo 19,23-24). Roubaram-lhe a dignidade humana, a ética e agora fazem negócio com os seus restos.

 

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  1. Jesus foi pregado na cruz

 

No alto do monte, lá onde as ideias e as palavras se cruzam em sequências lógicas, Jesus é pregado na cruz e em nome da lei. Aquele Jesus queria levar tudo conscientemente até ao fim recusando mesmo o mórfio.

No contemplar da cruz, a inteligência e os sentimentos escurecem até à mudez. Jesus encontra-se sozinho e a sós com o Pai.” Meu Deus, meu Deus, por que me desamparaste?” (Sl 22,2).

 

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  1. Jesus morre na cruz

 

Mais forte que a morte é o amor. Crucificaram-no “à terceira hora … e à hora nona (15h00) morreu” (Lc 15.44). Jesus não morreu para apaziguar o medo daqueles que têm medo de Deus… Jesus morreu como viveu, dando testemunho do Homem livre e comprometido com o Homem, perdoando sempre (Lc.23,34). "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23,46).

 

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  1. Jesus é descido da cruz

 

Jesus morre abandonado dos seus e um estranho vem descê-lo da cruz. Já antes um samaritano (Lk 10,30-37), um estrangeiro cuida do homem roubado, não o padre, nem o doutor da lei. José de Arimateia- um homem honrado que esperava pela vida do messias, cheio de compaixão arranjou um lugar para colocar o corpo de Jesus, doutro modo teria sido colocado na vala comum dos crucificados… José tirou-o da cruz e envolveu-o num manto (Mk 15,42 – 46). Em torno da morte de Jesus também havia justos como este José (Lc 23,51).

 

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  1. O Corpo de Jesus é colocado no sepulcro

 

Deus não é um Deus dos mortos mas dos vivos (Mc.12,26s), por isso tem de ser procurado entre os vivos. A José junta-se Nicodemos que trouxe mirra e aloés para ungir o Senhor. Depois o sepulcro encontra-se vazio; Jesus adiantou-se, “o túmulo se esvaziará tal como o meu, um dia, se esvaziará”!

 

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  1. Deus despertou Jesus!

 

Teresa de Lisieux dizia, “não olheis para a cruz! Olhai para o crucificado!” Nele Deus continua a história de cada um de nós. Não procureis entre os mortos quem vive, Ele ressuscitou. O nosso Deus não é um Deus do destino, ele é um Deus da relação, um Deus que se trata com denominativos como: paizinho, mãezinha… Se Jesus tivesse morrido a revolução não teria sentido porque permaneceria abandonada à violência em sequências de ritos e rituais repetitivos através da História. Assim permanece um paradigma da vida e de relação de pessoas, da humanidade que é uma família divina a querer encontrar-se e a erguer-se para se encontrar de olhos nos olhos.

 

A cruz demonstra o Homem sofre devido à sua própria imagem e às ideias que o prendem.

 

Muitos cristãos costumam meditar em frente ao crucifixo. A melhor experiência que se pode ter ao meditar será sentir como Jesus desce da cruz e se vem colocar no coração, como desce para o meio da comunidade.

 

Nas sombras das asas do Senhor (PS 63,1-9), nas sombras do seu caminho minha alma se refresca da sede que tem de ti!

 

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António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

VIA CRUCIS – O CAMINHAR DA PESSOA CONSCIENTE – 6

 

 

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  1. Jesus encontra as mulheres chorosas de Jerusalém

As mulheres choravam como se tratasse de uma caso de luto. Jesus que bem percebia o engano das pessoas que o seguiam e que não entendiam realmente o que se estava a passar. Então Jesus vendo que mortos choram os mortos, quebrou o silêncio e disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai por vós e pelos vossos filhos! " Sim, Jesus previa aqui que muitos dos seus seguidores não entenderam que o que estava a acontecer era vida, e que apenas conseguiam ver o que se encontra sob as mortalhas (Lc 23,27-31); Jesus pressentia que as estruturas que ele criticara e revogara continuariam a subsistir sem que as pessoas tivessem um olhar de olhos nos olhos como o de Maria e Jesus, uma experiência vivência que eleva o Homem para Filho de Deus; elas entendiam muito de sentimentos, ideias, de leis e moral permanecendo prisioneiras delas sem assumirem a vida divina, a vida da cruz que cada filho de Deus é chamado a levar; não, os mortos são os que choram aquele que está bem vivo e aguenta com a dor sem a projectar em ninguém. Jesus via através das lágrimas aquilo que as motivava e ao constatar a comédia que a vida organiza não aguentou mais … e quebrou com o seu silêncio. As lágrimas não seriam em vão se no outro dia as pessoas fossem diferentes… Jesus quebrou o silêncio ante tanta falta de entendimento.

 

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  1. Jesus cai pela terceira vez sob o peso da cruz

Se Jesus tivesse ficado na Galileia como muitos outros, como fazem aqueles que procuram o sucesso da vida, nada disto teria acontecido e o mundo continuaria na mesma, prisioneiro de ideias a viver ideais, longe da vida; se não tivesse levado tão a sério o seu Pai, se tivesse sido mais diplomático e hipócrita como todos nós, o sofrimento seria um pouco anestesiado pelo dia-a-dia. Em última análise Jesus é que foi o culpado por querer afirmar no mundo uma nova consciência de ser humano; uma consciência de homem livre e sem medo, liberta de opiniões e outras sujeições. Ele é culpado por ter ousado querer fazer de cada um de nós o caminho a verdade e a vida e não apenas espectadores e seguidores de seja quem for.

 

Jesus superou as medidas do bom pensar e do bom sentir. É abandonado dos homens bem pensantes que se sentem obrigados a controlar e determinar o que é bom e o que é mau, o que é verdadeiro e falso. Sob a verdade destes homens sofre a Verdade que é vida e contacto directo com Deus. (Imaginem que alguém se distanciasse das escolas de ensino, da estruturas religiosas e políticas, das opiniões dominantes, seria deitado ao ostracismo tal como Jesus o foi. A malta quer é teatro para aplaudir ou condenar para seguir as práticas e as regras do jogo que se destinam a manter a hipocrisia, o domínio e as vaidades; imaginemo-nos que nos encontraríamos com Jesus de cara a cara de olhos nos olhos; isso não pode acontecer porque teríamos de nos tornar nus para não cairmos no equívoco de pensarmos que nos encontramos com o outro quando na realidade nos encontramos com a ideia que fazemos dele, presos que andamos nos argumentos, do cálculo, da insensatez numa tática de vida a meias entre proveito e ânsia de vaidade,

 

Entendiam que Jesus deveria reagir à sua maneira, uma maneira dialética e polar do que é bom e mau pensar. De todos abandonado sem braços acolhedores, nem seio de mãe que o acolha fica entregue à liberdade dos braços de Deus. Dois criminosos a seu lado Lc 23,32

 

(continua)

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 António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

VIA CRUCIS – O CAMINHAR DA PESSOA CONSCIENTE – 5

 

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  1. Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz

Os soldados têm pressa e colocam a cruz aos ombros de um homem de fora, um homem da margem que viu pela primeira vez Jesus. Um homem de fora, que se encontrava ali por curiosidade, ajuda Jesus a transportar a cruz (Lc 23,26). Que terá levado Simão a observar a via crucis de Jesus? Ele sentiu-se levado por aquela força que nos leva a assistir quem precisa no momento oportuno. Simão são muitos, são a multidão que ajuda de fora sem perceber o que realmente está a acontecer.

 

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  1. Verónica chega a Jesus o sudário para limpar o rosto

A Verónica, numa reacção espontânea, limpou o suor do rosta de Jesus, como refere a legenda do séc. 12. Verónica aquela mulher já preparada pela vida para a encarar de rosto no rosto, desejava que as dores e o suor não escondessem o rosto do Senhor. Na visibilidade do verdadeiro rosto de Jesus que se marca no lenço encontra-se a intenção de mostrar que, no que acontece no calvário, se esconde um verdadeiro rosto que é vivo e vivificante; as pessoas não devem continuar do lado de cá da vida fixadas a ver as marcas do caminho... Jesus tem um rosto que nos olha. Na sua cara cada um de nós tem a oportunidade de reconhecer e ganhar um rosto.

 

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  1. Jesus cai pela segunda vez

Encontramo-nos num mudo levedado pelo poder dualista de fariseus e Heródes que vivem de súbditos e dependentes; sistemas democráticos ou não democráticos tendem em manter o povo a olhar de baixo para cima e à procura do pão. A Tora, a lei encontra sempre um motivo para colocar alguém debaixo da cruz.

 

Os amigos assistem ao acontecimento de longe. Não querem ser identificados como seguidores de um condenado. Não entenderam nada de Cristo, encontravam-se como que aturdidos sob as enxurradas de ideias que lhes passavam pela cabeça. As ideias substituem o sentir e a empatia com Jesus; de Jesus tinham ouvido muita coisa que lhes ficara na cabeça e nos lábios mas não tinha passado da barreira do entendimento para o coração, para acção. Não entenderam nada, ficando a girar no intelecto como o hamster a pedalar no seu criceto.

 

(continua)

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António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

VIA CRUCIS – O CAMINHAR DA PESSOA CONSCIENTE – 4

 

 

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  1. Jesus cai sob o peso da cruz

 

Ninguém podia entender o núcleo da sua boa nova onde não há as instituições da violência e da repressão. Jesus tinha ferido profundamente a religiosidade popular e institucional do povo ao criticar a instituição e as práticas religiosas e ao afirmar a Boa-nova da alegria que não culpabiliza ninguém e deste modo desmascara os cães de guarda de Deus e do Estado. A crença e a lei constituíam elementos impeditivos de uma relação mais directa com Deus e com o povo. O JC anuncia uma metanóia para a liberdade e insujeição mostrando com a sua vida o preço da liberdade. As instituições querem, muitas vezes, um Deus grande, um Estado grande à custa da humanidade e do povo; Jesus Cristo convida a não nos orientarmos tanto por regras e moralismos mas para através da relação com o interior divino… Jesus traz uma mensagem de alegria e não de tristeza. Ele quer as pessoas libertas do jugo do medo, por isso apela à mudança porque toda a vida é processo e transformação, não algo meramente estático fixado em lei ou normas que nos distraem do essencial: a relação pessoal e interpessoal. Jesus acaba com o pensamento em branco e preto, em termo de certo ou de errado; para Ele basta a fé, a experiência de amor que salva (Mc 5,13).

 

 

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  1. O encontro de Jesus com Maria

 

 

A mãe lá está, bem à margem do caminho, sofrendo no silêncio o mau caminho do seu povo. A mãe pensa como o filho e sente como mãe, por isso não fala, fica em silêncio (Há momentos em que só o silêncio pode falar, a conversa torna-se em barulho de altifalantes pensantes ensurdecedores: um falar para não ouvir a voz do coração, o outro a falar em nós).

 

Não são homens que batem, são as fardas dos soldados que chicoteiam o inocente em nome da ordem e da instituição.

 

O encontro de Maria realiza-se, sem falas, de coração para coração numa troca de olhares porque a verdadeira vida não é experimentável no mundo das ideias e das palavras. No brilhar das lágrimas dolorosos que saem do encontro de seus olhos sai uma luz, uma experiência diferente da vida ordenada e secular. Naquele olhar brilha o dia de Páscoa, aquele Dia em que é sempre dia sem adormecer e em que a dor não estorva. No encontro verdadeiro não há palavras porque estas só distraem da profunda vivência que só é possível no encontro de rosto com rosto.

 

Para chegar à luz da experiência daquele encontro houve o caminho solitário no silêncio da dor que liberta; no mesmo caminho da fé se encontram mãe e filho na consciência de que o caminho da fé é diferente porque leva ao encontro que chega até a abstrair da razão para chegar a “compreender” numa vivência de que tudo se encontra unido e não separado. No momento do encontro a mãe percebeu a dureza das palavras que o filho lhe dissera quando a evitou (colocando a coisa de Deus acima das coisas familiares e lhe disse “não sabias que me devo ocupar das coisas de meu Pai?” Lc 2,49 s); naquela trocar de olhares de mãe e filho a mãe compreendeu novamente que o caminho de Deus não contempla a amarra de laços sanguíneos; no encontro Maria viu que seu filho sempre teve razão, porque empenhado na libertação das pessoas olhando cada uma de olhos nos olhos, não se podendo por isso deixar perder em nenhuma delas, por mais amável que fosse; no encontro de olhos nos olhos ateia-se um novo fogo, o fogo do amor que torna tudo presença. Naquele encontro se realiza a metanóia (para lá do pensamento) que exige um repensar da normalidade que nos prende e cativa; neste olhar se realiza a maternidade de uma mãe que se alegra nos crentes e incrédulos. No encontro dá-se uma fecundação que gera nova realidade.

 

(continua)

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António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

VIA CRUCIS – O CAMINHAR DA PESSOA CONSCIENTE – 3

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  1. Jesus toma a cruz aos ombros

 

Depois do encontro com as autoridades Jesus pegou na cruz aos ombros, não uma cruz culpabilizante nem justificadora; era a cruz da vida e dos males acumulados pela história da vida…. Foi então desprezado pela multidão do povo, porque também este só repete o que os chefes pensam, dizem e mandam… O povo fraco, geralmente coloca-se ao lado dos fortes, numa reacção compensatória da própria impotência. Mas Jesus não vinha para os fortes da sociedade nem para os que tinham adquirido o mérito de bons à custa da objectivação do que é sujeito, do inobjectivável…

 

Os dirigentes e o povo não aceitam reconhecer em Jesus as próprias feridas porque inconscientemente sabem que se tivessem a nobreza de alma de Jesus teriam de questionar a vida leviana a que foram acostumados e em que investiram…

 

Os soldados vendam-lhe o rosto, para lhe poderem bater; estão habituados a não encarar a vida de rosto no rosto; contentam-se com viver uma vida em segunda mão, uma vida de outros que é a negação da vida. Jesus, na tradição do servo de Deus (Is 53,33 s) suporta os pecados dos outros.

 

Não o querem na cidade, querem-no extramuros; numa reacção inconsciente querem-no nos caminhos fora dela onde se encontram os excluídos da sociedade (esquecem porém que lá é que se encontra Deus a incluir toda a humanidade). Ao colocá-lo fora dos muros fizeram inconscientemente como manda o dia-a-dia da normalidade… Carregam-no com as traves (uma símbolo da horizontalidade a outra da verticalidade; Jesus leva o mundo às costas no que ele tem de pesado; transporta o peso da própria cruz não o deixando para os outros; com uma consciência superior assume também os males dos outros.

 

Querem-no fora porque, no seu entendimento, um Messias teria de andar pelos seus caminhos e seguir a obrigação de perfeccionismos e de virtude passadas a ferro pela sociedade, teria de seguir a ordem social e familiar como qualquer outro… Nem tão-pouco os amigos aguentam a realidade de um homem adulto que encara a vida de frente sem culpar ninguém. Eles querem Deus, à sua maneira, pelo que Jesus terá de ir morrer como o enforcado fora do povoado e, longe dos homens e de Deus; Jesus porém segue o caminho sempre em frente em silêncio; ele sabe que na mentalidade do povo um condenado pela lei é considerado um amaldiçoado de Deus (Dtn 21,23).

 

Deus permite tudo isto porque assim mostra que uma vida vivida só orientada pela lei é destrutiva, individual e institucionalmente… Jesus encontrava-se repleto de Deus e mostrava, no seu andar, quão diferentes são os caminhos da Verdade em comparação com os caminhos da normalidade de povo, governantes, religiosos e políticos. Como se mantêm prisioneiros de uma visão dualista da vida pensam que Deus se vingou em Jesus como se Ele fora um amaldiçoado de Deus.

 

Não, aqui não se trata de castigo; aqui está em jogo o assumir de uma nova consciência, de uma nova maneira de ser e estar no mundo que integra o mundo todo em si. No calvário não se trata de realizar uma pena devida à humanidade; Deus não é nenhum justiceiro como o quereria a mentalidade dualista e instrumentalizadora de quem nos governa. Deus não precisa de resgate… Ele caminha connosco, contigo e comigo, de maneira inclusiva e amorosa, assumindo também o sofrimento, numa reacção positiva à vida.

 

(continua)

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António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

VIA CRUCIS – O CAMINHAR DA PESSOA CONSCIENTE – 2

 

VIA SACRA

 

Na seguinte texto vou reflectir um pouco no sentido da espiritualidade da via crucis. Inicialmente meditava-se sobre as 8 estações do calvário referidas nos evangelhos; posteriormente mais ampliadas.

 

A semana santa, tal como a cruz do calvário, são vias de espiritualidade. Na observação da cruz não se trata de fomentar um sentimento masoquista mas de se descobrir o Cristo que é salvação e afirmação da vida alegre, independentemente do caminho-cruz. Jesus é o companheiro de vida que ajuda a integrar os opostos e as incongruências no de correr da vida.

 

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  1. Jesus é condenado à morte

 

Ao ser condenado à morte, Jesus não abre a boca; ele sabe que perante quem se arma em juiz não há argumento profundo porque o juiz segue uma visão dualística que não permite um diálogo ao nível de sujeito para sujeito (de carácter inclusivo).

 

Em todo o interrogatório das autoridades romanas e do sinédrio Jesus apenas responde a Pilatos dizendo que é o „testemunho da verdade”). Pilatos pergunta “o que é a verdade?”. Jesus não responde certamente porque sabia que Pilatos, não entenderia uma resposta que desse porque só a equacionaria no sentido do discurso de direito (racional, na tradicional mentalidade exclusiva do ou… ou); este discurso não conhece pessoas nem relação, apenas conhecem objectos e interesses, prémio ou castigo.

 

Jesus dos interesses que se juntam em torno dos juízes, do direito da política e da religião, muitas vezes à custa da relação humana e de uma verdade mais profunda. A verdade é processo e, a nível real-místico, só se encontra na relação pessoal, na inter-relação do eu e do tu com o nós.

 

O caminho do calvário é a resposta do silêncio a uma sociedade empedernida, incapaz de compreender o que é a Verdade dado esta ser relação e nunca uma abstracção intelectual a serviço deste ou daquele poder. Por tudo isto Jesus emudeceu! Só tinha a hipótese de calar, mesmo perante a boa vontade de Pilatos que perguntava num cenário de mentalidade dualista do poder, a mentalidade ordinária do dia-a-dia; uma resposta a nível de justiça só poderia contribuir para o barulho e confusão de que a lei vive.

 

(continua)

 

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 António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

VIA CRUCIS – O CAMINHAR DA PESSOA CONSCIENTE – 1

 

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O Homem sofre devido à sua própria imagem e às ideias que o prendem

 

Jesus, no seu caminhar, revela-se não só como médio (união com Deus) mas também como mensagem (caminho, verdade e vida). O segredo da via crucis está em superar a dor sem a transmitir a outros, uma vida sem a necessidade de bodes expiatórios, uma existência como processo de transcendência e inclusão. Deste modo Jesus quebrou com a prática comum da cadeia da violência. Com o exemplo do calvário inicia-se assim uma nova idade, a idade da paz. Esta perdeu-se pelo caminho encontrando-se soterrada sob a folhagem da história. As estruturas do poder realizaram porém uma regressão à maneira antiga do exercício do poder como violência e a repressão.

 

Nele encontra-se um modelo de vida para lá dos habituais dualismos, racionalismos ou morais; a dimensão da sua actividade não se perde nos meandros de explicações porque a dimensão da sua actividade é a fé, a relação interpessoal, a relação mística, a única que implica transformação profunda.

 

Jesus mostrou o absurdo da imagem de um Deus vingativo, violento e mesquinho, que a sociedade civil e religiosa usa muitas vezes para melhor legitimar o seu poder e a sua violência. Deus não precisa de vítimas nem de sacrifício. Jesus ao assumir a qualidade de vítima desmascara a violência e torna supérfluo o recurso à vítima que amarra a alma humana quando Jesus lhe deu asas para voar. Nele se revela a possibilidade de nos mudarmos. Em Jesus Cristo, Deus revela-se o misericordioso que deslegitima qualquer violência (Mt 9,13; 1Cor13,3.13); o JC, ao assumir o ser de vítima, acabou com todos os sacrifícios e questionou a realidade do dia-a-dia baseada numa mentalidade que se movimenta entre o crime e o castigo, o criminoso e a vítima. Jesus acaba com a violência como meio de resolver os problemas; revela a fragilidade e maldade de uma vida e de um poder baseados numa mentalidade dual-polar legalista (que menoriza a realidade a: de um lado o bem e do outro o mal!).

 

Numa visão, verdadeiramente cristã, a realidade não é bipolar; ela implica uma terceira dimensão integrante inclusiva e integrante da vida na fórmula trinitária. À dimensão polar acrescenta-se uma outra dimensão: a dimensão da liberdade, da graça e do amor: o contrário da polaridade da obediência, do espírito legalista e justiceiro.

 

No JC todas as contas estão saldadas e em vez da teoria ou da moral inicia-se um novo reino que é encontro, relação directa com Deus (o tal Reino de Deus). O caminho do calvário é tão largo que leva nele vencedores e vencidos, maiores ou menores pecadores, acabando com a concorrência e com o prémio e o castigo; a cruz só conhece vencedores porque a sua força impulsionadora é a misericórdia e o amor. A via-sacra (caminho da cruz) acaba com o ciclo circulatório da violência (poder) e da repressão (Rom 12,21), supera também uma visão intelectualista redutora da vida. Já Platão dizia: "Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz."

 

O sofrimento assumido torna-se no método alternativo, o único capaz de fomentar saúde e salvação, o único capaz de libertar do sofrimento provindo das próprias imagens. O caminho da cruz é um outro modo de perceber as coisas, uma solidariedade sem limites nem extremos e, como tal, não responde a um mal com outro mal; de facto também o mau é vítima do mal. A via crucis é a alternativa à história humana em que a violência se alterna em nome de ideais e a pretexto da revolução. O único verdadeiro revolucionário da História é Jesus mas a sua revolução só se encontra activa em diferentes biótopos sociais que integram a doutrina com a mística (conventos, crentes e grupos que procuram concretizar na sua vida a realidade do JC).

 

(continua)

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António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

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