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A bem da Nação

DECISÃO DIGNA TAMBÉM DIGNA DE ALGUMA INDIGNAÇÃO

 

Mesquita Central de Lisboa.jpg

 

PRESIDENTE DA REPÚBLICA PARTICIPA NUMA CELEBRAÇÃO INTER-RELIGIOSA NA MESQUITA NO DIA DA SUA TOMADA DE POSSE

 

 

Segundo informou “ O Público”, Marcelo Rebelo de Sousa iniciará o seu 1° dia presidencial participando, a 9 de Março, numa celebração inter-religiosa na Mesquita de Lisboa.

 

A decisão de Rebelo de Sousa é corajosa e muito oportuna. É uma iniciativa inédita num estado republicano habitualmente mais virado para a burguesia estatal e para a burguesia citadina do que para toda a nação. Com este gesto inovador o Presidente parece encontrar-se no espírito do Papa Francisco ao desprender-se da “influência curial”, abandonando o tradicional alojamento papal para se albergar na casa vaticana de hóspedes. Aqui, o presidente parece distanciar-se um pouco de uma jacobina influência institucional republicana, para se tornar num republicano sem dolo mais perto do povo. Naturalmente que o presidente, tal como todos nós, não estará imune de um certo espírito “Branca de Neve“ reinante!

 

Com este gesto inovador o Presidente aponta para a importância de a República integrar e reconhecer o valor da religião dentro de um Estado e no convívio com as nações. De facto uma República com um Estado que tem sido de confissão agnosticista timbrada por actores que em vez de a melhorarem a pioraram, precisa da participação e integração de todos num Estado que não se quer só partidário mas também religioso e de várias mundivisões.

 

Atendendo ao insólito da decisão do Presidente, na qualidade de tal - num país de maioria católica - ir rezar à mesquita, haverá razão para nos perguntarmos sobre o que estará por trás de tal iniciativa. De facto, a iniciativa desconcerta gregos e troianos só podendo dar consolo aos muçulmanos. (Terá talvez a vantagem de levar o cidadão a reflectir sobre as coisas sérias de que geralmente não fala por ter de andar a correr atrás das decisões económicas e do jogo de sombras da política).

 

Será que o senhor presidente quer, com este gesto, dizer que a paz no mundo terá de partir das mesquitas?

 

Quanto à ideia que a imprensa sugere de o Presidente querer lembrar na mesquita a imigração dos muçulmanos para a Europa e o terrorismo muçulmano, será que isso quererá ser um apelo aos estados árabes para também eles acolherem os seus irmãos de religião? A Arábia Saudita tem em Meca tendas, para albergar mais de um milhão de peregrinos, que se encontram vazias durante 11 meses do ano! De não esquecer o conceito de democracia e de diálogo inter-religioso do presidente turco Erdogan: "A democracia é apenas o comboio, em que subimos até que tenhamos chegado. As mesquitas são as nossas casernas, os minaretes nossas baionetas, as cúpulas nossos capacetes e os fiéis os nossos soldados " (1).

 

A ideia de, no acto litúrgico, se lembrar a tragédia humana dos refugiados fugidos para a Europa não pode ser fundamento para tal decisão quando, ao mesmo tempo, se querer mostrar a sua atitude contra o terrorismo. Donde lhe vem a lógica? O Islão é a raiz do terrorismo islâmico; na sua actuação tem mostrado que quer a submissão não a paz. Segundo a auto-compreensão islâmica, em geral, o gesto de Marcelo Rebelo não passará de um reclame por eles, um sinal de auto-humilhação voluntária do presidente para com o Islão, que de si consideram superior; naturalmente, a maior parte dos Imames dirá que o Islão é uma religião pacífica, como costumam dizer em palestras, por estarem obrigados a dizê-lo pela lei islâmica da Taqiyya ou “Disfarce Religioso” (2). Aqui é que se encontra o busílis da questão!

 

No meu pensar, a iniciativa simbólica seria muito de louvar, se o lugar do encontro inter-religioso fosse na Igreja da Estrela, num estádio de futebol ou num monumento do Estado de carácter neutro. No caso a iniciativa só dá que pensar: Os mistérios dos deuses são insondáveis e o povo português para despertar precisa de uma terapia de choque! Antes tarde que nunca, esta é a hora!

 

Por muito controversa que a decisão seja, também terá o mérito de ser um grande apelo às instituições e aos órgãos de um Estado laico para arredarem caminho da sua política de interesses sectoriais e divisionista e que se expressa no desmantelamento de símbolos cristãos no espaço público e ocupação da escola com ideologias em desfavor da religião e moral como se o Estado laico dependesse da luta contra o catolicismo; ao mesmo tempo torna-se num aviso de que as instituições religiosas nacionais devem afirmar a integração e o diálogo nacional no sentido do bem-comum.

 

Uma questão que se repete: se ao tomar medida tão ousada, porque não ser numa sinagoga ou num templo budista? Torna-se difícil elevar os corações para Deus numa casa islâmica de culto quando a religião islâmica é aquela que hoje mais provoca o mundo e se afirma como portadora do fascismo e uma vez que a Liga dos países árabes continua a ter como objectivo declarado a sua infiltração na Europa e quer ver no mar os israelitas. O Islão não conhece a separação entre Estado e Religião.

 

Seria de desejar que não seja uma cedência à fé no relativismo, da opinião politicamente correcta - uma atitude em que se tropeça por toda a União Europeia. A doutrina reinante nos capitólios do politicamente correcto parece continuar a querer apostar no genuflexório de Maomé, porque julga que das mesquitas é que corre o leite do petróleo. Que a política árabe esteja mais conforme com os que se encontram nas sendas do poder, lá isso é certo, mas também que não se falsifique a realidade tornado como exemplo uma religião que espalha o terror por toda a parte. Uma explicação mais simples e corrente da opinião politicamente correcta baseia a adulação em torno de Meca na cobardia do medo e na vénia aos petrodólares.

 

Para muitos, Rebelo de Sousa presta assim uma vénia ao poder em voga e abusa das religiões no sentido das suas intenções. O Presidente tem, porém, uma desculpa, ao escolher uma mesquita como palco de referência e reverência, porque, certamente, como a grande maioria de quem fala e opina, não conhece o Corão nem a vida de Maomé que é seguida hoje à letra pelo "Estado Islâmico" no intuito de instituir a sharia. Não tenho nada contra os muçulmanos: são muitíssimo melhores que o seu profeta Maomé, a grande maioria é correcta e não deve ser enxovalhada por ter a mãe que tem. O problema vem apenas da simbologia e dos símbolos que se escolhem quando estes implicam subestima para uns e demasiada consideração para outros num Portugal que se quer português, para poder ser europeu e universal.

 

O Presidente Rebelo de Sousa será o presidente da reconciliação, enfim, um estadista com carácter e que contrariará o hábito de uma condição de Estado republicano sem ideia própria nem coluna vertebral. O dia de que falamos é o seu primeiro dia. O presidente é um homem que quer paz e não vassalagem!

 

Esperemos que consiga uma mudança de atitude do Estado, na sua maneira de estar, como conseguiu o SPD alemão, ao reconciliar-se com a grande maioria do povo alemão, através da renovação do seu programa em Gudensberg, deixando então o SPD de ser um partido marxista.

 

A simbologia do acto de colocar uma grinalda de flores no túmulo de Camões e a inovação de colocar também uma no túmulo de Vasco da Gama é muito respeitável e de alto significado! É uma homenagem à arte, à cultura, ao espírito português universalista e um apelo ao fomento da união de todos os países da lusofonia. Com o acto religioso lembra que Portugal foi grande enquanto tinha um objectivo e uma missão comum que o motivava em nome de uma ideia religiosa espalhadora do humanismo universalista sem ser nacionalista. Que o português, apesar de cristão, também tenha cometido muitos erros só prova que ele continua a ser Homem e continua a precisar de dominar em si o animal feroz que realmente é. Encontramo-nos todos no séc. XXI, o que exige de todos uma evolução.

 

Não há ninguém sem culpas nem erros; do erro dos que fazem e dos que criticam surge a grande possibilidade para o avanço, desde que sejamos Homens de boa vontade e não agarrados ao próprio osso. Podemos perdoar esta ao nosso Presidente, e pedir perdão por nossos maus pensamentos e palavras, embora não me passe da ideia que o estimado presidente não tenha marcado um golo em fora de jogo; importante é que não se torne em mais um penalty que o Estado jogue contra a própria cultura e contra a nação. Neste caso o tiro poderia sair-lhe pela culatra e quem ganharia o jogo seria o Islão e a consequente velha lógica dos machos fortes que se identificam com a sua estratégia do continuar assim como dantes.

 

De resto, resta dizer “calma na Madeira que Portugal é nosso”! Recomenda-se a quem for ao acto religioso que, ao despedir-se, o faça com um oxalá ("'in sha' allh") ou com um simples “queira Deus” que o Homem queira!

 

António Justo.jpgAntónio da Cunha Duarte Justo

 

  • A Arábia Saudita tem enviado milhares de milhões de euros para a construção de mesquitas radicais (Wahabitas) no estrangeiro que colaboram com os centros diplomáticos sauditas no sentido de alastrar o islão. Os Wahabitas e os Salafistas representam o Islão radical. Dos centros salafistas saem muitos combatentes europeus pelo “EI”. A Arábia Saudita apoia com dinheiro o presidente turco Erdogan que desde cedo tem feito tudo pela islamização da Turquia e não arredou da sua estratégia de islamizar a Turquia, outrora mais liberal, e o estrangeiro com a presença turca, segundo o modelo da citação acima que fez de um livro religioso. https://www.youtube.com/watch?v=4nmi2w3ZqXA http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/2270642.stm As mesquitas não se têm revelado como lugares de fomento da compreensão e da paz, como se verifica também na Alemanha. Das mesquitas, às sextas-feiras têm surgido violências organizadas pelo mundo fora e a recruta de terroristas para a causa do EI. O que vale à Alemanha é o seu sistema de controlo.
  • "Disfarce religioso" é uma estratégia muçulmana em que a mentira é justificada desde que seja usada no interesse do Islão, no sentido de fazer valer os seus interesses na “Casa da guerra” /Dar al-Harb), compreenda-se a terá não islâmica. http://derprophet.info/inhalt/taqiyya-htm/

AS CHEIAS E A EROSÃO DOS SOLOS

 

MM-erosão.jpg

 

 

O solo agrícola é algo muito precioso. É ele que está na base da agricultura, seja um pequeno canteiro de alfaces ou uma floresta. Leva dezenas ou centenas ou milhares de anos a formar, mas pode ser destruído em pouco tempo. Há que tudo fazer para o conservar e melhorar.

 

A área agrícola tem vindo a sofrer reduções muito grandes, com o incremento das áreas ocupadas pelas construções para habitação, indústria, estradas, caminhos de ferro e aeroportos. As recentes cheias, que assolaram várias regiões do país, vieram lembrar outro mal, que é a degradação do solo agrícola em consequência da erosão a que tem estado sujeito.

 

Aquelas imensas quantidades de água da cor de chocolate arrastam para o mar muitas toneladas da parte mais preciosa do solo de onde foi arrancada.

 

A melhor forma de combate, para evitar ou reduzir os males das cheias, é actuar sobre toda a bacia de recepção, a área onde cai a água que se vai acumular nas zonas mais baixas, a caminho para um rio ou o mar. Esse combate visa que toda ou parte da água caída nessa área se infiltre no solo. Nas zonas montanhosas, é normalmente possível com a arborização, de forma a conseguir reter a água. Também são úteis, para reter a água e reduzir a sua velocidade, as pastagens de montanha, quando é possível instala-las. Note-se que estas acções têm interesse económico, além da sua importância para evitar ou atenuar as cheias. E a água que se infiltra vai aumentar os aquíferos, um outro ponto importante. As lavouras segundo as curvas de nível são outra forma de evitar o escorrimento superficial.

 

Por várias vezes lembrei – e outros também o fizeram – que é muito importante a arborização da serra do Algarve, uma faixa de cerca de 100 km de comprimento e 20 km de largura, que vai da serra de Monchique até perto da fronteira com Espanha. Quase toda descarnada, apenas com alguns pontos arborizados é, em grande parte, pouco ou nada produtiva e incapaz de reter a água. Disso muito se ressentem os aquíferos da zona baixa, uma faixa de cerca de 20 km de largura. Monchique, a única parte bem arborizada, é uma boa indicação do que pode ser o resultado da arborização.

 

Quando, apesar do que se fizer, ainda muita água corre em ribeiras, especialmente com grande inclinação, há processos de correcção torrencial, para atenuar a velocidade  da água. No século XX Portugal teve um especialista nessa técnica, o Engenheiro Silvicultor Mário Galo, que deu um bom contributo para a correcção torrencial, através de pequenas barragens de lajes.

 

Naturalmente, quando a precipitação é muito intensa em curtos períodos ou é muito prolongada, como já tivemos este ano de 2016, mesmo com as melhores técnicas é impossível evitar muitos males.

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 25 de Fevereiro de 2016

 

Prof. Miguel Mota

 

Miguel Mota

HUMBERTO DELGADO...

 

... UM DIPLOMATA QUE ESCREVIA “RREPÚBLICA” COM DOIS R

“Quais são os maiores pulhas e hipócritas?

Os Monárquicos ou os Republicanos?”

O Governo ou a Oposição?

 

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 Álvaro Cunhal e Humberto Delgado

 

Humberto Delgado fundamenta, no seu livro “Da Pulhice do Homo sapiens – Da Monarquia de vigaristas pela República de bandidos à Ditadura de papa”, de maneira realista e profética a razão do contínuo adiamento do desenvolvimento de Portugal e da sua governação.

 

Humberto Delgado fala da “República tuberculosa de nascença”. Escreve República com dois R, esclarecendo: “RRepública” com dois R, em que um é dos roubos”. “Nihil sub sole novum” (Ecl. 1:9)!”

 

Recomendaria a leitura deste livro a todos, especialmente a quem quer compreender as razões da corrupção do Estado e da nossa “revolução” (coloco o link com o livro em nota (1 e 2). A sua leitura poderá esclarecer a razão porque o regime de Abril fomentou uma atitude fanática republicana na avaliação tanto do regime de Salazar como do regime do 25 de Abril.

 

Cidadãos que sentem as dores de um Portugal devidas à sua oligarquia decadente, tal como os emigrantes, que não se serviram nem foram servidos por nenhum dos regimes ou governos, bem como uma nova juventude, serão os que melhor poderão compreender e sentir a razão de um Humberto Delgado amargurado e furioso por amor à nação.

 

Humberto Delgado – A Voz de um Profeta no Descampado da Nação

 

A linguagem que Humberto usa não se distingue da que encontramos hoje nos meios sociais. A razão do seu escrever não se distingue da do nosso escrever e que ele bem resume: ”É esse patriotismo, ferido por ver a gente que compõe o pseudo-escol do meu país, quem escreve este livro, raivoso por se sentir impotente para a liquidar”. Diria: raivoso por verificar o beco sem saída a que as nossas elites nos conduzem e a um dissabor na nossa consciência por aguentar a desonra.

 

Como se fosse hoje, fala da “canalha política que salva o país nos cafés e nos ministérios”. Do rei D. Carlos diz: “O rei, um rei constitucional, que afinal pouco mais é que um objecto de adorno… com muita medalha, figurava como culpado dos males nacionais desde a chuva abundante à seca mortífera”.

 

Da cumplicidade entre conservadores e progressistas, diz: “A política dos partidos monárquicos resumia-se a isto: “escalar o poder, para satisfazer a vaidade ou para comer…”. Fala da “canalha progressista” e do espírito anticatólico referindo: “Dias Ferreira estadista dos mais sérios da monarquia dizia: ’À frente dos negócios públicos em Portugal têm estado verdadeiras quadrilhas de ladrões.’ “Vê o leitor o que era a administração dos políticos monárquicos. A da república foi idêntica”… “É do domínio público a fobia que se criou pelas missões católicas, dado o espírito intolerante dos que se dizem republicanos, como se fizesse algum mal que o preto aprendesse a carpinteiro, a ler e a adorar a Deus… Pois apareceram as missões laicas, e todos sabem o que foram, pretexto de embarque de todo o malandro e prostitutas, para as colónias.” Humberto Delgado hoje em vez de dizer monárquicos e republicanos diria: esquerda e direita, governo e oposição.

 

Ontem como hoje o servilismo ao estrangeiro frutifica em nome da crise ou do internacionalismo e de um progressismo simplicista e barato que substitui o grande ideal civilizacional intercultural por correntes ideológicas. Humberto Delgado critica também os políticos republicanos e monárquicos que “puseram a sua pena ao serviço da causa da União Ibérica” pondo neste rol Passos Manuel, Teófilo Braga, Oliveira Martins e Antero de Quental que em “Portugal perante a revolução de Espanha” defende: “Nas nossas actuais circunstâncias o único acto lógico e possível de patriotismo consiste em renegar a nacionalidade”.

 

Por aqui se pode compreender melhor o interesse dos heróis da descolonização de Abril 74 no sentido da desmoralização e da desnacionalização do povo português e a pressa em inculcar bezerros de ouro contra uma fé antiga que estaria aberta à novidade. Na primeira república como no 25 de Abril o que dominava era a ideologia e os interesses individuais, que não a coisa pública.

 

“O portuguesinho só quer direitos, honrarias, pergaminhos; mas deveres? – Isso, trabalho é bom para o preto”. Com o 25 de Abril repetiu-se o que já se fez no início da república (e na revolução de 1820 como se tratasse de criar uma nova civilização), deu-se então cabo das escolas industriais porque só se queria uma república igual de meninos de liceu: “Em resumo, cada um fazia o que queria.Pois bem: proclama-se a república; e então passa a ser assunto obrigatório do discurso a tirania do regime deposto”. Deste discurso se alimentam hoje os “históricos” da revolução, num povo insubmisso mas obediente com uma direita desempenhada e uma esquerda ultrapassada a viver dos cartazes e punhos cerrados, do funcionalismo público, de um sindicalismo jacobino, do jornalismo educado e até mesmo de intelectuais distraídos.

 

O discurso confessional de um Abril (primavera para os mais iguais), com as suas jaculatórias de “fachos”, “imperialistas”, “fascistas”, “ditadura” , a ponto de tanto ser repetido, ganhou foros de verdade, aquela verdade trágica que impede uma análise séria ao novo regime e legitima a sua corrupção (em nome de um bem ou de um mal esconde-se a própria maldade): uma sociedade que vive a fugir do seu passado ou só a apostar no “progresso” é traidora e desonrada, porque desconsidera a sua mãe prostituta para se meter com outra na cama, sentindo-se honrada só por se cobrir com os cobertores da igualdade, fraternidade e liberdade.

 

“Quais são os maiores pulhas e hipócritas? os monárquicos ou os republicanos? Eu estou na situação do burro de Buridan para o dizer.” Em resumo: „Enfim anarquia, indisciplina e estômago”.

 

Fala ainda dos “criminosos esbanjamentos da fazenda pública, destas sindicâncias que se iniciam e nunca se acabam, destes escândalos em que uns e outros se atiram punhados de lama e donde ninguém sai para a cadeia”… como se estivesse a falar hoje de políticos, juízes, banqueiros, PPPs e de cargos políticos ou de seus boys na economia.

 

Concluindo

 

Na descrição de Humberto Delgado, cidadão condecorado em Novembro de 1957, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis, demarca-se a explicação e protesto contra uma mentalidade medieval estática (muito embora compensada por uma dependência incomparável das modas) que cria e repete uma situação nacional de contínua frustração e desengano, transmitida historicamente por partidos e pela governação.

 

Somos uma sociedade mais perita no tratamento dos sentimentos do que no lidar com os fatos; é manifesta a falta de experiência da argumentação e de sentido da realidade.

 

Mais que uma História de Portugal ou uma história da revolução temos uma História de figurinos, que se repetem. O problema de ontem que Humberto Delgado descreve – um país demasiado pequeno para engordar demasiados barões republicanos – é idêntico ao de hoje (se observamos a história dos partidos e dos governos de Portugal a partir dos meados do século XVIII e em especial do século XIX, nada mudou qualitativamente, nada se aprendeu, os mesmos figurinos só se repetem em nome do cinismo glorioso da liberdade). As oligarquias portuguesas são muito intelectuais mas são burras, não aprendem, só se repetem e justificam no seguimento do jugo estrangeiro.

 

Por um lado somos um povo com reminiscências guerrilheiras lusitanas abafadas e por outro lado somos um povo demasiadamente amarrado ao destino e ao fado, sempre pronto a criticar pessoas mas desinteressado na análise e na crítica dos factos, e actuando segundo a tirânica divisa “negócios são negócios”. As elites foram educadas a só fazer o que a classe “mais alta” espera delas, cada um anda só a um passo de distância do outro mas quer ser identificado por uma diferença que os torne melhores que os outros. Concretamente tanto elites como povo vivem do controlo externo e funcionam em função do exterior; falta um ideal, um objectivo e uma missão que os une e atraía.

 

A receita para sairmos da entropia e de tal fadário seria, por um lado, distanciarmo-nos da herança muçulmana que vive de uma filosofia de afirmação das incompatibilidades - atitude do emaranhado antagónico - pronta a ver a culpa (responsabilidade) sempre fora e, por outro lado, passar a assumir uma postura de compromisso que inclui o rectificador da dúvida, instrumento do pensamento europeu, que nos livra da certeza calcinante e possibilita o desenvolvimento e a mudança numa dinâmica inclusiva e não exclusiva.

 

Portugal, tal como o povo israelita, a caminho através de um deserto agressor, precisa de readquirir um ideário e um consenso nacional. Quando se abdica do ideário ou da fé entram as diferentes correntes que em redemoinho desorientam o povo. Daí a necessidade de se permanecer sempre em jogo entre um fechar-se e um abrir-se, de modo a o novo não se independentizar mas a ser integrado e renovar o já possuído.

 

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António da Cunha Duarte Justo

REVISITANDO...

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NÓS, OS CRETENSES, SÓ DIZEMOS MENTIRAS

 

O projecto empresarial traduz-se em planos e estes em orçamentos habitualmente submetidos a análises periódicas de desvios como o modo de que as Administrações se servem para correcção de estratégias, de apreciação da qualidade das decisões tomadas, de reformulação de produtos e serviços, de desempenho dos recursos humanos, etc; é das normas que parte substancial desta informação seja regularmente submetida à apreciação e votação em Assembleia Geral de accionistas cuja representatividade é periodicamente registada. Nos Estados fazem-se os Planos (em Portugal chamamos-lhes as GOP’s – Grandes Opções do Plano) que se traduzem no Orçamento do Estado, à Administração corresponde o Governo, a Assembleia Geral tem o seu paralelo no Parlamento, aos accionistas correspondem os eleitores cujos representantes em Assembleia Geral são os deputados.

 

 

Mas a dinâmica empresarial é sempre diferente da de um Estado e os parâmetros em jogo também são diferentes. O que é válido para uma dimensão pode não ter nada a ver com a outra e, se a estrutura empresarial é criada de acordo com um projecto e quantificada em conformidade, já a mesma exactidão não se consegue alcançar com a economia de um país. E a primeira constatação que podemos empiricamente fazer é a de que a economia de um Estado não é apenas a que corresponde à soma das economias das empresas nele localizadas uma vez que há muitos outros factores que não são facilmente quantificáveis e cuja dinâmica não é controlada ou sequer controlável.

 

 

As constantes tentativas de parametrização das variáveis em jogo numa economia são tarefa da Econometria. Assim se tenta matematizar um modelo que represente a economia de um país ou de uma região de modo a que se possa imaginar o que sucederá ao conjunto se se mexer numa certa variável. Que consequências ocorrerão no PIB se o Investimento aumentar? Tratamos do investimento público ou deixamos o privado avançar? O que sucederá às importações se o consumo privado crescer? Que efeitos terão as variações no PIB sobre as receitas do Estado?

 

Estas questões são importantes para os Governos mas também o são para as empresas para quem não é indiferente saber se vai haver uma forte variação do PIB, se o investimento público vai regredir, se há possibilidades de o consumo privado crescer. Tudo isto é importante para as estratégias empresariais, tudo isto tem a ver com todos nós, públicos e privados, vivendo dos rendimentos ou do trabalho por conta de outrem, activos e reformados, estudantes ou professores.

 

É devido a esta reconhecida importância que os Governos se apresentam regularmente a dizer o que vai suceder no futuro de curto e médio prazos. Para além dos Governos temos também a OCDE, o FMI, a Comissão Europeia e os Bancos Centrais, todos a augurarem o futuro com base nos tais modelos econométricos que pacientemente vão construindo e com base também nas mudanças que cada um considera prováveis em determinadas variáveis. São famosas as previsões da Primavera e do Outono feitas pela CE para cada um dos seus actuais 15 Estados membro, são muito estudadas as previsões feitas pela OCDE para todos os seus membros, são no nosso país amplamente divulgadas as projecções do Banco de Portugal, são muito escutadas as profecias do FMI.

 

Com algumas excepções, todas estas entidades se pronunciam sobre a variação do PIB, dos consumos privado e público, do investimento, das importações e exportações, da inflação e do saldo orçamental. Não será por falta de informação que hesitaremos nos nossos procedimentos.

 

Entre Outubro de 2000 e Janeiro de 2001 todas aquelas instituições prognosticaram o que sucederia em Portugal em 2001 e eu comparei os prognósticos e a realidade oficialmente medida no final do período. Assim, para um PIB que encerrou com um crescimento de 1,9 por cento, a média dos desvios dos prognósticos daquelas cinco instituições foi de 52,6 por cento do resultado final; no consumo privado, a média dos desvios foi de 248,8 por cento e no investimento foi de 590 por cento. Parei o cálculo e revi todas as contas. As minhas contas estavam certas, os prognósticos é que estavam errados!

 

Qual seria o futuro profissional de um gestor que errasse desta forma tão grosseira nos planos e orçamentos que gizasse para empresa da sua responsabilidade?

 

Perante cenários tão errados, como podem os agentes económicos decidir acertadamente? Mais valerá que ignorem pura e simplesmente tais prognósticos a fim de não cometerem erros que os possam levar à bancarrota. E se tal sucedesse e o falido invocasse a desinformação como a causa da desgraça, certo seria que ninguém lhe daria razão e todos alijariam responsabilidades.

 

Para além do custo que a feitura destes prognósticos representa nos impostos que pagamos, que outra dimensão podem ter na vida do contribuinte colectivo ou singular? Não passarão de meros exercícios académicos?

 

Recordo que desde tempos imemoriais vem a Humanidade procurando adivinhar o futuro e que foi assim que proliferaram as pitonisas na Grécia antiga. Foi também por essas épocas que Epimenides, sacerdote de Apolo, imaginou um paradoxo que desde então deixou a Humanidade perplexa: “Nós, os cretenses, só dizemos mentiras”.


Lisboa, Fevereiro de 2004

 

 Henrique Salles da Fonseca

 Henrique Salles da Fonseca

 

 (*) Creta, foto na Internet

Publicado no Suplemento de Economia de O Independente em 20 de Fevereiro de 2004

TEMPESTADES

 

Inverno.jpg 

 

Quando no peito a noite é mais profunda

Que a noite que desce na cidade

Quando na verdade que me inunda

O tempo é só Inverno na idade...

 

Quando no olhar há só talvez

Ou até sempre, ou até nunca mais

E em mim deixou de haver porquês

Pela morte de tantos ideais...

 

Quand’ o tempo põe a capa do invés

E troam sinfonias colossais

Quando há mais mar que há marés

Ecoando em crateras abissais...

 

E quando o mistério que há no rosto

É somente o rosto do cansaço

Que faz em bagaço e em mosto

A vindimada vinha do espaço

 

Feche-se a porta, cumpra-se o destino

Que a terra só exige o que lhe cabe;

Voltemos à chegada, ao ser menino

É hora de regresso à eternidade!...

 

Maria Mamede.pngMaria Mamede

AINDA O ARQUIMEDES

 

Exmo Henrique Salles da Fonseca

Estimado Amigo e Viajante das Letras,

 

 

1 - E logo pela manhã ARQUIMEDES E O TANGO. E como eu gostaria de escrever assim de quando em vez (ou de vez em quando), escrevinhar algo com interesse para o A BEM DA NAÇÃO. Não tenho tempo? Claro que tenho. Mas não o suficiente para fazer como gosto de fazer. Com investigação e labor. Sou assim. Nada a fazer. E ter neste momento mais de trezentas páginas para defender em breve, faz-me preocupado. Adiante.

 

 

2 - Mas chamou-me a atenção "para já, segue-se ORHAN PAMUK". Excelente escolha. Mas não ficaria de bem comigo se não te falasse de dois livros que li muito recentemente, e que me surpreenderam, mesmo muito, de duas figuras da RTP e TVI (agora na CMTV). E nunca tinha lido nada das mesmas, porque pensei (erradamente), que não teria nada a ganhar com os livros destes autores. Por partes.

 

 

O Império dos homens bons, Tiago Rebelo.png

 

3 - O IMPÉRIO DOS HOMENS BONS de TIAGO REBELO (edição ASA). Muito, mas mesmo muito interessante. Passa-se em Moçambique nos idos de 1847. Da capa: Um amor proibido entre um padre e uma escrava. Uma história verídica de sobrevivência. Da contracapa : Em 1847, na pequena vila de Inhambane, um punhado de famílias esquecidas pela coroa portuguesa luta heroicamente para impor uma nova civilização em território africano (...). Pensei que largaria logo o livro, mas engano meu, li-o de rajada. E foram 531 páginas.

 

AS FLORES DE LÓTUS-José Rodrigues dos Santos.jpg

 

4 - AS FLORES DE LÓTUS de JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS (edição GRADIVA). Da contracapa: O século XX nasce, e com ele germinam as sementes do autoritarismo. Da Europa à Ásia, as ondas de choque irão abalar a humanidade e atingir em cheio quatro famílias (...). Do JAPÃO, da CHINA, da RÚSSIA e de PORTUGAL. Neste último caso recomendo os encontros de um tal capitão Artur Teixeira com um lente da Universidade de COIMBRA, que chega às FINANÇAS, e que não precisa de três anos para endireitar as contas. Basta-lhe um. É obra. E foram 683 páginas. E só lamento que tenha continuação com O PAVILHÃO PÚRPURA que agora aguardo com ansiedade.

 

 

5 - E se ao teu segue-se, seguirem-se estes, acredita que não perderás mesmo nada. Desculparás, entretanto, se acaso de sentires defraudado com estas leituras, e é evidente o meu atrevimento também terá que ser relevado. Ousadias, é o que é. da minha parte.

 

 

Muita CONSIDERAÇÃO e ESTIMA PESSOAL,

 

José Augusto Fonseca

 

José Augusto Fonseca

 

GOVERNO ORDENA...

 

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... QUE O AEROPORTO DE LISBOA SE CHAME AEROPORTO HUMBERTO DELGADO

Sem Discussão à Procura dos Lugares altos da Nação

 

 

A partir de Maio o aeroporto da Portela/Lisboa passa a chamar-se Aeroporto Humberto Delgado, por decisão do governo. Num accionismo apressado, a governação cria mais um facto consumado no sentido radical. Actua, em medidas ideológicas, com tanta pressa que até parece contar cair em breve!

 

Sem discussão pública e sem o mínimo de respeito pelas sensibilidades nacionais, o governo excede as suas competências, aproveita-se da situação para pôr nos lugares altos da nação os ídolos de sua veneração.

 

Uma lógica racional isenta - não sedenta de ideologia - manteria o nome que indica o ponto geográfico, ou seja Aeroporto de Lisboa.

 

Se é verdade que Humberto Delgado teve um papel na fundação da TAP também é verdade que temos personalidades mais expostas e oportunas ligadas à aviação com renome internacional como Gago Coutinho e Sacadura Cabra. Estas duas personalidades, figuras de integração nacional, não têm a desvantagem de terem sido arrebatadas por nenhuma confissão política, o que já não se poderá dizer de Humberto Delgado, símbolo da oposição ao regime de Salazar mas, o que é pena, açambarcado pelas facções da esquerda. Estas talvez esqueçam a participação de Delgado no golpe de estado dos militares em 1926 que instaurou a ditadura militar (acção talvez lógica para acabar com a anarquia democrática da primeira república!). Só se candidatou nas eleições para presidente da República em 1958 com a divisa de depor o 1° ministro Salazar e depois ter contestado o resultado eleitoral de apenas 23% dos votos alegando ter havido fraude nas eleições; foi despedido do exército em 1959 (A sua mudança de atitude ficou-se a dever à sua experiência com a democracia dos USA na qualidade de diplomata).

 

Do exílio no Brasil apoiava actividades da oposição, entre outras, o sequestro do navio de passageiros Santa Maria e fundando em 1964 a Frente Patriótica de Libertação Nacional – FPLN; em 1965 foi assassinado, num acto cobarde, pela PIDE.

 

A sociedade portuguesa instalada vive bem da controvérsia, mas só entre ela, contando com a ignorância, o desinteresse ou o não pensar do resto da nação. A História de Portugal não começa nem acaba no 25 de Abril.

 

Uma vez que o assunta é devocional e se trata de escolher e elevar um nome olímpico sagrado, certamente seria mais venerável o nome de Aeroporto Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Haja porém tolerância e comam todos, independentemente dos nomes das capelinhas; importante é termos lugar também para os que se contentam em ficar no adro do templo nacional, o tal povo infiel e indiferente a baptismos ocasionais que continuará a chamar pelo nome Aeroporto de Lisboa. De resto, para todos os nomes, o “eterno” descanso, numa democracia cada vez mais incrédula e por isso mais necessitada de almas justas e santas nos lugares altos do seu mercado!

 

António Justo.jpg

António da Cunha Duarte Justo

ARQUIMEDES E O TANGO

 

 

 

Das enciclopédias:

 

Técnico – o concreto e material em contraposição com a abstracção e a intelectualidade;

 

Intelectual – o abstracto e espiritual em contraposição ao concreto e à materialidade.

 

Duvido que se possa ser só técnico ou só intelectual porque quem for exclusivamente técnico não passará de um calhau e quem for apenas intelectual não passará de um lunático.

 

Como diz a sabedoria popular, no meio está a virtude. Mas é claro que uns serão mais isto e outros mais aquilo sendo impensável um poeta não conhecer o princípio de Arquimedes e um engenheiro ignorar a existência do tango. Portanto, entre Arquimedes e o tango, todos ocupamos uma posição algures entre os dois extremos.

 

Economista, dediquei-me à profissão muito antes da licenciatura pois eram os temas económicos que me interessavam e tudo o mais era um conjunto de fait divers, de diletantismo, ocupação de tempos livres. Poesia, música, pintura, literatura, filosofia, religião, tudo servia para o mesmo: ocupar os tempos livres. Mas como no meu caso a desobrigação era muito preenchida com a equitação, pouco ou nada sobrava para a intelectualidade. E assim me constitui um calhau cavaleiro.

 

Só que, como alguém disse quando viu a vida a andar para trás, «há mais vida para além do Orçamento»[1]. Também houve quem afirmasse que «nem só de pão vive o homem»[2].

 

Então, confirmando aos dez anos de aposentadoria que a salvação do mundo não dependia do meu pensamento económico, decidi gozar a vida com maior intensidade e profissionalizei-me em tempos livres. Para além do que, muito ou pouco, tenha que ser, só há agora o que eu quero que seja.

 

HSF-Tempos livres.jpg

 

Vai daí, acabei com o monopólio da prosa e passei a não mais ignorar quem escreve em verso, li tranquilamente alguns diálogos platónicos, a começar por Górgias, passei a ter à mão de semear um dicionário de filósofos, estudei a história da Filosofia do Professor Fritz Heinemann, li muito pausadamente Paul Ricoeur e Emmanuel Levinas (a propósito de Emmanuel, não traguei Kant nem à lei da bala), adorei Max Weber e a sua «Ética Protestante», deliciei-me com a Teologia das diversas religiões que o Padre Joaquim Carreira das Neves me apresentou em livro, do mesmo Autor devorei o pensamento de Lutero, “und so weiter...” como diria a minha professora de alemão.

 

Ultimamente estou a fazer um périplo pelos nobelizados da literatura com evidente exclusão do «pensador de Lanzarote» mais conhecido como «Zé do Nobel». Como se diz lá p’às bandas d’Ázinhaga, «ná, a esse nã n’o aturo».

 

E vão o Steinbeck, o Thomas Mann, o Hemingway, o Samuel Becket e o mais que se há-de ir vendo...

 

Se agora reli Steinbeck e Hemingway, com Mann e Becket foram estreias. Conhecia Mann por interposta pessoa (Rob Riemen) e, a despropósito, tenho a dizer que gostei muito de Becket. O tipo tinha de certeza uma forte pancada e escrevia de um modo que eu não imaginava possível. Sim, confirmo que gostei mas a partir de certa altura comecei a cansar-me deste livrinho que li há pouco, «Novelas e textos para nada».[3] Mas houve passagens que não esquecerei facilmente como «aquela delicadeza que troça do corcunda por causa do tamanho do seu nariz» (pág. 12) e o ritmo em que ele diz que gostava de passear – «eu que normalmente era ultrapassado pelos doentes de Parkinson» (pág. 39). E fico-me por aqui para ter a certeza de que não choco quem não esteja preparado para o nonsense becketiano.

 

Para já, segue-se Orhan Pamuk.

 

E para que o tango não ganhe a batalha pelo domínio dos meus tempos, lá vou lendo uma coisa ou outra sobre o que se passa na política e na economia, ou melhor, na economia política.

 

Continuemos...

 

 

Fevereiro de 2016

 

Henrique no parlamento de Anuradhapura, Sri Lanka.

 Henrique Salles da Fonseca

 

[1]Jorge Sampaio na sessão solene dos 29 anos do 25 de Abril de 1974

[2] Mateus 4:4 – E Jesus respondeu: Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

[3] Assírio & Alvim, tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo, edição de Abril de 2006

O PALHAÇO

Palhaço.jpg

 

Quem não se lembra de ter visto “o” Palhaço? O Palhaço Pobre, sempre maltrapilho, com aqueles sapatos imensos que chamava de “submarinos”, que apanhava pancada e fazia rir todo o mundo?

 

Lembram-se que quando ele “chorava” soltava uns esguichos de água pelos olhos, e procurava atingir os espectadores que estavam junto do palco? E o público ria e aplaudia.

 

Além destas e muitas outras palhaçadas, esses homens eram grandes artistas. Tocavam concertina, violino, marimbas, trompete, e lembro de um que se sentou na borda do palco, prendeu um serrote entre os joelhos e com um arco de violino tocou, no serrote, as difíceis Csardas de Monti, deixando o público num total silêncio e profunda admiração.

 

Fora do palco e da representação, eram homens, muitas vezes tristes, que em tantas ocasiões vertiam lágrimas autênticas, escondidos nos seus cubículos, amargando uma vida difícil, dura e, Deus sabe, com que quantidade de problemas às costas. Alguns, com família e filhos pequenos, andavam em duas ou três carroças, de terra em terra, e todos tinham o seu papel na representação. Ciganos? Talvez. Mas artistas pobres. Outros não tinham mais família, ou se a tinham, dela se haviam afastado quando adolescentes, levados pela mágica da vida de saltimbanco.

 

Todos temos, dentro de nós, em maior ou menor escala, um tanto desses palhaços pobres. Quantas vezes rimos ou fazemos rir, passando uma imagem de vida alegre, desprendida, descompromissada, sem problemas, e uma vez sós, em frente da nossa consciência, dos nossos remorsos, dos nossos erros, de costas para que não nos vejam, não seguramos as lágrimas, contidas por vezes com amarga dificuldade.

 

Dizem que rir é o melhor remédio. Pode ser. Mas enquanto rimos temos a certeza de que a seguir temos bem mais motivos para chorar.

 

Se quisermos filosofar um pouco mais, deixar o vento do espírito nos entreter, ficamos cientes que na vida o importante é o momento que se vive. O passado não volta e o futuro é sempre uma incógnita.

 

O que podemos é fazer como a avestruz, escondendo a cabeça num buraco e esquecer o passado. Quanto mais anos vivemos mais peso esse passado tem, por vezes um peso difícil de carregar. São saudades, tristezas, amarguras que nos trazem as lágrimas, à mistura com as alegrias de ter visto os filhos nascerem, depois os netos, lembrar os muitos amigos que ajudaram a preencher a nossa vida, tudo já desordenado, mas penoso a concentrar no silêncio da meditação.

 

O momento, o presente, hoje, tal como o mundo se apresenta, desastrado, a caminho de uma quase autodestruição, apesar da infinita capacidade da natureza se regenerar, é vivido com a apreensão do futuro que filhos, netos e subsequentes vão ter que enfrentar.

 

Aqueles que teimam em seguir a ética, os valores humanos que os pais lhes transmitiram, vão ter que encarar os selvagens ávidos de açambarcarem o mundo, as suas riquezas e, pior, a sua moralidade.

 

E se não nos escondemos para chorar pelas dores do passado, temos que chorar pelo futuro. Não do nosso, que já estamos nele, mas pelo dos outros, filhos e desconhecidos, para quem a luta por uma vida com dignidade se apresenta cada vez mais difícil.

 

Não há vergonha em deixar as lágrimas correrem pela cara.

 

Vivemos só o momento presente, é verdade, mas não podemos esquecer o que foi ficando para trás, sobretudo os momentos mais pesados, mais dolorosos, os que teimam em nos assaltar a mente quase sempre à noite, quando nos deitamos à procura de dar descanso a um corpo já muito gasto e uma cabeça desejosa de adormecer depressa, os “filmes” mais difíceis teimam em aparecer, em nos atormentar sem que possamos, ou queiramos, deles nos afastar.

 

O sono tarda. Algumas lágrimas humedecem-nos os olhos e é com eles molhados, tristes, que, cansados, acabamos por adormecer.

 

Antes, porém, vem à memória aquele Palhaço alegre e triste, simpático, que para ganhar a vida transforma as próprias dores em risos da multidão.

 

Pavaroti, Palhaço.png

https://www.youtube.com/watch?v=AsfUWE7n6BU

 

Ridi Pagliaccio,

Ridi del duol, che t'avvelena il cor!

E ognun applaudirà !

16/02/2016

 

FGA-2OUT15.jpg

Francisco Gomes de Amorim

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