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A bem da Nação

CONSTITUIÇÃO ALEMÃ EM ÁRABE PARA REFUGIADOS

 

As mesmas regras de jogo para alemães e estrangeiros – Iniciativa para evitar a desculpa do “não sabia„

 

Quem vem para a Alemanha deve saber que “os princípios da nossa sociedade democrática são válidos para todos”.

 

O vice-chanceler alemão Sigmar Gabriel (SPD) mandou traduzir os primeiros 20 artigos da constituição alemã e imprimir 10.000 exemplares em árabe para serem distribuídas nos centros de acolhimento de refugiados e aos deputados na Alemanha. Junto toda a Constituição em árabe (دستور جمهورية ألمانيا الاتحادية):

RFA Constituição (árabe).jpg

 

http://www.fes.de/international/nahost/pdf/GGArabisch.pdf

 

Deste modo os refugiados poderão saber quais são os princípios que regulam a sociedade alemã. Ninguém poderá mais tarde argumentar que não sabia as regras do jogo (traduzo): “A Alemanha não é um país qualquer. Aqueles que vêm para cá precisam de saber como é a cultura da convivência entre nós”, declara agora Gabriel em entrevista ao Bild Zeitung (2.10.2015). Defende a cultura dominante argumentando: „Existe uma cultura de liberdade e responsabilidade, de direitos e deveres de que não queremos abdicar. As pessoas que vêm para cá devem não só aprender a língua alemã, mas também saber as regras de jogo da nossa coexistência”.

 

E concretiza: “Ninguém é forçado, quando vem para a Alemanha, a mudar de religião, ou a mudar a sua vida privada. Mas que, é importante para a nossa convivência, que os princípios da nossa sociedade democrática, se apliquem a todos. A todos aqueles que já se encontram cá e a todos os que vêm. Que, entre nós, Religião e Estado são separados, que homens e mulheres têm os mesmos direitos, que cá a homossexualidade não é nada anormal, que as parcerias de vida podem ser escolhidas livremente, que somos um país com liberdade de expressão, que também inclui a crítica à religião, também mostramos nenhuma tolerância perante anti-semitismo, todos estes são os princípios que temos de declarar/explicar - mas cuja aceitação esperamos daqueles que vêm até nós. Também na integração se aplica: exigir e promover.”

 

Na Alemanha, atendendo à grande afluência de imigrantes (este ano conta-se com um milhão de pretendentes a asilo) e aos muitos problemas de convivência não resolvidos, a política começa a falar texto claro.

 

ACDJ-Prof. Justo-2.jpg António da Cunha Duarte Justo

 

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO NA ONU

 

Francisco na ONU.jpg

 

 

O Papa Francisco chegou em 25 de Setembro à sede da Organização das Nações Unidas e pronunciou um histórico discurso em espanhol ante dezenas de líderes do mundo que participam da 70ª Assembleia Geral desta organização.

 

Senhor Presidente,

Senhoras e Senhores,

Bom dia!

 

Mais uma vez, seguindo uma tradição de que me sinto honrado, o Secretário-Geral das Nações Unidas convidou o Papa para falar a esta distinta assembleia das nações. Em meu nome e em nome de toda a comunidade católica, Senhor Ban Ki-moon, desejo manifestar-lhe a gratidão mais sincera e cordial; agradeço-lhe também as suas amáveis palavras.

 

Saúdo ainda os chefes de Estado e de Governo aqui presentes, os embaixadores, os diplomatas e os funcionários políticos e técnicos que os acompanham, o pessoal das Nações Unidas empenhado nesta LXX Sessão da Assembleia Geral, o pessoal de todos os programas e agências da família da ONU e todos aqueles que, por um título ou outro, participam nesta reunião. Por vosso intermédio, saúdo também os cidadãos de todas as nações representadas neste encontro. Obrigado pelos esforços de todos e cada um em prol do bem da humanidade.

 

Esta é a quinta vez que um Papa visita as Nações Unidas. Fizeram-no os meus antecessores Paulo VI em 1965, João Paulo II em 1979 e 1995 e o meu imediato antecessor, hoje Papa emérito Bento XVI, em 2008. Nenhum deles poupou expressões de reconhecido apreço pela Organização, considerando-a a resposta jurídica e política adequada para o momento histórico, caracterizado pela superação das distâncias e das fronteiras graças à tecnologia e, aparentemente, superação de qualquer limite natural à afirmação do poder. Uma resposta imprescindível, dado que o poder tecnológico, nas mãos de ideologias nacionalistas ou falsamente universalistas, é capaz de produzir atrocidades tremendas. Não posso deixar de me associar ao apreçamento dos meus antecessores, reiterando a importância que a Igreja Católica reconhece a esta instituição e as esperanças que coloca nas suas actividades.

 

A história da comunidade organizada dos Estados, representada pelas Nações Unidas, que festeja nestes dias o seu septuagésimo aniversário, é uma história de importantes sucessos comuns, em um período de incomum aceleração dos acontecimentos. Sem pretender ser exaustivo, pode-se mencionar a codificação e o desenvolvimento do direito internacional, a construção da normativa internacional dos direitos humanos, o aperfeiçoamento do direito humanitário, a solução de muitos conflitos e operações de paz e reconciliação, e muitas outras aquisições em todos os sectores do âmbito internacional das actividades humanas.

 

Todas estas realizações são luzes que contrastam a obscuridade da desordem causada por ambições descontroladas e egoísmos. Apesar de serem muitos os problemas graves por resolver, todavia é seguro e evidente que, se faltasse toda esta actividade internacional, a humanidade poderia não ter sobrevivido ao uso descontrolado das suas próprias potencialidades. Cada um destes avanços políticos, jurídicos e técnicos representa um percurso de concretização do ideal da fraternidade humana e um meio para a sua maior realização.

 

Por isso, presto homenagem a todos os homens e mulheres que serviram, com lealdade e sacrifício, a humanidade inteira nestes setenta anos. Em particular, desejo hoje recordar aqueles que deram a sua vida pela paz e a reconciliação dos povos, desde Dag Hammarskjöld até aos inúmeros funcionários, de qualquer grau, caídos nas missões humanitárias de paz e reconciliação.

 

A experiência destes setenta anos demonstra que, para além de tudo o que se conseguiu, há constante necessidade de reforma e adaptação aos tempos, avançando rumo ao objectivo final que é conceder a todos os países, sem excepção, uma participação e uma incidência reais e equitativas nas decisões. Esta necessidade duma maior equidade é especialmente verdadeira nos órgãos com capacidade executiva real, como o Conselho de Segurança, os organismos financeiros e os grupos ou mecanismos criados especificamente para enfrentar as crises económicas. Isto ajudará a limitar qualquer espécie de abuso ou usura especialmente sobre países em vias de desenvolvimento. Os Organismos Financeiros Internacionais devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países, evitando uma sujeição sufocante desses países a sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência.

 

O trabalho das Nações Unidas, com base nos postulados do Preâmbulo e dos primeiros artigos da sua Carta Constitucional, pode ser vista como o desenvolvimento e a promoção da soberania do direito, sabendo que a justiça é um requisito indispensável para se realizar o ideal da fraternidade universal. Neste contexto, convém recordar que a limitação do poder é uma ideia implícita no conceito de direito. Dar a cada um o que lhe é devido, segundo a definição clássica de justiça, significa que nenhum indivíduo ou grupo humano se pode considerar omnipotente, autorizado a pisar a dignidade e os direitos dos outros indivíduos ou dos grupos sociais. A efectiva distribuição do poder (político, económico, militar, tecnológico, etc.) entre uma pluralidade de sujeitos e a criação dum sistema jurídico de regulação das reivindicações e dos interesses realiza a limitação do poder. Mas, hoje, o panorama mundial apresenta-nos muitos direitos falsos e, ao mesmo tempo, amplos sectores sem protecção, vítimas inclusivamente dum mau exercício do poder: o ambiente natural e o vasto mundo de mulheres e homens excluídos são dois sectores intimamente unidos entre si, que as relações políticas e económicas preponderantes transformaram em partes frágeis da realidade. Por isso, é necessário afirmar vigorosamente os seus direitos, consolidando a protecção do meio ambiente e pondo fim à exclusão.

 

Antes de mais nada, é preciso afirmar a existência dum verdadeiro «direito do ambiente», por duas razões. Em primeiro lugar, porque como seres humanos fazemos parte do ambiente. Vivemos em comunhão com ele, porque o próprio ambiente comporta limites éticos que a acção humana deve reconhecer e respeitar. O homem, apesar de dotado de «capacidades originais [que] manifestam uma singularidade que transcende o âmbito físico e biológico» (Enc. Laudato si’, 81), não deixa ao mesmo tempo de ser uma porção deste ambiente. Possui um corpo formado por elementos físicos, químicos e biológicos, e só pode sobreviver e desenvolver-se se o ambiente ecológico lhe for favorável. Por conseguinte, qualquer dano ao meio ambiente é um dano à humanidade. Em segundo lugar, porque cada uma das criaturas, especialmente seres vivos, possui em si mesma um valor de existência, de vida, de beleza e de interdependência com outras criaturas. Nós, cristãos, juntamente com as outras religiões monoteístas, acreditamos que o universo provém duma decisão de amor do Criador que permite ao homem servir-se respeitosamente da criação para o bem dos seus semelhantes e para a glória do Criador, mas sem abusar dela e muito menos sentir-se autorizado a destrui-la. E, para todas as crenças religiosas, o ambiente é um bem fundamental (cf. ibid., 81).

 

O abuso e a destruição do meio ambiente aparecem associados, simultaneamente, com um processo ininterrupto de exclusão. Na verdade, uma ambição egoísta e ilimitada de poder e bem-estar material leva tanto a abusar dos meios materiais disponíveis como a excluir os fracos e os menos hábeis, seja pelo fato de terem habilidades diferentes (deficientes), seja porque lhes faltam conhecimentos e instrumentos técnicos adequados ou possuem uma capacidade insuficiente de decisão política. A exclusão económica e social é uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente. Os mais pobres são aqueles que mais sofrem esses ataques por um triplo e grave motivo: são descartados pela sociedade, ao mesmo tempo são obrigados a viver de desperdícios, e devem sofrer injustamente as consequências do abuso do ambiente. Estes fenómenos constituem, hoje, a difundida e inconscientemente consolidada «cultura do descarte».

O carácter dramático de toda esta situação de exclusão e desigualdade, com as suas consequências claras, leva-me, juntamente com todo o povo cristão e muitos outros, a tomar consciência também da minha grave responsabilidade a este respeito, pelo que levanto a minha voz, em conjunto com a de todos aqueles que aspiram por soluções urgentes e eficazes. A adopção da «Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável», durante a Cimeira Mundial que hoje mesmo começa, é um sinal importante de esperança. Estou confiado também que a Conferência de Paris sobre as alterações climáticas alcance acordos fundamentais e efectivos.

 

Todavia não são suficientes os compromissos solenemente assumidos, mesmo se constituem um passo necessário para a solução dos problemas. A definição clássica de justiça, a que antes me referi, contém como elemento essencial uma vontade constante e perpétua: Iustitia est constans et perpetua volunta si ussu um cui que tribuendi. O mundo pede vivamente a todos os governantes uma vontade efectiva, prática, constante, feita de passos concretos e medidas imediatas, para preservar e melhorar o ambiente natural e superar o mais rapidamente possível o fenómeno da exclusão social e económica, com suas tristes consequências de tráfico de seres humanos, tráfico de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo, incluindo a prostituição, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e criminalidade internacional organizada. Tal é a magnitude destas situações e o número de vidas inocentes envolvidas que devemos evitar qualquer tentação de cair num nominalismo declamatório com efeito tranquilizador sobre as consciências. Devemos ter cuidado com as nossas instituições para que sejam realmente eficazes na luta contra estes flagelos.

A multiplicidade e complexidade dos problemas exigem servir-se de instrumentos técnicos de medição. Isto, porém, esconde um duplo perigo: limitar-se ao exercício burocrático de redigir longas enumerações de bons propósitos – metas, objectivos e indicadores estatísticos –, ou julgar que uma solução teórica única e apriorística dará resposta a todos os desafios. É preciso não perder de vista, em momento algum, que a acção política e económica só é eficaz quando é concebida como uma actividade prudencial, guiada por um conceito perene de justiça e que tem sempre presente que, antes e para além de planos e programas, existem mulheres e homens concretos, iguais aos governantes, que vivem, lutam e sofrem e que muitas vezes se vêem obrigados a viver miseravelmente, privados de qualquer direito.

 

A fim de que estes homens e mulheres concretos possam subtrair-se à pobreza extrema, é preciso permitir-lhes que sejam actores dignos do seu próprio destino. O desenvolvimento humano integral e o pleno exercício da dignidade humana não podem ser impostos; devem ser construídos e realizados por cada um, por cada família, em comunhão com os outros seres humanos e num relacionamento correcto com todos os ambientes onde se desenvolve a sociabilidade humana – amigos, comunidades, aldeias e vilas, escolas, empresas e sindicatos, províncias, países, etc. Isto supõe e exige o direito à educação – mesmo para as meninas (excluídas em alguns lugares) –, que é assegurado antes de mais nada respeitando e reforçando o direito primário das famílias a educar e o direito das Igrejas e de agregações sociais a apoiar e colaborar com as famílias na educação das suas filhas e dos seus filhos. A educação, assim entendida, é a base para a realização da Agenda 2030 e para a recuperação do ambiente.

 

Ao mesmo tempo, os governantes devem fazer o máximo possível por que todos possam dispor da base mínima material e espiritual para tornar efectiva a sua dignidade e para formar e manter uma família, que é a célula primária de qualquer desenvolvimento social. A nível material, este mínimo absoluto tem três nomes: casa, trabalho e terra. E, a nível espiritual, um nome: liberdade do espírito, que inclui a liberdade religiosa, o direito à educação e os outros direitos civis.

 

Por todas estas razões, a medida e o indicador mais simples e adequado do cumprimento da nova Agenda para o desenvolvimento será o acesso efectivo, prático e imediato, para todos, aos bens materiais e espirituais indispensáveis: habitação própria, trabalho digno e devidamente remunerado, alimentação adequada e água potável; liberdade religiosa e, mais em geral, liberdade do espírito e educação. Ao mesmo tempo, estes pilares do desenvolvimento humano integral têm um fundamento comum, que é o direito à vida, e, em sentido ainda mais amplo, aquilo a que poderemos chamar o direito à existência da própria natureza humana.

 

A crise ecológica, juntamente com a destruição de grande parte da biodiversidade, pode pôr em perigo a própria existência da espécie humana. As nefastas consequências duma irresponsável má gestão da economia mundial, guiada unicamente pela ambição de lucro e poder, devem constituir um apelo a esta severa reflexão sobre o homem: «O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza» (BENTO XVI, Discurso ao Parlamento da República Federal da Alemanha, 22 de Setembro de 2011; citado na Enc. Laudato si’, 6). A criação vê-se prejudicada «onde nós mesmos somos a última instância (…). E o desperdício da criação começa onde já não reconhecemos qualquer instância acima de nós, mas vemo-nos unicamente a nós mesmos» (BENTO XVI, Discurso ao clero da Diocese de Bolzano-Bressanone, 6 de Agosto de 2008; citado na Enc. Laudato si’, 6). Por isso, a defesa do ambiente e a luta contra a exclusão exigem o reconhecimento duma lei moral inscrita na própria natureza humana, que inclui a distinção natural entre homem e mulher (cf. Enc. Laudato si’, 155) e o respeito absoluto da vida em todas as suas fases e dimensões (cf. ibid., 123; 136).

 

Sem o reconhecimento de alguns limites éticos naturais inultrapassáveis e sem a imediata actuação dos referidos pilares do desenvolvimento humano integral, o ideal de «preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra» (Carta das Nações Unidas, Preâmbulo) e «promover o progresso social e um padrão mais elevado de viver em maior liberdade» (ibid.) corre o risco de se tornar uma miragem inatingível ou, pior ainda, palavras vazias que servem como desculpa para qualquer abuso e corrupção ou para promover uma colonização ideológica através da imposição de modelos e estilos de vida anormais, alheios à identidade dos povos.

 

Para isso, é preciso garantir o domínio do direito e o recurso incansável às negociações, aos mediadores e à arbitragem, como é proposto pela Carta das Nações Unidas, verdadeira norma jurídica fundamental. A experiência destes setenta anos de existência das Nações Unidas, em geral, e, de modo particular, a experiência dos primeiros quinze anos do terceiro milénio mostram tanto a eficácia da plena aplicação das normas internacionais como a ineficácia da sua inobservância. Se se respeita e aplica a Carta das Nações Unidas, com transparência e sinceridade, sem segundos fins, como um ponto de referência obrigatório de justiça e não como um instrumento para mascarar intenções ambíguas, obtém-se resultados de paz. Quando, pelo contrário, se confunde a norma com um simples instrumento que se usa quando resulta favorável e se contorna quando não o é, abre-se uma verdadeira caixa de Pandora com forças incontroláveis, que prejudicam seriamente as populações inermes, o ambiente cultural e também o ambiente biológico.

 

O Preâmbulo e o primeiro artigo da Carta das Nações Unidas indicam as bases da construção jurídica internacional: a paz, a solução pacífica das controvérsias e o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações. Contrasta fortemente com estas afirmações – e nega-as na prática – a tendência sempre presente para a proliferação das armas, especialmente as de destruição em massa, como o podem ser as armas nucleares. Uma ética e um direito baseados sobre a ameaça da destruição recíproca – e, potencialmente, de toda a humanidade – são contraditórios e constituem um dolo em toda a construção das Nações Unidas, que se tornariam «Nações Unidas pelo medo e a desconfiança». É preciso trabalhar por um mundo sem armas nucleares, aplicando plenamente, na letra e no espírito, o Tratado de Não-Proliferação para se chegar a uma proibição total destes instrumentos.

 

O recente acordo sobre a questão nuclear, numa região sensível da Ásia e do Médio Oriente, é uma prova das possibilidades da boa vontade política e do direito, cultivados com sinceridade, paciência e constância. Faço votos de que este acordo seja duradouro e eficaz e, com a colaboração de todas as partes envolvidas, produza os frutos esperados. Nesta linha, não faltam provas graves das consequências negativas de intervenções políticas e militares não coordenadas entre os membros da comunidade internacional. Por isso, embora desejasse não ter necessidade de o fazer, não posso deixar de reiterar os meus apelos que venho repetidamente fazendo em relação à dolorosa situação de todo o Médio Oriente, do Norte de África e de outros países africanos, onde os cristãos, juntamente com outros grupos culturais ou étnicos e também com aquela parte dos membros da religião maioritária que não quer deixar-se envolver pelo ódio e a loucura, foram obrigados a ser testemunhas da destruição dos seus lugares de culto, do seu património cultural e religioso, das suas casas e haveres, e foram postos perante a alternativa de escapar ou pagar a adesão ao bem e à paz com a sua própria vida ou com a escravidão.

 

Estas realidades devem constituir um sério apelo a um exame de consciência por parte daqueles que têm a responsabilidade pela condução dos assuntos internacionais. Não só nos casos de perseguição religiosa ou cultural, mas em toda a situação de conflito, como na Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia, Sudão do Sul e na região dos Grandes Lagos, antes dos interesses de parte, mesmo legítimos, existem rostos concretos. Nas guerras e conflitos, existem pessoas, nossos irmãos e irmãs, homens e mulheres, jovens e idosos, meninos e meninas que choram, sofrem e morrem. Seres humanos que se tornam material de descarte, enquanto nada mais se faz senão enumerar problemas, estratégias e discussões.

 

Como pedi ao Secretário-Geral das Nações Unidas, na minha carta de 9 de Agosto de 2014, «a mais elementar compreensão da dignidade humana obriga a comunidade internacional, em particular através das regras e dos mecanismos do direito internacional, a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir e prevenir ulteriores violências sistemáticas contra as minorias étnicas e religiosas» e para proteger as populações inocentes.

 

Nesta mesma linha, quero citar outro tipo de conflitualidade, nem sempre assim explicitada, mas que inclui silenciosamente a morte de milhões de pessoas. Muitas das nossas sociedades vivem um tipo diferente de guerra com o fenómeno do narcotráfico. Uma guerra «suportada» e pobremente combatida. O narcotráfico, por sua própria natureza, é acompanhado pelo tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas, exploração infantil e outras formas de corrupção. Corrupção, que penetrou nos diferentes níveis da vida social, política, militar, artística e religiosa, gerando, em muitos casos, uma estrutura paralela que põe em perigo a credibilidade das nossas instituições.

 

Comecei a minha intervenção recordando as visitas dos meus antecessores.

 

Agora quereria, em particular, que as minhas palavras fossem como que uma continuação das palavras finais do discurso de Paulo VI, pronunciadas quase há cinquenta anos, mas de valor perene. «Eis chegada a hora em que se impõe uma pausa, um momento de recolhimento, de reflexão, quase de oração: pensar de novo na nossa comum origem, na nossa história, no nosso destino comum. Nunca, como hoje, (…) foi tão necessário o apelo à consciência moral do homem. Porque o perigo não vem nem do progresso nem da ciência, que, bem utilizados, poderão, pelo contrário, resolver um grande número dos graves problemas que assaltam a humanidade» (Discurso aos Representantes dos Estados, 4 de Outubro de 1965, n. 7).

 

Sem dúvida que a genialidade humana, bem aplicada, ajudará a resolver, entre outras coisas, os graves desafios da degradação ecológica e da exclusão. E continuo com as palavras de Paulo VI: «O verdadeiro perigo está no homem, que dispõe de instrumentos sempre cada vez mais poderosos, aptos tanto para a ruína como para as mais elevadas conquistas» (ibid.).

 

A casa comum de todos os homens deve continuar a erguer-se sobre uma recta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher; dos pobres, dos idosos, das crianças, dos doentes, dos nascituros, dos desempregados, dos abandonados, daqueles que são vistos como descartáveis porque considerados meramente como números desta ou daquela estatística. A casa comum de todos os homens deve edificar-se também sobre a compreensão duma certa sacralidade da natureza criada.

 

Tal compreensão e respeito exigem um grau superior de sabedoria, que aceite a transcendência, renuncie à construção duma elite omnipotente e entenda que o sentido pleno da vida individual e colectiva está no serviço desinteressado aos outros e no uso prudente e respeitoso da criação para o bem comum. Repetindo palavras de Paulo VI, «o edifício da civilização moderna deve construir-se sobre princípios espirituais, os únicos capazes não apenas de o sustentar, mas também de o iluminar e de o animar» (ibid.).

 

O Gaúcho Martín Fierro, um clássico da literatura da minha terra natal, canta: «Os irmãos estejam unidos, porque esta é a primeira lei. Tenham união verdadeira em qualquer tempo que seja, porque se litigam entre si, devorá-los-ão os de fora».

 

O mundo contemporâneo, aparentemente interligado, experimenta uma crescente, consistente e contínua fragmentação social que põe em perigo «todo o fundamento da vida social» e assim «acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses» (Enc. Laudato si’, 229).

 

O tempo presente convida-nos a privilegiar acções que possam gerar novos dinamismos na sociedade e frutifiquem em acontecimentos históricos importantes e positivos (cf. Exort. ap. Evangeliigaudium, 223). Não podemos permitir-nos o adiamento de «algumas agendas» para o futuro. O futuro exige-nos decisões críticas e globais face aos conflitos mundiais que aumentam o número dos excluídos e necessitados.

 

A louvável construção jurídica internacional da Organização das Nações Unidas e de todas as suas realizações – melhorável como qualquer outra obra humana e, ao mesmo tempo, necessária – pode ser penhor dum futuro seguro e feliz para as gerações futuras. Sê-lo-á se os representantes dos Estados souberem pôr de lado interesses sectoriais e ideologias e procurarem sinceramente o serviço do bem comum. Peço a Deus omnipotente que assim seja, assegurando-vos o meu apoio, a minha oração, bem como o apoio e as orações de todos os fiéis da Igreja Católica, para que esta Instituição, com todos os seus Estados-Membros e cada um dos seus funcionários, preste sempre um serviço eficaz à humanidade, um serviço respeitoso da diversidade e que saiba potenciar, para o bem comum, o melhor de cada nação e de cada cidadão. Que Deus vos abençoe!

 

Francisco.jpg Francisco, Papa

LIDO COM INTERESSE – 66

 

 

PURITY-Franzen.jpg 

Título – PURITY

Jonathan Franzen.jpg

Autor – Jonathan Franzen

Tradutor – Francisco Agarez

Editora – D. QUIXOTE

Edição – 1ª, Setembro de 2015

 

São 680 páginas de texto que se lêem facilmente num triângulo com vértices saltitantes nos EUA, na Alemanha comunista e na Colômbia. Histórias plausíveis e por isso interessantes mas sem deixar de ser tudo um pouco amalucado. Reconheço, contudo, que se a história fosse muito sensata, o interesse do leitor acabaria prejudicado e tudo passaria por um «pão insonso» (com quase 700 páginas nunca se poderia confundir com um «pãozinho sem sal»).

 

A jovem Pip Tyler não sabe quem é. Sabe que o seu nome verdadeiro é Purity, que deve cento e trinta mil dólares do empréstimo que contraiu para concluir a Universidade, que vive numa casa que partilha com anarquistas e que a sua relação com a mãe – única família que conhece – é tempestuosa, apesar de se adorarem. Mas ignora totalmente a identidade do pai e da razão que levou a mãe a isolar-se do mundo com um nome inventado.

 

Entram em cena uns alemães de leste que demoramos algumas páginas a entender o que fazem por ali e, afinal, parte substancial do livro acaba por se centrar neles. Acabamos por participar na queda do muro de Berlim, na extinção da STASI (será que foi mesmo extinta?), voamos até à Colômbia passando pelo Belize e acabamos por passar umas belas temporadas em Denver e na Califórnia.

 

É daqueles livros em que o Autor começa quase pelo fim para nos transportar ao início dos tempos dos personagens e fechar tudo com uma cena inconclusiva que daria para escrever mais 700 páginas...

 

Mas, apesar de tudo, dá para respigar certas passagens que me parece merecerem alguma meditação.

 

Assim, sobre a Segurança Social (pág. 66 e seg.):

- Num mundo justo – disse Erik – esses trabalhadores dos lares de terceira idade é que deviam andar de Mercedes.

- Pois. Mas, mesmo assim – disse Pip – eu preferia andar de bicicleta a ter de mudar arrastadeiras.

- Sim, mas se quisesses um Mercedes e a maneira de o conseguires fosse mudar arrastadeiras?

- Não, a Pip tem razão. – disse Stephen o que provocou nela um certo prazer – A solução era tornar o trabalho obrigatório mas, por outro lado ir reduzindo a idade da reforma de modo a haver sempre pleno emprego para todas as pessoas de menos de trinta e dois anos, ou trinta e cinco, ou o que fosse e pleno desemprego para todas as de idade superior.

- Deve ser uma seca ser jovem nesse mundo. – disse Pip – O que não quer dizer que neste que temos não seja uma seca.

- Eu estaria de acordo – disse Garth – se soubesse que aos trinta e cinco anos ficava com o resto da vida para mim.

- E depois, se fosse possível baixar a idade da reforma para os trinta e dois – disse Stephen – podia-se proibir que as pessoas tivessem filhos antes da reforma. Isso ajudaria a resolver o problema da população.

 

Sobre a RDA (pág. 103 e seg.):

 

(...) quem tentasse atravessar a faixa da morte era abatido e isso não era ridículo mas, para ele, era mais uma anomalia da geometria, uma descontinuidade entre a bidimensionalidade oriental e a tridimensionalidade ocidental com que era preciso contar para fazer funcionar a matemática. Desde que a pessoa evitasse aproximar-se da fronteira, o pior que podia acontecer-lhe era ser espiada, detida e interrogada, cumprir pena de prisão e ficar com a vida arruinada. Por muito inconveniente que isto fosse no plano individual, era atenuado pela patetice do aparelho no seu todo – a linguagem risível do «inimigo de classe» e dos «elementos contra-revolucionários», a devoção absurda ao protocolo da prova. As autoridades nunca se limitariam a impor a confissão ou denúncia e forçar ou forjar a assinatura do detido. Tinha de haver fotos e gravações, dossiers escrupulosamente classificados, invocações de leis democraticamente aprovadas. A República era comovedoramente alemã na sua obstinação em ter consistência lógica e fazer tudo bem feito. Era como um rapazinho inexcedivelmente compenetrado que tentava impressionar o pai soviético e fazer melhor do que ele. A ponto de mostrar relutância em falsificar os resultados eleitorais. E principalmente por medo, mas também talvez por pena do rapazinho que acreditava no socialismo como as crianças ocidentais acreditavam num Christkind voador que acendia as velas da árvore de Natal e deixava presentes debaixo dela, todas as pessoas iam às assembleias de voto e votavam no Partido. Por altura doa anos 1980, era patente que se vivia melhor no Ocidente – melhores automóveis, melhor televisão, melhores oportunidades – mas a fronteira estava fechada e as pessoas condescendiam com as ilusões do rapazinho como se recordassem, não sem ternura, as suas próprias ilusões dos primeiros tempos da República. Até os dissidentes falavam a linguagem da reforma, não do derrube. A vida quotidiana era apenas constrangida, não tragicamente terrível.

 

Achei curioso (perigoso?) o conceito de que «o absolutismo moral é infantil» (pág. 385) sobretudo porque a personagem em causa, agarrada a padrões morais bem definidos, não encontrava modo de justificar alguns pecados que a rodeavam assim como os pecadilhos que ela própria se atribuía; assumindo uma atitude «adulta», já perdoava tudo e mais aquilo que viesse a acontecer. Fez-me lembrar o Acordo Ortográfico de 1990 que, quando formos à procura da língua portuguesa, já não a encontramos a não ser no purgatório.

 

HSF-Le_Bec_Fin.jpg Foi na pág. 480 que fiquei a saber que em Filadélfia havia um restaurante de cozinha francesa chamado «Le bec fin»; foi pela Internet que fiquei a saber que, inaugurado em 1970, fechou em 2013. Outros haverá onde se possa também comer do fino.

 

Finalmente, gostei de ver a minha opinião confirmada (pág. 509 in fine e seg.) de que é a inveja que comanda os comunistas ao combaterem sistematicamente os ricos. Primum, invídia; deinde, philosophare. Primeiro, a inveja; depois, a teoria da venalidade do capital.

 

Lisboa, Outubro de 2015

 

Henrique em casa de Ho Chi Minh, Hanói.JPG

Henrique Salles da Fonseca

PROEZAS, CAUSAS E EFEITOS

 

 

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Muitos se perguntam como é que a Índia pobre se notabilizou em Tecnologias de Informação

 

Tenho pensado na razão dos grandes feitos e os seus resultados em iniciativas arriscadas e complexas. Ao ser Portugal pequeno e com poucos habitantes como foi capaz de proezas chegando por mar a zonas longínquas e ricas das quais só havia notícias difusas por palavras em cadeia de mercadores e exploradores.

 

A cuidada preparação desta longa aventura com permanentes actualizações de dados e mapas recolhidos em cada expedição fez aprender a dar passos mais largos. Havia, claro, capacidade de decisão e meios, mentes dedicadas e empenhamento. Se havia uma Índia rica, chegar primeiro era de inegável vantagem porque as outras potências não tardariam. A aventura e o que ela poderia trazer deve ter sido mobilizadora de um trabalho inteligente e imaginativo para afirmação da grandeza do país. Na realidade, a zona da Índia actual foi no conjunto sempre muito mais rica do que toda a Europa junta até ser destruída pela colonização inglesa.

 

Nos dias de hoje muitos se perguntam como é que a Índia pobre se notabilizou em TI (Tecnologias de Informação) a ponto de se tornar a maior potência. Partiu do zero absoluto e hoje alguns têm a resposta fácil de que eles têm queda para as matemáticas ou para o cálculo mental. Mas isso pouco explica.

 

Para minha surpresa, um facto curioso e dispendioso que deve ser tema de reflexão para quem queira criar actividades de primeira linha colocando o país no mapa de bem-fazer, é este: a Infosys, segunda maior empresa de TI da Índia fundada por um conjunto de sete engenheiros que trabalhavam noutra empresa, a Patni Computers, foi desde o início um modelo de empresa moderna e de vistas largas, talvez a responsável pela forte afirmação da excelência das TI no mundo como em Portugal foi a Escola de Sagres com o Infante D Henrique à cabeça.

 

O arquitecto da Infosys, Narayana Murthy, pôs em prática medidas inteligentes que a puseram na vanguarda das TI e revolucionaram as mentes. E algumas práticas acabaram por ser modelo do sector depois transpostas para outros. Por exemplo, todos os engenheiros recrutados tinham logo à entrada na empresa um treino de quatro meses pago numas instalações de excepcional qualidade, arquitectura,

enquadramento paisagístico, como nunca se vira na Índia nem em qualquer parte do mundo.

 

As instalações de treino em Mysore têm capacidade de 16 000 de cada vez com instalações residenciais, salas de aula, ginásios, refeitórios, piscinas campos de jogos, etc., tudo do melhor, muito bem mantido e conservado para condizer com a ideia da excelência desejada no intangível, absorvida dos aspectos materiais como as instalações e jardins.

 

E porquê tanto dispêndio num país pobre? Porque é altamente rentável para a empresa e para o país: se não se faz qualidade sempre, não se chega ao topo.

 

O treino apropriado, com exigência no trabalho, faz realizar sempre o melhor ou aprender e não varrer para debaixo do tapete tão habitual.

 

Não surpreende que a Infosys tenha sido das empresas indianas mais valorizadas em bolsa alcançando mais de 30 000 milhões de dólares quando ainda não facturaria um décimo desse valor. Criou milhares de multimilionários portadores das suas acções.

 

E as outras empresas de TI seguiram o exemplo dando toda a ênfase à formação como condição para um trabalho impecável sempre causa de avultados retornos e força inovadora.

 

A boa tradição criada nessa empresa de TI é hoje felizmente generalizada. Para evidenciar a atracção do trabalho bem feito, citaria a presença forte de potentados de criação de emprego qualificado a TCS, grupo TATA, com 330 000 trabalhadores,

Infosys com 165 000, a Wipro com 155 000, estrangeiras como a IBM com 150 000,

a Accenture com 90 000, a Cap Gemini com 50 000, todas na Índia. E todas elas numa maré de novos recrutamentos, a Infosys já anunciou recrutar 30 000 este ano.

 

Práticas de bem-fazer que revolucionam sectores de actividade são uma preciosidade.

 

Porque o país faz-se atractivo como o foi com os Descobridores. Atrai investimentos e multinacionais não por haver uns quantos maduros sobredotados mas porque há uma plêiade de gente esforçada capaz e treinada, habituada a níveis de prestação elevada, sempre.

 

Eugénio Viassa Monteiro 

Eugénio Viassa Monteiro

Professor da AESE e presidente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-Índia

 

«VELHA TENDINHA»

 

Também reparei, creio que toda a gente reparou. A nossa formação cívica é de tal modo incipiente, que, ridiculamente tomamos iniciativas pessoais, num caso de tal dimensão, mas com a televisão atrás, para todos ficarmos sabendo que somos bons, somos ricos, e que a nossa vontade é soberana. Temos casa, carro, comida e roupa lavada para dispensar, aí vamos nós agarrar nuns poucos e ficar na história, serviçais, generosos e colaboradores, sem que ninguém nos tivesse pedido, mas avisando à socapa os media, do nosso gesto altruístico.

Do gesto exibicionista fica uma sensação de vergonha, o que é comum nos exibicionismos. Não, não se trata de um Aristides de Sousa Mendes, que tinha um cargo de poder, para ajudar, mas que até acabou injustamente castigado. Também não se trata do santo que dividiu a capa ao meio para abrigar o pobre. Esse foi premiado com o sol de verão em pleno Outono. Estes da caravana antecipam para si o prémio da fama. Também La Fontaine tratou do tema, em fábula bem conhecida – «O Coche e a Mosca», prova de que é antigo o vício, e universal. Ainda bem que não é exclusivo nosso.

António da Cunha Duarte Justo conta do caso português, com a necessária precisão e justeza:

 BB-refugiados sírios.jpg

CARAVANA PRIVADA EM BUSCA DE REFUGIADOS

UMA INICIATIVA À REBELDIA?

http://abemdanacao.blogs.sapo.pt/caravana-privada-em-busca-de-refugiados-1501848

 

A fábula de La Fontaine, como reforço moral:

 

BB- De la Fontaine.png

 

O coche e a mosca

 

Por um caminho de íngreme subida,

Arenoso, irregular

E de todos os lados exposto ao sol,

Seis fortes cavalos puxavam um coche.

Mulheres, Frade, Velhos, tudo tinha descido.

Os cavalos suavam, bufavam, esgotados.

Vem uma Mosca e deles se aproxima.

Pretende animá-los com o seu zumbido,

Pica um pica, pica outro e pensa a todo o momento

Que é ela que põe a máquina em movimento.

Poisa no timão, no nariz do Cocheiro;

Assim que a carruagem começa a subir

E vê as gentes avançar

A si só atribui do facto a glória;

Vai, vem, faz-se apressada; parece ser

Um Oficial encarregado do plano da batalha

A todo o lado a ir,

Para as tropas fazer avançar e apressar a vitória.

A Mosca, nesta comum necessidade,

De tanta dificuldade,

Queixa-se de agir só, todo o encargo com ela;

Que ninguém ajuda os Cavalos a não ser ela.

O Monge lia o seu Breviário;

Boa maneira de passar o tempo!

Uma mulher cantava;

Era mesmo de canções que se precisava!

A Senhora Mosca vai cantar aos seus ouvidos

E faz cem tolices semelhantes.

Depois de muitos trabalhos o Coche consegue arribar.

Respiremos agora, diz a Mosca imediatamente:

Trabalhei tanto que os passageiros estão no seu destino, finalmente.

Pagai-me, Senhores Cavalos pelo meu trabalho.

Assim certas pessoas, fazendo-se muito servis,

Se introduzem nos assuntos gerais ou privados:

Em toda a parte se julgam imprescindíveis

E, sempre importunos, deveriam ser recambiados.

 

Berta Brás 2.jpg Berta Brás

CATURRICES XLII

APM-Segurança Social

 

A VER SE NOS ENTENDEMOS

 

  • A tese defendida por muitos é que todos os problemas com as pensões de reforma por velhice provêm, exclusivamente, do modelo adoptado desde antanho - a saber: o “modelo de redistribuição” (perfiro esta designação a “repartição”).

 

  • E que, pelo contrário, tudo se resolveria com o “modelo de capitalização”.

 

  • Infelizmente, não é nada assim - pelo que o prognóstico sobre a contribuição destas eleições, vença quem vencer, para a solução de tão momentosos problemas é muito, mas mesmo muito, reservado.

 

  • No “modelo de redistribuição” são os descontos cobrados aos contribuintes que vão directamente (ou quase) para o bolso dos pensionistas. Um processo de redistribuição do rendimento nominal, como facilmente se compreende. Simples, mas caro: a estrutura que assegura a cobrança das contribuições, o controlo do direito à pensão e o pagamento das próprias pensões custa bastante, por mais eficiente que seja - e é paga, fatalmente, pelo produto das contribuições.

 

  • No “modelo de capitalização”, pelo contrário: (i) os descontos cobrados aos contribuintes são investidos (em quê? bem ou mal? - isso são outros contos); (ii) e são os rendimentos proporcionados por esses investimentos que tornam possível pagar pensões de reforma.

 

  • O que no “modelo de redistribuição” é prestação social, no “modelo de capitalização” são juros, dividendos e coisas assim - que alguém terá de gerar e pagar também: as empresas e os negócios, está bem de ver. Como facilmente se percebe, este último modelo envolve também uma redistribuição - mas, agora, de rendimentos nominais futuros via instrumentos financeiros e mercados financeiros.

 

  • Um e outro modelo assentam na exacção (as contribuições obrigatórias), mas o “modelo de capitalização” interpõe entre contribuintes e pensionistas contratos financeiros que capitalizam as contribuições.

 

  • O que ressalta deste primeiro confronto é que, no “modelo de capitalização”, as contribuições são, num primeiro momento, investidas, indo financiar a actividade económica e, desejavelmente, criar emprego, além de impulsionar o PIB (logo, o “bolo” das contribuições futuras). O que não acontece no “modelo de redistribuição”, o qual se limita a converter aforro forçado em procura interna - pouco ou nada favorecendo o crescimento do emprego e do PIB.

 

  • À luz desta conclusão, dir-se-ia que os partidos de esquerda seriam os principais defensores do “modelo de capitalização”. Qual quê? A palavra “capitalização/capital” causa-lhes engulhos tais que os impede de ver o efeito potencialmente benéfico em variáveis que eles tanto prezam.

 

  • “Ah! Mas com o “modelo de capitalização” as pensões podem encolher - e, isso, é socialmente injusto (e pessoalmente intolerável)” - eis a resposta politicamente correcta, nos dias que correm. E não é que acerta no alvo?

 

  • Mas o “modelo de redistribuição” também não garante pensões que nunca encolhem. Tudo depende: (i) do volume das contribuições (logo, do rendimento nominal gerado nas empresas, o qual, por sua vez, é função do nível de actividade); (ii) do número de pensionistas (e, consequentemente, da evolução da estrutura demográfica); (iii) do critério que seja usado para diferenciar pensões (e há vários). Se o número de pensionistas crescer mais rapidamento do que o rendimento nominal (e, consequentemente, do que o “bolo” das contribuições), não se vê como possa este modelo garantir pensões imutáveis.

 

  • “Mas aqui, entre nós, tem garantido - e queremos que assim continue per omnia secula seculorum” - vox populi dixit.

 

  • Sim, mas isso nada tem a ver com o “modelo de redistribuição”. Tem a ver, sim, com a garantia que o Estado, de forma tácita (e, para os mais detalhistas, nula) presta a favor dos pensionistas. Como se um Governo pretérito (por acaso, até foram os Governos de Salazar e de Caetano a fazê-lo) tivesse anunciado aos quatro ventos: “Se o “bolo” das contribuições não chegar, o Orçamento do Estado entrará com o que faltar. Mas nem pensar em diminuir o montante das pensões - é sagrado!”.

 

  • Por isso, o que se discute não são os modelos das responsabilidades pensionáveis (é assim que se diz), mas a existência, o alcance e as condições de exigibilidade de um aval do Estado que até hoje nunca foi formalizado - nem justificado em letra de forma.

 

  • Uma garantia do Estado que, reconheça-se, favorece as pensões mais elevadas - e cuja equidade poderia também ser posta em causa. E, já agora, porque não estender idêntico aval ao “modelo de capitalização”, para pôr tudo no mesmo pé?

 

  • Reconheçamos. Um aval do Estado ao “modelo de capitalização” rapidamente descambaria num convite ao “deixa andar” por parte das entidades que gerissem o processo de capitalização. Dito de outro modo: era uma garantia que protegia os pensionistas e pela qual as entidades gestoras deveriam pagar um prémio - prémio esse que teria de acrescer ao custo total desta solução. E há alguém que se preocupa a comparar custos de funcionamento? Ou que, no mínimo, fale neles?

 

  • Como se vê, o problema reside no aval do Estado - não nos modelos de responsabilidades pensionáveis.

 

  • A questão a colocar é, então, uma só: que bem público justifica o aval do Estado a benefício dos pensionistas?

 

  • Visto sob outro ângulo: será que garantir pensões que se situam nos quartis mais altos da distribuição do rendimento é um bem público a proteger?

 

  • Pessoalmente, sou de opinião que o que merece ser protegido - e protegido com denodo - é a felicidade de uma velhice vivida com dignidade, sem carências que a aflijam. Mas onde situar o nível de rendimento pessoal que corresponde a este objectivo? Não sei.

 

  • Sei sim que uma abordagem partindo daqui rapidamente conduziria a uma garantia do Estado entendida como sendo um seguro social cujo prémio todos teriam de pagar. Ao nível do pagamento deste prémio alguma redistribuição se justificaria (ou seja, a igual benefício corresponderiam prémios diferentes, calculados em função do rendimento pessoal disponível). No restante, prevalecia a liberdade individual - mas com os Fundos de Pensões e outras soluções para as responsabilidades pensionáveis muito melhor reguladas. Um seguro que só era accionável quando o rendimento pessoal caísse abaixo desse tal nível - e pelo que faltasse para o atingir.

 

  • Algumas realidades são, porém, insofismáveis ( e têm sido cuidadosamente escamoteadas):
    • Sem a garantia do Estado não há como pagar pensões imutáveis (e, neste sentido, todos os modelos são insustentáveis);
    • O modelo de capitalização, mesmo com uma gestão capaz, pode levar à perda total dos fundos investidos - e, por consequência, da pensão (e este, sim, é um mal público);
    • Como é altamente improvável que empregados e empresas desapareçam de vez, o “modelo de redistribuição” sempre produzirá alguma receita para repartir;
    • Não existe justificação razoável para pretender que o “modelo de redistribuição” é equivalente ao “modelo de capitalização (isto é: contribuição/pensão), mas livre de risco - logo com rendimentos financeiros certos.

 

  • Nesta discussão, o que mais surpreende é que se discute o “Estado Social”, como se “Estado” fosse, ali, uma flor de retórica. Só faz sentido debater e arquitectar a vertente “Social” do Estado depois de haver soluções sólidas para o Estado e as suas funções de soberania. Alguém acredita que temos essas soluções já em prática? Por exemplo: Na Justiça? Ou na defesa e aproveitamento da Zona Marítima? Ou na promoção da língua portuguesa - e, por arrastamento, da ciência e da cultura que por cá se fazem?

 

  • Pois é. Mas nada disto enche barriga. E só o que enche barriga dá votos.

Outubro de 2015

Palhinha Machado.jpg A. Palhinha Machado

 

PALAVRAS DO PAPA AOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

 

Papa e Obama.jpg

 

Contra a Pena de Morte, contra o Imperialismo económico-ideológico-religioso e pela Técnica ao Serviço de um Progresso humano

 

O papa falou ao congresso dos USA em Nova York, no dia 24 de setembro de 2015, tendo sido aplaudido 37 vezes.

 

Recorda os deveres dos representantes do povo: “fazer que este país cresça como nação…sois o rosto do seu povo… a defender e custodiar a dignidade dos concidadãos… vós estais convidados a proteger, através da lei, a imagem e semelhança plasmada por Deus em cada rosto.”

 

Situação no mundo: “o mundo é, cada vez mais, um lugar de conflitos violentos, de ódio nocivo, de sangrenta atrocidade, cometida até em nome de Deus e da religião…. Combater a violência perpetrada sob o nome de uma religião, uma ideologia, ou de um sistema económico e, ao mesmo tempo, proteger a liberdade das religiões, das ideias, das pessoas, requere um delicado equilíbrio onde temos que trabalhar….”

 

Contra o pensar simplista e generalizador: “o reducionismo simplista que divide a realidade em bons e maus; permitam-me usar a expressão: em justos e pecadores.”

 

Imitar o bem: “Copiar o ódio e a violência do tirano e do assassino é o melhor modo de ocupar o seu lugar”.

 

O papa fala dos Estados Unidos como “a terra dos sonhos”: Sonhos que mobilizam à acção, à participação, ao compromisso… “

 

Regra de Ouro: “Mas é difícil julgar o passado com os critérios do presente. Recordemos a regra de ouro: «Façam com os outros como querem que os outros façam convosco” (Mt 7,12).

 

O papa solicita a abolição da pena de morte e argumenta: “uma pena justa e necessária nunca deve excluir a dimensão da esperança e o objetivo da reabilitação…”

 

Francisco I apresenta os temas do bem-comum e da defesa da Terra que é “a nossa casa comum”. Neste sentido acha também como necessário “pôr a técnica ao «serviço de outro tipo de progresso mais são, mais humano, mais social, mais integral» … Um bom político é aquele que, tendo em mente os interesses de todos, toma o momento com um espírito aberto e pragmático. Um bom político opta sempre por criar processos mais que por ocupar espaços (cf. Evangelii gaudium, 222-223) ….

 

Refere o exemplo de quatro representantes do povo americano como símbolos de valores da nação: “Três filhos e uma filha desta terra, quatro pessoas, quatro sonhos: Abraham Lincoln, a liberdade; Martin Luther King, uma liberdade que se vive na pluralidade e não na exclusão; Dorothy Day, a justiça social e os direitos das pessoas; e Thomas Merton, a capacidade de diálogo e a abertura a Deus….

 

Fala da família ameaçada nos seus fundamentos, da “família que está ameaçada, mais que nunca, a partir do interior e do exterior”.

 

O papa Francisco terminou o discurso dizendo: “Uma Nação é considerada grande quando defende a liberdade, como fez Abraham Lincoln; quando gera uma cultura que permita às suas pessoas «sonhar» em plenitude dos direitos para seus irmãos e irmãs, como tentou fazer Martin Luther King; quando luta pela justiça e pela causa dos oprimidos, como fez Dorothy Day no seu incessante trabalho; sendo fruto de uma fé que se torna diálogo e planta paz, no estilo contemplativo de Merton…. Que Deus bendiga a América.”

 

ACDJ-Prof. Justo-1.jpg António da Cunha Duarte Justo

 

REAGAN, OS IMPOSTOS E A FALTA DE MIOLOS

 

Reagan-Ronald.png

 

Em seu discurso de posse em 20 de Janeiro de 1981, Ronald Reagan afirmou: "neste momento de crise, o governo não é a solução para os nossos problemas; o governo é o problema".

 

As políticas económicas do presidente propuseram que o crescimento económico iria ocorrer quando as taxas de imposto marginais fossem baixas o suficiente para estimular o investimento, que como resultado levaria a um aumento do crescimento económico, aumento do emprego e dos salários.

 

É sabido que Reagan, que começou por ser um democrata logo passou para os Republicanos, e fez depois uma política de extrema-direita, mas nunca esquecendo a frase básica em que responsabilizava o governo pela crise do país.

 

No Brasil essa frase veste como luva especial. Como diria o cefalópode, “nunca dantes neste país” o governo e as seclas, desgovernaram tanto, roubaram tanto e destruíram tanto!

 

Hoje lá na baixaria das “altas esferas” o que se discute, para uma redução do número de ministérios é qual partido fica mais ou menos beneficiado, porque a posse dum ministério é uma fonte de renda monumental para o caixa 2.

 

E parece tão simples resolver o problema!

 

Simples, simples se... houvesse alguém, algum político, sem telhados de vidro, honesto e capaz. Mas mesmo procurando entre os milhares de “políticos” que sugam constantemente o país, não se vislumbra um, unzinho só, em quem se possa confiar e, ou, acreditar.

 

Estamos com os juros mais altos do mundo, como já escrevi, chegando a 500% o do cheque especial. Não existe planificação para coisa alguma, não se antevê saída da situação. A indústria reduziu a sua produção em mais de 7,5% no ano, a moeda desvalorizou 70% (bom para os exportadores, mas por fim, moeda de engano), a previsão do PIB, se para este ano é de 2,7 negativo, para 2016 as opiniões divergem, mas para continuar negativo.

 

Aumenta a inadimplência, caiu 20% a venda carros, o comércio encolheu já ninguém sabe quanto, mas todos os dias fecham lojas, os supermercados sentem a penúria dos consumidores, porque passaram a comprar géneros mais baratos, e muitas vezes em quantidades menores, e o total desgoverno insiste em aumentar impostos, negociar ministérios como se negociam sardinhas na lota dos pescadores, a madama faz discursos iguais a meninos mentecaptos e gagos, enfim um panorama apocalíptico.

 

Fazer o quê?

 

Se for capaz... e aqui reside o problema maior, de reduzir drasticamente as despesas públicas, sobretudo os custos sociais – o tal Bolsa Família que nada mais é do que o Bolsa Voto (salvo, naturalmente algumas excepções) – cortar as aposentadorias dos “meninos” que passam um mandato ou dois no congresso e ficam o resto da vida a mamar (como parece que Portugal acaba de fazer) – reduzir drasticamente os impostos – por exemplo os medicamentos que custam aqui até cinco vezes mais do que nos EUA, Argentina, Portugal e outros – vender todas as participações que a administração pública têm na actividade que devia ser privada, e que são cabides de empregos para os comparsas puxa-saco, reduzir os impostos, a SELIC, a taxa de juros básica do Banco do Brasil, se possível passasse a zero vírgula vinte e cinco, teria a vantagem de diminuir em 300 bilhões o custo anual da dívida do desgoverno, e ainda teria a de voltar a animar o comércio, porque com mais dinheiro nos bolsos do povo, o comércio anima toda a economia e com tudo isto o governo acaba por receber mais impostos.

 

Simples, né?

 

Mas cadê o Super Homem para tomar essas decisões? Não há!

 

Resta-nos sonhar. Sonhar com o Salazar que arrumou a “Casa Portuguesa” em dois meses? Militares? Ninguém mais quer militares no comando, nem aqui nem internacionalmente. E era preciso encontrar um que fizesse o que era necessário (Por acaso eu conheço um, na reserva, jovem ainda, que quase de certeza seria capaz de arrumar a casa! Mas poucos o conhecem, e assim ninguém votaria nele!)

Não existem líderes. O único líder foi o sapo barbudo que liderou a legião de bandidos que assaltaram a máquina do Estado! Líderes para comandar o país... desconhecem-se, há é muitos que comandam gangues, movimentos de extrema-esquerda, bagunceiros, destruidores, assassinos e quejandos.

 

E a Terra da Santa Cruz fica entregue às baratas à espera dum milagre.

 

“Chorai com os que choram”, diz a Palavra de Deus. Haverá um tempo em que as pessoas enfrentarão dificuldades, situações que podem trazer-lhes aflição e lágrimas. O que fazer então? Devemos ter compaixão e compreensão, “chorar com os que choram.”

 

Para não desanimar muito, lembro aqui as palavras de Jane Addams, filósofa, feminista, pacifista e reformadora. EUA, 1860-1935:

 

O que afinal tem mantido a passagem humana neste globo, apesar das calamidades da natureza e todas as trágicas falhas da humanidade, não é senão a fé em novas possibilidades e a coragem de as perseguir.

 

29/09/2015

 

Francisco Gomes de Amorim, Junho 2013, Lisboa.jpg Francisco Gomes de Amorim

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  273. D