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A bem da Nação

QUANDO AS AMIGAS CONVERSAM…

 

 

QUEM ESTÁ CÁ EM BAIXO LEVA COM ELES

 

Contei do desastre de parapente e da corajosa ida do pai de 83 anos – Francisco Gomes de Amorim – também no mesmo transporte – e pela primeira vez - acompanhado por outro piloto, lançar as cinzas do filho sobre os mesmos espaços brasileiros – Pedra Bonita - que o filho Tiago Cobra - o primeiro piloto de speed fly a descolar do Corcovado, segundo foto e legenda publicados no A Bem da Nação – costumava percorrer.

 

Deixei-me até comover na referência, mas de repente levantei a cabeça numa risada, ao ouvir a frase da nossa amiga “Deviam acabar com estes espectáculos porque quem está cá em baixo leva com eles “, lançada a contar dos desastres de avioneta – dois desastres recentes seguidos, um em Inglaterra e outro na América - que tinham colhido pessoas, a nossa amiga completamente alheia às minhas emoções, e pondo na mesa os seus rancores contra os causadores aéreos de mortes terrestres.

 

Ainda referi os causadores terrestres de muitas mortes inesperadas – creio que em número superior - mas a minha amiga já estava lançada noutros panoramas da nossa incredulidade actual:

- E aquele homem que mata três vizinhos por causa do cão! A gente está onde? Isto é de cavar!

 

Outros exemplos foram referidos, até noutras partes do mundo, de que o nosso pequeno país é referência enorme nesse capítulo das matanças, mas a conversa descambou de repente, com outras fofocas sobre a “Hola” espanhola cheia de fotos belíssimas de mulheres e palácios de arrasar, contou a minha irmã a quem a filha Ana leva as revistas que projectam para mundos de sonho, e que logo apontou, como contraste, as gentes afogadas no Mediterrâneo, ou outras que escapam no terror de um mundo de perdição que sobre todos desabou, a querer escapar ao inexplicável de tanto mal repentino.

 

E a nossa amiga aproveitou para mostrar que leu um pouco do sermão de Vieira que lhes impingi:

- Eu só pergunto o que diria o padre António Vieira se vivesse nestes tempos.

 

Fiquei lisonjeada e só me ri, engolindo o comentário sobre os males no mundo de todos os tempos, e sem conserto, por muito que o Jeová ou outros se esforçassem por mostrar o caminho – Jeová castigando, Cristo socorrendo e abençoando, mas ele próprio sofrendo, sem culpa.

 

A conversa rodou sobre os futebóis, falou-se do Jesus que é “um pavor” para a minha irmã - e para mim, assim que lhe ouço a voz ou vejo a figura, mas desvio, embora encontre muitas vezes simultaneidade temporal, na referência e no retrato, nos diversos canais nacionais. A minha amiga não se convenceu, de trocadilho a descambar para o cinismo:

- Mas está benzinho! Os benfiquistas perderam-no, a ele que está todo benzido.

 

Também a minha irmã deu a seguinte informação:

- Os do futebol estão a descambar. É o Mourinho, a perder jogos, o Ronaldo a perder p´ró Messi …

 

E logo a nossa amiga rancorosa:

- A riqueza é tanta que não faz diferença. Aí, não tenho pena.

 

Lembrei o Pinto da Costa, hospitalizado, numa operação qualquer e logo ouço:

- O Pinto da Costa ainda vai fazer muitas operações.

 

Fico admirada, mas a minha amiga continua, em olhos de serena compostura:

- Ele casou. Foi ao Brasil casar. Ela está rica. Casou com um velho rico…

 

E disse mais, mas acabámos rindo com as nossas coscuvilhices, que se centraram, a seguir, na Sara Carbonero que põe a milhas, em beleza, a Irina, que anda com um americano, enquanto o Ronaldo fica deitado nas pedras, mas com uma casa brutal no Monte Estoril… Eu mal sigo estas informações e a minha irmã dá gargalhadas de surpresa pelo nosso desplante fofoqueiro inabitual.

 

Para mim, pelo menos, generosa que sou, e desconhecedora dessas particularidades existenciais da nossa aristocracia capitalista, todos esses dados foram surpresa bem vinda. Fiquei, sobretudo, contente por saber que o Ronaldo comprou uma casa perto de nós, talvez mesmo com possibilidade de nos tirar do anonimato, com tão importante presença no Monte Estoril. Até me lembro dos banhos da realeza no século passado que tanta nomeada trouxeram a Cascais, embora a gente permaneça apenas na linha, a minha irmã há mais tempo, e nós, por desordens inesperadas da nossa história nacional, e a quem ela deu uma mãozinha aquando da nossa vinda.

 

Mas a conversa deu outra volta. Falou-se dos brinquedos de agora, a propósito dos nossos netos que se entretêm – tão destramente, é certo! – com esses brinquedos, quando, na nossa infância, jogávamos e corríamos pelos passeios e ruas, em verdadeira liberdade. Agora chega-se ao extremo de reuniões familiares com telemóveis ou tabletes ao pé, num desligar de afectos familiares, na diversão a distância, com os amigos.

 

E a minha irmã comentou:

- Os brinquedos de outrora são para os velhos: «Põe ali o pino!” ouvi eu num jogo de velhos.

 

E a nossa amiga concluiu:

- O mundo está dentro de uma maquineta. Aquela caixinha não tem sentimentos.

 

De facto.

 

Mas com Álvaro de Campos ganhemos confiança:

 

Álvaro de Campos.png

 

Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto

Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,

Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?

(“Ode Triunfal”)

 

Berta Brás 2.jpg Berta Brás

AS BANDEIRAS QUE NÃO SIGO

 

HSF-Seguir uma bandeira.jpg

 

FALSOS MOTORES DO DESENVOLVIMENTO

 

Atribui-se a Einstein a afirmação de que nunca ninguém o veria a seguir uma bandeira. Mas eu não sou o inventor da teoria da relatividade nem sequer da pólvora e há bandeiras que sigo e outras que repudio.

 

Eis algumas das que não sigo:

 

  1. O CONSUMO

 

«Alguém que pense que a sociedade funciona com base no consumo crescente e incessante ou é louco ou ilusionista» - já não me lembro onde fui buscar esta frase mas concordo com ela plenamente e por isso a estou a plagiar. As minhas desculpas ao incógnito Autor plagiado.

 

É claro que ela só faz sentido numa economia aberta pois, numa economia fechada logo se colocaria a questão das igualdades entre as diversas variantes do modelo económico standardizado nos compêndios. Mas como actualmente são raras as economias fechadas, a frase copiada faz sentido em quase todo o mundo. Mais: como nas actuais economias fechadas não existe a opção de economia de mercado, nem sequer aí se coloca a tal questão da igualdade entre as diferentes variáveis. Ou seja, essa igualdade só existe mesmo nos compêndios.

 

Então, se uma economia entra em desequilíbrio por exemplo pela deficiência da produção relativamente ao consumo, logo a balança comercial entra no vermelho, os fluxos monetários correm para o exterior e no respectivo Banco Central soam os alarmes quanto ao stock de divisas.

 

A conclusão desta questão é a de que o consumo não é motor do desenvolvimento numa economia aberta e com insuficiência de produção. Em economês, a rigidez da oferta não é compatível com a elasticidade crescente da procura.

 

  1. AS OBRAS PÚBLICAS

 

Foi Keynes que disse que o investimento público é importante para tirar as economias das recessões por que sejam atacadas. Mas disse-o relativamente a economias fechadas, não se referia ao actual cenário, o da generalização das economias abertas.

 

Deixemo-nos de teorizações e vejamos um exemplo muito recente em Portugal aquando da feitura da Expo 98: a rigidez da oferta interna de mão-de-obra provocou a imigração e era frequente nos estaleiros daquelas obras ouvir-se falar francês pois os trabalhadores eram oriundos de diversos países africanos de língua francesa. E lá se foi para o Senegal, para o Burkina Faso, para Marrocos… o efeito multiplicador da riqueza pela via dos salários.

 

Na perspectiva keynesiana, a conclusão parcial é a de que, em economia aberta, o efeito laboral pode provocar agravamentos na balança de pagamentos. O mesmo se diga em relação a todo o equipamento necessário para essas obras que não seja produzido internamente.

 

Relativamente à bondade das obras públicas preconizadas por Keynes, há que saber se essas obras são de efectiva utilidade pública ou se os seus únicos beneficiários não serão os empreiteiros (como era corrente no tempo dos Governos presididos por José Sócrates). Portanto, também nesta perspectiva, há que tomar em linha de conta o efeito distribuidor da riqueza pela via da utilidade real dos referidos empreendimentos.

 

Finalmente e não menos importante, há que saber se as obras apresentam alguma rentabilidade ou se não passam de «elefantes brancos».

 

A conclusão global do efeito das obras públicas como instrumento de combate às recessões em economias abertas e de fraca capacidade produtiva é a de que muito provavelmente a chamada «política keynesiana» provoca mais buracos do que remendos.

 

 

  1. A UNIÃO MONETÁRIA

 

A solidariedade comunitária poderia entender-se como sendo a compensação dos défices financeiros dos países que gastam mais do que recebem pelos superávites dos países que recebem mais do que gastam.

 

Pois. Podia entender-se isso mas, na verdade, não é isso que se entende.

 

Somos todos muito solidários mas cada um responde pelas suas próprias dívidas e não há discussão sobre o tema. Não vale a pena dissertar muito sobre a questão pois os casos da Irlanda, da Grécia e do nosso são livros abertos para quem vive actualmente por estas bandas. E se nada for feito em França e em Itália, lá vamos ter cenas de próximos capítulos bem mais espinhosas do que as que têm sido notícia nos jornais nestes anos mais recentes. E, a ter solução, o caso grego está longe da meta.

 

Mais: a recusa de pagamento das dívidas não passa duma vilania pois não foram os detentores dos capitais que impuseram aos pedintes que recebessem esses capitais por empréstimo; foram os deficitários que pediram os capitais por empréstimo e, como tal, cumpre-lhes servir a dívida. Esta é uma questão de Moral, não de Economia nem de Finanças. Especificamente, é uma questão de honradez. E quem não tem honra, não merece consideração. Gente honrada, cumpre.

 

O incumprimento é uma inconveniência grave que pode ocorrer por factores imponderados mas a opção prévia pelo incumprimento é uma ignomínia, uma afronta que deslustra o bom nome de quem a pratica.

 

E há mais: quando se preconiza o incumprimento, os detentores dos capitais consideram que o risco do empréstimo aumenta e respondem subindo a taxa de juro (o que sucede com a Grécia); quando o devedor pugna pelo cumprimento, os detentores dos capitais consideram que o risco baixa e reduzem a taxa de juro (o que vem sucedendo com Portugal).

 

Conclusão: a opção pelo «não pagamos» é bandeira política que afugenta gente de bem.

 

* * *

 

Eis por que não acredito nestas bandeiras de alguns Partidos na presente campanha eleitoral.

 

No próximo texto hastearei algumas das bandeiras que sigo.

 

Agosto de 2015

 

Eu, Barril-8AGO15-2.jpg

Henrique Salles da Fonseca

CHEIRA BEM, CHEIRA A LISBOA

 

Encontrei o artigo no Público de 16/8/2015, cujo título e uma fotografia de Lisboa com, em epígrafe, a frase “Bom tempo e facilidades fiscais atraem reformados estrangeiros” me seduziram para a leitura, na perspectiva de dados positivos amenizando o clima de tortura psicológica da instituição nacional, interessada em amarfanhar-nos a alma com os ataques contínuos da vozearia torva e desestabilizadora, forjada na crença ingénua da perspicácia de cada um para fazer melhor do que os que estão.

 

Afinal o artigo já vinha sublinhado a vermelho pela minha irmã, nos parágrafos que  transcrevo em negrito e que me fizeram sonhar com uma futura política de intercâmbio  cultural luso-francês que reponha o francês nas escolas como era no meu tempo passado, em que se estudava literatura francesa (para os que seguiam “Românicas”) e isso nos enchia a alma, no companheirismo de uma sociedade que  dera ao mundo tanto da beleza espiritual desse mundo, representada pelos seus mestres – escritores, pensadores, artistas – e cuja luz para sempre o iluminará.

 

Sublinho o parágrafo final que possibilita a vinda de reformados franceses – uma lei de 2013 sobre isenção fiscal para o caso do estatuto de residente não habitual. Uma lei que favorece a economia nacional.

 

Para mim, a vantagem maior será a de que, a troco do nosso sol, poderão trazer-nos as luzes do solo deles.

 

Portugal visto como "terra de adopção" para os franceses a nível fiscal

 

Marie e Yvon Meillarec tiveram a ideia de comprar um apartamento em Portugal porque começaram a ouvir dizer que se tratava de "uma terra de adopção para os franceses a nível fiscal".

 

"Em França, ouve-se cada vez mais que Portugal é uma terra de adopção para os franceses ao nível fiscal. Confirmo que Portugal está na moda para os reformados franceses e, apesar de termos sido os primeiros do nosso círculo de amigos a comprar, já há outros a pensar no mesmo", disse à Lusa Marie Meillarec.

 

O casal, que vive na região da Bretanha, no noroeste de França, comprou um apartamento na quarta-feira, 5 de Agosto, e dois dias depois já estava no Seixal em plenas mudanças, estando a ser "acompanhados pela agência" que lhes vendeu o imóvel para "tratar das finanças, do telefone e da electricidade" porque não falam português.

 

Inicialmente, Marie e Yvon hesitaram entre Barcelona e Lisboa, mas o "argumento financeiro" foi o que os convenceu a escolherem Portugal para passar uma parte da reforma.

 

"Foi o argumento financeiro que nos convenceu. Para já vamos ficar por cá alguns meses e depois logo vemos. O estatuto [de residente não habitual] é muito interessante, talvez demos o passo para o pedir, mas por enquanto vamos ter um período de adaptação porque não podemos deixar tudo para trás de um momento para o outro", acrescentou a francesa.


Portugal também os seduziu por causa do "bom tempo", das "pessoas amáveis", da vida cosmopolita de Lisboa, tendo acabado por ser conquistados por um apartamento num condomínio fechado na Baía do Seixal.

 

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 Baía do Seixal também conhecida por «Rio Judeu»

 

"O apartamento tem mais de 100 metros quadrados [m2] e temos um terraço que também tem mais de 100 m2. Temos vista sobre Lisboa, é espectacular. Para irmos a Lisboa temos o barco a 1,50 euros que nos leva até lá em 15 minutos e estamos a 200 metros do cais", descreveu.

 

A história de Marie e Yvon é mais uma que se vem juntar a muitas outras que têm ilustrado reportagens na imprensa francesa, nas quais as "reformas douradas" em Portugal têm sido tema recorrente desde a primeira edição do Salão do Imobiliário e Turismo Português, há quatro anos, um evento que se realiza habitualmente em Junho em Paris e que este ano se alargou a Lyon.

 

Um dos mais recentes artigos data de 6 de Agosto e foi publicado no jornal francês Les Echos, que escreve que Portugal é a "nova terra de exílio para os reformados" e "o destino privilegiado dos pensionistas franceses, ultrapassando Marrocos, que sofre com as consequências dos problemas geopolíticos no Magrebe".

 

O jornal económico explica que "para sair da crise, Lisboa decidiu, em 2012, estender o tapete vermelho aos reformados europeus para estimular o consumo interno" graças ao estatuto do residente não habitual, algo que teve "impacto nas finanças públicas francesas" porque "só em 2013, a França perdeu mais de quatro milhões de euros de receitas fiscais por causa das idas para Portugal".

 

No último Salão do Imobiliário e Turismo Português, o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa, Carlos Vinhas Pereira, disse à Lusa que actualmente há "mais de 7.500 franceses com o estatuto de residente não habitual [em Portugal], 5600 dos quais são reformados", estimando que até ao final deste ano haja "cerca de vinte mil franceses a viver em Portugal como residentes fiscais portugueses".

 

O estatuto do residente não habitual em Portugal, em vigor desde Janeiro de 2013, permite a qualquer reformado - do sector privado - da União Europeia uma isenção fiscal durante dez anos, desde que resida em Portugal 183 dias por ano e não tenha tido residência fiscal no país nos últimos cinco anos.

 

Berta Brás.jpgBerta Brás

CRASH À VISTA

 

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 Buraco negro

 

Há pouco tempo recebi um e-mail, nem já sei de quem, mas que no mínimo é uma chamada à consciência para ajudar a melhor ver e entender o que nos rodeia e asfixia.

 

A loucura.

 

Dizia o e-mail que somadas todas as dívidas de todos os países do mundo, e parece que todos (quase) devem, o valor dessa dívida seria algo como US$ 300.000.000.000.000. Isso mesmo trezentos trilhões de dólares!

 

Tamanho absurdo nem os nenéns acreditam quando se lhes contam historinhas de medo para ver se eles metem a cabeça debaixo do travesseiro e ficam quietos para adormecerem!

 

Ora os economistas, financeiros, banqueiros e semelhantes podem até discordar deste valor, apresentarão outro que não pode diferir muito deste, mas sabem sobretudo que tal dinheiro não existe, nunca existiu e só existirá se o dólar se desvalorizar como aconteceu com a moeda brasileira que só entre 1975 e 1995, enquanto perdeu treze zeros, ou com a moeda do Zimbabué onde hoje um dólar americano vale 92,233,720,368,547,760.00 de "dólares" locais!!! Isso mesmo, só 92,... quatrilhões!

 

É evidente que tamanha quantidade de dinheiro – os tais trezentos trilhões de dólares das dívidas – só pode ser mentira, o que não impede que os “credores” apertem os devedores e os estrangulem.

 

Mas, quem são os credores? E, donde surgiu tamanha quantidade de moeda, falsa, falsíssima?

 

Como é possível que a Grécia que devia mais de duzentos bilhões de Euros, com a absoluta certeza de jamais poder pagar, mesmo a juro 0%, receba nova ajuda de outros cem bilhões?

 

Que brincadeira de mau gosto é esta?

 

Agora a China já começou a rebentar pelas também falsas costuras com que coseu o seu crescimento estratosférico! Dizem os chinos que assim mesmo devem crescer este ano à volta de 7%. E dizem os técnicos – não políticos – da finança internacional que isto é mais uma mentira dos chineses e que serão muito felizes se alcançarem 3%.

 

Lembro quando Angola estava ainda em guerra civil, nem sequer aparecia nos mercados. Não crescia. Destruía-se. Em 2002 acabou a guerra e começou a crescer a 10% e mais. Bastava para isso aparecer um vendedor ambulante a vender quinquilharias na rua para que a “economia” crescesse. A partir do ponto zero, vender um copo de água já dá crescimento.

 

Foi um pouco do que se passou na China, quando mais de um bilhão de seres esmagados pelo “comité comunista” (que em chinês “simplificado” se pronuncia assim: 中国共产党中央委员), começou a comer e a correr para as cidades.

 

Na Europa inventou-se a União Europeia e depois o Euro. Era preciso igualar a Grécia, Portugal, Irlanda e outros ao nível de desenvolvimento da Alemanha, Reino Unido, etc.

 

Puseram a máquina de imprimir moeda a funcionar e começaram a chover Euros nos países periféricos, chamemos-lhe pobres, que se embebedaram com tanto maná, criaram obras faraónicas e lindas, mas esqueceram o básico: investir em meios de produção, industrial, agrícola, transportes (marítimos, por exemplo) e sobretudo na melhoria da educação e na pesquisa científica!

 

Em 2008 tremeu e começou a ruir o mundo financeiro. Por todo o lado. Os Estados Unidos saíram da sua filosofia de livre concorrência para protegerem os bancos, seguradoras e algumas grandes industrias, começando a destruir o que tinha sido até ali o grande trunfo do sucesso americano: não intervenção do Estado e deixar o mercado entregue à meritocracia. Agora entra, em força, o compadrio, corrupção e outros males quando se brinca com o dinheiro do povo. Como no Brasil e outros países que não crescem porque o dinheiro é quase todo “distribuído” pela “nomeklatura” e pelos cartéis dos poderosos. (É interessante ler o livro Um capitalismo para o povo do prof. Luigi Zingales da Universidade de Chicago - A Capitalism for the People).

 

A União Europeia viu o Euro desvalorizar-se cerca de 25%, e então acordou para os ”empréstimos” tão generosamente feitos aos tais pobres, e vá de lhes meter as mãos nas goelas obrigando-os à tal “austeridade” que fez aumentar, de forma assustadora, o desemprego e a pobreza.

 

Agora as bolsas começaram a tropeçar, o Bill Gates “perde” num dia uns quantos bilhões – que não lhe fazem diferença alguma, porque é tudo papel escriturado – o petróleo está mais barato que refrigerante, e os grandes “sábios” da finança que tudo, ou quase, apostaram no gigante chino, agora não sabem o que fazer.

 

A Alemanha gozava com a venda de Mercedes e Porsches, a França com a Renault, Givenchy, Dior e outras sofisticações, a Suíça com relógios de ouro e diamantes, e a China exportava tudo. Mas tudo mesmo.

 

Há dias comprei, num supermercado aqui no Rio, bacalhau do Porto. Quando cheguei a casa é que vi: “Importado da China”! Meu Deus, até o bacalhau, do Porto, é da China. Podia ao menos ser de Macau!

 

Não é de agora, mas desde há muitos anos que vejo a Europa a afundar-se, e muitas vezes escrevi sobre isso. E não sou um pessimista. Taxas de natalidade negativas, e muito, invasões de milhões de refugiados – e não só – que vêm do Afeganistão, Bangladesh, Magrebe, Síria, África do Leste e Oeste, etc., e que não tardam superam as populações chamemos-lhes autóctones europeias.

 

Qual a perspectiva? Não parece difícil imaginar o que se vai passar.

 

Os imigrantes reproduzem-se a taxas de 3 a 4%. Os europeus não querem ter filhos antes de não os poderem mais gerar. Os pares homossexuais “compram” criancinhas vindas de qualquer lugar, ou simplesmente não o fazem. Resultado?

 

O avanço do aquecimento global está a processar-se com muito mais rapidez do que se esperava e sobretudo desejava. Secas imensas, toda a costa leste do EUA a arder, desaparecendo milhares e milhares de hectares de florestas, a tundra siberiana, apesar da sua imensidão, perde espessura e começa a ter dificuldade para a tradicional criação de renas, lagos desaparecem como o Aral que passou de 65.000 km2 a menos de 3.000 por errado uso das águas que o alimentavam, o Ártico, dizem, vai ser destruído pelas perfurações do petróleo, etc., etc.

 

A única esperança que me resta, extremamente egoísta, é que eu já não devo assistir à derrocada final, mas a sensação de que falta pouco, muito pouco, é real.

 

Penso nas gerações abaixo, filhos a quem as seguranças sociais talvez já não tenham como pagar-lhes uma aposentadoria que não seja de miséria, e os netos que, quase de certeza assistirão ao desabar do mundo que viram ao nascer.

 

Previsão apocalítica? Talvez.

 

Veio agora o Stephen Hawking lançar uma esperança: os “buracos negros” podem ser passagens para outros universos. Que maravilha. Que esperança.

 

Mas a vida é tão curta e raros são os que “fazem acontecer”. A esmagadora maioria assiste, assiste, alguns lastimam-se, e nada mais faz do que “ver a banda passar”.

 

Felizes e heróis os que sabem aproveitar a vida, mesmo não tendo capacidades para alterar o curso do desastre, sorriem, ajudam os outros e curtem cada minuto que lhes foi dado para este “instantâneo” no planeta Terra.

 

27/08/2015

 

Francisco Gomes de Amorim, Junho 2013, Lisboa.jpg 

 Francisco Gomes de Amorim

QUASE COMO UMA BÍBLIA…

 

JLP-Nenhum Olhar.jpg

 

…Em que se contam histórias de gentes que povoaram o mundo. Ora com narrador não participante – extradiegético – ora com narradores autodiegéticos (de focalização interna), como personagens principais – os dos salmos, do apocalipse… e sempre para glória do Senhor, responsável pelo mundo que criou, punindo ou premiando, sem, todavia, alterar o comportamento das suas criaturas. E retomando referências já abordadas, em discurso repetitivo e progressivo, amálgama de momentos vagos de grande expansibilidade  cronológica.

 

Este livro de José Luís Peixoto – «Nenhum olhar» - tem, para além do mais, personagens com nomes da diegese bíblica, tais como José (pai e filho), guardadores de rebanhos, Gabriel, Moisés, Elias, Judas, Mateus, Salomão, Rafael … sendo que a outros – sobretudo os do sexo feminino, como seres impuros, na opinião das gentes do espaço narrado – aldeia ou vila alentejana – é-lhes substituído o nome próprio pelo de “filha” ou “mulher de” ou “pai de” ou “mãe de”, ou mesmo “puta”, ou “prostituta cega”: “o meu pai” (da “mulher de José”) … e ainda as personagens do mito, simbolizando o Mal (o gigante) ou a mexeriquice perversa popular (o demónio…). Personagens de uma ficção tenebrosa, de aleijados – vários – ou martirizados, ecos de uma bestialidade tosca, com violação (a mulher de José, na infância), ou autopunitivos José e o filho, a mulher de Salomão, Rafael…

 

Um espaço físico e social pois de dureza, de sofrimento e miséria, de insinuação criadora de intriga e desfecho fatal, espaço de interiores aldeãos pobres ou defeituosos, porque explorados, mas de gente trabalhadora e honesta (entre as personagens principais), espaço de luxo fidalgo – casa do doutor Mateus – com os seus pedantismos mas dores também e mistérios – “a voz da arca”, espaço de exterior amplo, com o monte das oliveiras simbólico de agonia, de solidão e de morte…

 

Um tempo cronológico vário, distribuído por duas partes estruturais, a primeira sobre as personagens dos inícios – pais e filhos – a segunda pelos sucessores, sem que cresçam os filhos gerados, porque os pais morreram ou se mataram, em desfecho violento, paralelo ao da primeira parte.

 

E a estrutura da intriga é redundante, em espiral, repetitiva, poética, alternada, ora com narrador não participante – extradiegético – destacando os comportamentos e os cenários, ora com o narrador participante – José, a mulher de José, os gémeos siameses Moisés e Elias, o velho Gabriel, na primeira parte, os da segunda parte. E todos eles se destacando pela dignidade de pensamento, no discurso filosófico e poético, com repetições de conceitos (Ex: «Penso: Talvez haja uma luz dentro dos homens, talvez uma claridade, talvez os homens não sejam feitos de escuridão, talvez as certezas sejam uma aragem dentro dos homens e talvez os homens sejam as certezas que possuem.» Um discurso de constante incompreensão sobre o mundo e os homens, como este de José, com tantas sugestões de Álvaro de Campos:

Ex: Os homens são uma parte pequena do mundo, e eu não compreendo os homens. Sei o que fazem, mas saber isso é saber o que está à vista, é não saber nada. Penso: talvez os homens existam e sejam, e talvez para isso não haja qualquer explicação; talvez os homens sejam pedaços de caos sobre a desordem que encerram, e talvez seja isso que os explique……….Sempre vos quis defender, em tudo fui derrotado, porque sei que, mais cedo ou mais tarde, também os vossos rostos irão sofrer; mais cedo ou mais tarde, também tu, mulher que quis mais que tudo, morrerás, e tu, filho meu, morrerás. As nossas campas no cemitério serão por uns tempos cuidadas e visitadas por aqueles que deixámos, mas também esses morrerão um dia; e as nossas campas encher-se-ão de musgo e erva, e alguém que passe por nós não parará, e mesmo esses que deixámos não serão recordados por ninguém, pois tudo o que amaram morreu…

 

Discurso de personagem (José) em tudo paralelo ao do narrador extradiegético, o que lhes retira verosimilhança como personagens modeladas, vivendo num meio rústico, onde quase todos assinavam de cruz (como se verifica no casamento de Rafael com a prostituta cega, quadro tosco de caricatura, a lembrar pinturas medievais, como as de Bruegel.

 

Um mundo, pois, de espessura dolorosa e pessimista, que recorda também a intenção escatológica que encontrámos no «Ensaio sobre a Cegueira» de Saramago. Com inegáveis qualidades de observação pictural, em perífrases originais: Ex: «Num assobio que desenhou no ar o movimento de uma chicotada», «As pontas das orelhas da cadela levantaram-se, como se tivessem sido puxadas por um fio de pesca»…., Com um  discurso tantas vezes de frases incompletas, segundo a técnica do «nouveau roman”, traduzindo a corrente de consciência indefinível: Ex: «Prosseguiu para a vila. Não por querer chegar. Não por querer, mas porque a tarde, porque o sol e a luz, porque uma solidão tão grande».

 

E o título, que se justifica num desfecho apocalíptico, de um niilismo total:

O mundo acabou. E não ficou nada. Nem as certezas. Nem as sombras. Nem as cinzas. Nem os gestos. Nem as palavras. Nem o amor. Nem o lume. Nem o céu. Nem os caminhos. Nem o passado. Nem as ideias. Nem o fumo. O mundo acabou. E não ficou nada. Nenhum sorriso. Nenhum pensamento. Nenhuma esperança. Nenhum consolo. Nenhum olhar.

 

Berta Brás.jpg Berta Brás

FRANCISCO GOMES DE AMORIM NOS CÉUS DO RIO DE JANEIRO

 

 

Aos 83 anos, pai voa de parapente pela primeira vez para jogar cinzas de filho vítima de acidente de speed fly

Veja o vídeo da homenagem feita de Francisco de Amorim, que decolou da Pedra Bonita no úlitmo domingo

por Maíra Rubim - O GLOBO

 

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 Francisco Amorim presta homenagem ao filho

 

RIO - Aos 83 anos, Francisco de Amorim nunca havia praticado o voo livre, mas a vontade de homenagear seu filho, Tiago de Almeida Gomes de Amorim, morto após ter a vela de speed fly fechada por uma rajada de vento na Pedra Bonita no último dia 9, fez com que ele voltasse ao local do acidente no domingo para voar de parepente e jogar do céu as cinzas de Cobra, como era conhecido Tiago.

— As pessoas dizem que o esporte é perigoso, mas andar num automóvel também é. O Tiago já havia me convidado para voar, mas eu achava que não tinha mais idade para isso. Quis fazer o que ele gostava. Agora, não me admira que quem comece a voar, não queira nunca mais largar o esporte. O voo é maravilhoso. Compreendi toda a paixão do Tiago e se eu fosse mais novo, começaria a praticar o esporte — afirma Amorim.

 


https://youtu.be/c9QBGz5ekdo


Amigos, a esposa, o filho de 18 anos, a mãe e dois irmãos de Cobra participaram da cerimônia que reuniu cerca de 50 pessoas na rampa de voo livre de São Conrado. Pilotos próximos a Cobra planejavam decolar em grupo para prestar uma última homenagem, mas as condições meteorológicas não permitiram.

— O Tiago não vivia sem voar e o esporte era parte da vida dele. Ele voava todos os dias e estava sempre subindo em novas pedras para explorar se um novo ponto de decolagem seria possível. Ele nos contava muitas histórias, falava sobre seus amigos, sempre com graça, era a alegria da família — lembra o pai.

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 Cobra foi o primeiro piloto de speed fly a descolar do Corcovado

 

O MUSEU DO AR

 

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Eu conhecia o Museu do Ar em Alverca, embora há muitos anos que já lá não vou. Mais recentemente foi inaugurado um outro, em Sintra, que só agora pude visitar, na companhia de meu filho. O Museu encontra-se na Base Aérea 1, embora com certa independência. A Base é lugar que muito frequentei porque, antes da construção do Aeródromo de Cascais, em Tires, era nela que se encontrava instalado todo o material do Aero Clube de Portugal. Foi ali que tirei a minha licença de piloto de aviões e onde eu e os outros sócios do Clube íamos voar aos fins de semana.

 

Muito amavelmente recebidos pelo Director, Coronel José Luís Romão Alves Mendes, fomos depois acompanhados em toda a visita pelo 1º Sargento Rui Araújo Pinto, que nos deu informações adicionais sobre as peças expostas.

 

Museu do ar-2.jpg

 

O museu começa, na entrada, com uma série de réplicas de aviões primitivos, entre eles dois de Santos Dumont, um brasileiro de origem portuguesa, que vivia em França: o “14 Bis”, o primeiro avião a descolar sem ajuda - os dos irmãos Wright tinham de ser catapultados – e o “Demoiselle”. Tem uma boa colecção de aviões da Força Aérea e comerciais, bem acompanhados de descrições das suas características. Uma série de helicópteros, entre eles os nossos conhecidos Alouette - um deles “descascado”, para mostrar o seu funcionamento - e o Puma.

 

Uma excelente série de grandes fotografias apresenta a evolução da aviação em Portugal, desde Bartolomeu Lourenço de Gusmão até aos nossos dias. Três grandes painéis, de Angola, Moçambique e Guiné, mostram as posições da Força Aérea nesses territórios.

 

Museu do ar-3.png

 

Na Sala dos Pioneiros vi a placa da homenagem que há tempos a Força Aérea prestou, naquele museu, à minha grande amiga de longa data D. Isabel Bandeira de Melo, um caso notável da aviação portuguesa, felizmente ainda viva. Piloto de planadores, piloto de aviões, a primeira paraquedista portuguesa (só havia paraquedistas militares pelo que foi fazer o curso a França), piloto de balões de ar quente e, na década de 1950, a única senhora entre oito concorrentes, ficou em segundo lugar no primeiro concurso civil de acrobacia aérea. Promoveu a formação do corpo de enfermeiras paraquedistas, que tão bons serviços prestaram na guerra do ultramar. Não sei de quem mais tenha tão variadas qualificações.

 

De planadores vi o velho SG 38, o planador escola alemão em que os mais antigos fizeram a sua iniciação nesse magnífico desporto. Para alguns, como foi o meu caso, que nunca tinham andado de avião, dá-nos a pueril “glória” de dizer que, nos primeiros voos, fomos sempre sem qualquer instrutor, ou seja, que fomos “largados” no nosso primeiro voo.

 

No exterior o museu tem ainda algumas outras aeronaves.

 

Museu do ar-4.jpg

 

Como mais tarde me foi chamada a atenção, há uma carência de representação dos aeroclubes, que formaram muitos pilotos, tanto de aviões como de planadores. Talvez a culpa seja dos próprios aeroclubes e bom seria que pudessem dar a sua contribuição.

 

Este museu precisa de ser visto por todos os portugueses, principalmente pelos jovens, que ali podem aprender muito que desconhecem.

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 27 de Agosto de 2015

 

Prof. Miguel Mota

Miguel Mota

PORTUGUESES QUASE ESQUECIDOS

 

 

Bab el-Mansour – português cujo nome cristão continua desconhecido, cativo dos mouros, arquitecto, converteu-se ao Islão para alcançar a liberdade. Uma vez livre não conseguiu evadir-se e regressar a Portugal ficando em Meknès. Mas será que terá mesmo querido regressar? Não se sabe e não é agora que descubro e desvendo o mistério.

 

O que se sabe é que a sua vida em Marrocos decorreu sob a égide do Sultão Moulay Ismail que reinou durante 55 anos entre 1672 e 1727 da nossa era.

 

Meknès era considerada o primor arquitectónico de Marrocos mas o grande projecto de cidade imperial nunca foi concluído.

 

Tirano, conta no seu currículo com 30 mil mortos ao longo do seu longo reinado tanto devido à justiça praticada como ao capricho de que nunca se privou mas os números crescem muito se se considerar os que morreram nas batalhas que travou.

 

O seu lema era: “Os meus súbditos são como ratos num cesto; se eu não sacudir o cesto, eles roem-no, fazem um buraco e fogem”.

 

As realizações arquitectónicas do Sultão nunca eram suficientemente do seu agrado e o grande palácio acabou por ser concluído apenas cinco anos após a sua morte. Mas a grande porta nas muralhas da cidade que encarregou El Mansour de desenhar e construir é o verdadeiro ex libris de Meknès.

 

HSF-Bab_Mansour_Gate.jpg

 

Chamada Bab el Mansur, é a mais importante e mais monumental das 20 portas da cidade sendo constituída por um arco triunfal em forma de ferradura com 8 metros de abertura e 16 de altura. Ricamente decorada, foi terminada em 1732 e está classificada como património protegido desde 1914. Integrando uma grande sala com 6,2 por 17 metros, é actualmente uma galeria de arte.

 

Conta-se que aquando da sua conclusão, o Sultão foi inspecionar a obra e perguntou a El Mansour se seria capaz de fazer alguma obra ainda melhor do que aquela. O arquitecto respondeu afirmativamente e o Sultão enfureceu-se de tal modo que o fez passar pelas armas.

 

Mais uma vez o hediondo capricho do tirano a clamar uma vida. Parece hoje, nas securas do Médio Oriente.

 

Agosto de 2015

 

Eu, Barril-8AGO15-2.jpg

 Henrique Salles da Fonseca

 

BIBLIOGRAFIA:

 Wikipédia

CEUTA E 2015

 

HSF-Ceuta.png

 

Em 2015 temos vindo a comemorar a conquista de Ceuta há seiscentos anos.

 

E uma das razões apontadas para a decisão de D.João I conquistar Ceuta foi a necessidade de Portugal afirmar ou confirmar a sua independência face ao poderio do seu vizinho ibérico. Aliás aconteceu no seguimento das políticas seguidas desde D. Afonso Henriques que privilegiavam o desenvolvimento da nossa Marinha única forma de não dependermos dos caminhos por terra e assim foi tomada a decisão certa porque tinham sido criadas as condições para que isso fosse possível.

 

Convém recordar que a conquista de Ceuta obrigou a mobilizar mais de 200 embarcações de grande porte durante quase dois anos e o País não parou as suas atividades económicas que eram então praticamente todas por via marítima.

 

També convém recordar que D. João I ocupou o trono apoiado principalmente pela burguesia de Lisboa, Porto e Lagos pois a maioria da nobreza apoiava D. João de Castela cerca de trinta anos antes e portanto embora ela não mostrasse ainda interesse na atividade marítima, o que parece só ter acontecido depois da primeira  viagem de Vasco da Gama à Índia, tinha de facto interesse numa conquista militar e económica que seria também um ato de expansão da fé cristã.

 

O movimento dos descobrimentos que se desenvolveu a seguir dirigido pelo Infante D. Henrique utilizando os fundos da Ordem de Cristo, herdeira dos Templários, e tendo a colaboração ativa dos empresários e dos técnicos das três cidades atrás citadas que permitiu a Marinha Portuguesa ser a mais poderosa da Europa e dominar o oceano atlântico, o que inclusive permitiu D. João II empurrar a frota espanhola para a América central, libertando o Atlântico sul para chegarmos em primeiro lugar à Índia.

 

Mas note-se que tudo nisto foi realizado pela Marinha Portuguesa que foi durante séculos a base da nossa independência. Após a fuga para o Brasil da corte em 1808 e dadas as alterações tecnológicas da revolução industrial que Portugal não acompanhou, até porque já não tínhamos desde a expulsão dos judeus no século XVI empresários capazes, praticamente ficámos sem uma Marinha forte e por isso perdemos a nossa independência ficando à mercê de interesses estrangeiros.

 

O que, tirando alguns anos durante o Governo de Oliveira Salazar, se tem mantido com altos e baixos, por vezes muito baixos como aconteceu em 2011 após de quase trinta anos de políticas que se diziam social democrátas mas que na realidade eram próximas do neoliberalismo malgovernado com os resultados à vista.

 

Ora verifica-se que um país, tal como uma família ou uma empresa, não pode ser gerido como se fosse uma tesouraria porque esta não pode passar a ser mais do que uma ferramenta da gestão e nada mais. Muito importante com certeza mas só uma ferramenta.

 

Ceuta foi conquistada porque tínhamos um Governo forte e uma Marinha forte.

 

Os descobrimentos foram realizados porque tínhamos a Marinha mais forte e uma população preparada, motivada e colaborante.

 

Agora depois de termos perdido a independência ainda parece não termos aprendido que sem Marinha forte jamais seremos independentes.

 

E para ter uma Marinha forte é forçoso tomar decisões concretas e operacionais que galvanizem a população e não passar o tempo todo em reuniões e encontros enquanto as oportunidades vão passando à nossa frente para serem aproveitadas por estrangeiros, a quem inclusive vamos vendendo o que mais valor tem como as empresas estruturalmente nacionais e os nossos técnicos mais especializados, enquanto a maioria da nossa população ativa não tem acesso ao mar como se comprova comparando a nossa situação náutica com a de países europeus alguns dos quais nem sequer estão junto à costa.

 

E para terminar é motivo para grande preocupação assistir a campanha eleitoral em que este assunto não é tratado quer pelos partidos políticos quer pela comunicação social com o valor que na verdade tem.

 

Lisboa, 25 de Agosto de 2015

 

Eng. J.C. Gonçalves Viana 

José Carlos Gonçalves Viana

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