NÃO AO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990
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Sexo e Poder a servir a Excitação – Diferença entre Gregos e Germanos
Os gregos embrulham o poder com papel couché de sexo enquanto os germanos embrulham o poder com a serapilheira do trabalho! Isto provoca excitação numa sociedade sem capacidade de interpretação mas em que o escândalo é negócio.
A Alemanha e a Grécia encontram-se em luta justa mas parcial porque cada uma aposta na sua razão esquecendo que a solução viria de uma recíproca complementação.
Dinheiro, poder e sexo prometem o que não podem dar mas lisonjeiam a liberdade que, à sombra deles, perde a dignidade/virgindade.
A ambição do poder e o desejo sexual movem homens e mulheres dando-lhes uma áurea acrescentada pela prostração das massas. O poder sexy dos Varoufakis, dos Sócrates e até dos Berlusconi torna-se num elixir irresistível que move admiradoras e admiradores pelo facto de unirem o poder ao sexo e deixarem um cheirinho a dinheiro.
O poder corrompe, mas vestido de eros adquire um brilho inocente que atrai a alma e ilude o desejo de liberdade. À sombra dos poderosos, a cimentar o seu desejo de conquista, abunda também a fantasia de Cinderelas que, para subirem a escada do poder, fazem uso da sua força erótica. Ao seu desejo corresponde, por vezes, a necessidade dos poderosos solitários que, na aridez da sua ocupação, procuram, também eles, a suavidade da fêmea que lhes dá brilho e gera autoconfiança.
Sexo e poder dão brilho à tentação e movem as massas, porque garantem a contínua excitação, especialmente, se não vestidos nos fatos engravatados da tradição que dessexualizam o desejo.
O inocente sexo ajuda a vender o produto, ao mover a tentação. Na vida pública e na fachada do poder, a mistura de sexo e autoridade ainda se torna mais atractiva e deslumbrante quando a ela se junta o rastilho da esquerda. O ingrediente esquerdo torna a coisa mais atractiva porque ao sexy acrescenta a ideia da fecundidade que promete dar sustentabilidade ao progresso.
Por estas e por outras, o génio grego sente-se melindrado e o espírito protestante engravatado sente-se agravado; ao alemão frontal habituado a andar por caminhos direitos e bem rasgados custa-lhe a entender a mistura que o pacote grego encobre e porque teima tanto em andar por curvas e atalhos.
Tal disparidade de formatos leva o germano a concluir que o que o grego tem para oferecer é lábia erótica quando o germano só negoceia com produtos. Para o germano o eros não vai para a rua nem faz parte da exortação à guerra, para ele a rua é batalha e o sexo é sigilo que reforça, mas fica em casa.
Por isso a dança de gregos e germanos se torna monótona e repetitiva porque toda ela se dá em torno do cavalo troiano: uns em torno do cavalo de Atenas, outros em torno do cavalo de Bruxelas.
Todo o alarido e discórdia vêm de diferentes performances. O poder torna os instintos educados mas o sexo dá-lhe o brilho que não se quer disciplinado. O nosso mundo é todo assim, feito de políticos e poderosos que atraem mulheres e seguidores; tudo pronto a dar cambalhotas como gatos aos pés dos donos, num bulício à volta do bezerro de ouro. O dinheiro tem em si algo oculto que faz brilhar os olhos mas apaga a mente.
Também é de reconhecer que uma vida sem tentação seria vida chata e abafada em mel a que faltariam as maviosas modulações dos cânticos da cigarra.
Para não ser injusto e à maneira de conclusão, cito o sociólogo Johan der Dennen que constata: ”Também mulheres poderosas têm um apetite sexual acima da média”. Se observarmos Ângela Merkel vemos como é verdadeira e forte a excepção à regra.
O problema na UE não vem do papel couché nem da serapilheira, o problema vem do que embrulham e o que embrulham é poder a encobrir o poder!
António da Cunha Duarte Justo
Pedagogo e Teólogo
A União Europeia nasceu da solidariedade e está em risco por falta de solidariedade. Esta parte é evidente; as dificuldades vêm das estranhas propriedades desta diáfana substância que une e anima a Europa.
A solidariedade é muito especial: só funciona em ambos os sentidos e quando todos participam. Assim é fácil pedir solidariedade, exigir solidariedade; difícil mesmo é ser solidário. Isso leva a mal-entendidos, como reclamar solidariedade esquecendo o próprio contributo ou pretender promovê-la ralhando com os parceiros não solidários.
Pior, a Europa enfrenta uma das doenças mais terríveis da solidariedade: o proverbial problema da "ovelha ronhosa". O futuro da unidade depende de todos os membros confiarem naquele que mais violou a confiança. Este facto simples, evidente, gritante até, anda muito omisso das conversas sobre o longo drama que devasta o sacrificado povo grego e ameaça a unidade europeia.
A União exige que Estados membros e autoridades comunitárias emprestem mais uns largos milhões ao governo grego, para lá de todos aqueles que ele não pagou. Isto apesar de tudo o que os sucessivos governos desse país fizeram para minar a confiança dos parceiros, e de o actual levar o desafio e atrevimento a níveis inauditos. A verdade é que ninguém mostrou menos solidariedade comunitária do que a Grécia, a mesma que agora reclama solidariedade dos parceiros.
Por outro lado, esta compreensível desconfiança conduziu a Grécia a uma situação incrível, o único país desenvolvido a sofrer uma grande depressão desde os anos 1930. Com economia devastada e desemprego explosivo, o sofrimento atingiu níveis inaceitáveis, o que torna compreensíveis a insolência e a rebeldia do governo grego. Assim o resultado é o impasse.
A Grécia é horrivelmente mal gerida há décadas, com uma recorrente subversão do interesse público, sempre capturado por inúmeras formas de corrupção, aproveitamento e oportunismo de grupos instalados. As disfunções sociais do país são evidentes para quem quiser abandonar os mitos e olhar para a realidade.
Esta constatação não nos deve levar a uma forma de racismo, atribuindo o problema ao carácter grego. Não é preciso ir à Antiguidade para ver realizações espantosas desse povo. Quando em 1981 o país aderiu à Comunidade, o mais pobre que até então o conseguira, fê-lo de pleno direito, devido às excelentes prestações económica e financeira das décadas anteriores. Tal como Portugal anos depois, a adesão pretendia assegurar a democracia num país com conturbada experiência política mas impressionantes realizações produtivas.
O mal não está nos gregos, mas nos hábitos políticos que a integração trouxe consigo. Desde cedo que os ministros helénicos se habituaram a aproveitar todos os ganhos que a Europa concedia, evitando as exigências que a integração trazia consigo. O mal da Grécia é a sua recorrente falta de solidariedade europeia.
É inegável que o país se tornou o protótipo do oportunista endividado e abusador, mas também que a Europa tolerou os atropelos e alimentou os abusos. Esta é a razão por que os credores em geral, e a Alemanha em particular, apesar do horror dos últimos anos, não conseguem confiar na Grécia, por ela não mostrar a mais elementar das solidariedades: cumprir regras. E a história não começou ontem; foram quase 35 anos de recorrentes transgressões e esbanjamentos.
A crise desde 2008 atingiu o limite e, mesmo aí, confirmaram-se as desconfianças. Enquanto o país se arruinava, muitos grupos conseguiram defender privilégios pagos com dinheiro alheio. É verdade que também noutros Estados as reformas ficaram aquém do planeado; mas ali, ao contrário de parceiros como Portugal, não se cumpriram os mínimos que permitissem às autoridades europeias mostrar benevolência, apesar de o povo sofrer horrores.
A recente arrogância do Syriza, por muito compreensível que seja, aumentou a dificuldade. Negar o problema e ralhar com os credores não é forma razoável de ganhar a sua indispensável confiança. Afinal esta última colheita de dirigentes, apesar de livre dos vícios das anteriores e com orientação política radicalmente diferente, mantém a atitude de fundo: o governo grego está menos preocupado com o interesse nacional do que com a satisfação de certos grupos ou princípios ideológicos.
Décadas de erros mútuos trouxeram a situação ao ponto limite. Mas a Europa e a Grécia têm de se lembrar de que a matéria de que é feita a Europa é a solidariedade. Se a conseguirem reencontrar, a União não só ultrapassa a crise, como fica mais forte.
17 de Junho de 2015
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