Eleições gregas levarão a Europa à Sala de Operações
Os partidos do sul da UE, que são contra a política de poupança, sentem-se com asas depois das eleições gregas. O sul pródigo ganhou provisoriamente contra a moral rígida alemã do bem-comum.
O povo cansado quer mudança e deixa de apoiar governantes corruptos que desde 1974 dirigem os destinos da nação. A Grécia é depois da África o país mais corrupto.
O líder Tsypras tornou-se no rosto provocador da Troika (CE + BCE + FMI) e no admoestador da esquerda socialista e comunista.
No parlamento helénico têm assento 300 deputados. Segundo o direito de eleição grego, o partido vencedor recebe um bónus de 50 assentos no parlamento. A coligação governamental de extrema-esquerda com extrema-direita (Syriza + Gregos Independentes) possui 162 deputados (149 + 13) e a oposição que consta de seis partidos, entre eles o partido comunista, tem 138 deputados.
As Promessas e o Projecto de Tsypras
O primeiro-ministro Alex Tsypras quer obter uma mudança radical da política; o seu modelo ideológico é Ernesto “Che” Guevara.
Declarou não querer restituir os 190 mil milhões de dívidas; quer distribuir pelos pobres 2 mil milhões de euros; 5 mil milhões num plano de emprego e 4 mil milhões em outros projectos.
Concretamente quer energia gratuita para agregados familiares carentes; serviços básicos gratuitos; criar alojamento para os 30.000 sem-abrigo; subir o montante de isenção de impostos para 12.000€ (na Alemanha a isenção é de 8.354 €); aumentar o salário bruto mínimo de 586€ para 751€; criar 300.000 lugares de trabalho; instaurar uma democracia popular. Para isso pretende lutar contra a corrupção, querendo proceder à recuperação de dinheiros do Fundo da UE e do fundo de resgate bancário grego.
Situação da Grécia - Continuará a ter de mendigar
A Grécia tem um desemprego geral de 25% e um desemprego juvenil de 48%. A dívida do Estado atingiu em 2014 os 320 mil milhões ou seja 180% do produto interno bruto. Desde 2009 tiveram uma perda de rendimento de 30%. No serviço público trabalham 675.000 empregados, isto é, menos 277.000 que em 2009. Apesar de tudo a economia em 2014 cresceu 0,7.
O IWF e a UE concederam empréstimos à Grécia, no valor de 240 mil milhões de euros. Nos finais de Fevereiro a Grécia precisará de novo crédito. A Troika já teme pelos 240 mil milhões porque Tsipras quer governar sem a Troika.
O governo ainda pode dispor de 11 mil milhões de euros do Programa de apoio da UE que serão transferidos para a Grécia no próximo dia 1 de Março. Por outro lado teria de reembolsar, este ano, seis mil milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional.
Um país com uma dívida de 180% do produto interno bruto nunca poderá vir a pagar as suas dívidas.
A situação terá de melhorar na medida em que as verbas terão de ser direccionadas para a produtividade e deste modo em benefício do povo.
A ânsia de Tsypras por deixar de ser destinatário de ordens dos emprestadores de dinheiro será uma ilusão tal como se verifica com o FMI em relação a países em vias de desenvolvimento exigindo-lhes o cumprimento de condições para se tornarem dignos de crédito. Sair da Zona Euro seria problemático para a Grécia (embora ganhasse mais autonomia) mas significaria perder o comboio da História.
Teoricamente os gregos terão razão mas praticamente não
O país onde democracia nasceu quer puxar as orelhas às democracias da UE. Surge agora uma democracia messiânica de extrema-esquerda. Tsypras diz não querer usar gravata mas também não poderá tornar-se gendarme!
Apostar no consumo sem uma organização económica produtiva que o sustente é música de embalar que políticos tocam para adormecer o eleitorado. É um facto que as firmas de cada nação têm de produzir o suficiente para pagar os seus serviços e as reformas. Por outro lado, um sistema económico (Troika) que tem beneficiado o grande capital e as grandes empresas dos grandes países dando assim razão a quem é contra a poupança louca e quer consumir. A Troika só se preocupou em salvar os bancos, porque se fossem à falência todas as contas bancárias se reduziriam a zero, o que provocaria uma revolução.
A maneira como se poupou não foi eficiente, os investimentos foram mal aplicados e as elites do sistema político e económico serviram-se a elas. O sistema estatal, tal como em Portugal, protege as elites e os gastos vão na direcção errada. Na Grécia 174% da produção económica do país está na mão dos credores. Os títulos públicos gregos a dez anos ascendem a 9% de juros devido à sua falta de fidelidade financial perante um mundo financeiro só interessado nos lucros.
Muitos alemães não vêm com bons olhos a classe política grega e a corrupção que apadrinha. Na Grécia os produtos no mercado são demasiado caros; mas enquanto na Alemanha um iogurte pode estar nas prateleiras até 12 dias na Grécia só até seis. Uma diferença de mentalidade mais ou menos eficiente na produção: em dois anos o gabinete do governo alemão teve 98 sessões de trabalho enquanto o grego teve apenas 9, apesar da situação drástica em que tem vivido.
O BCE num acto de mea culpa já se tinha antecipado à Grécia
O BCE (Banco Central Europeu), apesar de muitas dores de ventre dos países nórdicos, já se tinha antecipado à mudança grega, tomando a decisão de fabricar euros baratos para apaziguar os mercados internacionais, e para poder dar resposta aos países em crise (Assim evitou a desconfiança dos bolsistas).
Os ministros das finanças da UE permaneceram calmos (A economia grega corresponde a 2% da zona Euro) e a Bolsa mostrou-se indiferente às eleições, registando até uma pequena subida. Isto aconteceu porque o BCE, já tinha prevenindo uma mudança radical na Grécia e tomou, antes das eleições gregas, uma decisão já há anos discutida e devida: o lançamento de 1,4 bilhões de euros até 2016, no mercado da zona euro, o que acalmou os investidores, dado o euro barato fortalecer a exportação e favorecer as economias do sul possibilitando a compra da dívida (títulos públicos) dos países mais deficitários.
Urge uma nova atitude nas relações entre UE e os seus membros!
O euro limitou a democracia na europa. Países e bancos doadores (Troika) só olharam para números o que se revelou um caminho falso. Não consideraram as diferentes economias nem as diferenças culturais entre o norte e o sul da Europa.
Os gregos viram na poupança a mãe do mal e votaram contra a política de austeridade, ditada pelo eixo Berlim-Bruxelas. Até agora, a Troika seguiu os interesses da plutocracia financeira; a Grécia poderia ser um toque a rebate para que apresse uma mudança de atitude em favor das populações europeias.
Tsypras provocará uma reflexão profunda e obrigará (com a esquerda europeia agora avisada e fortalecida) a Troika a fazer correcções ao sistema. Numa luta de díspares, pergunta-se apenas, por quanto tempo se manterá a exigência de uma política europeia para o povo? Na sociedade moderna, com velocidades económicas diferentes e com armas desiguais, torna-se impossível David vencer Golias.
Apesar das muitas vozes para que a Grécia saia do euro, a UE não o quer fazer e por isso agora invertem-se os termos: antes a Troika ditava as ordens, agora a Grécia obriga os grandes a sentarem-se à sua mesa. 80% dos alemães querem que a Grécia cumpra os acordos. Governos instáveis não atraem firmas. No fundo quem vai continuar a pagar as dívidas é o povo grego e o povo das nações do euro. No contexto de interesses divergentes dos diferentes países europeus, será difícil encontrar uma solução que consiga evitar prejuízos para os contribuintes dos países da UE.
Ângela Merkel, símbolo da mentalidade nórdica, quer ser solidária com o sul mas ver, em contrapartida reformas que levem a uma produtividade concorrente a nível mundial; a Chanceler pensa a nível da Alemanha e na construção de uma União Europeia forte, mas esquece que a política seguida pela UE favorece os mais fortes e embate com um mudo diferente, que não vem do frio onde se exigem arrecadações para se poder aguentar bem o Inverno, mas de sociedades soalheiras habituadas a viver na perspectiva do dia-a-dia. Encontram-se duas culturas diferentes que se deveriam apoiar, respeitar e aprender uma da outra sem se combaterem.
A UE precisa de um novo plano
Os peritos em economia e política são do parecer que a saída da Grécia do euro seria economicamente suportável mas politicamente muito problemática porque poderia provocar uma bola de neve.
Surgirá um novo plano em que se gaste menos em autoestradas e invista mais em firmas produtoras de trabalho e riqueza.
A questão das dívidas das nações permanecerá um busílis. Um corte directo das dívidas não será possível porque um país como Portugal teria de perdoar à Grécia centenas de milhões de euros devido ao crédito concedido, quando ele se encontra em situação também precária. Imagine-se que, no caso de perdão das dívidas à Grécia, só a Itália, também ela imensamente endividada, perderia os 40 mil milhões de euros emprestados.
A UE encontra-se num dilema. Sem o perdão de dívidas e sem reformas, o povo grego nunca se porá de pé. Além disso precisa de dinheiro emprestado para as reformas que pretende realizar.
Em vez disso, a Troika usará de instrumentos refinados para conseguir o mesmo efeito: recurso à inflação e, apesar de ela, manter o dinheiro barato (taxa inferior à inflação) com baixíssimas taxas de juros, o que corresponde a comprar tempo.
Entretanto, cada país terá de acertar o passo à concorrência dos produtos a nível mundial. Os custos por peça de trabalho são a directriz da concorrência. Quem produz pouco e produtos demasiado caros, perde a corrida desalmada numa competição global com países de salários imensamente desiguais. Portugal, com o Euro, perdeu a concorrência têxtil dos seus produtos em Portugal e na Europa, por não ter tecnologia preparada a produzir a peça ao mesmo preço da manufactura chinesa (Por aqui se vê que ao UE favorece os países com alta tecnologia e deixa aos outros a concorrência desumana que mais será acentuada por TTIP e TISA.
O euro barato corresponde a uma expropriação dos poupadores e da classe média, aquela que poupa. Na Alemanha, Merkel vê-se pressionada pelos poupadores que vêem o seu dinheiro nos bancos a derreter-se ao sol da inflação que os juros não cobrem.
Há muito dinheiro nos bancos mas estes dificultam créditos a empresas. Os bancos dos países terão de ser obrigados a conceder créditos às firmas em vez de jogarem com o dinheiro que recebem do BCE.
Só uma nova conferência reguladora dos empréstimos e da dívida poderá criar novas perspectivas no sentido de se fazerem investimentos na produção e no crescimento do trabalho e menos em autoestradas ou objectos de prestígio para políticos. A Troika tem concedido créditos aos Estados não se importando o que estes fazem com eles.
A modo de conclusão
Alexis Tsypras tem uma grande carreira à sua frente; faz-me lembrar José Manuel Durão Barroso que, à medida dos nossos revolucionários do 25 de Abril acomodados ao dinheiro e aos privilégios da classe política, foi ascendendo na escada do poder, subindo de chefe do partido maoísta PCTP-MRPP até ao cargo de 12º presidente da Comissão Europeia. Tradicionalmente, o povo precisa de acontecimentos e de pessoas que lhes dêem esperança, para esquecer as dificuldades do momento; o problema é que em cada mudança ou revolução os novos portadores de esperança se deixam corromper pelo poder, sem os eleitores o notarem, tal como aconteceu com a Grécia e com o 25 de Abril em Portugal.
O poder é assim; por isso todos devem participar dele para o tornar mais controlado e humano. Norte e Sul, Esquerda e Direita são os extremos do mesmo problema! No caminho do tempo as margens perdem-se num nome, tal como as razões do povo que as determinaram. Decisivo é praticar o bem andando direito e a direito. A União europeia encontra-se numa encruzilhada e na sala de operações para se poder levantar mais vigorada e continuar a seguir o caminho da libertação e da dignidade humana, sempre novo, mas já delineado pelos nossos antepassados.
Gostaria de saber que efeitos para os países da Europa e para a vida dos gregos traria a saída da Grécia da União Europeia
Desde a vitória do partido de extrema-esquerda, Syriza, que o tempo começou a passar mais depressa. O Syriza, recordemos, ganhou as eleições com um programa anti-austeridade, anti-troika, a falar de renegociação da dívida, de perdão de dívida, contra a União Europeia. A coligação com um partido obscuro de direita, Gregos Independentes, serve o propósito de reforçar a posição de desafio à Europa. Se este desafio for levado ao limite, como parece ter acontecido na primeira visita do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, resta à Grécia sair da União Europeia, o que nos dizem ser assustador, embora ninguém explique as consequências dessa saída. Para começo de conversa, gostaria de saber o que acontece à dívida se não houver acordo. Gostaria de saber que efeitos para a Europa e para a vida dos gregos traria a saída da Grécia. Gostava sobretudo que as explicações nos chegassem com mais objectividade. Penso que há aqui um trabalho jornalístico a fazer.
Tirando os aspectos de economia e finanças que não domino, resta um país e um povo que entendo ser diferente do nosso, com uma história conturbada, conflitos sangrentos e um modo de vida particular. Sempre que me falam de semelhanças entre nós, tento pensar no que nos une e não encontro muitos pontos em comum. Passar numa passadeira é de facto tão arriscado em Lisboa como em Atenas. Temos ambos azeite excelente, azeitonas maravilhosas e tomate que não sabe a plástico como na Alemanha. Muitas palavras em português são de origem grega. Como nós, os gregos produzem pouco e não têm uma indústria que lhes permita viver à larga. Têm monumentos e sítios únicos a que prestam pouca atenção, talvez porque Delfos fale por si.
Muito diferente é o modo de vida, confrontacional nas mais pequenas coisas. Vivi quase três anos em Atenas e não houve um dia em que não tenha tido uma discussão. Voltei para Portugal para descansar. A corrupção em Portugal é um problema grave, mas na Grécia é uma questão tão enraizada na sociedade que é difícil cortar com "hábitos" antigos. Li que a máquina fiscal continua tão ineficaz como antes da chegada da troika, o que me leva a pensar que a principal reforma está por fazer. Mas a diferença principal está na Grécia ter sofrido com a presença alemã no seu território durante a Segunda Guerra Mundial. Aldeias inteiras foram dizimadas pelos alemães e esta memória não pode estar outra coisa se não fresca. A Alemanha dizer aos gregos que têm de vender ilhas e património para pagar a dívida é uma humilhação insuportável. Eles são cristãos ortodoxos; nós somos católicos. Eles afirmam que a Grécia não é Europa; nós sabemos que somos europeus. Eles adoram Portugal; nós só não os criticamos se não pudermos. Isto para marcar diferenças substanciais.
Numa semana vimos o governo grego a tomar posições contraditórias, a recusar a troika num dia (Varoufákis) e a abrir a porta ao BCE e ao FMI no outro (Tsipras), o que me faz suspeitar da falta de orientação e estratégia. Talvez a Grécia consiga dar a volta por não estar certa do que está a fazer. Vejo na incerteza a possibilidade de negociação. Só espero que Alexis Tsipras não receba mais ninguém sentado todo torto num sofá a falar sobre o tempo.
Muitos esperam que do Syriza nasça uma alternativa de política económica, mas aquilo que o Governo grego se propôs executar é bem diferente – a ruptura profunda com os alicerces do liberalismo europeu
A esquerda europeia andou anos à deriva. Compreende-se, portanto, a sua euforia (nomeadamente em Portugal) face à vitória do Syriza, normal em quem acredita estar perante algo que nunca teve – uma alternativa às políticas de austeridade. Mas passada uma semana da eleição do novo governo grego, vai-se tornando incompreensível a aceitação acrítica das suas primeiras decisões que noutras circunstâncias fariam soar os alarmes.
Existe, logo à partida, um problema de expectativas. Muitos esperam que do Syriza nasça uma alternativa de política económica (sobre a gestão das dívidas dos países europeus e sobre o cumprimento das metas orçamentais). Mas aquilo que o Governo grego se propôs executar esta semana é bem diferente – uma ruptura profunda com os alicerces do liberalismo europeu. Aos microfones, Tsipras apresenta-se como salvador da democracia. Mas, na verdade, fez muito mais para nos convencer de que é um inimigo da liberdade. Isto porque, em apenas sete dias, sobressaíram dois inquietantes sinais de que o seu projecto político implica a fragilização das instituições europeias.
Comecemos pelo início: a coligação. Em menos de uma hora de conversações, Tsipras chegou a acordo para a constituição do Governo com o partido dos Gregos Independentes (Anel), oriundos da direita populista. À primeira vista, estranha-se a facilidade de entendimento entre dois partidos que se posicionam em polos ideológicos opostos. Depois, percebe-se. Tal como todos os partidos populistas europeus são anti-troika e anti-austeridade, Syriza e Anel estão unidos por essa causa. E não é porque consultaram os mesmos economistas: é porque o combate à austeridade é hoje a forma mais popular de abanar os alicerces das instituições europeias. O alvo do Syriza, do Anel ou, por exemplo, do Front National francês sempre foi este: romper com os princípios fundamentais (e forçosamente liberais) da União Europeia. Por isso, nada mais irrelevante que Syriza e Anel discordem sobre o resto. Já se sabe: o que une os revolucionários é a revolução, não o que se lhe segue.
O segundo sinal desta ruptura com os princípios europeus ficou concretizado com a espontânea aproximação de Atenas a Moscovo. No dia em que tomou posse como primeiro-ministro, Tsipras reuniu com o embaixador russo. Três dias depois, a Grécia opôs-se a novas sanções europeias à Rússia em reacção ao ataque das forças pró-russas em Mariupol. No dia seguinte, o ministro das finanças russo é entrevistado pela CNBC, afirmando a disponibilidade dos russos para financiar os gregos. A sequência de eventos fala por si.
Do ponto de vista táctico, a aproximação de Tsipras a Putin é um erro evidente, do qual cedo se arrependerá – tanto porque a Europa lida mal com as chantagens de Moscovo como porque a economia russa, à beira de uma recessão grave e a olhar com terror para a queda do preço do petróleo, mal se consegue financiar a si própria, quanto mais aos outros.
Mas maior erro é analisar-se a questão do ponto de vista da táctica. É que o que separa Bruxelas e Moscovo não cabe numa folha de excel – é todo um conjunto de valores, liberdades e princípios democráticos que está em causa. Muito do que nos define como sociedades livres (liberdade de expressão, de imprensa, de associação política) é uma miragem na Rússia de Putin. E se Tsipras concretizar essa aproximação à Rússia, estará inevitavelmente a afastar-se desses valores liberais.
Nesta fase, não é certo o que será mais inquietante. Se os sinais que vêm da Grécia. Se a cegueira eufórica com que têm sido recebidos, na esperança de que a onda alastre a Espanha por via do Podemos (que este fim-de-semana fez uma manifestação de força). Por enquanto, são apenas isso, sinais. E daí a interrogação que consta do título. Mas será bom para todos (gregos, espanhóis e europeus) que não se convertam em certezas.
Não é aceitável um governo cuja identidade se afirma pela recusa dos princípios da liberdade. Nem é aceitável que tal política tenha espaço no coração da nossa Europa.
Pela honra de quem se preocupa em pagar as dívidas que alguma vez possa ter contraído, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Por todos aqueles que se privaram de gastar, pouparam e emprestaram essas poupanças ao Tesouro grego, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pela culpa dos políticos gregos que esbanjaram dinheiros públicos na «compra» dos votos dos eleitores para se eternizarem no poder, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pelo combate à fuga ao fisco grego, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pela punição do desvio de verbas comunitárias de apoio ao desenvolvimento grego, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pela implantação de uma sociedade responsável, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pela retoma de políticas que não endividem mais as gerações futuras, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pela defesa da honra nacional grega, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pelo trabalho produtivo, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pelo sentido do dever perante o bem comum, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Por já não haver ricos para pagar qualquer crise, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Por todos os gregos independentes das benesses do seu Estado que brevemente vão falir, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Por todos aqueles que dependem do Estado Grego e brevemente vão ter de usar senhas de racionamento, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pela seriedade monetária e estabilidade dos preços na Grécia, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pelo senso comum, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pelo combate à irresponsabilidade, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
Pelo combate à demagogia e ao hedonismo, declaro que as medidas preconizadas pelo Syriza são irracionais.
A lei é favorável, para muitos trabalhadores até agora desprotegidos, porque não havia uma lei do salário mínimo que os defendesse e é desfavorável, para certas empresas que não podiam ou não queriam pagar mais. Segundo investigações recentes 13% dos trabalhadores recebem salários que estão abaixo de 8,50 €.
A lei comporta algumas excepções porque a Alemanha é muito diferenciada em regulamentos não só tarifários como também regulamentações de estado para estado e em certos sectores até de comarca para comarca.
Exceptuam-se desta regra trabalhadores que vêm do estrangeiro segundo a lei AentG (1) e alguns acordos colectivos com ordenados inferiores aos 8,5€/hora bem como certos casos específicos.
Estão exceptuadas também da lei do salário mínimo, pessoas menores de 18 anos sem diploma profissional (assim se pretende motivar os jovens a tirar uma profissão ou a estudar); excluem-se também da regra os desempregados de longa duração, estes, durante os primeiros seis meses, não têm direito ao salário mínimo (isto, segundo o legislador, para estimular patrões a dar emprego a quem se encontra desempregado há mais de um ano); exceptuam-se do salário mínimo também os voluntários e estagiários em formação. Também quem faz um estágio voluntário que não ultrapasse os 3 meses, não tem direito ao salário mínimo (cf. http://www.mindest-lohn.org/).
A partir de 1 deJaneiro de 2017,o salário mínimolegal passa a não comportar nenhuma restrição em toda a Alemanha. Quem se desejar informar mais concretamente pode telefonar para o Ministério do Trabalho para o número de telefone 030 60280028. Sobre o assunto informam também as Câmaras municipais, a Caritas, Consulados, Câmaras do Comércio e da Indústria, Sindicatos e outros.
A lei parte do princípio de que quem trabalha deve receber um salário pelo seu trabalho que chegue para cobrir as despesas do que precisa para viver com um mínimo de dignidade humana.
António da Cunha Duarte Justo
Como constato bastante desinformação sobre o assunto no Facebook, resolvi escrever este e outros artigos sobre o assunto e similares. Quem vem para a Alemanha deveria saber antes o que o espera, além de já ter algumas luzes em alemão. O domínio da língua é o pressuposto para a independência e sucesso.
ASSISTÊNCIA A PESSOAS IDOSAS ACAMADAS. Passo a referir um caso de empregadas que vêm do estrangeiro por um tempo determinado trabalhar para a Alemanha para assistir a pessoa idosas a viver na própria casa. Num caso em que me empenhei tratava-se de uma família com casa geminada pertencente a duas pessoas idosas (uma delas acamada). Contactei uma organização especializada em arranjar pessoas da Polónia e da Chéquia preparadas para a referida assistência. No caso a pessoa tinha um quarto na casa e cuidava de tudo, tendo direito a estadia e alimentação e a receber 1700 €. Se se tratasse de uma só pessoa a ser assistida, seriam 1500€ mensais. Na Alemanha muitas pessoas não querem ir para o lar de idosos e socorrem-se desta medida. O Seguro de Assistência a idosos ajuda a suportar os custos. Devo dizer que a organização era séria e legal.
Nem todas as propostas da tal PAAC foram charadas difíceis, até me senti de bem comigo, porque me pareceu ter acertado em algumas, em pouco tempo, como demonstrei, em alarido de satisfação, no domingo, no café das 10 horas, à minha irmã e à minha/nossa amiga, (aliás mais dela – da minha irmã – do que minha, o que já em tempos esclareci, com direitos de prioridade antiga, zambeziana por excelência e saudosismo, cujas memórias as fotos a branco e preto ajudam, por vezes, a recuperar.
A charada, por exemplo, que segue, item nº 5 da prova, era de caras, e só podia ter como resposta a alínea D, como revelei, com prazer lúdico, à mesa, sobre um guardanapo da casa e a caneta em acção:
Item 5- A Júlia saiu de casa para visitar uma amiga: andou 1 km para oeste, 500 m para noroeste, 300 m para oeste, 500 m para sudeste e, por último, 1 km para sul. Para voltar a casa pelo mesmo caminho, a Júlia necessita de andar:
(A) 1 km para sul, 500 m para sudoeste, 300 m para oeste, 500 m para nordeste e 1 km para oeste. (B) 1 km para sul, 500 m para sudeste, 300 m para oeste, 500 m para noroeste e 1 km para oeste. (C) 1 km para norte, 500 m para nordeste, 300 m para este, 500 m para sudoeste e 1 km para este. (D)1 km para norte, 500 m para noroeste, 300 m para este, 500 m para sudeste e 1 km para este.
Outra proposta foi a dos feijões, justificativos da crise com que nos debatemos, embora com excepções de vulto:
Itens 11 e 12
A Ana, o João, a Patrícia e o Miguel vão jogar o «Jogo dos feijões». Cada jogador começa com o mesmo número de feijões. Durante o jogo, cada jogador pode perder ou ganhar feijões. O vencedor é aquele que, no final do jogo, tem mais feijões. No final do jogo, apurou-se o seguinte: o João tem o maior número de feijões; a Ana tem o dobro dos feijões do Miguel; a Patrícia tem metade dos feijões do Miguel.
11.
Qual foi o jogador que ficou em terceiro lugar neste jogo? (A)Patrícia (B)Ana (C)Miguel (D)João»
A mim deu-me , o João em 1º lugar, naturalmente, em 2º, a Ana, em 3º o Miguel e em 4º lugar a pobre da Patrícia, sendo a alínea C) Miguel, a minha resposta.
12.
Qual das opções contém a expressão e o número que completam corretamente a frase seguinte?
Se a Patrícia ficou com 4 feijões no final deste jogo, pode afirmar-se que o João terá ficado,
/(A) exactamente; 16 - (B) exactamente; 17 - (C) no mínimo; 17 - (D) no mínimo; 16/
Respondi: (C No mínimo com 17 feijões.
Pareceram-me de caras, mais, no entanto, a dos feijões, habituada que estou a usá-los na sopa (especialmente os da lata, do agrado do Bruno), ou no cozido à portuguesa, secos, que ponho de molho, antes. Mas embirrei com a dos aviões: charada maçuda, comprida, remexida como o rabo do lagarto do rabo cortado, que é rabo para aquém do lagarto: remexidamente, o que nos assusta e desgosta. Para mais, um enunciado pretensioso e mastigado, próprio apenas para quem conheça os aviões por dentro, o que não julgo que seja coisa comum, pelo menos entre os professores com poucos anos de curso, salvo se pertenceram ao Processo de Bolonha.
Eis a charada dos aviões, de que resultaram as explosões de descortesia da minha amiga, que muito deplorei, cortês que sou, embora a minha irmã também alinhasse na crítica, até porque já lera o artigo do Vasco Pulido Valente – “A estupidez à solta”, saído no Público de 30/1, com que Pulido Valente reiniciou a sua actividade, após um estranho interregno, que nos afundou em escuridão.
Mais parece, a dos aviões, romance neo-realista de outros tempos, comprovativo dos desníveis sociais ainda existentes, com diferenciação nos espaços para as pernas, incompreensíveis numa democracia de igualdade de direitos, que se conquistou em espalhafato festivaleiro, não merecedora de tais discrepâncias actuais em relação às pernas e à dimensão dos espaços sentados:
Itens 8 a 10:
Uma companhia aérea transporta passageiros em classe económica e em classe executiva. As filas de A a C, com dois assentos de cada lado do corredor central, pertencem à classe executiva. A classe económica é composta pelas filas de D a M. De um lado do corredor, cada uma destas filas tem dois assentos. Do outro lado do corredor, cada fila tem três assentos, com excepção das filas G, H e I, que não existem nesse lado do corredor. Existem quatro saídas de emergência, duas sobre as asas, entre as filas J e K, e duas no topo da classe executiva, antes da fila A. Com esta disposição, os passageiros sentados nas filas D e K têm mais espaço para as pernas do que os restantes passageiros que viajam em classe económica. Todos os lugares em classe executiva têm mais espaço para as pernas. Os preços dos lugares variam de acordo com o voo e a classe pretendida.
8.
Num determinado voo, a classe executiva está completa e cada bilhete custou 300 euros. Dos lugares em classe económica, apenas seis ficaram por vender e cada bilhete custou 200 euros.
Fascinada com a questão dos espaços para as pernas, naturalmente em pânico de claustrofobia, nem me dei ao trabalho de tentar resolver, para mais baralhada com a distribuição das cadeiras e das pernas, que nem Hercule Poirot se daria ao cuidado de decifrar. Mas o problema continuou, com o alarde próprio de quem costuma singrar nos ares, tal como fizeram outrora os nossos antepassados nos mares, embora com muito mais incomodidades do que essas das pernas, coitados:
9.
Em classe económica, os apoios de braços entre as cadeiras podem ser levantados, excepto nos lugares com mais espaço para as pernas. Quando o voo não está cheio e as condições atmosféricas são favoráveis, é permitido levantar estes apoios e esticar as pernas sobre duas ou três cadeiras. No máximo, quantos passageiros poderão usufruir desta vantagem?
(A) Dezassete; (B) Treze; (C) Oito; (D) Quinze»
Todavia, acho execranda essa possibilidade de esticar as pernas sobre outras cadeiras, conquanto não duvide da imaculada limpeza das ditas numa viagem de tal envergadura aérea.
10.
No plano de evacuação do avião, está previsto meio minuto, em média, para evacuar um passageiro por uma saída de emergência. A cada lugar corresponde uma saída de emergência, determinada pela fila e pelo lado do corredor. Num certo voo, viajam 20 passageiros nas seis primeiras filas do avião, metade de cada lado do corredor.
Em caso de necessidade, estes passageiros terão de ser evacuados pela saída de emergência localizada no topo da classe executiva. Os 25 passageiros que viajam nas restantes filas, 12 de um lado do corredor e 13 do outro lado, serão evacuados pela saída de emergência que está localizada sobre a asa do avião.
As quatro saídas de emergência funcionam em simultâneo. Quanto tempo está previsto demorar a evacuação dos 45 passageiros deste voo?
(A)22 min 30 s; (B) 22 min 50 s; (C)6 min 30 s; (D)6 min 50 s.
A minha amiga não aguentou tanta pressão causada pelo problema da evacuação do avião, receosa de que este explodisse antes da evacuação total e ela própria explodiu:
- Um tipo que promove tal enormidade parece maluquinho. Coisa tão estranha aquilo que inventa! O homem não está bom da cabeça!”
Eu ainda quis defender o Nuno Crato, desresponsabilizando-o da elaboração da prova, mas também me senti paralisada com a tragédia da evacuação, que nem os examinandos poupa, os quais. antes de estarem ali, já tinham feito os cursos e os estágios competentes, só lhes faltando a prática lectiva que decorre no tempo e na aplicação.
E a minha irmã concluiu piedosamente:
- Coitados dos professores assim humilhados por quem tem a faca e o queijo na mão para lhes cortar as pernas! O Vasco Pulido Valente tem toda a razão.
E estendeu-me o artigo, que leio já em casa, pois esgotara-se o nosso tempo de café. E, claro, Vasco Pulido Valente aponta mais algumas anomalias da prova, a charada dos futebóis, por exemplo, item 6, que não podiam faltar no nosso panorama cultural, mesmo ao nível de um exame. Para além do tal alarido em torno dos erros ortográficos que Pulido Valente não aceita que se condenem, na flutuação de uma ortografia acéfala, criada na penúria e na subordinação.
A ESTUPIDEZ À SOLTA
Vasco Pulido Valente
30/01/2015
Dezenas de analfabetos que gostam de se dar ares fizeram um escândalo com o aparente excesso de erros de ortografia, pontuação e sintaxe dos 2490 professores que se apresentaram à “Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades” (PACC). Deus lhes dê juízo.
Para começar, não há em Portugal uma ortografia estabelecida pelo uso ou pela autoridade. Antes do acordo com o Brasil – um inqualificável gesto de servilismo e de ganância –, já era tudo uma confusão. Hoje, mesmo nos jornais, muita gente se sente obrigada a declarar que espécie de ortografia escolheu. Pior ainda, as regras de pontuação e de sintaxe variam de tal maneira que se tornaram largamente arbitrárias. Já para não falar na redundância e na impropriedade da língua pública que por aí se usa, nas legendas da televisão, que transformaram o português numa caricatura de si próprio; ou na importação sistemática de anglicismos, derivados do “baixo” inglês da economia e de Bruxelas.
De qualquer maneira,a pergunta da PACC em que os professores mais falharam acabou por ser a seguinte: “O seleccionador nacional convocou 17 jogadores para o próximo jogo de futebol (para que seria?). Destes 17 jogadores, 6 ficarão no banco como suplentes. Supondo que o seleccionador pode escolher os seis suplentes sem qualquer critério que restrinja a sua escolha, poderemos afirmar que o número de grupos diferentes de jogadores suplentes (é inferior, superior ou igual) ao número de grupos diferentes de jogadores efectivos.” Excepto se a palavra “grupo” designar um conceito matemático universalmente conhecido, a pergunta não faz sentido. Grupos de quê? De jogadores de ataque, de médios, de defesas? Grupos dos que jogam no estrangeiro e dos que, por acaso, jogam aqui? Não se sabe e não existe maneira de descobrir ou de responder. O Dr. Crato perdeu a cabeça.
Na terceira pergunta em que os professores mais falharam, o dr. Crato agarrou nas considerações tristemente acéfalas de um cavalheiro americano sobre “impressão e fabrico” de livros. Esse cavalheiro pensa que há “livros em que a beleza é um desiderato” (ou seja, a beleza do objecto) e outros “em que o encanto não é factor de importância material” (em inglês, “material” não significa o que o autor da PACC manifestamente julga). E o homenzinho acrescenta pressurosamente: “Quando tentamos uma classificação, a distinção parece assentar entre uma obra útil e uma obra de arte literária”. A obra de arte pede beleza ao tipógrafo (ao tipógrafo?), a obra útil só pede “legibilidade e comodidade de consulta”. Perante este extraordinário cretinismo, a PACC exige que os professores digam se o “excerto” “ilustra” os dois termos de uma comparação, o primeiro, o segundo ou nenhum deles. Uma pessoa pasma como indivíduos com tão pouca educação e tão pouca inteligência se atrevem a “avaliar” alguém.