A antecipação que o «i» fez da entrevista que hoje (7FEV15) à Ministra da Justiça causou grande alarido.
Em causa, uma crítica à forma como o PS tem gerido o processo Sócrates com a frase: “Temo pela separação de poderes se o PS ganhar as eleições.”
Os socialistas ficaram indignados e, pasme-se, um comentador chegou a pedir a demissão de Teixeira da Cruz.
Estados de alma à parte, tentemos analisar a questão de forma objectiva.
Comecemos pelo historial recente dos socialistas em matéria de justiça.
Caso Casa Pia
Prisão preventiva de Paulo Pedroso, ex-ministro, alto dirigente do PS e braço-direito do então secretário-geral, Ferro Rodrigues.
O que fez o PS?
Ferro falou numa tentativa de decapitação política da direcção do partido e pediu a intervenção do Presidente da República (o também socialista Jorge Sampaio, que chamou o Procurador Geral da República Souto Moura a Belém).
António Costa, então líder parlamentar e ex-ministro da Justiça, falou com Souto Moura e negociou a entrega de Pedroso.
E todos os socialistas com contactos na justiça activaram os seus canais de comunicação.
Descobriram que Paulo Pedroso tinha estado sob escuta – legitimamente, refira-se, já que as escutas foram validadas por um juiz de instrução criminal.
O que fez o PS de José Sócrates quando chegou ao governo em 2005?
Criou uma Unidade de Missão liderada por Rui Pereira (o PGR favorito de José
Sócrates para substituir Souto Moura) e fez uma reforma penal em 2007 marcada descaradamente pelo caso Casa Pia.
Entre outras alterações, passou a ser expressamente proibido a comunicação social divulgar escutas telefónicas sem autorização dos visados.
Mais:
- Quaisquer escutas telefónicas ao Presidente da República e ao primeiro-ministro teriam de ser autorizadas e validadas pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
Processo Face Oculta
Recordemos agora o que aconteceu no processo Face Oculta.
O primeiro-ministro, José Sócrates, foi alvo de escutas telefónicas fortuitas e considerado suspeito de crimes graves por um procurador da República.
Como manda a lei feita pelo governo Sócrates, enviou uma certidão para o então Procurador Geral, Pinto Monteiro, para abertura de um inquérito e solicitou a validação das respectivas escutas telefónicas junto do Presidente do STJ.
O que aconteceu?
Não houve inquérito, Pinto Monteiro e Noronha de Nascimento destruíram as escutas, esconderam o processo administrativo que abriram e impediram qualquer tipo de escrutínio das suas decisões.
Ainda hoje não sabemos o que aconteceu.
Processo Sócrates
Falemos agora do Processo Sócrates.
Praticamente em todas as cartas da prisão, José Sócrates ameaça deliberadamente, como sempre fez com tudo e com todos (é o seu modo de vida, aliás), vingar-se do juiz que o mandou prender, do procurador que o investiga e da comunicação social que faz notícias sobre o caso.
Mário Soares, autêntico porta-voz de Sócrates, faz muito mais.
Depois de várias ameaças veladas, afirmou: - “O juiz Carlos Alexandre que se cuide.”
Eis uma frase que faz sentido na boca de um personagem do filme “O Padrinho” mas não na boca do fundador de um partido como o PS e do nosso primeiro Presidente da República civil.
O que fez ontem o PS pela voz do deputado Jorge Lacão?
Defendeu a liberdade de expressão de Mário Soares em vez de, como partido democrata que é, se afastar claramente de afirmações que podem configurar a prática de um crime de coação de um juiz de direito, isto é, de um titular de órgão de soberania.
As declarações de Lacão são vergonhosas para um partido hoje liderado por um político que foi ministro da Justiça.
António Costa tem a obrigação de ordenar ao PS o afastamento claro das declarações de Mário Soares. Não por Soares, que está altamente descredibilizado, mas sim para mostrar que o futuro governo do PS respeitará sempre a separação de poderes.
Voltemos ao início.
O PS tem uma relação saudável com a separação de poderes?
Sim, se as investigações não recaírem sobre dirigentes socialistas.
Quem derrotou o Syriza não foi a pressão da Alemanha, foi o medo que o Syriza tem dos gregos, a quem mentiu e enganou para ganhar as eleições.
Já todos sabemos o que conseguiu o Syriza: em vez da troika, passou a haver "instituições"; em vez do programa, "acordo"; em vez de credores, "parceiros"; em vez de austeridade, "condições".
Enfim, a transfiguração semântica servirá para muita coisa, mas não chega para esconder que o Syriza enganou os gregos, quando, para ganhar as eleições, prometeu que bastava dar dois berros à Merkel para tudo se tornar fácil. Agora, como todos os mentirosos, resta-lhe continuar a mentir, recorrendo ao delírio verbal consentido pelos seus parceiros europeus para inventar "batalhas ganhas" em guerras perdidas.
Na Grécia, à esquerda e à direita, já muita gente percebeu a "ilusão" encenada por Tsipras e Varoufakis. Manolis Glezos, o patriarca do Syriza, com um sentido da decência que os seus correligionários mais novos não têm, pediu entretanto as devidas desculpas ao povo grego. Há quem diga que ficou tudo na mesma. Não, tudo ficou muito pior, porque o circo do Syriza deixou a Grécia mais isolada, mais desacreditada, mais fraca, e mais longe da recuperação económica. O saldo orçamental primário, por exemplo, já desapareceu. Com inimigos destes, a troika não precisa de amigos.
No exterior, o clube de fãs do Syriza vai tentar fingir que este foi apenas mais um caso de prepotência alemã. Não foi nada disso. A Grécia não é um país ocupado e não estamos no século XIX. Ninguém iria bombardear Atenas para forçar o pagamento da dívida, como aconteceu ao Egipto em 1882. Então, porque é que o Syriza não ousou romper as negociações, renegar a dívida, sair do euro, afirmar a soberania, e em vez disso se submeteu a um acordo duríssimo? Não foi por causa da "pressão europeia", mas porque teve de reconhecer que não existe na Grécia uma maioria para romper com a União Europeia, o euro, o "capitalismo" e a "democracia burguesa", como desejariam os revolucionários da extrema-esquerda.
Na Europa do sul, os que têm imediatamente a perder com uma revolução são a maioria, ao contrário do que acontece, por exemplo, na Venezuela, o país-modelo do Syriza. A hemorragia de dinheiro dos bancos foi um sinal da pouca inclinação da Grécia para sacrificar as suas poupanças e patrimónios numa aventura fora da União Europeia (desde o começo da crise, os depósitos em relação ao PIB já caíram de 131% para 77%). O Syriza cedeu porque teve medo do que lhe fariam os gregos se por acaso Varoufakis voltasse a casa para anunciar uma desvalorização de 50% sob a forma de um novo dracma. A alternativa foi chamar "instituições" à troika.
O truque dos contestatários do ajustamento e das reformas na Europa do sul tem sido o de fingir que toda a população está com eles. Não está. É óbvio que ninguém gosta de cortes e pouca gente está entusiasmada com mudanças. Mas também é óbvio que quase toda a gente sabe que as alternativas são piores. Os programas de assistência evitaram bancarrotas e pouparam os vários países a tormentos muito maiores do que os que infligiram. É por isso que, apesar de todas as dificuldades, a Grécia aguentou cinco anos de troika, e agora, com o Syriza, preferiu continuar sob as "instituições" (para usar o novo vocabulário grego).
No passado, ajustamentos do tipo que a Grécia experimentou deram resultados rapidamente, como sucedeu em Portugal a partir de 1985. Agora, não. Há quem explique a dificuldade pelo modo como a zona euro funciona, impedindo desvalorizações e não prevendo transferências entre países. Com todo o respeito, parece-me que não é bem essa a questão: transferências há, o que não há é muita vontade de efectuar o equivalente interno das antigas desvalorizações da moeda e muito menos ânimo para sanear e modernizar administrações, ou abrir e flexibilizar mercados. Por isso, a inflação, com a sua "ilusão monetária", continua a parecer a muitos especialistas indispensável para restaurar a competitividade de países como a Grécia.
O problema da Grécia é que não deseja voltar à desvalorização e à inflação, mas não conseguiu ainda organizar-se para existir de outra maneira. A questão é fundamentalmente política: não há, na classe dirigente, muita gente disponível para se comprometer num projecto reformista. Em França, Hollande teve de recorrer ao poder presidencial para fazer passar a lei Macron, de modo a dispensar os deputados socialista de sujarem as mãos em reformas.
As classes dirigentes falharam, mas o seu falhanço serviu mais uma vez, no caso da Grécia, para tornar manifesta a insustentável irrelevância da chamada "esquerda radical", a quem a crise emprestou um simulacro de vida. Não há revoluções grátis. Por isso, no mundo actual, onde não há petróleo, não há revolução. Até o Podemos, em Espanha, parece não dispensar o dinheiro venezuelano. Sem rendimentos petrolíferos, a "esquerda radical" não é mais do que retórica, colarinhos abertos, cachecóis – e mentiras.
Maria Luís Albuquerque é uma figurinha que se tem imposto pela serenidade e firmeza das suas respostas quando é confrontada com as opiniões geralmente excitadas dos que discordam das políticas do Governo. E esses e essas, que ganharam novas forças com a vitória dos camaradas gregos de cor, têm-se esforçado por destruir o bom nome do seu país, que preferem caloteiro, e não olham a meios na sua aparente preocupação pelos que mais sofrem e até são forçados a sair dele em busca de sobrevivência. Não lhes importam as boas notícias sobre os frutos das políticas que os ministros trazem à ágora, troçam despudoradamente e sem educação dos governantes pacientes, pelejando em desgrenhadas vozes pela sua dama – a da ideologia do sentimento, que já estava inserida no nosso fado antigo do coitadinho/inha e na versão trocista do agradecimento humilde do “òbrigadinho é o que eu lhe desejo”.
O certo é que as alfinetadas velhacas sobre a posição de subserviência de Passos Coelho face ao estrangeiro, donde nos veio o pão, que ele pretende pagar, como pessoa honrada, colheram adeptos, na imprensa alemã também, que, ao que parece, se referiu ao posicionamento de dureza do nosso ministro e da nossa ministra das Finanças, relativamente à questão do financiamento europeu dos gregos.
E o Sr. Varoufakis assim o entendeu, pois não deixou de o apontar, em falsos sorrisos de falsa compreensão dessa dureza, sugerindo atitudes rasteiras de vilões pobrezinhos que já passaram pelo mesmo e não são solidários com o problema dos outros.
Custa-me a crer que assim tenha sido da parte de Maria Luís Albuquerque, que se defende afirmando que nem uma vírgula mudou às exigências do euro-grupo.
Acredito nela. E a imagem de Varoufakis, contorcendo o tronco, a cabeça altiva ditando ditirambos sardónicos de alegre mistificação, não de louvor mas de chufa, lembrou-me o galo emproado do galinheiro, em torno das frangas desprotegidas, soltando o seu cocorocó dominador.
Foto: Santo Antonio de Lisboa (Florianópolis). Arquivo pessoal da autora
Uns dos primeiros colonos europeus a deitar raízes e marcar terreno no solo deste imenso país foram os açorianos. A principio individual e esparsamente, e mais tarde em levas migratórias colonizadoras, planeadas pelo reino, que se espalharam desde o norte (Maranhão, Amazonas) ao sul do país, mais notadamente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde a presença açoriana foi mais numerosa e evidente.
Os colonos começaram a chegar a Santa Catarina a partir do ano de 1748. Eram grupos de casais e aparentados fugidos de desastres naturais (em geral erupções vulcânicas) e da superpopulação que lhes traziam nas ilhas dos Açores crises de subsistência. As viagens e primeiras acomodações eram patrocinadas pelo Estado Português que precisava, por sua vez, ocupar o território e defender suas fronteiras americanas dos espanhóis. As promessas governamentais (D. João V) de lhes dar apoio financeiro, parcelas de terra, apetrechos agrícolas, umas poucas vacas e um asno, choupanas para abrigo e assistência no primeiro ano de Brasil, nem sempre foram cumpridas. Ao chegarem numa terra estranha, idealizada pelas quiméricas histórias de fartura e riqueza, de luxuriante beleza, mas ocupada por florestas cerradas e índios hostis, sem condições de habitação decente, seus ânimos, já abatidos pela crueza e insalubridade da viagem, arrefeciam. Ingénuos, rudes, crédulos, no entanto pressentiam que era uma viagem sem volta. Teriam pela frente uma nova epopeia, a da sobrevivência.
Saíram dos Açores para Santa Catarina de 1748 a 1752 cerca de 6000 pessoas. Entre as viagens e as iniciais dificuldades na Terra, supõem-se que perto da metade tenha perecido. Esses primeiros colonos sobreviventes foram distribuídos no Desterro (antiga capital de Santa Catarina), Lagoa da Conceição, na enseada do Brito, São José e Laguna. Em Porto Alegre (Porto de Dornelas) até 1752 estabeleceram-se 60 casais. Aí a terra foi favorável ao cultivo do trigo, feijão, milho, cevada, vinha, cânhamo, etc. Construíram moinhos e azenhas. Criaram gado, miscigenadamente, formaram estâncias, fizeram-se tropeiros, abriram caminhos para outros lugares.
Em Santa Catarina, a terra arenosa não favoreceu ao cultivo do trigo, aprenderam então com o índio a consumir a mandioca (mansa) no lugar desse cereal. Novas técnicas de artesanato, pesca e cultivo adquiriram. A vinha, o algodão, o linho tiveram algum sucesso apesar dos recrutamentos militares periódicos que desviavam os homens das actividades agrícolas. As lutas pela sobrevivência foram longas e intensas. Tiveram que se adaptar, superar dificuldades e deficiências, distâncias, faltas e doenças. Mesmo assim, quase esquecidos, colocaram em acção a tecnologia que trouxeram consigo. Construíram embarcações, engenhos e teares, abriram clareiras na mata, plantaram a vinha e os alimentos para subsistência. Levantaram casas, fabricaram louça, cestos e panos. Introduziram a renda de bilro, caçaram a onça que comia seu rebanho, tendo seus cães como fiéis companheiros (daí a grande quantidade de cães que ainda vagueia pela ilha de Santa Catarina), e a baleia para produzir óleo usado nas construções e como combustível. Enfim, fundaram vilas, projectaram fronteiras, fizeram revoluções, quiseram até ser um outro país!
Apesar do analfabetismo que nos primórdios medrava entre eles, passaram sua cultura, costumes e crenças, religiosidade, gastronomia e identidade para seus filhos. Apegados à família, ciumentos de suas mulheres, mesmo na pobreza e com as limitações que a terra e a política lhes impuseram, fizeram-se felizes e hospitaleiros.
Os mais aventureiros partiram para o sudeste e centro-oeste onde o ouro e as pedras preciosas, atractivas, reluziam. Muitos sucumbiram nas picadas e nas contendas, pela vida e pela fortuna, em busca do El-dourado. Os bem sucedidos enriqueceram, transformaram-se em grandes fazendeiros, latifundiários, chamaram amigos e parentes, daqui e/ou de além-mar, e com aventureiros de outras plagas, fizeram no interior brasileiro uma nova casta de gente que por largo tempo dominou a política das terras sertanejas.
Os que ficaram no Desterro agruparam-se, formaram famílias que se dispersaram em pequenos sítios e áreas. Isolados, agregados por natureza, as uniões entre essas famílias cada vez mais aparentadas deixavam a cada geração mais sequelas. A consanguinidade determinava nascimentos de crianças com maior número de deficiências físicas e mentais.
Mas os tempos rolaram, os séculos se sucederam, as contendas apaziguaram. Os caminhos melhoraram, por terra e por mar o espaço foi cada vez mais conhecido e pelo estrangeiro nacional (paulista, rio-grandense do sul e mineiro,...) e internacional visitado, (inglês, uruguaio, argentino,...). Santa Catarina viu os colonos imigrantes italianos, alemães, polacos, russos, chegarem e fazerem das suas terras focos de beleza e prosperidade.
Hoje, os descendentes dos primeiros colonizadores açorianos, os manezinhos da ilha, podem ainda ser encontrados nas pequenas comunidades de Florianópolis e algumas regiões costeiras de Santa Catarina. Porém, essa pequena população de “nativos” já se encontra em vias de extinção pelas miscigenações genéticas e culturais actuais, e pela voraz expansão imobiliária que, apesar das leis ambientais, nem sempre respeitadas, vem desde 1960 assolando a capital do Estado, expulsando o nativo de seu resguardado habitat, degradando impunemente a natureza e ocupando áreas que deveriam ser de preservação ambiental. Resultado da conhecida má política que só vê os ganhos pecuniários imediatos para um pequeno grupo de fortes proprietários, e que despreza o futuro de qualidade para o restante da comunidade ilhoa.
Morros desbastados da sua natural cobertura verde, ocupados perigosamente por construções levantadas em áreas de risco, com a complacência irresponsável da autoridade pública, vias congestionadas por gente deseducada que joga lixo nas praias e estradas, poluindo o visual e o meio ambiente, violência urbana crescente, cada vez mais incontrolável, é o panorama que se vislumbra em Florianópolis actualmente. Urge que haja políticas inteligentes e políticos eficientes que promovam o desenvolvimento seguro e sustentável desse rico património da natureza. “Enquanto houver algum recanto paradisíaco guardado por um “manezinho” risonho e pescador, enquanto ainda sobrarem locais intocados pelo homem “civilizado” e” empreendedor” a Ilha de Santa Catarina merece ser apreciada.
Terror de ideologias camufladas sob o pretexto da religião e da liberdade quando a estratégia é dominar o outro.
Com o atentado de Paris, o Islão não foi insultado, quem foi insultada foi a humanidade, a dignidade e a liberdade humana. A instituição não sofre, quem sofre são as pessoas sejam elas islâmicas ou não. Neste atentado há vítimas humanas e elas é que se devem recordar e defender. Ao defendermos o Islão ou Charlie estamos a esquecer as vítimas de um lado ou do outro. A vida e a dignidade humana é que devem estar no centro da discussão e acima de cada instituição seja ela religiosa ou secular.
Se libertarmos o homem libertamos a religião, se defendermos a dignidade individual deste modo está defendida a liberdade religiosa. Ao defender-se a dignidade humana como bem superior a tradições e instituições, contribuiremos para um diálogo construtor de paz, solidariedade e libertação humana e com esta para a disciplinação das instituições.
Somos uma sociedade com pessoas e grupos a andar a diferentes velocidades e cada um construindo a sua felicidade na demarcação de tempos e regiões como forma de sentir o próprio existir; é isto que provoca detritos e desgastes… o problema vem da afirmação de um em relação ao outro, de se procurar construir uma identidade baseada na diferenciação cultural e ideológica.
Foi atacado um grande símbolo da liberdade duma França não só laica mas também jacobina. Foi também atacada a liberdade universal, um direito humano fundamental muito embora fosse, também ela, símbolo de um tempo ideológico parado que legitima a própria posição no poder atacar a outra. Na discussão é manifestamente calada a luta provocante de um radicalismo esquerdista contra a religião. Se antes o Estado (para desenvolver a própria identidade se serviu da religião, hoje o estado laico procura afirmar a sua servindo-se da ideologia materialista ateia) antes era aliado da Igreja hoje tornou-se em seu contraente aliando-se à ideologia esquerdista secular ateia. A guerra destes contra tradições religiosas observa-se não só depois da república mas ganhou força com a centralização do poder em Bruxelas (UE). A Europa precisa naturalmente do vitalismo religioso e secular mas não na contraposição de uns contra os outros. A “César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, não podendo a ideologia secular açambarcar para si também o lugar de Deus.
No atentado de Paris, temos aqui dois agressores ociosos cada um defendendo o seu tempo e a sua geografia, não notando que o espírito motivador é o mesmo e o dilema está nas diferentes velocidades do mesmo veículo. Uns foram vítimas do fanatismo religioso, por vezes, encoberto por representantes e defensores da instituição religião e outros foram mortos em nome de uma liberdade defensora do regime secular que não para de provocar os muçulmanos como se viu no Iraque, Afeganistão e norte de África. Violência em diferentes nomes e com diferentes graus de gravidade encobre a violência escondida entre exploradores e explorados.
Este atentado irá fanatizar, amedrontar e legitimar medidas mais controladoras da autoridade estatal em relação aos cidadãos; irá prolongar o abuso e exagero do mundo secularista contra os heterodoxos do seu sistema; isto pretendem os extremistas por trás de Charlie, de al Qaida e as elites de uma preponderância americana, todos interessados em dividir para mandar. A estratégia é a mesma: numa massa anónima à disposição, uns combatem em nome de Deus, outros em nome da liberdade ou de interesses económicos.
As leis do Ocidente cada vez se tornam mais apertadas e, assim, a nossa sociedade se torna cada vez mais igual à deles e protela a consciência de uma subtil exploração. Enquanto nos distraímos com palavras e não agimos com boas obras vale tudo usando, uns e outros, como seu melhor meio de auto afirmação, o ataque.
No meio de tudo isto, o cristão sente-se chamado à liberdade e à paz, mesmo contra o próprio ponto de vista, mas por outro lado sofre ao constatar que quem ganha é o violento, porque as massas são conduzidas por estes.
Portugal terá de estar atento para se não tornar em lugar de trânsito para extremistas. Importante será observar os movimentos salafistas e grupos apoiados pela Arábia Saudita (construção de mesquitas) defensora da corrente fundamentalista wahabita. Atrás de estabelecimento de relações económicas junta-se o contrabando de ideologias. Uma premissa nos deve levar à contenção na discussão: Portugal, com 0,4% de muçulmanos, não tem razão para alarmismos e entretanto o Islão renovar-se-á.
António da Cunha Duarte Justo
(1) Como tudo elabora a sua razão em nome do bem contra o mal, o passo consequente e imediato é a luta, a luta dos melhores contra os piores; como cada qual só conhece o miradouro da sua verdade, não há verdade mista, os maus são os outros. Tudo luta pela sua verdade e pela sua paz e por isso divide a realidade em duas partes: a verdadeira e a falsa, a boa e a má, a nossa e a dos outros; este facto faz de todos delinquentes, uns em relação aos outros. A guerra passa a ter razão porque esta nasce na cabeça; como cada um quer o melhor, torna-se lógica a luta pela vitória do “bem”.
O insuspeito “Le Monde” (ed. 21-22 Fev), um jornal conotado com a esquerda, comenta com este título o resultado da reunião do Eurogrupo de sexta-feira "Entre Bruxelles et la Grèce, un accord sans confiance", sublinhando " A atitude do Sr. Varoufakis, ministro grego das finanças, reúne a desconfiança dos seus homólogos", o que é sintomático do modo como se processaram as negociações. Estas, de acordo com aquele jornal francês, foram difíceis, dada a inexperiência e o estilo do novo poder grego que irritaram os europeus. Com efeito, sublinha o "Le Monde", o estilo Varoufakis não passa. A sua atitude arrogante caiu mal junto dos seus homólogos da união monetária.
Mais interessante, porém, é leitura da edição inglesa do jornal grego “Ekthamirini” A chave está aqui, creio eu: "Tsipras blinked on Friday night when it became clear that a bank run was gathering pace and capital controls would need to be imposed within days unless he did a deal with his euro zone creditors. The government itself would have gone bust in weeks" (ver http://www.ekathimerini.com/4dcgi/_w_articles_wsite3_1_22/02/2015_547541).
Mais. Desmentindo claramente a ideia de uma vitória para os gregos ou das perspectivas do copo meio vazio ou do copo meio cheio ou, ainda do que na Teoria dos Jogos se chama o equilíbrio de Nash, o PM grego teve de aceitar virtualmente tudo o que os seus credores, liderados pela Alemanha, exigiram. Não obstante Atenas obteve garantias firmes para uma concessão potencialmente importante: poderá propor a sua própria lista de reformas. Tsipras teve de engolir remédios muito amargos, designadamente uma monitorização pela impopular Comissão Europeia, BCE e FMI, ou seja a “troika” eufemisticamente designada, ao gosto helénico, como as “instituições”. Já, agora, também na nova terminologia o “MoU” (memorando de entendimento) chama-se, agora, o “actual acordo”.
José Manuel Fernandes refere no “Observador” de hoje, afirma: “A Grécia teve de ceder em quase tudo. De tal forma que pouco sobra das principais bandeiras eleitorais do Syriza. Porque a realidade é a realidade. E porque, ao negociar, a arrogância é má conselheira”.
O diário económico espanhol “Expansión” (na sua edição on-line, também de hoje) coloca o problema de uma forma curiosa: uma força imparável (Syriza) choca contra um objecto inamovível (Europgrupo) sendo impossível que ambos coexistam no mesmo espaço (Grexit). Todavia vai mais longe: “Los ministros de Finanzas de la zona euro pergeñaron el viernes una solución menos traumática: una prórroga de cuatro meses del rescate actual, siempre y cuando Grecia presente el lunes un plan de reformas que debe ser aprobado por la troika. Pero olvídense de lecturas buenistas. Grecia ha cedido en prácticamente todo. No por convicción, desde luego, sino porque el desaguisado que tiene montado en casa le obliga a pedir ayuda a sus socios. Pero eso estaba claro desde hace semanas. La gota que ha colmado el vaso es la fuga de depósitos bancarios y las advertencias del BCE sobre los límites de las líneas de liquidez de emergencia. Si Draghi desenchufa a la banca griega, lo primero que se encontrarían los ciudadanos griegos es un corralito y después, a poco que se ponga el Gobierno de turno, una emisión de nuevos dracmas.” Esta visão corrobora de algum modo a perspectiva do “Ekhtamirini”: a ameaça de bancarrota estava iminente e, a meu ver, está por ora adiada.
Tudo o que precede é já suficientemente claro para se fazer uma ideia do que se passou em Bruxelas e do que se vai seguir. Como sempre disse e repito: a cadeia rebentou pelo elo mais fraco, mas, à boa maneira bruxelense, compôs-se o quadro, com 3 ou 4 pinceladas de última hora. Resta saber que medidas serão apresentadas pelo lado grego, se serão necessárias e suficientes e como tal aceites pelo Eurogrupo, em que a unanimidade a 18 constitui a regra de ouro.
Por outro lado, não é menos certo que se assistiu a uma triangulação prévia à reunião de sexta-feira. Hollande terá convencido Merkel a não deixar cair a Grécia, ao que aquela terá aquiescido concedendo tempo, porém sob condições. Os dois terão, cada um por seu turno, obtido de Tsripas algumas garantias quanto ao respeito das regras do jogo e os compromissos assumidos pelo Estado grego.
Hollande terá, penso eu, tido receio de se aventurar no desconhecido e deixar cair Atenas de qualquer maneira, sem embargo da aparente solidez da moeda única e do Eurogrupo. O risco parecia-lhe demasiado grande, uma vez que se tratava de uma situação sem precedentes Merkel terá anuído para alguma exasperação do seu ministro das Finanças.
Três artigos de Vasco Pulido Valente – Público de 6, 7 e 13/2/15 –e ainda um de Jorge Almeida Fernandes –“A bem da Nação, 20/2/15. Sobre o tema do dia, Syriza e Companhia. Os três primeiros manobrando conhecimento histórico, saber humano, sentido caricatural, conhecimento social. Do quarto – “PARA ONDE VAI A GRÉCIA DE TSIPRAS?» - direi que forma excelente síntese da história da Grécia moderna, nos solavancos que atravessou, após o domínio otomano, numa prática de clientelismo e fuga ao fisco que redundou, naturalmente, no recurso ao crédito estrangeiro - ontem para a Europa e os Estados Unidos, hoje para a Rússia e a China", anota Prevelakis. As elites gregas aprenderam a explorar os sentimentos de simpatia para com a Grécia, assim como a situação geoestratégica do país para obter financiamento estrangeiro.
“A srª não está em casa” foca as “rapaziadas” cometidas pelos representantes do Syriza dando chocalheiro espectáculo de atrevimento e humilhação perante os ora circunspectos ora paternalistas dirigentes europeus esgueirando-se em sorrisos forçados, cientes dos custos da aquisição de fundos, custos que não parecem pesar no espírito syrízico.
“É estranho? Não é” continua a deslizar pela irracionalidade do comportamento grego, que espanta alguns, demonstrando o historiador que o não espanta o comportamento inconsciente desses poucos, citando exemplos de outros casos de arrogância falhada: É isto estranho? Não é. Os fanáticos vêem o mundo por uma fresta e ganham pela demagogia e pela intimidação. Na história política contemporânea, há centenas de casos parecidos. Dos maiores, como Hitler, aos mais pequenos, como o PRD de Eanes. …
«Metamorfose» aponta estratégias aparentemente intimidantes (que mais parecem grosseiramente provocatórias), no desprendimento protocolar da rejeição da gravata, mas sobretudo no uso do couro como enfeite das figuras, (lembrando anteriores couros mais assustadores) e ironiza sobre a participação da nossa esquerda, que ganhou novo impulso atacante: O manifesto obrigatório da “inteligência”, assinado pelas luminárias do costume, é dirigido ao pobre dr. Passos Coelho, que certamente ficou atarantado com a sua súbita importância histórica, embora a mim me pareça que o nosso PM se mantém tranquilo no seu posto, sem se sentir minimamente perturbado ou desgostoso – o que perturba a nossa esquerda, muito assanhada, muito repetitiva….
Eis os textos excelentes:
1º: «A Srª não está em casa»
Vasco Pulido Valente
06/02/2015
O Syriza segue desbotadamente a tradição da esquerda revolucionária. Como os jacobinos da revolução francesa (excepto Robespierre), rejeita as convenções de vestuário da antiga classe dirigente, embora se tenha ficado por largar a gravata e pelo casacão de couro do alegado “libertário” Varoufakis, que deve querer impressionar a Europa como o de Trotsky impressionou os diplomatas da Alemanha e da Áustria em Brest-Litovsk.
Em tudo o que Varoufakis e Tsipras dizem e fazem há também a convicção escondida, mas próxima de Lenine e dos bolcheviques em 1918-19, de que o Syriza não se aguentará contra a ordem estabelecida sem o apoio da França, da Itália e da Espanha; ou só se aguentará à custa de uma indizível miséria, como aconteceu na Rússia.
Daí a tournée pelas cortes da Europa destes dois tristes símbolos da insurreição grega. Verdade que vêm hesitantes, com uma atitude que oscila entre a arrogância do seu imaginário poder e suposta razão e a humildade do pedinte inseguro e fraco. Acham que sim, acham que não, acham que talvez; proclamam a sua fé num acordo final e reafirmam intermitentemente uma posição inaceitável. Pelo meio, distribuem propostas; e o BCE, o Eurogrupo e o FMI apertam as regras, exigem contrapartidas, sugerem outros caminhos, mas não cedem. O resultado da embaixada do Syriza ao mundo exterior foi, como não podia deixar de ser, a confusão geral. Jean-Claude Juncker, enternecido, deu um beijinho a Tsipras e, para o acalmar, lá o levou, de mão dada, para o seu escritório. Quem falou aqui em “crianças”?
Um tropo obrigatório desta esquerda neo-romântica é o pagamento da dívida de guerra da Alemanha, que a Inglaterra e a América indexaram ao aumento de exportações da República Federal. O exemplo não serve. Em primeiro lugar, o exército americano e o exército inglês ocupavam a Alemanha e queriam o apoio dela para resistir à expansão soviética que, naquele tempo, parecia ameaçar a Europa. Em segundo lugar, a Alemanha estava fisicamente arrasada pelos bombardeamentos de 1943-45 e o Ocidente não tinha dinheiro para a reconstruir e a alimentar: esquecer a dívida de guerra era do seu interesse (e, ao mesmo tempo, um bom passo político). Já a América não perdoou um tostão da dívida da Inglaterra, que pontualmente a pagou. As pessoas crescidas sabem disto. E a sra. Merkel também. Por isso avisou que não receberia Tsipras (para não aturar a mistura de chantagem e choradeiras com que ele anda por aí a maçar o mundo) e mandou o ministro das Finanças comunicar ao jovem que, para ele, não estava em casa.
2º: «É estranho? Não é»
Vasco Pulido Valente
07/02/2015
Vital Moreira disse que a estratégia de financiamento do Syriza era “puramente ficcional”. António Costa, rejeitando essa mesma estratégia, disse que não era um “aventureiro” e que não achava a “renegociação da dívida” a “única e necessária” saída da crise; e Álvaro Beleza concordou que ele, de facto, não devia “vender ilusões”.
O PS, ou, pelo menos, parte do PS, não se deixou levar pelo melodrama que Tsipras e Varoufakis decidiram representar para deleite do radicalismo e grande embaraço da “Europa”. Não ganharam nada com isso e voltaram para casa com declarações tonitruantes. Tsipras declarou que a Grécia não recebia “ordens” e Varoufakis que o nazismo puro e duro lhes podia muito bem suceder. Acabou assim o primeiro acto da peça. O segundo não vai ser tão fácil.
Perante as fúrias mediterrânicas do Syriza, o ministro das Finanças da sra. Merkel, Wolfgang Schäuble, explicou com muita paciência que a vontade do eleitorado grego valia tanto como a de qualquer outro, nomeadamente o da Alemanha; e que as medidas do Syriza não iam na direcção certa. Até o sr. Draghi, para não alimentar fantasias, informou o inefável Varoufakis que o crédito fácil tinha definitivamente acabado. O que foi considerado um acto de “chantagem” pelas luminárias de Atenas. Quem assiste a este triste espectáculo, quase que não acredita. Então aqueles terríveis “revolucionários” não sabiam, nem mandaram perguntar, qual seria a atitude da Itália (onde Renzi, ironicamente, ofereceu uma gravata a Tsipras), ou da França, ou da Inglaterra e, sobretudo, da Alemanha? Não, não sabiam, e, se soubessem, não seriam quem são.
É isto estranho? Não é. Os fanáticos vêem o mundo por uma fresta e ganham pela demagogia e pela intimidação. Na história política contemporânea, há centenas de casos parecidos. Dos maiores, como Hitler, aos mais pequenos, como o PRD de Eanes. Hitler declarou guerra ao Império Britânico, à URSS e à América: toda a gente percebeu que o desastre era inevitável, mas só ao fim de 55 milhões de mortos, com os russos a 100 metros da porta, ele percebeu. Eanes imaginou que se criava um partido com meia dúzia de militares e dúzia e meia de tresmalhados ou desiludidos, sem uma tradição e uma função social evidente e durável, mas bastou Mário Soares dissolver a Assembleia para se ver o vácuo daquela traquitana. O Syriza esperneia e faz barulho, mas passará depressa.
3º «Metamorfose»
Vasco Pulido Valente
13/02/2015
As coisas não estão a correr como de costume. A revolução dantes tinha as suas cerimónias, mas parece que hoje o Syriza ou o mundo já não se lembram ou as querem mudar, coisa que desde Robespierre ninguém se atreveu a fazer.
E a revolução não é simplesmente uma revolução de Paris, de São Petersburgo ou de Madrid ou mesmo de Lisboa. É uma revolução da Europa, com outro alcance e uma audiência muitíssimo maior. Claro que nós, no nosso doce e sossegado cantinho, quase sempre vivíamos vicariamente as mudanças da história e o homem novo nascia quase sempre muito longe num sítio desconhecido e obscuro, como compete à aurora. Excepto quando nos calhou a nós. De qualquer maneira, até 1975, anteontem para dizer a verdade, sabíamos muito bem o nosso papel.
Agora foi a surpresa, os trabalhadores não apareceram na rua de punho ao alto para esmagar a reacção. As 200 famílias, quando não estão em tribunal por qualquer vigarice comum, continuam em casa. A doença infantil do esquerdismo acabou por se instalar no Governo da Grécia e viaja por aí freneticamente de avião. E a grande força do progresso passou agora a ser o imenso proletariado do funcionalismo e dos subsídios do Estado. O manifesto obrigatório da “inteligência”, assinado pelas luminárias do costume, é dirigido ao pobre dr. Passos Coelho, que certamente ficou atarantado com a sua súbita importância histórica. De resto, por razões que se compreendem, nem Sartre, nem Beauvoir se deram ao trabalho de ir deixar uma frase em Atenas, coisa que não nos faltou em Lisboa.
Não interessa. Nada disto diminui o Syriza, porque o Syriza encenou a sua erupção na consciência das massas para o tempo da televisão e da Internet; e aí foi, reconheçamos, magistral. A ideia de não pôr gravata não ocorreria a Lenine. O nacionalismo e o justo ódio aos mercados do capital oligárquico e especulativo não se vêem e não ganham com a alta definição o Facebook ou o Twitter. Em contrapartida, o couro preto não engana ninguém e não há ninguém que não conheça a sua ilustre linhagem: os comissários do Exército Vermelho, os generais do Führer, os super-homens da SS. O couro preto e o pormenor moderno da fralda de fora indicam agressivamente o macho Alfa, a sua virilidade e a sua vontade de domínio. Características que, se não comovem a sra. Merkel, intimidam os burocratas da economia e arrasam as feministas de serviço. A velhaEuropa precisava desta metamorfose da revolução.
4º «PARA ONDE VAI A GRÉCIA DE TSIPRAS?»
Jorge Almeida Fernandes
O problema grego é político. Não é a dívida. É a reforma do Estado e da economia.
Dos juízes, padres e mineiros Dos turistas que vagueiam nas ruas Das strippers que nunca se põem nuas
Da encefalopatia espongiforme bovina Do Júlio de Matos do João e da Catarina A culpa é dos frangos que têm HN1 E dos pobres que já não têm nenhum
A culpa é das prostitutas que não pagam impostos Que deviam ser pagos também pelos mortos A culpa é dos reformados e desempregados Cambada de malandros feios, excomungados
A culpa é dos que têm uma vida sã E da ociosa Eva que comeu a maçã A culpa é do Eusébio que já não joga a bola E daqueles que não batem bem da tola
A culpa é dos putos da casa Pia Que mentem de noite e de dia A culpa é dos traidores que emigram E dos patriotas que ficam e mendigam
A culpa é do Partido Social Democrata E de todos aqueles que usam gravata A culpa é do BE do CDS e do PCP E dos que não querem o TGV
A culpa até pode ser do urso que hiberna Mas não será nunca de quem governa.