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A bem da Nação

BABEL E SIÃO, SEM REDONDILHAS

 

Um e-mail que me chegou hoje mereceu-me imediata leitura e reacção: a de o publicar no meu blog, enquanto assisto a mais uma decapitação, desta vez de um cidadão inglês, por mais uma hedionda figura do terrorismo islâmico rindo-se bestialmente por trás da sua máscara tenebrosa, ou, quem sabe? batendo os dentes do terror de si próprio.

 

Não transcrevo todo o texto, excluindo a parte final que responsabiliza a Alemanha por este momento histórico de um terrorismo monstruoso que estamos vivendo. Quando se pensa na história do Mundo ao longo dos tempos, no Terror em França, nos crimes na Rússia, na China, no Mundo inteiro, agora na África, nas perseguições aos Judeus, nas hordas de desgraçados que debandam da África e morrem afogados no Mediterrâneo, para não morrerem às mãos dos criminosos que os governam, achamos que sempre o mundo foi e será palco de sevícias, de que as sevícias alemãs são parte poderosa, é certo, mas não são parte única. Mas o texto do escritor espanhol, sendo apologista do povo israelita, lança a responsabilidade do pânico em que vivemos, e provavelmente de uma eminente terceira guerra mundial, inteiramente sobre o povo alemão, pela matança - mais uma – desse povo invejado ao longo dos séculos e bastas vezes massacrado, até neste nosso pequeno país que uma Inquisição obscureceu, e que talvez fosse mais aberto à cultura se os autos de fé inquisitoriais o não tivessem praticamente eliminado por cá.

 

De toda a maneira, o sentimento de admiração e simpatia pelo povo judeu que o texto do escritor espanhol Sebastian Vilar Rodriguez deixa transparecer, não receio partilhá-lo, porque não comungo com o cinismo de um mundo ocidental que prefere, em generosidade de um anti racismo artificial, abrir as portas a uma nova barbárie que se vai infiltrando tenebrosamente numa Europa decadente:

 

TODA A VIDA EUROPEIA MORREU EM AUSCHWITZ...

 

 

GRANDE RESPONSABILIDADE DOS ALEMÃES NESTE MOVIMENTO DEMOGRÁFICO.

 

Excelente visão de alguém que nem sequer é judeu!

 

O seguinte artigo publicado em Espanha, em 2008, foi escrito por um não-judeu.

Nunca veremos este género de artigo na nossa imprensa. Ele ofenderia muitas pessoas.

Foi escrito pelo escritor espanhol Sebastian Vilar Rodriguez publicado num jornal espanhol, em 15 de Janeiro de 2008.

 

Não é preciso muita imaginação para extrapolar a mensagem ao resto da

Europa e possivelmente ao resto do mundo.


TODA A VIDA EUROPEIA MORREU EM AUSCHWITZ

 

Sebastian Vilar Rodriguez

 

A Europa morreu em Auschwitz.

 

Matámos seis milhões de Judeus e substituímo-los por 20 milhões de muçulmanos.

 

Em Auschwitz queimámos uma cultura, pensamento, criatividade, e talento. Destruímos o povo escolhido, verdadeiramente escolhido, porque era um povo grande e maravilhoso que mudara o mundo. A contribuição deste povo sente-se em todas as áreas da vida: ciência, arte, comercio internacional, e acima de tudo, como a consciência do mundo. Este é o povo que queimámos.

 

E debaixo de uma pretensa tolerância, e porque queríamos provar a nós mesmos que estávamos curados da doença do racismo, abrimos as nossas portas a 20 milhões de muçulmanos que nos trouxeram estupidez e ignorância, extremismo religioso e falta de tolerância, crime e pobreza, devido ao pouco desejo de trabalhar e de sustentar as suas famílias com orgulho.

 

Eles fizeram explodir os nossos comboios, transformaram as nossas lindas cidades espanholas num terceiro mundo, afogando-as em sujeira e crime.

 

Fechados nos seus apartamentos eles recebem, gratuitamente, do governo, eles planejam o assassinato e a destruição dos seus ingênuos hospedeiros.

 

E assim, na nossa miséria, trocamos a cultura por ódio fanático, a habilidade criativa, por habilidade destrutiva, a inteligência por subdesenvolvimento e superstição.

 

Trocamos a procura de paz dos judeus da Europa e o seu talento, para um futuro melhor para os seus filhos, a sua determinação, o seu apego à vida porque a vida é santa, por aqueles que prosseguem na morte, um povo consumido pelo desejo de morte para eles e para os outros, para os nossos filhos e para os deles.

 

Que terrível erro cometido pela miserável Europa.

 

O total da população islâmica (ou muçulmana) é de, aproximadamente, 1.200.000.000, isto é um bilhão e duzentos milhões ou seja 20% da população mundial. Eles receberam os seguintes Prémios Nobel:

 

Literatura
1988 Najib Mahfooz

 

Paz

1978 Mohamed Anwar El-Sadat

1990 Elias James Corey

1994 Yaser Arafat

1999 Ahmed Zewai

 

Economia
(ninguém)

Física
(ninguém)

Medicina
1960 Peter Brian Medawar

1998 Ferid Mourad

 

TOTAL: 7 (sete)

 

O total da população de Judeus é, aproximadamente, 14 000 000, isto é catorze milhões ou seja cerca de 0,02% da população mundial. Estes receberam os seguintes Prémios Nobel:

 

Literatura
1910 - Paul Heyse
1927 - Henri Bergson
1958 - Boris Pasternak
1966 - Shmuel Yosef Agnon
1966 - Nelly Sachs
1976 - Saul Bellow
1978 - Isaac Bashevis Singer
1981 - Elias Canetti
1987 - Joseph Brodsky
1991 - Nadine Gordimer World

Paz
1911 - Alfred Fried
1911 - Tobias Michael Carel Asser
1968 - Rene Cassin
1973 - Henry Kissinger
1978 - Menachem Begin
1986 - Elie Wiesel
1994 - Shimon Peres
1994 - Yitzhak Rabin

Física
1905 - Adolph Von Baeyer
1906 - Henri Moissan
1907 - Albert Abraham Michelson
1908 - Gabriel Lippmann
1910 - Otto Wallach
1915 - Richard Willstaetter
1918 - Fritz Haber
1921 - Albert Einstein
1922 - Niels Bohr
1925 - James Franck
1925 - Gustav Hertz
1943 - Gustav Stern
1943 - George Charles de Hevesy
1944 - Isidor Issac Rabi
1952 - Felix Bloch
1954 - Max Born
1958 - Igor Tamm
1959 - Emilio Segre
1960 - Donald A. Glaser
1961 - Robert Hofstadter
1961 - Melvin Calvin
1962 - Lev Davidovich Landau
1962 - Max Ferdinand Perutz
1965 - Richard Phillips Feynman
1965 - Julian Schwinger
1969 - Murray Gell-Mann
1971 - Dennis Gabor
1972 - William Howard Stein
1973 - Brian David Josephson
1975 - Benjamin Mottleson
1976 - Burton Richter
1977 - Ilya Prigogine
1978 - Arno Allan Penzias
1978 - Peter L Kapitza
1979 - Stephen Weinberg
1979 - Sheldon Glashow
1979 - Herbert Charles Brown
1980 - Paul Berg
1980 - Walter Gilbert
1981 - Roald Hoffmann
1982 - Aaron Klug
1985 - Albert A. Hauptman
1985 - Jerome Karle
1986 - Dudley R. Herschbach
1988 - Robert Huber
1988 - Leon Lederman
1988 - Melvin Schwartz
1988 - Jack Steinberger
1989 - Sidney Altman
1990 - Jerome Friedman
1992 - Rudolph Marcus
1995 - Martin Perl
2000 - Alan J. Heeger

Economia
1970 - Paul Anthony Samuelson
1971 - Simon Kuznets
1972 - Kenneth Joseph Arrow
1975 - Leonid Kantorovich
1976 - Milton Friedman
1978 - Herbert A. Simon
1980 - Lawrence Robert Klein
1985 - Franco Modigliani
1987 - Robert M. Solow
1990 - Harry Markowitz
1990 - Merton Miller
1992 - Gary Becker
1993 - Robert Fogel

Medicina
1908 - Elie Metchnikoff
1908 - Paul Erlich
1914 - Robert Barany
1922 - Otto Meyerhof
1930 - Karl Landsteiner
1931 - Otto Warburg
1936 - Otto Loewi
1944 - Joseph Erlanger
1944 - Herbert Spencer Gasser
1945 - Ernst Boris Chain
1946 - Hermann Joseph Muller
1950 - Tadeus Reichstein
1952 - Selman Abraham Waksman
1953 - Hans Krebs
1953 - Fritz Albert Lipmann
1958 - Joshua Lederberg
1959 - Arthur Kornberg
1964 - Konrad Bloch
1965 - Francois Jacob
1965 - Andre Lwoff
1967 - George Wald
1968 - Marshall W. Nirenberg
1969 - Salvador Luria
1970 - Julius Axelrod
1970 - Sir Bernard Katz
1972 - Gerald Maurice Edelman
1975 - Howard Martin Temin
1976 - Baruch S. Blumberg
1977 - Roselyn Sussman Yalow
1978 - Daniel Nathans
1980 - Baruj Benacerraf
1984 - Cesar Milstein
1985 - Michael Stuart Brown
1985 - Joseph L. Goldstein
1986 - Stanley Cohen [& Rita Levi-Montalcini]
1988 - Gertrude Elion
1989 - Harold Varmus
1991 - Erwin Neher
1991 - Bert Sakmann
1993 - Richard J. Roberts
1993 - Phillip Sharp
1994 - Alfred Gilman
1995 - Edward B. Lewis
1996- Lu RoseIacovino

TOTAL: 128 (cento e vinte e oito)

 

Os judeus não estão a promover lavagens cerebrais a crianças em campos de treino militar, ensinando-os a fazerem-se explodir e causar um máximo de mortes a judeus e a outros não muçulmanos.

 

Os judeus não tomam aviões, nem matam atletas nos Jogos Olímpicos, nem se fazem explodir em restaurantes alemães.

 

Não há um único judeu que tenha destruído uma igreja.

 

NÃO há um único judeu que proteste matando pessoas.

 

Os judeus não traficam escravos, não têm líderes a clamar pela Jihad Islâmica e morte a todos os infiéis.

Talvez os muçulmanos do mundo devessem considerar investir mais numa educação modelo e menos em queixarem-se

dos judeus por todos os seus problemas.

 

Os muçulmanos deviam perguntar o que poderiam fazer pela humanidade antes de pedir que a humanidade os respeite.

 

Independentemente dos seus sentimentos sobre a crise entre Israel e os seus vizinhos palestinianos e árabes, mesmo que creiamos que há mais culpas na parte de Israel, as duas frases que se seguem realmente dizem tudo

"Se os árabes depusessem hoje as suas armas não haveria mais violência.

Se os judeus depusessem hoje as suas armas não haveria mais Israel."

(Benjamin Netanyahu).

 

 Berta Brás

O ISLÃO FUNCIONA COMO UMA MÁQUINA DO TEMPO REACCIONÁRIO

 

Continuação de “O Caos da Situação e o Paradoxo da “Guerra santa” das Armas e do Sexo”

 

 

A fundação de um califado, através da guerra santa, encontra justificação no Corão e dirige-se contra as aspirações seculares de fundação de Estados civis sem regulamentação religiosa à maneira dos estados ocidentais.

 

Toda a insurreição social, onde se encontra uma certa percentagem de prosélitos maometanos, é organizada em nome do islão (Corão, ditos do profeta e sharia). A emancipação organiza-se normalmente em termos políticos/religiosos e não em termos de indivíduos nem de direitos humanos. A Irmandade islâmica (organização para o „regresso ao islão”), Al Qaida (“a base”, organização terrorista mais conhecida), IS (ou ISIS é uma suborganizarão de Al Qaida no Iraque e na Síria), salafistas actuais (fundamentalismo interpretativo do Corão como o wahhabismo da Arábia Saudita também em marcha na Europa), Hamas (extremistas contra o poder secular, apoiados pelo Irão que é xiita, pretende a aniquilação de Israel), Hezbollah (“partido de Deus” movimento armado xiita no Líbano – é um estado no estado), e várias variantes com expressão própria em acção na África, na Rússia, na China e na Ásia em geral.

 

África refém de extremismos

 

 

A instabilidade política e social da África torna-se fácil presa para grupos islamitas como o Boko Haram na Nigéria. Contra a educação secular recorre ao genocídio destruindo um ecumenismo de coexistência pacífica que a partir da revolução islâmica iraniana começou a ser sistematicamente destruído através do terrorismo intercultural e sem fronteiras. A Nigéria, país rico em minerais, com 180 milhões de habitantes, com 250 grupos étnicos (com tendência a afirmação de direitos tribais ou religiosos), com quinhentas línguas e sem história comum é o exemplo acabado de uma África mosaico que, a partir da conferência de Berlim, foi obrigada a seguir padrões e fronteiras marcadas à régua e chamada a seguir os modelo hegemonias de história ocidental e muçulmana. Consequentemente por toda a parte se encontram ruinas sobre as quais, surgem racismos do desespero e de complexos.

 

O grupo jihadista sunita “Boko Haram” (="livros são pecado", "a educação ocidental proibida“, „educação moderna é um pecado"), empenha – se (=jihad) no sentido da tradição de Maomé e da Guerra santa com atentados à bomba e com a escravatura. O seu chefe Abubakar Shekau apela: “matai, matai; esta é uma guerra santa contra os cristãos”; entretanto já matou mais de 5.000 pessoas. Tendo em conta a sua visão de sociedade torna-se natural o rapto das 287 meninas diplomadas do ensino médio, para as vender. O movimento “Boko Haram” tem ligação com o Al Qaida e com a milícia Al-Schabaab da Somália.

 

O conteúdo dos conflitos actuais assenta no desfasamento histórico beneficiador do ocidente e na religião islâmica que, pela sua simplicidade, se torna atractiva para as massas e produz líderes que tiram do caos imensa vitalidade. Por outro lado a massa pobre não tem nada a perder e a luta torna-se numa oportunidade de que esperam tirar algum proveito.

 

Os grupos jihadistas são defensores da teocracia contra a democracia e contra tudo o que não seja islâmico. O ocidente tira conclusões enganosas, distraído por uma lógica democrática interesseira que desconhece a filosofia e a coerência profunda islâmica (terrorismo santo ancorado na fantasia do povo e na tradição) distraída pelos conflitos interinos dos diversos grupos e pela desculpa do islamismo político pretendendo ignorar que o Islão é sempre político e que os cavaleiros de Maomé se encontram já desde a sua fundação numa tradição de victória sobre impérios, Sassânidas, Império Bizantino, União soviética no Afeganistão, 11 de Setembro que levou Busch a favorecer os xiitas do Iraque para castigar a Arábia saudita de confissão sunita (fornecedora dos terroristas) e a intervir no Iraque para assegurar o seu petróleo ao ocidente. Nesta lógica os inimigos de hoje são os amigos de amanhã e vice-versa. Os USA terão de deixar de fomentar uma política de desestabilização das forças muçulmanas entre elas. Uma aliança contra o Califado só pode ter solução com o comprometimento do Irão que sairia, naturalmente, mais forte do conflito e com exigências para continuar o seu programa atómico, que a Turquia sunita e a Arábia Saudita não quererão. É natural que o Irão tenha medo do IS e que a solução para o Iraque só seja possível com o apoio do Irão e com a avizinhação do ocidente e do Irão. Talvez então se possibilitasse o caminho do Irão para a Pérsia no sentido desta se tornar uma potência regional reconhecida!... Para isso o ocidente terá de acabar com o embargo contra o Irão (Nos últimos dois anos o Irão viu reduzidas as suas exportações de óleo de 118 para 56 bilhões, devido ao embargo).

Então seria de esperar que acontecesse com o Irão o que aconteceu com a China. O demasiado compromisso do Ocidente com o sunismo turco e da arábia Saudita tem impedido o desenvolvimento das forças naturais que regularão o Médio Oriente. Agora que o Irão também se vê ameaçado seria uma oportunidade.

 

A Turquia é país de passagem do terrorismo sunita… A emissora al Dschasira é apoiada pela Turquia e Katar. Interessante verificar-se que agora também a Arábia Saudita se sente obrigada a apoiar agora o governo egípcio com 13 bilhões de dólares, na esperança do poder militar meter a irmandade islâmica na ordem porque ameaça desestabilizar os poderes estabelecidos e toda a região. Os xiitas continuam a queixar-se da arábia saudita apoiar o IS que confessa o salafismo da arábia saudita. A avalanche da violência é de tal ordem que até os países apoiantes do terrorismo começam a recear tornar-se vítimas dos seus aliados. Isto pode ajudar à formação mais alargada de países contra o terrorismo.

 

Atendendo à filosofia seguida por muçulmanos e ocidentais a intervenção que se revela como necessária no Iraque, se não envolver as potências da região terá o mesmo resultado da do Iraque de Sadam Hussein e do Afeganistão; contribuirá talvez para a divisão do Iraque e será mais um passo na formação do Curdistão (aspiração também ela justa). Já Theodore N. Vail dizia: “Dificuldades reais podem ser resolvidas; apenas as imaginárias são insuperáveis."

 

Que Deus é este que não deixa viver em paz quem não siga o Corão?

 

Quando se pensa em religião pensa-se que não foram feitas para legitimar a guerra e como o Islão é uma religião deveria naturalmente tentar impedi-la. A vida dos fundadores tem imensa influência na vida dos crentes e da sociedade. O profeta Maomé caracteriza-se como guerreiro e fundador do estado árabe; teve o valor de dar união às tribos bárbaras e domar muitos dos costumes rudes da região. Com as implacáveis suras do Corão contra os “incrédulos” legitima a violência. Sura 9:5: “Matai os adoradores de ídolos, os Trinitários (os cristãos) onde quer que os encontrardes, apoderai-vos deles e espiai-os em cada emboscada ". Os muçulmanos extremistas servem-se da mesma fonte que os moderados para as suas acções na intenção de atingir o seu objectivo (Suras 8:38; 9:73; 5:33).

 

Os terroristas islâmicos atingem dois objectivos: a formação do Estado Islâmico radical (califado), e o fomento de comunidades muçulmanas no mundo através dos muçulmanos refugiados. É sintomático o facto de os refugiados da guerra do Iraque, da Síria e do Líbano se dirigirem para a Europa quando os Emirados ricos e a Arábia Saudita teriam maior obrigação de os receber. Naturalmente que a Europa, especialmente os países que enriquecem à custa das armas, que vendem naqueles países, têm também obrigação de os receber. O problema só surge com a formação de guetos em oposição à integração.

 

Islão é um "modo de vida" e significa "submissão (a Alá) ". Isto constitui o motivo dos terroristas para a fundação do Califado islâmico (IS). IS, movido por um deus guerreiro, luta por um império islâmico que vá do Irão ao Egipto. Muitos dos combatentes do IS são recrutados na Europa também entre convertidos, o que tornará a Europa cada vez mais frágil.

 

Frank A. Meyer in “religião totalitária” de Cicero N°.08 escreve: “A civilização moderna, denota, uma sociedade livre da cultura judaico-cristã. O Islão, funciona como uma máquina do tempo reacionária.” Já o imperador bizantino, Manuel II preocupado com a situação de então dizia: "Mostre-me o que Maomé trouxe de novo, e aí encontrará apenas coisas más e desumanas, tais como esta, em que prescreveu, espalhar a fé que pregava através da espada". O islão, para poder receber o atributo de religião da paz tem de contradizer o que a História parece confirmar (religião da guerra). Os países islâmicos parecem tornar-se em alfobres de fanatismo, incapazes de passar da Idade Média, desde a humilhação da mulher até ao massacre de irmãos da fé e de outros crentes. Uma fé pacífica não poderia, nos tempos modernos, produzir tais botões, não podendo desculpar-se pelo facto de exercer o controlo total sobre a vida pessoal e civil. Os cristãos também tiveram guerras bárbaras entre si e contra outros mas com a pequena diferença que as não podiam fundamentar em nome da filosofia do Evangelho nem no exemplo de Jesus.

 

Toda a ideologia, religião ou instituição que se considere dona/senhora da verdade torna-se numa grande prisão da humanidade. Deus criou o homem para a liberdade e consequentemente para a autonomia, doutro modo tê-lo-ia criado perfeito. Um exemplo da submissão pode ver-se em estados autoritários, nos atentados suicidas, na burca ou chador. Quem se julgue na posse da verdade nega a liberdade e a realidade da natureza que se desenvolve pela diferenciação integral num processo de tentativa e experimentação. Uma religião que não permita o desenvolvimento secular torna-se num fascismo fomentador de déspotas religiosos sem respeito pelo outro. Os que se consideram senhores da verdade e “no reino da verdade” sentem-se na certeza negando a vida bem como a dúvida e a experiência que seriam os verdadeiros promotores do progresso; ignoram que a pessoa humana é viva e não reduzível a um conceito empedernido ou a uma definição.

 

Uma religião não pode colocar a violência a saldo; não pode reduzir a paz a um direito a ser determinado por alguns; não pode reconhecer nela o poder e a violência como meio de solucionar controvérsias. Os terroristas fundamentam o seu agir no Corão e os muçulmanos moderados aceitam-nos com o argumento de haver diferentes perspectivas e possíveis interpretações (paradoxo). Mesmo associações islâmicas moderadas quando se manifestam publicamente contra os assassínios do IS fazem-no misturando o protesto com algo contra o país onde se encontram, o que deixa espaço para a duplicidade. A ideologia islâmica encontra os seus multiplicadores em muitas mesquitas às sextas-feiras. Os intelectuais ocidentais que se ocupam da política também pecam por duplicidade e por empregar duas medidas: críticos contra o cristianismo e complacentes ou cúmplices quanto ao Islão. Naturalmente, a esmagadora maioria dos muçulmanos é pacífica por natureza sem necessidade de fundamentos para a bondade nem para a maldade.

 

Geralmente situam-se entre o sentimento de humilhação e dominação mundial, uma característica comum aos fascismos que cultivam o ódio e o ressentimento. Precisam de vítimas e mártires na procura de inimigos internos (forças seculares ou outras religiões) e externos (o mundo da guerra). Deste modo só eles podem saber, quem são os assassinos certos e quem os falsos, dado o critério de valor e de juízo depender do lado do muro em que se aqueles se encontram. Os salafistas, que são contra a democracia e defendem a instalação de um estado de Alá (teocracia) e os acoites corporais e a sharia fazem livremente propaganda pelo seu plano, distribuindo o Corão gratuitamente nas ruas das cidades europeias. A tolerância dos fartos é cúmplice sendo também ela responsável pela intolerância que fomentam ao não dialogar a sério com os estrangeiros.

 

“O Corão é o livro mais forte que impede as pessoas de pensar… quem pensar de forma crítica sobre o Islão, põe a sua vida em perigo” demonstra o muçulmano Hamed Abbdel-Samad, em seus livros. O Corão só é tomado a sério para o que interessa, apesar de cada muçulmano trazer em cada ombro um anjo que anota tudo o que ele faz e um Deus que castiga sem ser questionado e não deixa viver em paz quem não segue o Corão. Que Deus é este que não deixa viver em paz quem não siga o Corão? Não foi o mesmo Deus que achou agrado em toda a criação? O problema não está em Deus mas sim numa doutrina que precisa de renovação e adaptação ao desenvolvimento da consciência individual esclarecida, reconhecendo que a natura consta dos mais variados biótopos e do mesmo modo a humanidade com os seus culturotopos. A vida do cidadão não pode ser condicionada ao horizonte da tenda nem da tribo, nem tão-pouco do império. O mundo árabe não pode viver a marcar passo, tendo também ele contribuído para o desenvolvimento da ciência; seria irracional continuar a viver num antigo testamento retrógrado aprisionador da pessoa humana, não reconhecendo os seus ideais nem uma consciência individual própria às pessoas. Dos 27 estados pertencentes à Conferência islâmica, nenhum está livre do islamismo. Onde se encontram os pacifistas muçulmanos a distanciar-se e a protestar nas ruas contra as barbaridades terroristas de seus correligionários que os põem em má luz? Será que a violência e o poder muçulmanos são sagrados e têm de se refugiar num jogo hipócrita das escondidas, com as contradições do Corão? Torna-se urgente o surgimento de um movimento protestante no seio do xiismo e do sunismo para se contrariar o estrebucho do dragão e se entrar nos novos tempos do ecumenismo das religiões.

 

Resumindo

 

Quer queiramos quer não, Islão, guerra e terror parecem pertencer ao mesmo contexto. Pelo que se observa a nível internacional nenhum país, onde se encontrem grupos de muçulmanos politicamente organizados, se encontra seguro quanto à paz social e até, quando se organizam em maiorias, quanto à integridade das suas fronteiras, dado, como diz o politólogo Hamed Abdel-Samad, “onde ele actue politicamente é fascista”… “Eles desumanizam os seus adversários, negam-lhe o direito de existir e tomam em conta a sua destruição total”… “no mundo desta gente não se luta pela vida, vive-se para lutar”… Na altura em que o caricaturista dinamarquês desenhou Maomé com uma bomba no turbante, o mundo islâmico levantou-se por toda a parte contra ele e contra o ocidente, chegando a haver mesmo mortes; agora que o IS assassina em nome do Islão, o mundo islâmico, pelo mundo fora, “não se sente denegrido nem ofendido”. “O que o autêntico Islão é, vemo-lo precisamente no Iraque e na Síria” (in HNA 19.09.2014). “Todas as associações salafistas têm que ser proibidas, para lhes dificultar o acesso de jovens muçulmanos… pois vão para criminosos quando vão para eles”.

 

É uma utopia pretender disciplinar o Islão a partir de fora, dado possuir uma doutrina absolutista que, por um lado, exclui a diferenciação e, por outro, fortalece as forças caóticas da base. Ao não ser estruturado (sem organigrama institucional conciso), aposta nas forças caóticas e revolucionárias da circunstância que lhe dão a sustentabilidade histórica necessária para lá do país concreto; diria que, na sua forma original, se poderia talvez etiquetar de uma forma de fascismo socialista adequada à base tribal das suas origens árabes e, neste sentido, expressa-se de modo ad hoc, vivendo do paradoxo, a nível intelectual e filosófico ajudado por uma jurisprudência casuística. O ocidente, com uma outra doutrina e socialização, não entende o mundo muçulmano nem o mundo muçulmano entende o ocidente. O mesmo se dá, generalizando, entre a espiritualidade ocidental e a da Índia. O papel da dúvida metódica no pensamento ocidental como alavanca do progresso contrapõe-se ao papel do paradoxo da cultura árabe como pretexto do pensamento para ser mantido o status quo, o retrocesso na contradição. Interessante que no momento em que Maomé deixou Meca para se estabelecer em Medina, Deus mudou de ideia. As Suras suaves do Corão reveladas em Meca passam a ser contraditas pelas revelações de Medina: aqui se encontra a génese do paradoxo árabe. Este facto poderia ser aproveitado pelos eruditos islâmicos para possibilitarem uma teologia interpretativa adequada aos tempos, doutro modo manterão a espiritualidade sujeita à jurisprudência. Em vez de acentuarem as suras agressivas de Medina podiam desenvolver a espiritualidade no sentido das Suras mais pacíficas de Meca.

 

As aspirações hegemônicas árabes, iranianas, turcas são difíceis de concretizar numa doutrina comum, de si hegemónica, mas que deixa a organização e a estratégia de aplicação dos seus objectivos a movimentos e caudilhos locais, mantendo-se ancorada no sistema patriarcal.

 

Na primavera árabe do norte de África (2011), os grupos fanáticos juntam-se aos rebeldes sedentos de mudança (a geração Facebook) e acabam por vencê-los. Também em 1978, Aiatola Khomeini se uniu aos comunistas revoltosos contra o Shah Reza Pahlavi da então Pérsia (Irão) conseguindo, com o apoio deles, instalar a teocracia islâmica. A partir da revolução do Irão, o terrorismo internacional ganhou terreno, a passos largos.

 

A guerra do Iraque contra Irão era uma guerra entre sunitas (primeiramente apoiados pela USA) e xiitas – os USA intervieram contra Sadam Hussein e ao saírem instala-se um regime pior que o anterior; no Afeganistão sunita (equipado pela CIA e financiado pelas monarquias árabes sunitas) dá-se a guerra contra comunistas (União Soviética) que se retiraram em 1989. O radicalismo sunita é financiado por uns e o radicalismo xiita por outros. Os USA, a Rússia e outras potências servem-se das lutas internas entre os diferentes interesses muçulmanos para se assegurarem do petróleo e fomentarem a indústria bélica e depois do conflito ganharem com a reconstrução.

 

A opinião pública e publicada, subestima a realidade islâmica que pressupõe governos autoritários ou déspotas que possibilitem estabilidade que possibilite o desenvolvimento económico e cultural para poderem um dia viabilizar a formação de uma sociedade civil avançada. Os mesmos que jubilavam com a primavera arábica fomentavam ingenuamente a fragmentação da Síria com o apoio armado da ISIS contra o ditador Assad. O preço está a delinear-se na divisão do Iraque em territórios xiita, sunita e curdo com a perseguição e expulsão dos cristãos.

 

Vítima real e intelectual torna-se quem não possui capacidade de diferenciação e de integração. O passo para a fraternidade de povos e religiões pressuporia a renúncia à verdade empedernida, em benefício do compromisso construtor de colaboração e de paz. Tudo fala, tudo berra e ninguém se preocupa em descobrir quem produz a guerra, quem fabrica as armas e as redes que ganham com elas. Os cavaleiros de Maomé, fieis ao Corão sentem-se os senhores e guardiães de Deus e da Verdade e os defensores da democracia, sentem-se os senhores das riquezas do mundo. A verdade de uma religião ou de uma civilização não se reduz à teoria ou ao discurso, ela só se pode ver nas obras.

 

A vida humana e social é uma teia de conflitos, pelo que, o essencial não é ver quem tem razão, mas resolver conflitos. Querer possuir a verdade absoluta significa subestimar a vida e não se desenvolver. A Verdade é a-perspectiva e como tal é um processo numa relação trinitária pessoal e dinâmica na unidade do eu-tu-nós. A terra é grande, Deus é maior, nele há lugar para todos. “Bem-aventurado os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.” (Mt 5:9)

 

Religiões são parábolas da realidade que expressam a antropologia e a sociologia de uma civilização. Religião verdadeira é a que faz do Homem irmão independentemente de raça, credo ou cor!

 

 António da Cunha Duarte Justo

O CAOS...

 A sign or oppression, or freedom?

... da Situação e o Paradoxo da “Guerra santa” das Armas e do Sexo

 

Continuação de “A GUERRILHA ISLÂMICA DETERMINA A CISÃO DOS POVOS NO SÉCULO XXI”

 

No Iraque, tal como na Síria, há um enredo de interesses disputados por sunitas, xiitas, curdos, americanos, russos, turcos, Kuwait, Catar, irão e Arábia Saudita, que se podem resumir como guerra intercultural e económica. “O terror islâmico é executado na linha de distinção entre sunitas e xiitas”, constata Gilles Kepel; esta linha, à maneira das cidades muralhadas medievais, assenta na mundivisão de demarcação mural, entre o nós e os outros e na estratégia de autoafirmação pela contraposição em relação aos de fora.

 

O movimento terrorista IS (Estado Islâmico ou Califado), presente na Síria, é contra os xiitas iranianos que apoiam o presidente alevita Bashar al-Assad, (alevitas são 10% da população síria). A guerra civil já provocou 160.000 vítimas, encontrando-se 9 milhões de sírios em fuga.

 

A milícia IS intervém agora no Iraque com 17.000 combatentes e conta com o apoio activo das tribos sunitas. O movimento IS e os salafistas, em geral comportam-se como os seus antepassados da Idade Média. Pretendem instalar um reino de terror religioso (Estado Islâmico) numa zona de muito petróleo que lhes conferiria grande poder económico e estratégico em relação aos xiitas do Irão e a Israel. Querem voltar aos princípios do Islão não suportando a seu lado crentes doutra fé nem tão-pouco correligionários muçulmanos moderados. Movidos pela energia criminosa dos talibans do Afeganistão pretendem fazer do Iraque e da Síria um novo Afeganistão. No Iraque, antiga mesopotâmia, babilónia, repete-se o drama dos tempos bíblicos.

 

Quando o movimento IS actuava só na Síria o fogo cruzado dos meios de comunicação ocidental apelava ingenuamente à necessidade de apoio destes bárbaros assassinos que serviam os interesses da dupla moral ocidental. Agora, no Iraque junta-se a causa das refinarias e dos poços de petróleo!...

 

A solidariedade muçulmana internacional consegue mobilizar milícias desestabilizadoras de governos e regiões. Provêem especialmente da Arábia Saudita, da Tunísia e mantêm na Síria 4.000 prisioneiros entre os quais 20 americanos e europeus. Só da Alemanha já se encontram 400 combatentes islâmicos no tereno.

 

A utilização da religião e da mulher para fins patriarcalistas

 

Ultimamente, pregadores jihadistas (defensores da guerra santa) conseguiram mobilizar mulheres tunesinas em serviço da jihad sexual na Síria; isto é, estas jovens/mulheres a partir dos 13 anos disponibilizam o seu corpo aos guerrilheiros na Síria motivando os guerreiros de Alá e ganhando o paraíso com a sua contribuição. A Tunísia tornou público o Jihad sexual na Síria revelando que as voluntárias chegam a ter “relações sexuais com 20, 30… até 100 jihadistas”, como confirma o ministro do Interior da Tunísia, Lofti Ben Jedu, ao reconhecer o retorno de mulheres grávidas. Nas Palavras do Profeta, são prometidas, como prémio a cada mártir do islão, 72 virgens acompanhadas de 70 amas o que corresponde a 5.040 mulheres por mártir. Também por isso não faltam os jhiadistas prontos a sacrificar-se pela religião. Entretanto também há mulheres jhiadistas; qual será o prémio receberão delas?)

 

A "guerra santa do sexo" (jihad al nikah) é considerada legítima por líderes salafistas que pretendem voltar às origens; as interessadas contornam a prostituição na medida em que, ad hoc, se declaram casadas por um dia com quem partilham os serviços sexuais. Golda Meir queixava-se referindo-se ao terrorismo e aos pais que o fomentam: “Só haverá paz nesta região, quando os pais amarem mais os filhos do que odeiam os seus inimigos”.

 

Também os nazis para expansão da raça ariana criaram a instituição “fonte da vida” como programa destinado a promover a higiene da raça onde mulheres gestavam anonimamente um filho para Hitler; contribuíam, deste modo, para criar uma "raça líder racialmente pura”. Esta estratégia pretendia também criar mais combatentes e aproveitar também a mulher para o serviço à guerra e à ideologia.

 

A utilização da religião e da mulher para fins patriarcalistas e imperialistas é comum no fascismo e defendida até por políticos moderados como Recep Tayyip Erdogan, actual presidente da Turquia. Quando ainda primeiro-ministro apelou aos 3 milhões de turcos residentes na Alemanha, num discurso em Colónia (24.05.2014): “Vós não deveis assumir nenhum compromisso em questões do vosso idioma, da vossa religião e da vossa cultura”, recomendando também que reivindicassem postos na política e na administração. A 22 de setembro de 2004 o periódico "Die Welt" cita Erdogan que, quer que o seu país entre na EU e numa campanha eleitoral, a 6.10.1997 confessou: "A democracia é apenas o comboio, ao qual subimos até alcançarmos o objectivo. As mesquitas são os nossos quartéis, os minaretes as nossas baionetas, as cúpulas os capacetes e os crentes os nossos soldados”. Se parceiros modernizadores falam assim que se pode esperar dos tribunos do povo?

 

Religião ainda continua a ser para muitos uma palavra mágica que desobriga a razão e paralisa até o cérebro de juristas e de pessoas de boa vontade.

 

A Fronteira da Discórdia

 

Dá que pensar o facto de não ser a UNO nem a Liga Árabe a encarar o problema com responsabilidade; todos esperam pela intervenção dos USA e pelo apoio armado do ocidente. Não é lógico serem os USA a intervir no Iraque, quando a missão da paz deveria ser uma tarefa de todas as nações representadas na ONU. O problema é que os estados islâmicos são incapazes, por si sós de conter o terrorismo e o mundo ocidental livre também não resolve o problema lançando algumas bombas no Iraque ou na Síria.

 

Na guerra civil da Síria e nos campos de luta dos “guerreiros de Alá”, o argumento moral não tem aplicação, dado os grupos adversários usarem de força extrema e brutal, proveniente tanto dos fundamentalistas como do governo. A Síria era um país muito culto e multicultural e, como tal, um argueiro no olho dos fanáticos sunitas e xiitas.

 

Uma cultura que legitime a violência e a exploração sistemática só poderá manter a ordem social mediante governos autoritários ou ditadores. Uma estratégia de paz, a longo prazo, deveria passar pelo apoio aos muçulmanos moderados. Torna-se urgente criar uma geração nova que lide de maneira madura com a religião.

 

A fronteira da discórdia encontra-se entre os possuidores da verdade e os da liberdade, entre a energia religiosa e a energia económica, entre uma sociedade islâmica que se encontra na Idade Média e o modernismo ocidental. O mundo muçulmano encontra-se em luta contra duas frontes: o mundo moderno e a luta inter-religiosa entre sunitas e xiitas, como acontecia no século XVI entre protestantes e católicos, entre o norte e o sul. Têm como aliados o petróleo e a apatia cultural e religiosa do Ocidente que vive da ilusão de que o jihadismo se deixa abafar com o dinheiro. O preço que o Ocidente pagará pelo seu oportunismo do momento e pela consequente emigração, em consequência da guerra, será a instabilidade social, a longo prazo, na Europa.

 

O problema de muitos estados islâmicos, como no caso da Arábia Saudita, está no facto da sua estabilidade política (também contra as rivalidade correligionárias, entre sociedade árabe e persa) depender da aliança com o grande aliado USA e, por outro lado, não o suportar no âmbito cultural; concretamente por ser uma civilização dividida que não suporta um denominador comum.

 

A táctica da guerrilha tem sido uma constante islâmica no seu processo de expansão e de colonização interna (conflito internos) numa permanente estratégia de desestabilização. A sua fronte contra o Ocidente e as lutas entre xiitas-sunitas, árabes-Irão, Turquia-Curdos (Curdistão) enfraquece-os, mas, por outro lado, são encorajados pela tradição e tática do profeta Maomé que queria construir um Estado islâmico sobre as ruinas de outro (Meca) numa guerra eterna contra os infiéis (incrédulos).

 

Na colonização interna da Europa a luta dava-se entre adversários pequenos e grandes mais ou menos iguais que, mais tarde, teve como resultado a formação de países estáveis; hoje a colonização interna nos países muçulmanos torna-se impossível e deste modo também se impede a formação de sociedades equilibradas porque os mais fortes não conseguem apaziguar a rebeldia de descontentes, por não terem força interna suficiente e se encontrarem condicionados à acção das potências externas que ora apoiam uns ora apoiam outros. Assim na formação do Ocidente houve guerras que apesar de tudo conduziram à paz e na civilização árabe mantem-se a contínua guerrilha. (Também a existência de Israel é uma permanente afronta à hegemonia muçulmana e a colaboração de governos muçulmanos moderados com o Ocidente legitima a subversão que vive da ambivalência entre o objectivo hegemónico final e as circunstâncias políticas).

 

A guerrilha é financiada pela CIA, Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, etc. Os cavaleiros suicidas de Maomé sentem-se obrigados à antropologia e sociologia árabe que se expressa no islão que define o ser humano unicamente pela pertença ao grupo religioso e não dá lugar à separação entre poder temporal e espiritual. Ao reconhecer apenas o grupo, exclui antropologicamente qualquer

desenvolvimento emancipatório preocupado com o bem do indivíduo e exclui o desenvolvimento sociológico pelo facto de apenas aceitar uma sociologia de caracter islâmico que se impõe às outras.

 

Ataturk tentou modernizar o islão da Turquia mediante a construção de uma sociedade civil/secular defendida pelo poder militar; apesar da secularização da Turquia, na realidade, no século XX, os cristãos passaram de 25% para 0,2% da população turca, continuando ainda a ser discriminados. Se isto acontece hoje na moderna Turquia de Erdogan, que se pode esperar do islamismo doutras regiões muçulmanas que olham de olhos vesgos para a sociedade turca por a considerarem demasiado ocidental e como tal já não ortodoxa? Só o acordar para um movimento ecuménico das religiões em que se passe do combate dos direitos culturais para os direitos naturais no convívio de uma ecologia universal poderá evitar um confronto bárbaro das culturas.

 

O Islão vive de um paradoxo que lhe dá perenidade

 

A discussão em torno do islão continua a ser falsa e hipócrita da parte islâmica e da parte ocidental, não lhe dando assim a oportunidade de saírem da Idade Média. Como a consciência individual é absorvida pela de grupo, na sociedade islâmica não se processa a reforma e contra reforma, nem o iluminismo como aconteceu na sociedade cristã; dão-se insurreições religiosas sob a capa do conservadorismo mas apenas motivadas por hegemonia e rivalidades de poderes. A sociedade muçulmana prefere viver no e do paradoxo (afirmação-negação) sem integrar no seu pensamento o crivo da dúvida; a dúvida foi o motor de desenvolvimento da civilização judaico-cristã (afirmação-negação-dúvida), o que contrasta com outras culturas. O mundo árabe, ao reduzir o discurso à dinâmica verdade-falso, simplifica a vida, tornando-se atractiva para pessoas de pensamento indiferenciado, deixando-a nas mãos do mais forte, como acontece na relação homem-mulher. Como na História a razão fica do lado do mais forte, sentem-se sempre com razão ao empregar a força como meio de atingir objectivos. Este sistema favorece assim o género masculino e as elites que se afirmam através do poder, o que leva uns e outros a sentirem-se reconhecidos perante um islão legitimador da força e como tal com perspectivas de perenidade porque se revigora externamente através de caudilhos emergentes, de mentalidade adolescente. O Ocidente, também ele eivado de poder, mas um pouco inseguro devido à idade e à filosofia cristã, evita uma discussão séria com as sociedades islâmicas porque mais que no desenvolvimento do islão e da paz no mundo, está oportunisticamente interessado no seu petróleo e riquezas. Menospreza porém a presença muçulmana nas grandes empresas através de acções e da imigração de cultura árabe para as suas cidades. Como o interesse do ocidente é meramente económico deixa os imigrados em estado carente, o que os fortalece nas suas tendências de se fecharem em guetos. A falta da plataforma dos direitos humanos leva-o a desinteressar-se por uma relação social de reciprocidade e complementaridade: um exemplo da aceitação da afirmação paradoxal islâmica pelo ocidente revela-se no facto de aceitar o financiamento de mesquitas pela Arábia Saudita nos seus países quando nela não existe liberdade religiosa; o mesmo acontece em relação à Turquia que impede o exercício religioso não islâmico querendo até transformar o templo cristão Agia Sofia numa mesquita. A realidade parece acontecer por trás dos véus da teoria e da prática.

 

Continua em “O Islão, funciona como uma máquina do tempo reaccionário”

 

 António da Cunha Duarte Justo

A GUERRILHA ISLÂMICA...

https://www.facebook.com/henriquesallesdafonseca#!/video.php?v=868895366477070&fref=nf

 

... DETERMINA A CISÃO DOS POVOS NO SECULO XXI

 

Ensaio sobre a situação da Síria e do Iraque como expressão da luta intercultural

 

No mundo contemporâneo, a violência de motivação religiosa parte praticamente do Islão. Isto fomenta a incompreensão do islão e muitos muçulmanos moderados de boa-fé sentem-se colocados no pelourinho. As forças radicais e escuras estão interessadas em fomentar motivos de incompreensão porque só assim se encontram no seu Mileu e justificar o seu agir irracional.

 

Tornar o Islão compatível com outras culturas e religiões

 

Torna-se urgente uma reforma do islão a partir do seu interior que possibilite a passagem da sociedade patriarcal e medieval para a sociedade moderna onde o centro da realidade passa a acontecer na pessoa e a expressão política se realiza numa forma de democracia (comunidade) que possibilite a liberdade do indivíduo, de modo a que este faça o que quer, desde que não incomode ninguém.

 

A confusão, que se observa a nível de teoria e no âmbito da acção da sociedade islâmica, deve-se também à falta de separação nítida no Corão e nos Ditos do profeta entre religião e violência, entre regra e extremismo, o que impossibilita distinguir entre quem obedece à norma religiosa e quem não. Não se tratará de rejeitar o islão, como fazem alguns intelectuais muçulmanos, mas de o reformar com uma interpretação adaptada aos nossos tempos (reconhecendo muito embora a dificuldade dado não haver sincronização do tempo em relação às culturas). Tratar-se-ia de encontrar uma definição e uma prática islâmica aberta e compatível com outras religiões e culturas, com outros valores, outras constituições de estados e com a modernidade na aplicação dos direitos humanos. Só uma atitude tolerante e integrativa, respeitadora das religiões e do estado de direito, pode servir os muçulmanos democráticos e livres bem como as outras culturas. O islão tem de reconhecer a realidade natural da variedade e as leis da evolução, doutro modo, ao fechar-se numa visão patriarcal, apressa a sua derrocada embora englobe muita riqueza artística no mosaico das culturas.

 

O Terror jihadista islâmico é a Luta contra a própria Queda

 

Como se observa do mundo árabe ou do mundo subjugado ao islão, onde não há ditadura ou regime autoritário, abundam os movimentos extremistas que impedem a estabilidade interna. Por toda a parte, onde se encontre um vazio regulamentar político, logo a frustração é compensada religiosamente, através da violência e de mercenários cegos ao serviço duma cultura do medo.

 

Toda a ideologia política ou religiosa, que considere o seu ponto de vista como a única via correcta de vida, desconhece a relação entre percepção (conceito) e realidade, vendo-se condenada a viver da guerrilha e a fracassar, dado o desejo de liberdade inato ao Homem não poder ser ininterruptamente oprimido, por um regime ou uma cultura, e, além do mais, num mundo chamado a transformar-se numa aldeia de vizinhos. Também Maomé dizia: “o que não serve o homem vai abaixo como uma onda no oceano”. Os tempos mudaram e com eles muda o Homem e as circunstâncias, tudo é processo; quem não quer ficar sob as rodas da História, tem que verificar o que então “servia” o homem e o que hoje já não serve o Homem. Recorrer sistematicamente à violência para resolver problemas é desumano e destrutivo.

 

O busílis muçulmano está no facto de só admitir, na sua sociedade, a curto ou a longo prazo, o falar do Deus registado no Corão, ficado assim demasiado timbrado pelo patriarcalismo do Antigo Testamento e das tribos árabes sem perspectiva para uma sociedade aberta dado não ter integrado no islão as novas culturas e geografias onde se espalhou (isto vem do facto de considerar a revelação divina como enlivração empedernida - Deus tornado livro - não integrando nela a revelação divina que se dá através da História e da natureza, como fazem os cristãos). Consequentemente, têm de viver no gueto ou transformar o mundo no seu gueto; enquanto se encontram em minoria vivem no gueto apresentando-se ad extra como conciliadores; mas, uma vez alcançada maior presença no meio, as forças extremistas impõem-se aos “outros”, aos diferentes, (este processo também se observa na mudança de atitude de Maomé quando passou de Meca para Medina e se pode observar na mudança de opinião de Deus nas Suras - tolerantes do Corão escritas em Meca e nas escritas em Medina – Suras intolerantes) de maneira a torna-los numa monocultura por imposição. O exemplo de Maomé e a doutrina hegemónica que suporta o islão também não deixa viver em paz as confissões islâmicas sunitas (cerca de 80% dos muçulmanos no mundo) nem as xiitas (cerca de 20%) e do mesmo modo os correspondentes subgrupos alevitas (o mais liberal), o wahhabismo, o sufismo, os salafitas, etc, que disputam o poder entre si em nome de Alá.

 

A “Casa da Submissão” a Alá e a “Casa da Guerra”

 

A falta de honestidade ética, identifica o islão como religião da paz mas não esclarece que entende por paz a sua paz muçulmana (a paz da Umma) e mesmo assim guerreiam-se uns aos outros. O Evangelho já avisava: “Quem vive pela espada, pela espada morrerá” (Mt 26:52). Naturalmente a esmagadora parte dos muçulmanos é inocente e não conhece sequer a filosofia ambivalente do Corão ou dos que o aplicam ou utilizam.

 

Ao contrário do Ocidente que acentua o ideário da pluralidade de nações como factores de identificação e de identidade (sociedade aberta), a civilização árabe tende, duma maneira geral, a identificar nação (a nação árabe ou muçulmana) com a religião, o que cria problemas com as culturas que incorpora (como sociedade fechada). Na falta de uma consciência nacional tão diferenciada acentua a consciência da Umma (a comunidade dos crentes muçulmanos) que os distingue doutras pessoas: ‘a casa do islão’ = “Dar ul-Islam” em contraposição com a ‘casa da guerra’ = “Dar ul-Harb”). Divididos entre o desejo de autodeterminação (individualidade) e comunidade abdicam da individualidade que colocam incondicionalmente ao serviço de um grupo (ex. os mártires assassinos, semelhantes aos Kamikazes - "vento divino" japoneses), que tenta democratizar a violência. A Umma tem a vantagem de dar consciência a uma massa que, doutro modo, andaria à deriva e apresenta-se como contrapeso à (comunidade) sociedade ocidental que, talvez peque pelo outro extremo e se esvai no indivíduo. Líderes muçulmanos parecem apostar num deus guerreiro e na religião como tecto cultural, enquanto líderes ocidentais parecem apostar nas armas, na economia e na democracia como tecto cultural.

 

A fortaleza e a fraqueza do mundo islâmico parecem vir-lhe do aspecto confuso que não permite localizar concretamente os conflitos.

Também nos países de imigração de muçulmanos, estes sobressaem pela reivindicação dos próprios direitos em contraposição aos da sociedade acolhedora. Procuram organizar uma justiça paralela ou alcançar nos sistemas judiciais dos países de imigração, contrapartidas de cunho religioso conseguindo penas mais leves para delitos provindos de casamentos forçados ou de violência do homem para com a mulher (aqui o direito penal entra em conflito com a Constituição que defende a integridade corporal e a liberdade individual e a lei islâmica passa sobrepor-se à lei do Estado; tal comportamento dificulta a integração, encoraja o gueto e até a conversão para homens que queiram ter mais direitos em relação à mulher). Exigem tribunais próprios para arbitragem de litígios entre eles estabilizando assim a vida social paralela de gueto e uma justiça paralela. O problema não está nas exigências nem na diferenciação mas no facto de se criarem espaços vazios do direito em que se desfavorece o direito individual para se favorecer o direito cultural religioso.

 

Muitos organizam manifestações públicas contra Israel e contra a proibição do lenço mas não protestam publicamente contra os correligionários que usam a sua religião para fins terroristas (sentem-se depressa numa situação de vítimas e de coitadinhos, porque ‘definem’ a sua identidade pela religião e em contraposição aos que vive fora dos seus muros). Isto é compreensível a nível individual e psicologicamente mas a nível social torna-se conflituoso.

 

Na Alemanha, Wupertal, grupos Salafistas não se comportam em conformidade com a lei e já se manifestam como “Scharia Police” para controlarem lugares públicos frequentados por muçulmanos.

 

Os salafistas, um movimento extremista financiado especialmente pela Arábia Saudita, e espalhado por todo o mundo, tem uma mundivisão simples com um sistema de pensar só a preto e branco. Têm aceitação entre os povos carentes porque também prestam auxílio com projectos caritativos em nichos que os Estados não cobrem. Na Europa, segundo uma investigação, dirigem-se a grupos marginais e com pouca formação cultural, onde recrutam os seus seguidores que “com prazer são enviados para ataques suicidas, porque não são bons para mais nada”.

 

Torna-se anacrónico que, em países desenvolvidos, a polícia estatal, tenha medo de entrar em certos bairros. O vigilantismo familiar e grupal tem tradição na “vergonha da honra familiar” que se sente ultrajada por costumes diferentes dos seus. Na Alemanha ainda não houve ataques terroristas concretizados porque o país tem um sistema de organização muito efectivo que trabalha silenciosamente e de modo preventivo.

 

Por isso o Governo alemão determinou a 12.09.2014 que, a partir de agora, ficam proibidos os símbolos da milícia terrorista IS, como seja, a Bandeira, qualquer participação na IS, propaganda na Internet ou nas manifestações, recrutamento de combatentes, trazer símbolos ou recolher ofertas. Na Alemanha os salafistas são o grupo extremista talvez mais organizado, dedicando-se ao recrutamento e autoafirmação saindo do seu meio jihadistas que lutam especialmente no Médio Oriente.

 

Na Europa a economia e a política têm agido irresponsavelmente no que toca à defesa do povo e do cidadão pelo facto de não se preocupar com a comunidade; reduz o ser humano a uma força de trabalho em conivência com o sistema árabe que o reduz a força religiosa. Grande parte do povo, nas grandes cidades já tem medo de se movimentar em certos bairros. Com a cumplicidade política e dos governantes, que olham de longe o problema, sem se preocuparem com estratégias de reciprocidade, criam-se os pressupostos para a organização de bandos como acontece em favelas. A situação precária de tais grupos torna-se mais complicada ainda porque além dos muros da pobreza tem o muro da religião, o que dificulta uma solidariedade isenta.

 

Continua em: “O Caos da Situação e o Paradoxo da “Guerra santa” das Armas e do Sexo”

 

 António da Cunha Duarte Justo

DIZER COMO

 

 

Assisti aos primeiros debates entre os Antónios, Seguro e Costa. À data em que escrevo estas linhas o terceiro ainda não ocorreu.

Talvez a única conclusão válida que se pode tirar, na base do que cada um disse do outro, é que nenhum dos dois presta para primeiro-ministro. Houve concordância no que cada um disse que queria para o país, como crescimento económico, baixar desemprego, etc. É óbvio que isso é o que todos queremos! Mas faltou o essencial: dizer como atingir esses objectivos, dizer as medidas a tomar e a legislação a propor para desenvolver a economia, baixar o desemprego, etc. Não basta declarar os objectivos desejáveis, disso estamos fartos. É necessário dizer de que forma os vão atingir. Sobre isso, nada.

 

Costa disse que só depois apresentará o programa do governo, se for eleito. Ou seja, quer um cheque em branco.

 

Seguro declarou que não vai aumentar a carga fiscal. Convém não embandeirar em arco. Primeiro, porque, na base do passado, não temos qualquer garantia de que, quem for eleito, cumpra o que prometeu em campanha. Mas, também em face do passado, nada garante que, sem alterar a massa fiscal, aumente os impostos dos pobres e remediados, para dar mais aos ricos. Não podemos esquecer que, nos últimos tempos, tem aumentado o número de pobres e também o número de milionários.

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 18 de Setembro de 2014

 

Miguel Mota

CURTINHAS CXXVII

DOWN THE DRAIN

 

v        Que ninguém tenha ilusões! O “caso BES” excede, em muito, a capacidade da fragilizada economia portuguesa para absorver choques “macro”.

 

v        O Governo e o BdP, fingindo estarem, apenas, a obedecer (quais “bons alunos”) ao plano de Bruxelas para a resolução de Bancos em crise (o MER/Mecanismo Europeu de Resolução), na realidade, sonham com “passar o diabrete” o mais rapidamente possível.

 

v        O “diabrete” que lhes queima os dedos é um bouquet de dívidas com muitos zeros (nove, mais exactamente) que o BES vai ter de pagar, impreterivelmente (atendendo às circunstâncias), logo nos primeiros meses de 2015 - e ninguém sabe como: o que resta do empréstimo da “troika” não chega.

 

v        Se for o BdP a ter de “se chegar à frente” (o que, em tese, é possível):

(i) o endividamento da Banca portuguesa ao Sistema Europeu de Bancos Centrais dará um pulo e tanto;

(ii) a conta será apresentada, de imediato aos restantes Bancos “de cá” - e, mais tarde, ao contribuinte;

(iii) e um novo ciclo de austeridade pura e dura será inevitável (com o sistema bancário ainda mais fragilizado).

 

v        O BdP (e o Governo, que continua a fingir que não é nada com ele), depois de ter feito o que os livros mandam fazer para pôr um Banco a valer zero num abrir e fechar de olhos, imagina agora que pode vender o que já só é praticamente um Passivo - e receber dinheiro por cima.

 

v        Seria uma santa ingenuidade - se não se tratasse da mais imoderada inépcia.

 

v        Se outros casos não houvesse (e tem havido), bastava este para demonstrar à saciedade o “pecado original” do Programa de Ajustamento: não ter começado por escorar (com Capitais Próprios folgados) os maiores Bancos portugueses, antes de avançar para o reequilíbrio externo. O Governo teve medo dos Bancos, o BdP, idem, idem, aspas, aspas, a “troika” não quis meter-se em assuntos de família - e somos nós, mais a geração seguinte, que vamos ter de limpar o salão.

 

v        Mesmo que a destruição da reputação comercial do BES não tivesse acontecido ao ritmo a que aconteceu, a solução imposta por Bruxelas falharia sempre, por duas razões:

(i) na vertente jurídica, porque despreza os requisitos que tornam uma cisão (o Novo Banco é uma cisão do “velho” BES) válida e oponível a terceiros;

(ii) na vertente financeira, porque, optimista, presume que a operação acabará sempre por ter efeitos nulos nos Capitais Próprios dos Bancos que a financiem.

 

v        Se a primeira razão ainda pode ser levada à conta de inadvertência (que a multiplicidade de regimes jurídicos nacionais, de algum modo, justifica) - a segunda, essa, foi um logro deliberado para que o MER passasse junto das opiniões públicas nacionais. Não mais, na Europa, os contribuintes seriam chamados a pagar o que custasse resgatar um Banco em crise - era a litânia com que a eurocracia nos enganava.

 

v        Não é preciso ser um “barra” em Finança para ver que nada garante que o produto da venda de um Banco “recuperado” dê para reembolsar o dinheiro investido nessa recuperação. E, se não der, uma de duas:

(i) ou os Bancos financiadores têm de levar a perdas o que não receberem de volta - e lá se vai uma fatia dos seus Capitais Próprios (que terão de repor com novas chamadas de capital);

(ii) ou terão de ser os contribuintes a reembolsá-los - para que não estale uma crise sistémica em boa e devida forma.

 

v        Esta questão dos Capitais Próprios na Banca (e nos Seguros) tem que se lhe diga. Até há bem pouco, pensava-se que bastava que eles fossem adequados ao risco do negócio para tudo correr às mil maravilhas. A dimensão da organização (os Gastos com a Estrutura) não contava para nada: volumosa ou reduzida ao mínimo, em matéria de Capitais Próprios, tanto fazia.

 

v        A crise de 2007-2011 veio ensinar-nos que os Capitais Próprios não têm que absorver só as chamadas “perdas na  carteira”  (crédito malparado, menos-valias e coisas assim). Devem atender também à rigidez dos Gastos com a Estrutura: se o Banco tiver de reduzir, de um momento para outro, a dimensão do seu Balanço (como está a acontecer ainda hoje por esse mundo fora) são os Capitais Próprios que, em última análise, vão ter de absorver os Gastos que se revelarem excessivos, até que um novo equilíbrio de exploração seja alcançado.

 

v        Caso contrário, o excesso de Gastos vai arrastá-lo para uma queda em espiral: Margens que não cobrem os Gastos > Resultados negativos > Redução dos Capitais Próprios > Menor nível de actividade > Redução das Margens (sem que os Gastos registem idêntica redução) >…

 

v        Se os Bancos financiadores não possuirem, nos seus Capitais Próprios, uma “almofada” que lhes dê o tempo suficiente para captar mais capital, é muito prováel que entrem, por sua vez, em crise. Como canal de propagação do risco sistémico é difícil inventar melhor que este MER!

 

v        Dir-se-ia, então, que quanto maiores forem os Capitais Próprios na Banca, melhor. Não tanto - e o “ciclo” da actividade seguradora mostra bem porquê.

 

v        Quando as Seguradoras vêem crescer os seus Capitais Próprios (e isso pode ocorrer em diversas conjunturas), a preocupação é manterem, de qualquer maneira, a rentabilidade por unidade de capital (como explicar aos accionistas que, em conjuntura favorável, essa rentabilidade tenha caído?).

 

v        Para isso, “facilitam” na subscrição do risco com a finalidade de expandirem a sua produção de apólices. Não na proporção a que estejam a crescer os seus Capitais Próprios, mas a um ritmo mais acelerado - porque a concorrência faz baixar os prémios.

 

v        Ora, risco que é risco, cedo ou tarde acaba em sinistros. E as Seguradoras que, na porfia de manterem a rentabilidade por unidade de capital, se expuseram a riscos agravados, vão distribuir pelos Segurados, sob a forma de indemnizações por sinistro, os Capitais Próprios que tinham em excesso (e que as haviam levado a excessos) - e lá tem início um novo “ciclo”.

 

v        Na Banca, infelizmente, não existem processos de indemnização a terceiro que, por um lado, evitem o acumular de riscos financeiros e, por outro, imponham perdas com reflexo imediato na tesouraria. Por isso, os “ciclos” da actividade bancária são bastante mais longos - e, quando colapsam, têm efeitos muito mais devastadores nos Capitais Próprios dos Bancos.

 

v        Dito de outro modo, se a supervisão prudencial não for extremamente exigente no reconhecimento das perdas já incorridas, e muito rigorosa na medição das perdas potenciais, Capitais Próprios empolados tendem a levar os Bancos a inflar Balanços para manterem os seus accionistas satisfeitos. E, para tal, vão incorrer em cada vez mais risco.

 

v        Tenho dúvidas que esta consequência do MER esteja a ser bem ponderada pelo BdP: a economia portuguesa não tem actividade e sofisticação financeira que exijam uma elevada concentração de capital na Banca. E os Capitais Próprios que sejam considerados supérfluos vão, apenas, induzir maior exposição a riscos agravados - fragilizando-a ainda mais.

 

v        Quanto ao BES, não vejo como nos livrarmos (sim, nós; nem o BdP, nem o Governo - nós) do “diabrete”.

 

v        Com uma pequena vantagem: como muitos dos Veículos de Investimento que financiam as Parcerias Público-Privadas giram em torno do BES, seria uma ocasião única para resolver de vez este problema que também não augura nada de bom.

 

v        Saída do Euro? Talvez. Mas, por este andar, nunca deixaremos de estar à beira de levar um piparote porta fora. E, por nós próprios, é pouco provável que venhamos a ter, algum dia, condições para deambularmos calmamente pela casa.

 

Setembro de 2014

 

 A. Palhinha Machado

 

 

 

 

O DEFEITO É DAS CRUZES

 

 

Democracia! Uma palavra poderosa significativa de governo do povo. Em nome dele se reformularam leis, se refizeram serviços – de Saúde, de Educação, de bem-estar material. E o povo adquiriu direitos – à Saúde, à Educação, ao bem-estar material. Criou hábitos de classe distinta e até rica, que não quer perder. Eis a tese de João César das Neves em “OS DONOS DE PORTUGAL”.

 

Mas esse povo esqueceu-se de que os que lhe forneceram os hábitos - aqueles que ele elegeu - o fizeram num processo não de apoio e incentivo ao trabalho e à produção interna, mas num de endividamento exterior, surgido em hora propícia, mercê duma união europeia camarada, pouco depois de as forças definidoras de Abril nos terem lançado para o charco da má governação económica, entregue a leigos, aliciadores de eleitores.

 

É agora necessário reduzir farturas, para pagar a dívida exterior. Como tem a faca e o queijo na mão para eleger ou não, o povo – a classe média, antes favorecida – não aceita as reduções, mesmo sabendo que não há volta a dar-lhe. É certo que Costa e Seguro dizem que sim, que há volta. Serão (um deles será) os próximos eleitos do rotativismo governativo, e para isso prometem coisas.

 

Poderá ser que haja alternativas. É como nos exercícios de cruzinhas: uns itens dão para o sim ou o verdadeiro, outros para o não ou o falso. Habituados à papa do discurso já burilado, os alunos vão amadurecendo lentamente, na preguiça do cálculo, que dantes recorria mais à memória em contas descomunais, e as tabuadas na ponta da língua, e agora à inteligência, sobre hipóteses trabalhadas por outros. A inteligência talvez se tenha desenvolvido mais, com as cruzinhas da papa feita, tal como a do povo, industriado no slogan, mas emperrado no cálculo avançado. Daí, uma dívida absurda, por decréscimo de cálculo, do exercício da memória por intermédio da tabuada, preferindo o slogan ditado por outros, que por sua vez o colheram de outros que fizeram as revoluções lá fora – ignorados os que obtiveram o dinheiro com o seu esforço, para nos emprestarem. Mas estes não contam, só contam os dos slogans de esforço mínimo.

 

 Berta Brás

PORTUGUESES QUASE ESQUECIDOS – 5

 

 

 

Chamava-se Alexandre Moreira Aranha Furtado de Mendonça, nasceu no Concelho de Penafiel em 1858 (27 de Abril) no seio de família abastada; fez os estudos primários e secundários no Colégio de Campolide, em Lisboa e rumou a Coimbra onde estudou Filosofia e Teologia; entrou para a Companhia de Jesus em 1880 onde seguiu a formação normal de um jesuíta.

 

Devidamente ordenado, foi-lhe indicada a ida para a Missão da Zambézia, em Moçambique, onde a missionação se revelava muito difícil não só por causa da pressão muçulmana mas sobretudo – veio a própria Companhia de Jesus a constatar – devido aos métodos de ensino ali seguidos sem qualquer pedagogia devidamente adaptada às culturas locais.

 

Nomeado Superior Geral da Missão por afastamento prematuro do seu antecessor, dedicou-se o Padre Alexandre Moreira (nome por que ficou conhecido) ao estudo das culturas locais a ponto de aprender a falar o Echuabo de que elaborou a respectiva gramática em paralelo com um dicionário. Assim foi que o catecismo passou a ser ministrado nessa língua em todas as redondezas de Quelimane e as conversões aumentaram substancialmente.

 

 

Assim como se dedicara afanosamente a combater a escravatura que ainda se praticava por aqueles sertões isolados (sem que alguns missionários de diversas Ordens pudessem dessa prática lavar as respectivas mãos), o P. Alexandre acolhia com toda a hospitalidade os britânicos que iam à Chupanga em romagem ao túmulo de Mary Livingstone, mulher do missionário anglicano David Livingstone, que ali falecera (de malária) em 1862 com apenas 41 anos de idade ficando sepultada junto a um embondeiro onde já se encontrava a campa de um oficial britânico (Kirkpatrick) falecido em 1826. Eis como o Padre Alexandre criou alguns anticorpos junto dos que se viram prejudicados com o fim efectivo da escravatura e com a prática verdadeiramente ecuménica «avant la lettre» para com os anglicanos.

 

Apesar do grande afecto que as populações apoiadas pela Missão do Zambeze manifestavam ao Padre Alexandre, a República implantou-se entretanto e a Companhia de Jesus foi novamente expulsa de Portugal e respectivas Colónias. Depois de moroso processo de substituição dos jesuítas por missionários de outras congregações, o P. Alexandre Moreira saiu da Chupanga em Abril de 1914 rumo ao Chinde onde embarcaram para a Europa, via Aden, no navio «Gertrud Weissmann». Ao passarem em Mombaça, já o P. Moreira se começou a sentir mal dos diabetes e o médico de bordo, ao perceber que as melhoras não se faziam sentir, determinou que devia desembarcar em Suez. Não chegou lá! No dia 29 de Abril, pelas 15 horas, faleceu depois de ter recebido os sacramentos administrados por outro jesuíta, o P. Dupeyron. Às 18,30 horas desse mesmo dia foi lançado ao Mar Vermelho. Conta o P. Dupeyron – o que foi também observado pelos outros jesuítas e alguns passageiros – que quando o corpo desapareceu nas águas, agitadas havia dias, subitamente acalmaram para voltarem a agitar-se três ou quatro horas depois.

 

... pero que las hay, hay!

 

Setembro de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

 

BIBLIOGRAFIA:

«P. Alexandre Moreira Aranha Furtado de Mendonça, SJ (1858-1914) – Missionário e linguista», Francisco Augusto da Cruz Correia, SJ, BROTÉRIA, Fevereiro de 2014, pág. 143 e seg.

 

EU NÃO SEI SE SERÁ ASSIM

 

«Os “gatunos”» de Vasco Pulido Valente (Público, 7/9/14) faz uma síntese dum dos processos em que saíram finalmente castigados pela Justiça uns que fizeram parte de uma profunda injustiça (qualquer fraude é necessariamente injusta, como coisa crapulosa que defrauda tudo e todos), mas que se consideram injustiçados e por isso vão recorrer. Vasco Pulido Valente acha que não há recurso que lhes valha, mas parece-me isso pueril, fruto de disposição de bonomia, mais do que de uma exactidão matemática de tipo quod erat demonstrandum, depois de se ter chegado ao resultado que se pretendia. Não costuma ser assim neste país, há muito que se fala em corrupção da Justiça, que ainda por cima corre hoje o risco de se atrasar sine die neste e noutros casos e até baralhar os processos por conta de um sistema electrónico que falhou, em mudança monstruosamente apressada, o que dará boa oportunidade para os prazos prescreverem e possibilitarem basto tempo para os condenados se escaparem ou até – quem sabe? – para fabricarem mais uns estratagemas dolosos, as faces sempre ocultas ou mesmo outras partes dos respectivos corpos e das próprias almas, habituadas à dissimulação, à lisonja, à falcatrua e a outros esquemas do carácter que o filósofo Teofrasto tão excelsamente tipificou há um montão de séculos, para elucidação dos vindouros. Não, não creio que a condenação vá passar. “No pasará” é fórmula protectora da virtude, fórmula com que a Justiça portuguesa define as condenações dos barões. Que, para os Jean Valjean esfomeados, as galés são sempre a sentença. Vem nos livros:

 

Os “gatunos”

Vasco Pulido Valente

 

07/09/2014

 

O país ficou espantado com as penas aplicadas aos réus do processo Face Oculta: mais de 17 anos de prisão efectiva para Manuel Godinho (o dono da sucateira), cinco anos para Armando Vara (grande personagem do PS, antigo ministro e antigo vice-presidente do BCP), cinco para José Penedos (que mandava na REN) e quatro para o filho e cadeia também para mais sete criaturas pouco conhecidas do público informado. Este operoso grupo, segundo o tribunal, é condenado por crimes vários, frequentemente cometidos com a ajuda de uma velha figura jurídica a que se chama por amabilidade “tráfego de influências”, em vez de honesta e francamente “roubo ao Estado”. Os condenados ficaram assombrados com a “severidade” dos juízes, porque a história pregressa desta espécie de aventuras tinha até agora acabado bem: os responsáveis pelo BPN, por exemplo, andam por aí à solta.

 

Mas seria absurdo que, no empobrecimento geral dos portugueses, Godinho, Vara e companhia se conseguissem salvar em nome da sua póstuma importância. Basta sair de casa para ouvir o que a grande maioria do país pensa realmente deles. Pensa que são “gatunos”. E não vale a pena argumentar: um político ou um homem de negócios é sempre “gatuno”. Como explicar, se não por isso, a miséria envergonhada e quase salazarista em que vivemos? Só pelos “gatunos” que nos vigarizaram e roubaram no Governo, nos bancos, nos milhares de burlas do dia-a-dia. A explicação tem uma parte de verdade. Mas não conta que no pequeno universo indígena, em almoços, em jantares, em conversinhas de escritório, em visitas ao “camarada” ou “companheiro” de partido, de repente promovido a ministro, a fraude continua numa enorme inocência.

 

Advogados dos réus saíram do tribunal prometendo recorrer. Erro deles. Os juízes não têm a miraculosa imunidade dos santos ao ambiente que é o deles. Partilham em maior ou menor grau os sentimentos, os preconceitos, as fúrias do cidadão comum. Isto não quer dizer que atropelem ou adaptem a lei à sua vontade. Mas quer dizer que a sua benevolência varia. Um tribunal que hoje resolva diminuir ou mitigar as penas de “gatunos” desafia a opinião universal, que de resto ele mesmo aprova. É muito difícil resistir às tendências de massa, até quando se tem razão e não há dúvidas. Num caso ambíguo, o que anda no ar invariavelmente prevalece. Enquanto durar o empobrecimento português, as maquinações jurídicas não irão longe.

 

Quanto ao artigo do dia 5/9 – Dois compadres – seja embora uma repetição de tema, o brilho do descritivo faz que o admire e releia. Por isso o guardo, para me recrear com a análise panorâmica de mais uns “Caractères” da nossa praça, que os próprios visados desdenharão como convém, Seguro porque o não lê, Costa porque prepara a resposta para mais tarde, quando tirar os coelhos todos da cartola. Ou os lenços de muitas cores, para as lágrimas dos “ai dos lusíadas, coitados!”:

 

 

Dois compadres

 

Vasco Pulido Valente

 

05/09/2014

 

Costa e Seguro, ou Seguro e Costa, acreditam sinceramente que, a seguir a esta fantochada, os portugueses ainda votarão neles?

Em última análise, o que está no fundo das “primárias” do PS é muito simples: António Costa “sai” bem na televisão e António José Seguro não “sai”. Isto já se sabia antes da presente balbúrdia. Na Quadratura do Círculo, e fora dela, Costa adoptou uma pose de “homem de Estado”: sereno, informado, cuidadoso. Nos soundbytes que distribuía pacientemente pelo país, Seguro falava sempre como um seminarista em férias, com medo de se esquecer da lição: despachava à pressa o recado, com a hesitação e as repetições do aprendiz e, quando fazia um esforço para se dar uma sombra de autoridade, tudo soava falso e frequentemente ridículo. Seguro de cara séria e em tom de ameaça parecia um adjunto de gabinete a representar um papel que não era o seu. Ninguém desde o princípio acreditou nele.

 

De qualquer maneira, Portugal continua na suave ignorância do que estas duas personagens pensam ou querem. Costa tem um plano perfeito para conservar o seu halo de génio e mistério. Agora, não dirá coisa nenhuma, porque o seu papel é angariar votos. No congresso, perante os “camaradas” apresentará um “documento” com as tarefas da Pátria para a próxima “década”. E, no fim, quando for primeiro-ministro anunciará o programa do Governo. Até lá quer sossego e principalmente não se misturar com a gentinha que o rodeia e rodeia Seguro. O chefe precisa de uma certa gravidade, que a berraria impede. Será levado de andor para S. Bento ou voltará à câmara, abençoado pela “inteligência” e pela ralé. O “culto” de Costa, se não servir para o dia 28, como é de esperar, servirá para dividir o PS e para Belém.

 

Seguro não pode nada contra isto. Não calou a boca, mesmo quando vinha a propósito, durante três anos de secretário-geral e hoje é tarde para se desdizer ou para tapar o chorrilho de asneiras que serviu aos portugueses. As suas credenciais no partido não são particularmente distintas e parecem menores comparadas ao beatífico currículo de Costa, nascido para a fé (como ele não se cansa de lembrar) na tenra idade dos 14 anos, e esta semana abençoado pelas mais veneráveis “figuras” do PS num pequeno-almoço “histórico” no venerável e também “histórico” Hotel Altis. Pena que a natureza anticlerical da seita não permita o Te Deum que o episódio pedia.

Falta uma pergunta: Costa e Seguro, ou Seguro e Costa, acreditam sinceramente que, a seguir a esta fantochada, os portugueses ainda votarão neles?

 

 Berta Brás

GUERRA CIVIL DE ESPANHA

 

 

  

Luís Soares de Oliveira

 

Apresentação da 2ª edição no antigo edifício dos Correios do Estoril no dia 27 de Setembro pelas 15,30 H

 

 

PREFÁCIO

 Bernardo Futscher Pereira*

 

  

A historiografia recente da Guerra Civil Espanhola tem-se debruçado essencialmente sobre as dimensões internas da tragédia: a macabra contabilidade das vítimas de ambos os lados; as micro-histórias dos diferentes teatros de guerra e da repressão na retaguarda; as tentativas de reavaliação dos mitos e das narrativas tradicionais sobre o conflito, distorcidas por paixões ideológicas e agendas políticas; e o exame tanto quanto possível desapaixonado dos seus diversos protagonistas. Esses estudos, realizados em grande parte por uma nova geração de investigadores espanhóis, permitem-nos hoje ter uma visão muito mais precisa, completa e imparcial de uma luta que dividiu o mundo e cujas repercussões ainda hoje se fazem sentir na vida política espanhola.

 

Não abundam contudo os trabalhos recentes sobre as dimensões inter-nacionais da Guerra Civil. O livro do Embaixador Soares de Oliveira é uma excepção neste panorama, essencial para compreender como ela influenciou e foi influenciada pelo contexto internacional e os caminhos ínvios através dos quais preparou o terreno para a Segunda Guerra Mundial.

 

A política de não intervenção conduzida pela França e pela Grã-Bretanha – que, como Salazar observou, “constituiu talvez a maior intervenção em Espanha no último século” – foi a antecâmara do apaziguamento de Hitler que culminou na ignominia dos acordos de Munique. A não intervenção, exercício consumado de hipocrisia, foi uma etapa importante nesse caminho resvaladiço que contribuiu poderosamente para a desmoralização das democracias e para a sua incapacidade em se oporem à agressão nazi. Foi em Espanha que se formou e consolidou o Eixo entre Roma e Berlim. Foi em Espanha que muitos liberais, entalados entre fascismo e comunismo, escolheram o primeiro como um mal menor. Foi em Espanha que a França perdeu progressivamente qualquer tipo de iniciativa diplomática. Foi, em boa parte, a atitude das democracias em Espanha, ambígua e timorata, que levou Estaline a descartar a política da segurança colectiva, abrindo o caminho para o pacto nazi-soviético de 21 de Agosto de 1939.

 

Com minúcia, com a experiência acumulada de uma vida dedicada à diplomacia – e com uma atenção, rara neste tipo de obras, ao papel de Portugal nesta trama complexa –, Soares de Oliveira examina as motivações, as influências, as manobras e os objectivos de um vasto leque de intervenientes no drama espanhol e traça os seus retratos políticos e psicológicos de forma vívida e perspicaz.

 

A tarefa não é fácil. Na Guerra Civil, por detrás do conflito entre nacio­nalistas e republicanos entrechocaram-se múltiplas dimensões difíceis de destrinçar: no plano interno, para além das clivagens entre esquerdas e direitas, é necessário levar em conta as tensões entre o centralismo de Madrid e as aspirações bascas e catalãs; os rancores acumulados entre clericais e anticlericais; e as divisões e lutas dentro de cada um dos campos, entre o Exército, os monárquicos e os falangistas no campo nacionalista, e republicanos, socialistas, comunistas e anarquistas no da República.

 

No plano internacional, a guerra teve um fortíssimo efeito polarizador que enfraqueceu todos os sectores moderados e liberais; as suas reverberações ideológicas, amplificadas pelos enormes esforços de propaganda conduzidos pelos dois lados, ecoaram em todo o mundo; diplomaticamente, deixou as potências ocidentais perante verdadeiros dilemas; a opção de Londres e Paris pela não intervenção vibrou um golpe profundo na Sociedade das Nações, contribuindo para a descredibilizar ainda mais; o conflito abriu as portas à intervenção de Mussolini e de Hitler, e à contra intervenção de Estaline; e o seu desenrolar foi acompanhado por uma constante subida de tensão na Europa, que acabaria por desembocar na segunda Guerra Mundial.

 

O impacto da Guerra Civil foi particularmente forte nos países vizinhos: em França, minou por dentro o governo da Frente Popular e ampliou a contestação à III República de uma direita cada vez mais descrente na democracia.

 

As dissensões provocadas pelos acontecimentos espanhóis, poucos meses depois da ocupação da Renânia, acentuaram a dependência de Paris relativamente a Londres, contribuindo para que a França abdicasse de toda a iniciativa diplomática a favor da Grã-Bretanha. Em Portugal, a Guerra Civil teve o efeito contrário: galvanizou a base de apoio do Estado Novo e contribuiu para que este se afirmasse internacionalmente com mais convicção e autonomia.

 

Para Salazar, a guerra foi uma luta existencial, na qual se empenhou a fundo, com determinação mas também com cautelas. Para Mussolini e Hitler, foi mais questão de prestígio e oportunidade para exercitarem os seus músculos. Para Estaline, ao contrário do que apregoava a direita, foi inicialmente incómoda distracção: um apoio declarado à República prejudicaria os seus esforços para construir uma imagem de respeitabilidade diplomática; pior ainda, contudo, seria assistir, impávido e sereno, à destruição da Frente Popular em Espanha pela ação conjugada das potências fascistas. Acusada de ter instigado o processo revolucionário espanhol, na realidade a União Soviética só interveio em Espanha, a contra gosto, depois de a Itália e a Alemanha terem jogado as suas cartadas. Mas foi a coberto dessa intervenção que, pouco a pouco, Moscovo eliminou todos os rivais do Partido Comunista Espanhol e consolidou um domínio sobre este que estenderia depois aos seus congéneres europeus. Foi no laboratório espanhol que a União Soviética estabeleceu a supremacia absoluta sobre as esquerdas europeias.

 

Londres ficou sozinha a segurar os pratos da balança e manobrou com um fim em vista: evitar que as paixões espanholas provocassem uma escalada internacional. Mais livre do que outros de constrangimentos políticos e paixões ideológicas, só a Grã-Bretanha estava em condições de fazer pontes entre a França, a Itália e a Alemanha. A tentativa de conciliar Mussolini, para evitar problemas no Mediterrâneo e separar a Itália da Alemanha, implicava fechar os olhos ao activismo descarado do Duce em Espanha. Foi este um dos motores da política de apaziguamento britânica de que Neville Chamberlain se tornaria o apóstolo. Em Fevereiro de 1938, a vitória definitiva desta linha política levou à saída, celebrada em Roma, Berlim e Madrid, de Anthony Eden do Foreign Office, o último paladino da segurança colectiva.

 

Soares de Oliveira investiga a génese do acordo de não intervenção, uma história até hoje com recantos obscuros, com responsabilidades repartidas entre Paris e Londres; descreve a pressão exercida pelo Gabinete inglês para que todas as partes relevantes, incluindo Portugal, aderissem ao acordo e se fizessem representar no Comité de Controlo; as manobras ocas e labirínticas, no seio do Comité enquanto a intervenção estrangeira alastrava e se impunha no terreno; a inflexão a favor de Franco da posição inglesa, estimulada por Salazar, após a conquista do norte e da costa Atlântica em 1937; as batalhas navais no Mediterrâneo e no Golfo da Biscaia que ameaçaram a precária paz europeia; e o lento estertor da República, paulatinamente acompanhado pela legitimação de Franco como interlocutor internacional válido e respeitado; e, por fim, a desesperada tentativa de Negrín, ao lançar a ofensiva no Ebro, de captar a atenção da Sociedade das Nações e das chancelarias europeias, cada vez mais resignadas a deixar correr o marfim em Espanha.

 

Alheio a agendas ideológicas, Soares de Oliveira guia-nos nos complexos meandros da diplomacia europeia daquele período, recheados, mais ainda do que em tempos normais, de agendas ocultas e pensamentos reservados, elucidando a enorme complexidade dos cálculos de uns e outros. O seu livro ajuda a explicar, mas não a desculpar, a cumplicidade das potências na destruição da República espanhola.

 

+++++++++++++++++++++

 

*Bernardo Futscher Pereira é mestre em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Iniciou a sua actividade profissional como jornalista mas, em 1987, ingressou na carreira diplomática. Enquanto diplomata foi colocado em Tel Aviv, Bruxelas, Barcelona e no Ministério da Defesa Nacional. De 1999 a 2006 foi assessor para as Relações Internacionais do Presidente da República, o Dr. Jorge Sampaio. É embaixador em Dublin desde Abril de 2012.

Bernardo Futscher Pereira é autor de vários artigos sobre política externa, história diplomática e política internacional, publicados em revistas especializadas. Em 2012 publicou a obra A Diplomacia de Salazar (1932-1949). Alfragide: Dom Quixote 2012, 591 p.

 

EXTRATOS DAS RECENSÕES CRITICAS

 

De Filipe Ribeiro de Menezes em Negócios Estrangeiros, número 14, Abril de 2009

"Soares de Oliveira optou por acompanhar o desenrolar cronológico da crise espanhola, criando espaços de reflexão … que ajudam a compreender as posturas diplomáticas dos vários intervenientes. Fá-lo com excepcional clareza"

"[O autor] revela grande persistência acompanhando de perto os trabalhos do Comité da Não-Intervenção  e é nesta persistência que reside o mérito do autor e o valor da obra"

 

De Prof. Rui Vieira, in Revista das Relações Internacionais, número 25, Março de 2010.

"O [livro] resulta num exercício clássico em matéria de história política e diplomática, embora em registo distinto daquele que tem caracterizado a produção historiográfica alusiva à conflagração espanhola,… sendo [nele]privilegiada uma visão de conjunto "

"O cuidado posto na análise dos factos é manifesto na perseverança com que escalpeliza os detalhes das andanças diplomáticas …"

"A articulação entre teias complexas de acontecimentos constitui outro ponto forte de Guerra Civil de Espanha."

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