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A bem da Nação

O REGRESSO DO OCIDENTE?

Se a Europa e o Ocidente quiserem voltar a pensar estrategicamente, vamos ter de enfrentar os desafios enunciados neste livro.

 

 

Depois da feliz eleição de Donald Tusk para a presidência do Conselho Europeu, a NATO realizou uma "cimeira histórica", como observou Teresa de Sousa no Público. São boas notícias para um Ocidente que parecia anestesiado perante a brutalidade do fanatismo islâmico e a arrogância da Rússia na Ucrânia.

 

Mas, como também argumentou Teresa de Sousa, este é apenas o princípio do desejável retorno da determinação ocidental em garantir a sua autodefesa. No mesmo sentido, Miguel Monjardino dizia, no Expresso, que a "pergunta decisiva" reside em saber se "há vontade política a nível interno e margem de manobra orçamental para trazer a estratégia de volta à Europa".

 

A vontade política e a margem de manobra orçamental estão de facto associadas. E pode acontecer que a criação de margem de manobra orçamental dependa sobretudo da vontade política. Essa é a tese central de um livro recente de dois influentes jornalistas de The Economist, John Micklethwait, o director da revista, e Adrian Wooldridge. O título é bastante sugestivo: The Fourth Revolution: The Global Race to Reinvent the State (Allen Lane, 2014).

 

A obra começa com uma empolgante descrição de um campus universitário de 42 hectares nos subúrbios de Xangai. Trata-se da CELAP, China Executive Leadership Academy. É uma escola de treino para altos executivos do império chinês.

 

O lema da CELAP é "o que quer que funcione melhor será estudado e adoptado aqui". Curiosamente, o Ocidente é estudado sobretudo no plano económico — como funciona a economia de mercado. Mas, no domínio político, o sistema de governo ocidental é olhado com um misto de desdém e cepticismo.

 

Há boas e más razões para esta atitude. Entre as más razões, os autores citam a peculiar ideia chinesa de que o sistema político americano é corrupto. A verdade, no entanto, é que a riqueza dos 50 membros mais abastados do Congresso Nacional do Povo de Pequim é estimada em 95 mil milhões de dólares — 60 vezes mais do que a riqueza conjunta dos 50 mais ricos membros do Congresso norte-americano.

 

Há, no entanto, também razões respeitáveis: basicamente, os chineses percebem que o sistema político norte-americano e europeu enfrenta sérios bloqueios.

Nos EUA, a despesa pública aumentou de 7,5% do PIB em 1913 para 19,7% em 1937, depois para 27% em 1960, 34% em 2000 e 41% em 2011. No Reino Unido, cresceu de 13% em 1913 para 48% em 2011. Um crescimento semelhante teve lugar nos 13 países ocidentais mais ricos. Como costuma dizer a sra. Merkel, recordam os nossos autores, isto simplesmente não é sustentável: a União Europeia tem 7% da população mundial, 25% do produto global e 50% da despesa social.

 

Será cada vez menos sustentável, acrescentam Micklethwait e Wooldridge. Na União Europeia, a população activa atingiu um pico de 308 milhões de pessoas em 2012 — e vai declinar para 265 milhões em 2060. A taxa de reformados (mais de 65 anos de idade) relativamente à população activa (entre os 26 e os 64 anos) vai crescer no mesmo período de 28% para 58% — e isto assumindo que a UE irá receber mais de um milhão de imigrantes jovens por ano.

 

O que pode ser feito? Os autores promovem um levantamento global de experiências que consideram de maior sucesso: Califórnia, Suécia, Brasil, Índia, China e Singapura, são apenas algumas das paragens de uma viagem vertiginosa.

As lições a retirar deverão ser fundadas num misto de pragmatismo (o que funciona melhor) e de princípios políticos (a defesa da democracia liberal contra o centralismo autoritário).

 

A clara preferência dos autores vai para a experiência sueca. A despesa pública desceu de 67% do PIB em 1993 para os actuais 49%. A dívida pública caiu de 70% do PIB em 1993 para 37% em 2010; o défice orçamental desceu no mesmo período de 11% para 0,3%. Tudo isto foi feito em democracia, com uma profunda reforma das funções do Estado: de Estado-fornecedor de serviços públicos, passou a Estado-garantia de acesso a esses serviços, fornecidos em regime de concorrência por agentes públicos e privados.

 

Esta é, segundo os autores, a quarta revolução, que já está em curso, na história do Estado moderno. A primeira, no século XVII, assistiu à criação do moderno Estado-nação; a segunda, no final do século XVIII e durante o XIX, substituiu um sistema de corte por um governo limitado que presta contas ao Parlamento; a terceira, no século XX, levou ao actual Welfare State.

 

Se a Europa e o Ocidente quiserem voltar a pensar estrategicamente, vamos ter de enfrentar os desafios enunciados neste livro.

 

08/09/2014

 

 JOÃO CARLOS ESPADA

JABUTICABA

 

 

Para quem não conhece, jabuticaba é uma fruta brasileira, deliciosa. Quem quiser provar... venha ao Brasil!

 

O Brasil não é só o país do Carnaval, caipirinha, praias e mulheres lindas. Infelizmente, do futebol... por enquanto, já era.

 

Quase tão funesto quanto o horrendo vírus ébola, as câmaras legislativas, senado incluído, estão contaminadas, TODAS, por uma série de vírus perigosíssimos. Começa talvez pelo da corrupção, que faz sumir larguíssimos biliões das contas públicas para bolsos pessoais, mas seguido de perto por outro chamado de analfabetismo, estupidência, incompetência, ignorância, etc.

Até o actual des-governo tem dois ministros, oriundos dos sindicatos, que dominam o país, com currículos impressionantes: um deles era ferramenteiro numa metalúrgica e outro pintor de automóveis. Olha o nível!

 

Mas no senado federal (letras minúsculas) aparecem propostas de fazerem cair os dentes a quaisquer desdentados. Até a crocodilo! Basta lerem o texto abaixo, da conceituada escritora Ana Maria Machado, membro da prestigiosa Academia Brasileira de Letras.

 

Mas atenção: antes de começarem a ler, sentem-se. O choque pode ser fatal!

 

JABUTICABA NO SENADO

 

Não faz muito tempo, você comprou uma torradeira e em casa não conseguiu li­gá-la. A legislação agora exi­ge três pitocos nos plugues dos novos aparelhos, que não servem mais nos dois buracos da tomada de sempre. Foi preciso comprar um adaptador. Uma chatice, mas mais seguro. Progresso tecnológico.

 

É para o bem de todos, o governo sabe o que faz. Mesmo quan­do o novo padrão é tão original quanto jabuticaba, que só tem no Brasil. Não serve para qualquer aparelho importa­do que por acaso você tivesse. E tome adaptador. Você acabou chamando um electricista e trocando todas as to­madas da parede, ufa!

 

Pois aí vem nova surpresa. Você nem imagina o que o Senado anda debaten­do a sério, considerando a hipótese de mudar geral. Sem ao menos reparar no ridículo da esquisitice. Se for aprovado, vira lei. Só que, desta vez, não vai haver electricista que dê jeito. Discute-se uma reforma ortográfica brasileira.

 

Brasilei­ríssima, que nem jabuticaba. Ainda que sem as delícias da fruta.

 

"Mas não fizeram uma reforma ain­da outro dia? Para quê outra?" – talvez você pergunte. Vamos esclarecer. O que se fez há pouco tempo (aliás, num processo que ainda não se encerrou) foi um acordo ortográfico entre países de língua portuguesa. Não uma refor­ma. O objectivo foi que se escreva da mesma maneira o português falado em qualquer parte do mundo. Assim, passa-se a ter um padrão unificado em documentos internacionais que se queira redigir no idioma. E os leitores de todos os países lusófonos passam a se acostumar com a grafia única, que nos permitirá ler livros uns dos outros com menos estranheza (já bastam as do próprio vocabulário, por vezes tão diferente).

 

Precedido por outros acor­dos e protocolos em busca desse en­tendimento, o processo foi ampla­mente discutido durante 18 anos, em negociações entre filólogos e institui­ções responsáveis. Venceu impasses e divergências de todo tipo. Foi aprova­do pelo legislativo dos países interes­sados. Foi assinado e promulgado pe­los presidentes do Brasil e de Portugal em 2008, Entrou em vigor em Janeiro de 2009, com prazo de adaptação es­tendido no Brasil até Dezembro de 2012. Em Portugal, até 2016.

 

Sabe-se lá por quê (ou por quem), na semana antes de terminar nosso prazo oficial, entre o Natal e o Ano No­vo de 2012, a presidente Dilma resol­veu prorrogá-lo. Não chegou a fazer nenhuma diferença prática. No Brasil, como já estávamos fazendo, continua­mos todos usando a ortografia que se­gue o acordo — é como se escreve nes­te jornal e nos livros publicados no pa­ís e como se ensina nas escolas. Todo mundo entende. A experiência poderá, eventualmente, revelar a necessi­dade de pequenos ajustes. Mas não é disso que se trata agora.

 

A jabuticaba que está na Comissão de Educação, Cultura e Desporto do Se­nado é outra. É uma proposta de re­forma ortográfica, para que se passe a escrever como se fala, "para simplifi­car e aperfeiçoar a ortografia” de mo­do a facilitar a alfabetização. Sem le­tras que não se pronunciam e sem duplicidade de grafia para o mesmo som. A justificativa populista é ajudar as crianças, ensinando-as a escrever, por exemplo, "O omen xora porqe qer caza para abitar”(sic).

 

Nem vale discutir os detalhes dessa ideia estapafúrdia. Questiona-se é a premissa, em nome de uma pretensa inclusão social. Nada disso é necessário.

 

O linguista Marcos Bagno lembra que as línguas mais faladas e escritas internacionalmente (como o inglês e o francês) têm ortografias complicadas e nem por is­so deixaram de se difundir. Não precisaram de jabuticabas simplificadoras. Será que as crianças deles são mais capazes que as nossas?

 

O filólogo e académico Evanildo Bechara insta a CE do Senado a não levar adiante a proposta de "simplificação” um equívoco talvez baseado em ''amnésia ou ignorância”. A professora Marília Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Linguística, encaminhou aos senadores documento em que sublinha que o que dificulta o processo de alfabetização de crianças oriundas de segmentos sociais de pouca familiaridade e contacto com a língua escrita não é a ortografia. É a falta de uma experiên­cia letradora significativa anterior e pa­ralela ao processo escolar.

 

Há casos em que essa vivência falta também a muitos professores, lembro eu.

 

Sinal de melhora: gente vinda de um ambiente iletrado está chegando à alfabetização nas últimas décadas. Algo a se celebrar. Mas também sinal de alerta: a formação dos nossos pro­fessores precisa ser de melhor nível, capaz de incorporar alternativas pe­dagógicas mais eficientes, de corrigir eventual falta de intimidade com a cultura escrita e de compensar desi­gualdades de origem.

Precisa capacitá-los a alfabetizar.

 

Tomara que o Senado consiga perceber isso. Mais clareza nas prioridades, gente. O remédio é qualidade na educação. Não é jabuticaba.

 

 Ana Maria Machado

 

22.09.14

 

 Francisco Gomes de Amorim

DIVERSÃO DOMINICAL

 

Poderia ter-me ficado pelos «Dois zeros à esquerda” dos “Dias Contados” (DN,14/9), mas a prosa humorística de Alberto Gonçalves, conjuntamente com a seriedade dos seus temas é sempre para mim uma leitura aprazível que gosto de guardar.

 

O segundo tema, de 9/9 – Idechatearocamoes@mec.gov.pt - é sobre as praxes académicas, o terceiro, de 13/9 - A equipa de quase todos nós – sobre o futebol nacional, eis outros motivos nacionais de extrema gravidade, tratados com zanga juvenil e simultaneamente ampla de observação nos seus “tiros” certeiros aos responsáveis pelas nossas “besteiras”: “ridendo castigat mores”.

 

Realmente, não é por demais – embora por demais inútil – apontar-se a prepotência lorpa e a pieguice reles da estudantada autoritária - a primeira - falsamente humilde, a segunda, na sua preparação para a vida, que mal se identifica com uma consciência do que signifique o objectivo de estudos superiores. Mas em vez de acabar com a tolice, o Ministério da Educação colabora no jogo embrutecedor, descendo ao nível dos brincalhões, prometendo apoios aos desfavorecidos – os caloiros - o que parece rematada pequice. Citando Alberto Gonçalves – Comparada com o paternalismo do Estado, a idiotia das praxes confunde-se com um espaço de liberdade – dele discordo, todavia, o “espaço de liberdade” parecendo-me antes um espaço de monstruosidade indigna de seres humanos, quase se identificando com os recentes executores jihadistas dos jornalistas americanos e britânico, não fora a puerilidade e vanidade do seu espectáculo degradante:

 

Terça-feira, 9 de Setembro

 

Morreram 5 estudantes no Meco

 

Idechatearocamoes@-mec.gov.pt

 

Não é fácil imaginar empreitada mais pateta do que as "praxes" universitárias, mas o Governo lá se lembrou de uma, e aparentemente sem grande dificuldade. Falo da criação de um endereço de e-mail para que os estudantes denunciem "abusos ocorridos no âmbito das atividades de praxe": praxes abusivas@mec.gov.pt. Entre parêntesis, defendo a existência de um e-mail para denunciarmos o abuso da grotesca palavra "âmbito". Fora de parêntesis, o Ministério da Educação promete "apoio a quem o requerer".

 

Que tipo de apoio? O Dr. Crato não esclarece. Será que o MEC fornece guarda-costas aos alunos receosos de vir a sofrer "coacção física ou psicológica"? Ou apenas providencia psicanalistas aos alunos que já sofreram as tais coacções? Será criado um Observatório das Praxes, com instalações, pessoal administrativo e orçamento? Uma coisa é certa: qualquer universitário necessitado de intervenção oficial para virar costas às "praxes" precisa urgentemente de acompanhamento especializado.

 

E outra coisa é certa também: se a função do ensino superior é preparar jovens para a vida, a função está a ser cumprida. A vida, pelo menos a desejada por todos os que mandam e por muitos dos que obedecem, resume-se a confiar o nosso destino a burocratas que nos regulamentam, informam, guiam, encaminham, conduzem e apascentam. Trata-se de uma humilhação perpétua, que apoio nenhum alivia e e-mail nenhum resgata. Comparada com o paternalismo do Estado, a idiotia das praxes confunde-se com um espaço de liberdade.

 

Quanto à questão do futebol, mais uma vez Alberto Gonçalves acerta no alvo, na sua troça à hiperbolicamente designada “equipa de todos nós”, que pretende ser delambida expressão de amor pátrio e é apenas uma caricatura de “todos nós” porque “remendada, periférica, pequenina e coxa” . Não vale a pena desenvolver, Alberto Gonçalves fá-lo magistralmente. Só não consegue, por muito que deseje corrigir os costumes pelo riso, eliminar os debates futebolísticos televisivos, nem as averiguações à opinião pública aquando dos jogos – o que é praticamente o ano inteiro. Que na nossa terra, são esses os debates mais solicitados, esses e os politiqueiros ou económicos, com os escândalos bem pontuados de imagens e expressão das sensibilidades, geralmente de fácies irritadiço. Às vezes o segundo Canal lembra-se de apresentar programas doutras espécies de cultura, mas não tem audiência, ultrapassado pelas coisas que nos dão mais prazer – as danças para o povo, os manjares de apetite que se fabricam pelo país, as paisagens encantadoras, as telenovelas com alguns bons desempenhos, a maioria com temáticas inalteravelmente ligadas ao sexo, ao burlesco, ao sórdido. Fiquemo-nos pela “equipa de todos nós”, embora Alberto Gonçalves se queira demarcar dos “piores”, com o argumento de que «nem todos somos tão maus», e por isso substituindo o slogan popular pelo título«A equipa de quase todos nós»:

 

Sexta-feira, 12 de Setembro

 

A equipa de quase todos nós

 

Não vi o jogo de Portugal com a Albânia, mas pelas descrições na imprensa especializada a coisa oscilou entre a vergonha e a catástrofe de proporções bíblicas. Dado que os jornais desportivos costumam ser simpáticos para com a selecção, é de presumir que a verdade terá sido ainda pior. Ainda bem.

 

Com os índices caseiros em matéria de corrupção, economia e geral atraso de vida, não fazia sentido que a selecção nacional de futebol ocupasse um lugar entre as melhores do mundo, como parece que ocupou na última década ou década e meia. Isto afastava as elites da bola do cidadão comum, o qual, género servo da gleba, se limitava a acenar de longe ao autocarro dos privilegiados. Numa sociedade que se pretende igualitária e constitucionalmente a caminho do socialismo, era fundamental acabar com essas distinções de casta: não é justo que uns nasçam no berço dourado do drible e da desmarcação enquanto outros são incapazes de dar um chuto com o pé direito sem tropeçar no esquerdo.

 

Tornava-se pois urgente que a "equipa de todos nós" fosse de facto semelhante a todos nós: remendada, periférica, pequenina e coxa. Com a ajuda inestimável dos actuais dirigentes da federação do ramo - que convocam conferências a anunciar a própria incompetência - conseguiu-se criar uma equipa com que podemos identificar-nos sem esforço. Os dirigentes deram um exemplo raríssimo em qualquer actividade: a prometida incompetência foi plenamente cumprida. Os jogadores arrastaram-se no relvado com um talento só ao alcance dos condenados. E o seleccionador merecia uma comenda, não o despedimento típico num país que nunca reconhece os seus melhores. Ou, para o que aqui interessa, os piores: nem todos somos tão maus.

 

 Berta Brás

ESTÁTUA DE CATARINA DE BRAGANÇA EM QUEENS (NY)

 

Catarina de Bragança (1638-1705), filha de João IV de Portugal e de Luísa de Gusmão, de seu nome Catarina Henriqueta de Bragança foi uma Infanta de Portugal, depois Princesa da Beira e, posteriormente, rainha consorte de Inglaterra e Escócia por seu casamento com o rei Carlos II da Casa de Stuart (Inglaterra)

                       

A cerimónia do casamento realizou-se em Maio de 1662.

 

Assim começou a parte infeliz da vida de Catarina de Bragança, uma princesa nascida e criada no seio de uma família com cultura, educação e hábitos tradicionais portugueses que, por sua infelicidade, foi desterrada para uma corte que, contrariamente ao que alguns escritores e cineastas de pacotilha nos querem fazer crer, era rude e atrasada em relação à restante Europa.

 

Catarina, teve um papel importantíssimo na modernização da Inglaterra e na alteração da filosofia de vida dos ingleses pelo que, embora não suficientemente, ainda hoje é admirada e homenageada.

 

Provocou uma autêntica revolução na corte de Inglaterra, apesar de ter sido sempre hostilizada por ser diferente mas nunca desistiu da sua maneira de ser, nem consentiu que as damas portuguesas do seu séquito o fizessem.

Tinha uma personalidade tão forte que conseguiu que aqueles (principalmente aquelas) que a criticavam, em breve, passassem a imitá-la.

 

E assim, se derem grandes alterações na corte inglesa:

O conhecimento da laranja
Catarina adorava laranjas e nunca deixou de as comer graças aos cestos delas que a mãe lhe enviava.

 

O costume do “CHÁ DAS 5”
Costume que levou de casa e que continuou a seguir organizando reuniões com amigas e inimigas. Este hábito generalizou-se de tal maneira que, ainda hoje, há quem pense que o costume de tomar chá a meio da tarde é de origem britânica.

 

A compota de laranja
Que os ingleses chamam de “marmelade”, usando, erradamente, o termo português marmelada, porque a marmelada portuguesa já tinha sido introduzida na Inglaterra em 1495. Catarina guardava a compota de laranjas normais para si e suas amigas e a de laranjas amargas para as inimigas, principalmente, para as amantes do rei.

 

Influenciou o modo de vestir
Introduziu a saia curta. Naquele tempo, saia curta era acima do tornozelo e Catarina escandalizou a corte inglesa por mostrar os pés, o que era considerado de mau-gosto e que não admira devido aos pés enormes das inglesas. Como ela tinha pés pequeninos, isso arranjou-lhe mais inimigas.

 

Introduziu o hábito de vestir roupa masculina para montar.

 

O uso do garfo para comer
Na Inglaterra, mesmo na corte, comiam com as mãos, embora o garfo já fosse conhecido, mas só para trinchar ou servir. Catarina estava habituada a usá-lo para comer e, em breve, todos faziam o mesmo.

 

Introdução da porcelana
Estranhando comerem em pratos de ouro ou de prata, perguntou porque não comiam em pratos de porcelana como se fazia já há muitos anos em Portugal. A partir de aí, o uso de louça de porcelana generalizou-se.

 

Música
Do séquito que levou de Portugal fazia parte uma orquestra de músicos portugueses e foi por sua mão que se ouviu a primeira ópera em Inglaterra.

 

Mobiliário
Catarina também levou consigo alguns móveis, entre os quais preciosos contadores indo-portugueses que nunca tinham sido vistos em Inglaterra.

 

O nascimento do “Império Britânico”
Como já se disse, o dote de Catarina foi grandioso pela quantia em dinheiro mas, muito mais importante para o futuro, por incluir a cidade de Tânger, no Norte de África e a ilha de Bombaim, na Índia.

 

Traindo os Tratados que tinham assumido e com a desculpa de que o rei de Portugal era espanhol, os ingleses conseguiram, apesar do controle da Marinha Portuguesa, navegar até à Índia onde criaram um entreposto em Guzarate.

 

Em 1670, depois de receber Bombaim dos portugueses, o rei Carlos II autorizou a Companhia das Índias Orientais a adquirir territórios.

Assim nasceu o Império Britânico.

 

Hoje. há pouca gente que saiba a importância que a rainha Catarina teve para os ingleses e o carinho que eles tiveram por ela. A sua popularidade estendeu-se até à América, onde um dos cinco bairros de Nova Iorque (Queens) foi baptizado em sua homenagem.

 

Em 1998, a associação “Friends of Queen Catherina” fez uma colecta de fundos para lhe erguer uma estátua

 

 

Estátua de D. Catarina em Queens (NY)

 

Recebido por e-mail, Autor não identificado

UM CORPO ALUCINADO

 

 

Aquilo que o cérebro regista nos seus mapas e aquilo que a mente consciente sente não corresponde à realidade que poderia ser apreendida. Utilizamos o mecanismo da alucinação sempre que ingerimos moléculas com capacidade de modificar a transmissão ou o mapeamento de sinais corporais.

 

O álcool tem essa capacidade, tal como os analgésicos, os anestésicos e muitas outras drogas. Está bem de ver que, curiosidade à parte, o ser humano se sente atraído por essas moléculas devido ao desejo de criar sentimentos de bem-estar, sentimentos em que os sinais de dor são eliminados e se induzem sinais de prazer.

 

 António Damásio

 

In O LIVRO DA CINSCIÊNCIA – A Construção do Cérebro Consciente, Círculo de Leitores, 1ª edição, Setembro de 2010, pág. 157.

ASSIM SE FORA O IMPÉRIO ROMANO

 

PUTATIVO MUNDO MUÇULMANO

 

Tinha o jornal Público de 30/8/14 de parte, para poder pegar no tema assustador de matanças no Médio Oriente, de gente marchando no deserto sírio com os algozes encapuçados por trás, que os vão matar, de jornalistas assim mortos, dos fanáticos da Jihad divertindo-se a jogar às guerras, para não falar nas outras situações que ameaçam a paz… Como sempre, Vasco Pulido Valente explica, aclara, critica:

 

«O Islão e nós»

Por Vasco Pulido Valente

 

Nem os milhares de funcionários que na América tentaram convencer Bush que não era uma boa ideia invadir o Iraque, nem os conselhos de fora, nem sequer a própria evidência das coisas conseguiram impedir o desastre da invasão. Bush passou por cima de tudo e, de caminho, arrasou o equilíbrio precário que a Inglaterra e a França tinham imperialmente estabelecido na região depois da I Guerra Mundial. No fim, quando se retiraram as tropas do Ocidente, ficou o que devia ficar: uma guerra civil étnica e religiosa, que pouco a pouco alastrou a uma boa parte do mundo muçulmano, com o apoio e a colaboração das colónias de refugiados nos países mais tolerantes da Europa. Como se viu agora com a morte de James Fowley, o Londanistão realmente existia e colaborava com os militantes no terreno.

 

O “Estado Islâmico” (EI) - ou ISIS ou ISIL – reúne a facção mais radical da “jihad” (a guerra santa) e, apesar de recente, já se distinguiu pela sua crueldade e primitivismo. Nada que nos deva espantar. As guerras da Reforma cristã, sem chegar à brutalidade do EI, não ficaram como modelo de “limpeza” ou de respeito pela vida humana. A fé não inspira mansidão. A violência da Europa até meados do século XVII, numa velha e venerável civilização, não deixou por isso de ser violência. Ainda há anos, a Alemanha (ou o povo alemão) considerava a “guerra dos 30 anos” como a maior catástrofe da sua história. Não é de esperar que o islão leve menos tempo e use de meios mais doces para pôr a sua casa em ordem, se algum dia conseguir essa inimaginável proeza.

 

Ao contrário do que Obama supõe, no meio da confusão instalada, não lhe compete defender uma etnia contra outra ou uma seita contra a seita do lado. O Ocidente é o inimigo universal das forças que dominam o mundo muçulmano, não pode arbitrar ou conciliar, tanto mais que não conhece ou não percebe as sociedades em que se acha na obrigação de intervir. O que o Ocidente pode é fazer um esforço para isolar a área e os países que se envolveram na luta pelo Califado ou pelo Iraque ou qualquer ambição de vingança e conquista. E também pode tomar as precauções necessárias para que a “jihad” não penetre no seu território ou descaradamente o use como base de recrutamento e centro de operações. A “missão” da Europa como da América acabaram. Para sempre. Basta que mostrem uma “neutralidade” pacífica e sensata e se armem para não encorajar aventuras do próximo

 

Corolário do texto histórico de Pulido Valente, recebo hoje um email escrito em francês, que traduzo e não deixo de transcrever, substituindo as fotos por leve anotação, texto e fotos feitos, certamente, por alguém preocupado com o mundo aterrador, na infiltração gradual de difusores de uma pseudo religião baseada em preceitos de um fanatismo criminoso, em hordas provindas de espaços latos a estes mais estreitos de uma Europa acolhedora e cega, segundo os ditames demagógicos de abertura à fraternidade, igualdade e liberdade, por receio de poder parecer menos solidária:

 

Não é racismo, mas uma simples constatação. Atenção!

 

Apenas 50 anos decorreram. Como será dentro de 50 anos? Os nossos filhos vão ter o mesmo problema que todos os países de que de fala mais abaixo.

 

Se uma imagem vale mil palavras, que valem todas estas fotos?

 

Tenho medo da xenofobia, mas ainda mais medo dos fanáticos.

 

As fotos mostram como o mundo mudou em 50 anos:

 

Irão:

Foto de 1970: de raparigas e rapazes em camaradagem aberta, à maneira ocidental.

Foto de 2012: Cabeças tapadas, um olhar mau ou apenas assustado de uma das raparigas de burka.

 

Afeganistão:

Foto de 1967: de transparência e alegria normais.

Foto de 2011:Só uma criança de rosto destapado no meio de figuras, certamente de mulheres, tapadas como barris, só umas mãos visíveis, na direcção da cara destapada da criança.

 

Egipto:

Foto de 1950: de estudantes e professores nas escadarias da Universidade do Cairo, idênticas às do nosso mundo.

Foto de 2012: A mesma escadaria: mulheres estudantes de burka, poucos homens; não misturados com as colegas.

 

Amsterdão, Países Baixos:

Foto de 1980: mercado com asiáticos vestidos à maneira europeia.

Foto de 2012: mercado com gente de longas vestes orientais, as cabeças envoltas em lenços.

 

E as pessoas não vêem razão para se inquietarem pelo futuro. Não há mais cego do que aquele que não quer ver.

 

Foto da actualidade com a bandeira francesa a ser queimada por árabes, certamente que em França.

 

Fotos de vítimas da lei islâmica: a charia:

- Foto de homens sentados, mostrando a amputação da mão direita e do pé esquerdo.

Chama-se a isto “amputação cruzada: mão direita e pé esquerdo.

 

É monstruosamente desumano.

 

Mas graças aos nossos politiqueiros “progressistas”, será o meu amanhã, por efeito da democracia, de aplicação na França e na Bélgica.

 

E as prisões estarão menos cheias?

 

Foto de uma estudante iraniana, as costas em carne viva, por ter sido apanhada com uma lata de cerveja na mão: 6 anos de prisão; violada 29 vezes por 7 islamitas; 80 chicotadas. Eis o que é a lei da charia, lei islâmica.

 

Prospecto contendo informações sobre os lugares de culto muçulmano em França com um sinal de repúdio ao templo cristão: 2500 lugares de culto muçulmano em França. 200 projectos de construção. 150 em 1975. 900 em 1985. 1550 em 2001. 2500 em 2012.

 

Quantos haverá em 2050?

 

Até onde iremos assim? Iremos assim até ao fim da nossa civilização.

 

Li na Internet sobre a tal charia coisas aterradoras sobre a extensão do islamismo nos Estados Unidos, no Brasil… Mas já o Império Romano assim foi morrendo, mercê dos Bárbaros. Coisas do destino. Continuemos, dirá Salles da Fonseca…

 

 Berta Brás

CANÇÃO DA CANDEIA ACESA

 

 

Ainda havia luz no céu

Quando se encostou à minha porta

A sombra da noitinha

E ali se adormeceu...

 

Mas como é de uso na aldeia,

Costume tão velho já,

Ao sentir-se alguém à porta

Eu disse-lhe: - Entre quem está...

 

Entrou. Era a noite... E, então,

Eu senti bem a tristeza

Daquela gente que não pode

Ter candeia acesa.

 

Eu tenho-a, Senhor;

Eu nem sei a riqueza que tenho:

Tenho uma terra

E também

Uma casa

E um rebanho...

 

E, além de tudo, um amor,

A quem quero e que me quer...

E que a vontade do Senhor

A faça minha mulher!

 

 

 Branquinho da Fonseca

QUANDO AS AMIGAS CONVERSAM...

 

 

NÃO LHES LIGO

 

A minha amiga é muito drástica nas considerações que faz a respeito das coisas, muito levada por exaltações próprias de uma sensibilidade transbordante, embora a minha irmã também não lhe fique atrás nas contestações, quando os coisas não andam de feição, o que até é norma por cá. No meio das duas, amigas de há longa data, numa Quelimane de recordação gloriosa, eu limito-me ao papel de expressora de fungadelas ou interjeições, pois o rabiscar por vezes os ditos, no acaso das conversas, me reduz a um esbatimento que condiz, aliás, com a minha timidez natural, embora nos tempos passados o epíteto “natural” surgisse mais a qualificar a descontração e a estupidez, condições sine qua non das nossas necessidades naturais. Dizia-se muito, após um desaire, que sempre os houve, afinal, “o que é preciso é descontracção e estupidez natural”, para anular os efeitos do desaire. Quando falámos nos “Antónios”, a propósito de um artigo do Alberto Gonçalves que eu lera nessa manhã no DN, antes de partir para o nosso encontro na esplanada do café, a minha irmã referiu o Público que me trazia, com o artigo do Vasco Pulido Valente, mas a minha amiga, muito desdenhosa, não nos quis acompanhar no nosso “Olh’ó António”:

 

- Eu com esses dois já não me meto, não lhes ligo. Deviam ir para um lar de idosos.

 

Ora isto não se diz, e até fiquei enxofrada, mesmo porque os acho jovens e bem parecidos, mas a verdade é que a minha amiga estava preocupada era com as histórias do seu Bobas, e por isso nos despachou a conversa em favor do seu caso, que é como quem diz, do do Bobas. As aventuras romanescas deste com as cadelas da vizinhança, têm-lhe valido telefonemas de pessoas idosas avisando sobre os espectáculos degradantes que este oferece perto das esplanadas, e ameaçando mesmo com a carroça, caso não se execute a castração do Bobas, que, para melhor efeito de sedução, e não só das cadelas mas de todas as senhoras que o olham sorridentes, usa uns lenços vaporosos da minha amiga com que o filho da minha amiga lhe enfeita o pescoço, no qual gravou o telefone da casa, tanto é o receio de que se perca, o que aliás já lhe tem valido boas caminhadas, após aviso de que está em tal parte, perdido nos seus devaneios. Foi por isso que, quando cheguei à esplanada, onde as duas já se encontravam, ao invés das graças com que a minha amiga me costuma acolher, fazendo inspecção à minha roupagem exterior que geralmente combina pouco e nem mete lenço a tapar as engelhas do pescoço, a não ser no Inverno, de lã, a nossa amiga estava ao telefone a responder brandamente a um sujeito irado que a avisava do mau comportamento do Bobas e ameaçando com a polícia. A minha amiga telefonou logo ao filho que ainda dormia o sono dos justos, para ir amansar o senhor em tal parte e levar dali o Bobas.

 

E logo a minha amiga, depois de desligar, falou nos apartamentos que não têm direito a cão, embora estes sejam de uma dedicação aos donos como a não têm os humanos, e não só com os cegos.

 

- Já viu que os portugueses não têm paciência nenhuma para cães? Logo tinham que ser abatidos! Toda a gente sabe que esses animais vão ser abatidos, porque o Governo não dá ajuda, com tratamentos e vacinas mais baratos. Alguns, coitados, são postos fora das casas, abandonados das casas sobretudo nas férias. Então, quer dizer! Agora tenho o meu problema! Mas o meu Bobas! Temos que lhe dar um curso de bom comportamento.

 

Eu também tive que trazer o meu Fox para o novo apartamento, que era da minha Mãe, e explicar da adaptação do Fox à sua nova realidade, entre quatro paredes, mas a minha amiga falou nos 13 anos gastos do Fox, contrariamente à pujança física do Bobas, correspondendo a uma juventude mais ansiosa e nem me deixou desenvolver o comentário sobre o meu Fox.

 

Mas a minha irmã achou que a protecção do Estado aos cães proposta pela minha amiga ultrapassava as competências do Governo a debater-se nos problemas económicos da nossa catástrofe, e cada um tinha que tomar as suas próprias providências, sem esperar tanto do Estado, e regressámos à canção do “Olh’ó António!” Não era sem tempo!

 

Mas Vasco Pulido Valente e Alberto Gonçalves o fizeram, com a classe de sempre, que não resisto a transcrever:

 

Primarismos

Vasco Pulido Valente

Público,12/09/2014

 

O jovem José Seguro tem um génio quase miraculoso para fazer asneiras sem remédio. Explicar, por exemplo, num debate de televisão que se demitiria se tivesse de aumentar impostos não passava pela cabeça de ninguém, excepto talvez pela cabeça de uma criança de 8 anos, um pouco atrasada. Promover este extraordinário indivíduo a secretário-geral do PS ou a primeiro-ministro seria uma rematada loucura e poria rapidamente Portugal inteiro numa crise de nervos. As coisas que ele pode dizer, capazes de meter o país num indescritível sarilho, achando que está a exibir a sua grande virtude ou beneficiar o PS e a Pátria. Não tem equilíbrio, nem prudência, nem sensatez. Como, de resto, provou à primeira oportunidade quando Costa o desafiou. Viu tudo mal e decidiu pior: para ele e para o partido.

 

O resultado da eleição para as federações, que de certa maneira o beneficia, e o abrandamento do entusiasmo por Costa criaram ao PS um problema quase irresolúvel. Seguro conseguiu por um cabelo a legitimidade do “aparelho”; Costa, se ganhar as “primárias” conseguirá a legitimidade dos “simpatizantes”. Qual deve prevalecer sobre a outra? Se Costa ganhasse por uma esmagadora margem (imaginemos por 70 contra 30, ou 80 contra 20) provavelmente acabaria por impor a sua autoridade. Mas se não ganhar? Se não ganhar, o PS fica limpamente dividido em dois: o PS do “aparelho”, invocando a sua origem e a legalidade interna, e o PS do “eleitorado”, onde em princípio está a força que o levará ao governo. Na guerra entre estas duas legitimidades não há compromisso possível.

 

A cada incidente, a cada vexame, a cada derrota, a velha pergunta voltará: de quem é a culpa? De Seguro porque deixou deslizar o partido para a irrelevância e porque inventou as “primárias”, sem medir as consequências do exercício? De Costa porque afastou ou enfraqueceu Seguro e porque se apoiou em “estranhos”, cuja “simpatia” (mesmo supondo que é autêntica) não vale o zelo, a fidelidade e os sacrifícios dos militantes? As “primárias” foram copiadas, como sempre sucede em Portugal. Só que na sociedade doméstica e pequena de Portugal não resolvem nada; e servirão quase de certeza para envenenar e aumentar o ódio fraternal a que ela já hoje se dedica. Esta querela do PS é muito mais dramática e muito mais perigosa do que se pensa.

 

Dois zeros à esquerda

Alberto Gonçalves

DN, 14/9/14

 

Com a sobrancelha vibrante de angústia, o António acusa o António de deslealdade e traição. O António, com o lábio inferior trémulo de mágoa, reage e lamenta que o António recorra a ataques pessoais. O António sente-se. O António choraminga. O António faz queixinhas. O António corre para a mãe. Antes do debate na TVI, José Alberto Carvalho anunciou que iríamos testemunhar uma coisa nunca vista. Estava certíssimo.

 

Por mim, nunca vi demonstração tão cabal de vazio quanto o primeiro confronto directo entre os Antónios do PS. E esperava não voltar a ver, até que no dia seguinte o confronto se mudou para a SIC e os Antónios mudaram o registo. Depois da pieguice, passaram alegadamente a discutir ideias. Dado que não possuem uma única, além da peculiar noção de que a crise é facultativa e o crescimento decretável, o vazio foi ainda mais evidente.

 

Não significa isto que o António e o António sejam os maiores embaraços da história da democracia, embora essa hipótese não deva ser desprezada. Significa apenas que não há memória de os embaraços se exporem assim ao olhar do público. Por regra, quando uma organização de poder quer colocar uma nulidade na liderança, convoca um congresso e procede em relativo recato. Por razões que me escapam, o PS decidiu autopsiar as respectivas nulidades em horário nobre. E o resultado é este.

 

Misteriosamente, a opinião publicada consegue tomar partido na contenda, e quase sempre do lado do António, nascido e criado nas "jotas", contra o António, nascido e criado nas "jotas". A mera capacidade de se distinguir entre ambos os Antónios já é notável (no máximo, distinguem-se pelos que os rodeiam: um António é visto na companhia de relíquias socialistas e de vultos do que aqui passa por "cultura", e o outro António não). Mas verdadeiramente espantosa é a tendência de comentadores, colunistas, cartomantes e "politólogos" para se entusiasmarem com os desabafos dos Antónios, fundamentados em coisa nenhuma excepto na convicção de que um deles acabará a mandar no País.

 

A acontecer tamanho flagelo, de resto plausível, importa é perceber se o País sobreviverá a qualquer dos Antónios. Sabe Deus e sabem os contribuintes alemães que Portugal tem resistido a muito. A desesperada situação em curso sugere que não resistirá a tanto. Será azar, ou será talvez o justo castigo para quem leva a sério pelo menos um de dois zeros à esquerda. Os Antónios nem a brincar.

 

 Berta Brás

COISAS DA MENINICE

 

Oh! Se pudesse que voltasse

O tempo para trás, como a memória

Pelos vestígios da primeira idade...

 

Vão-se apagando da já tão usada memória, muitas passagens que através dos anos vivemos com mais ou menos intensidade.

Abençoada a hora da fotografia e depois do cinema que nos permite arrancar o que está lá “muito para trás” garantindo perante nós próprios, e os outros, que um dia também fomos meninos, que andámos bem aconchegados ao colo dos nossos pais, que fomos crescendo, esmurrando os joelhos, fazendo asneiras, construindo o nosso futuro e personalidade, mas muita, muita coisa já ficou para além das brumas do tempo, e cada dia que passa mais difícil se torna ir “lá” buscar vivências.

 

Volta e meia, de repente, como que surgindo do nada, vem uma lembrança que nos leva a tentar explorar até se definirem alguns contornos, época, amigos, a maioria desaparecidos no tempo, etc.

 

Devia eu ter os meus onze ou doze anos, já no Liceu – o bom e velho Pedro Nunes, em Lisboa – quando, junto com outros “atletas” nos lembramos de fundar um clube de futebol!

 

Dinheiro, naquela época não me lembro que alguém tivesse, de modo que a “verba” para o clube funcionar era um problema sério!

Começámos por dar nome ao clube: “REBENTA CANELAS FUTEBOL CLUB”.

 

Não havia dúvidas que o título era promissor de grandes eventos.

 

Com uns restos de cartolina que sempre sobravam das aulas de trabalhos manuais (será que ainda há aulas destas?) fizeram-se os cartões de “sócios” cuja obrigação inicial era cada um apresentar uma fotografia, e, não lembro já quantos nos juntámos, sabendo que o mínimo necessário seriam os onze para formar a equipa de futebol.

 

Equipamento era fácil: naquele tempo todos usávamos calção e não era difícil que também tivéssemos uma camisa de cor mais ou menos igual entre todos.

 

Para jogarmos contra adversários de dentro ou fora do Liceu, lá para os lados das Amoreiras, em Lisboa, um campo, se não estou em erro do CIF (seria Club Internacional de Futebol?) que alugava o campo. Campo óptimo de terra, mal nivelado, umas esparsas pedras soltas aqui e além e as balizas... sem redes, como será de imaginar, que era alugado por cinco escudos! Para isso cada um contribuía com cinquenta centavos que raro sobrava, como diziam em Angola, nem uma “quinhenta”, porque ambas as equipas nunca apresentavam os onzes “oficiais”.

 

E bola? O maior dos problemas. Custava uns dez escudos, de couro por fora, duro como pedra, e a fundamental bexiga de borracha inflável por dentro. Uma cabeçada naquela bola, mais doloroso ainda quando batia na testa com o fecho (!) chegava a fazer “galos” e feridas! E tinha que ser cheia com uma bomba de encher pneus de carros! Olhem só a macieza:

 

 

Conferência, ou assembleia-geral, mas os dez escudos não surgiam. Foi quando me lembrei de ir pedir esse “financiamento” ao meu avô materno, sempre um unhas-de-fome, com a promessa de lhe pagarmos assim que juntássemos o dinheiro.

 

Lembro de lá ter ido com mais um ou dois “atletas” para impressionar com a veracidade da nossa “organização”. Fomos a pé, claro, ao centro de Lisboa, e o avô não demorou a abrir a bolsa e “emprestar-nos” aquela pequena fortuna, que jamais reembolsámos, como todos esperavam! Maravilha.

 

No regresso íamos numa felicidade só, já com a bola, novinha, nas mãos.

 

Só nos faltava desafiar um adversário qualquer – encher a bola primeiro, claro – e partir para a inauguração.

 

O guarda-redes jogava com uns panos velhos amarrados nos joelhos que não serviam de muito, mas moralmente eram bastante tranquilizadores, e o restante com umas quantas folhas de papelão por baixo das meias para servirem de caneleiras!

 

O problema “mais grave” é que nunca se conseguiu juntar a equipa toda para um jogo o que fazia com que normalmente levássemos, quase sempre, uma tremenda derrota!

 

Ainda por cima jogava-se sem árbitro o que dava também lugar a discussões “ferozes” sobre “offsides”, “penalties”, e meiguices de tremendos encontrões e chutos nas canelas! E até sobre o golo, porque se a bola passava por fora ou dentro da baliza... não tinha rede para a segurar...

 

Perde-se aqui a memória desse “Rebenta Canelas”! Pouco mais reaparece do que uns escassos momentos de emocionantes jogadas, com avançadas, caneladas, tombos, roupa suja ou rasgada, todos os jogadores cheios de pó e arranhões e um regresso a casa, mais ou menos longe, sempre a pé, até nos apresentarmos perante as nossas mães com aquele ar comprometido porque voltávamos mais tarde, ter que explicar por onde tínhamos andado, sujíssimos, um rasgão aqui outro mais além, e uma imperiosa necessidade de tomar banho e gastar um pouco de tintura e umas ligaduras para tratar dos ferimentos da “guerra”.

 

Cansado? Jamais um garoto de uma dúzia de anos se cansa! A não ser para ir estudar!

 

Esmurrado, desconsolado, muita vez pelas desmoralizantes derrotas, ainda ter que ir fazer os trabalhos de casa, era quase um castigo. Merecido.

 

Hoje a criançada não esfola mais joelhos nem canelas! Esfola os bolsos dos pais para que lhes comprem smartphones, ipads, laptops, para ficarem todo o dia mandando mensagens uns aos outros, dizendo bobagens nas chamadas redes sociais, fazer selfies, e expor as suas vidas aos olhos do mundo.

 

Não. Sem querer ser saudosista ou retrógrado, eu não trocaria, jamais, o meu clube, em que nos rebentávamos, por uma conversinha, a maioria das vezes inútil e ainda por cima virtual nessas redes.

 

É a moda! E é “o que vão dizer os meus companheiros?”

 

Hoje já não poderia “fundar” um outro clube semelhante. Talvez um bar tipo pub onde encontrar os amigos, ao vivo, batermos longos papos (beber uns copos!) e, sem equipamentos virtuais, deixar

 

o tempo andar para trás, como a memória

pelos vestígios de todas as idades...

14/08/14

 

 Francisco Gomes de Amorim

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