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A bem da Nação

ACONTECE -2

 

Como diria Carlos Pinto Coelho, no seu programa cultural do 2º Canal, extinto há muitos anos já, como, de resto, o seu apresentador. Acontece. Não só o mal acontece.  Acontece o amor, dizem os cantores amantes, e os que não cantam e o vivem apenas. Mas Carlos Pinto Coelho era de leituras e intelectualidades que gostava, é a leituras que me refiro, que ajudam a atravessar a vida aprazivelmente.

O primeiro texto que me “aconteceu” ler foi o do Público de 29 de Junho, de Vasco Pulido Valente. Sobre Sócrates que também nos “aconteceu” e a quem o PS jamais se atreveu a responsabilizar por danos pátrios, um PS vivendo em genuflexão contínua perante o sábio que amplificou generosamente a nossa dependência económica do exterior. Agora que se dividiu, PS já responsabiliza Sócrates, sem pejo e sem cicuta. Esta é fornecida por Pulido Valente, na caracterização que faz do visado e dos da sua classe partidária:

 

À revelia

Vasco Pulido Valente  29/06/2014

 

Depois da derrota de Sócrates, nunca mais no PS se falou do que o partido e o seu primeiro-ministro tinham feito com a sua maioria absoluta. Não se falou da “obra”, nem do “programa” (admitindo que existia um), nem dos métodos do “animal selvagem”, que várias vezes roçaram o intolerável. O governo de Sócrates desapareceu do universo mental dos socialistas. Ninguém o criticou, quando ele era todo-poderoso, ninguém abriu a boca a seguir para lhe encontrar o menor defeito. Parece que Sócrates mostrara uma grande vontade “reformadora” e que a crise financeira fora exclusivamente provocada pela crise internacional. No homem, ele próprio, não se podia tocar, tanto mais que ele com a sua conhecida modéstia se recolhera a Paris para escrever uma tese sobre, calculem, filosofia política.

 

O pretexto para esta extraordinária abstenção estava como sempre na necessidade de garantir a unidade do partido e de lhe conservar um resto de prestígio. Não se conhece um exame tranquilo e sério dos quatro anos de Sócrates. Tirando um ou outro comentário vaguíssimo na televisão, António Costa não disse nada, António José Seguro também não e as personagens menores ficaram caladas como lhes competia. Ou seja, os socialistas não “arrumaram” o passado, como pretenderam, mas mais trivialmente “esconderam” um passado, que os comprometia, do eleitorado e do país. Agora, com as querelas domésticas do PS prometem participar ao público o que na realidade pensam, confessando de caminho que durante anos não hesitaram em enganar toda a gente por interesses de facção.

Isto merece um comentário. Se os políticos – do PS, do CDS ou do PSD – não vêem qualquer objecção moral em governar à revelia dos portugueses, para que serve o regime democrático por aí tão gabado? O cidadão comum soube da corrida para a bancarrota, que começou com Guterres (ou até com Cavaco)? Soube do extravagante crescimento da dívida (interna e externa, soberana e particular)?

Soube da carga que inevitavelmente cairia sobre ele, quando chegasse a altura de “ajustar” as coisas? E percebe a irresponsabilidade com que o conduziam para um poço sem fundo? De maneira nenhuma: sem informação, distraído pelas zaragatas da “classe dirigente”, viveu tranquilamente a sua vida, como se a “festa” fosse durar sempre. E é esta mesma gente, que no PS e fora dele nos pede agora confiança?

 

O segundo “Acontece” dos meus prazeres ledores, discretos e limitados por imposições de outros trabalhos ou prazeres televisivos, sobretudo, encontrei-o aqui, no “A Bem da Nação”, como excelente complemento do de Pulido Valente, na informação sobre uma esquerda desestabilizadora e amante, não da pátria verdadeira, mas daquele público do choradinho que nos habituámos a perscrutar há longos anos na livralhada neo-realista, sem mais dimensão que a do choradinho altruístico e furibundo, ressalvadas as excepções mais artísticas. É o artigo “É tudo narrativa”, de Rui Ramos que pode ser relido em http://abemdanacao.blogs.sapo.pt/e-tudo-narrativa-1229087

 

E continuemos para que aconteça…

 

 Berta Brás

O PRÍNCIPE ZÉ

 

 

Enquanto fui seu colega de estudos, nunca lhe vi uma atitude agreste. Mas cedo se viu que ele seria Príncipe e não Rei pois gostava de fazer bem ao próximo, devia sentir-se mal a dizer «não», gostava de agradar e sabia como ninguém estar em sociedade.

 

E a vida correu sem que mais nos encontrássemos. Via-o por vezes nos telejornais sempre na sua posição de Príncipe e deixando a ribalta para o Rei. Por interposta pessoa, fui-lhe mandando sugestões de leitura sem que alguma vez eu soubesse se lera ou deixara de lado. Mas sei que sempre foi distribuindo o bem por muita gente…

 

Mas, ao fim duma quarentena de anos, um dia houve em que o Rei caiu do trono e, com ele, o Príncipe. Adivinho-o agora triste por não ter mais bem para distribuir a quem dele precise. Nem sei se os beneficiados ao longo do seu longo principado o reconhecem agora ou se lhe voltam as costas. Já vi tanta ingratidão por estes anos todos que levo de caminho que não me admiraria muito ver mais uns quantos tristes casos desse género.

 

Mas como ele é bom, adivinho que vai encontrar maneira de continuar a distribuir o bem. Poderá ser um tipo de bem diferente do que distribuía até há pouco mas será bem na mesma.

 

O bem que o Zé Príncipe distribuiu só lhe ficou bem! Agora, há mais vida para além do principado, Zé!

 

Continuemos…

 

Lisboa, Julho de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

É TUDO NARRATIVA?

 

 

A "esquerda verdadeira" representa forças políticas que disputam o poder, mas não sabem como governar nas condições vigentes. Por isso, concebem o mundo segundo um idealismo grosseiro.

 

Sempre houve, mas agora parece haver mais: falo dos que, nos partidos e nos jornais, se dizem "verdadeiramente de esquerda". São aqueles para quem Tony Blair, por exemplo, nunca foi de esquerda, nem Matteo Renzi, nem sequer António Guterres (porque é católico), nem até António José Seguro (porque não se chama José Sócrates). Durante anos, o principal executor deste género de exclusivismo foi o reverendo Francisco Louçã. Agora, porém, o tribunal tem novos juízes: os fiéis e enteados do socratismo. São eles que agora decidem quem é e não é de esquerda. E com eles, veio esta tese: a de que na política tudo é "narrativa", e a "narrativa" é tudo.

 

A dívida pública, a sustentação do Estado social, a adaptação da economia ao euro, o modo como o governo de Sócrates acabou num resgate internacional – não são questões que possam justificar pontos de vista diferentes, mas que seja preciso encarar e discutir como problemas genuínos. Nada disso: são problemas falsos, cuja mera enunciação revela que alguém é de direita ou se deixou endrominar pela direita. Ser "verdadeiramente de esquerda" é negar tudo isso. A dívida pública? Não é um problema nosso, mas dos credores. O Estado social? Basta defendê-lo contra os neoliberais. O euro? Tem de ser adaptado à economia portuguesa, e não o contrário. O governo de Sócrates? Um milagre sabotado por Passos Coelho. Quem disser o contrário, é de direita.

 

De facto, esta "esquerda verdadeira" também acredita na realidade. Não na realidade que é limitada pelas opções dos outros, não na realidade que exige estudo, não na realidade que impõe compromissos, mas numa realidade que é só desejos gratificados e facilidades à mão. O país está cheio de dinheiro — é só distribuir. A Europa deseja ardentemente ajudar Portugal — é só pedir. Mas por "ideologia" — e só por "ideologia"–, o governo não distribui e também não pede.

 

A "esquerda verdadeira" habita num mundo de conto de fadas. É um mundo onde a natureza é pródiga, as pessoas são boazinhas e solidárias, o dinheiro abunda, e a riqueza espera apenas por um sinal para crescer – mas é também um mundo onde, por um incompreensível golpe do destino, um pequeno bando de mafarricos tomou conta do poder, e agora impede a natureza de nos dar tudo, divide as pessoas, esconde o dinheiro, bloqueia a ajuda europeia e impede o crescimento económico. Esses seres maléficos chamam-se "neoliberais". E como se combate os neoliberais? Com "narrativas", contando histórias.

 

A quem é que a "esquerda verdadeira" quer contar histórias? Antigamente, falava para a "classe operária". Agora, dirige-se com insistência à "classe média". Sabe que o ajustamento cansou os contribuintes, os pensionistas, os funcionários públicos. Convenceu-se de que todos eles estão disponíveis para se deixarem embalar pela lenga-lenga de que o ajustamento é um sacrifício desnecessário. A "esquerda verdadeira" não tem ideias, diz apenas o que julga ser mais adequado para representar os interesses ofendidos e as expectativas frustradas. E quando as "vitórias são pequenas" (como no caso do PS) ou as derrotas são grandes (como no caso do BE), volta à "narrativa", à necessidade de impor a "narrativa".

 

No fundo, a "esquerda verdadeira" representa forças políticas que disputam o poder, mas não sabem de facto como governar nas condições vigentes. Por isso, concebem o mundo segundo um idealismo grosseiro, como capricho e manipulação. A "esquerda verdadeira", no fundo, quer manter influência, mas não deseja responsabilidades. Portugal precisa obviamente de outra esquerda.

 

1/7/2014

 

 Rui Ramos

 

In Observador

A PERDA DO PODER DE COMPRA

  EUROSTAT

 

É certamente normal que qualquer povo deseje sempre melhorar o seu nível de vida. Isso é o que tem sucedido nos países que podem e sabem ter governos que desenvolvem a economia e, além de aumentarem a produção, melhoram a distribuição da riqueza, de forma a diminuir o fosso entre pobres e ricos. Em Portugal, desde o governo de Guterres, tem sucedido o inverso e a grande maioria da população – a chamada “classe média”, que fica entre os indigentes (pobres) e os de avultados proventos (ricos) – tem visto o seu poder de compra descer, descida que foi acelerada enormemente desde 2005.

 

Tem sido declarado por dirigentes vários que muitos portugueses se endividaram exageradamente e sem pensar. Daí resultou não serem capazes de cumprir os seus compromissos, especialmente para com os bancos. O que esses dirigentes escondem é que, na enorme maioria dos casos, esses portugueses pediram empréstimos que eram compatíveis com o seu nível de proventos. É óbvio que, ao sofrerem o maior corte de sempre no seu poder de compra, muitos deixaram de poder cumprir os seus compromissos.

 

Não pretendo dar a ideia de ser uma pessoa que sabe tudo. Mas, perante o que se me afigura serem erros elementares (alguns verdadeiramente clamorosos), que nem sempre vejo denunciados e ainda menos acompanhados do que podia e devia ser feito, algo tenho escrito. E não só sobre matérias em que, por dever profissional, é minha obrigação ter alguma competência – a investigação científica, o ensino e a agricultura – mas até noutras de que não sou especialista nem nunca pratiquei, como é o caso da política.

Chamar “democracia” a um sistema em que meia dúzia de ditadores “ditam” aos portugueses em quem é que eles têm “licença” de votar, para eleger deputados é algo que não compreendo. A democracia é, por definição, o sistema em que o poder reside nos cidadãos e não apenas numa ou num reduzido número de pessoas. Sendo eu o detentor do poder, considero que a mais importante liberdade é a de delegar esse poder, para legislar e governar, em quem eu desejar. Essa era, para mim, na outra ditadura, a falta de liberdade mais importante pois, embora os cidadãos se pudessem candidatar a deputados, os entraves à propaganda e eventuais manipulações faziam com que apenas fosse eleita a lista da União Nacional. Muito mais importante do que aquela estúpida censura e falta de liberdade de expressão de que, obviamente, também não gostava. Aos portugueses chega-lhes a liberdade de expressão (que inclui o “direito” de insultar e apedrejar) para se considerarem em democracia. Então, se se queixam do governo que elegeram, só têm de se queixar de não ter eleito um melhor.

 

Em nada incomoda os portugueses só poderem candidatar-se a deputados se estiverem nos altos postos de um partido ou se fizerem um novo partido. Nem se fala na alteração dos Artigos 149º e 151º da Constituição, como já propus, para haver eleições livres.

 

Ao que tudo indica, a grande maioria dos portugueses vai continuar a perder ainda mais o seu já baixo poder de compra. A excepção é a minoria de ricos, que vai continuar a engordar as suas fortunas, num escandaloso aumento do leque salarial.

 

 

Publicado no Público de 4 de Julho de 2014

 

Miguel Mota

ILITERACIA

 

 

O velho não é sábio

Nem de sábio se insinua

Mas é um sábio que sabe

Saber de ciência sua…

 

Um saber enriquecido

Pela razão de ser velho

E por muito livro lido.

 

Sobre a pedra da soleira,

Sentado,

Filosofava…

Disto e daquilo… disperso

Desde o cultivo da jeira

Às coisas do Universo

 

Os passantes mais atentos

Notavam quando falava

Seus estranhos argumentos

E acenavam que ‘sim’

Porque o velho o demonstrava

Com princípio, meio e fim.,

Os outros

Os que não tinham

Cabeça para entender,

Sorriam,

Chalaceavam

Num chocalhar de morrer…

 

E sem saber o sentido

De quanto o velho dizia…

Até de ‘doido varrido’

Surgiu a rude graçola!

 

Crianças – não as havia

Já era tempo de escola!

 

Conceição Henriques

JÁ SE PODE DIZER BEM DE PASSOS COELHO?

 

 

 

Cai mal dizer "bem" de Passos Coelho: os bem pensantes enervam-se e o ar do tempo desaconselha. A má fé vigente tomará estas minhas pobres palavras como um despropósito que destoa do coro dos dias.

 

Faz hoje um ano o governo foi enterrado. Tal como a Torre de Pisa, todos os mundos – o político e os outros – se inclinavam só para um lado: naquele belo dia de verão, o Executivo tinha acabado, a maioria tinha-se desfeito.

 

Gaspar saíra na véspera, deixando carta e menos de 24 horas depois, Portas, sem aviso prévio e irrevogavelmente, imitou-lhe o gesto. Deixando comunicado.

 

Havia meses que – relembremo-lo – Gaspar acordara com Passos Coelho o nome da sua sucessora e organizadamente foi isso que ocorreu: o Governo aprovara, o PM propôs o nome de Maria Luis, o Presidente da Republica aceitou-o, Vitor Gaspar saira a 1 de Julho, a posse seria a 2.

 

O Presidente, apanhado no princípio da tarde desse 2 de Julho em cerimónias oficiais que o impediam de atender o telemóvel, voltou nesse dia a ser apanhado – mas pela surpresa. Não gostou, nem esqueceu: os estados de alma de Paulo Portas mergulharam Cavaco Silva num cenário de (quase) irracionalidade politica, deixando-o a vogar numa "impossivel" situação de incerteza, o que em politica é dizer o pior.

 

Não fora Passos Coelho e teria desabado a tempestade perfeita. Não desabou, apesar da desconfiança e dos presságios, das apostas e dos vaticínios de fim de ciclo. O primeiro-ministro não deixou. Sem perder a cabeça ou a bússula, sem lhe ocorrer aquele tique nosso conhecido do "abalar", sem cair na aflição ou no desnorte, tomou em mãos a ocorrência e ao fazê-lo impediu – entre outras coisas – um segundo resgate. Com as fatais – inimagináveris? – consequências que daí adviriam.

 

Passos mostrou estofo e sentido da política. E sentido de Estado, claro está. Não é qualquer um que, naquele incêndio, domestica os acontecimentos e os "ocupa" politicamente, elegendo um desfecho a seu favor. De caminho – e eis o que também não é de somenos – mostrou quem mandava na coligação e quem era o chefe da maioria. Já fizera o mesmo aquando da 7ª avaliação da Troika, mas fizera-o longe de nós, nos bastidores do país. O dia 2 de Julho ditou-lhe o palco e colocou-o sob os holofotes das instituições. Ao final do dia as oposições á esquerda e os opositores dentro do PSD ainda esperavam em surdina que ele fosse a Belém com uma corda ao pescoço invocar "falta de condições", mas o primeiro-ministro nunca – que me lembre – se afogou no mar das oposições nem se impressionou por aí além com barões fora de jogo.

 

Depois, claro, choveram "ah" e "oh" de espanto face ao "patriotismo" de Passos Coelho. Como se ele tivesse nascido para a política nesse 2 de Julho ou a sua liderança na acção e actuação do Governo (pesem embora erros e excessos que tantas vezes critiquei) não relevassem justamente dessa mesma endurance e resiliência.

 

(Agora, há dias, em tom menor é certo, também houve umas golfadazinhas de admiração por Pedro Passos Coelho ter vetado a entrega de mais ajudas financeiras ao BES. Voltei a espantar-me: piores cegos são os que nunca querem ver? Mesmo a um palmo de distancia?)

Cai mal dizer "bem" de Passos Coelho: os bem pensantes enervam-se e o ar do tempo desaconselha a bondade. A má fé vigente tomará estas minhas pobres palavras como um despropósito que destoa do coro dos dias e da pretensão intelectual com que o primeiro-ministro é habitualmente radiografado. Paciência. Já se eu gesticulasse a favor de António Costa – pessoa que me é muito simpática, de resto – seria bem vinda e o mundo seria perfeito.

 

Mas se há algo que tenha aprendido é que esta coisa dos "dois pesos e duas medidas" é uma regra sem excepção: à esquerda tudo é permitido, desde o ter licença de existir, direito de cidadania, poder de ditar das regras, distribuir voz. A direita tem sempre de (lhe?) pedir licença.

 

E pensar que já passaram 40 anos disto.

 

PS: Sobre o segundo resgate a que aludi acima, ocorreu-me agora de repente relembrar alguns passos de uma saga que nunca existiu mas que durante meses e meses nos foi sempre vendida como uma certeza irrefutável: o "segundo resgate" foi anunciado em todas as televisões sem excepção; previsto por todos os jornais – num deles com data, fonte e primeira página; brandido nas rádios; assustadoramente desejado por jornalistas e comentadores; usado pelas oposições como um trunfo contra o governo; falado nas elites e nos meios bem informados (?) como um mero fait divers.

Até hoje não houve segundo resgate (e ao primeiro dispensou-se a última fatia) Mas também não houve mais nada: ninguém se importou com o que disse, avisou, ameaçou, prometeu, garantiu, jurou. Ninguém veio dizer "enganei-me". Ao menos, "precipitei-me". Não sei se o ressentimento, a fragamentação, a imbecilidade, toldam os espíritos ou induzem a cegueira. Talvez induzam. E, por outro lado, ninguém tirou consequência alguma – consequência política seria talvez pedir muito… – sobre o facto de não ter havido a tão anunciada segunda provação. O que lá vai, lá vai. Gente pouco séria.

 

2 de Julho de 2014

 

             Maria João Avillez

 

in Observador

O BIOGÁS CONTINUA ESQUECIDO

 

 

Portugal tem continuado a ignorar uma forma de energia renovável que vários países estão a utilizar, o que sugere ser um combustível económico, com algumas vantagens: o chamado biogás, também conhecido por gás dos pântanos ou gás do estrume. É uma mistura de gazes em que predomina o metano, composto apenas por carbono e hidrogénio (fórmula CH4). É uma mistura combustível, que pode ser usada para queimar (produzindo calor) ou em motores de explosão, como geradores elétricos.

 

Obtém-se a partir da fermentação de detritos orgânicos, não só o estrume, mas também lixos ou esgotos. Em vez de estes serem armazenados em aterros ou lançados ao mar, acções que têm custo elevado, podem ser utilizados na produção de energia. Além de evitar estes custos, reduz a importação de petróleo ou gás natural, pelo que, considerando todos os benefícios, pode ser económica a produção do biogás. O resíduo resultante é um bom fertilizante para a agricultura.

 

Tenho lembrado que, nas zonas de grandes criações de porcos, a produção do biogás talvez seja uma forma de resolver os graves problemas de poluição.

 

Em artigos vários, pelo menos um no Linhas de Elvas, tenho tentado chamar a atenção para o que penso ser um valor que a nossa pobre economia não tem aproveitado. Sei que já houve algumas instalações em funcionamento, uma no jardim botânico da ilha da Madeira, instalada quando foi seu Director o já falecido engenheiro agrónomo Rui Vieira. Não sei se, actualmente, há alguma em funcionamento.

 

Não seria caso para algum dos laboratórios de investigação do Estado construir uma estação piloto, para estudar a sua viabilidade económica e, se esta fosse positiva, promover a sua generalização?

 

Publicado  no "Linhas  de Elvas" de 3 de Julho de 2014

 

 

Miguel Mota

VIVER É PRECISO

 

 

Já Esopo tinha focado,

Na fábula que La Fontaine glosou

- De forma muito mais divertida

E movimentada -

A história do Morcego “vira-lata”

Que muito bem se desenrasca

Quando cai nas armadilhas da vida,

- No seu caso, da Doninha -

Mudando de condição

Conforme a ocasião.

Dele retiro apenas a moral

Que é tão real,

Tão actual,

Que não necessita de nenhuma explicitação

Formal:

«Esta fábula mostra, disse Esopo,

No século sexto ou sétimo antes de Cristo,

Que não devemos utilizar sempre os mesmos meios,

Mas pensarmos que se às circunstâncias nos adaptarmos,

Aos perigos muitas vezes escaparemos».

Eu só acrescentaria

Que não só podemos escapar aos perigos

Como podemos aceder a honras, a riquezas, a esplendores

E a outros valores,

Se soubermos adaptar-nos às circunstâncias,

Mudando de condição

Conforme a ocasião.

Aliás, a questão do mimetismo

Já foi tratado por outros autores,

Entre os quais o nosso Vieira

Que no seu Polvo traçou

Impiedoso retrato potente e sombrio

Que não se equipara nem de longe nem de perto

À leveza

De um Morcego de pouca destreza

Mas muito esperto.

 

De La Fontaine vejamos

«O Morcego e as duas doninhas »

«Um morcego, que ia a voar, de cabeça baixada,

Contra a toca duma doninha embateu;

Logo que ali chegou , desastrado,

A outra, para o devorar, acorreu,

Há muito contra os ratos

Formalizada.

“O quê? Você ousa diante dos meus olhos aparecer

Quando a sua raça nunca parou de me molestar?

Você não é um rato? Confesse, sinceramente.

Sim, é, ou não serei eu Doninha.”

”Perdoe-me, disse o pobre,  com muita manha,

Não é esse o meu natural!

Rato, eu? Isso são balelas

De quem me deseja mal!

Graças ao Autor do Universo,

Eu sou um Pássaro, veja as minhas asas!

Vivam as gentes que os ares fendem,

Com as suas asas, como eu!”

A razão bastou, que boa pareceu.

De tal maneira, que a liberdade lhe foi dada

Para se ir embora, sem mais zaragata.

Dois dias depois o nosso desastrado,

Foi cair cegamente

Na toca de outra Doninha,

Dos pássaros inimiga.

Ei-lo, novamente, em perigo de vida.

A Dona da casa, com o seu longo focinho,

Ia engoli-lo julgando-o ave,

Quando aquele protestou contra o ultraje:

“Eu? Passar por isto? Você não está a ver!

O que distingue o pássaro? É a plumagem.

Eu sou um Rato! Vivam os Ratos!

Zeus confunda os Gatos!

Com esta hábil saída,

O Morcego salvou por duas vezes a vida.

 

Muitos se acharam

Que de echarpe mudaram

Perante os perigos, e assim se safaram,

Tal como o Morcego cego.

O sábio diz, segundo a circunstância da vida:

Viva o Rei! Viva a Liga!»

 

 Berta Brás

A BURCA

 

Tribunal Europeu dos Direitos Humanos

contra o uso da Burca

 

Aprovada a proibição do véu de corpo inteiro na França

 

 

A burca (e a Nicabe = véu que cobre o rosto da mulher e só revela os olhos: frequente nos países da Península Arábica,) foi proibida, na França, em 17 de julho de 2010, pela Lei nº 524. A lei proíbe o uso de “vestuário concebido para esconder o rosto”. Violações à lei são puníveis com uma multa de 150 €.

 

O tribunal Europeu em Strasbourg, num julgamento oficial vinculativo para toda a Europa, confirmou, a 1.07.2014, a proibição do uso do véu que cobre o rosto da mulher em público. Na justificação do julgamento, o tribunal argumentou que a proibição não é discriminadora, não é contrária à protecção da vida privada e nem tão-pouco contra a liberdade de opinião e de religião. 

 

Contra a lei francesa tinha processado uma muçulmana alegando que a burca era expressão da sua convicção religiosa e ninguém a obrigava a usá-la. O governo francês avalia o número de muçulmanas, que são afetadas pela proibição, em 2000.

 

A burca cobre todo o corpo da mulher, até o rosto e os olhos, tendo uma rede para poder ver através dela; é usada por mulheres do Irão, Afeganistão e do Paquistão. Ela é um símbolo dos Talibans (movimento islâmico terrorista) que pretende impor a lei islâmica. Estas forças encontram-se muito activas entre emigrantes, na África e especialmente na Nigéria, Síria e Iraque.

 

Na Alemanha, dado não se ver propriamente o uso da burka em público, não há lei contra o seu uso; alguns estados federados apenas se limitam a proibir o uso do véu (lenço) no serviço público.

 

A origem da burca

 

O traje islâmico tem a sua origem num culto à divindade Astarte (1), deusa do amor, da fertilidade e da sexualidade, na antiga Mesopotâmia (Fenícia).

 

Em homenagem à deusa do amor físico, todas as mulheres, sem exceção, tinham de se prostituir num determinado dia do ano, nos bosques sagrados em redor do templo da deusa.

 

Para cumprirem o preceito divino sem serem reconhecidas, as mulheres de alta sociedade acostumaram-se, no dia da festa, a usar um longo véu em proteção da sua identidade.

 

Com base nessa origem histórica, Mustapha Kemal Atatürk, fundador da moderna Turquia (1923 – 1938), no quadro das profundas e revolucionárias reformas políticas, económicas e culturais que introduziu no país, desejoso de acabar de uma por todas com a burka, serviu-se de uma brilhante astúcia para calar a boca dos fundamentalistas da época.

 

Pôs definitivamente um fim à burka na Turquia com uma simples lei que determinava o seguinte:

 

«Com efeito imediato, todas as mulheres turcas têm o direito de se vestirem como quiserem, no entanto todas as prostitutas devem usar a burka».

 

É interessante que a Bíblia também faz referência à imoralidade do rei Salomão que pecou contra o seu Deus ao prestar culto à deusa Astarte (1 Reis 11,5). Os egípcios, mais tarde, deram-lhe o nome de Isis, e os gregos de Afrodite e Hera.

 

A cobardia do homem encobre o rosto da mulher

 

Como se verifica do descrito, observa-se uma constante histórica: o homem consegue que a mulher sirva as suas necessidades e se mantenha submissa a ponto de renunciar a ter um rosto individual. Inteligentemente com esta regulamentação do vestuário, o homem não vê a sua presa exposta à concorrência doutros homens e consegue assim poupar a luta da concorrência com o próprio género com que se solidariza. Assim, a mulher torna-se o objecto fraco do indivíduo e do grupo masculino e como tal legitimador da repressão do género feminino, considerado prevaricador e como tal com necessidade de ser protegido através do vestuário. A fraqueza do homem consegue assim inverter os termos e defender consequente e solidariamente os interesses do género masculino. Esta é a lógica do poder e, segundo ele, quem pode manda.

 

(1)        Astarte (ʻštrt)  era uma deusa amorosa, bela, fecunda e maternal. Nela se prestava culto à natureza, à vida e à fertilidade, bem como à exaltação do amor e dos prazeres carnais.

 

  António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

O ÚLTIMO DIA DA HUMANIDADE

 

 

I GUERRA MUNDIAL

 

A democracia e a ciência conjugaram-se para tornar a I Guerra Mundial no que ela foi: um horror incontrolável, que durou até ao colapso total de um dos combatentes e teve os efeitos que todos temiam

 

Há cem anos, um jovem deu dois tiros num casal de visita a Sarajevo. E um mês depois começava a I Guerra Mundial, no fim da qual, segundo nos têm ensinado, tinha acabado um mundo e começado outro. A relação entre os dois tiros e uma ruptura histórica tão grande atormenta-nos desde então. Dizer que as vítimas eram o herdeiro do império austro-húngaro e a sua mulher, e que o assassino era um dos militantes dos nacionalismos balcânicos, não chega. Estão as civilizações penduradas de tais acasos? Não será preferível encarar o atentado de 28 de Junho de 1914 como o simples pretexto para conflitos inevitáveis e agressões planeadas?

  

 

Os contemporâneos da I Guerra Mundial preferiram discutir culpas – da conspiração alemã à negligência inglesa. Nós optamos por evocar a primeira grande matança da época contemporânea – quase 9 milhões de soldados mortos — ou, mais sugestivamente, como fez o Wall Street Journal (http://online.wsj.com/ww1/),  desfiamos tudo o que devemos à I Guerra Mundial – e que parece ser de facto quase tudo, desde o fascismo à cirurgia plástica, passando pela projecção mundial dos EUA e pelas fronteiras (agora em colapso) do Médio Oriente.

 

Com a "Grande Guerra", acabou o mundo a que hoje só chegamos lendo Proust ou vendo Downton Abbey. Ninguém deu forma tão fantástica à sensação de fim como Karl Kraus, com o seu drama Os Últimos Dias da Humanidade (de que há uma tradução parcial em português, da Antígona), onde encenou as conversas inspiradas pela guerra nas ruas, nas redacções dos jornais, nos quartéis, nos salões. A Kraus, tudo parece estúpido e fútil, a começar pela ideia de que a guerra podia ser uma forma de transcendência. A sensibilidade de Kraus é a nossa. E está aí, mais do que nos bigodes e espartilhos, a grande diferença que nos separa dessa época.

Em 1914, as grandes potências do mundo eram europeias e ainda tratavam a guerra como um meio normal de decidirem questões.

Desde meados do século XIX, tinha sido assim que a expansão russa no Mar Negro fora contida e que a Itália e a Alemanha haviam sido unificadas. Por isso, há cem anos, os governos europeus dispuseram-se a definir mais uma vez os seus equilíbrios de poder através das armas. A Alemanha convenceu-se de que nada tinha a perder em tentar a sua sorte contra a Rússia. A Áustria julgou que tudo tinha a perder se não confrontasse a Sérvia. Uns anos antes, o autor inglês Norman Angell tentara demonstrar que as economias europeias estavam demasiado interligadas para permitir uma guerra. Mas todos os planos militares supunham uma guerra rápida. O estado-maior alemão esperava aniquilar a França e a Rússia em poucos meses.

 

Acontece que os planos falharam. Em 1914, os alemães não conseguiram derrotar os franceses. Em 1915, franceses e ingleses não conseguiram derrotar os alemães. Os chefes militares confiavam nas ofensivas, mas as defesas provaram sempre ser mais fortes. O impasse, porém, não pôs termo à guerra. E é essa a grande questão.

 

O mistério da I Guerra Mundial não é o seu começo. Isso é relativamente fácil de explicar. O grande mistério da I Guerra Mundial é o facto de não ter acabado quando, em menos de um ano, ficou demonstrado que nenhum dos combatentes estava em condições de ganhar. As guerras anteriores tinham sido rápidas e contidas: a guerra entre a França e a Áustria em 1859, entre a Prússia e a Áustria em 1866, ou entre a Prússia e a França em 1870, não passaram de uma ou duas grandes batalhas e duraram uns meses. Tinham sido "guerras de gabinete", controladas, com objectivos restritos, e negociações à vista. Porque é que a guerra de 1914 adquiriu a intensidade e a intransigência de uma espécie de guerra civil europeia, como a guerra civil americana de 1861-1865, excluindo os compromissos que, em geral, haviam limitado as guerras europeias do passado?

 

 

É o grande paradoxo desta história: uma guerra iniciada como outro meio de fazer política, segundo a concepção de Clausewitz, tornou-se um confronto apocalíptico, aprisionando todos os combatentes numa imensa máquina de triturar. E é aqui que a ideia da guerra como origem da nossa modernidade, como se antes dela estivesse um mundo parado e tranquilo, subitamente destruído por uma imprevidência, não ajuda a perceber o que se passou. A Europa, em 1914, passava por transformações económicas, sociais e políticas sem paralelo. Nunca o comércio internacional tinha sido tão intenso (e nunca mais o seria, até ao fim do século XX). Cada vez mais países desenvolviam bases industriais. Os Estados democratizavam-se, através do alargamento dos eleitorados e da parlamentarização dos regimes.

 

Ao mesmo tempo que arriscaram a guerra, as elites políticas das potências europeias convenceram-se de que, no novo contexto histórico, uma derrota não significaria apenas uma perda territorial ou uma indemnização de guerra, como no passado, mas a queda do regime ou o desaparecimento do próprio Estado. Para ganhar, as elites europeias apostaram nas próprias forças que pareciam explicar a transformação do mundo no princípio do século XX: por um lado, a ciência e a tecnologia; por outro, a democratização, no sentido da mobilização e enquadramento político do que então se começava a chamar as "massas".

 

A fim de movimentar as vontades e os recursos das nações, todos os governos propagandearam a guerra como um combate final contra bárbaros a quem não era possível fazer quaisquer concessões (na imprensa inglesa, os alemães passaram a ser os "hunos"). A vitória seria a salvação definitiva da humanidade, a derrota seria o fim de toda a civilização. E quando esbarraram num impasse, acreditaram que as maravilhas técnicas da revolução industrial acabariam por ser decisivas: com a artilharia, o gaz, os tanques, os aviões, os submarinos, era uma questão de perseverar, de tentar novamente, de nunca desistir.

 

A democracia e a ciência conjugaram-se assim para tornar a I Guerra Mundial no que ela foi: um horror incontrolável, que durou até ao colapso total de um dos combatentes e teve os efeitos que todos temiam – o desaparecimento de Estados, como o império austro-húngaro ou o império otomano, e a polarização e brutalização da cultura europeia. Mas não foi a guerra que mudou o mundo: foi a própria guerra que mudou, porque o mundo estava a mudar.

 

28/6/2014

 

 Rui Ramos

 

In «Observador»

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