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A bem da Nação

UMA HISTÓRIA DE “SEM SENSO”

 

 

Como Vasco Pulido Valente põe a questão no seu artigo do Público de 6/7/14, historiando os factos da nossa sobrevivência a partir da independência do Brasil, creio que o que nos define como povo – pesem embora os status de outras nações eleitas para a luta armada da sua definição inquieta ou de extremismos de diferenciação entre os seus próprios povos – o que nos define o status é esse de uma infância permanente, que nos põe dependentes quer de outros povos quer de outros mitos, chamem-se eles Ourique, Sebastião, Santo António ou mesmo Fátima, sem querer com isso menosprezar as crenças dos crentes, tão respeitáveis como as descrenças dos não crentes, num universo de obscuras incertezas e incompreensões que nos manipula, como joguetes de definitiva ignorância em relação àquilo que somos.

 

Eu não gostaria de viver em países onde a guerra ou as discrepâncias sociais são o pão nosso de cada dia. Mas por aqui a nossa guerra de desordens e desrespeitos e apelos, de gritos e esclarecimentos não aceites mutuamente, de “actos ilocutórios e perlocutórios” de ridícula roupagem teórica, isentos da prática cultural ou física que distingue outros povos mais trabalhadores e disciplinados, essa nossa guerra também nos deixa timoratos, numa perspectiva de derrota final, após essa constatação de infância dependente, que Vasco Pulido Valente magistralmente esclarece, historiando as etapas cronológicas de apelo ao consenso, que é o móbil do discurso actual de Cavaco Silva:«Desde o princípio do século XIX que a força divide os portugueses e que a fraqueza, com alguma dificuldade, os junta.» …. «A guerra civil como meio de resolver hoje os problemas domésticos não parece prática. Resta a união da fraqueza. Cavaco não se engana, apesar de que será ele o principal excluído.»:

 

 

«Aventuras do “consenso”»  Vasco Pulido Valente

 

No Conselho de Estado, o dr. Cavaco voltou a pedir “diálogo”, “entendimento” e “consenso”. O que de certeza não espantou ninguém. Desde o princípio do século XIX que a força divide os portugueses e que a fraqueza, com alguma dificuldade, os junta. Porquê? Porque não há nenhuma força independente autónoma na sociedade capaz de aguentar sozinha uma crise ou uma catástrofe nacional. O movimento independentista do Brasil reforçou, primeiro, a Monarquia e, a seguir, a revolução de 1820, em que entrou a facção “realista” e a facção “liberal”. Tudo isto para a Pátria se regenerar e sobreviver. Não se regenerou e sobreviveu, como de costume, na miséria e na discórdia interna. Mas ficou a esperança do dia miraculoso em que se fizesse a tão esperada “união nacional”.

 

Depois da grande guerra “civil” (1832-1834), D. Pedro e, quando ele morreu, D. Maria tentaram desesperadamente fabricar um Governo em que entrassem os principais representantes do “radicalismo” e da “moderação”. Não conseguiu; e dali em diante, com peripécias de vário género e espécie, começou uma guerra civil larvar, que duraria até 1851. Exausto e sob a tutela das Potências, Portugal aceitou então um condomínio pacífico entre as partes em conflito (a segunda “Regeneração”), dominado por Rodrigo da Fonseca e, mais tarde, Loulé e Fontes Pereira de Melo. Mas, quando as coisas não corriam bem, como não correram por causa da guerra do Paraguai (1864-1870), que desvalorizou e diminuiu as remessas do Brasil, os dois bandos que se alternavam no Governo não hesitaram em se misturar numa extraordinária aliança a que chamaram a “Fusão”.

 

Com a bancarrota de 1892, o rei continuou a cumprir os preceitos formais, que regiam a convivência partidária, distribuindo por cada partido a sua ração, enquanto o regime tranquilamente se afundava. Para não se afundar com ele, D. Carlos criou um partido novo, contra o qual a “rua” e os políticos se coligaram. D. Carlos e o filho, como se sabe, acabaram a tiro e D. Amélia abriu um período que ela esperava de “Acalmação”; um país fraco não aguentava um Governo forte. Mas, para mal dele, foi obrigado a aguentar: a ditadura do partido jacobino, dito “Democrático” e, no fim, durante 50 anos, Salazar. A guerra civil como meio de resolver hoje os problemas domésticos não parece prática. Resta a união da fraqueza. Cavaco não se engana, apesar de que será ele o principal excluído.

 

 Berta  Brás

TRÊS ANOS DE TROIKA

 

Em Maio de 2011, o governo do Partido Socialista, chefiado por José Sócrates, pediu um “bail-out” à UE/BCE/FMI, (designados por Troika) porque já não tinha dinheiro para pagar ordenados e para manter a máquina do Estado a funcionar, os bancos portugueses não conseguiam crédito no exterior para equilibrar os balanços e financiar a economia interna e a República Portuguesa não conseguia contratar dívida pública nos mercados financeiros.

 

Esta situação seguia-se à crise dos títulos de financiamento imobiliário nos EUA que levou a emblemática Lehman Brothers à falência, desencadeando pânico nos mercados de capitais. A desconfiança dos credores e a caça às bruxas começava. Os mercados redobraram de prudência e de exigência nas suas operações de financiamento internacionais.

 

A situação de endividamento crítico de Portugal surge num momento em que os mercados e a União Europeia discutem outros casos como a Irlanda e a Grécia. A situação extrema da Grécia despoletou a crise de insolvência dos chamados PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha), que eram agora privados de acesso ao crédito internacional. Ficavam assim todos em situação de pré-bancarrota.

 

A situação da gigantesca dívida bancária ligada à especulação imobiliária na Irlanda tinha vindo entretanto a público - sendo o Governo derrubado - e a Irlanda tomou a iniciativa de procurar um resgate internacional. A Espanha era olhada há já algum tempo com desconfiança pois era conhecida a gigantesca e aterradora bolha do seu mercado imobiliário (as multiplicadas e inúmeras recentes construções imobiliárias eram de natureza especulativa, sem comprador ou mesmo utilizador possível!) e os montantes de dívida bancária associada impossíveis de resgatar. A crise foi ainda mais agravada com a publicidade dada às falsas estatísticas e contas públicas Gregas e com o conhecimento das despesas sociais, de generosidade escandalosa, na Grécia, uma economia nacional em que as despesas públicas eram assustadoramente superiores às receitas fiscais do Estado. A publicidade desta situação afectou a credibilidade de gestão das economias europeias periféricas, provocando reacções de preconceito racista e cultural dos países do Norte da Europa, seus parceiros na U.E.

 

Todas estas economias da Europa do sul tinham estruturas económicas viciadas, que não lhes permitiam gerar facilmente crescimento nem riqueza para libertar fundos, para fazer face ao serviço da sua dívida externa. Pior: tinham criado um aparelho de Estado demasiado grande em relação à sua economia nacional e gerador de despesa pública crescente, o que sufocava a criatividade e a produtividade da atividade económica geradora de riqueza. Muitos empregos tinham sido criados sem critérios de gestão e de preocupação de sustentabilidade. As despesas sociais de educação, saúde, reforma e pensões, iam sendo cada vez maiores e eram suportadas por populações que não cresciam. As suas populações eram cada vez mais desequilibradas, entre nacionais que trabalhavam e geravam receitas para financiar as instituições do Estado Social e os nacionais que estudavam ou se iam aposentando, estes dois últimos grupos cada vez mais numerosos.

 

Outras economias ainda mais endividadas que as dos PIGS – as da Grã Bretanha e Itália, por exemplo – não foram penalizadas pelos mercados porque eram politicamente mais credíveis, eram consideradas mais capazes de criatividade económica e de crescimento e capazes de honrar o serviço da sua dívida externa.

 

A Utopia da construção de uma Europa Federal e fraterna ficou a nu, pois não houve qualquer movimento político de apoio aos Estados em crise por parte dos restantes países da U.E.

 

A adesão ao Euro tirou aos países em crise a possibilidade de reequilibrarem as suas contas com o estrangeiro, através das clássicas desvalorizações da sua moeda. O Euro deixou de ser uma vantagem para os países mais fracos e ficou patente que a sua construção beneficiava sobretudo os grandes países com importante exportação industrial para o resto da zona Euro. Não há inocentes neste processo. A Alemanha que tanto se indigna com a Grécia não menciona nunca que exportou oito submarinos (iguais aos dois portugueses) e 400 tanques Leopard para a pequena economia Grega, tudo financiado pelos bancos alemães que agora ficaram apavorados com a dívida da Grécia. Os bancos Franceses também ficaram apavorados pois financiaram as caríssimas exportações para a Grécia de aviões militares franceses. Será que não havia outras formas de garantir a segurança do aliado Grego?

 

Se os países periféricos foram irresponsáveis na gestão do crédito internacional contraído, os credores também deviam saber o que andavam a fazer! A banca internacional não é isenta e deu grandes provas de ganância e de ignorância. Pouca atenção se tem dado entretanto à qualidade do crédito bancário concedido no interior das economias na União Europeia. Desse crédito, até há pouco fácil e generoso, a percentagem do crédito bancário “mal parado” dos bancos europeus será aterradora… Quando na macro economia se governa “às largas “, não se pode esperar que na micro economia se seja comedido e escrupuloso….

 

As economias dos PIGS foram desclassificadas há três anos pelas Agências de “rating” internacionais. Portugal passava então a ser classificado de lixo.

 

A maioria da população e os políticos mais iniciados ao funcionamento do mundo económico compreenderam que uma solução de “bail-out” negociada com a Troika, em que naturalmente o credor impõe as condições ou garantias económicas, seria a solução preferível e que garantia um futuro Europeu para Portugal. Uma recusa de pagamento da divida contraída no passado seria de consequências catastróficas para a população portuguesa. O exemplo doloroso e perlongado da Argentina ostracizada é um aviso. A saída de Portugal do Euro, para além das consequências imprevisíveis na permanência de Portugal na U.E., seria de difícil resolução e levanta inúmeras incertezas graves. Um Portugal desacreditado, numa caminhada isolada, cairia possivelmente numa situação ainda mais desastrosa para a economia nacional e sem esperança de um futuro europeu com potencial de negociação. A Assembleia da República fez cair o governo de José Sócrates, e as eleições de 5 de Junho de 2011 promoveram um governo de coligação entre o centrista PSD e o conservador CDS-PP que negociou com a Troika um empréstimo de 78 mil milhões de euros.

 

Os credores do socorro impuseram condições para o “bail-out”, situação normal em qualquer acordo de quem empresta dinheiro e tenta assegurar-se que receba depois o reembolso do crédito concedido. Desde a revolução dos ”cravos” de 1974, Portugal já recorreu a dois outros “bail-out”, ambas as vezes sob Governos presididos por Mário Soares….e como seria de esperar, sempre com condições duras.

Este empréstimo foi organizado sob condição de cortes nas despesas do Estado, reflectidas nos Orçamentos anuais do Estado Português, que implicavam reduções nos valores dos salários dos empregados públicos, reduções de benefícios de aposentação, cortes em instituições e serviços oficiais, privatização do capital social de grandes empresas no sector empresarial do Estado (grandes utilizadoras de crédito nacional e internacional). Implicavam também uma série de reformas estruturais da Educação, da Justiça, da Saúde, e da legislação do trabalho. Foi estabelecido um calendário de redução progressiva dos níveis de défice orçamental, com a meta de 2,5% do PIB em 2015 e da redução da divida pública que terá que cair para 60% do PIB em 2035, como sucede aliás para todos os membros da U.E.

 

Contudo, o Governo PSD–CDS não conseguiu fazer uma grande parte das projectadas reformas do Estado. Estas reformas não foram encetadas com determinação no início da acção deste Governo, quando havia mais predisposição para a população e grupos de pressão em aceitar reformas perante o estado de choque em que o país acordava. O Governo hesitou em fazer face à resistência esperada. Mais tarde, foi já tarde. A acção do Governo concentrou-se sobretudo numa política de austeridade e privatizações, com algumas reformas estruturais limitadas. O Estado Social teve poucas reformas e pouco se fez para garantir a sua sustentabilidade. Mas a Administração Pública reduziu despesas e os défices do Estado deverão estar já na casa dos 4,5% para 2014. A dívida pública que atingia em Dezembro de 2013 a percentagem de 129% do PIB, também iniciou a sua descida.

 

Mas para além dos cortes da despesa do Estado e de racionalização de Serviços, alguma coisa foi conseguida na procura de investimento do estrangeiro e de incentivos á exportação que cresceu de 30 para 40 % do PIB. A economia abriu-se mais para o mundo e pela primeira vez desde há dezenas de anos as exportações ultrapassaram as importações. O flagelo do desemprego começou a cair, descendo do máximo de 17,8% em 2013 para os atuais 15,1%, e finalmente o crescimento económico regressou (1,5% ao ano) após uma ausência de mais de dez anos.

 

A oposição política e os Sindicatos de obediência PC recusaram participar nas negociações com a Troika e foram sempre combatendo as decisões do Governo de coligação. Os media, que normalmente são de militância de “esquerda”, fizeram na sua quase totalidade sempre crítica às decisões do Governo, naturalmente impopulares e dolorosas. No entanto, salvo a excepção em 15 de Setembro de 2012, uma marcha de protesto não partidária, os protestos de rua foram só os organizados pelo PCP, o BE e outras formações da extrema-esquerda, nunca foram violentos e as greves não tiveram expressão e adesão de maior. Não tiveram sucesso em fazer o Governo alterar as medidas de reformas estruturais, de privatizações e de cortes de despesas sociais. Aqui, só o Tribunal Constitucional conseguiu dificultar as acções do Governo.

 

Na sua grande maioria, embora irritados e descontentes com os cortes nos rendimentos salariais e de reforma, com a austeridade imposta e suas consequências no desemprego, na agravada fiscalidade e consequente desaceleração da actividade económica, os portugueses aceitaram os sacrifícios em nome de um futuro melhor.

 

A intervenção da Troika terminou a 17 de Maio de 2014, após três anos de muitos sacrifícios do povo português. A economia portuguesa sai mais aligeirada e um pouco mais flexível. A consciência dos portugueses da necessidade de reformar o Estado e de construir uma economia sustentável é uma grande conquista destes anos de sacrifício. A confiança dos mercados, importante pois não pode haver crescimento sem financiamento e o mercado interno é muito insuficiente em recursos de financeiros mobilizáveis. O respeito internacional foi conquistado, o que reforça a voz do país na UE e nos organismos internacionais.

 Pedro de Avillez

In Instituto da Democracia Portuguesa

 

FRASES DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 

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A minha vontade é forte mas a disposição de lhe obedecer é fraca.

 

Adão, o primeiro espoliado – e no próprio corpo.

 

As academias coroam com igual zelo o talento e a ausência dele.

 

Cada geração de computadores desmoraliza as antecedentes e seus criadores.

 

Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos.

 

Há homens e mulheres que fazem do casamento uma oportunidade de adultério.

 

No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam.

De volta a ZUMBI e a Palmares!

 

 

Há mais de uma dúzia de anos que “batalho” contra o mito de “Zumbi dos Palmares”; como é evidente, sem qualquer sucesso, porque a verdade interessa só a uma minoria, normalmente a tal “silenciosa”, e a mentira sobre o assunto tem dado grandes trunfos à politicada.

 

Recordo agora um texto de Março de 2003, sobre o assunto de que repito algumas passagens:

-                      não há certeza histórica de se ter apanhado o tal Zumbi; dizem uns que lhe cortaram a cabeça depois de vencido e morto, outros que ele se atirou do alto de um morro, outros ainda que muito ferido terá fugido, etc.

-                      não se sabe se Zumbi era o nome de uma só pessoa se o nome genérico dado a chefes ou comandantes daquele quilombo;

-                      foi necessário transformar em “traidor” um dos mais extraordinários chefes de Palmares, Ganga Zumba, que depois de ter lutado durante 30 ou 40 anos contra as forças governamentais acabou derrotado, mas saindo de cabeça erguida e obtendo liberdade, terras e cidadania para os escravos, coisa que nenhum outro escravo, em qualquer outra parte do mundo tinha conseguido.

 

Aparece agora (2003) mais um livro “Zumbi dos Palmares – A história do Brasil que não foi contada”, de Eduardo Fonseca, que está fazendo muito sucesso e foi até enredo da Escola de Samba Caprichosos de Pilares neste Carnaval do Rio.

 

Ao analisar com cuidado este sucesso literário encontram-se “novidades” que são admiráveis:

-            Zumbi, não morreu, como as histórias anteriores o afirmaram! “Ficou vivo, muitas décadas, construiu uma série de outros quilombos e continuou resistindo às truculências dos brancos”!

 

Mas nunca mais ninguém o viu ou ouviu falar dele!

-            “Maurício de Nassau (no livro chamado de invasor, vá lá!) era um mecenas amigo dos quilombolas”!

 

Deve ter sido com base nessa grande amizade que os holandeses mandaram uma esquadra, que saiu de Recife em 1641, ocupar Angola! Certamente para estabelecer relações de intercâmbio amigável, em que os africanos forneciam escravos e os holandeses os transportavam, confortavelmente instalados em navios de luxo, para os engenhos de Pernambuco, sempre sob os amigáveis auspícios do sr. de Nassau que com isso enriqueceu e se mandou daqui para fora!

 

As tais “truculências” para com os escravos, o amigo Maurício deixava a cargo dos senhores de engenho!

-            “Uma das primeiras sinagogas em Recife teve como rabino Isaac Abuab da Fonseca, que transformou a sua sinagoga em embaixada dos quilombolas, escondendo negros fugidos de seus patrões torturadores”.

 

Extraordinária coincidência, sr. Fonseca. Não venha dizer que o rabino era seu antepassado e daí este seu “amor” pelo Zumbi?!

 

Será que ele escondia os quilombolas com o beneplácito do sr. Maurício que investira tanto dinheiro para os vender aos plantadores de cana?

 

Cultua-se o período holandês, como se tivesse sido milagroso para o Brasil. Quando aqui chegaram, os holandeses encontraram perto de 300 engenhos produzindo e com isso montaram um rendosissimo negócio através dos seus centros de distribuição lá na Holanda.

Quando foram embora do Brasil muitos deles já tinham fechado. Que investimentos fizeram os holandeses por aqui? Limitaram-se a explorar o comércio já existente, e continuam a ser tidos como “saudosos deuses de olhos azuis”!

 

Alguém uma vez disse: “se tiver dúvida, escreva, porque depois de escrito tudo vira verdade e fonte de referência”!

 

Uma coisa é romancear, como o fez, melhor que qualquer outro, Alexandre Dumas com os seus famosos mosqueteiros. Outra coisa é falsear a história para agradar a leitores.

 

Por estas e outras o Brasil acaba ficando sem história, de tão deturpada que a fazem!

 

Sem história perde, ou nunca ganha, as suas raízes. Sem raízes e sem história, onde ficam os valores culturais a transmitir e unir o povo?

 

A história, como fica?

 

O curioso foi ter descoberto há pouco, numa publicação do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco, na sua Revista nr. X, de 1902, o “Diário da viagem do capitão Jan Blaer aos Palmares em 1645” durante o domínio holandês na região de Pernambuco de 1630 a 1657.

 

Este capitão Blaer saiu a 26 de Fevereiro de Salgados com soldados holandeses e brasilienses a quem se refere sob este nome como sendo índios, andaram quase um mês até começarem a encontrar roças e plantações abandonadas, e chegado a um “velho” Palmares a 18 de Março. Só a 21 chegaram “à porta ocidental de Palmares, que arrombaram e ao atravessarem encontraram um fosso cheio de estrepes (troncos espetados no chão e de pontas afiadas) em que cairam os nossos dous cornetas; não ou­vimos ruido algum senão o produzido por dous negros, um dos quaes prendemos junto com a mulher e filho, os quaes disseram que desde cinco ou seis dias ali havia ape­nas pouca gente, porquanto a maioria estava nas suas plan­tações e armando mondés (armadilhas) no matto; ainda mataram os nossos brasilienses dous ou três negros no pântano visinho; disseram ainda os negros pegados que o seu rei sabia da nossa chegada por ter sido avisado das Alagoas; um dos nossos cornetas, enraivecido por ter caido nos estrepes, cortou a cabeça a uma negra; pegamos também outra ne­gra; no centro de Palmares havia outra porta, ainda outra do lado do alagadiço e uma dupla do lado de leste; este Palmares tinha igualmente meia milha de comprido, a rua larga duma braça, corria de oeste para leste e do lado norte fícava um grande alagadiço; no lado sul tinham der­rubado grandes árvores cruzando e atravessando-as umas em cima das outras e também o terreno por traz das casas estava cheio de estrepes; as casas eram em numero de 220 e no meio delas erguia-se uma igreja, quatro forjas e uma grande casa de conselho: havia entre os habitantes toda a sorte de artifíces e o seu rei os governava com se­vera justiça, não permitindo feiticeiros entre a sua gente, e quando alguns negros fugiam mandava-lhes crioulos no encalço e uma vez pegados eram mortos, de sorte que entre eles reinava o temor, principalmente nos negros da Ango­la; o rei também tem uma casa distante dali duas milhas com uma roça muito abundante a qual casa fez construir ao saber da nossa vinda, pelo que mandamos um dos nossos sargentos com vinte homens afim de prende-lo; mas, todos tinham fugido de modo que apenas encontraram algumas vitualhas de pouca importância; queimamos a casa do rei e carregamos os víveres; perguntamos aos negros qual o numero da sua gente ao que nos responderam haver 500 homens além das mulheres e crianças: presumimos que uns pelos outros há 1500 habitantes segundo deles ouvimos; nesta noite dormimos nos Palmares.

 

A 23 do dito pela manhã saiu novamente um sargento com vinte homens a bater o mato, mas apenas conseguiram pegar uma negra côxa de nome Lucrecia pertencente ao capitao Lij que ali deixamos ficar porquanto ela não podia andar e nós não podíamos conduzi-la tendo já muita gente estropeada que era mister fazer carregar; enchemos os nossos bornaes com alguma farinha seca e feijões afim de voltarmos para casa. Ali também feriram-se muitos dos nossos nos estrepes que havia por traz das suas casas. Este era o Palmares grande de que tanto se fala no Brasil; a terra ali é muito própria ao plantio de toda a sorte de cereaes pois é irrigada por muitos e belos riachos; a nossa gente regressou à tarde sem ter conseguido nada; ainda esta noite dormimos nos Palmares.

 

A 23 do dito queimámos os Palmares com todas as casas existentes em roda bem como os objetos nelas contidos, que eram cabaças, balaios e potes fabricados ali mesmo; em seguida retirámo-nos vendo que nenhum proveito mais havia a tirar: após uma milha de marcha chegamos a um rio, todo cheio de penhascos, denominado Bonguá; ali deixamos de emboscada, junto aos Palmares um dos nossos sargentos com 25 homens, mas não sabemos se conseguiram; nesta tarde, proximo ao referido rio, ainda pegámos um negro com a mulher e um filho e ali pernoitamos.

 

A 24 do dito pela manhã encontramos um negro cheio de boubas (úlceras, feridas) em companhia de uma velha brasiliense, escrava da filha do rei, os quaes nos disseram que nas vizinhanças ainda corriam outros negros, pelo que acampámos ali e com 20 homens batemos o mato; chegando à casa da filha do rei, que não estava nela, queimamo-la, mas nada conseguimos achar; passamos ali a noite.

 

Finalmente este “grupo de caça” aos fugitivos de Palmares regressou a casa a 2 de Abril; o “diário” deixado demonstra perfeitamente o quanto os holandeses eram “tão amigos” dos escravos, eles que competiram com os ingleses como os maiores traficantes da história, sobretudo para as Antilhas e América do Norte.

 

E ainda há quem continue a lamentar esses invasores terem sido corridos do Brasil, depois de vergonhosamente derrotados, na Batalha de Guararapes por 2.200 homens homens do Brasil contra 7.400 holandeses! As baixas do lado dos luso-brasileiros: 84 mortes e 400 feridos contra 1.200 mortos e 700 feridos holandeses.

 

A história, como fica?

 

Dane-se a história e a cultura do povo.

 

 

Batalha de Guararapes – óleo de Victor Meirelles de Lima - 1879

 

 

Rio de Janeiro, 08/07/2014

 

 Francisco Gomes de Amorim

A ALEMANHA GANHOU O CAMPEONATO MUNDIAL

 

Equipa alemã campeã da solidariedade

 

O jogo (1-0) entre a Alemanha e a Argentina foi um desafio de grandes. Fica o exemplo positivo da eficiência do trabalho em grupo (um por todos e todos por um) e a advertência para as equipas e para as nações: Modernamente é imprescindível, saber e competência técnica, espírito de equipa, orientadores à altura, para que se evite que “equipas”, com grandes capacidades a nível de indivíduos, se desorientem e árbitros amadores fomentem jogos desagradáveis, em que a brutalidade tenha chance, como foi o caso do jogo entre Brasil e Colômbia com a vítima Neymar.

 

A selecção alemã foi um exemplo de competência e solidariedade. Soube ganhar ao valorizar o adversário. Soube ser hóspede comprando um terreno e mandando construir um campo de futebol e um condomínio para habitação, em Porto Seguro, contratando pessoas humildes da terra para construí-lo. Desde a sua chegada misturou-se com o povo participando na sua vida e nas suas festas. Depois do campeonato e de volta à Alemanha ofereceu o condomínio em que esteve instalado, para ser dedicado ao ensino dos mais necessitados e doaram também uma ambulância. Deste modo a festa valeu a pena para todos!

 

No campeonato, por trás dos bastidores houve, certamente, muitas coisas que enjoariam o espectador e estragariam a festa se fossem publicadas. Como em tudo, onde o ser humano entra cheira a próximo! O problema prevalece, como de costume: uns celebram a festa e outros preparam-na e pagam-na.

 

A realização do campeonato no Brasil contribuiu um pouco também para o grande colosso acordar e organizar manifestações cívicas capazes de formularem mais exigências políticas que, de outro modo, não seriam colocadas na ordem do dia.

 

A equipa alemã deu um exemplo de competência, humanidade e um grande testemunho de solidariedade; a equipa, símbolo da nação, marca presença, sabe estar com os ricos e com os pobres, do lado dos vencedores e dos vencidos. (Esta deveria ser mais motivo de imitação do que de posições e comentários ressentidos, agarrados a uma Alemanha do passado impedidores de encarar o presente!)

Talvez o que esteja por trás de uma certa inveja e ressentimento de certos resmungões, que ao contrário da Alemanha são incapazes de integrar o colectivo no sujeito e o sujeito no colectivo.

 

Vai sendo o tempo de abandonar a consciência da adulação dos heróis, ou da demonização dos fracos, para se passar à construção de um povo heróico. A equipa alemã não se fica pelo herói, pela tribo, pela nação porque procura integrar nela não só o mundo mas também os seus arredores.

 

 António da Cunha Duarte Justo

COISAS DA INTERNET

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O artigo de Maria João Avillez «DEPOIS DE ACABAR O DINHEIRO DOS OUTROS…» retrata e retrata-nos, sem que fique um resquício de vergonha a tantos de nós, o estado a que chegámos como nação, aclarando corajosamente os factos, sem cedência a valores que não sejam os da honesta busca da verdade, tantas vezes já ditada, felizmente, por alguns menos submissos a uma gritaria orientada por quem está ali só para gritar, porque se estivesse a governar teria forçosamente que fazer o mesmo que os que estão, sem o que o quadro do dilúvio – parcial, desta vez – nos atingiria, sem Arca salvadora.

 

Transcrevo da Internet o seguinte texto, colocado há mais de um ano, encontrado quando afanosamente procurava a origem da frase

 

“O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”:

 

12 de Julho de 2013 às 9:51

 

«Sabe quantos países com governo socialista restam agora em toda a União Europeia?

 

Apenas 3:

1. Grécia 2. Portugal 3. Espanha. 

 

Os três estão endividados até o pescoço.

 

Eis as razões, segundo definições clássicas de MARGARETH THATCHER:

 

"O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros".

 

"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade".

 

"Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber".

 

"O governo não pode dar para alguém aquilo que tira de outro alguém".

 

"Quando metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação".

 

Se você trabalha, você deve trabalhar mais duro ainda, pois milhões de pessoas dependem do seu trabalho.

 

São as pessoas que vivem do Fome-Zero, do Bolsa-Invasão, do Bolsa-Desemprego, do Bolsa-Escola, do Bolsa-Família, do Bolsa-Cota, do Auxílio-Reclusão, ou que recebem, sem trabalhar, o Vale-Leite, o Vale-Gás, o Vale Copa, Vale-Tudo etc.

 

Ainda podemos salvar o país dessa derrocada!!!

 

 Berta Brás

BAFORDOS

 

  

Na perspectiva da estética canora, bafordo deve ser a palavra mais feia que conheço na língua portuguesa e, contudo, foi num bafordo no Vale do Vez que se alinhavou a independência de Portugal. Só por isso, já deveríamos ter enfeitado a palavra. Mas não o fizemos e agora já está muita água corrida por baixo das pontes para que a possamos mandar de volta para trás.

 

E o que era um bafordo? Era um torneio - medieval, claro - no qual os cavaleiros escolhidos se digladiavam bilateralmente em substituição dos respectivos exércitos e em que os clérigos nomeados por cada uma das partes certificavam a decisão divina dos resultados alcançados.

 

Historicamente, o bafordo do Vale do Vez substituiu uma batalha em que haveriam de pelejar diminutas forças portuguesas contra muito maiores forças leonesas e castelhanas.

 

 

 

O episódio teve lugar no início de 1140, na chamada "Veiga da Matança", junto ao rio Vez (tributário do rio Lima), quando D. Afonso Henriques, após a vitória na batalha de Ourique (1139), rompeu a paz de Tui (1137) e invadiu a Galiza. Em resposta, as forças de Afonso VII de Leão e Castela entraram em terras portuguesas arrasando tudo à sua passagem, descendo as montanhas do Soajo em direção ao vale do Vez.

 

Para evitar a batalha campal, foram selecionados os melhores cavaleiros de ambos os lados para lutarem, dois a dois, num bafordo, conforme uso na Idade Média. A sorte das armas pendeu para o lado português, tendo os cavaleiros leoneses e castelhanos ficado detidos, conforme o código da cavalaria medieval.

 

Certificada a decisão divina que dava a vitória à parte portuguesa, foi mais fácil a D. Afonso Henriques desenhar o cenário político que conduziu à plena independência de Portugal.

 

 

Nos bafordos modernos cada Nação selecciona onze milionários a quem mandam correr a trás duma bola. A independência política das Nações não periga mas a alienação leva os seguidores a enormes sofrimentos e a euforias desmedidas. A diferença maior consiste no facto de às testemunhas não ser reconhecida capacidade mediúnica e, para além disso, aos coros se dar hoje o nome de claques.

Mas se até aqui, nada de muito especial há a assinalar, devemos perguntar por que razão as moles humanas se alienam por completo na cegueira por que se deixam possuir na defesa da parte que preferem. E é precisamente essa obstipação mental que tenho por alucinante e criticável.

 

O desprezo que nutro pela alienação a que as massas populares são conduzidas por este tipo de eventos só me leva a chamar-lhes bafordos pois não conheço no léxico português palavra mais feia.

 

Julho de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

QUANDO JÁ NÃO ESTIVERES

 

Cuando ya no estemos, habrá corazones

melancólicos como nosotros…

y se preguntarán donde reposan

Los amantes…

  José António Valle Alonso

 

 

 

 

Há-de haver um dia

em que a força da saudade

me trará a tua imagem

nítida, brilhante

a dizer-me de ti…

Nesse dia

nossos olhos serão

pontinhos de luz

de estrelas

e pó

de todos os astros

e em silêncio

estenderás a tua mão

para afagares a minha

e me levares contigo!

 

 Maria Mamede

DEPOIS DE ACABAR O DINHEIRO DOS OUTROS…

 

 

Entrar em dívida é um tique português, o país é geneticamente devedor, basta ler os antepassados. Mas é desta dívida que me ocupo. 

 

1 – Mais Passos? Não exageremos. Embora a sua quota de artigos positivos, de tão modesta, admitisse mais textos como o que aqui escrevi há dias, não é de Passos que se trata, mas do país. De duas ou três "lembranças" que me ocorreram após ler alguns comentários indignados contra o conteúdo do meu texto (e ainda bem: conheço poucas coisas tão embaraçantes como tentar – na mesma encarnação? – agradar a gregos e troianos). Deus me defenda da unanimidade.

 

Isto dito o país está muito mal humorado desde que deixou de viver com o dinheiro dos outros.

 

Tinha-se habituado. Não havia mais mês ao fim do dinheiro porque regra geral o dinheiro "aparecia". Fiado. Vinha para tudo, nem se pensava nisso, ninguém achava esquisito, o crédito jorrava.

 

Das casas – primeiras e "segundas" – às viagens, dos telemóveis às mobílias, "compre já a sua mobília de quarto, pague depois", dos brinquedos caros às férias em Cancun. Rotundas, polidesportivos, espaços culturais, piscinas municipais – era um ver se te avias, por esse Portugal das auto-estradas desertas (conheço um sitio, a Norte, onde existem três, paralelas umas as outras).

 

Boa vida.

 

Confundir esta ficção – a crédito – com desenvolvimento é uma leviandade, e podia somar mais exemplos, assim como se somou a própria dívida.

 

Eu sei que entrar em dívida é um tique português, o país é geneticamente devedor, basta ler os livros dos antepassados a contas com as nossas contas, para suar com as aflições deles. Mas agora é desta dívida que me ocupo. Da qual (obviamente) não me excluo porque dela sou, somos, simultaneamente os algozes e as vítimas.

 

2 – Um dia, após milhares de outros dias a viver de empréstimo, o crédito secou: a realidade ficou subitamente "destapada", todos os sinais vermelhos desenharam o mapa da nossa insolvência. Em Maio de 2011, o dinheiro que havia durava para três semanas. O governo socialista foi obrigado a pedir auxilio, os ricos e poderosos organizaram um "peditório", vieram uns senhores olhados como o "problema", quando eram a solução: infeliz, pesada e vexatória, mas a culpa não era deles, haviam aterrado em Portugal a pedido.

Aparentemente quase toda a gente se esqueceu disto. Uns porque "já" não lhes interessa, outros porque nunca lhes interessou, outros porque se instalaram na "culpa foi da crise internacional" (santo Deus, ainda?) ou na variante que " se lixe a troika", que "se lixe a dívida". E quase todos porque acham – a sério – que, bem vistas as coisas, a culpa da austeridade é do Governo e do seu grupo de malfeitores.

 

Boa consciência.

 

Sucede porém que se não se alcançar que não é uma questão de "não há dinheiro" mas sim de "nunca ter havido dinheiro" – os tempos do verbo foram, e continuam a ser, mal conjugados – voltar-se-à sempre à casa de partida da insolvência ou da bancarrota. Não vejo que isto entre no computador político das oposições, mas se não entrar, como conseguirão eles um dia praticar o tão temerário exercício do poder?

 

Faz-me a lembrar a Argentina e o que dela fui ouvindo a políticos supostamente responsáveis: que a seguíssemos como guia de insubmissão, que a copiássemos como exemplo de bater o pé aos credores, "a Argentina mostra-nos que se não se pagar, não acontece nada…."

 

Nada se passou bem assim, não é verdade? O default argentino foi em 2001 e a operação de troca de títulos ocorreu em meados da década. Ora como em 2014 a questão ainda aí está, como é possível que haja quem se permita dizer "não se paga, não se paga", garantindo que depois "não acontece nada". Está acontecer. Acontece sempre.

 

3 – A austeridade podia ter sido diferente, podia ter sido menos má (e qual a bitola para esse "menos" mau?), podia ter sido mais meiga? Tudo podia ter sido de outra maneira? Pode sempre dizer-se que sim, que podia, é de borla. Em vez de persistir, porém, nas ficções e fricções da austeridade, não era mau lembrar – por exemplo – que o recuo provocado por deixar de haver dinheiro do próximo para gastar não foi nada uniforme. Nem que os cortes do ajustamento nos diversos orçamentos ministeriais foram desenhados a regra e esquadro. E como só por milagre o seriam, de imediato surgiram recriminações e comparações entre os que desses distintos universos dependiam. Os que se sentiam "roubados" consideravam os outros "privilegiados" e vice-versa. Ambas – recriminações e comparações – duram acidamente até hoje. Mas a realidade subitamente destapada em 2011 nunca poderia ter efeitos ou consequências iguais. O reconhecimento disso não é fácil. E a sua aceitação ainda mais difícil. Com temperos de desonestidade intelectual ou receitas milagrosas, ainda pior.

 

4 – Daí ao "empobrecimento" declarado como um novo estado foi um ápice. Mas mesmo tendo em conta o martírio do desemprego, eu não seria tão expedita a passar do artificial nível de vida de ontem para o que dizem ser o geral empobrecimento de hoje. Sim é verdade: por detrás dos incontáveis festivais musicais de norte a sul do país, à mesa dos incontáveis restaurantes que abriram apesar do "IVA da restauração" (abriram mais do que fecharam); dos Rock in Rios a deitar por fora com bilhetes caríssimos (paguei um, sei do que falo); para lá das festivas "movidas" de Lisboa, Porto ou Braga (estas, vi eu); da energia criadora de algumas iniciativas em algumas cidades e do engenho e arte de milhares de portugueses – os das exportações, invenções e desinstalações -, sim, é verdade: há um Portugal cansado. Um país que sofreu e ainda sofre. E outro que talvez nunca deixe de sofrer, o qual é por isso imperioso amparar e do qual é obrigatório cuidar. Isto, que é verdade, não é porém a verdade de "todo" o país, como nos querem fazer crer – senão, onde cabe aquele a que acima aludi?

 

5 – Renegociar a dívida? Mutualizá-la? Restruturá-la? Restruturá-la "com honra"? Re … qualquer coisa? Está na moda e Renzi, enérgico e bello uomo, é o chefe. Depois de Hollande – esperança frustrada do nosso PS e do dele – ter sido obrigado a nomear um novo Executivo e dar todos os ditos por não ditos, talvez o chefe do governo italiano, melhor que Hollande tenha mais talento político e mais sorte.

Claro que também precisamos dela. Era preciso porém explicar a Mateo Renzi que é necessário algum cuidado e que a empreitada é capaz de ser menos "light" do que ele e os seus amigos nos prometem. Ao ouvi-los, é tudo uma questão de levantar a voz, bater o pé e dizer que se paga menos e mais tarde. Ignora-se como convenceriam os credores da contradição que consiste em manifestar seriedade, ao mesmo tempo que se diz que só se paga metade (e a seguir?). E como lidariam com o aumento do défice que logo ocorreria, para não falar do (misterioso) botão do crescimento económico que estes optimistas teimam em não nos dizer onde está.

 

Mas pode ser que além de eu desconfiar da facilidade deste caderno de encargos, também esteja enganada. E que o ar do tempo esteja – de facto – virado para isto.

 

6 – De braço dado com a bondade do falecido PEC IV, anda também – e continuará a andar – a ideia de que em 2009/10 a Europa "convidou" os seus países a "gastarem", impulsionando o crescimento económico que minguava, reduzindo o desemprego que galopava, etc. É verdade. Sucede porém que tal mensagem nunca nos poderia ter tido como destinatários. A saúde do país já então nos excluía automaticamente do convite. Por isso, não basta dizer que a Europa "mandou gastar", seria mais sério acrescentar que a fartura se destinava apenas a alguns. Aos que podiam. Cada um que observasse a sua especifica situação e o estado das respectivas economias e decidisse em conformidade responsável. Sucede que no país o erro foi duplo: gastou-se muito, primeiro erro; e, gastou-se também muitíssimo no sector privado, com as directrizes então dadas à banca pelo governo anterior para que incentivasse o consumo, assim endividando as famílias)

 

É só virar a cabeça e olhar para trás: vê-se bem, foi há pouquíssimo tempo.

 

9 de Julho de 2014

 

             Maria João Avillez

 

In Observador 

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