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A bem da Nação

ALIANÇA NAVAL

 

Tavira

 

Corria o ano de 1156 e, submetido o Gharb ao novo poder Almóada, decidiu o Emir aniquilar a resistência que se mantinha no Al Andaluz nomeando o seu próprio filho Ibn Said para o cargo de Governador de Córdova e de Sevilha. Pouco depois de assumir a função, Ibn Said nomeou novos Governadores para Silves e para Beja mas nada conseguiu relativamente a Tavira e a Alcácer do Sal, verdadeiras «repúblicas marítimas», que haviam estabelecido uma Aliança de protecção mútua e que, dispondo de importantes frotas militares, facilmente resistiam aos cercos almóadas.

 

 

Alcácer do Sal

 

Tavira era dirigida pela família Banu al-Wahibi à qual pertencia Ali Ibn al-Wahibi que em 1158 foi convidado pelos habitantes de Alcácer do Sal a assumir a governação da «república» do Sado. Mas a cidade estaria um tanto depauperada pelos frequentes confrontos militares com as forças cristãs e o novo Governador conseguiu secretamente estabelecer um período de tréguas com Ibn al-Rink, o filho de Henrique, ou seja, Afonso Henriques. O pior foi que a população descobriu o segredo e, irada, decapitou-o espetando a cabeça na ponta da lança que se dizia ter-lhe sido oferecida pelo nosso Rei fundador.

 

Alcácer do Sal não caiu na posse dos Almóadas pois foi conquistada em 1160 pelas forças portuguesas; Tavira manteve o seu estatuto de Taifa independente até 1168 integrando-se então no Califado até que em 11 de Junho de 1239 foi conquistada por D. Paio Peres Correia, Grão-mestre da Ordem de Santiago.

 

Até hoje, sempre cristã.

 

Abril de 2010

 

 Henrique Salles da Fonseca

 

 

BIBLIOGRAFIA

 

Mattoso, José – D. Afonso Henriques, Clube de Leitores, Lisboa, Ed. 2006

DA ESTÉTICA

 

 

Sempre ouvi dizer que «gostos não se discutem» e isso levou-me a estranhar que a estética pudesse ter algo a ver com a filosofia. E vai daí, cruzei-me há dias numa estante da “Bertrand” com Edmund Burke (1729-1797) cujo tratado sobre a estética tem o apelativo título de «Uma Investigação Filosófica Acerca da Origem das Nossas Ideias do Sublime e do Belo»[1]. E não foi tarde nem cedo: comprei e li. E, bem a propósito, gostei.

 

Escrita enxuta, perceptível por qualquer mortal que não seja completamente analfabeto, lê-se quase de um só trago (cerca de 200 páginas) e corrige erros de palmatória como o da desqualificação do tema em que eu próprio incorria.

 

Assim, começando pelo fim, concluo que a Estética tem qualidade para ser integrada na Filosofia. Dito de modo mais prosaico: a Estética é um tema – como tantos e tantos outros - abordável filosoficamente.

 

Então, o que é um Gosto? Aquilo a que chamamos Gosto consiste parcialmente numa percepção dos prazeres primários dos sentidos, dos prazeres secundários da imaginação e das conclusões da faculdade de raciocinar.

 

A causa de um Gosto errado é um defeito no juízo. E este pode surgir de uma fraqueza natural no entendimento ou pode surgir de uma falta de exercício apropriado e bem dirigido, que é a única coisa capaz de dar ao entendimento força e prontidão. As paixões, os vícios, a ignorância, a desatenção, a precipitação, a leviandade e a obstinação pervertem o juízo e, portanto, pervertem por certo a capacidade de delicadeza e de elegância que são fundamentais ao Gosto.

 

A rectidão no juízo sobre as artes, a que se pode chamar Bom Gosto, depende em grande medida da sensibilidade porque se a mente não tem inclinação para os prazeres da imaginação, nunca se aplicará suficientemente às obras desta espécie a ponto de nelas adquirir um conhecimento competente.

 

Apesar de ser necessário um certo grau de sensibilidade para formar um bom juízo, este não surge necessariamente de uma aguda sensibilidade aos prazeres dos sentidos. É que muitas vezes, um fraco juiz, apenas por ser dotado de muita sensibilidade primária através dos sentidos, é mais afectado por uma coisa nova, que se situe para além do normal, grande ou apaixonante mas que possa ser considerada uma obra má do que um bom juiz se deixe afectar por uma obra boa por não receber tanto impacto na sua exigente escala de prazeres da imaginação.

 

Eis por que Ovídio disse que «Meu coração é brando e vulnerável às feridas mais ligeiras e sempre há um motivo para que eu esteja enamorado», ao que Terêncio contrapôs com a conveniência de se ser «um observador requintado da beleza».

 

Então, para não fazermos grande burrada, o raciocínio que trabalhe os prazeres da imaginação e se não quede pelos primários sentidos.

 

Até porque… «gostos não se discutem». Mas filosofam-se.

 

Julho de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

 

Para saber mais sobre Edmund Burke, v. p. ex.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Edmund_Burke



[1] - Textos Filosóficos, Edições 70, Setembro de 2013

O SEU TOM

 Prégar no deserto

 

 

O tom de Vasco Pulido Valente.

 

É historiador, sabe do lamiré que sufraga as suas notas pessimistas, envolvendo-as num diapasão de longo alcance sonoro. Ele é a Europa, ele é a América, ele é Paul Krugman paralisando Obama, ele é Cameron entalado entre o UKIP e a coligação, ele é Hollande desprestigiado, mais os referendos da Escócia e da Catalunha. «O mundo em que vivemos desde 1948 começa a cair aos bocados; e não se vê um remédio razoável no horizonte.»

 

Um mundo exterior a desfazer-se (sem contar com os apoios de envergadura dos desastres aéreos ou terrestres provocados pelos mísseis do terrorismo e das retaliações) e nós, portugueses, acompanhando-o com a artilharia do derrotismo habitual.

 

Terão mesmo razão os historiadores e analistas em serem tão eficientemente destrutivos, que nem sequer param para ouvir as razões dos governantes, após o seu trabalho que impôs sacrifícios, mas que admite resultados positivos que já se estão a sentir, segundo os governantes e os analistas ponderados e dos caminhos do bom senso e da rectidão?

 

Será que Vasco Pulido Valente não mostra o seu lado sectário, instigando o povo à gritaria e ao desrespeito, sabendo bem que se este o faz é porque tem quem o instigue e não porque «o tal “povo que aguenta tudo” não aguentará uma nova dose de “austeridade”.? » Um Governo em bolandas, os governantes desunhando-se para cumprir, pagando, é claro, a dívida da irresponsabilidade e da ganância, mas o negativismo destes que sabem contribuindo para os desprestigiar. É o que este artigo de Vasco Pulido Valente nos diz, com a sua argúcia e o seu desprezo:

 

«No deserto»

 

Parece que Paul Krugman, o economista querido da esquerda, percebeu agora que o seu plano para resolver a crise não era politicamente possível. Entre a direita do Partido Republicano e uma boa parte do seu próprio partido, Obama está paralisado. Em Inglaterra, Cameron, com o UKIP de um lado e a coligação do outro, também não se pode mexer. Em França, Hollande é uma personagem gratuitamente acrescentada à paisagem, a direita democrática dividida e desprestigiada não se consegue recompor e já se começa a falar no regresso fatal ao parlamentarismo da IV República. Há ainda o referendo da Escócia e o referendo da Catalunha, que inevitavelmente vão complicar as coisas na “Europa”. O mundo em que vivemos desde 1948 começa a cair aos bocados; e não se vê um remédio razoável no horizonte.

 

A desculpa tradicional dos portugueses para as suas desgraças costuma ser a de que “também sucede lá fora”. Desta vez, não é mentira. A extrema-esquerda, para efeitos práticos, não existe. O PS, em guerra civil, não inspira confiança a ninguém: Seguro e Costa, com ligeiras variantes de tom, propõem a mesma receita utópica de salvação. O PSD e o CDS falharam e o Tribunal Constitucional não se irá embora amanhã. O Presidente da República, reduzido a pregar o entendimento e o “consenso” a uma multidão política que se odeia, e a um eleitorado na miséria, não serve para nada. Pouco a pouco, o país foi ficando ingovernável, no meio da resignação pública e privada. E não se imagina nenhuma força, ou conjunto de forças, capaz de restabelecer uma ordem e um desígnio.

 

Isto não teria grande importância em tempos normais. Mas sucede que os problemas de Portugal não se resolveram com o programa de “ajustamento”, que se limitou a um exercício contabilístico e recuou perante as verdadeiras reformas. Nem o desgraçado défice se “consolidou” abaixo do que a Europa manda, nem a dívida diminuiu, nem o “crescimento” e o “pleno emprego” saíram miraculosamente da cabeça de Passos Coelho. Voltámos, depois de muita gritaria e autêntica pobreza, à situação de 2010-2011. Com algumas diferenças.

O tal “povo que aguenta tudo” não aguentará uma nova dose de “austeridade”. A direita e o dr. Cavaco, que em 2011 eram de certa maneira um recurso, perderam a confiança e o respeito dos portugueses. No deserto de hoje o mínimo solavanco sério é a porta para um desastre como nunca antes conhecemos.     

 

Público    4/7/2014   

 

Vasco Pulido Valente

 

Mas não posso deixar de referir o texto de Rui Ramos - «A IRRESPONSABILIDADE, DOENÇA INFANTIL DO SOCIALISMO» que põe também os pontos nos ii, segundo argumentos reveladores de uma maior solidez temperamental, e com dados certamente não de mentirinha, mostrando, entre outros, os problemas das dificuldades governativas que exigiram e vão continuar a exigir a austeridade:

 

Mas sábado passado, em Cinfães, o primeiro-ministro revelou que "nós hoje temos um nível de despesa social maior do que aquele que tínhamos quando a crise começou". É isto o neo-liberalismo? No Conselho de Estado de Sexta Feira, Passos Coelho terá explicado que haverá "mutualização" quando os outros governos europeus entenderem, mas que isso significará ainda mais restrições à governação em Portugal.

 

E voltamos à pergunta estranha que fez o detective assassinado, antes de fechar os olhos, no livro de Agatha Christie: “Porque não pediram a Evans?”, pergunta-mistério, que no final decifraram, os jovens que se lançaram sobre o mistério da sua morte. 

 

Tratava-se de uma criada, Evans, que deveria assinar um testamento de falcatrua feito ante um advogado, e não foi chamada a fazê-lo porque reconheceria que não se tratava do advogado que conhecia, mas do assassino da história. Um filme que acabei de ver, que me lembrou os nossos muitos artífices da palavra e do intelecto, que tentam decifrar e compreender, aparentemente um grande mistério a resolver, quando estava debaixo do olho.

 

Evans, a dívida a pagar. Porque torneamos, torneamos, acusando, procurando chafurdar e desviar-nos, e não nos debruçamos sobre essa verdade básica: regressar a Evans, regressar à dívida, pagar a dívida?

 

 Berta Brás

OS POLITÉCNICOS

 

 

 

A notícia “Politécnicos essenciais para formar jovens profissionalmente” (LE de 10-7-2014) leva-me a elaborar alguns comentários.

 

Começo por dizer que considero um grave erro tudo o que tem sido feito, especialmente nos últimos dez anos, em matéria de redução do financiamento estatal a todo o ensino público. Sei que o dinheiro “gasto” na educação é um investimento com alta rentabilidade.

Sabem isso os países do Norte da Europa e por isso são ricos. E os juros desse investimento são tão mais altos quanto melhor for a qualidade do ensino.

 

Em 1994 publiquei, num artigo no “Publico”, as linhas gerais do que considerava necessário fazer para corrigir os graves erros (na minha opinião) da legislação de 1980 sobre o ensino superior. Em 1995, num artigo no “Linhas de Elvas”, desenvolvi o que deveria ser feito e até sugeri que, considerando as diferenças de níveis dos graus académicos nos países da Europa, Portugal propusesse uma uniformização de níveis como ali indicava. Nada foi feito e foi-me dito pelo ministro de então que não era possível realizar essa alteração. Em 1999 veio a Declaração de Bolonha (podia ter sido de Évora…) dizer, com pequenas diferenças, o que eu tinha proposto em relação aos graus académicos.

 

Além do “enxerto” de um 4º grau académico no ensino superior (o mestrado), também considerei erro a criação dos Institutos Politécnicos.

 

Os politécnicos foram criados para formar bacharéis (os actuais bacharelatos têm o nome de licenciatura). Mas tenho ouvido muitas declarações que considero erradas, como os politécnicos terem ensino “prático” ou “profissionalizante” e as universidades ensino “teórico”. É claro que na formação de bacharéis não se pode dispensar algum fundamento teórico e os que saem das universidades também vão exercer uma profissão. Ou alguém pensa que um médico faz operações à apendicite teóricas e um engenheiro constrói pontes igualmente teóricas?

 

Logo na minha proposta de 1994 defendia que os politécnicos fossem integrados nas universidades que estivessem mais próximas ou com que tivessem mais afinidade, constituindo polos dessas universidades. Por exemplo, deixariam de existir os Institutos Politécnicos de Beja ou de Portalegre, sendo tudo Universidade de Évora. Em qualquer lugar da universidade em que houvesse infraestruturas suficientes e corpo docente adequado se fariam os três graus que tínhamos antigamente, como eu sugeri e como a Declaração de Bolonha mandou.

 

Eu sei que alguns presidentes e professores dos politécnicos não gostam desta ideia, pensando que perdem independência. Parece-me exactamente o contrário, pois participariam nas decisões importantes da Universidade. E acabava a ideia, que tenho visto expressa, de que o ensino nos politécnicos é um ensino de segunda categoria.

 

Os docentes do politécnico com qualificações idênticas às de um título docente da universidade transitariam automaticamente para essa categoria. Os que tivessem qualificações intermédias mantinham o seu título até fazerem concurso para o título superior da universidade.

 

Na minha proposta com os três níveis, considerei a eliminação do nome de mestre (que não tem tradição no ensino superior português), ficando bacharel (3 anos), licenciado (5+1 ano para tese de licenciatura) e mais 2 anos para o doutoramento. Bolonha quer 3+2+2=7 anos. Aceito.

 

Os que mandam nesta área entenderam por bem eliminar o nome de bacharel. Não pode esquecer-se que a licenciatura pós-Bolonha é, internacionalmente, um bacharelato.

 

Publicado no "Linhas de Elvas" de 17 de Julho de 2014

 

Miguel Mota

SE A MINHA ILHA SOUBESSE...

 

 HORTÊNCIA

 

Se a minha Ilha soubesse

que dela nunca me aparto

que sempre que chego ou parto

dum promontório qualquer

é a ela que eu vejo

porque cá dento

o desejo

me aperta o coração…

Se a minha Ilha soubesse

do carinhoso universo

que se dá em cada verso

que pra ela escrevo à mão

talvez de mim se lembrasse

e uma lágrima chorasse

como a mãe que beija o filho

com toda a ternura e brilho

de quem vive em solidão!...

 

 Maria Mamede

A IRRESPONSABILIDADE, DOENÇA INFANTIL DO SOCIALISMO

 

«Mundo de fantasia»

 

 

O PS prefere confrontos ideológicos de fantasia. Assim, ignora os problemas. Perante a questão da governação pós-2015, em vez de enfrentar a dificuldade, finge ter infinitas hipóteses à esquerda.

 

Se há um documento revelador da estranha fase por que está a passar o PS, é a extraordinária entrevista de João Cravinho de sábado passado. Cravinho, antigo ministro de António Guterres, discorre sobre a maré alta do socratismo em 2009, à qual se seguiu o défice de 10,2% em 2010 e o pedido de resgate em 2011. Diz Cravinho: "Em 2009, ano de eleições, houve de facto um eleitoralismo orçamental muitíssimo forte, quer directamente – caso do aumento salarial da função pública e das prestações sociais -, quer indirectamente – é por essa altura que se lançam os grandes projectos, nomeadamente rodoviários".

 

Um socialista a reconhecer imperfeições a Sócrates? Nada disso. Acrescenta Cravinho: "Espantosamente, não sei como foi possível aprovar [aquela] legislação. E não sei como foi possível ao Presidente da República promulgá-la. Isso para mim é o grande mistério do primeiro mandato de Cavaco: sendo ele especialista na matéria, como é que aceita, por exemplo, que as concessões só comecem a ter efeitos no termo da legislatura 'n' anos à frente?"

 

Ficamos portanto a saber: a culpa é de Cavaco Silva. O Presidente da República, segundo um antigo dirigente socialista, não deveria ter deixado o PS governar. Mas que teria dito Cravinho em 2009, se o presidente tivesse contestado as opções do PS? E não tem agora nada para dizer sobre o facto de ter sido o PS o responsável dessas opções?

 

O PS esteve no governo entre 1995 e 2011, com um breve intervalo de faxina entre 2002 e 2005. A economia portuguesa deixou de convergir com a UE, a dívida pública escalou os Himalaias, e acabámos "resgatados". Para o PS, a culpa de tudo isso, quando não é dos bancos, é de Cavaco Silva.

 

O PS vive num mundo extraordinário. Actualmente, a sua razão de ser é a resistência a um governo "neo-liberal", supostamente empenhado em destruir o Estado social e fazer-nos pagar a dívida. Mas sábado passado, em Cinfães, o primeiro-ministro revelou que "nós hoje temos um nível de despesa social maior do que aquele que tínhamos quando a crise começou". É isto o neo-liberalismo? No Conselho de Estado de Sexta Feira, Passos Coelho terá explicado que haverá "mutualização" quando os outros governos europeus entenderem, mas que isso significará ainda mais restrições à governação em Portugal.

 

O que pensa o PS do recorde de despesa social ou dos condicionalismos de qualquer mutualização (ou reestruturação) da dívida? Não sabemos. O PS prefere confrontos ideológicos de fantasia. É a sua maneira de ignorar os problemas. Perante a questão da governação depois de 2015, no caso de vencer eleições sem maioria absoluta, é a mesma coisa: em vez de enfrentar a dificuldade, finge ter infinitas hipóteses à esquerda. Como se fosse viável governar com o BE ou com o PCP, partidos que negam tudo aquilo em que o PS acredita, da democracia pluralista à integração europeia. Como se o PS não tivesse a história que tem, feita da resistência ao comunismo em 1974-1975 e da colaboração com o FMI em 1983-1985, num ajustamento mais violento do que o actual.

 

O PS deveria garantir a possibilidade de alternância no governo. Mas este PS – o PS de Seguro, de Costa, de Sócrates –, que escolha nos deixa? É que me parece estar a ler a entrevista de João Cravinho no fim de 2016, depois do novo resgate com que há-de terminar o próximo governo socialista: "Mas vocês não viram a minha entrevista de há dois anos, quando eu culpei o Presidente da República pelo que o PS fez em 2009? Vocês não perceberam que, estando nós nesse estado, não nos podiam deixar regressar ao poder? Os culpados são vocês". E terá toda a razão.

 

8/7/2014                                  

 

 Rui Ramos

 

In  Observador

FALAR DE NÓS

 

PORTUGAL – MACAU: UM PATRIMÓNIO

 

 

 


“... a presença portuguesa no delta do Rio das Pérolas foi profundamente marcada pela história de mais de quatro séculos, feita de encontros e desencontros, mas sempre de uma amizade que, sabendo ultrapassar dificuldades, permitiu uma tão duradoira presença e motivar um tão vasto património cultural.”

 

Da nota introdutória ao volume 17 de Povos e Culturas

 

 

O Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (CEPCEP), organismo científico da Universidade Católica Portuguesa, acaba de lançar o volume 17 da sua revista Povos e Culturas, o qual foi dedicado ao tema “Portugal – Macau: um património”, para assinalar, como é referido na sua nota introdutória, “os 500 anos da chegada dos Portugueses à China e, de um modo mais particular, lembrar alguns momentos ocorridos no território onde a presença portuguesa mais se fez sentir, ou seja, em Macau.” Desejou-se também “recordar aspectos do relacionamento de Portugal com a China e avaliar a dimensão do legado luso em Macau”.

 

Nem todas as personalidades convidadas puderam corresponder à solicitação que lhes foi, oportunamente, feita, mas constituiu um “privilégio poder contar com a colaboração de autores que conceberam e executaram as grandes reformas de Macau no século passado e que possibilitaram uma passagem serena e tranquila daquele território, da administração portuguesa para a chinesa”. E “assim se preservou – valorizando-a até – a herança cultural portuguesa no Extremo Oriente”.

 

A sessão decorreu em Lisboa, na tarde do dia 8 do corrente, no Salão Nobre do Palácio da Independência, sede da Sociedade Histórica da Independência de Portugal (SHIP), com intervenções de José Augusto Alarcão Troni, presidente da SHIP e ex-membro do Governo de Macau, Roberto Carneiro, presidente do CEPCEP, João de Deus Ramos, diplomata que reabriu a representação de Portugal em Pequim e foi Secretário-Adjunto para os Assuntos da Transição em Macau, Artur Teodoro de Matos, professor catedrático e director da revista, e Carlos Alberto Moniz, que apresentou o CD “Macau, um sonho oriental”, que integrou a revista e cuja primeira edição, patrocinada pelo IPOR – Instituto Português do Oriente, havia sido lançada em Macau em 1993. O autor deste artigo e o antigo Ministro da Cultura, Pedro Roseta, fizeram as considerações finais, salientando a relevância de Macau como entreposto comercial e cultural, ao longo da história e na actualidade, e a sua reafirmada missão como ponte e plataforma de cooperação entre a China e os países lusófonos.

 

Conteúdo da revista

 

         Este número da revista está dividido em quatro partes, a primeira reunindo trabalhos sobre Macau e a presença de Portugal no Extremo Oriente, a segunda divulgando as comunicações apresentadas no doutoramento honoris causa de Roberto Carneiro na Universidade Aberta, em Junho de 2013, a seguinte compreendendo vários estudos produzidos no âmbito do CEPCEP e ainda inéditos, e a última reproduzindo um texto de Carlos Alberto Moniz e José Jorge Letria, que constitui o guião do CD “Macau, um sonho oriental”.

 

         Os trabalhos sobre Macau são de José Eduardo Garcia Leandro, ex-Governador de Macau (“Macau e as grandes reformas que garantiram o futuro, 1974/1979”), Francisco Murteira Nabo, ex-Secretário-Adjunto para a Economia e Finanças do Governo de Macau (“Uma visão sobre a economia de Macau em 1990”), João de Deus Ramos, ex-membro do Governo de Macau e diplomata com larga experiência no âmbito das relações luso-chinesas (“Relações entre Portugal e a República Popular da China: um olhar retrospectivo”), Jorge A. H. Rangel, presidente do Instituto Internacional de Macau e ex-membro do Governo de Macau (“A preservação e valorização do legado luso em Macau”), Vasco Rocha Vieira, último Governador de Macau (“China, Portugal e a globalização competitiva”), António Vale, investigador académico (“A sociedade macaense no antigo regime”) e Rogério Miguel Puga, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e coordenador do Seminário Permanente sobre Estudos de Macau (“Representações de paisagens histórico-etnográficas da Macau oitocentista no diário de Joseph Frye, 1853”).

 

         De entre os inéditos do CEPCEP, figuram dois estudos sobre Goa, de Artur Teodoro Matos (“Os ‘arbítrios’ de Diogo Pinho Teixeira para a reforma do governo económico do Senado da Câmara de Goa em 1728”) e de João Teles e Cunha, ambos do Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica Portuguesa e do Centro de História de Além-Mar da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade dos Açores (“O insólito no quotidiano goês: Santa Mónica e o Milagre da Cruz, 1636”).

 

         Ficou, desta feita, disponibilizado mais um conjunto de contribuições que serão úteis a jovens investigadores numa altura em que, nas universidades, os temas relacionados com a memória de Portugal no Oriente têm merecido um renovado interesse académico, até no que concerne a dissertações de mestrado e teses de doutoramento.

 

         E foi, com inevitável emoção que, mais de duas décadas volvidas, pudemos reler – e, na sessão, de novo ouvir – os poemas e os cânticos de “Macau, um sonho oriental” que, de forma assaz expressiva, Carlos Alberto Moniz nos ofereceu, de todos grangeando uma prolongada ovação. “São respigos de costa a costa, do extremo ocidente ao extremo oriente, unidas em salgada nostalgia, feitos notas e palavras, gestos e mímica, representação e sugestão, que ecoam por um tempo intemporal e que ocupam um espaço indefinido”.

 

Povos e Culturas

 

         A revista Povos e Culturas é o principal veículo de comunicação do CEPCEP, centro de estudos da Universidade Católica Portuguesa criado em 1983 e especialmente vocacionado para o “estudo da interacção cultural que a presença portuguesa gerou no seio dos povos dos vários continentes, fomentando, por esta via, a compreensão e a aproximação mútuas”. Neste contexto, promove a investigação, a formação pós-graduada e a difusão cultural, estimula o debate qualificado e assegura a publicação de estudos relacionados com as suas preocupações científicas, podendo também prestar serviços e estabelecer parcerias, visando a realização dos seus objectivos.

 

         O CEPCEP está estruturado por unidades científicas, organizadas em torno de cinco áreas fundamentais: Portugal, Brasil, África, Oriente e Comunidades Portuguesas. Integram o seu órgão executivo os professores e investigadores Roberto Carneiro, como presidente, Artur Teodoro de Matos, João Paulo Oliveira e Costa, Ana Claúdia Valente, Fernando Chau, José Maria Seruya e Verónica Policarpo, sendo acompanhado por um conselho geral constituído por destacadas individualidades de reconhecido mérito académico e cultural.

 

         Como revista universitária, Povos e Culturas pretende ser um espaço de convivência e de diálogo intercultural, forjado no pressuposto “de que é na produção cultural que reside a chave da vitalidade e da renovação dos povos”.

 

         Esta edição, datada de Maio de 2014 e respeitante ao ano de 2013, teve o apoio da Fundação Jorge Álvares.

 

 

 Jorge A. H. Rangel

Presidente do Instituto Internacional de Macau

NÃO HAVERIA DINHEIRO

 

 

 

“Não haveria dinheiro  para pagar salários e pensões” foi a frase com que Sócrates justificou a necessidade de submeter o país à humilhação  de ser dominado por banqueiros internacionais. Isto sucedeu depois de, em seis anos, graças a parcerias resultantes de gestão danosa, este governante ter feito subir a dívida pública de menos de 60% do PIB para 94% do PIB, mais de 50% de aumento!

Nos anos até 2005, ano da tomada de posse do governo PS, a dívida manteve-se abaixo de 60% do PIB.

 

Ouvimos depois essa frase a Passos Coelho, para tentar justificar mais cortes, a famigerada 'austeridade'.

 

Mas os portugueses, adormecidos com a possibilidade de protestarem contra o Governo – isso basta-lhes para pensarem que vivem em democracia – têm aceitado como boa essa desculpa esfarrapada. Não lhes ocorreu  perguntarem a esses governantes se o dinheiro que havia não chegava para pagar ordenados e pensões e só chegava para continuar a dar às fundações ditas privadas, mas que vivem alimentadas pelo dinheiro público; se o dinheiro chegava para dar milhões aos Partidos; se o dinheiro chegava para as imensas mordomias que países ricos não dão aos seus equivalentes, e que, todas juntas, somam muitos milhões; se o dinheiro chegava para continuar a alimentar as parcerias resultantes de gestão danosa, a causa do enorme aumento da dívida; se, na realidade, o dinheiro que não haveria era apenas para salários e pensões?

 

Quando, em 2011, os portugueses elegeram o novo Governo, chefiado por Passos Coelho, esperavam que fosse corrigir a gestão danosa do PS. Sem eleições livres, obrigados a votar em Partidos e não em pessoas; a ter como primeiro-ministro o chefe do Partido mais votado, posição a que fora elevado exclusivamente pelos seus correligionários; sendo, portanto, limitadíssima a possibilidade de escolha, foi aquela a solução votada pela maioria. Esperavam, naturalmente, que o novo Governo corrigisse os desmandos do PS. Infelizmente, o novo Governo continuou na mesma senda destruidora de Portugal, nada corrigiu e continuou a agravar a vida da grande maioria dos portugueses e a enriquecer ainda mais a minoria de ricos. A dívida pública, que se esperava que fosse sendo reduzida, continuou, inexplicavelmente, a subir e em 2013 atingia 129 % do PIB.

 

No mesmo período, foram “privatizados” mais serviços públicos de importância nacional, vendidos a preço de saldo e alguns deles rendendo boas quantias a quem os comprou. Um dos mais chocantes foi o serviço de Correio, um serviço de responsabilidade e que até é um perigo estar em mãos privadas e estrangeiras. Para que o negócio fosse mais rendoso para o comprador, extinguiram-se, antes da venda, dezenas de estações de Correio que tinham grande movimento, obrigando as populações que serviam a deslocarem-se a longa distância. Para cúmulo, logo após a venda de um serviço que já dava lucro, o custo da correspondência foi aumentado em cerca de 30%!

 

O Governo tem dito que está tudo melhor, que as exportações aumentam, que o desemprego baixa, que a economia cresce, etc. Mas parece que não percebe que os portugueses, a tal sacrificada classe média, só acreditam em melhoria no dia em que começarem a receber – e não em pinguinhas miseráveis, mas em quantitativos significativos – o muito que lhes subtraíram nestes últimos anos. Enquanto lhes anunciam mais cortes, continua a pobreza a aumentar, mantêm-se aqueles absurdos gastos acima referidos e, ao mesmo tempo, também aumenta o número de milionários. Assim, não esperem que qualquer pessoa normal acredite em melhorias.

 

Publicado no Público de 15 de Julho de 2014

 

Miguel Mota

O FADO DA INDONÉSIA

 

 

O grupo musical Keroncong Tugu actua em Díli durante a Cimeira da CPLP em Julho de 2014.

 

Não faltará quem pergunte de quem se trata. Pois bem, são dos tais que não sabem uma palavra de português e não têm já um único gene português mas que se dizem portugueses. Vivem nos arredores de Jakarta num bairro chamado Tugu (eu brinco dizendo que são os tugas lá do sítio) e descendem dos portugueses e seus escravos forros que há séculos por ali andaram.

 

Para já, tudo o que querem é um professor de português. Não tendo agora nós, Portugal, as finanças públicas em condições de satisfazermos esse pedido, sugeri-lhes que o pedissem ao Governo de Timor Leste durante uma das récitas que darão em Díli. E como dos tímidos não reza a História, enviei-lhes um escrito para o chefe do grupo, o meu amigo facebookiano Guido Quiko, ler aos microfones: «Os residentes no bairro Tugu, em Jakarta, pedem ao Governo de Timor Leste que lhes envie um professor de português». Vamos ver como ele se safa na leitura e na satisfação do pedido.

 

Mas é no livro “OS FILHOS ESQUECIDOS DO IMPÉRIO”, pág. 158 e seg., que o Joaquim Magalhães de Castro nos relata o que é este «fado» e quem são os seus intérpretes:

 

«(…) o kaparinyo, canção inicialmente popularizada na costa oeste de Samatra e posteriormente divulgada em todo o arquipélago (…) provém do lagu cafrinyo, tema de origem portuguesa ainda hoje cantado no bairro dos luso-descendentes de Tugu, nos subúrbios de Jacarta e que se insere num estilo musical denominado kroncong (…) caracterizado principalmente por um estilo vocal em que se canta de uma maneira sentimental em que são utilizadas harmonias europeias.

 

Na sua forma original, os tempos e contratempos do kroncong eram tocados em viola apropriada, com corpo de madeira ou casca de coco, hoje praticamente obsoleta. (…) Actualmente, os agrupamentos que mantêm vivo esse estilo musical substituíram as biolas kroncong pelos cavaquinhos e bandolins eléctricos podendo eventualmente integrar o violino, a flauta e vários tipos de percussões.

Mestiços e escravos africanos, indianos e malaios com carta de alforria, os denominados mardijkers ou “portugueses negros”, como também eram conhecidos, foram os primeiros intérpretes deste género musical que, de certa maneira, podemos associar ao fado. Durante o domínio holandês, essa gente entretanto classificada como portugi logrou obter um pedaço de terra fundando a colónia de Tugu, ainda hoje existente. Distingue-os o crioulo e o kroncong cujos intérpretes, em Java e no Sul de Samatra, são conhecidos como tanjidores

 

E como as modernices o permitem, aqui vai a ligação ao anúncio que o meu amigo Guido Quiko faz da ida a Díli, à Cimeira da CPLP:

https://www.youtube.com/watch?v=HAQ_3KBXsmE&feature=youtu.be&list=UUzcG630pt1vRU-VsTzQtWMw

 

Na página dele no Facebook em

 https://www.facebook.com/Keroncong.Tugu?fref=tsm

tem muito mais informação em bahasa, a língua corrente na Indonésia que o Google Translator denomina «indonésio».

 

Não sei o que os Governos de Portugal e de Timor Leste vão fazer neste particular mas eu sei que não os vou abandonar. Quem me acompanha?

 

Julho de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

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