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A bem da Nação

EDUCAÇÃO EM BAIXA

 

Foi notícia, e poucos se manifestaram; o Ministério da Cultura patrocina um projecto para reescrever obras de autores clássicos brasileiros, de forma “facilitada”, para que os alunos compreendam o que lêem e se interessem... Agora não são os alunos que crescem, aprendendo novos termos, são os livros, alterados, reeditados com outros vocábulos infantilizados, para atingir os estudantes funcionalmente semi-alfabetizados. No meu tempo de escola secundária, quando não conhecíamos os novos termos consultávamos o dicionário. Era assim que nos instruíamos.

 

Depois das cotas para negros, índios, alunos de escolas públicas, os concursos públicos passaram a menosprezar o mérito e a exaltar as diferenças sócio-raciais. Depois de escolas que não reprovam, tratando da mesma maneira quem estuda e quem vagabundeia, depois da distribuição na rede pública de livros e apostilhas com erros crassos de português, depois do desprestígio salarial com que o governo contempla o magistério, depois da proliferação politiqueira de escolas superiores, deficientes, que lançam todos os anos no mercado de trabalho profissionais muitas vezes incompetentes, me pergunto:

 

Que pretende um governo que promove e nivela a educação da juventude tão por baixo?

 

Boa coisa não há de ser...

 

 Maria Eduarda Fagundes

PARAFRASEANDO O “SÓ”

 

AH! FOI PARA ISTO?

 

Há uma clara intenção manipuladora da opinião pública no sentido do boicote ao voto, no artigo de Vasco Pulido Valente, publicado no Público de 16/5 – «Á procura do povo». E ela nota-se no desprezo acerbo com que descreve os grupelhos dos partidos concorrentes às eleições europeias de 25/5, que a sua sensibilidade “desperada” captou, no isolamento daqueles, arrastando atrás de si, perante a indiferença geral, a meia dúzia de amigos, ou apenas algum “primo piedoso”, no sabor da comezaina, desejando convencer sobre as razões para que neles se vote – com os seus temas da berra – a protecção ecológica, a protecção científica, o bem-estar geral, e a propósito, os ataques recíprocos e sacrossantos, dos que não governam contra os que governam, dos que governam contra os que já governaram. E “se governaram”, o que os que governam agora também farão depois da governação. Enfim, o mesmo de todas as campanhas eleitorais, de visão especificamente interna, que nada tem a ver com os objectivos europeus nem os aquentariam nem arrefentariam, que têm as suas próprias manobras, no sentido de explorar bem as regalias pecuniárias indispensáveis ao bom funcionamento dos seus aparelhos próprios, onde a educação e a disciplina favoreceram naturalmente o bem-estar, pese embora o cinismo manobrador dos seus discursos.

 

O texto de Pulido Valente, sem contemplações à direita nem à esquerda, é fruto de um crescente enervamento contra o “indígena”, pelo irremediável e insanável de um “status” de precariedade intelectual, secundado por uma televisão de estardalhaço, e cujas prioridades de fascínio se centram no futebol ou na praia, na indiferença pasmada geradora de pasmaceira ou de um ruído farfalhudo. “Cada um é seus caminhos”.

 

Um sarcasmo feroz no texto de Pulido Valente, mas o apelo maldoso para que se não vote, na certeza de que se não votará, nada tem a ver com a ideologia que combatia o “fascismo” da univocidade e banalidade do voto eleitoral. Conquistou-se a “liberdade” de pensamento e de escolha, e a constatação manipuladora é a de que se não vai votar.

 

Eu vou votar, o que nunca fiz dantes, quando conhecia de antemão o resultado.

 

«À procura do povo», de V. P. V.

 

A televisão mete agora num canto qualquer dos noticiários grupos de indivíduos que, segundo parece, andam em campanha eleitoral. A gente que passa na rua ou está nas lojas não dá obviamente por isso.

 

Há candidatos (cabeças de lista) que não levam atrás de si mais do que cinco ou seis pessoas, que com certeza são pessoas de família ou amigos piedosos. Há outros que lá se arranjam para juntar meia dúzia de militantes num jantar ou num almoço melancólico, para lhes servir um discurso, quase sempre entusiástico e sempre absurdo na tristeza geral. Praças vazias, salas pequenas, cafés de bairro, uma traineira, uma praia, cenários de circunstância dão um sentimento de solidão e às vezes de angústia a quem assiste ao esforço dos pregadores, por que ninguém se interessa e ninguém vai votar.

 

Ainda por cima, com 16 partidos concorrentes, o cidadão comum não os distingue, nem sabe da existência deles. É preciso explicar quem defende animais, quem promete a “unidade da esquerda”, quem quer acabar com o IVA da restauração, quem não gosta dos socialistas e quem jura, a pés juntos, que o “despesismo” não voltará jamais. Mas, no meio da confusão, as pessoas, que já não se interessam, acabam por se perder. De resto, num extraordinário reconhecimento da verdadeira ordem de prioridades, os candidatos resolveram não sair de casa por causa de um jogo de futebol. Suponho que terão percebido que ficavam por aí a vaguear sem sequer a companhia de um primo fiel ou se arriscavam a levar pedradas se distraíssem o público de coisas sérias.

 

Segundo os jornais, um grande herói do CDS declarou que o povo não lhe metia medo. Julgava provavelmente, por influência do dr. Soares, que o iriam vaiar. Mas não o vaiaram. Os vagos vestígios de povo que por acaso encontrou nem mesmo o reconheceram. E não admira. Nesta campanha, até as notabilidades dos grandes partidos são difíceis de identificar, fora do grupo de jornalistas que por obrigação os segue. Para a generalidade dos portugueses – em que me incluo – uma cara é uma cara e um político é um intruso que nos fala sem razão ou autorização. Peço, por isso, aos meus compatriotas, de resto notáveis pelo seu sentimentalismo, que de quando em quando tratem bem um político: basta um sorriso, uma palavra, uma palmadinha nas costas. Não custa nada que o povo se mostre um bocadinho às patéticas criaturas que até 25 de Maio estão ansiosas por conversar com ele. Verdade que a conversa é inútil. Mas não custa muito.

 

 Berta Brás

DEMO E TEO CRACIAS – 1

 

 

No tempo em que a linguagem era simples, sem acordos gramaticais e outras complicaduras, rezavam os manuais políticos que havia três tipos de governo: ditadura ou tirania, democracia e teocracia.

 

Hoje com os pensamentos muito desenvolvidos (!), também se desenvolveu a nomenclatura para definir os sub-produtos dos três sistemas iniciais, e assim encontramos situações extremamente curiosas – o mais correcto seria chamá-las de desastrosas – como:

 

- Ditadura: todas são trágicas, algumas trágico-cómicas como a do clã dos King Kongs na Coreia do Norte onde até o corte de cabelo é obrigatório. Para se avaliarem as ditaduras deveriam classificar-se pelo números de mortes – assassinatos – cometidas contra opositores.

 

De longe, em primeiríssimo lugar, viria a do zé stalin soviete, com mais de doze milhões, ex-aequo em segundo competiriam hitler e mao, depois a cambojana com os Khmer Vermelhos de pol pot com mais uns muitos milhões, depois uns mais branditos como a de pinochet, franco, mussolini e dos generais argentinos, devendo aparecer em penúltimo lugar a dos generais brasileiros com pouco mais de quatrocentos mortos, e por fim a salazarista. É evidente que sem esquecer a cubana, sobretudo quando lá estava o pacifista guevara que todos os dias ia à prisão fuzilar uns quantos presos... por prazer.

 

- A seguir aparecem as Ditaduras da democracia ou ditaduras democráticas, duas palavras de total antagonismo, mas que estão bem representadas em países como a Rússia e Brasil, por exemplo. Em ambos se vota, o que pressupõe democracia, mas no primeiro impera a ditadura kágebesca, militar, onde não se prestam contas ao povo, os juízes são comandados pela sempre poderosa polícia putinesca, e quem se atrever (ou já atreveu) a dizer que as obras em Sotchi foram um escândalo de corrupção vai prá cadeia. Lugar estratégico, onde o filho da Putina tem uma big mansão, ao lado da Abcássia e da Ossétia do Sul, que ele já roubou à Geórgia e em frente da Crimeia que acaba de roubar também. Ditadura democrática policial... e corrupta, ora pois.

 

No Brasil tem algo semelhante: a Rússia tem a dança dos Cossacos, o Lago dos Cisnes e outras, e o Brasil o Samba. Dançar dançam todos.

 

Na Russia do putinesco imperial, ai de quem levantar a voz contra ele e seus asseclas.

 

No Brasil, muito mais liberal, levanta-se a voz contra tudo e contra todos, a banditagem, corrupção, ladroagem, enriquecimento super ilícito, descarado apoio do desgoverno a grupos de baderneiros, mas a ditadura do “pt”, os ptralhas, tudo abafa, ninguém viu nada, nem ouviu nada, nem fala nada.

 

E ainda se permitem tentar denegrir a imagem dum irrepreensível ministro do Supremo Tribunal Federal, por ter condenado o alto escalão petralha, (devia dizer a alta escória, mas...) sendo até, por elementos da gangue desgovernamental, ameaçado de morte nas chamadas redes sociais da Internet!

                       

A imagem do governo do país onde o futuro não chega

 

- Democracia de um dono só”. Democracia é de todas a mais rica em filologia, sem dúvida. Tem dezenas de sub-variantes, como por exemplo em Angola, Guiné Equatorial e Zimbabué: onde o povo vota, previamente os resultados já estão definidos mantendo indefinidamente os “presidentes”; o da Guiné Equatorial e o angolano competem para ver quem mais rouba dos seus países, ambos há 35 anos na mamata, este com uma filhinha a mulher mais rica de toda a África, o outro, além do genocídio dos bubis, acumulou também uma fortuna de alguns biliões de dólares, e na outra banda o imorrível do Zimbabwe há 27 anos, com 90 de idade, semi-podre, mas ai de quem o contrariar.

 

Este tipo de democracia é que tem os mais verdadeiros slogans de propaganda: “Votem em mim que eu quero que vocês se danem e a grana é minha”!

 

Há mais deste tipo; por ora estes devem ser os campeões.

 

Democracias Mentecaptas: há outras democracias muito curiosas também, sem precisarmos ir muito longe: dois vizinhos são exemplo da mente capta dos homens, e mulheres, aqueles que votam: Venezuela e Argentina. Venezuela, o oitavo país produtor/exportador de petróleo arruína-se, e à população faltam alimentos e até papel higiénico! A Argentina, até tem um pouco de petróleo, uma indústria razoável, muito turismo, uma agricultura e pecuária onde tudo se produz do bom e do melhor, um povo com alto índice de cultura. Há muitos anos estes dois países só “produzem” presidentes dementes e assim se afundam.

 

- Democracias Implodidas: as mais variadas são aquelas com inúmeros partidos políticos, as mais divertidas para quem assiste, de longe, à babilónia dos seus governos e parlamentos, onde ninguém se preocupa com o país, mas como a individualidade de cada um dos seus componentes. Resultado: cada vez mais países aflitos para manterem a cabeça fora de água, mas sempre a meterem água. À maioria desses hoje vale-lhes o famosérrimo parlamento europeu, o mais babilónico de todos, onde o vírus corruptus parlamentarius reina soberano e ninguém mais parece querer a União Europeia para coisa alguma.

 

Tem muitas variantes de democracias e até, espantem-se os leitores, algumas funcionam bem, anos-luz à frente de todos as outras que por terem criado eleições se arrogam o direito de se dizerem democracias. As autênticas são as nórdicas, que infelizmente não passam de meia dúzia. E por incrível que pareça são monarquias democráticas! Imaginem se Carlos Magno ou o Luis XIV poderia imaginar que isto um adia havia de acontecer!

 

E a mais absurda forma de governo:

 

- Teocracia, que foi a segunda a aparecer no mundo. Primeiro foi a liberdade total, com o matriarcado a dominar, começando nos humanos com a Eva a dar uma maçã de sacanagem ao Adão.

 

Teocracia, segundo a etimologia significa, mais ou menos: “ou acreditas que eu te mato em nome de Alá, ou não acreditas e eu te mato em nome de Alá”.

 

Depois os homens, sempre maricas, cobardes, medrosos, perceberam que havia algo que os ultrapassava – além das mulheres – por muito fortes e muito grandes os exércitos que comandavam, a quem temiam e puseram o nome de deus, javé, alá, braman, olorun, nzambi e até oxalá.

 

Então encontraram uma fórmula para minimizar os efeitos da sua insignificante pessoa e intitularam-se “deuses” dos seus povos, ou “rei pela graça de Deus”, “profeta único”, iluminado”, “representante das vontades de Alá para matar os que não vão no meu papo”, sacrificando, imolando os seus (pessoais) inimigos para aplacar a cólera dos deuses, etc.

 

Fizeram isso os mais antigos como hebreus, assírios, egípcios, maias, e muitos outros, como no Egito, Aquenáton, um grande faraó que quis instituir uma religião monoteísta na tentativa de retirar o poder político das mãos dos sacerdotes sem se esquecer ele mesmo de ser o único representante e mediador dessa divindade. Os sacerdotes, era tudo gente fina: mandavam nos faraós e obrigavam o povo a “fornecer-lhes” regularmente jovens virgens para ajudarem na “rezas” aos deuses. Desculpem, às deusas. Uma farra. Como é evidente, Aquenaton acabou assassinado por mando dos sacerdotes ... destituídos.

 

Bem mais tarde a asquerosa inquisição deixou uma mancha indelével na religião do amor, mas nada se compara aos mais ferozes e persistentes que têm sido, desde o primeiro momento, os extremistas. Todos os extremistas.

 

Basta, por hoje, este detalhe:

 

No Islão, uma pessoa que comete blasfémia pode ser morta ou crucificada, ou suas mãos e pés podem ser cortados, ou pode ser exilada da terra.

 

O próprio Muhammad — uma vez declarou: “quem amaldiçoa um profeta, matem-no” — ordenou a execução de muitas pessoas simplesmente por criticar, questionar ou por chacota ao Corão.

 

Entre os mortos havia mulheres, tais como Asma bint Marwan. De acordo com o primeiro biógrafo do profeta, depois de Muhammad ter ouvido alguns dos poemas de Asma, retratou-a como um bandido assassino e clamou pelo seu assassinato, exclamando:

 

“Ninguém irá me livrar desta mulher?” Umayr, um zeloso muçulmano, decidiu executar os desejos do profeta. Uma noite entrou em casa da escritora enquanto ela estava deitada dormindo rodeada por seus filhos. Lá Umayr tirou-lhe o bebé que estava a mamar e mergulhou a espada na poeta. Na manhã seguinte na mesquita, Muhammad, que estava ciente do assassinato, disse, “você ajudou a Deus e seu apóstolo”, Umayr disse, que ela tinha cinco filhos. “Devo me sentir culpado? “Não, respondeu o profeta. Matá-la era tão importante quanto duas cabras batendo suas cabeças.”*

 

* - “Qu’ran, Hadith and Scholars: Muhammad and Mas Murderer”, WikiIslam, n.d., http://wikiislam.net/wiki/Qur%27an

http://www.answering-islam.org/Muhammad/Enemies/asma.html

 

- Continua –

 

12/05/2014

 

 Francisco Gomes de Amorim

EM PROL DO BEM COMUM

  

 

«O bem comum consiste no conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana» – afirmava João XXIII na encíclica «Mater et Magistra» (1961), citada em «Pacem in Terris» (1963).

 

Estamos perante a referência, na sociedade contemporânea, ao respeito pelos direitos e deveres fundamentais da pessoa humana. Nestes termos, os poderes públicos orientam-se no sentido do respeito, da harmonização, da tutela e da promoção dos direitos invioláveis das pessoas, prescrito na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Por isso, se uma autoridade não reconhecer os direitos ou os violar «não só perde a razão de ser, como também as suas injunções perdem a força de obrigar em consciência», como insistia João XXIII há cinquenta anos, num documento moderno que hoje se tornou mais actual do que em algum outro momento.

 

A noção de serviço público não se atém apenas ao Estado e ao mercado, mas à comunidade. O Estado social tem assim de representar a sociedade e os cidadãos, devendo o serviço público corresponder a uma rede de iniciativas e de cidadãos criadores.

 

Falamos do catálogo de direitos aceites e reconhecidos pelas Nações Unidas, que a «Pacem in Terris» refere:

- A existência de um digno padrão de vida;

- O respeito pelos valores morais e culturais;

- O prestar culto segundo o imperativo da recta consciência;

- A liberdade de escolha do estado de vida;

- A satisfação justa de necessidades económicas;

- Para além dos direitos de reunião, de associação, de migração e de participação política.

 

E o Concílio Vaticano II consagrou ainda a liberdade religiosa e de consciência. E este conjunto completa-se com o elenco dos deveres de cidadania:

- Reciprocidade entre direitos e responsabilidades;

- Colaboração mútua entre pessoas;

- Convivência na verdade, na justiça, no amor e na liberdade;

- Bem como salvaguarda de uma ordem moral, cujo fundamento para os cristãos é o próprio Deus.

 

Referimo-nos a uma noção de «bem comum» que parte da dignidade da pessoa humana, articulando a singularidade e o sentido comunitário. Deste modo, encontramos um fundamento universal e não uma mera lógica de hierarquia formal. Não se trata de referir um modelo de bem comum ou uma noção estereotipada de democracia – mas sim de considerar que a pessoa humana é medida comum de direitos e responsabilidades. Estamos perante elementos de justificação, de legitimidade e de reconhecimento.

 

É justificação, uma vez que supera a lógica redutora da sociedade humana sujeita a modelos ou receitas. Sendo a pessoa a referência, a organização e o funcionamento da sociedade deverão encontrar um modo de respeitar, de facto, a liberdade, a igualdade, a diferença, a responsabilidade social, o pluralismo, o respeito mútuo (numa acepção positiva de tolerância), a igual consideração e o equilíbrio e a limitação de poderes.

 

No tocante à legitimidade, estamos a falar também de legitimação, envolvendo a participação dos cidadãos pelo voto, como expressão da vontade plural, e pela cidadania activa, mas igualmente a responsabilidade permanente pelo exercício dos poderes públicos. E temos de referir ainda o reconhecimento, que permite assegurar o respeito mútuo, a reciprocidade e a complementaridade, como manifestações de coesão, de confiança, de entreajuda e de diálogo cívico participante. A autonomia individual não se confunde com a fragmentação ou com o egoísmo e a autonomia pessoal, apenas se afirma se permitir a articulação entre nós e os outros, considerados como naturais complementos.

 

Como afirmou Jacques Maritain numa das suas conferências do período do exílio americano durante a guerra: «Dizer que o homem é uma pessoa quer dizer que, no fundo do ser, ser é mais um todo que uma parte, e mais independente que servo. Quer dizer que é um minúsculo fragmento de matéria e que é ao mesmo tempo um universo – um ser pedinte que comunica com um ser absoluto, uma carne mortal cujo valor é eterno, uma palha na qual entra o céu. É este mistério metafísico que o pensamento religioso designa quando diz que a pessoa é a imagem de Deus» («Os Princípios de Uma Política Humanista», tradução de A. Alçada Baptista, Morais, 1960, p. 21). Por isso, temos de compreender a relação com o mundo contemporâneo e os sinais dos tempos, em especial através da laicidade, da liberdade religiosa e da reciprocidade entre todas as pessoas de boa vontade.

 

   GUILHERME D'OLIVEIRA MARTINS

NO PASARÁN!

 

 

La Fontaine tem lições

Para todas as ocasiões.

Eis um exemplo na berra:

 

«O Leão, partindo para a guerra»

 

Rei Leão matutava com discernimento

Num certo empreendimento

Do seu entendimento.

Decretou um conselho de guerra

Lá na terra,

Enviou os seus chefes mores

Para avisar os demais animais

Da sua decisão,

Sem comiseração

Mas com modos sabedores.

E todos foram parte do projecto,

Cada um segundo os seus valores:

O Elefante devia no seu amplo dorso de paquiderme

Os aprestos guerreiros transportar

E ainda, conforme o seu costume,

Sem charme,

Pesadamente combater;

O Urso, os assaltos deveria preparar;

A Raposa, os serviços secretos organizar;

E o Macaco, com as suas macaquices,

O inimigo, sem chatices, distrair.

-“Despedi, disse um dos intervenientes,

Desses mais insinuantes

Na governação,

Que os há sempre,

Queiramos ou não –

Os Burros, que são bem broncos,

E as Lebres, sujeitas a pânicos.”

-“Nada disso, disse o Rei; eu quero-os a todos empregar:

A nossa tropa, sem eles, completa não iria estar.

O Burro assustará as gentes, servindo-nos de trombeta;

E a Lebre servir-nos-á de correio

Como estafeta.”

Um monarca prudente e sensato

Dos seus menores vassalos sabe tirar proveito,

E sabe reconhecer o talento e o jeito.

Não há ninguém inútil

Nem fútil

Para um governante experiente

E envolvente.

 

Assim disse La Fontaine,

Assim acha a minha amiga confiante,

E também eu, crente

Na verdadeira democracia,

Ao ouvir nas sessões do Parlamento,

Os novos ministros com muito tento

E galhardia,

Falando e dando

Lições de delicadeza

E de subtileza,

E de comedimento

Sem aquele arreganho

De antanho,

A todos amando

E respeitando,

Embora protelando

Algumas decisões,

Sem precipitações,

Para tratarem de tudo

Com muito estudo

Transmitindo confiança

Na sua promessa

De mudança.

O mal é que a maioria,

Impaciente,

E impertinente,

Sem cortesia,

Sempre com pressa,

Injecta, injecta

O discurso da treta,

Habituada que está

Ao improviso,

À imprevidência

À impaciência

À berraria,

À falta de estudo

Ignorando, afinal,

Que trabalho e estudo

São tudo,

Ou o principal,

Mais a hombridade,

E que é preciso saber esperar

Para poder observar

Resultados de qualidade

E talvez mesmo em quantidade

Como já mais que uma vez nos sucedeu,

Sei eu.

Por isso, talvez que o nosso rei

Mesmo tentando fazer o melhor,

Se fique no degrau inferior,

Porque ele deseja, sim, erguer a Nação,

Mas a sua Grei, não.

 

 Berta Brás

GERAÇÃO À RASCA OU MAL HABITUADA?

 

 

A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.
Foi uma geração com capacidade para se desenrascar.

Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores.
Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.
Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava.
Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo.
Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.
Porque recusaram ser uma geração à rasca, fizeram uma coisa muito simples.
Foram trabalhar.

Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.
Não ficaram à espera.
Foram taberneiros.
Foram carvoeiros.
Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcão.
Foram simples empregados de tasca.
Mas pouparam.
E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.
Cada um à sua maneira, foram-se desenrascando.
Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.
Porque sempre acreditaram neles próprios.

E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.
Nós, eu e os meus primos, sempre tivemos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro.
Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.
E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz.

Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito.
Não preciso das ajudas do Estado.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.
Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.
Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.

Preciso de mim.
Só de mim.
E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.
Porque me desenrasco.
Porque sempre me desenrasquei.


O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.
Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.
Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido.
Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.
Sentem-se desiludidos.


E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas.
Mas não é.
É altura de aprenderem a ser humildes.
É altura de fazerem opções.
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno".
Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.
Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.
Mexam-se.
Trabalhem.
Ganhem dinheiro.

Na loja do Shopping.
Porque não ?
Aaaahhh porque é Doutor...
Doutor em loja de Shopping não dá status social.
Pois não.
Mas dá algum dinheiro.
E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno".
O tal que dá status.

O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho.
Eu, que sou Informático, System Engenheiro, em alturas de aperto, vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc.
E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.

Geração à rasca ?

Vão trabalhar que isso passa.

À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado.

Mas vou à casa de banho e passa-me.

 

  JOÃO BARBOSA

O TOURO NÃO ENGANA

 

Tal como o algodão. Não na detecção da sujidade, mas na detecção da cor. Para ele é sempre o vermelho que convém atacar, sem meias medidas. Mas o toureiro corta-lhe as vazas, nos seus malabarismos gingões – tirando os casos de excepção, que até originam o remate das touradas, pelo menos as reais. Mas só em Salvaterra, na opinião de Rebelo da Silva, parece que bastante romanceada, secundada modernamente por Rodrigo, em melancólico fado, que não chega a explicitar a barbaridade do desporto de matança na arena, e por isso ele – esse nosso desporto – que já Voltaire condenava, num iluminismo de difícil adequação entre nós, até porque já o nosso Eça o defendia (contra as corridas de cavalos defendidas pelo ponto de vista chique de Dâmaso Salcede), pela opinião abalizada de Afonso da Maia, secundado pelo marquês de Souselas e sobretudo pela formidável anuência do inglês Craft: «O quê, o toiro? Está claro! O toiro devia ser neste país como o ensino é lá fora: gratuito e obrigatório.» - esse desporto peninsular continua com adeptos, apesar das leis promulgadas no tempo de D. Maria II, como se explica num texto que extraio do blog “De Rerum Natura” de Carlos Fiolhais (27/3/2009):

 

D. José pode não ter proibido as corridas de touros, mas D. Maria II fê-lo em todo o território nacional. Em 1836, doze anos antes de Rebelo da Silva publicar o seu conto, o ministro do Reino Passos Manuel promulgou um decreto proibindo as touradas:

 

Considerando que as corridas de touros são um divertimento bárbaro e impróprio de Nações civilizadas, bem assim que semelhantes espectáculos servem unicamente para habituar os homens ao crime e à ferocidade, e desejando eu remover todas as causas que possam impedir ou retardar o aperfeiçoamento moral da Nação Portuguesa, hei por bem decretar que de hora em diante fiquem proibidas em todo o Reino as corridas de touros.

 

Serve todo este introito para justificar o novo espaço aguerrido das nossas touradas, e as aparentes cores das suas preferências – a Assembleia da República, onde, ao contrário dos touros, os homens se enganam, por vezes, nas cores que adoptaram para se distinguirem segundo os seus partidos. Com efeito, leio no texto “Parlamento” de Sofia Rodrigues e Rita Brandão Guerra (Público, 10/5/14), com, em epígrafe, a síntese «Passos admite nova subida de impostos, caso haja chumbo do Constitucional» - que resume mais uma tragédia pendente sobre “os portugueses e as portuguesas”, como os nossos políticos gostam de nos designar, quer por simpatia envolvente quer por machismo distanciador.

 

Ora, no dito texto, afirma-se também que Seguro ironizou sobre o discurso de Passos Coelho – outro Passos a desejar erguer o país, mas com pouca margem de manobra, o que o levará, talvez, um dia, a recitar o “tudo passei” com as implicações etimológicas e semânticas que o nosso Camões também deu ao seu soneto “Erros meus, má fortuna…”. Referiu Seguro o “país cor de rosa” que Passos estaria a descrever e a impingir no seu discurso pós-troika e foi aqui que me admirei na atribuição dessa cor. Com efeito, tivesse ele usado a designação laranja e eu não me lembraria de contestar, pela imediata adaptação à realidade do partido, reservando para o seu caso, de PS, a expressão colorida que apontou no rival. Por isso me lembrei do touro que nunca ataca senão o vermelho e por aí se fica. Esse facto leva-me a caracterizar Seguro com o epíteto “troca-tintas”, tal como fez Cesário Verde, em resposta a um brincalhão daltónico que o cumprimentava sempre trocando o Verde por outra cor: «Adeus, ó troca-tintas».

 

Não sei se assim foi com Seguro - uma questão de daltonismo ou de falta de originalidade. O certo é que Luís Montenegro respondeu a Seguro convenientemente, segundo o artigo do Público:

 

Luís Montenegro, líder do grupo parlamentar do PSD, aproveitou mais tarde a ocasião para reagir ao “país cor-de-rosa” de Seguro. E atacou a governação socialista de José Sócrates: “O país cor-de-rosa era o país da dívida, do défice, da Parque Escolar, das PPP, do TGV, do novo aeroporto (…). Esse era o país cor-de-rosa que nós tínhamos. Mas foi um país que acabou mal.”

 

Montenegro quis depois saber qual é a estratégia orçamental do PS para assegurar um Estado social mais eficiente, deixando um desafio aos socialistas: “Ao menos em campanha eleitoral digam quais são as vossas ideias.”

 

Tudo isto é bastante enfastiante. Mas digam lá, sim, o que farão e como farão.

 

 Berta Brás

FESTIVAL DA EUROVISÃO

 

Cavalo troiano ou Chance de Aproximação

Emissor turco boicota o Festival da Canção

Conchita Wurst encarna a Luta Cultural da Actualidade

 

Conchita Wurst (Thomas Neuwirth), vencedor do Festival da Canção (Eurovision Song Contest) divide públicos e culturas em trincheiras intransponíveis. O emissor estatal turco não emitiu o festival por questões de moral e de decência e a Rússia constata a decadência ocidental.

 

Enquanto no Ocidente se vive num clima de guerra cultural de progressistas contra conservadores, nos campos de interculturas e civilizações vive-se na luta do modernismo ocidental contra a ética de rigor cristão e contra o tradicionalismo russo e islâmico. Esta guerra passa desapercebida a uma maioria perdida em lutas de perspectivas de moda (Zeitgeist). É uma realidade incontestável que os progressistas, como em Copenhaga, se encontram a favor do vento e ganham, uma a uma, as batalhas culturais na Europa. Isto exaspera as pessoas mais conservadoras.

 

A Rússia e a República de Bielorrússia, depois da vitória de Conchita “Salsicha”, pensam em organizar um Festival da Cancão próprio. O chefe do partido comunista russo disse que depois do resultado de Copenhaga “a paciência encontra-se esgotada”; o presidente de Bielorrússia diz que o resultado do Festival está simbolicamente para “ o colapso completo dos valores morais na UE”; a Turquia não transmite o festival mas já se tinha afastado em 2012. O amigo de Putin, Vladimir Jakunin, chefe das ferrovias russas, uma das personalidades mais influentes na Rússia, vê em Conchita a expressão da arrogância ocidental porque quem não aplaude “a mulher barbuda” é colocado no rol dos não-democratas e acrescenta “o etno-fascismo vulgar tornou-se novamente parte da nossa vida”. Defende a lei russa contra a homossexualidade afirmando que 4% das crianças russas com um gene defeituoso nascem homossexuais e que isto foi provado pela medicina. Só acredita na igualdade de casamento entre heterossexuais e homossexuais “quando vir um homem grávido”.

 

É pena, tanto para um lado como para o outro, até porque temos muito a aprender uns dos outros! Este foi um evento que seria inocente se não nos encontrássemos numa luta cultural entre uma visão mais secular progressista e uma visão mais conservadora da sociedade, numa luta franca pela apropriação da moral.

 

Quanto a mim, gostei da música e da encenação. O Ruído em torno da Couraça de Conchita Salsicha encobriu a Música do festival. Não gostei da utilização da ribalta pública para, com aparentes argumentos de tolerância, se encenar, à maneira do Corão, uma ideologia em que o próprio credo se apresenta como sendo obrigação e a solução universal. Triste é o facto de as duas partes (tradicionalistas e progressistas) falarem com o rei na barriga, na conquista de uma grande parte de público inocente que bebe a libertinagem intencional modernista tal como medievais bebiam a mortificação, como meio de alcançar a felicidade.

 

Na verdade, os contrastes que Conchita sintetiza com a sua apresentação - o encontro da feminidade e da masculinidade - seria realmente ideal, se por detrás disso estivesse a defesa da integração das potencialidades da feminilidade e da masculinidade, tanto no homem como na mulher e se o episódio não fosse movido por um movimento agressivo masculino, demasiado fixo no sexo, e na reivindicação do direito da modernidade a ter sempre razão contra a tradição.

 

Conchita Salsicha (uma alusão ao sexo da mulher e do homem) é um homem em corpo de mulher que, ao apresentar o seu rosto com barba, sobrevaloriza a masculinidade. Querem-no como protótipo do Homem: um Jesus de aspecto feminino mas de rosto barbudo.

Na sua pose messiânica depois de ter ganhado o festival, Conchita disse: “este é um sinal importante para o mundo…“ „Esta tarde é dedicada a todos os que acreditam no futuro de paz e liberdade. Nós somos uma unidade e não há quem nos pare”. Estas palavras constituiriam programa se não focalizassem a salvação no sexo, se fossem bem-intencionadas, para poderem ser tomadas a sério por tradicionalistas e progressistas e não como uma declaração de guerra. O resultado da eleição testemunha a tolerância dos eleitores que vêem no evento um apelo à tolerância e a uma liberdade de expressão que desafia representações ideais e morais.

 

Não é a primeira vez que um trasvesti ganha o 1° lugar do Festival da Cancão. O marketing ideológico em torno do sexo e o contexto político em torno da Ucrânia com os posicionamentos russo e da Nato deram mais relevo ao evento. O problema da Europa, não parece ser de desemprego ou de carência, mas de luta de ideias e de poder…

 

O festival da Eurovisão deixou de ser um evento cultural em que se apresentava a riqueza das diferenças culturais dos países participantes e que reunia em torno da TV toda a família, para se tornar num evento de caracter mais igualitário híbrido promotor de políticas e de tecnologias.

 

O vice-primeiro-ministro russo Dmitry Rogozin declarou que "a Eurovisão mostrou aos europeus a sua perspetiva da Europa - uma mulher de barba". Sem querer questionar a propensão decadente da Europa, seria também de perguntar qual seria a caricatura que a arte oriental teria a apresentar em relação ao futuro da Rússia e da UE!

 

Reduzir a atitude russa a homofobia seria colocar-se no outro extremo; no da homofilia também ele sem lugar para a diferença e para a liberdade da direcção a tomar na autodeterminação. O autoritarismo russo com a correspondente propaganda é tão obtuso como o autoritarismo da opinião ocidental com a sua propaganda categórica do politicamente correcto. O facto de a Rússia ter proibido por lei, em Junho de 2013, a promoção de hábitos sexuais "não tradicionais" entre menores de 18 anos, não justifica a propaganda ocidental agressiva contra a Rússia; esta não proibiu a homossexualidade em geral. Se a Rússia e a sociedade islâmica abusam no seu purismo sexual, o Ocidente secular abusa com a sua libertinagem em certas medidas tomadas em relação à cultura, à educação sexual nas creches e nas escolas e, não menos, com a sua intenção de educar o povo numa direcção secularista. A sociedade parece só apostar num desenvolvimento de caracter polar. Quem pretender ser anti-nada fica mal na massa dos anti-outro. Urge que a Europa saia da luta cultural polarizadora para construir uma consciência integral.

 

Já não temos os mouros ao pé da porta que justifiquem cruzadas contra outras opiniões ou culturas. A discussão e variedade de opiniões são salutares; só na aceitação da diversidade se exercita a tolerância. “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:27-28). A força emancipadora deve vir de dentro numa discussão respeitosa dos pontos de vista e da integridade humana. Fora de questão deve estar a defesa da dignidade humana e da integridade e liberdade da pessoa. É discutível se a participação austríaca ganhou devido à cancão ou se venceu Conchita pelo facto de “o diferente” ser politicamente correcto. “Quem com ferros mata com ferros morre”! A promiscuidade de política e religião não se revela salutar, mas não é melhor a promiscuidade de arte e política. Urge criar laços de responsabilidade entre as facções e recuperar a dignidade humana, sem ter de abandalhar a sociedade nem de reprimir a individualidade de cada um. A tolerância é uma estrada de dois sentidos tanto de direita como de esquerda. Nem é boa a festa desenfreada nem um tango demasiado travado!

 

 António da Cunha Duarte Justo

CARTA ABERTA

 

 

A Sua Excia. o

Presidente da República Portuguesa

Senhor Aníbal Cavaco e Silva

 

 

 

Rio de Janeiro, 14/05/2014

 

Meu nome: Francisco Gomes de Amorim, português, 82 anos de idade, residente no Rio de Janeiro, Brasil.

 

Excelentissimo Senhor

 

Há cerca de dois meses, através do “site” da Presidência da República, mandei uma tele-mensagem solicitando de V. Excia. uma intervenção junto da Secretaria de Estado da Cultura e/ou da Biblioteca Nacional, face à impossiblidade burocrática que me interpuseram de obter meia dúzia de fotocópias de um livro daquela biblioteca.

Tantas foram as complicações e documentação pedidas, parecendo inquérito policial, que não consegui obter as ditas fotocópias.

Venho agora, penhoradamente, agradecer a V. Excia. a sua, certamente, intervenção.

Primeiro porque nem V. Excia, nem ninguém da sua secretaria se dignou acusar a recepção da minha tele-mensagem.

Segundo porque V. Excia., possivelmente por não ter tomado conhecimento, rigorosamente NADA fez.

Terceiro porque passei a entender um pouco melhor, o descaso, ou o desprezo ou ainda os obstáculos a vencer por alguém que ainda “tem o desplante” de se interessar pela cultura portuguesa.

Eu sei, e todos devem saber, que V.Excia não deve ter tempo para ninharias, como a do meu caso, de pedir umas simples fotocópias à Biblioteca Nacional, visto julgar muito mais importante aparecer, sorrindo, a condecorar um ídolo do futebol.

O lamentável de tudo isto é que, simultaneamente, pedi à Sociedade de Geografia de Lisboa outras fotocópias e mais um livro que ali tinham à venda, e dois dias depois eles estavam no correio, já tendo chegado às minhas mãos.

Mas não se preocupe V. Excia. porque um conhecido meu, através de um amigo de um continuo (i. é, empregado subalterno) da Biblioteca, em 24 horas obteve as ditas fotocópias. Pagou-as é evidente. Mas sem burocracias.

E assim, sem que V.Excia. se tivesse incomodado ou preocupado com a cultura portuguesa, um continuo, tal como fazem os soldados e os sargentos nas forças armadas, resolveu o “tão intrincado imbróglio” atropelando a burocracia que tanto ajuda a destruir o pouco de bom que esse país ainda tem.

Tenha V.Excia. muita saúde e deixe os contínuos governarem o país.

Atenciosamente

 

 Francisco Gomes de Amorim

AS COISAS QUE SE DIZEM...

 

 

 

Em Portugal a emigração não é, como em toda a parte, a transbordação de uma população que sobra, mas a fuga de uma população que sofre.

 

 Eça de Queiroz in “As Farpas”

 

 

Fiquei assim a saber que no século XIX as pessoas emigravam porque sobravam. Terá por certo sido o caso dos irlandeses rumo à América com o pretexto de que as batatas do Ohio tinham um paladar diferente das do Ulster; o caso dos italianos rumo à Argentina porque preferiam o tango à ópera; o dos franceses rumo ao Norte de África porque lhes terão dito que o ar seco fazia bem à pele; foi provavelmente o caso dos ingleses rumo à Austrália porque preferiam os pulos dos cangurus às masmorras reais; já tinha certamente sido o caso dos suecos rumo ao Meridião porque queriam experimentar a eficácia das velas dos drakkars; havia judeus a mais na Palestina e foi por isso que tiveram que optar pela diáspora...

 

Estou sempre a aprender. Deo gratias!

 

Maio de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

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