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A bem da Nação

CRAVOS MURCHOS – 2

 

 

Como ia dizendo, «chegamos a uma grande e insolúvel incógnita: como teria sido escrita a História se os «jovens amigos» tivessem apoiado o «seu» Presidente do Conselho no dia em que ele foi humilhado no quartel do Carmo? O que sobre essa hipótese se disser não passará de pura especulação».

 

* *

 

Desde que comecei a pensar nestas «coisas», facilmente conclui que o regime do Doutor Salazar tinha chegado ao fim e nós, a juventude dessa época, nada tínhamos a ver com aquilo. Mas nasceu-nos uma nova esperança com Marcello Caetano e com a ala liberal da Assembleia Nacional.

 

Para mim, a caducidade do Consulado Salazarista resultava do imobilismo e consequente falta de perspectivas na resolução das grandes questões nacionais que se colocavam. Refiro-me à perspectiva política da questão ultramarina que estava a ser atamancada militarmente com a já inexistência de guerra em Angola, com uma situação controlada em Moçambique (mas que não poderia manter-se assim per secula seculorum) e uma situação mais complicada na Guiné. Registe-se que nas outras «províncias ultramarinas» não havia quaisquer conflitos armados.

 

Mas tudo se poderia militarmente precipitar com a rendição americana no Vietname e isso implicava uma aceleração do processo político. Marcello parecia querer essa evolução política mas Américo Thomaz é que não estava mesmo nada pelos ajustes.

 

Com Salazar não havia qualquer hipótese de podermos vir a fazer uma «Commonwealth of Nations» e essa esperança nasceu com Marcello Caetano pois tínhamos a consciência de que se tratava de problema a receber solução política e não apenas militar.

 

Com Salazar não se perspectivava um crescimento económico fulgurante – como se revelava imperioso – se bem que com o Ministro da Economia Correia de Oliveira tivéssemos tido uns laivos de progresso (sobretudo agrícola). Mas com Marcello Caetano parecia haver vontade política de aligeirar o sistema corporativo, discutia-se a «bondade» do condicionamento industrial, fez-se o complexo de Sines, criou-se o Banco de Fomento, a COSEC, o Fundo de Fomento da Exportação,... A esperança teve então razão de ser.

 

 

Com Salazar já era uma sorte termos quatro Universidades públicas (uma em Coimbra, duas em Lisboa e uma Porto) a que se juntou finalmente a Católica pela mão do Cardeal Cerejeira. Mas com Marcello Caetano foi possível enveredar pelo ensino superior não público, o que aconteceu em Évora onde tudo acabava no ensino secundário desde os tempos do Marquês de Pombal.

 

A revisão constitucional de 1972 deu azo a muitas das acima referidas discussões fundamentais, o que no tempo de Salazar seria inimaginável. Com Salazar, qualquer membro da Assembleia Nacional que ousasse aflorar tais temas seria de imediato demitido e passaria muito provavelmente à categoria de ostracizado... em Caxias ou Peniche. Com Marcello tudo foi discutido publicamente. O resultado ficou muito aquém das nossas esperanças mas nós, os esperançados, atribuímos esse falhanço aos Ultras chefiados pelo Almirante Américo Thomaz.

 

Eis por que tenho como enorme injustiça que se pretenda meter no mesmo «saco» histórico o Almirante e Marcello Caetano. E, contudo, o Almirante regressou do exílio enquanto Marcello Caetano continua enterrado no Brasil.

 

Agora, uma das mentiras que a propaganda propala é a relativa à guerra do Ultramar pois a verdade histórica é a de que Portugal ganhou as guerras em Angola e em Moçambique e perdeu a da Guiné. E não será por muito repetirem a mentira de que «Portugal perdeu a guerra do Ultramar» que isso passa a ser verdade. É mentira!

 

Lisboa, Abril de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

AINDA O VINTECINCOBARRAQUATRO

 

 

Ao longo de mais de dez anos a escrever para jornais, blogs e até, imaginem, livros, julgo ter sido coerente com a minha linha de pensamento, no que respeita a liberdade, governos, democracias, ditaduras, etc.

 

Sempre fui um crítico do pós “vintecincobarraquatro” pelos crimes que todos vimos cometerem-se em nome da liberdade alcançada. Da desmoralização dos valores nacionais, do desbarato da economia, da luta fratricida que alguns arvorados em generais quiseram promover e da tristeza de ver um país levado à indiferença, como que num autismo colectivo.

 

E pela vergonha que foi a “descolonização exemplar” que abandonou povos com quem tínhamos ligações antigas e onde tantos confiaram em nós.

 

E pelas risadas que deram nas nossas caras, aos que por lá vivemos, que tudo abandonámos e a quem foram negados dezenas de anos de trabalho para chegar à velhice com pensão de esmoler.

 

É triste olhar para trás e ver o quanto de humanidade se jogou no lixo! Ainda hoje nas ex-colónias são os portugueses que os africanos mais apreciam. Mesmo depois duma feroz e idiota guerra colonial, talvez fossemos o único povo no mundo a abraçar um ex- combatente inimigo, assim que as hostilidades foram terminadas.

 

Há muito livro escrito sobre esse período, mas é difícil encontrar um só que seja cujo autor não tenha deixado um parte grande do seu coração junto daqueles povos.

 

Não foram os “pôr do sol” no Mussulo ou na Inhaca, nem as caçadas às pacaças ou aos leões, nem as belezas da Tundavala, da Ilha de Moçambique ou do deserto do Namibe, mas sim as gentes que nos acompanharam, que partilharam connosco os momentos de alegria e preocupação, que tantas vezes nos ofereciam o tecto das suas humildes palhotas para que não passássemos a noite ao relento.

 

Foram as conversas naqueles humilíssimos bares, tanto na cidade como no interior, bebendo umas Cucas e partilhando histórias de carros atascados na lama, salvos pela população local, de caçadas para chorar a rir – Haca, patrão, falhaste mesmo essa perdiz! – de valentes soldados que se viram no meio de “fogos amigos” e recorreram ao Exército Português e mais uma infinidade de contos que a memória teima em conservar como um bem de valor inestimável.

 

E agora volto a depoimentos de militares dos “Comandos”, a tropa de elite criada em Angola, que os “gloriosos vendilhões da pátria”, pós 25/04 quiseram desfazer e calar, com algumas passagens que ilustram esse sentimento do dever cumprido entre inimigos e as populações.

 

Da revista da Associação dos Comandos, MAMA SUME – um grito de guerra de uma etnia africana do sul de Angola, e que traduz "AQUI ESTAMOS"! – com a devida vénia reproduzo um pouco da memória dum combatente, José Zeferino Pina Navarro, ao tempo Alferes dos Comandos:

 

 

 

RETALHOS MEUS

 

Numa operação que fizemos ao rico Vale do Loge, não muito longe já da sua confluência com o grande Dange, onde, após o assalto a uma sanzala terrorista, sem saber de onde havia surgido, acabei por ter agarrado às pernas o Joãozinho, um pequenito aí de uns 4 aninhos, que depois peguei ao colo como a coisa mais preciosa do mundo no meio de toda aquela infernal confusão e alarido, e de como foi ele que me comunicou a ternura de sentir amor numa refrega, assunto maluco de adulto, cujo único sentido é sempre a vã cobiça de todas as partes em jogo.

 

No caminho de regresso, quilómetros e quilómetros a fio, primeiro, ao longo do rio, e depois, mata adentro, a corta mato, para fugirmos às emboscadas, cada vez mais violentas, que incolumemente nos montavam a partir da outra margem, nunca deixei de estreitar o menino ao colo que, no meio daquele alarido todo, se agarrava a mim como uma lapinha se segura à rocha...

 

E quando, algumas horas depois, vales e florestas, já completamente exausto, tinha que ser ajudado pelos nossos queridos camaradas, pois estava permanentemente a cair e já não era capaz de me ter nas pernas, e isto porque não podia deixar o João, pois que mo queriam tirar para me aliviarem, ele, em plena floresta, no meio da noite, desatava num berreiro que ecoava por quilómetros sem fim, como uma trombeta apocalíptica.

 

Recordo do inusitado da situação e do perigo extremo que isso representava para todos nós, completamente desconhecedores do terreno e da região, sujeitos a virmos a ser cercados e de como, mesmo assim, todos nós acalentávamos o miúdo sem nos passar, jamais, pela cabeça, deixá-lo ali e de como eu o carregava como um talismã de amor a dar-me força ao espírito enquanto o corpo se exauria até ao esgotamento.

 

Ainda me lembro também dos nossos queridos companheiros, enquanto me soerguiam pelos braços, da solicitude e carinho com que o faziam e das palavras de ânimo que me diziam, como se fosse uma criança, para me animar "Meu alferes, é já ali... já falta pouco... vamos, mais um bocadinho... só mais um bocadinho...", bocadinho que, afinal, nunca mais chegava... e era continuar, continuar, pois que sabiam lá eles onde é que nós nos encontrávamos... onde?

 

E assim continuámos, não sei por quanto tempo, quantos quilómetros, sempre com o pequenito fardo, até que, por fim, lá se nos deparou a picada onde supunhamos estarem à nossa espera para nos recolherem.

 

Que, aliás, nem estava lá ninguém, pois, em boa verdade, quem poderia saber o local e hora a que haveríamos de chegar, para lá estarem à nossa espera?... Assim, se a desilusão foi alguma, também não perdemos muito tempo a perdê-la e logo tratámos de achar local onde pudéssemos pernoitar, o que se nos apresentou na clareira de um palmar de uma antiga fazenda, então abandonada, após os seus donos e trabalhadores, haverem sido trucidados à catanada, como aconteceu em muitas outras dezenas de fazendas que então havia na região.

 

Após termos montado a guarda, a última coisa de que eu me lembro foi o de abrir o camuflado, deitar o Joãozinho sobre o meu peito, correr o fecho e apagar-me completamente até à manhã do dia seguinte.

 

Nesse resto de horas que a noite me concedeu, o que de facto eu esqueci foi a guerra, o mundo, o cansaço e todas as más recordações do dia e da vida.

 

 

Quantas qualidades de paciência e de valor humano não tiveram que evidenciar todos estes nossos camaradas, que também são homens, e numa situação de tão extrema exigência táctica é crucialidade de sobrevivência, sem que nunca tenham perdido tanto da noção da sua responsabilidade militar, como a devida a sua conduta humana? Realmente não há dúvida que sempre que, em todos os tempos, raças e lugares, o amor permanece acima e além de toda a confusão, não há dúvida que é aí que se encontra o Homem na sua maior e real dimensão, de criatura que é de Deus.

 

Claro que desse momento pessoal não tenho a fotografia, como é óbvio... e, ainda que houvesse máquina, que não havia, quem se atreveria a disparar um flash no meio das trevas de uma mata cerrada, ocupada pelos inimigos?... Mas ele era muito engraçado e sempre que lhe perguntávamos "Olha lá, tu és turra?" Ele respondia "Eu turra? Nunca mais eras!...". Este, creio que veio para Portugal, cá estudou, e fez a sua vida.

 

 

 

Faria isto um americano, um inglês, chinês, muçulmano, judeu, sérvio? Jamais. Muito menos um rosa coutinho ou um otelo que nem os companheiros de armas respeitaram!

 

 

 

04/06/2012

 

 Francisco Gomes de Amorim

CRAVOS MURCHOS – 1

 

 

Com a História aprende-se, sobretudo se bem contada; mas se for contada de modo deturpado, fica-se perante um crime cultural.

 

Assentou a propaganda que o 25 de Abril de 1974 trouxe a liberdade a Portugal quando é sabido que se tratou de um golpe de Estado comunista com base no que os comunistas ganharam a liberdade de encarcerar os seus opositores. A liberdade democrática ao estilo ocidental só chegou a Portugal em 25 de Novembro de 1975. E quem contar a História de modo diferente está apenas a mentir.

 

Mas há questões que continuam por esclarecer mesmo depois destes 39 anos de democracia ao estilo ocidental.

 

Por exemplo, por que razão Américo Thomaz e Marcello Caetano são historicamente «metidos no mesmo saco» quando é sabido que se encontravam em pólos opostos?

 

Dizia-se nesses idos de 70 do séc. XX à boca cheia que Marcello Caetano tinha estado uma semana no Palácio de Queluz em residência vigiada por ordens do então Presidente da República, Almirante Américo Thomaz.

 

Não satisfeito com o «diz-se, diz-se», coloquei agora a questão ao irmão de Marcello Caetano que me respondeu como segue:

 

«Apenas lhe posso dizer que era no Palácio de Queluz que passava os meses de Verão a...trabalhar...de motu proprio. Quanto aos Ultras do Regime, que gravitavam em torno do Almirante, sabe-se a importância que tiveram como bloqueadores da evolução do regime

António Alves-Caetano

 

Ou seja, Marcello Caetano não terá estado «preso» em Queluz como então se dizia mas...

 

Eis uma questão que pode merecer algum estudo na certeza, porém, de que a fricção existia entre os ultras e os que queriam fazer evoluir o Regime. Meter Américo Thomaz e Marcello Caetano no mesmo «saco» da História é injusto e ficamos perante outra mentira que os «historiadores» deixaram incólume até à actualidade.

 

E quando hoje a propaganda se refere a Marcello Caetano como o algoz da Nação e exibe «ad nauseam» a cena do Largo do Carmo deixando no silêncio o que se terá passado com o Almirante, comete-se um erro histórico que só o dolo intelectual pode justificar. Os algozes foram os ultras, não quem pugnava pela «evolução na continuidade» que Marcello Caetano tão bem explicava nas suas “Conversas em família” na RTP.

 

Mas é claro que Moscovo não pactuava com a «evolução na continuidade» uma vez que assim se poderia legitimar historicamente o Estado Novo que ousara fazer-lhe frente desde a Guerra de Espanha e que por isso mesmo os soviéticos queriam ver enxovalhado.

 

 

Quem apoiava, então, Marcello Caetano nesse processo de «evolução na continuidade»? Claramente a ala liberal da Assembleia Nacional a quem Marcello Caetano se referia por «os meus jovens amigos» em que preponderavam deputados como Sá Carneiro e Balsemão cujos debates com os ultras chefiados por Casal Ribeiro faziam do Diário da Assembleia Nacional uma publicação de espantosa tiragem.

 

Eis como chegamos a uma grande e insolúvel incógnita: como teria sido escrita a História se os «jovens amigos» tivessem apoiado o «seu» Presidente do Conselho no dia em que ele foi humilhado no quartel do Carmo?

 

O que sobre essa hipótese se disser não passará de pura especulação.

 

Lisboa, Abril de 2014

 

 Henrique Salles da Fonseca

ANÁLISE DE RISCO

 

 

O Sr. Simplício, homem muito experiente que me ajudou quando, aos 20 e poucos anos, recém-formado, assumi a chefia da contabilidade da (hoje extinta) Junta da Hidráulica Agrícola, deu-me alguns bons conselhos que eu guardei toda a vida. Um deles foi:
- Pergunte sempre ao banqueiro se a operação em causa tem risco. Se ele disser que não há qualquer risco, o senhor fica a saber que o risco da operação é muito alto.

 

 Luís Soares de Oliveira

“I HAVE A DREAM”

 

 

Há poucos dias um velho amigo, entre dois copos e uma animada conversa, soltou este “grito d’alma” como fez Luther King, que se tornou universal, e me assustou!

 

Todos nós temos sonhos. Por vezes não nos queremos incomodar para os realizar, outras vezes não temos meios para os tornar realidade. Mas sempre nos sobra um pouco do sonho que teimamos em alimentar, com a ideia, quase infantil, de saber que a esperança é a última que morre.

 

Mas ele teve um sonho e decidiu contar-me.

 

De repente veio uma luz forte que quase me cegou e paralisou. Depois ouvi uma voz que dizia: ‘Tens que lutar pelo teu país, pelo povo que te rodeia, tens que sair dessa vida de ver correr o tempo e esperar que a vida do Além te alivie do sofrimento constante. Fica sabendo que a partir de amanhã tu serás o presidente do teu país.’

 

A luz sumiu, devagar, e eu vi-me sentado numa cadeira alta, quase um trono, rodeado de homens e mulheres que pareciam aguardar uma palavra minha e me tratavam por ‘Senhor Presidente’. Parecia que algumas me eram conhecidas.

 

Perguntei quem eram os ministros do Interior e da Defesa e avançou uma mulher e um homem.

 

O Ministro da Defesa informou que convocara em urgência máxima os Comandantes das três forças militares, que chegaram de manhã ao Palácio em trajes civis, à vontade, e utilizando carros particulares ou táxis, para que não se notasse a sua vinda. O mesmo para com o director geral da Polícia Judiciária. Isto significa que estamos atentos e prontos para as consequências.

 

Muito bem. Vamos trabalhar. Anotem tudo o que vos disser e que serve de lei a partir do momento em que eu assinar:

 

‘A partir da publicação deste documento:

 

- É declarado o Estado de Sítio, face à grave ameaça à ordem constitucional democrática a que o país tem vindo a ser submetido durante os últimos anos. Para tomar esta atitude foram ouvidos o Conselho da República reduzido aos conselheiros nomeados pela Presidência da República, os ministros da Justiça, da Defesa e o do Interior e o Conselho de Defesa Nacional; só não se solicitou autorização do Congresso Nacional porque este fica dissolvido e os seus componentes iriam alertar, prejudicando o andamento do nosso programa.

- Este Estado de Sítio não ultrapassará os trinta dias previstos na lei.

- Ficam suspensos o Senado Federal e a Câmara dos Deputados, marcando-se novas eleições para daqui a trinta dias. Qualquer cidadão sobre quem incorram protestos judiciais, quer já nos tribunais, como correndo em inquéritos policiais ou do Ministério Público, estará automaticamente impedido de se candidatar.

- O mesmo para todos os governadores dos estados e câmaras estaduais.

- O mesmo para todas as câmaras estaduais e municipais.

- Durante estes próximos trinta dias, para que o país não paralise, assumirão o funcionamento das instituições governamentais, unicamente em situações de excepção e reconhecida urgência, os tribunais administrativos.

- Somente o Presidente da República, não por mérito pessoal, mas para que se não instale o caos e anarquia, será a única pessoa com foro especial. Assim que o seu mandato termine voltará a ser um cidadão comum sujeito a todas as leis. Todos os que até agora têm gozado e abusado dessa infame e descabida prerrogativa, deixam, imediatamente de a ter.

- Mantém-se assegurada a liberdade de reunião e de expressão, com a responsabilidade estabelecida.

- Este governo não será um governo de partidos políticos, mas nele entrarão todos os que, independente das suas convicções, tenham já demonstrado capacidades de liderança e conhecimento para os cargos.

- Qualquer indivíduo condenado pela justiça terá que cumprir a pena imposta como qualquer outro, seja criminoso comum ou os chamados de colarinho branco.

- Todo o funcionário sobre quem incida o princípio de suspeita de irregularidades e que a Polícia Federal confirme, ficará suspenso de suas funções até que os tribunais dêem por findo o julgamento. Entretanto perdem todas as regalias, vencimentos, etc.

- Todos os que ocupam cargos nomeados, chamados “cargos de confiança” são exonerados. Assumem os seus lugares, se necessário, os funcionários de carreira que, em votação entre si, devem eleger o mais competente.

- Ninguém mais terá o privilégio de usar viatura oficial a não ser para deslocações em serviço; e serviço compreende-se deslocações para fora do local habitual de trabalho, e regresso. Entre a residência e o local de trabalho equipara-se a qualquer outro cidadão e será de sua conta e risco o transporte. Isto engloba todos os funcionários sem qualquer excepção, quer sejam ministros, juízes, senadores, governadores, etc.

- Nenhum município poderá gastar com remunerações a prefeitos e vereadores mais do que 3 por cento da sua arrecadação. Nos municípios com menos de 5.000 habitantes os cargos de prefeito e vereador não são remunerados.

- Todos os que ocupam cargos públicos nomeados por qualquer governo anterior estarão demitidos.

- As polícias, quaisquer que sejam as suas funções, militar, civil ou judiciária, deverão, desde já estudar a criação de instituições capazes de formar, com a melhor base possível e a mais completa ética, não só os seus actuais componentes como os que venham a ser admitidos.

- As empresas que se têm destacado no quase exclusivo fornecimento de grandes serviços, mercadorias e obras, pagas com recursos públicos, ficam suspensas de concorrer a novas solicitações de preços e projectos até que se apurem responsabilidades em actos de corrupção denunciados ou a denunciar. Do mesmo modo os sócios dessas empresas ficam impossibilitados de criarem novas sociedades até apuramento final de suas eventuais responsabilidades.

- A Polícia Judiciária bem como o Ministério Público procederão a devassas sobre o património de todos aqueles que ocuparam cargos públicos e não só, e cujas declarações de renda sejam incompatíveis com as remunerações oficiais auferidas. Essa devassa deve estender-se a todas as pessoas de suas famílias que apresentem as mesmas anomalias.

- A todos os bancos, nacionais, estrangeiros e de paraísos fiscais, quer directamente, quer através da Interpol serão solicitados e exigidos extractos de contas bancárias de suspeitos cidadãos brasileiros e ou residentes no Brasil que aqui tenham sua forma de sustento.

- Os movimentos que pretendem ser de gente marginalizada deixará de receber os subsídios com que têm sido mantidos. Chama-se para este assunto a especial atenção de todos as polícias, do senhor Ministro da Defesa e todos os Comandos Militares, uma vez que alguns já ameaçaram governos anteriores de terem às suas ordens centenas de milhares de homens armados que podem ser mobilizados em 24 horas.

- O subsídio Bolsa Família que tem servido principalmente como compra de voto, será, com muito critério e o tempo que for necessário, substituído por salários desde que as pessoas que o recebem possam dar em contra partida alguma mão de obra em serviços públicos.

- Como um dos mais profundos males do país tem sido a muito baixa qualidade do ensino, sobretudo o primário, o Ministério de Educação terá uma semana para apresentar uma solução concreta para acabar com esta situação, privilegiando os salários dos professores sem descurar a sua intensa formação profissional.

- Ainda no que se refere a escolas primárias os municípios deverão providenciar, de imediato, a melhoria das suas instalações e preverem que todos os alunos recebam, durante o horário escolar, refeição condigna. As prefeituras que não tenham condições financeiras para isso serão subsidiadas pelos governos estaduais ou federais.

- O Ministério da Educação fará igualmente um aprofundado estudo sobre o número absurdo de faculdades que existem por todo o país, quando se sabe que boa parte delas concede diplomas a alunos com baixíssima qualidade. As que não alcançarem o nível que se entenda indispensável serão fechadas.

- Outra devassa deverá ser feita às chamadas igrejas que vêem enriquecer os seus responsáveis de forma inadmissível, extorquindo dinheiro a seus crentes. As igrejas continuarão a beneficiar das leis existentes, mas os seus dirigentes serão submetidos a minuciosa devassa financeira.

- Todo o cidadão que se sentir lesado ou pressionado por algum funcionário que lhe queira extorquir dinheiro para lhe “vender facilidades” tem o dever de o denunciar ficando o Estado obrigado à sua protecção.

- No que respeita ao tráfico de drogas ou de armas, as polícias serão reforçadas para que esse câncer seja minimizado uma vez que se sabe que é quase impossível acabar com ele. Mas quem quer que esteja envolvido nessa traficância, do menor ao maior deverá ter as penas aumentadas.

- O Ministério da Justiça deverá ainda elaborar um novo projecto de lei para que menores de 18 anos possam responder directa e proporcionalmente pela gravidade de seus crimes, sem se acobertarem com a argumentação de menoridade.

- O Ministério da Igualdade racial deixa de existir. O Brasil é um país que prima pela miscigenação e igualdade. Qualquer um que levante a voz contra o seu semelhante, qualquer que seja a coloração da sua pele, será judicialmente responsabilizado e estará sujeito a pena de prisão, e se não for cidadão brasileiro corre o risco de expulsão do país.

- O mesmo procedimento será usado para os problemas de maus-tratos conjugais ou familiares.

- Pedófilos deverão ser submetidos a rigoroso tratamento que os iniba de repetir tais crimes.

- No que respeita a estupros pode encarar-se a mesma solução mas recomenda-se vivamente sobretudo às mulheres que não se vistam de forma a provocar a masculinidade dos homens.

- Todas as greves ficarão suspensas até novas instruções com a finalidade de se poder manter durante os próximos trinta dias a ordem pública.

- O vandalismo e seus executores serão considerados inimigos do Estado. Destruir bens públicos e/ou particulares não pode ser aceite. Os responsáveis serão tratados de acordo com a lei existente.

De repente, diz-me o meu amigo, ainda a dormir ouvi um estrondo, seguido de imensos tiros e pensei: ‘Pronto, ainda nem comecei já fui assassinado!’

Acordei sobressaltado, a suar. Quando a minha mulher me diz:” Que estrondo enorme! Estes vizinhos, quando há futebol não nos deixam dormir.”

Já não consegui dormir o resto da noite, mas fiquei a pensar que teria feito uma coisa bonita.

Mas era certo que, se alguém fizesse isto, no mesmo dia levaria um tiro, ou um monte deles.”

 

- É. Disse-lhe eu. Sonhar é fácil. Mas o que tu me contas lembra o sujeito que declarou que devia baixar a altura dos Montes Himalaias. Eram muito altos. Para lá foi com uma picareta e uma pá.

 

Acabou num hospício.

 

Rio de Janeiro, Abril de 2014

 

 Francisco Gomes de Amorim

MARCELLO CAETANO E O FACEBOOK

 

 

O que circulou no Facebook, atribuído a Marcello Caetano, é apócrifo, em parte. Dizem-me ter sido inserido no Público em 17 de Agosto de 2006, dia do seu centenário, sem indicação de Fonte.

 

Não consigo compreender a intenção de quem, supostamente seu admirador, não se limita à transcrição, pura e simples, do que deixou escrito, onde há lições, de sobra.

 

O primeiro parágrafo não corresponde a uma transcrição fidedigna e o segundo parágrafo não é de sua autoria. Além de não respeitar o estilo da escrita de Marcello Caetano, até Outubro de 1980, quando faleceu, não era previsível a avassaladora quebra de qualidade dos agentes políticos em Portugal, nele reflectida.

 

Mea culpa na parte que me toca na difusão do texto para os meus correspondentes.

 

A versão correcta é a que segue:

 

Sem o Ultramar em poucas décadas estamos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade das nações ricas, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava em vésperas de se transformar numa pequena Suiça, a revolução foi o princípio do fim. Restam-nos o sol, o turismo, a pobreza crónica e as divisas da emigração, mas só enquanto durarem.

 

As matérias-primas vamos agora adquiri-las às potências que delas se apossaram, ao preço que os lautos vendedores houverem por bem fixar. Tal é o preço por que os Portugueses terão de pagar as suas ilusões de Liberdade!

 

 

(conversa transcrita por Joaquim Veríssimo Serrão, em "Marcello Caetano - Confidências no Exílio", Lisboa: Editorial Verbo, 1985, página 208).

 

A capa deste livro é um crédito meu, que cedi a foto ao Autor. É uma fotografia que me foi oferecida pelo meu Irmão, tirada no Palácio de Queluz, onde funcionava a presidência do Governo no Verão, neste caso o de 1973, num jeito muito próprio de pegar num livro e no deleite da leitura.

 

 

 António Alves-Caetano

OS BARÕES ASSINALADOS DA CONTINUIDADE

 

Conclusão da longa análise do país insolúvel, porque sem solução à vista, segundo a pena de António da Cunha Duarte Justo, e daí que a preceda com o artigo de Vasco Pulido Valente, servindo-lhe de corolário, na graça feroz de um saber e uma inteligência sem tréguas – “O Manicómio”, saído no Público de 25 de Abril – um e outro autor mostrando-nos que, apesar do derrotismo do segundo e da imparcialidade crítica do primeiro, ambos não pretendem mais do que gritar o seu alerta de responsabilização e apelo a uma consciência nacional que recomponha do desconchavo.

A felicidade que em mim subjaz, no reconhecimento dos valores pátrios a garantir-nos que os haverá sempre, como obstáculo a uma irracionalidade de exaltação pueril, me faz dar-lhes lugar extenso no meu blog, onde cabe igualmente o pesar pela morte de mais um grande valor pátrio, que lutou elegantemente e arduamente pela sobrevivência da sua língua, numa nação em extravio – Vasco da Graça Moura, que a morte levou em 27 deste mesmo Abril, substituídos os cravos pelas flores da tristeza.

O texto de Vasco Pulido Valente:

 

«O manicómio»

Não há limites. Como Soares provou, quando disse numa conferência qualquer que o Dr. Salazar tinha o mérito de não ter “mexido nos dinheiros públicos”. Não se percebe onde Soares queria chegar com esta frase absurda. É ela um elogio à tão proclamada pobreza e honestidade do ditador, que pagou até ao fim um galinheiro em S. Bento e criava coelhos? Ou um ataque implícito ao regime vigente, e aos partidos que nos governaram, e que andam hoje a arrastar as suas misérias pelos tribunais? Não parece. A ideia foi com certeza a de comparar a política financeira de Salazar com a política financeira da democracia e as contas certas de Salazar com a dívida e o défice de agora, que arrastaram o país para a miséria e nos trouxeram uma intervenção estrangeira, ainda longe de acabar.

 

Mas, se assim for, Soares reconhece que a crise é o resultado de políticas do Estado de que o PS e o PSD tomaram a responsabilidade.

 

Para não falar dele próprio. O serviço de saúde, o sistema de ensino, a Segurança Social, o exército de funcionários públicos com que os partidos sustentaram as suas clientelas, os milhares de milhões que se gastaram em betão inútil, o suborno sistemático com que durante 40 anos se pretenderam ganhar votos não entram na categoria das coisas que “nos caíram em cima”, ou naquela outra mais subtil dos efeitos perversos do “neoliberalismo” e da progressiva ruína da “Europa”. São todas a consequência previsível de decisões deliberadas de governos legitimamente eleitos. De que Soares fez parte ou, de Belém, abençoou.

 

O elogio a Salazar, de que a audiência gostou, não reflecte espécie de racionalidade. Não passa de saudades de um tempo em que não havia sarilhos com o défice e a dívida, porque a PIDE, a censura e a GNR impunham a miséria em que Salazar achava que o país devia viver. O problema, em 2014, é que a democracia não educou os portugueses para a submissão: e os políticos correm por aí, estonteados, como aves sem cabeça. O dr. Soares propõe a violência e apreciaria ver a GNR invadir (tumultuosamente) a Assembleia da República (uma “bela ideia”, explicou ele). Um grupo de “notabilidades” (os 74) resolveu sugerir uma bancarrota a prestações, contando provavelmente com a estupidez do próximo. Meia dúzia de loucos prefere a revolução (mas que revolução?). E anteontem Soares ressuscitou Salazar. Portugal é um manicómio.

 

 Berta Brás

MEMORIAIS SEM CONVENTO

 

 

Belas páginas de uma história que por nós passou, para lembrar um 25 de Abril de 74, nos seus objectivos e nas suas transfigurações. Pertencem a António da Cunha Duarte Justo.

 

Os seus objectivos eram os dos capitães ledores de uma certa cartilha – os da descolonização imediata e da imediata deposição do regime vigente na altura. Todos – capitães, fugitivos do exército, militares escrevedores de livros sobre o futuro de Portugal e antigos prisioneiros de Caxias ou mesmo de Peniche (onde nascem os amigos) - se alambazaram nesses pratos fortes do “cozido” à portuguesa, mas, face ao atropelamento dos ideais de propriedade, incompatíveis com a nossa economia de courelas próprias, os dentre esses que discordavam dos defensores de reformas agrárias e de ocupações perversas, passaram a combatê-los depois, a partir dos idos de Novembro, em função de um retorno a uma ordem mais comedida e de defesa própria. Mário Soares bem se pode gabar de ter estado nas duas facções - a dos objectivos destruidores e a das transfigurações em proveito próprio e dos acompanhantes amigos – e bem se pode afirmar que agora sobrejaz nele a do retorno à delinquência contida nos ideais abrilinos radicais, para efeitos de novo apeamento governativo. E não é o único. Pegou moda o 25 de Abril na nossa mesa diária, mais do que nunca são evocadas as memórias da gloriosa data pelos nobres sucessores e herdeiros do programa quarentão. O último programa “O Eixo do Mal” foi um desfilar de evocações, pelos da casa, acrescidos de convidados especiais – Helena Roseta, Isabel do Carmo, Ana Gomes, Padre Vaz Pinto entre outros, incluindo um gracioso cantor, Manuel João Vieira, que, em meio das críticas ao Estado Novo e, para não destoar, ao Estado novíssimo, desfibraram as suas memórias desse dia, de jovens ainda vibrando segundo as vibrações familiares, ou, como no caso de Vaz Pinto, apenas segundo as suas de despaisado, outros já com cadastro na Pide e na prisão, como a valente Isabel do Carmo, já mãe de família na altura dos seus combates pela justiça. Mas também os jornais continuam a produzir memórias desse dia, caso do Público deste 25 de Abril, com inúmeros relatos de importância a somar às memórias dos 15 anos de Paula Torres de Carvalho da pág. 72, que tinha “a ideia de que tudo era para sempre”, o que compromete a imagem do rio que flui, segundo a opinião abalizada de Heraclito.

 

Um chorrilho, que promete não acabar, pois ainda hoje acordei com cantares do Zeca Afonso na rádio, entre os quais “Os Vampiros”, que regressam em força, donde se deduz que o 25 de Abril é para lavar e durar, tal a resistência do pano do seu fabrico.

 

E é por isso que eu volto também - (que se me desculpe a redundância) - a referir as minhas memórias desse dia memorável, que acho que já relatei, mas que nunca é demais relembrar, como andam todos a fazer, pois se nos colaram à alma como pegajoso grude: a minha amiga Flávia telefonou-me às sete da manhã a contar dum golpe nesse dia, aqui em Lisboa, que apeara Marcelo Caetano do sítio donde governava o país. Mas nem liguei, fui dar as minhas aulas, depois de despachar as crianças segundo as competências de cada uma, os mais velhos nas escolas, os mais novos entregues à Marta e ao Salvador. Mas a partir daí, já ciente dos factos, foi um ver se te avias de escritos breves tendentes a servir de obstáculo ao desabar babélico de espaços e fés, de que saíram “Pedras de Sal”. Em Julho desse ano, o sr. Folques da Livraria com esse nome, embora a medo, não resistiu à minha ânsia de publicar o livro na sua tipografia, cada dia acrescido de sucessivos textos que oneravam o custo inicial, embora o não tenha exigido, ciente da sua e minha loucura que nos livrava da definição de Pessoa, para D. Sebastião, de “besta sadia, etc”. Mas em 8 de Setembro, meu único dia de glória reconhecida, descia eu com a família para o Rádio Clube de Lourenço Marques - que as tropas portuguesas afectas ao regime tinham tomado de assalto e o povo moçambicano apoiava aos milhares, com comida e presença – quando uma colega, de pé com a sua família, num descapotável, me gritou, inflamadamente: “Berta, também lhe devemos isto a si!”. No dia seguinte, 9 de Setembro, foi o desmoronar definitivo da utopia. Um telefonema falou em retaliação e ordens de Lisboa, dando por findo o regabofe da utopia, e início à invasão descolonizadora da Frelimo. Tratei das papeladas para fixação cá, fomos retornados, o marido permanecendo ainda uns meses lá, a trabalhar e a embalar os trastes dos sonhos desfeitos, para aqui serem reiniciados numa falsa aparência de continuidade, na derrota e na readaptação.

 

E o 25 de Abril retorna em força, nos cantos e nas memórias, nas vozes desafiantes que desejam depor o Governo, na puerilidade maquiavélica de alguns, que um povo pueril volta a apoiar, indiferente às contradições desses tais.

Sic transit gloria mundi. Aos solavancos. Excepto a minha, que se apagou no mesmo momento, de conforto unicamente pessoal. Inútil.

 

 Berta Brás

A REVOLUÇÃO COMUNISTA EM PORTUGAL E A CONTRA-REVOLUÇÃO PARTIDÁRIA – 6

 


UM ESTADO ONTEM REFÉM DA NOBREZA E HOJE REFÉM DOS PARTIDOS


Portugal a partir do séc. XVII nunca foi reajustado encontrando-se ciclicamente em derrocada como constatavam já Alexandre de Gusmão, Antero de Quental: “a nutrir pançudos”. Faliu em 1892, e depois sob penhora durante a I República tendo como consequência o golpe de Estado de 1926, altura em que Portugal se encontrava de novo na falência.


A primeira república desqualificou os ideais liberais e democráticos a ponto de chegar a produzir o provérbio “isto é uma república” com o significado de desordem e actualmente a "Isto é uma república das bananas." O regime de Salazar criou uma ditadura do “orgulhosamente sós”.


No tempo do “António Salazar” o pensamento era censurado, no regime do 25 de Abril é penteado pelo pensar politicamente correcto, propagado pelo espírito do tempo e laqueado pelos mass media.


O que se dá com as revoluções portuguesas é o mesmo que se tem dado com os governos: é uma alternância dos senhorios do Estado português; antes nas mãos da nobreza e depois nas mãos dos burgueses e novos-ricos. Transmitem-se os mesmos vícios num conluio de conservadores e progressistas. A Ditadura Nacional (1926-1933) termina em 1933 com a Constituição de 1933 e início da II República (Estado Novo) até ao golpe de estado do 25 de Abril de 1974. A Constituição de 1976 estabelece a democracia partidária. Nesta III República repetem-se os erros tradicionais e estende os seus tentáculos de polvo partidário e ideológico governa o país com leis e decretos ao sabor do tempo e das influências.


Antes para servir nobrezas e burgueses insaciáveis, depois para servir as bocas partidárias e de irmãos maçónicos boçais.


Um povo que não cresce organicamente vive dos golpes de Estado (revoluções) que além de ajustes de contas se revelam num acerto ao tempo. Vivem de uma lei fora de lei. Velhacos metem a mão à bolsa dos velhos e aos novos pede-se-lhes para emigrar.


À beira da falência em 83 salvou-o a EU mas a megalomania esbanjadora de querer viver à grande europeia mas com uma economia de terceiro mundo – uma economia de grandes para grandes – só que depois o desflorou com a Troika em 2011. Amoral encontra-se também ela em processo de emancipação, a consciência passa a ser opinião destilada nos alambiques dos interesses grupais.


O povo e a massa cinzenta ocupam-se, à maneira tradicional, da comparação e do maldizer dos novos velhos usurpadores, esquecendo que a situação é de tal desespero que conduziria, a ser tomada a sério às conclusões e trágico fim de um Antero de Quental. Do seu Olimpo sob o sol do desespero a opinião elucidada (tuba canora) julga da justiça social. No Olimpo tudo é grande, nele a grandeza supera a corrupção, tudo passa a ser normal. Onde não há moral não há direito. Por vezes, parecemos povo, filho de pai incógnito continuamente a olhar para o governo, esperando reconhecer nele o pai. Diz-se o que não se pensa, pensa-se o que não se diz!


FIM

 António da Cunha Duarte Justo

Formado em Ciências da Educação (Português e História)
Conferência proferida na sede da ARCADIA a 4 de Abril de 2014

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