Com a preocupação de sempre saber onde é o Norte, fico por vezes confundido pelas voltas que os aviões dão nas aproximações nocturnas aos aeroportos mas nunca esperava confundir-me ao sair do porto de Haifa e rumar no sentido oposto ao que me indicava o sentido de... desorientação. Porquê? Porque naquele porto se ruma a Sul para entrar (e a Norte para sair, claro), atracámos numa posição que nos deixou aproados a poente e quando os autocarros rumaram a Sul, ficámos com o Monte Carmelo à nossa direita e... lá tive que consultar o mapa e deixar de ter a mania de que sou espertinho.
Sim, com o Sol nascente à minha esquerda, o Monte Carmelo estava ali mesmo ao meu lado direito e, olhando-o da auto-estrada que corre ao longo do seu sopé, lembrei-me de que foi ali que o profeta Elias viveu como eremita e provou aos homens que o Deus de Israel é o verdadeiro e não Baal. E lembrei-me também da Ordem dos Carmelitas, originalmente chamada Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo que a partir de certa altura passou a ter uma Ordem Segunda, ou seja, feminina, cujo convento em Lisboa – mandado erigir por Filipe I – é hoje a Escola Superior da PSP, ali ao Largo do Calvário. Mas também me lembrei de que não foi ali que Elias ressuscitou o filho da viúva de Serepta e pergunto-me onde será Serepta... Ia eu nestas confabulações e eis que de repente me vejo numa encruzilhada de auto-estradas com portagens, painéis indicativos de caminhos a seguir escritos em caracteres hebreus que me trouxeram à realidade dramática do analfabetismo mas me fizeram também sair dos tempos bíblicos em que me estava a deliciar para me transportarem até à modernidade duma enorme área de serviço cheia de néons e outras modernices. E lá estava um Kentucky Fried Chicken com o sósia do Walter Ulbricht a trazer-me à realidade dos tempos que correm. Vim a saber que se virássemos à esquerda iríamos para o Lago Tiberíades e para Nazaré mas naquele dia seguiríamos em frente durante mais duas horas até chegarmos a Jerusalém e Belém.
E deliciei-me com o que vi: terras primorosamente amanhadas, aldeias repletas de qualidade de vida, núcleos industriais onde menos seria de esperar, um país tratado com paixão.
Até que começámos a subir para Jerusalém e a paisagem se alterou por completo com a pedra a sobrepor-se a tudo o mais, montes carecas, o contrário da terra prometida em que abundaria o leite e escorreria o mel.
E foi nesta subida que eu me deveria ter lembrado dos Juízes do Antigo Testamento, das primeiras palavras da Bíblia – NO PRINCIPIO DEUS CRIOU OS CÉUS E A TERRA – ou mesmo de Jesus, de Nossa Senhora ou de S. João Baptista mas, heresia das heresias, só me lembrei de Moshe Dayan e do que deve ter sido aquela escalada durante a guerra dos 6 dias pelas estradas manhosas de então, bem antes da actual auto-estrada. Sim, só a rapidez das operações militares evitou maiores dramas e nem dá para imaginar a estupefacção dos guardadores de cabras e ovelhas que por ali andassem naquele dia em que o Muro das Lamentações voltou a receber as preces judaicas.
Paragem para esticarmos as pernas numa área de serviço a meio da subida e lá estou eu a pagar dois Euros por um café expresso. Quanto cobraria eu se tivesse que ganhar a vida em local tão inóspito? Não imagino, mas foi o modo de constatar que o Euro funciona em Israel e que o método de formação dos preços é por ali sui generis.
Chegados à malha urbana, logo nos dirigiram ao Monte das Oliveiras donde pudemos abranger uma ampla panorâmica de Jerusalém. E foi a partir daquele ponto que descemos aos locais das três fés.
No texto anterior ficámos na dança, cujas origens igualmente se perdem no tempo. Não é uma dança comum. Está intimamente ligada à concentração e meditação, com posições de yoga, algumas copiando estatuetas do deus Xiva, o deus da música e da dança, fonte de energia cósmica, que perpetua o movimento do universo representado na imagem abaixo pelo círculo de fogo.
É conhecida a crença hinduísta na reencarnação. Os hindus acreditam que o espírito ou a alma, – o "eu" verdadeiro de cada pessoa, chamado de atman(vão reparando na semelhança de algumas palavras: primeiro da deusa Mai ou Maha, para mãe, agora atma para alma) – é eterno, e já o Rigveda, que terá sido escrito entre 1.700 e 1.100 a.C. fala nisso.
De acordo com um antigo texto hindu, certa vez perguntaram a uma rainha chamada Latika porque ela gastava tanto tempo e dinheiro colocando lâmpadas de azeite nos santuários: mil lâmpadas somente para o santuário de Vixenu, o ser supremo e bem-aventurado. Latika que se recordava das suas vidas anteriores respondeu que numa encarnação anterior, como camundongo, tentara roubar a mecha de uma lâmpada que estava quase a apagar-se no templo de Vixenu. Nesse instante um gato soltara um grito estridente e Latika fugiu aterrorizada. Na pressa esbarrou na lâmpada atiçando a chama. Em recompensa por ter reactivado a chama, Latika recebeu o privilégio de reencarnar como princesa e desposar um rei. Se um simples acto, involuntário, lhe tinha merecido tamanha recompensa, os méritos de ter mantido a chama acesa deveriam ser, na verdade, muito grandes. Ao morrer foi levada ao céu para ali “gozar dos prazeres divinos”.
Seguindo o exemplo de Latika os fiéis continuam a manter lâmpadas com azeite diante das imagens religiosas. As ofertas de azeite, ou incenso ou flores, procedem sempre da mesma motivação. A origem desta prática, de acender lâmpadas às divindades igualmente se perde nas noites dos tempos.
(O que fazem hoje os cristãos, judeus, xintoístas, e até os que continuam com a sua religião animista ou só no respeito e veneração dos antepassados? Acendem lamparinas, velas, queimam incenso, etc.)
Chegamos agora às invasões, que transformaram a Índia naquilo que ela é hoje: povos vindos de inúmeros lugares, de aspectos físicos os mais diversos, além de uma infinidade de línguas e dialectos. Índia é um sub continente onde correm rios caudalosos, boas terras para agricultura, e se cultivavam já sorgo e arroz, e por muito incrível que pareça, o milho! Não se sabe que variedade de milho, apesar de os mais antigos registos deste cereal terem aparecido em vestígios arqueológicos na caverna Guila Naquitz no Vale de Oaxaca, no México que datam cerca de 6.250 anos, e nas cavernas de Tehuacan, Puebla, com cerca de 5.450 anos. No entanto na cultura harappiana, do vale do Hindus, também cultivavam milho, no mínimo há 4.500 ou 5.000 anos.
E além disso um produto que provocou a grande admiração dos invasores: uma espécie de lã, que estes só conheciam das ovelhas, mas vegetal, com a qual faziam tecidos, desde os mais finos a grossos, para proteger do frio, desconhecido até então: o algodão!
São os arianos os primeiros conhecidos grandes invasores. Até então chegaram de muitos lados, pequenos grupos ou tribos, que se instalaram em toda a região, mas sem configurarem invasão, nem alterarem os costumes locais, muito pelo contrário, os absorvendo.
Através da maior parte da Europa até a Índia, existem ainda, ou pode ser demonstrado, terem existido no tempo passado, um número grande de línguas, cujas formas e sons, quando cientificamente analisados mostram uma origem comum.
Estas línguas são chamadas pelos cientistas de Indo-Germânicas ou Indo-Europeias. O termo Indo-Europeu parece ter sido inventado pelo Dr. Thomas Young um físico e egiptólo, em 1813. Ele incluiu neste grupo também o basco, finlandês, e línguas semíticas. O nome Indo-Germânicas foi usado por um filologista germânico, em 1823, com a ideia de incluir as línguas que do mais distante leste até ao oeste, se estendia desde a Índia até ao Atlântico. Ele teve a capacidade de observar que a língua sagrada da Índia, o sânscrito, a da Pérsia, da Grécia e Roma, a língua dos celtas, germânicos e eslavos, estiveram, algum dia, todas intimamente ligadas.
Como os povos, nas suas deslocações, muitas vezes perdem a sua língua de origem e adoptam uma outra, os termos Indo-Europeias ou Indo-Germânicas, foram abandonados e decidiu-se que o termo mais apropriado para os falantes dessas línguas deveria ser Viros, que significa homens na grande maioria das línguas em questão.
Afinal o que se sabe sobre os antigos humanos? Através de algumas palavras preservadas, especialmente em línguas de regiões muito afastadas, há pouca probabilidade que as palavras passem de um lugar para outro. No entanto encontram-se algumas de animais e plantas e pouco de indústrias, cuja semelhança faz crer que esses povos, hoje separados, estiveram antes longos períodos em áreas circunscritas, e por muitas gerações. Por exemplo a palavra “mare”, do latim, mar, tem noutras línguas significados relativamente “perto” como pântano ou local de atracar um barco.
Os Viros não eram de certeza nómadas, mas povos já assentados, do início do neolítico. Conheciam o boi e vaca, carneiros, cavalo, cão, porco e algumas espécies de cervos. O burro, camelo e elefantes parecem ter-lhes sido desconhecidos nos primeiros tempos. Há vestígios de que cultivassem o milho, prova do seu assentamento.
Também se conhecem as espécies vegetais, sobretudo fruteiras e árvores fornecedoras de madeira.
Com estes elementos começa a ser possível localizar de onde saíram os primitivos habitantes falantes destas línguas. Não parece ser da Índia, já que a fauna e flora desta região era diferente.
Se eles utilizavam a madeira das faias – árvore do género Fagus – teriam que viver numa área que no máximo podia ir ao norte, até à Prússia e a sul à Crimeia, região de grandes florestas. Mas para a criação de gado, ovelhas e sobretudo a produção de alimentos, como milho, aveia e outros cereais, só há na Europa uma região com as necessárias características, que são as férteis planícies limitadas pelos Cárpatos a norte e leste, os Alpes a Ocidente e, contornando os Cárpatos, ao sul, pelos Balcãs.
As faias que não vingam mais para sul, encontram-se também aqui.
Se esta área foi o habitat original dos arianos, e tudo leva a crer que sim, a difusão dos povos de língua Indo-Germânica, começa a fazer sentido. Crê-se que esta expansão terá começado cerca de 2.500 a.C.
Depois fica fácil seguir o caminho que levaram: uns atravessam o Bósforo ou o Dardanelos para a Turquia, seguem, com os seus animais, pelos lugares mais propícios, outros contornam o mar Morto e descem para a Pérsia, outros passam a norte do mar Cáspio, e todos vão-se aproximando do Afeganistão, sempre através das regiões que lhes proporcionavam estabilidade, ou onde se assentassem e certamente se mesclavam, para prosseguirem, até se depararem com os Himalaias.
Alguns passaram para a planície do Hindus mais a ocidente, mas depararam-se com o grande deserto indiano, mas a grande maioria terá cruzado a cordilheira do Hindus, que separa o Paquistão do Afeganistão, pela única passagem, um vale, Kyber Pass, que liga as actuais cidades de Cabul, por Jalalabad até Peshawar.
Começa a chegar à Índia – hoje Paquistão e Índia – uma nova civilização, mais avançada e culta, que dá origem à história, com o Rigveda. Cerca de 1800 a.C.
Com isto o desenvolvimento da escrita e de religiões antigas como a que se veio a chamar hinduísmo, e mais tarde o budismo e jainismo.
Como nestes textos só estamos a tratar da Índia, é bom esclarecer que muitos povos, tanto arianos, como persas, frísios, arménios, e muitos outros, atravessaram as montanhas dos Himalaias e prosseguiram para a Ásia Central, como, as primeiras migrações, que saindo de África se foram espalhando pelo mundo desde há mais de 50.000 anos.
Gentio designa um não judeu. Para que um homem gentio, não descendente de Abraão, possa ser incluído no povo judeu, deve, antes do mais, aceitar ser circuncisado ficando então a ser considerado igual a qualquer nacional, com os mesmos direitos e obrigações que todos os demais israelitas. Outras acepções para o termo: pagão; não civilizado.
Custa-me crer que a circuncisão possa ter qualquer valor teológico mas como também penso que a fé não se discute, limito-me a permanecer do lado de fora de tal discussão e correr o risco de que me considerem não civilizado.
Não civilizado, gentio, pois, me confesso. Mas sempre fui um grande admirador dos judeus e foi com emoção que segui minuto-a-minuto a guerra dos 6 dias e a do Yom Kippur e que li com paixão sobre outras façanhas da causa sionista como a aventura do navio Exodus, etc....
E foi precisamente no Exodus que pensei quando La belle de l’Adriatique, o navio do meu cruzeiro no Mediterrâneo oriental, zarpou de Limassol e rumou a Haifa.
Para que não restem dúvidas sobre a evolução ocorrida desde 1947 até agora, notem-se as diferenças entre os dois navios.
EXODUS – 1947
LA BELLE DE L’ADRIATIQUE – 2014
É claro que não me refiro à evolução que ocorreu na engenharia naval.
Escusado será dizer que não fomos inamistosamente escoltados por qualquer navio de guerra e escusado também será dizer que não tínhamos qualquer manifestação popular cantando hinos de glória à nossa chegada.
"Exodus 1947" – A verdadeira história
Chegada a Eretz Israel
Quando, naquele 18 de Julho, completamente avariado, o navio, puxado por um reboque, chega ao cais, no mastro tremulava a bandeira sionista. Os britânicos, à espera do navio "inimigo", estavam, naquela sexta-feira, em alerta total. Haviam fechado o porto, ao qual somente tinham acesso militares e polícias ingleses ou jornalistas da imprensa internacional. No cais viam-se tanques, policias e militares sendo 500 homens da Artilharia britânica. Ao lado do cais, aguardavam três navios-prisão: "Ocean Vigour", "Runnymede Park" e "Empire Rival". Os ingleses queriam fazer do "Exodus 1947" o exemplo para desencorajar, de uma vez por todas, a entrada de judeus na Terra de Israel. Mal sabiam que logo descobririam que a coragem e determinação que os guiava eram infinitamente mais fortes que o poderoso Império Britânico. O fogo de Auschwitz moldara-os em aço...
Os judeus de Eretz Israel também aguardavam aquele navio. Mas, impedidos de se aproximar, milhares foram até à barreira militar inglesa e, a plenos pulmões, cantaram o Hativka, o Hino da Esperança, as vozes ressoando por todo o porto. Desde a noite anterior, toda a então Palestina estava em alerta.
Ainda dentro do navio, tivemos a receber-nos umas sisudas funcionárias da imigração ou da segurança do Estado de Israel que bem podiam aprender alguma cortesia com os «colegas» de índole turca que nos tinham recebido na fronteira de Nicósia. Tendo recebido antecipadamente toda a informação sobre quem éramos ou deixávamos de ser, não se compreende tanta carrancudice. Quase imitavam os ingleses naquele mesmo local em 1947. Pensam, pelos vistos, que todos somos inimigos até prova em contrário. Já vi modos mais corteses de receber amigos.
Ao desembarcarmos cinco minutos depois (o tempo de descermos da sala no segundo deck em que as funcionárias dos passaportes nos receberam até à escada do portaló), fomos novamente confrontados com a foto no passaporte e todos os jovens (apenas os membros da tripulação que nos deviam acompanhar aos autocarros e pôr os auriculares a funcionar) tiveram que passar pelo pórtico detector de metais; nós, os turistas propriamente ditos, fomos dados como metalicamente inocentes. Salvo alguma prótese típica da terceira idade...
O guia do grupo do meu autocarro chamava-se «José» porque aquele era o Dia do Pai.
E lá fomos, Sol nascente, a caminho de Jerusalém e de Belém...
É o artigo de Vasco Pulido Valente “A força das coisas” do PÚBLICO DE 14/3 sobre o conflito que separa – ou une – a Rússia e a Ucrânia e a Crimeia, que tanto perturba os noticiários ultimamente, opondo os chefes em ameaças mútuas, mas que, pelas razões a que Pulido Valente alude – fragilidades e dependências do Ocidente europeu, ambições hegemónicas e expansivas russas – putinianas – desinteresse dos Estados Unidos já bastante escaldados em questões de apoio solidário - real ou fictício – e, em definitivo, o reconhecimento de que “a Rússia, excepto por meia dúzia de “oligarcas”, não precisa tão desesperadamente da Europa”, vão permitir mais um atropelo aos direitos de povos que uma DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, ditada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948, tão empoladamente defendeu não só no seu “Preâmbulo” cujos considerandos transcrevo da Internet,
- «- Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
«- Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em actos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,
«- Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,
«- Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,
«- Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, a sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
«- Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,
«- Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso» ,
como nos seus artigos de que transcrevo o 28º – “Toda a pessoa tem direito a que reine, no plano social e no plano internacional, uma ordem capaz de tornar plenamente efectivos os direitos e as liberdades enunciados na presente Declaração”.
Direitos criados em resultado de acontecimentos conhecidos e que transcrevo igualmente da Internet, ao acaso da curiosidade: Durante aSegunda Guerra Mundial, os aliados adoptaram asQuatro Liberdades: liberdade da palavra e da livre expressão, liberdade de religião, liberdade por necessidades e liberdade de viver livre do medo. ACarta das Nações Unidasreafirmou a fé nos direitos humanos, na dignidade e nos valores humanos das pessoas e convocou a todos os seus estados-membros a promover respeito universal e observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.
Quando as atrocidades cometidas pelaAlemanha nazise tornaram conhecidas depois da Segunda Guerra, o consenso entre a comunidade mundial era de que a Carta das Nações Unidas não tinha definido suficientemente os direitos a que se referia,.uma declaração universal que especificasse os direitos individuais era necessária para dar efeito aos direitos humanos. »….
São registos que deviam permanecer na lembrança de todos e sobretudo dos responsáveis pelos governos das suas nações.
Mas a febre do poder mundial preside ainda, não vale a pena “esclarecer”, como faz o Agildo trapalhão, como faria eu se o tentasse, e daí a pertinência do texto de Pulido Valente “A força das coisas”. Sim, não há fuga possível para a febre imperialista de Putin, idêntica à de tantos seus antecessores, afinal. Só que os ucranianos têm direito à sua independência, têm direito a serem respeitados. O problema é que não existe unanimidade de parecer entre os próprios ucranianos, grande parte apoiante de políticas pró-russas. Entre nós também os houve, apoiantes dos que podiam ajudar mais à sua sobrevivência, e Camões o esclarece, esse sim, na estrofe 33 do Canto IV dos Lusíadas
(*)
Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano, Catilina, e vós outros dos antigos Que contra vossas pátrias com profano Coração vos fizestes inimigos: Se lá no reino escuro de Sumano Receberdes gravíssimos castigos, Dizei-lhe que também dos Portugueses Alguns traidores houve algumas vezes.
O texto de Vasco Pulido Valente, “A força das coisas”:
Desfazer um império, e um império do tamanho da URSS, não é uma operação fácil. Sobretudo quando se trata de redefinir fronteiras e a Federação Russa, ao contrário, por exemplo, da Áustria, continua a ser uma grande potência.
Na Ucrânia, o caso ainda se torna mais difícil. Na II Guerra Mundial, a Alemanha só invadiu entre cinco e dez por cento do território da Rússia propriamente dita, mas conseguiu ocupar a Ucrânia inteira. Em 1945, o Exército Vermelho tinha proporcionalmente mais gente da Ucrânia do que de qualquer outra República da União; e hoje, da Polónia à Crimeia, a esmagadora maioria da população indígena é bilingue. Separar o que esteve tão junto traz necessariamente complicações. Putin quer a reconstituição, pelo menos parcial, do império. A Europa e a América não querem.
Não se percebe porquê.Em primeiro lugar, depois do Iraque e do Afeganistão, a opinião americana não consentiria uma nova guerra e, principalmente, uma guerra que ao menor incidente poderia degenerar numa catástrofe nuclear. A Europa que durante 60 anos viveu para o consumo e para o Estado social está desarmada. Não vê bem um conflito em que um dos lados se recusa a participar. Restam as sanções (evidentemente, económicas). Só que as sanções prejudicariam muito mais a Europa (embora não a América) do que a Rússia.A Alemanha precisa como de pão para a boca do gás russo. E a Alemanha e a Inglaterra dependem do mercado interno e dos capitais russos para saírem da crise e crescer a um ritmo razoável. A Rússia, excepto por meia dúzia de “oligarcas”, não precisa tão desesperadamente da Europa.
O problema começou, de resto, porque a Ucrânia se preparava para assinar um acordo com a UE e a Rússia resolveu impedir essa inclinação para o Ocidente, porque pretende que a Ucrânia venha a aderir a uma futura união euro-asiática, que eventualmente servirá para opor à Europa uma esfera de influência, económica e ideológica, sob o domínio de Moscovo.A ideologia “euro-asiática”, como se calcula, não é democrática, nem adepta do liberalismo ou do Estado de direito. É autoritária, discriminatória, racista e manifestamente “fascizante”. Não parece que seja no imediato uma terrível ameaça para a América ou para a Europa. Como não parece que o Ocidente, apesar das suas piedosas declarações, fosse capaz de sustentar uma Ucrânia falida, com uma economia arcaica e uma quase total dependência energética da Rússia. Era com certeza melhor que, nesta altura, se reconhecesse a realidade.
Berta Brás
(*) Camões declamando Os Lusíadas - litografia de António Ramalho (1859-1916)
Ainda bem que hoje tudo é diferente. Temos um PT sério, honesto e progressista.
Cresce o grupo que não quer mais ver militares no poder, pelas razões abaixo.
Militar é incompetente demais!!!
Militares, nunca mais!
Militar no poder, nunca mais.
Só fizeram lambanças.
Tiraram o cenário bucólico que havia na Via Dutra de uma só pista, que foi duplicada e recebeu melhorias; acabaram aí com as emoções das curvas mal construídas e os solavancos estimulantes provocados pelos buracos na pista.
Não satisfeitos, fizeram o mesmo com a rodovia Rio-Juiz de Fora.
Com a construção da ponte Rio-Niterói, acabaram com o sonho de crescimento da pequena Magé, cidade nos fundos da Baía de Guanabara, que era caminho obrigatório dos que iam de um lado ao outro e não queriam sofrer na espera da barcaça que levava meia dúzia de carros.
Criaram esse maldito do Proálcool, com o medo infundado de que o petróleo vai acabar um dia.
Para apressar logo o fim do chamado "ouro negro", deram um impulso gigantesco à Petrobrás, que passou a extrair petróleo 10 vezes mais (de 75 mil barris diários, passou a produzir 750 mil); sem contar o fedor de bêbado que os carros passaram a ter com o uso do álcool.
Enfiaram o Brasil numa disputa stressante, levando-o da posição de 45ª economia do mundo para a posição de 8ª, trazendo com isso uma nociva onda de inveja mundial.
Tiraram o sossego da vida ociosa de 13 milhões de brasileiros, que, com a gigantesca oferta de emprego, ficaram sem a desculpa do "estou desempregado".
Em 1971, no governo militar, o Brasil alcançou a posição de segundo maior construtor de navios no mundo.
Uma desgraça completa.
Com gigantesca oferta de empregos, baixaram consideravelmente os índices de roubos e assaltos.
Sem aquela emoção de estar na iminência de sofrer um assalto, os nossos passeios perderem completamente a graça.
Alteraram profundamente a topografia do território brasileiro com a construção de hidroeléctricas gigantescas (Tucuruí, Ilha Solteira, Jupiá e Itaipu), o que obrigou as nossas crianças a aprenderem sobre essas bobagens de nomes esquisitos.
O Brasil, que antes vivia o romantismo do jantar à luz de velas ou de lamparinas, teve que tolerar a instalação de milhares de torres de alta tensão espalhadas pelo seu território, para levar energia elétrica a quem nunca precisou disso.
Implementaram os metrôs de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, deixando tudo pronto para atazanar a vida dos cidadãos e o trânsito nestas cidades.
Esses militares baniram do Brasil pessoas bem intencionadas, que queriam implantar aqui um regime político que fazia a felicidade dos russos, cubanos e chineses, em cujos países as pessoas se reuniam em fila nas ruas apenas para bater-papo, e ninguém pensava em sair a passeio para nenhum outro país.
Foram demasiadamente rigorosos com os simpatizantes daqueles regimes, só porque soltaram uma "bombinha de São João" no aeroporto de Guararapes, onde alguns inocentes morreram de susto apenas.
Os militares são muito stressados.
Fazem tempestade em copo d'água só por causa de alguns assaltos a bancos, sequestros de diplomatas... ninharias que qualquer delegado de polícia resolve.
Tiraram-nos o interesse pela Política, vez que os deputados e senadores daquela época não nos brindavam com esses deliciosos escândalos que fazem a alegria da gente hoje.
Os de hoje é que são bons e honestos.
Cadê os Impostos de hoje, isto eles não fizeram!
Para piorar a coisa, ainda criaram o MOBRAL, que ensinou milhões a ler e escrever, aumentando mais ainda o poder desses empregados contra os seus patrões.
Nem o homem do campo escapou, porque criaram para ele o FUNRURAL, tirando do pobre coitado a doce preocupação que ele tinha com o seu futuro. Era tão bom imaginar-se velhinho, pedindo esmolas para sobreviver.
Outras desgraças criadas pelos militares:
Trouxeram a TV a cores para as nossas casas, pelas mãos e burrice de um Oficial do Exército, formado pelo Instituto Militar de Engenharia, que inventou o sistema PAL-M. Criaram ainda a EMBRATEL; TELEBRÁS; ANGRA I e II; INPS, IAPAS, DATAPREV, LBA, FUNABEM.
Tudo isso e muito mais os militares fizeram em 22 anos de governo.
Pensa!!
Depois que entregaram o governo aos civis, estes, nos vinte anos seguintes, não fizeram nem 10% dos estragos que os militares fizeram.
Graças a Deus!
Ainda bem que os militares não continuaram no poder!!
Tem muito mais coisas horrorosas que eles, os militares, criaram, mas o que está escrito acima é o bastante para dizermos: "Militar no poder, nunca mais!!!", excepto os domesticados.
Ainda bem que hoje estão assumindo o poder pessoas compromissadas com os interesses do Povo.
Militares jamais!
Os políticos de hoje pensam apenas em ajudar as pessoas e foram injustamente prejudicadas quando enfrentavam os militares com armas às escondidas com bandeiras de socialismo.
Os países socialistas são exemplos a todos.
ALÉM DISSO, NENHUM DESSES MILITARES CONSEGUIU FICAR RICO. ÊTA INCOMPETÊNCIA!!!
Sobrevoei pela primeira vez de cima a baixo o mar Egeu pois das vezes anteriores só o atravessara de lado a lado. Ao pôr do Sol, ainda era dia para nós no avião e lá em baixo já começavam as sombras a alongar... E muito. Deixando Salónica para trás, logo vi uma ilha montanhosa cujos cumes brancos me levaram a perguntar o que fazia ali tanta neve. E logo me lembrei duma professora que chegara ao Liceu Francês de Lisboa vinda de Salónica nos dizer que aquela região primava pela rudeza invernosa. Assim como me lembrei de que em tempos ali também era o Império Otomano e que aquela era a cidade natal de Mustafá Kemal Paxá, Atatürk. E mais me lembrei de que aquela região fora a terra permitida para uma parte importante dos sefarditas que ali reconstruíram as vidas sem renegarem a Pátria que os ostracizara. Em 1913 havia muitas sinagogas na cidade mas quatro delas chamavam-se «Évora», «Nova Lisboa», «Velha Lisboa» e «Portugal». Por aqui se imagina a importância da colónia sefardita portuguesa de Salónica e durante a Primeira Grande Guerra muitos foram os que retomaram a nacionalidade portuguesa. Gentio, foi com simpatia que sobrevoei as terras e os mares que os acolheram e lhes deram vida aos filhos e netos.
Era noite quando aterrámos perto de Larnaka e nem sequer passámos pela cidade. O táxi (um Mercedes não muito longínquo do topo da gama) que nos esperava meteu logo pela auto-estrada e só parámos 45 minutos depois à porta do hotel em Limassol.
E como o dinheiro abunda em Chipre, as auto-estradas não têm portagens.
Instalados, demos uma volta pelas redondezas do hotel e jantámos no primeiro boteco que encontrámos cheio (melhor cartão de visita para qualquer forasteiro). Simpatia esfusiante, logo veio o Cristiano Ronaldo à baila quando souberam da nossa nacionalidade. Há uns anos, na Tailândia, a referência era o Luís Figo e na Alemanha em 1961 eram Amália e as sardinhas. Portugal sempre teve quem o representasse bem.
O primeiro impacto com a tradição culinária cipriota teve a ver com a quantidade absurda que aquela gente consegue ingerir. A partir de então a minha mulher e eu passámos a encomendar uma dose para os dois para que não sobrasse tanto como desta vez. E foi logo ali que ficámos a saber que para eles o que é grego é bom; o que não é grego, logo se vê...
Limassol tem uma bela frente de mar, um «calçadão» muito frequentado por quem pratica jogging, muitas esplanadas de apoio às praias, uma areia compacta da cor do cimento e até vimos uns quantos corajosos que nadavam a tentar convencer os sensatos de que a água estava apetecível.
Lemestos é o nome vernáculo da cidade mas como havia muita gente que não conseguia pronunciar correctamente, inventou-se o nome Limassol. Já tenho ouvido muita tontaria ao longo da vida mas por etimologia tão anedótica é que eu não esperava. Venha outra explicação que esta não passa. Todos os cartazes e sinais de trânsito indicam Lemestos e Limassol tanto em alfabeto grego como latino pelo que ninguém se perde por falta de informação. Bela cidade, avenidas amplas, casario de qualidade e uma quantidade enorme de locais históricos a visitar. O mais espectacular é Kourion, cidadela imponente que me fez lembrar a judia Massada mas com um teatro grego que parece acabado de inaugurar. E fez-me sonhar com o que nós podíamos fazer em Balsa se os tavirenses tivessem um mínimo de interesse cultural. Mas...
Foi de Limassol (ou Lemestos para quem quiser ser mais genuíno) que partimos em direcção aos montes Troodos e lá no alto, à porta do hotel que se situa no miradouro, ainda havia vestígios da neve que caíra durante a noite. Não deixa de ser curioso o facto de a poucos quilómetros uns dos outros, andarem uns pândegos a nadar no mar e outros a fazer bolas de neve.
Dali fomos para o Mosteiro de Kikkos onde viveu Makarios até ser eleito Arcebispo e, depois disso, Presidente da República. E é lá que está o seu túmulo, em local de que se avista a sua terra natal, Panagia, junto de Paphos. Belos frescos e mosaicos por toda a parte. Neste maciço montanhoso há uma profusão enorme de mosteiros e igrejas, muitas das quais classificadas pela UNESCO e que a certo passo deixam o turista um pouco desejoso de zarpar dali para fora.
A visita a Paphos é indispensável pois a arqueologia local está de tal modo preservada que dá a sensação de nos podermos cruzar a qualquer momento com uma personagem das antiguidades grega ou romana.
Finalmente, uma breve referência a essa cidade dinâmica e moderna que é Larnaca, no extremo oriental da parte sul da ilha. O significado do nome da cidade, sarcófago, nada tem a ver com o que dela vemos. Pelo contrário, vi uma cidade toda «p’rá frentex», com belas praias (lá está o que mais parece cimento em pó no local onde devia estar a areia), um calçadão a perder de vista e hotéis a disputarem o top da qualidade. De cansado, não fui à marina que se situava mesmo em frente do meu hotel mas deu para ver que os mastros não eram de barquitos do lago do Campo Grande.
Apetece-me consultar a bola de cristal para tentar ver algo sobre o futuro de Chipre. Relativamente à zona etnicamente turca, já a tenho como Região Autónoma da Turquia; quanto à República de Chipre, a do sul, admito que a «enosis» não vingue mas...
No passado dia 24 de Março, um tribunal egípcio condenou à morte 529 membros da Irmandade Muçulmana, dando por provado o seu envolvimento em manifestações, no Verão passado, de que resultou a morte de um polícia. A sentença à pena capital foi declarada na terceira audiência e sem que os advogados dos réus tivessem sido, sequer, ouvidos.
Portugal foi, praticamente, o primeiro país da Europa a abolir a pena de morte. O inédito acontecimento provocou uma entusiasta reacção de Vítor Hugo: " Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (...) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! (…) A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos ".
Ninguém ignora as atrocidades cometidas pelos apoiantes da Irmandade Muçulmana, nomeadamente contra os cristãos, depois da queda do regime de Hosni Mubarak. Mas à violência, em tempos de paz, responde-se com a justiça. Há que reconhecer aos agressores os direitos que eles não reconheceram às suas vítimas, sob pena de as autoridades judiciais mais não serem do que terroristas estatais. À razão da força opõe-se, num Estado de Direito, a força da razão.
Winston Churchill disse: " Na guerra determinação; na derrota, resistência; na vitória, magnanimidade; na paz, boa vontade ". E os italianos têm um termo, " stravincere", para exprimir o excesso na vitória, que a transforma em vil vingança.
Em nome da liberdade política e religiosa, o mundo saudou a queda do totalitarismo islâmico implantado pelo deposto presidente Morsi. Mas, … assim não! Que o diga Portugal, em nome da sua tradição humanista e cristã, honrando a glória de ter sido um dos primeiros países do mundo a abolir a pena de morte.
Dois documentos históricos, duas interpretações – são os artigos do Público: de 21/3 o de Vasco Pulido Valente,“A balança, de 23/3, “Desta vez é diferente”, de Teresa de Sousa.
Sobre o conflito da Ucrânia, Pulido Valente historia o passado ambicioso da Rússia, pela posse do mundo e a necessidade de um mar que a ligasse ao mundo, não lhe bastando a terra que se espraiava por dois continentes. O Mar Báltico, bastante gelado, apesar de um São Petersburgo de desenvolvimento favorável, requereu a busca do Mar Mediterrânico mais aquecido. Tornava-se, por consequência, a Crimeia, imprescindível para esses fins, Sebastopol de Catarina a Grande, ocupando a posição da cidade de Pedro, também Grande.
Tão fácil de perceber! A Crimeia o ponto de mira para uma Rússia poderosa, Sebastopol o ponto de arranque para fins expansionistas mais aconchegados. A Ucrânia, que ainda há pouco adquirira a sua autonomia relativamente à URSS, virava-se agora para o Ocidente, com a Crimeia a reboque. O Ocidente encorajou, mas logo a Rússia ocupou a Crimeia, o ponto estratégico da sua retomada de forças e de posição no mundo.
Teresa de Sousa responde que não vai ser assim. O retorno da Rússia ao seu antigo estatuto de união de repúblicas de que fora usurpadora já não ia processar-se, apesar do desprezo de Putin pela fraqueza ocidental, que impõe sanções à Rússia na esperança de que a Rússia recue. Uma guerra nesta era nuclear não interessa, de facto, a ninguém. Teresa de Sousa confia no peso da democracia, que já venceu fascismos e comunismos, para fazer frente a retornos desses pavores.
Oxalá tenha razão, Teresa de Sousa.
Nisto tudo, parece-me que os Ucranianos é que falharam, na sua maioria, tanto os da Crimeia como os da Ucrânia que lutam pelo pãozinho, que lhes vem da união com a Rússia, e que não desejam perder, mais importante do que essa outra coisa que é a da liberdade sem pãozinho, que é como nós cá, por estas terras democráticas andamos a viver. Com as devidas excepções, na questão do pão.
Lembro este nosso pequeno país, muitas vezes sem pãozinho, mas lutando pela sua independência (com excepções também, na questão da luta), apegados ao seu torrão, à sua história, aos seus artistas. Poderíamos servir de exemplo aos Ucranianos pró-Rússia, que desrespeitam os seus irmãos que desejam ser livres.
“A BALANÇA”, por Vasco Pulido Valente:
Como império continental, o império russo sempre teve o problema de estabelecer para si, e sob seu domínio, uma saída para o mar. Pedro, o Grande, construiu Petersburgo, julgando que ficava mais perto da Europa. Mas só parcialmente conseguiu o que queria; durante muitos meses por ano o Báltico oriental gelava e não permitia qualquer espécie de navegação. O verdadeiro ministro dos Negócios Estrangeiros do império, por exemplo, acabava por ser o embaixador em Londres. Catarina, a Grande, resolveu parcialmente o problema quando conquistou a Crimeia e construiu Sebastopol. Agora, sim, adquirira um porto de águas quentes, que estava aberto o ano inteiro e, por isso mesmo, se tornou a via principal da influência russa no Ocidente. Militar e comercialmente, era insubstituível.
Não foi por acaso que a única invasão triunfante da Rússia nos tempos modernos (1853-1856), pela Inglaterra e a França de Napoleão III, se pôs como objectivo principal conquistar a Crimeia. Toda a gente sabia que, sem Sebastopol, a Rússia voltaria ao seu isolamento e pouco a pouco perderia o seu peso na Europa. Como não foi por acaso que na I Guerra a Alemanha trouxe a Turquia para o seu lado e na II Hitler aturou (com dificuldade) a sua neutralidade e tomou Sebastopol logo que pôde (von Manstein). A ajuda aliada veio pelo Pacífico, com o prejuízo que implicava transportar o material para a frente de combate, e pelo mar Branco, transitável poucas semanas por ano e sujeito ao ataque dos submarinos da Alemanha. Sem Sebastopol, o império enfraquecia.
Claro que com o advento do comboio, e a seguir do avião de carga, as coisas mudaram. Sucede que tanto o comboio como o avião custavam muito mais do que o navio de mercadorias. E, além disso, a Rússia continuava impedida de construir no Ocidente uma marinha de guerra, capaz de agir a qualquer momento (supondo que a Turquia a deixava passar para o Mediterrâneo). Não admira que Sebastopol se tornasse num emblema do nacionalismo russo e da sua “porta aberta” para a Europa e para o Atlântico. A UE e a América não perceberam a tempo que o renascimento do império, com Putin ou sem ele, iria levar ao programa primário de recuperar a Crimeia. E encorajaram a Ucrânia, a que a Crimeia pertencia por uma extravagância de Khrutchov, a criar uma dependência, se não uma “aliança”, com a Europa. O que devia suceder, sucedeu: não o regresso à guerra fria, o regresso à velha balança das potências do século XIX.
“DESTA VEZ É DIFERENTE” por Teresa de Sousa
1.Estamos tão habituados a criticar a eterna indecisão da União Europeia quando se trata de questões de segurança internacional que, por vezes, não conseguimos detectar a mudança. Podemos talvez agradecer a Vladimir Putin o facto de, desta vez, as coisas não serem assim.
Podemos dizer que a União Europeia não prestou a devida atenção à sua estratégia brutal para regressar ao estatuto de grande potência a quem os EUA têm de fazer a devida vénia. É verdade. Imagina-se facilmente que, durante as negociações do Acordo de Associação com a Ucrânia, a eurocracia não deve ter prestado a mínima atenção à realidade política envolvente. Os líderes europeus andam há tanto tempo mergulhados na crise do euro, que pouca atenção devem ter prestado à “parceria oriental”, uma daquelas coisas que a Europa faz quase automaticamente e que já pouco tem a ver com a realidade europeia. Em Dezembro, Putin forçou o “seu” Presidente ucraniano a não assinar o acordo. No dia seguinte, foi o que se viu em Kiev. A velocidade dos acontecimentos deve ter surpreendido tanto a Europa como o próprio Presidente russo. A surpresa não o impediu de reagir aos acontecimentos de forma a ocupar a Crimeia e a demonstrar aos países europeus que fazem fronteira com a Rússia que mais vale portarem-se bem.
Putin calculou mal alguns aspectos da sua estratégia. Ocupou a Crimeia e integrou-a na Rússia em menos de oito dias, com um referendo que foi uma farsa e que, até agora, ninguém reconheceu como legítimo. Continua a ameaçar o território oriental da Ucrânia, alegando a protecção da minoria russa. Como escrevia Jim Hoagland, colunista do Washington Post, cometeu o erro de proclamar a sua nova doutrina: “Moscovo intervirá para proteger os russos étnicos noutros países contra perigos imaginários”. Esta doutrina não é apenas um desafio à União Europeia e à NATO, é também a mensagem errada para obrigar as antigas repúblicas soviéticas a integrar-se na sua União Euroasiática. Tudo isto já é conhecido. Mas Putin falhou na avaliação que fez da resposta europeia, cuja fraqueza olha com um enorme desprezo, contando com a suas eternas divisões, muitas delas ditadas pelos negócios, incluindo a energia.
Para que a sua avaliação tivesse sido correcta, era preciso que a Europa não tivesse percebido o óbvio: que a ocupação da Ucrânia e a ameaça a outros países foi aquilo que em língua inglesa se chama de “game changer”. Por mais distraída que viva em relação ao mundo que a cerca, há coisas que não pode ignorar. Foi o que aconteceu. “A conduta da Rússia é interpretada erradamente como o início de nova guerra fria com a América”, escreve a Economist. “Coloca uma ameaça mais ampla porque Putin conduziu um carro de combate contra a ordem existente”. Para Obama é um momento fundamental: “tem de liderar, não apenas cooperar”. Para a Europa, o reforço da NATO e o fim da dependência energética passam a ser cruciais.
2.A grande novidade é a Alemanha. Enquanto David Cameron ainda lia memorandos sobre como preservar a City do eventual congelamento dos bens dos oligarcas e a França se punha a fazer contas aos “Mirages” que queria vender à Rússia, Angela Merkel já tentava coordenar a sua resposta com Obama. Em todas as suas declarações, no Bundestag ou fora dele, a chanceler deixou claro que esta não era uma crise como as outras e que a resposta não poderia ser a mesma de sempre. Com o seu peso político, contribuiu decisivamente para que a Europa não se dividisse. Foi a principal interlocutora de Obama, mostrando que a Alemanha não se preocupa apenas com a economia. A partir daqui, o caminho vai ser mais difícil. No Conselho Europeu da semana passada, Cameron e Hollande já tinham deixado para trás a City e os Mirages, defendendo a quase inevitável “fase três” das sanções económicas, enquanto Merkel se mantinha mais prudente (não tanto sobre a sua inevitabilidade, mas quanto ao ritmo a que devem ser anunciadas). As relações económicas entre a Alemanha e a Rússia são enormes. Pode dizer-se que as sanções políticas aplicadas pelos EUA são muito mais duras do que as europeias. O comércio entre a União e a Rússia é 10 vezes maior do que o dos Estados Unidos e a dependência energética necessita de uma forma qualquer de encontrar alternativas.
Ao centro, canta e dança uma espanhola com todas as saias, com todas as cores, com todas as castanholas e todas as pandeiretas... Dança para todos os lados e tem uma flor no cabelo e do outro lado um pente, e uns brincos e um sinal e etc... E se não tem mais coisas bonitas é porque não pode ser. E dança cada vez mais! Viva la gracia!... Olé!...
Coitados dos espanhóis; são felizes; todos cor, barulho, toiros e superfície...
Já meus avós, vossos mestres, se queixaram de vocês...
Somos muito diferentes, na verdade.
Dançai, cantai, declamai, que eu vejo-vos enquanto bebo uma taça e passo o tempo.