Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Vem bem a propósito falar sobre gastronomia nesta época do ano quando, os que podem, enchem a barriga de petiscos, almoçaradas, jantaradas, bacalhauzadas, perus, bolo-rei (que aqui no Brasil não existe que preste!!!!) e outras iguarias, em festa com a família, com os colegas e... muitas vezes, num agitado sossego, com “aquela/aquele” chamados da mão esquerda, que toda a gente sabe que existe e só os dois pensam que vivem no doce secretismo da mentira!
Os assuntos aqui focados foram repescados de um dos magníficos livros de José Quitério, um mestre em gastronomia e história, uma delícia a ser lido, como os outros: Histórias e Curiosidades Gastronómicas. Tenho este livro há uns trinta anos e creio que foi a terceira vez que o fui ler, aliás, reler.
Comecemos por Ho Chi Min. Nguyễn Sinh Cung nasceu em 1890 e somente mais tarde seria mundialmente conhecido como HồChí Minh ("aquele que ilumina"). Ele era pródigo em pseudónimos, muitos usados para despistar inimigos e outros por fetiche. Em 1911 começa a trabalhar como cozinheiro num navio francês que o levou à Europa e usou Nguyen Van Ba. Instala-se em Londres em 1915, e depois parte para França, onde vive como jardineiro e garçom. Envolve-se com os movimentos socialistas franceses e ajuda a fundar o Partido Comunista Francês. Em 1941 funda a Liga Vietcong, para lutar contra os Franceses. Durante a II Guerra Mundial utiliza a guerrilha no combate aos japoneses, invasores da Indochina. No fim do conflito, forma um Estado independente ao norte, o Vietname. A França contra-ataca e a Guerra da Indochina só termina em 1954, com a grande derrota dos franceses em Diên Biên Phu. O país é dividido em dois. Ho Chi Minh, presidente do Vietname do Norte, treina e aparelha as forças da Frente de Libertação Nacional do Vietname do Sul (Vietcong), que visam reunificar o país, o que leva à Guerra do Vietname. Morre em Hanói em 2 de Setembro de 1969. Em 30 de Abril de 1975 um tanque Norte-Vietnamita entrou no palácio presidencial do regime Sul-Vietnamita encerrando mais de dez anos de sangrento conflito. Saigão, antiga capital do Vietname do sul, foi rebaptizada com o nome de Ho Chi Minh.
Actualmente, ainda é mantido no Vietname gigantesco culto a Ho Chi-Minh: a sua imagem é presente em quase todo o lado, em salas de aula e altares de famílias.
Tudo isto é muito bonito, mas onde fica a gastronomia? “Ouçamos” José Quitério.
Manuel Teixeira Gomes, o 7° presidente da República de Portugal (1923-1925), deixou uma razoável obra literária. Em 1911 é nomeado Ministro de Portugal em Londres, o primeiro a seguir à implantação da República, onde fica, com um pequeno intervalo, até 1922. Em 1923 é eleito Presidente da República.
“Enquanto embaixador na capital inglesa Teixeira Gomes comia no famoso Hotel Carlton e ali levava seus convidados. Um dia, conta Urbano Rodrigues, fui surpreendê-lo no “hall” em conversa animada com um Senhor baixo, de bigodeira grisalha, vestido de escuro, que segurava numa das mãos o chapéu de côco, enquanto com a outra gesticulava em estilo de orador. Falavam em francês e o Senhor de côco não poupava as “Excelências”. Como, discretamente, eu esperava afastado, o Ministro de Portugal chamou-me e disse-me depois do aperto de mãos: - Não conhece? É o nosso colega Mr. Scoffer.” Quando, algum tempo depois, Urbano Rodrigues se deu conta de que tinha sido apresentado ao cozinheiro do Carlton, não se coibiu de perguntar que era isso de serem colegas. “Porque é autor de livros!” retorquiu o nosso Embaixador. “Quem nos dera, meu amigo, ganhar com os nossos, o que ele recebeu pelos seus”. Era, efectivamente, Auguste Escoffier, o maior cozinheiro dos tempos modernos, que Teixeira Gomes tratava como confrade, nas letras e nas artes.
Como curiosidade histórica saiba-se que nessa altura trabalhava como ajudante de cozinha de Escoffier um jovem vietnamita que se fazia chamar simplesmente por Ba, nada mais do que o futuro Presidente Ho Chi Min.”
E esta, hein?
E a palavra “restaurante”? Até à revolução Francesa só em botequins e estalagens se serviam refeições, e nos famosos cafés de Paris, dos quais o mais famoso e antigo é o “Procope”, inaugurado em 1686, pouco mais se servia do que o café, algumas goluzeimas e sorvetes. O café era o ponto de reunião dos parisienses, era ali que tudo se discutia e durante a Revolução alguns serviram como salas de assembleias de revolucionários e outros aos moderados. Cafés para todos os gostos e opiniões e até mulheres que raramente apareciam nesses lugares ali passaram a ser vistas com frequência.
Em 1765 um tal Boulanger, ao contrário das estalagens e tabernas onde só eram admitidos clientes para comer, fundou um estabelecimento e colocou na porta a seguinte tabuleta:
“VENITE AD ME OMNES QUI STOMACHO LABORATIS EGO RESTAUROBO VOS”
A palavra “restaurant” significava então “fortificante” e aplicava-se a certos caldos reparadores à base de galinha. Boulanger alargou a lista, o que lhe valeu logo um conflito com os estalajadeiros porque a actuação dessas profissões – estalajadeiros, taberneiros, salsicheiros, assadores e pasteleiros – estava estritamente regulamentada à maneira das corporações medievais.
Mas o novo sentido de “restaurant” é consagrado oficialmente em 8 de Julho de 1786, num acordo que permite aos “restaurateurs” receber clientes e fornecer-lhes de comer.
O que passou a distinguir o restaurante dos botequins, tabernas e congéneres era o asseio e o luxo da decoração.
Ainda com a Revolução Francesa, não necessariamente como consequência desta, nasce o bife à Chateaubriand – por ironia, um contra-revolucionário – e na mesma época o garfo tal como hoje o conhecemos, com quatro dentes! Há quem diga que surgiu antes, mas... Há quem diga que foi porque o garfo de três dentes não segurava o esparguete! Um quarto ente resolveu o problema!
Só mais um detalhe de outro produto muito nosso conhecido, sobretudo por ser o “prato forte” no tempo das navegações e descobertas: o biscoito.
Em qualquer dicionário lá vem a origem do nome, mas como não se lê o dicionário como um romance ou um livro de história, só quando surge a dúvida e/ou a ignorância é que o consultamos e ficamos muito admirados porque “está-se mesmo a ver”: do latim biscoctus, bis todos estamos cansados de saber que é repetir, tornar a fazer, e coito – deixem-se de maus pensamentos porque não vem do latim couitu, “ato de juntar” – vem de coctu, “cozido”. Quer dizer que o biscoito é, ou duas vezes cozido, ou cozido durante mais tempo para que possa ficar bem seco. Quando mais cozido fosse, naquelas viagens de naus e caravelas, em princípio mais aguentava, mas ficava “duro como corno”. O Padre D. Rafael Bluteau no seu Vocabulário Português e Latim, chama-lhe “pão do mar” ou pão náutico”.
Por enquanto chega. Mais tarde falaremos de outras coisas.
Que todos, TODOS, tenham um bom 2014, e que não lhes faltem biscoctus!
24 de Dezembro de 2013
Um título a glosar e a apoiar o artigo – «Sem Barulho» -
de Vasco Pulido Valente,
que dará o brado que merece,
tão justas e certeiras são as observações
neste seu quase diário mergulho
próprio de um espírito
extremamente clarividente,
como é
o de Pulido Valente,
sobre o que se passa com a gente:
Saiu no “Público” do dia 20,
décimo segundo mês,
deste ano do Senhor, 2013,
que para o ano será melhor,
- se for.
É sobre mais um partido a formar,
neste nosso país de aquém mar
com algumas ilhas muito belas em redor,
por isso 2014 deverá ser
melhor:
um partido de mais uns tantos
“Vencidos da Vida”
que é o mesmo que dizer
de “barões assinalados”
que se propõem salvar
a pátria dos seus antepassados,
certamente que com graves almoçaradas
próprias do vencidismo e das mais patacoadas
a que nos habituámos
neste nosso reino lusitano
bacano.
Leiamos
para que saibamos,
na esperança de nos safarmos
com esse novo partido convencido
de que nos vai dar o paraíso,
embora de ambição semelhante
à dos fundadores de antigamente
- desde o 25 de Abril primaveril:
«Sem barulho»
O Dr.Manuel Carvalho da Silva, depois de ter garantido na Rádio Renascença que não tencionava fundar um novo movimento político, assinou um papel em que se comprometia a fundar um “amplo” movimento político que apoiasse uma candidatura ao Parlamento Europeu. O Dr. Carvalho da Silva não é, evidentemente, obrigado a pensar hoje o que pensou ontem; e de toda a evidência nada lhe garantia ser o nº 1 de uma lista eventual do “Partido Livre”. Apareceu, assim, um manifesto, o “manifesto 3 D”, que oferece uma espécie de partido aos portugueses, desde “erradicar a pobreza” a “pôr fim aos resgates”, com esse ou outro nome. Não falta nesse caderno de encargos nada que um adolescente analfabeto não pudesse querer, excepto a ideia um pouco obsoleta de ressuscitar os mortos.
Os 3D do Partido Socialista em 1974 eram “descolonizar, democratizar e desenvolver”. Os 3D de hoje são “a dignidade, a democracia e o desenvolvimento”. Aparentemente, 40 anos não chegaram para o trivial, apesar dos fundos da “Europa” e muita parlapatice. Como os promotores do “movimento” dizem, e dizem bem, “é tempo” de tratar seriamente do caso. Infelizmente, a grande maioria desses promotores já tentou e já falhou na missão urgente de salvar a pátria. Vieram do PC, do Bloco, do PS, do vaporoso “Partido Livre”, mesmo do lúgubre PRD do general Eanes. Ou seja, arrastam atrás de si uma carreira de tristeza e fracasso, de inutilidade e arrependimento. Muitos estão, de resto, reformados e não se deviam meter em aventuras liceais, deviam ficar em casa a beber chá e a ler os livros que não leram.
O actual modo de vida dos “promotores” também não inspira uma especial confiança. Há dúzias de professores de Lisboa e de Coimbra, artistas de vária pena e pinta, um doutorando em “estudos de cinema” e um humorista. Mas ninguém, ou quase ninguém, ligado a uma empresa, ou a uma câmara, ou a qualquer serviço da administração central. O “programa” do “manifesto” mostra esta ignorância essencial. Parece que os “promotores” imaginam que a sua vontade só por si, reunida, por exemplo, num hotel ou no Teatro Trindade, basta para mudar o mundo e o país. Não basta, como é óbvio. Bastará talvez para eleger Manuel Carvalho da Silva (ou um anónimo solitário) deputado ao Parlamento Europeu, onde o mandarão calar como ele merece. A esquerda “sem filiação” devia arranjar outra maneira de se entreter. Sem barulho.
Eis uma lição magistral -
mais uma- que nos ensina,
- tal como o fado fatal -
histórias da nossa sina.
Só duvido do “arrependimento”
dos promotores do tal movimento.
“Se bem me lembro”,
nunca ninguém o afirmou,
nem se enforcou
na figueira da sua penitência,
como o Judas da outra pendência.
Paciência!
Mas concordo com o “chá”
e com os livros nunca lidos
pelos falsos arrependidos
e mais etc. e tal.
Peço perdão pela escolha
do verso da minha sina,
duma rima pequenina,
risonha e livre
de arabescos belos.
Usei-o como um brinquedo, afinal,
Trazido pelo Pai Natal
só para mandar o meu "chiu"
a tanto piu piu.
Mensagem para uma viagem
Do ameno Tejo até ao Danúbio azul
Vai Salles da Fonseca viajar
Para trazer notícias cá ao paúl
Que possam nossas mentes arejar.
Ou arear,
Que a fuligem que as cobre
É mais que muita num país de fome,
- Embora de origem nobre.
Boa viagem,
Boa estada junto a uma Merkel de sagaz imagem,
De trabalhadora séria sem miséria,
Dum país de febra
- Um país de fibra.
Gregório III Laham (árabe: غريغوريوس الثالث لحام),
actual Patriarca Greco-Melquita de Antioquia e
de todo Oriente, Alexandria e Jerusalém
Os Factos revelam as revoluções islâmicas ao serviço da hegemonia muçulmana
Depois da queda dos regimes autoritários no Norte da África, Próximo e Médio Oriente aumentou a perseguição aos cristãos e às minorias religiosas. Os países onde mais se perseguem e discriminam os cristãos são os seguintes:
A Síria encontra-se assolada por um guerra civil entre muçulmanos sunitas e xiitas mas quem mais sofre as consequências colaterais é a minoria cristã embora se abstivessem de intervir no conflito entre o G overno e a oposição. Cerca de 40% dos cristãos tiveram de fugir do país. Na Síria 10% da população era cristã.
A Turquia, nos últimos anos, deixou de atacar directamente os cristãos com actos de terror mas continua a fazê-lo no dia-a-dia através das suas práticas e legislação (Cristãos são bem vindos na qualidade de turistas). Os cristãos são identificáveis por um determinado número no Bilhete de Identidade, o que simplifica a discriminação burocrática. No século passado 25% dos habitantes da Turquia eram cristãos, hoje já só há cem mil, o que corresponde a cerca de 0,1% de cristãos.
O método do Jihad ("empenho", "esforço", guerra santa) no âmbito interno e a nível exterior revelou-se na melhor estratégia de imposição do próprio poder/religião e de expansão muçulmana através dos tempos.
No Iraque em 2003 havia 1,5 milhões de cristãos. Devido à contínua perseguição, hoje só vivem no Iraque trezentos mil cristãos.
No Egipto, cuja população conta com cerca de 10% cristãos, continua a violência e discriminação contra eles. Depois de muitas igrejas e instituições cristãs terem sido incendiadas espera-se agora uma legislação discriminadora mas não tão violenta contra cristãos e minorias.
Este ano, no Paquistão, um atentado a uma igreja matou 150 cristãos. Muitos cristãos são perseguidos e mortos em nome da lei arbitrária da blasfémia. Segundo a comissão asiática dos direitos humanos, no Paquistão “o direito à vida perdeu todo o sentido”.
Nas Filipinas os rebeldes islâmicos do Moro National Libertation Front provocam a fuga de 150 mil refugiados e centenas de mortos e feridos.
Na Nigéria, grupos islâmicos, na luta por um estado islâmico, obrigam raparigas a serem casadas com homens islâmicos (a transmissão do Islão está acoplado ao homem) e a serem islamizadas. Dezenas de milhares de cristãos encontram-se em fuga para o sul.
Na Coreia do Norte a simples declaração de que se é cristao, bem como “a posse de uma Bíblia já chega para prisão” (HNA, 24.12).
Hoje, os regimes totalitários não toleram o cristianismo porque sabem que o cristão traz consigo o ‘vírus’ da liberdade.
Na China há 80 milhões de cristãos. O regime tem-se mostrado mais moderado na violência contra os cristãos.
Muitos cristãos vagueiam pelo mundo fora à procura de asilo na fuga à perseguição dos “Herodes” actuais, tal como “aconteceu” com Jesus na sua fuga para o Egipto. Os países onde os cristãos são actualmente mais perseguidos ou descriminados são a Nigéria, o Iraque, o Egipto, a Síria, a Turquia, o Paquistão, a Coreia do Norte e a China. Por grande parte do mundo, hordas muçulmanas, a partir do momento em que alcançam uma determinada percentagem na população, desestabilizam Estados e regiões. Com esta tática conseguem expandir a sua influência e islamizar regiões anteriormente livres.
Antigamente, impunham o seu ideário pela espada no seu impulso contra tudo o que não era Islão (especialmente até à Era Osmana).
Hoje, islamitas e Estados muçulmanos usam da espada do terror e Estados mais moderados usam da espada das leis discriminadoras.
Ser cristão implica viver ameaçado. Uns ameaçados e inculpados pelas barbaridades que cristãos cometeram outrora e outros pela perseguição muçulmana em curso.
Para o próximo ano a melhor prenda que Alá poderia conceder à humanidade seria uma “fatwa” contra a violência!
Natal já tem traz de porta
Logo cai na quartafêra;
Vença nos armá presepio
E aranjá candêa cera.
Nôs tem sagrada familia,
Pastor, vacca tem bastante;
E tem também três Rê mago
Montado na elephante.
Nôs tem Minino Jesús,
Sam José com Nossiôra;
E tem bastante pastor
Com dez ou doze pastora.
Mandá fazê unga estrado
D' altura de nosso pêto;
Armá presepio de riba
Logo pôde olá bemfêto.
Nôs dipois de missa-gallo,
Vamos sandê todo luz;
Chomá gente de vizinho
Cantá Minino Jesus.
Na Macau padre Manuel
Com mas dôs ou três sium-sium
Chega festa de Natal
Canta: gorung, gorungung
Aqui Adeste fidelis
E venite e más venite;
Como eu non sábe latim
Ai senti que non tem chiste.
Padre Manuel na Macau
Fica na rua de Pala
Já fazê unga presepio
Que ocupá metade sala.
Sua lapa qui bonito...
De fóra inchido de fula.
Minino Jesus na pala
No meio de vaccas e mula
Nossiôra e Sam José
Ali perto dozelado,
Cobri corpo de sua filo
De frio quasi gelado.
A' riba de lapa unga anjo
Aguando desce de ceo
Co´unga letréro escrevido
— Gloria in excelsis Deo. —
Tem uma estrélla na ceo,
Qui bonito vôs olá !
E tem três rés que, de longe,
Bota óculo, observá.
Sim, padre Manuel fallá
Qui aquelle são três rés-magro
Mas eu senti bem de gordo
Tudo costa bem de largo.
Unga ré são portuguez
Otro moro, tem turbante;
Otro cafre beco grosso,
Corpo inchido diamante!
N'unga canto de presepio
Inchido de arve de côoco;
Macaco subi, descê.
Igual como jugá sôco.
Rê Herode com sua tropa
Com espada, chuça e lança,
Corê como diabo solto
Mata tudo criança-criança!
De tanto ancuza que tem,
Que eu agora já esquecê;
Mas tem unga crueldade
Eu de medo já tremê!!
Vôs olá p´ra tudo rua,
P'ra tudo canto e travessa
Inchido criança macho
Tudo morto sem cabeça.
Vae tudo vanda ouvi choro
Tudo mãi berrá, dá grito;
Sam José com Nossiôra
Fuzi com Jesus p'ra Egypto
Padre Manuel são capaz,
Elle tem bastante gêto;
Agora não pôde olá
Presepio assim bemfêto.
Filippe M. de Lima
(poeta macaense)
- W -
Wahhabismo ou uaabismo - Movimento religioso ultra-conservador muçulmano criado por
criado por Muhammad bin Abd al Wahhab na Arábia central em meados do séc. XVIII. A divulgação e crescimento do Islão em grande parte foi a responsável pelo sucesso do movimento wahhabbi ao inspirar os ideais do movimento “Irmandade Muçulmana” (Ikhwan)), hoje com forte presença além da Arábia Saudita, no Egito, Paquistão, Afeganistão e Turquestão.
ENSAIO SOBRE RELIGIÃO – 25
- X -
Xiitas - Depois da morte deMaomé, em 632, muitos acreditavam que o Profeta havia escolhido como seu herdeiro e sucessor o seu genro e primo Ali ibn Abu Talib. Logo após o falecimento, a escolha do novo califa foi organizada, mas, enquanto Ali e sua família aprontavam o enterro de Maomé, alguns sahaba, companheiros do Profeta, elegeram o novo governante da comunidade islâmica. Sendo assim, Abu Bakr foi designado o novo califa. Antes de morrer, Abu Bakr designou seu sucessor, Umar, que foi assassinado em 644, dez anos mais tarde. Após ele, Uthman, da dinastia omíada, ocupou o califado até 656, ano em que foi assassinado. Finalmente, Ali assumiu o poder.
ENSAIO SOBRE RELIGIÃO – 26
- Y -
Yama – Deus da morte, na Índia. É um dos deuses mais antigos.
Yantra – Diagrama mágico abrigando uma divindade, instrumento de meditação.
Yezidis – “Adoradores do diabo”, membros de uma seita na Arménia, perto do Monte Ararat,
Yoga – Do sânsc. “união”, método de obtenção do controle de si por uma severa disciplina do corpo.
ENSAIO SOBRE RELIGIÃO – 27
- Z -
Zaratustra – Chamado Zoroastro no Ocidente, reformador da religião iraniana cerca de 700-630 a.C. A sua doutrina está exposta no Zend-Avesta. Criou um colégio de magos – sábios – e teria sido sepultado em Persópolis. Morreu assassinado pelos turanianos.
Zend-Avesta – Zend foi o nome dado no século XIX à língua avéstica, e significa !comentário”.
Zigurate – Templo mesopotâmicos, em forma de torres imensas, com degraus, que serviam para a observação dos astros.
Zohar ou Sepher Ha Zohar – “O Livros dos Esplendores”, comentário alegório do Pentateuco que forma a obra mais importante da Cabala.
ENSAIO SOBRE RELIGIÃO – 28
Conclusão
Parece poder concluir-se que o homem é um bicho mau. O único que mata o seu semelhante não para se alimentar ou “tentar” melhorar a espécie pela procriação do mais forte e saudável, mas por ganância. Desde os tempos mais remotos.
A história mostra-nos ainda, em todas religiões ou crenças, homens e mulheres que procuraram o entendimento, a compreensão, a união, e até entre muçulmanos quem pregasse a emancipação das mulheres. Quase todos estes foram ou presos, ou torturados, ou mortos.
A semelhança nas crenças do sobrenatural surgem evidentes com os primeiros escritos, cerca 2.000 antes de Cristo, e que passaram pelos persas, babilónicos, egípcios, hindus, hebreus, gregos até aos nossos dias, nalguns casos como pouquissima alteração.
Homens bons, pensadores e depois teólogos honestos, procuraram soluções para o homem-mau, mas esse “homem” não quer ser bom.
A única conclusão, conhecida de todos mas não aplicada pela esmagadora maioria, e que voltei a ouvir há poucos dias da boca de uma linda atriz indiana que representou, no cinema, uma versão de Romeu e Julieta:
O AMOR É A ÚNICA LINGUAGEM UNIVERSAL
que as pessoas compreendem.
Só ele pode unir os povos e acabar com as guerras, fome, capitalismo selvagem, tráfico de drogas, exploração das indústrias químicas e farmacêuticas, etc.
Rio de Janeiro, 05/Dez-2013
FIM
- V -
Vadãnta – Do sânsc. “fim do Veda”, um dos dez sistemas especulativos do bramanismo.
Vaideses – Ou Vaudois, membros de uma seita cristã, fundada em França por Pierre Valdo no séc. XIII, que viviam de maneira muito austera. Foram perseguidos, sobretudo no séc. XVII.
Valhala – Do nórdico antigo Valhöll, "Salão dos Mortos", é um majestoso e enorme salão situado em Asgard, dominado pelo deus Odin. Escolhidos por Odin, metade dos que morrem em combate são levados para o Valhalla após a morte pelas Valquírias, enquanto que a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freyja.
Veda – Do sânsc. “conhecimento divino”, escritura sagrada da Índia, levada pelos arianos aos povos autóctones, em sânscrito arcaico do séc. XII ao V a.C. A religião veda pela forma especulativa e sua organisação social é ainda a base de toda uma civilização.
Vedismo – A mais antiga religião da Índia que marcou a passagem do animismo e naturalismo primitivo para o Bramanismo e o Hinduísmo. Tinham os mais antigos livros sagrados e as mais antigas entre as obras sânscritas. Seus ensinamentos, por milhares de anos, foram transmitidos só oralmente, e depois compilados nas margens do lago Mãnasa-Sarovara, no Tibete. Eles acreditavam que quando uma pessoa falecia a alma desta pessoa se reencarnava na vaca.
Velhos cristãos – Nome dado aos cristãos jansenistas da Holanda, particularmente em Utrecht, e aos franceses que não aceitaram as condenações católicas nem as perseguições nos Países Baixos.
Vishnu – Um dos grandes deuses da Índia, oposto a Çiva. Ele é conservador e entre os períodos cósmicos descansa a dormir em cima da serpente Ananta.
Vudu – Culto animista espalhado desde as Antilhas até ao Brasil, herança de velhas crenças levadas de África.
Vulgata – Do lat. vulgatis, “vulgarizado”, nome dado à tradução da Bíblia feita no séc. IV, a partir do hebreu, aramaico e grego para o latim.
(continua)
Dezembro de 2013
- U -
Ulema – Nome dado aos doutores da lei e teólogos muçulmanos.
Ultramontanhismo – Sistema que, em França, admitia a autoridade do papa em matéria religiosa por oposição às doutrinas do galicismo.
Unção – Acção de ungir, colocar um pouco de óleo consagrado sobre uma pessoa para lhe conferir uma bênção, uma graça ou um sacramento.
Uniatas – Cristãos em geral orientais que estavam separados da igreja católica e reconheceram a soberania do papa.
Unitarianos – Fiéis de diferentes seitas religiosas que negam a Trindade.
Upanishad – Tratados de doutrina secreta que levaram à literatura védica, a base do hinduísmo, redigido desde o séc. VII a.C. até à Idade Média, estes livros são muito numerosos, entre 108 e 118.
Ursulinas – Religiosas da ordem de Santa Úrsula, fundada por Angèle Merici em 1535 para cuidar de doentes e educação de mulheres jovens.
(continua)
Dezembro de 2013
Ou quando um Nuno Crato é derrotado por um Mário Nogueira
Sou das pessoas que admira Nuno Crato desde que li o seu livro «O “Eduquês” em discurso directo» que me mostrou uma figura intelectualmente séria, ao lançar várias pedradas no charco de um ensino de mediocridade, politizado e dogmático, criador de insucesso, um ensino que descambara numa formação teórica de lugares comuns vazios de conteúdo e de rigor intelectual - como os tais slogans do “ensino centrado no aluno”, da “aprendizagem em contexto”, dos “saberes paralelos” do professor e do aluno, desrespeitadores do conhecimento verdadeiramente científico, um ensino piegas e redutor, responsável pelo caos escolar em que se transformou o ensino em Portugal, com as sucessivas políticas pedagógicas despidas de seriedade, favorecedoras do laxismo, da indisciplina, do desrespeito, da arrogância pueril.
O livro de Nuno Crato, bastamente documentado, volta a frisar a necessidade de avaliações finais em vários momentos da frequência escolar – 4º, 6º, 9º, 12º anos – acentua a impreparação de muitos alunos universitários, faz afirmações de escrúpulo intelectual reveladoras de preocupação pedagógica num país indecorosamente desleixado na formação escolar. Como a seguinte: É preciso centrar forças nos aspectos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica de professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento, da disciplina e do esforço.
São verdades de autenticidade, libertas da demagogia mentirosa e soez de arengadores como Mário Nogueira, verdades de um espírito cultivado em países de produção e cultura, como os Estados Unidos, onde trabalhou, e que pretende impor no seu país de arengadores e batoteiros. Mas não o consegue, que “os eduquês” estão enraizados em nós, seguindo no rasto de Rousseau e dos teóricos simplistas de uma educação de “escola aberta”, que queda ao nosso comodismo e desinteresse intelectuais.
Mas um país que aceitou subscrever um Acordo Ortográfico de um absurdo sem paralelo, e até com admissão facultativa de casos de dupla grafia, não deve preocupar-se tanto com os erros ortográficos e a falta de bases dos professores saídos da universidade. Por isso, os esforços de Nuno Crato em exigir mais rigor e mais competência, por meio de exames definidores de saberes, está condenado à partida. Que importam os erros ortográficos, se a minha língua me permite escrever o pretérito perfeito “chamámos”, “amámos”, … com acento ou sem ele, à escolha do freguês? Se outro slogan usámos do nosso “eduquês”, o da “pedagogia do erro” que, mais do que punitivo ou exigente de correcção imediata, parte do velho princípio do “errare humanum est” e o torna permissivo no “ensino-aprendizagem” (novo slogan do eduquês) até o aluno se decidir a eliminá-lo, segundo o princípio do “aprender errando”, (mais um).
Eis o motivo por que subscrevo – com mágoa – o artigo “O chumbo de Nuno Crato” de João Miguel Tavares, saído no Público de 17 de Dezembro, com o sobretítulo “O respeitinho não é bonito”:
Em Portugal, existem 160 mil professores que constituem a corporação mais poderosa do país: são muitos, prestam um serviço fundamental e constitucionalmente protegido, têm uma formação académica elevada, estão bem organizados, possuem acesso privilegiado aos meios de comunicação e os efeitos das suas greves têm um enorme impacto social.
Isto significa que o poder que possuem não é fruto do acaso, mas de um conjunto de atributos únicos, característicos da sua profissão e dificilmente amovíveis, que faz com que tocar nos seus direitos adquiridos seja sempre uma actividade arriscada para qualquer Governo e uma tarefa penosa para quem está à frente do Ministério da Educação.
Em simultâneo, o sindicato todo poderoso do sector só concorda com a mais microscópica alteração no “statu quo” quando o cometa Halley é visível da Terra. Estou certo, aliás, que Mário Nogueira partilha com os pilotos-aviadores da Segunda Guerra Mundial o hábito de colocar uma marca na fuselagem de cada vez que consegue abater um ministro da Educação. Nuno Crato, o homem que um dia sugeriu a implosão do edifício da 5 de Outubro, com certeza conhecia tudo isto de cor e salteado quando aceitou ser ministro. E, em 2011, já depois da sua nomeação, não poderia ter sido mais claro no Parlamento: “O ministério é uma máquina gigantesca que se acha dona da educação em Portugal. Eu quero acabar com isso.” Alguns milhões de portugueses assinariam essa frase por baixo. Incluindo muitos professores.
Mas se Nuno Crato não poderia ter sido mais claro, poderia – e deveria – ter sido muita outra coisa que até agora, espantosamente, não foi: um ministro prudente, inteligente, ponderado e justo. De facto, aquilo que ele tem vindo a implodir nos últimos anos não é o Ministério da Educação, mas sim o seu capital de prestígio junto dos professores – muitos dos quais o admiravam. E pouca coisa é mais exemplar desse desnorte do que esta malfadada prova de avaliação para docentes, que amanhã promete vir a dar confusão um pouco por todo o pais. Pior do que ser ministro e não mudar nada, só mesmo ser ministro e mudar o que não interessa: apanha-se pancada na mesma e as coisas não melhoram.
Não está em questão o direito de criar uma prova exigente, de acesso à profissão. Simplesmente, a solução encontrada é um triplo escândalo:
1) é uma prova com efeitos retroativos, humilhando quem já exerce há anos a profissão;
2) apenas abrange os docentes com a situação contratual mais frágil, acentuando a sua discriminação em relação a quem está no quadro, esse eterno oásis do funcionalismo público;
3) o acordo assinado com a FNE, que dispensa da prova (ou talvez não dispense, a teoria divide-se e os legisladores têm dificuldades com o português) quem já tem mais de cinco anos de serviço, é um vergonhoso tributo à máxima “a antiguidade é um posto”, que reduz o mérito do exercício de uma profissão à contagem de folhas de calendário.
É preciso ser-se mesmo muito mau ministro para, numa discussão com Mário Nogueira, perder a razão para Mário Nogueira. Mas foi precisamente isso que Nuno “Implosão” Crato conseguiu com esta prova moralmente injusta – porque atinge apenas os mais fracos – e politicamente idiota – porque humilha os professores sem necessidade. Deus nos livre, pois, dos iluminados, que, por acharem que sabem perfeitamente para onde vão, fecham os olhos a todas as injustiças que lhes aparecem pelo caminho.
Realmente, não basta ser-se intelectualmente bem artilhado e desejar criar caminhos de elevação cultural no país. Eça e a chamada “Geração de Setenta” também se esforçaram nesse papel de modernização que trouxe mudança e vitalidade, o mesmo tentariam os poetas do Primeiro Modernismo, mas são “missões” individuais, esporádicas, que, dando prestígio ao país, não conseguem forçar a deprimente crosta de miserabilismo intelectual e físico que os governos ajudam a criar, quer por aperto e restrição quer por esbanjamento, neste último caso, do que não nos pertence.
A escola pós 25 de Abril, falseando o seu papel de orientação com medidas de desorientação, como as que Nuno Crato aponta no seu livro “O “Eduquês” em discurso directo”, não vai mudar um percurso em que a maioria dos professores foi educado. Vivemos em democracia e o papel da liberdade é bem superior ao da compostura, segundo a reflexão.
Através do Natal no Lugar da Convergência
Natal é o dia do nascimento de um “rei” tornado menino. Este foi um acontecimento histórico, e ao mesmo tempo um evento transcendente e simbólico. Jesus é um segredo de amor, o Deus escondido que vai nascer nas trevas da noite. Não podia nascer de dia porque o nosso dia anda deslumbrado com o fogo mercantil, como mostrou já na expulsão dos vendilhões do templo. O véu da noite encobre a luz do verdadeiro dia. Aquela noite é uma noite-dia, uma noite feliz a germinar a vida e a dar à luz o futuro.
Jesus quis nascer numa gruta, numa caverna onde os animais, à maneira daquele tempo, se abrigavam. O rei divino não foi nascer na casa do rei nem no templo; ele é a origem de todo o nascimento.
Se observarmos a vida, com olhar atento, notamos que muitos eventos e a própria natureza são, ao mesmo tempo, realidade e metáfora, a apontar para outras dimensões. Ao observarmos a noite e o dia, as estações do ano, a interdependência de estrelas e planetas, os estados do tempo e das nossas emoções, notamos, por trás de tudo isto, um traço divino comum. Natal é o evento de Belém e conjuntamente pode ser o evento do nascimento para nós e para o mundo na gruta do coração, o seio da concepção. Em cada um se encontra um presépio, uma fenda na rocha, pronta a mostrar Aquele que se fez um de nós. O nosso Menino na gruta, é uma luz que vem do chão; é a manhã da neblina a desembrulhar a terra e o céu.
A gruta, a caverna é símbolo da profundidade da criação e da alma. Tal como a árvore, símbolo da vida, mantem as suas raízes escondidas no solo, que é seio a dar à luz e regaço a receber.
A criança divina surge numa caverna e com ela a energia cristã que, do fundo das catacumbas, leveda a cidade. Conseguiu furar a crosta terrestre, fazer uma fenda, uma amolgadela na superfície onde podemos mergulhar para reaver o mistério da vida. Neste sentido, os monges cristãos, dos começos do cristianismo, com saudades da vida, tornavam-se anacoretas, vivendo no deserto e em grutas. No seguimento da voz que vem do deserto cancelavam a vida do dia-a-dia para fazerem uma experiência de transformação. Aí, nas areias do deserto sentiam os passos de um povo em peregrinação à procura da gruta prometida e donde surge a vida plena. Deserto é o lugar das perguntas e das respostas, o tempo intermediário e preparatório onde nasce a fé para o Natal do tempo aberto. Dele irradia o sol do optimismo, o início da época da graça para toda o ser.
Na gruta ouve-se a voz do coração e a alma a ressoar. Angelus Silesius chamava ao coração a Câmara do Rei, a caverna de ouro.
Jesus nasce numa caverna e é, no fim, colocado num túmulo cavernoso. O divino encontra-se na caverna, o ventre maternal. A caverna, tal como o inconsciente são escuros, são o lugar do oculto. Quem não tem medo desce à escuridão da noite e lá encontra a luz.
Em cada pessoa se encontra um rei, um infante divino prisioneiro, à espera de atendimento e que se lhe abra a porta. O rei é um símbolo de Deus. A criança é por vezes um símbolo da nossa ipseidade (eu interior), do nosso professor interior. Jesus, na idade de 12 anos, instrói os doutores no templo. Também se revela na caverna do templo entre as pedras do intelecto e da ciência.
Aí, todos nós, doutores da lei, somos chamados a tornar-nos “pobres de espírito”, para sermos libertos (do desejo de poder do ego = Herodes) e assim podermos reconhecer o Emanuel e descobrir-nos a nós na pobreza divina. Todo o mundo, nas cores dos reis magos, vem reconhecê-lo a Belém.
Na metáfora da fuga da sagrada família para o Egipto, Jesus repete e recapitula nEle a História de Israel que regressa à casa paterna.
No presépio encontram-se o antigo e o moderno, o Egipto e os reis magos (culturas/religiões do mundo).
Por trás de mitos encontra-se verdade nas suas facetas real, histórica, filosófica, religiosa, e mística.
Naquela noite, naquela gruta se junta o presépio da vida. A estrela como destino dos pontos cardeais reúne no presépio toda a criação.
Os reis magos prestam-lhe homenagem com ouro (símbolo da realeza) incenso (da espiritualidade) e mirra (da imortalidade). O boi e o burro com o seu bafo condensam o calor da natureza para aquecer o Menino. Será também um burro que o levará para o Egipto e o trará triunfal a Jerusalém. Os anjos com a humanidade simples tudo canta e dá glória ao Deus Menino.
Francisco de Assis ao desnudar-se perante o pai, já conhecia a luz que vem da caverna (presépio). Lá se encontra a vida toda. Por isso, Francisco fomentou a representação do presépio com seres vivos numa harmonia primordial.
O Deus Menino libertou toda a natureza. Ele liberta tudo: o Homem, os povos e também os animais. Por isso Francisco chamava irmãos aos passarinhos, ao burro, à vaca; à vaca dócil e ao burro que por vezes insiste em que lhe respeitem a vontade. Também os animais de exploração agrícola têm o direito ao encontro e ao respeito da espécie. Também neles brilha a luz de Belém.
Em psicologia o burro é símbolo do corpo e da intuição; perante o perigo, logo ele reage e dá sinal. Francisco já dava o nome de burro ao seu corpo. Este reage à voz interior mesmo quando a vontade é dura e a tenta abafar. Quando se ignora a voz da alma, podem aparecer doenças, que são o toque de sino a lembrar que é tempo de ceder, tempo de descer à gruta para ouvir o ressoar da sua voz. A intuição é a voz do coração onde a sabedoria reside. Por vezes, atrelados ao cadeado do calendário, dançando ao ritmo dos afazeres, não se nota que o burro deixou a vida, já anda à rédea solta a dar coices à vida quando o seu mal é Burnout, Bordaline, falta de silêncio ou de carinho.
Natal é o luar onde converge o passado e o futuro, a realidade e o sonho, o desejo e a recordação. É uma realidade à maneira do tempo, impressa na alma da pessoa e dos povos, a querer transcender o tempo e o calendário. É uma maneira de ser, um estado de alma, a reunir a alegria e a tristeza de crianças e adultos, de seniores e jovens, de crentes e ateus, à procura do fulgor de um menino recolhido em Belém. Lá bem dentro de nós, à lareira do presépio, na magia do momento, crepitam desejos e preocupações a mostrar as chamas de um lume mais fundo…
O presépio revela-nos Deus a dizer que o nosso calor, a nossa frieza, a nossa justiça e injustiça são da nossa competência e responsabilidade porque surgem quando deixamos de ser presépio sem lugar para nascer o Deus Menino em nós. O nosso sentimento de justiça tem a ver com as coisas em nós resolvidas ou não resolvidas. Exigir de Deus uma sociedade justa seria exigir dele que nos tivesse criado como pedras sem eu nem tu, sem a diferença do mistério. Um tal Deus seria um deus das ideias, à nossa semelhança, um Deus ideia criado por nós. Um tal mundo perfeito seria um estado sem lugar para sonho, nem para alegria nem tristeza. Como poderia existir a alegria sem a sombra, sem a tristeza que lhe dá contorno? Como poderia haver o mar do sentimento sem a terra da razão que o sustem?
O Deus Menino vem à luz na gruta e não na praça pública. Ele está em nós e só se realiza quando nos descobrirmos presépio a revelar o salvador do mundo. Quando ele nascer em mim e em ti, então o mundo será uma aldeia em festa. Vamos todos à festa, a gruta é a direcção.
(*) Presépio, Machado de Castro
25 seguidores
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.