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A bem da Nação

AMAR PORTUGAL

 

Ainda há muita gente que ama verdadeiramente Portugal. Ama-o, não por ser grande e próspero, não pelas suas obras e feitos, não omitindo fraquezas e misérias. Ama-o por ser o que é. Ama-o por ser nosso. Ama-o por ser aquilo que somos.

 

Hoje é preciso dizer isto, pois o que se ouve é precisamente o contrário. A crise é má conselheira e a cada passo alguém sente a necessidade de denegrir a sociedade e insultar o País. Estamos mal e não era suposto estarmos. Houve erros, roubos, abusos que não eram para acontecer. Devíamos ser perfeitos e afinal somos humanos. Isso prova que o País não presta e temos de o censurar.

 

É indiscutível o terrível sofrimento de tantos e a legítima indignação por erros inacreditáveis, ultrajes descarados, crimes impunes. Mas tudo isso remete apenas para pessoas concretas, factos particulares, circunstâncias específicas. Extrapolar de situações individuais para injúrias colectivas é, em si mesmo, um erro, um ultraje, um abuso. Apesar de comum.

 

Existe mesmo um prazer mórbido em exagerar os males, uma satisfação doentia em coleccionar misérias e maldades. Muitos sentem ânsia em apregoar desgraças, em afirmar que sempre foi assim, que Portugal nunca saiu da "cepa torta", que "este país" não tem emenda. Em blogues e conversas de café surgem verdadeiros desafios, concursos, congressos de injúrias, aliás, no cumprimento de antiga tradição nacional. Há gerações que alguns intelectuais, cheios da própria superioridade, fazem questão em analisar e explicar a pretensa boçalidade nacional, esmiuçando causas de uma suposta decadência lusitana. Sem se darem conta de que esses esforços são, em si mesmos, os verdadeiros sinais da alegada decadência.

 

O País não é mau, apesar da inegável mediocridade dessas elites.

 

Esta crise, como todas as anteriores, não é sinal de especial fraqueza e inferioridade. Dramas destes existem em todas as épocas e latitudes. Todos os povos passam continuamente por momentos altos e baixos, épocas de grandeza e sofrimento. Faz parte da natureza humana. Afinal, cada crise é apenas um desafio à presente geração para vencer as dificuldades que lhe competem, como as anteriores fizeram. Como elas, podemos conseguir ou falhar. Mas a culpa do resultado não é do País, cultura ou tradição nacional. É mesmo só nossa.

 

Outro sinal, este inverso, do mesmo problema é a reacção que exalta a grandeza lusitana de forma exagerada e mítica. É verdade que, ao contrário do que dizem os mórbidos, há muito de que nos orgulhar na História, que tem características únicas e espantosas: as mais antigas e estáveis fronteiras do planeta, enorme diversidade em pequeno espaço, influência espalhada pelo mundo, resiliência, hospitalidade, bonomia, imaginação, improvisação. Tal não deve gerar orgulho, raiz de todo o mal, mas alegria e humildade.

 

Em tudo isto há mérito e sorte, empenho e acaso, misturado com muita mesquinhez. Afinal somos humanos. Grandes artistas e pensadores, grandes epopeias e resultados são sempre realizações de luz e sombra. Os Descobrimentos, gesta ínclita e decisiva, incluíram as maiores baixezas e vergonhas inimagináveis. Simplesmente porque foram humanos.

 

Além disso, como todas as realidades naturais, nasceram, cresceram, diminuíram e passaram. Chegou uma época, aqui como noutros locais, em que coube a Portugal traçar o rumo da humanidade. Fizemo-lo com grandeza e eficácia, no meio de muitos erros e males. Depois esse tempo passou, não por falha ou fado, mas simplesmente porque, como sempre através dos séculos, a História muda e outros apanham a onda. Não é portanto justificado nem o pedantismo patrioteiro nem o decadentismo masoquista. Portugal é humano e por isso tem crises e prosperidades, grandezas e misérias.

 

Acima de tudo, como todos os humanos, anseia ser amado. Amado precisamente como é. Esta é a única atitude séria: amar o País por ele ser nosso. O único que temos. Sem ele nada somos. Amá-lo com tudo o que tem de bom, e é muito, e o que fez de mal, que deve ser mais.

 

Felizmente muita gente ama Portugal.

 

21 de Maio de 2012

 

 João César das Neves

OS TOTALITARISMOS DO SÉCULO XX...

 

... GERARAM A "BANALIDADE DO MAL"

 

A estreia, hoje, de Hannah Arendt, de Margarethe von Trotta, e a apresentação em Outubro doDernier des Injustes, de Claude Lanzmann, ilustram duas visões opostas das tragédias do século XX.
 

Num dos seus primeiros textos sobre o fim da II Guerra Mundial, escreveu Hannah Arendt em 1945: "O problema do mal será a questão fundamental da vida intelectual do pós-guerra na Europa – tal como a morte se tornou fundamental no fim da última guerra [1914-1918]." É um tema que nunca abandonou.

 

O filme Hanna Arendt, de Margarethe von Trotta, estreia hoje (3OUT13) em Portugal. Todo ele roda em torno da questão da "banalidade do mal", levantada por Arendt no seu livro-reportagem sobre o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém, em 1961, que motivou, uma "guerra civil" entre os intelectuais de Nova Iorque e na elite judaica e deu lugar a infindos debates que ainda hoje se prolongam. Por isso o título inicial do filme era A Controvérsia.

 

Judia alemã, doutorada em Filosofia, Hannah Arendt (1906-1975) abandonou a Alemanha logo a seguir à tomada do poder por Hitler e refugiou-se em Paris. Internada num campo pelos franceses em 1940, foge e, com o segundo marido, Heinrich Blücher, alcança os Estados Unidos, passando em Lisboa.

 

Em 1961, era já uma reconhecida e influente pensadora. As suas primeiras grandes obras - A Origem dos Totalitarismos e A Condição Humana - datam de 1951 e 1958.

 

Quando Eichmann foi raptado na Argentina pela Mossad, em 1960, e levado para Israel a fim de ser julgado, ofereceu-se ao New Yorkerpara cobrir o processo. Pediu uma bolsa à Fundação Rockfeller e assistiu ao julgamento durante três semanas. As primeiras reportagens foram publicadas no jornal e depois reunidas e completadas no livro Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil (1963).

 

Justificou a assim a partida para Jerusalém: "(...) Tenho de fazer a cobertura deste processo, falhei Nuremberga, nunca vi esta gente em carne e osso e será provavelmente a única ocasião que terei para o fazer."

 

As reportagens no New Yorker suscitam imediatamente paixões e mal-entendidos.

 

Ela iluminava de uma forma inédita o problema do mal. Não via em Eichmann um ser patológico ou demoníaco, um "perverso sádico", mas um homem "terrível e aterrorizadoramente normal".

 

Que é o mal?

 

Arendt põe em causa a nossa noção tradicional do mal e não teme romper com a visão convencional. Pessoas vulgares, que em circunstâncias normais não praticariam crimes ou seriam respeitáveis, tornam-se monstros noutras circunstâncias.

 

No filme, diz pela voz da actriz Barbara Sukowa: "O pior mal no mundo é o cometido por pessoas vulgares, o mal cometido sem motivos, sem convicções, simplesmente por pessoas ordinárias que renunciaram à sua dignidade humana."

 

"Não escrevi que defendia Eichmann, tentei estabelecer o laço entre a mediocridade chocante do homem com o horror dos factos. (...) Trata-se de compreender, não de perdoar."

 

Foi acusada de "banalizar o mal" ou de relativizar a responsabilidade de Eichmann, por ter sido iludida pela defesa do burocrata nazi que organizou a "solução final".

 

Ele seria um fanático e não um medíocre. Historiadores, como a israelita Deborah Lipstadt ou o britânico David Cesarani criticaram a sua tese. Eichmann não era "um funcionário cinzento nem um burocrata-robot", escreveu Cesarani. As novas investigações "revelam a medida em que Arendt se enganou sobre Eichmann", sublinhou Lipstadt. "Ele revela um inteiro apoio e uma plena compreensão da ideologia nazi."

 

Os alemães "vulgares"

 

O problema é que Arendt nunca escreveu que Eichmann se limitou a obedecer a ordens. Sublinhou que Eichmann tinha enorme orgulho na deportação dos judeus e chegou a ultrapassar as ordens de Himmler para suspender as deportações em 1944, quando a Alemanha nazi estava prestes a perder a guerra.

 

O historiador Christopher Browning lançou uma luz nova sobre "a banalidade do mal". Publicou em 1992 o livro Ordinary Men. Reserve Police Battalion 101 and the Final Solution in Poland. É uma monografia sobre um único batalhão de polícia alemão. Estes homens massacraram 38 mil judeus. Não era os especialistas treinados das SS, eram homens vulgares, chefes de família muitos deles quadragenários, reservistas enviados para "manter a ordem" por incapacidade para o combate. Não eram racistas fanáticos. Por que se tornaram carrascos? Um deles declarou ao historiador décadas depois: "Esforcei-me, e consegui, apenas disparar sobre crianças. Acontece que as mães levavam os filhos pela mão. Então, o meu vizinho matava a mãe e eu a criança que lhe pertencia, dizendo-me que nenhuma criança sobrevive sem a mãe."

 

Numa recensão de novos livros sobre os crimes de "alemães vulgares", Browning exprime dúvidas sobre a justeza do olhar de Arendt sobre Eichmann, mas não sobre o conceito: "Arendt forjou um importante conceito embora com um exemplo menos correcto."

 

Hannah Arendt nunca desesperou. Escreveu em Eichmann em Jerusalém:

 

"Politicamente falando, acontece que em condições de terror a maior parte das pessoas sujeitar-se-ão,mas algumas não o farão, tal como a lição dos países aos quais a Solução Final foi proposta é a de que pode acontecer em quase todos os lugares, mas não acontecerá em todos. Humanamente falando, nada mais é exigido, e nada mais pode ser razoavelmente pedido, para que este planeta permaneça um lugar adequado para a habitação humana."

 

O debate da "banalidade do mal" foi, e é, muito mais complicado. Remeto o leitor para o excelente e rigoroso prefácio da tradução portuguesa (Eichmann em Jerusalém. Uma reportagem sobre a banalidade do mal, Edições Tenacitas, 2003), assinado por António de Araújo e Miguel Nogueira de Brito. Está disponível no blogue Malomil.

 

O olhar de Lanzmann

 

Por uma curiosa coincidência vai estar em Lisboa dentro de dias o cineasta e escritor francês Claude Lanzmann, autor do genial Shoah (1985), filme-reportagem que mudou o nosso modo de olhar a tragédia judaica. Vem participar numa retrospectiva da sua obra na Cinemateca e numa mostra de cinema francês organizada pelo do Instituto Francês de Portugal (IFP), entre 10 e 20 de Outubro.

 

Vem também apresentar o seu novo filme, Le Dernier des Injustes - uma alusão ao Último Justo, de André Shwartz-Bart - que será estreado comercialmente este ano.

 

A sua obra será também editada em DVD. O filme é produto de anos de entrevistas com Benjamin Murmelstein, grande rabino de Viena, nomeado por Eichmann como decano ou ancião do Conselho Judaico do gueto de Theresienstadt - a vitrina dos campos de concentração para mostrar aos estrangeiros. É o filme que encerrará o seu ciclo sobre a Shoah. Foi recebido em Cannes como um "grande filme histórico".

 

Um dos temas de interesse é o facto de tocar o segundo ponto da polémica sobre o livro de Arendt: a crítica à passividade das comunidades judaicas europeias e à colaboração dos conselhos judaicos com os nazis. Arendt foi acusada de culpar os judeus pelo seu extermínio. Uma capa do Nouvel Observateur, em 1966, titulava:

 

"Hannah Arendt é nazi?" Eram acusações delirantes a que Arendt respondeu na época: "Não havia possibilidade de resistir, mas havia uma possibilidade de não fazer nada." De resto, a sua posição sempre foi clara: "Quando se é atacado na qualidade de judeu, é enquanto judeu que ele se deve defender."

 

Lanzmann é o paladino actual dos críticos de Arendt. Le Dernier des Injustes é em parte uma crítica a Eichmann em Jerusalém, sobre a "banalidade do mal" e sobre o papel dos conselhos judaicos. Lanzmann começou a sua obra sobre a Shoah, em 1975, o ano em que Arendt morreu.

 

A interrogação, essa permanece: o que é o mal, o do nosso tempo?

 

 Jorge Almeida Fernandes

 

 

TRÊS GOVERNADORES DE ANGOLA

 

1593 - 1603

 

D. Jerónimo de Almeida (1593-1594) sucedendo ao irmão no governo de An­gola, (Francisco de Almeida, o que fez um monte de burrada!) compondo-se e condescendendo com os jesuítas, prossegue na conquista, e chamando a conselho os capitães e conquistadores velhos, ex­pôs-lhes a situação pedindo o seu parecer, ao que eles concordaram visto El-Rei desejar tanto a conquista das minas de prata de Cambambe essa fosse a empresa.

 

Obtido o acordo, seguiu para o Cuanza para castigar primeiro al­guns sobas rebeldes e apoderar-se das minas de sal, onde construiu uma fortaleza. Dispunha-se ainda, antes de ir sobre Cambambe, a atacar o Cafuxe Cambáre, célebre jaga que tanto trabalho nos deu, quando adoeceu gravemente, sendo obrigado a retirar para Luanda, deixando instruções para o prosseguimento da conquista, que Baltazar de Almeida, assumindo o comando das tropas, conduziu de forma a cair num ardil que lhe armou o soba Cafuxe, resultando a perda do seu exército, deixando mortos 206 brancos, além de muitos indígenas.

 

Não nos indicam os cronistas as intenções de João Furtado de Mendonça (1594-1602), que se lhe seguiu no governo, mas vemos que, abandonando a Quissama e Cafuxe, se dirige com as suas tropas para Icolo e Bengo, talvez na in­tenção de ir atacar os fidalgos fronteiros do Congo, que também jagas seriam. Acampando na época das chuvas, uma epidemia levou-lhe mais de duzentos dos seus soldados, e ele próprio, bastante doente, teve de retirar para Luanda. Restabelecido, marchou de novo pelo Bengo para o interior, cujos sobas castigou com severidade (1), mas entretanto os do sul atacaram Massangano, que, sempre heróica, soube resistir, até que o valente Baltazar Rebelo de Aragão, o Bangalambata como lhe chamava o gentio, foi mandado em seu auxílio e derrotou os atacantes perseguindo-os até à Quissama, onde foi fundar à sua custa um outro presídio, em lugar do que D. Jerónimo de Almeida deixara na Adenda, que melhor garantisse a posse das minas de sal.

 

Mais nos não dizem os cronistas da época sobre a acção de Furtado de Mendonça, e, contudo, parece fora de dúvida que por 1601 ou 1602, ele foi em viagem de negócio pela costa para o sul, chegando a Benguela, onde fundeou as suas embarcações, e, desembarcando, fez construir um fortim de madeira para se defender, com cinquenta homens que levava, de qualquer possível ataque dos naturais. Entrando em negociações com eles, rapidamente adquiriu grande quantidade de vacas e esplêndidos carneiros, milho e madeira de Cacongo, com que fez car­regar uma embarcação, e em poucos dias mais tinha quinhentas cabeças de gado, muito cobre e marfim, com que carregou mais três embarca­ções que levava, e regressou então a Luanda (2).

 

Da política de suborno empregada para tornar possível o domínio da Espanha, chegara-se à corrupção e desmoralização de todos e de tudo, e os negócios do Estado, pelo que diziam respeito às nossas con­quistas e à política externa, eram dirigidos conforme as necessidades e conveniências de Espanha, sacrificando-se os interesses de Portugal.

 

Felipe II deixara o reino empenhado e o Duque de Lerma, primeiro-ministro de Felipe III, tentou melhorar as arruinadas finanças espanho­las. Um dos rendimentos a explorar eram os assentos e as licenças para o fornecimento de escravos, que a Espanha, sem colónia alguma a não ser no norte da África, não tinha aonde os ir buscar na quantidade que precisava e se via na necessidade de contratar, concedendo determina­das vantagens a troco de uma renda certa ou cobrando uma licença.

 

Por muitos anos e por motivos de diversa ordem andaram os as­sentos e licenças nas mãos de alemães, flamengos e genoveses, fazen­do-se o angariamento de escravos, brancos, mouros, judeus e sobretudo negros, de princípio, nas ilhas do Mediterrâneo, principalmente na Sar­denha e ao sul de Espanha, na Andaluzia, onde eram numerosos. De­pois, à medida que as colónias espanholas se desenvolveram, passaram os possuidores de licenças a irem adquiri-los a Cabo Verde e por fim o Duque de Lerma pensou e bem, que melhor seria fazer o contrato com um português, visto as nossas conquistas da Baixa Etiópia serem ma­nancial inesgotável.

 

João Rodrigues Coutinho, fidalgo português da melhor linhagem (3), obteve em 1600 que o contrato dos assentos passasse para ele, obri­gando-se a fornecer anualmente às colónias espanholas 4.250 escravos e dando à Coroa de Espanha 162.000 ducados (4).

 

Das conquistas portuguesas, a que melhor podia satisfazer este im­portante fornecimento era a de Angola, e, para essa, mandavam-se go­vernadores e capitães aquele reino com intento de conquistar as minas de prata de Cambambe... dando juntamente os resgates dos escravos muito fructo, com o que aquelle governo foi tido em mais estimação (5), e, assim, João Coutinho deve ter calculado, que tendo colocação garantida para os escravos que comprasse, maiores lucros obteria se os pudesse res­gatar directamente, dirigindo ele as guerras. De dedução em dedução, deve ter terminado por concluir, que tendo de andar pelo interior em guerras para fazer escravos, também podia chegar às minas de Cam­bambe, e, terminando por propor o contrato da conquista das minas de prata, regularizando ou encobrindo tudo com o cargo de Governador (governou entre 1602-1603), proposta que foi aceite, por parecer que a dita conquista das minas se poderia fazer com menos despesa por via de contrato (6).

 

Mas não se contentou com isto e mais pediu, dando-lhe Felipe III de Espanha maiores prorrogativas que nenhum dos seus antecessores teve, pois levou a faculdade de distribuir mercês de hábitos de Cristo e no­mear moços da Real Câmara, além de se ter renovado a provisão equi­parando os serviços de Angola aos do norte da África e da Índia tudo para promover a conquista das minas de prata de Cambambe, para cujo efeito levou um grande socorro de munições e de gente (7).

 

Para completa elucidação deste negócio convém frisar que um dos mais importantes lucros dos assentos e com que se fazia face à renda a pagar à Coroa de Espanha, era o proveniente do contrabando feito pelos navios do assentista, contrabando não só realizado nas Antilhas, mas desde Espanha até lá, com escala pela Mina, Angola e Brasil e ainda com ligações com as naus da Índia arribadas a Luanda para su­postas reparações, pagas, à falta de dinheiro moeda, vendendo a fazenda que transportavam. Pode-se, assim, fazer uma ideia mais perfeita desta complicada engrenagem administrativa comercial; do pessoal que metia; dos creados que o Governador teria de levar; dos lugares que tinha de arranjar para os empregar... e da moralidade da época.

 

Era um Governador nestas condições, tendo por assim dizer o mo­nopólio de todos os negócios e, por isso mesmo, dependendo de toda a gente, que convinha aos que exploravam Angola, e, de entre todos aos jesuítas, que o apreciavam, dizendo que era fidalgo tão bem acondi­cionado & magnífico & de tanta prudência em saber levar aquela gente porque não se podia opor à sua acção sobre os indígenas e desmedida ambição do mando, antes pelo contrário as aproveitava porque lhe fa­cilitavam o cumprimento do seu contrato. E hoje, que se conhecem claramente as intenções de João Coutinho ao ir como Governador para Angola, melhor se pode avaliar o fundamento das lamentações dos je­suítas nas suas crónicas, sobre as medidas tendentes a estorvar ou im­pedir a sua acção sobre os indígenas e o fim por que as contrariavam, ao passo que louvavam João Coutinho, que sem ter feito mais do que desembarcar e pôr-se em marcha para o interior, como todos os outros faziam, e como o fez D. Francisco de Almeida, eles afirmavam que toda a situação mudava e os sobas fugidos passaram a apresentar-se e a prestar obediência (8).

 

A evidência se conclui que eram eles, os Jesuítas, feitos no negócio, e tendo real e efectivamente todo o poder sobre os indígenas, de quem eram amos e protectores que manobravam agora de forma a facilitarem a João Coutinho o poder dar cumprimento aos seus contratos, como anos antes tinham manobrado contra D. Francisco de Almeida, e talvez preparado a monumental derrota que o Cafuxe infligiu às nossas tropas comandadas por Baltazar de Almeida.

 

Com João Rodrigues Coutinho, porém, as coisas passaram-se de outro modo, e, depois de desembarcar o importante socorro que levou e de tomar as medidas para a marcha, iniciou esta em direcção ao Tombo, onde embarcou as suas tropas em pequenas embarcações que subiram o Cuanza até Songa, próximo da Muxima, onde residia aquele soba amigo que Paulo Dias nomeou capitão-mor da gente de guerra da terra e fora baptizado com o nome de D. Paulo. Demorou-se no Songo alguns dias, enquanto esperava um reforço que mandou buscar a Massangano e seguiu depois para a Muxima e Malombe, onde parece que se foram apresentar, prestando obediência, os tais numerosos sobas que os Jesuítas referem. Dali foi dar batida ao soba Agoacaiongo, que venceu, aprisionando-lhe grande número de mulheres e crianças (9).

 

João Rodrigues Coutinho, que se tinha assenhoreado de todos os monopólios e de todas as condições necessárias para o bom êxito dos seus negócios, esqueceu-se contudo de uma, - a sua saúde, e uma febre adquirida nesta ocasião por tal forma o atacou, que em seis dias fale­ceu, morrendo tão grande christâo como elle sempre foy!

 

A sua morte deu lugar a que os seus capitães começassem em de­savenças sobre a sucessão, mas tinha ido com ele para o auxiliar na­quela evangélica missão, o padre Jorge Pereyra da nossa companhia que com elle estava e esse, com muyta prudência e autoridade se ouve de maneyra que nomeandolhe o sucessor, que foy Manoel Serveyra Pereyra os aquietou, e pacificou a todos... (10).

 

(1) Pela narração feita por Battell (Ravenstein, op. cií.), parece que esta segunda marcha sobre o Bengo se deve ter realizado em 1597, sendo comandada por João da Vilória, que com­bateu mais de dois anos na região de Engazi, actualmente Dembos.

 

(2) Ravenstein.

 

(3) João Rodrigues Coutinho, irmão de Frei Luís de Sousa (D. Manuel de Sousa Coutinho), era filho de Lopo de Sousa Coutinho, fidalgo cultor das letras e das ciências físicas e matemá­ticas e de tanta consideração que «A presença e gravidade, da pessoa era tal, que o rei se com­punha quando falava com ele». Lopo Coutinho era bisneto do 2.° Conde de Marialva, e, como se sabe, em 1581, entre os fidalgos que Felipe II mandou perseguir e prender por desafectos à usurpação espanhola, figuram os filhos do Conde de Marialva. A concessão de mercês por Felipe II a João Coutinho, quando o seu ódio pelos inimigos foi a ponto de enclausurar senhoras fidalgas da família Vimioso, Meneses, Marialva, etc., dá lugar a poder admitir-se, dada a cor­rupção de costumes da época, que a concessão do contrato tivesse em vista a paga ou compra da sua adesão.

 

(4) Colecção de tratados de Borges de Castro, 1856, tomo II, págs. 44/45 e G. Scelle, La traite négrière aux Indes de Castille. Por morte de João Coutinho passou o contrato, em 1603, para o irmão Gonçalo Vaz Coutinho, que em 1603 também chegou a ser nomeado Governador de Angola, sendo ainda assentista, mas não tomou posse.

 

(5) Biblioteca da Ajuda, Cód. 51-VIII-25, fls. 119. Luciano Cordeiro, Memórias. Relação da Costa da Guiné.Luciano Cordeiro indica para esta Relação a data de 1607, mas deve ser entre 1604-1606.

 

(6) A carta régia que nomeia Coutinho é igual à de todos os outros, sem menção de poderes extraordinários, nem referências ao contrato, que não foi possível encontrar mas que sem dúvida, existiu, porque G. Scelle o indica. André Battel, quando descreve as suas aventuras no tempo do Governador João Coutinho (Ravenstein), conta que este se obrigara a cons­truir três castelos, um em Demba, nas minas de sal; outro em Cambambe, e outro na Baía das Vacas (Benguela).

 

(7) Fêo Cardoso, Memórias. De um requerimento de Luís Mendes de Vasconcelos sobre o socorro que precisava levar para Angola e a que adiante se fará referência, consta que João Rodrigues Coutinho levou mil homens, muitos cavalos, armas e munições.

 

(8) Relação do Padre Guerreiro, cit.

 

(9) Esta narração é baseada em André Battell {Adventures, pág. 37). Na mesma obra, Ravenstein, a pág. 156, apêndice IV, diz-nos que João Coutinho faleceu no Songo, enquanto es­perava o reforço que mandara vir de Massangano, e portanto antes de entrar em contacto com o inimigo, tendo sido Manuel Cerveira Pereira quem derrotou o Cafuxe em Agoacaiongo. O Catálogo dos Governadores de Angola diz o mesmo, mudando apenas o local do falecimento para Caculo Quiaquimone. Não sabemos qual o fundamento destas duas versões, e por isso nos cingimos à de André Battell, que se não refere ao soba Cafuxe, mas ao Agoacaiongo. Pa­rece que havia ideia de atacar o Cafuxe, mas esse ataque não se efectuou, como se depreende da leitura de uma Snçã de livrato de mel serva pa a fls. 294 do mss. 526 da Colecção Pomba­lina da Biblioteca Nacional. Conforme sentença baseada no processo de devassa e residência a que se mandou proceder pelo Bacharel Manuel Nogueira, em vista de várias acu­sações contra Manuel Cerveira, sendo uma delas exactamente a desistência de fazer guerra ao Cafuxe, para o que estava combinado com o soba Langere, por aquele lhe ter dado 40 peças, com o que o dito Langere se anojou deste procedimento.

 

(10) Relação do Padre Guerreiro, cít.

 

Rio de Janeiro, 09/04/2012

 

 Francisco Gomes de Amorim

 

(Texto de “APONTAMENTOS SOBRE A OCUPAÇÃO E INICIO DOS ESTABELECIMENTOS DOS PORTUGUESES NO CONGO, ANGOLA E BENGUELA” coligidos por Alfredo Albuquerque Felner, 1933)

D. JOÃO IV E CASTELA

 
 
Por que motivo Camilo Castelo Branco abominava a Casa de Bragança? Não sei, mas julgo saber que CCB era um espírito superior, um grande artista literário, conhecedor ímpar da língua portuguesa, que vivia apenas dos seus livros, e  um grande patriota.
Portugal magoado com crimes, cobardias ou mentiras de falsos portugueses, devia ser para ele uma causa de grande sofrimento.

Vou agora transcrever  parte do pequeno capítulo VII  do Livro Quinto de "D. João IV", evocação histórica notável e bem escrita  por Mário Domingues:

UM PLANO SECRETO DE D. JOÃO IV PARA UNIR PORTUGAL A CASTELA
No ano seguinte, 1649, o interesse pela revolta de Nápoles voltou de novo a ser preocupação do governo português porque a este muito convinha que a Espanha fosse obrigada a distraír para paragens mais distantes as forças que o tratado de Vestfália lhes deixava disponíveis e que ela poderia empregar, com maior poder ofensivo, nas fronteiras lusitanas. Parece que o marquês de la Caya e outros napolitanos emigrados, que se tinham homiziado em Roma, teriam insinuado a Manuel Álvares Carrilho, residente português na côrte pontifícia, a possibilidade de fomentar de novo a revolução em Nápoles.
 
Mostarndo grande interesse pela sugestão, D. João IV resolveu encarregar o padre António Vieira de ir a Roma entender-se com os emigrados napolitanos. Partiu o padre jesuíta, em 10 de Janeiro de 1650, com  instruções muito especiais do monarca, que lhe recomendou que procedesse com toda a habilidade por forma que aparecesse a França como protectora dos revoltosos. Sucedeu que, em Roma, onde lhe fizeram uma recepção calorosa, o enviado português, depois de escutar os planos dos revoltosos, concluiu, com grande desgosto destes, por achá-los inexequíveis, logo demonstrando por eles um desinteresse que muito os ofendeu.
 
Outra era, porém, a missão de Vieira, por este concertada secretamente com o monarca, à qual o jesuíta emprestara logo, no desejo de bem servir cegamente, todo o poder da sua imaginação por vezes  e todo o calor do seu entusiasmo. Que pretendia D. João IV? Alguma coisa de inconcebível, mas que constitui  uma indicação tristemente reveladora do carácter do homem em quem os Portugueses haviam depositado toda a fé e confiança, com defensor supremo da independência nacional tão laboriosamente conquistada. Pois D. João IV propunha à Espanha o casamento de D. Teodósio, o príncipe-herdeiro do trono de Portugal, com a infanta de Castela, filha de Filipe IV.

(Diga-se a talho de foice que Filipe II era um Imperador, Filipe III um rei, Filipe IV um homem, e seu filho e sucessor Carlos II nem homem era. E assim se precipitou a Guerra da Sucessão de Espanha, resultante da degenerescência da dinastia dos Habsburgos, provocada desde havia muito pelo excessivo casamento entre parentes, que havia já causado a anormalidade de Don Carlos, filho de Filipe II e de D. Sebastião de Portugal, sobrinho de Filipe II. Repare-se na mania real da época: D. João IV era casado com uma espanhola e queria casar seu filho D. Teodósio com uma espanhola do ramo dos Habsburgos. Bem se diz que de Espanha nem bom vento nem bom casamento. A determinação do povo português, que tem uma identidade própria, uma língua de cultura sua e costumes tradicionais próprios, só ela impediu a sua absorção por Castela. Só têm ideias tolas de uma falsa união com estrangeiros alguns reis, alguns presidentes, alguns traidores e dum modo geral o escol social estrangeirado que despreza a arraia-miúda.)

Enquanto todos os dias morriam Portugueses  na defesa da independência nacional, o monarca intentava, por meio de negociações secretas, entregar o país  à Espanha de quem recebera tantos ultrajes, para que a Casa de Bragança pudesse ascender mais uns degraus na importância das famílias reinantes na Europa. ...

[Não prossigo porque a história já foi contada por Pinheiro Chagas...]
 
 
Por que razão Camilo Castelo Branco não gostava dos Braganças?
Afinal parece que não há razão nenhuma objectiva. A gente procura factos e encontra meras opiniões. E li que o desamor de Camilo pela Casa de Bragança parece ter sido um desforço de desagravo do grande escritor pelo facto de não ter sido nobilitado pelo rei D. Luís.
 
Camilo era filho ilegítimo de um pequeno fidalgo da província, Manuel Botelho,  e de uma sua criada. O pai adoptou-o como filho de "mãe incógnita". Imaginamos que por toda a sua vida Camilo sofreu o complexo da sua origem e tentou sempre nobilitar-se,  até que o conseguiu em 1885, passando a ser o visconde de Correia Botelho.
 
Camilo era um grande escritor, muito interessado pela História, mas não era um historiador. Logo a sua abominação pelos Braganças seria alimentada não pela verdade histórica mas pela subjectividade do grande romancista. O que não quer dizer que ele, por vezes,  não atinja em cheio na verdade.
E assim terminam os meus esforços.
 
Ponto final.

 

Joaquim Reis

RECORDANDO UM TEXTO DE 1996

 

 

Tendo reencontrado este documento no meu arquivo, julgo ser oportuno partilhá-lo com os leitores deste blog, pois sempre pode contribuir para melhor se compreender as origens desta crise atual.

 

 Nos passados dias 3 e 4 de Maio realizaram-se, em Tomar, as 1ªs jornadas nacionais sobre o estado do turismo nacional organizadas pelo fórum do turismo português.

 

Dadas as características da actividade turística e o leque muito alargado das pessoas que participaram nos trabalhos qualquer síntese das conclusões terá sempre que ser muito influenciada pela especialização de quem a faz, dificuldade esta agravada pelo facto de ainda não haver estabelecido um quadro coerente e completo de indicadores que permitam a par e passo ter uma noção quanto possível rigorosa do estado desta actividade em Portugal.

 

Evidentemente que não é apenas nesta actividade que se verificam estas dificuldades estatísticas que já tem origens remotas no tempo e profundas na administração pública portuguesa mas que se agravam como consequência da grande abrangência do turismo português e dos vários equívocos que existem no que se refere à sua gestão.

 

Quando se pretende analisar o estado actual de qualquer actividade há que definir em primeiro lugar como é que a definimos e qual é o peso que deverá ter na sociedade em que está inserida, de forma a haver termos de comparação que nos permitam aferir se estamos ou não no caminho certo.

 

No caso de Portugal o caminho certo passa, neste momento que vai certamente levar alguns anos a percorrer, por duas linhas directrizes essenciais: criação (e manutenção) de mais empregos e aumento da qualidade dos produtos oferecidos porque dela depende o valor acrescentado e deste depende o nível de vida da população e a capacidade de investir para obter as melhorias seguintes entre elas a segurança.

 

É claro que tudo isto implica haver competitividade, como é óbvio mas frequentemente esquecido, pois esta não é mais que a medida da capacidade de sobrevivência o que significa que ao dizer-se criar empregos eles terão que ser forçosamente em empresas competitivas e quando se fala em qualidade mais alta temos que realizar que esta não é apenas um factor que pode aumentar a competitividade mas também o único caminho para a sobrevivência da humanidade.

 

Posto isto passemos ao primeiro capítulo destas jornadas:

 

1-Situação actual

 

1.1 - Importância do turismo português – 6,5 % do PIB sem contar com muitas actividades não determinadas – população afecta a esta actividade 100%, embora talvez mais de 50% não tendo consciência disso – como o turismo é a actividade que traz o cliente ao produtor, ele será a única forma de manter e até desenvolver inúmeras actividades económicas que pelas suas dimensão e características só assim poderão sobreviver e desenvolver-se.

 

1.2-Dificuldades existentes:

 

-1-Valor acrescentado alto em relação ao produto turístico mas baixo em valor médio como consequência da percentagem de pessoal qualificado ser de cerca de 35% enquanto nas outras actividades é cerca de 50%

 

-2-gasto médio a decrescer (-2,5%/ano nos últimos 15 anos) o que significa abaixamento da qualidade dos produtos turísticos oferecidos aos clientes

 

-3-insistência em produtos ultrapassados como, por exemplo, o exclusivo sol-praia

 

-4-carências de animação e de outras componentes valiosas dos produtos turísticos existentes

 

-5-profissionalismo deficiente

 

-6-efeitos perversos de alta sazonalidade

 

-7-baixa eficácia das administrações estatais seja central seja autárquica em especial no que refere a regulamentação e respectiva fiscalização, e por isso...

 

-8-existência de excessivos poderes discricionários aos vários níveis da hierarquia do estado e dos municípios e por isso...

 

-9-concorrência distorcida e muita actividade paralela

 

-10-muita dispersão de esforços

 

-11-desenvolvimento desintegrado e descontinuado

 

-12-clima de irresponsabilidade generalizada em grande parte originada pelo facto de o principal órgão de soberania de uma democracia parlamentar, isto é a Assembleia da Republica ser constituída por cidadãos que não tem que responder pelos seus actos perante os que os elegem porque a Constituição vigente o não permite e isto acontece embora os dois principais partidos políticos tenham desde há bastantes anos a possibilidade de corrigir tão grande erro mas ainda não o quiseram fazer, dando inclusive origem a um regime político sui generis denominado bi presidencialista,

 

-13-fraco protagonismo dos empresários e pouca eficácia das associações empresariais e sindicais, não dando à Sociedade Civil o peso na vida do País que seria desejável e conveniente

 

-14-liderança fraca

 

-15-descapitalização de muitas empresas do sector

 

-16-disparidades de enquadramento em relação a outros países, com ênfase particular para a Espanha

 

-17-pouco turismo interno

 

-18-degradação do ambiente: lixos, águas, esgotos, urbanismo, sinalização das ruas e estradas, trânsito automóvel, ruído, publicidade exterior, etc.

 

-19-aparecimento de novos concorrentes externos

 

2-Potencialidades

 

Condições naturais favoráveis e ainda desaproveitadas para combater a sazonalidade em particular no Algarve pelo desenvolvimento de actividades naúticas, em particular a construção de algumas dezenas de portos de recreio e/ou marinas, campos de golfe e unidades de animação convenientes, caça e pesca desportivas, reservas de aves para estudo e observação, etc., etc.

 

Capacidade para rápida melhoria da qualidade dos serviços graças às características de adaptação da nossa população se for convenientemente motivada e dirigida.

 

Grande riqueza de património histórico e arqueológico ainda muito subaproveitado e frequentemente bastante mal tratado.

 

Riquezas naturais mal aproveitadas como por exemplo a Ria Formosa e a Serra da Estrela

Gastronomia portuguesa ainda por aproveitar a pleno

 

Desenvolvimento de artesanato em especial em bens personalizados

 

Capacidade de angariar divisas ou equivalente se, como se prevê que aconteça brevemente, passar a circular entre nós uma moeda europeia

 

Aproveitamento do movimento de recuperação da Europa com mais eficiência do foi realizado aquando da adesão.

 

3-Futuro?

 

Se continuarmos como nos últimos anos, isto é, se extrapolarmos as tendências da evolução que se tem vindo a verificar teremos que nos contentar com o empobrecimento e o abaixamento do nosso nível de vida.

 

Como não é certamente esse o desejo da maioria dos portugueses, o que teremos a fazer é adoptar medidas correctivas como as que adiante se apresentam:

 

3.1-aumentar o protagonismo da Sociedade Civil em particular das empresas e das respectivas associações

 

3.2-Alterar a Constituição no sentido de a tornar mais operacional e corrigindo os erros apontados e outros mais, de forma a permitir e fomentar uma maior dinâmica de desenvolvimento com qualidade crescente.

 

3.3-Reformular a administração estatal, quer central quer autárquica, e em que a regionalização administrativa aparece como uma solução se, e só se, os defeitos e as carências daquelas administrações forem corrigidas, não esquecendo que em turismo já existe experiência de regionalização.

 

Nesta reformulação há que ter presente alguns princípios fundamentais como seja: o da essencialidade, isto é, o de distinguir o essencial do acessório, o da responsabilidade, isto é, ter que haver sempre responsáveis, o da simplicidade, o da objectividade, o da justiça na repartição, o da evitabilidade de preconceitos, o da impossibilidade de monopólios seja económico, político ou qualquer outro

 

3.4-campanha de mentalização (Educação 4 vertentes) generalizada que abranja toda a população para a importância do turismo na qualidade de vida de toda ela e como isso se deve processar

 

3.5-medidas concretas específicas

 

Maio 1996

 

 José Carlos Gonçalves Viana

DEMOCRACIA E FACILITISMO

CAPACIDADE/NECESSIDADE LÍQUIDA DE FINANCIAMENTO DE PORTUGAL 

 

 

 

O crédito não é um direito: merece-se ou não; conquista-se e perde-se. Portugal mereceu crédito, perdeu-o e tenta agora recuperá-lo.

 

Mereceu crédito enquanto era ou parecia ser viável e os detentores dos capitais acreditavam que os empréstimos que faziam consistiam em operações de tesouraria atenuantes das cavas nos ciclos económicos; perdeu o crédito quando os credores se aperceberam de que o «modelo de desenvolvimento» português era absurdo; tenta agora recuperá-lo introduzindo mudanças estruturais no modelo vicioso, despesista, transformando-o em produtivo.

 

O esgotamento da capacidade de crédito externo do sistema bancário foi o maior incentivo à produção interna de bens transaccionáveis; a substancial redução dos meios de pagamento em poder dos consumidores, foi o maior incentivo para que o empresariado consciente e dinâmico enveredasse pela exportação.

 

O escol empresarial português não perguntou ao Governo o que deveria fazer: fez!

 

E os resultados são evidentes com a balança de bens e serviços a sair de negativismos que já todos julgávamos eternos e a apresentar sucessivos saldos positivos.

 

Mas a pergunta que nos ocorre agora tem a ver com a capacidade do sistema bancário se redimir do desbragamento creditício ao consumo que praticou até há pouco, com a capacidade de reforço dos capitais próprios reintegrando substanciais volumes de crédito concedido mais ou menos «à la diable» e hoje logicamente mal parado, com a capacidade de relançamento de linhas de crédito à produção de bens e serviços transaccionáveis.

 

A recuperação económica de Portugal não pode passar ao lado do sistema bancário mas é imprescindível que quem concede crédito também seja credível. A começar pelo próprio Banco de Portugal e sua actividade de supervisão.

 

Chamemos-lhe como cada um de nós quiser mas os próximos dinheiros que Portugal vier a receber a título de apoio à recuperação não poderão ter outro destino que não a consolidação bancária. Por mais que as esquerdas políticas blasfemem.

 

Mas esperemos que essa nova situação não sirva para repetir os erros que nos atiraram para o buraco pela vulgata consumista. Não nos esqueçamos de que devemos ser dos países com maior propensão marginal à importação; não nos esqueçamos de que o consumidor tem agora que pagar o que ficou a dever na crise anterior; não nos esqueçamos de que deverão ser as actividades produtoras de bens e serviços transaccionáveis a absorver as hostes de desempregados pela falência das actividades típicas do «modelo de desenvolvimento» que definiu um capítulo da vida nacional que queremos ver encerrado.

 

Até porque democracia não é sinónimo de facilitismo; pelo contrário, é-o de responsabilidade.

 

Setembro de 2013

 

 Henrique Salles da Fonseca

 

in Revista INDÚSTRIA, CIP, Outubro de 2013

ALMA PORTUGUESA

 

 

Poesia de Delfim Guimarães (1927), que julgo ter sido o fundador da Livraria Guimarães, Editora, em Lisboa:

 

Aos Portugueses de Além Mar

 

Filhos de Portugal, meus irmãos, meus amigos,

- Obreiros, mercador's, artistas, mareantes -

A quantos moirejais em países distantes,

Sofrendo privações, arrostando perigos;

 

A quantos prosseguis, na África e na América,

Nas costas e sertões, longe da Mãe sagrada,

A odisseia auroral, a sublime cruzada

Que coube a este rincão da península ibérica;

 

A vós que derramais pelos confins do mundo,

No Brasil, no Haway, na Índia e na Oceania,

O idioma de Camões repleto de poesia,

E o sangue português generoso e fecundo;

 

A quantos, pela terra e sobre o mar, tentais

Vosso fado cumprir, num sonho de grandeza,

Intacta conservando a feição portuguesa

Que vos souberam dar os seis maternais;

 

A vós, quantos sorris, terna, amoravelmente,

Vendo erguido num mastro o pavilhão das Quinas...

A vós, quantos chorais, ao presenciar as ruínas

Do império colossal que fundámos no Oriente,

 

Este livro pertence. É vosso -- para quem

O pensei e escrevi com o maior carinho.

Inspirou-mo o amor que tenho ao pátrio ninho,

Que a Pátria é para mim estremecida Mãe.

 

Os versos que vos dou foram filigranados

Com fibras que arranquei ao próprio coração.

Não deixareis de os ler sem funda comoção,

Sentindo muita vez os olhos marejados...

 

Chorar suaviza sempre a alma filial

Quando uma enorme dor ou alegria a invade,

E ao ler o livro meu, irmãos, quanta saudade

Não haveis de sentir do nosso Portugal!

 

Alma Portuguesa, 1927

 

Numa outra poesia, intitulada "Uma Trova", composta de 8 quadras, diz-nos o seguinte:

 

Quando o julgam sucumbido,

Perto da hora final,

Deus acorre, pressuroso,

E faz erguer Portugal.

 

e

 

E tanto assim que em Espanha

Ouvi dizer uma vez,

A uma andaluza, que Deus

Par'cia ser português!...

 

* * * 

 

Joaquim Reis

 

Delfim Guimarães
Delfim Guimarães aos 37 anos (1909)
Nome completoDelfim de Brito Monteiro Guimarães
Nascimento4 de Agosto de 1872 Porto, Portugal
Morte6 de julho de 1933 (60 anos) Amadora, Portugal
NacionalidadePortugal Portuguesa
OcupaçãoEditor, poeta, ensaísta e bibliófilo

 

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