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A bem da Nação

ARENDT E MARX

 

O trabalho é a actividade que corresponde ao artificialismo da existência humana (...) porque (...) produz um mundo artificial de coisas nitidamente diferente de qualquer ambiente natural.

  (Agosto de 1950)

Hanna Arendt, in The Human Condition, University of Chicago Press, ed. 1984, pág. 7

 

É claro que não preconizo o ócio, esse que considero o «pai» de todos os vícios, mas dá gosto comparar esta frase arendtiana com a alienação marxista, sobre o que ela escreve a páginas 253-254 da mesma obra:

 

A moderna perda de fé não é de ordem religiosa na sua origem e o seu alcance não se limita à esfera religiosa. Pelo contrário, a evidência histórica demonstra que os homens modernos não foram arremessados de volta a este mundo, mas para dentro de si mesmos. O que distingue a era moderna é a alienação em relação ao mundo e não, como pensava Marx, a alienação em relação ao ego.

 

Outubro de 2013

 

 Henrique Salles da Fonseca

BAIXEZAS

O GLOSSÁRIO DE SÓCRATES


Ao longo do seu percurso político, Sócrates sempre transmitiu a imagem de um narciso empertigado e prepotente. O verniz foi estalando de quando em vez, como naquele abraço a Barroso, exclamando "porreiro, pá!". Ou na expressão de incontido desprezo que marcou os debates parlamentares da época ao invectivar, salvo erro, Louçã, com um «a tua Tia!». Admito que possa ter sido «a tua Mãe», mas a minha recordação aponta mais para a colateral.

A entrevista do personagem ao Expresso é uma verdadeira pérola digna de arquivo para memória futura, não vá o diabo tecê-las. A pretexto de um «Sócrates íntimo», dedilhou qualificativos depreciativos sobre tudo e sobre todos, à excepção, claro está, dele próprio.

 

Usou, com eloquência e supina elegância, o calão mais depurado que se tem lido em jornais supostamente de referência. Se um dos seus opositores é «um merdas», toda a direita já é «uma cambada de filhos da mãe» que, curiosamente, aspirava tê-lo por líder. Há um alemão que é um «estupor», ademais de partilhar o conceito anteriormente referido de filho da progenitora. «Canalhas» e «pulhas» são referidos a eito, embora com o seu – dele – critério. O resto são «tipos» e «gajos», «raios os partam a todos!»

Tem – ele – uma «boa vida» – coisa que os portugueses não conseguem partilhar – e «não sente nenhuma inclinação para voltar a depender do favor popular», que é como quem diz: "esse bando de ignaros, que é a populaça, não merece o meu génio"… Replicando expressões suas, apetece dizer ao "gajo" que pode estar tranquilo quanto ao favor do povo. Este costuma ser criterioso relativamente aos "filhos da mãe" que o deixou na penúria!

 

DESTAK | 22 | 10 | 2013

 

 José Luís Seixas

 

QUEM QUERERÁ, AGORA, FALAR COM ELE?

 

Para José Sócrates a classificação de quem o contraria é simples. O PSD é um conjunto de "pulhas" e de "filhos da mãe" (calculo que a expressão foi, por assim dizer, mais vernácula) e em geral "a Direita é hipócrita". Santana é um "bandalho". Teixeira dos Santos teve "uma atitude horrível connosco", ou seja, com ele. Schäuble, o ministro das Finanças da Alemanha, é um "estupor". E por aí fora. De resto, ele, Sócrates, quando falhou (e, na opinião dele, quase não falhou) não teve nunca a mais vaga responsabilidade ou culpa: a verdade está em que grupos de "pistoleiros", incluindo a Casa Civil do Presidente da República, tentaram sempre impedir que ele governasse e espalharam infames calúnias para "atacar" o seu impoluto "carácter". Apesar de primeiro-ministro, não passou de uma vítima.

 

Vale a pena repetir o que toda a gente já sabe? Vale, porque este "chefe" (como ele mesmo se descreve) e este acrisolado democrata (como ele se declara) saiu do assento etéreo onde subira, com um saco de ressentimento e ódio, que excede, e excede por muito, o de qualquer político desde que existe um regime representativo em Portugal. Ninguém, por exemplo, disse como ele que não queria voltar a "depender do favor do povo", a quem atribui uma larga parte das suas desventuras. Dar uma réstia de poder a semelhante criatura (visto que Deus não parece preparado para o ungir) seria inaugurar uma campanha de represálias contra Portugal em peso: contra a "aristocracia" do PS (que ele se gaba de ter "vencido"), contra a Direita, contra o velho Cavaco, hoje apático e diminuído, e principalmente contra o povo, que não votou por ele em 2009.

Ora Sócrates, protestando o seu desinteresse pela vida pública e as suas novas tendências para a filosofia, com a convicção de um adolescente analfabeto, só pensa em abrir o caminho para um memorável ajuste de contas. Uma entrevista justificatória na RTP, um programa de "opinião" também na RTP e, agora, o lançamento de um "livro", para inaugurar um estatuto de "intelectual", a que nem sequer faltou Mário Soares, Lula da Silva e uma assistência de "notáveis", seleccionados por convite. O supracitado "livro", absolutamente desnecessário, é de facto uma prova escolar (uma "tese" de mestrado), sem uma ideia original ou sombra de perspicácia, que assenta na larga citação e paráfrase de - vá lá, sejamos generosos - 30 livros, que se usam pelo Ocidente inteiro, e em algumas fantasias francesas (Sciences Po oblige). O extraordinário não é que Sócrates se leve a sério, o extraordinário é que o levem a sério. Mas claro que o "lançamento" não foi de um "livro".

 

Público, 25/10/2013

 

 Vasco Pulido Valente

O “Instrumento Regulador”

 

Pretexto para mais parasitismo nacional

 

Reivindica orgulhosamente os seus dezasseis anos do bom e leal serviço docente. No ano passado foi avaliada com Muito Bom. Tem uma expressão clara de quem não se limitou – como eu, por exemplo, alérgica ao paleio retórico não lectivo, criado pelos que não leccionam nem gastaram as suas vidas a preparar aulas e estratégias para penetrar a muralha diversificada das competências e comportamentos escolares, em turmas cada vez mais amplas e ruidosas de agrupamentos discentes criadas sem seriedade nem desejo de eficácia formativa, nem respeito pela integridade física e moral dos docentes – tem uma expressão clara, repito, de quem não se limitou a estudar e a corrigir e a acompanhar-se dos instrumentos da sua docência de dezasseis anos de bom e leal serviço docente.

 

A sua expressão clara, que se reflecte na forma amorável mas segura e equilibrada com que educa os seus dois filhos – traduz a competência de leitura da tal retórica ministerial a que sou alérgica, sabendo que o que está por trás dessa retórica é bem – foi sempre – não só o processo de distribuir pelos funcionários ministeriais encarregados desses trabalhos, os trabalhos que justifiquem a sua funcionalidade ministerial e demonstrem novas originalidades profusas de orientação relativamente ao ministério anterior, como, actualmente, o de limitar, pela reprovação em exames, o número de professores que políticas anteriores tinham colocado em excesso.

 

Tem dezasseis anos e um bom currículo e pergunta se quem a vai avaliar será a professora efectiva que ela substitui, que há muitos anos recebe o seu vencimento sem trabalhar, o seu lugar posto sempre à disposição do professor contratado que a vai substituir, o que, no caso presente, até foi positivo para esta – tal como para os professores anteriores - apesar do horário incompleto, devido à redução do horário da professora efectiva, que estranhas leis protegem - como protegem, aliás, muitos dos vários comilões do erário público, como se tem visto, como esses das fundações ou esses reformados com sete anos de parlamento e astúcia de assento acumulativo de proventos.

 

Mas terá de se sujeitar a um exame, classificado de “instrumento regulador”.

 

Transcrevo dados, via Internet:

 

Todos os professores contratados terão de fazer prova de ingresso reservado a quem possui todos os requisitos necessários a um desempenho profissional especializado e de grande qualidade.

 

"A prova não tem nada a ver com a avaliação de desempenho ou com a formação inicial de professores. O que se pretende através dela é procurar saber se os candidatos têm os pré-requisitos necessários ao acesso à profissão docente", justificou Grancho. A prova terá uma componente geral e outra específica relacionada com o nível de ensino e a área disciplinar do candidato.

 

Nas sessões de negociação anteriores, o Ministério tinha também deixado cair a exigência de que só os professores com 14 valores ou mais nesta prova seriam considerados aptos ao exercício da profissão.

 

A prova de avaliação a que passarão a ser sujeitos os professores contratados para poderem dar aulas poderá afinal só ser constituída por uma parte comum, destinada a verificar as competências fundamentais para o exercício da docência, e não incluir uma componente específica, relativa às disciplinas a serem leccionadas.

          

           A professora de bom e leal serviço, que ontem fez quarenta anos e se desdobra entre a escola e os filhos na escola e na pré-escolar, acha que toda esta farfalheira de exames – quando diariamente se considera sujeita a esses – não é mais que uma forma despudorada de retirar emprego a quem realmente trabalha, e de fornecer emprego aos amigalhaços de ocasião – governativa – encarregados de criar as provas inúteis e certamente que preciosamente rebuscadas – e de as corrigir – concretizando despedimentos docentes, que darão lugar a esses tais, os criadores e revisores dos “instrumentos reguladores” – os dos mais cargos do nosso parasitismo useiro e vezeiro.

 

 Berta Brás

CAMILO E TEÓFILO

 

Camilo Castelo Branco era um escritor prodigioso – prodigioso não só pela quantidade como pela qualidade do que escreveu durante a sua vida relativamente curta de 65 anos.

 

O século XIX em Portugal, embora politicamente tivesse sido um período de desgraça, foi culturalmente brilhante.

 

Tivemos grandes escritores, como o próprio Camilo, como Eça de Queiroz, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Júlio Diniz, Antero de Quental, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Fialho de Almeida, Rebelo da Silva, Pinheiro Chagas e muitos outros praticamente esquecidos, como Silva Gaio, já entrado no século XX ("Mário"), Campos Júnior ("A Ala dos Namorados"), Arnaldo Gama, Eduardo de Noronha, etc.

 

No seu livro, que tenho andado a ler, "Noites de Insónia", Camilo faz referências pejorativas a Teófilo Braga, que foi o provisório primeiro Presidente da República, depois do 5 de Outubro de 1910, e depois o terceiro, já eleito. Fiquei surpreendido, mas a verdade é que Teófilo Braga era para mim um desconhecido. Parece que muito escreveu e teve grande prestígio intelectual, de que Camilo nega a autenticidade com as ditas referências. Sinceramente, nunca vi obra de Teófilo Braga publicada, sendo hoje este português uma aparente nulidade. Assim me parece. O seu nome é ainda conhecido pelo facto de ter sido presidente da República.

 

Consultei o Google e li, inter alia, o seguinte:

 

"Até Antero de Quental que se dava bem com Teófilo, se referiu a ele como um hierofante do charlatanismo literário. O historiador brasileiro Sílvio Romero chamou-lhe Papá dos Charlatães. José Relvas, outro seu contemporâneo, depreciou as sua contribuições, notando que o seu prestígio não era justificado, e que só aqueles que não tinham lido as sua obras o admiravam."

 

Quanto ao testemunho de Camilo, limito-me a transcrever um pequeno período, em ele diz:

 

"Eu, por mim, desejo que, lá ao diante, se saiba que morri na desconfiança de que o snr. Teófilo Braga era um malabar de feira saloia enfatuado com os aplausos do gentio lorpa."

 

Era terrível o Camilo!

 

Em todo o caso, o Sr. Teófilo Braga, cujo retrato vai em anexo, parece, a julgar por este, ter sido um sujeito simpático. Quem quiser saber mais, pode consultar o Google.

 

E agora um pequenino fragmento da saborosa prosa de Camilo:

 

(...) Entrei na feira da Ladra.

 

Na entrada do campo, a um dos ângulos, em face do convento de Sant'Ana, levanta-se a praça dos Touros. Edificações mais ou menos elegantes, mais ou menos sumptuosas, enfileiram-se, em linha recta, por uma das faces.

Ao fundo está gizado um microscópico jardim que, na louca ambição da sua tristíssima Flora, cingindo-se no cinto fanado de um empoeiradíssimo buxo, caberia à vontade na mais limitada sala de qualquer nababo das possessões indo-britânicas.

 

Pelo meio do campo, em deplorável estendal, havia panos, pranchas de pinho e tabuleiros ignóbeis, onde jaziam, na mais íntima convivência, os resíduos, o lixo e os detritos da geração presente e das que passaram.

Acudiu-me aqui a musa do poeta florentino:

 

Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate.

 

(...)

 


Joaquim Reis

O PORQUÊ DA CRISE!

 

União Europeia contra o Patriotismo das Nações

Da Monocultura latifundiária pragmática contra a Pluralidade do Habitat cultural

 

Enquanto países asiáticos e de cultura árabe se vão arranjando numa estratégia de auto afirmação apostando na força da sua identidade cultural (patriotismo cultural da comunidade muçulmana, da Rússia, da China, da Índia), o Ocidente e em especial a União Europeia esvaem-se num “patriotismo cosmopolítico” baseado na filosofia económica globalista e na moeda como tecto metafísico do conglomerado. A negligência da filosofia enciclopédica e da ética cristã humanista coloca a UE numa posição favorável para negociar a integração da Turquia na UE e para se auto afirmar hegemonicamente no âmbito económico e militar; por outro lado, essa negligência revela-se ingénua num mundo em formação em torno das culturas. Para mais quando em democracia o povo é o elemento importantíssimo em questões de estabilidade política e este elabora a sua identidade em torno de espiritualidades.

 

Por outro lado, a União Europeia encontra-se num dilema ao impor-se um patriotismo cosmo político sem ter ainda alcançado uma consciência de patriotismo europeu, vendo-se, para isso, interessada em destruir os patriotismos das nações europeias e tradições culturais específicas (Patriotismo é uma virtude ao contrário do nacionalismo!). Quer-se construir uma soberania europeia masculina, sem alma, procurando para o efeito fomentar-se uma condição de povo anónimo. A anonimidade popular e a destruição da soberania política das pátrias europeias conseguem-se através do fomento de uma filosofia política relativista (pensar correcto) e pragmatista. Em nome da diversidade cultural, a política exige dos seus cidadãos a deslealdade para com a própria cultura e a renúncia a símbolos cristãos. A UE encontra-se na fenda entre os patriotismos e os nacionalismos. Também o seu missionarismo político em favor dum cosmopolitismo político democrático não tem dado resultado, como se observa no norte de África, pelo contrário, as rebeliões fortaleceram o fascismo. A ideia do globalismo corresponde a uma filosofia católica original mas para a qual o mundo ainda não está preparado. Há razões, mais que suficientes, para nos questionarmos se a praxis turbo-capitalista aliada à estratégia marxista serão o melhor meio para se impor o globalismo (Neste aspecto, a China estaria já numa posição vantajosa).

 

O modelo da Europa para o mundo encontra-se numa crise profunda de valores e de sentido; cada vez lhe falta mais a congruência cultural e consequentemente a visão e motivação. Uma política de rejuvenescimento da Europa através da imigração revela-se míope e perigosa devido aos grandes contingentes de muçulmanos que embora com imensa juventude se revelam contraproducentes devido à sua vida determinada pelo gueto religioso e hegemónico; enquanto o cidadão europeu não encontra motivos para se definir em termos de identidade europeia, os imigrantes muçulmanos que constituem a maioria dos imigrantes afirmam-se em termos de fronteira patriota religiosa. A classe política, para evitar conflitos populares adopta uma política pragmática em relação às exigências daqueles, implicando o recuo em relação a posições laicas e risco num contexto de reivindicações políticas no futuro.

 

O fomento dum “cosmopolitismo enraizado” como pretende Kwame Anthony Appiah no sentido do desenvolvimento de um burguesismo mundial, não se revela possível, numa UE em que a natalidade muçulmana supera qualquer crescimento estatístico de nativos em relação a outras confissões religiosas e seculares. Segundo estatísticas sérias, a explosão demográfica muçulmana aponta para o desenvolvimento da Europa no sentido de uma Eurábia. O politicamente correcto cala isto para não amedrontar o povo, já preocupado; é um facto que as estatísticas demográficas possibilitam previsões científicas mais exactas que quaisquer outras. As guerras do Ocidente em países árabes só alimentam a ganância económica e fomentam a imigração árabe para a Europa. Quem se encontra cada vez mais desenraizado na EU são os países europeus e não os guetos muçulmanos que sofrem, na própria terra, por verem as suas aspirações hegemónicas contrariadas pelos Estados Unidos da América que, por razões estratégicas fomenta a rivalidade entre as confissões muçulmanas dos Sunitas e dos Xiitas.

 

O mutismo intercultural e inter-religioso entre as nações é mais que sintomático da impossibilidade dum encontro a nível de direito moral. O relativismo cultural e ética só pega nas nações ocidentais. As vitórias do secularismo europeu contra o cristianismo transformar-se-ão em vitória do extremismo religioso muçulmano e doutros extremismos dentro dos muros europeus. Temos a melhor lição na primavera árabe que, em nome da liberdade e dum certo relativismo, se tem revelado como um serviço ao absolutismo religioso. Estas nações para chegarem ao tal cosmopolitismo precisariam de um desenvolvimento económico, cultural e social como se deu na Europa dos anos 60 aos anos 90 e na luta cultural provocada pelo protestantismo do séc. XVI e mesmo assim comportar-se-iam diferentemente porque são portadores de uma outra antropologia e sociologia. A sua sociologia assenta em princípios contrários aos da sociedade de características ocidentais. Não é sem razão que a Turquia, Egipto, etc. contrariam o fomento de cristãos nos seus quadros estatais superiores e noutros países muçulmanos, se chega a considerar os cristãos como espiões dos USA.

 

Só quem está interessado num pragmatismo de consenso superficial poderá passar por cima da realidade em que a Europa vive; facto é que a realidade internacional e do desenvolvimento global assentam nas culturas e especialmente nas suas filosofias que são as religiões; o sistema económico é apenas uma consequência da razão filosófica destas. Há que explorar e contextualizar melhor o capitalismo e o socialismo que, como filhos pródigos do judeo-cristianismo têm instabilizado uma mundivisão, que, purificada de excessos e na complementaridade, poderia servir de modelo para um globalismo mais justo.

 

Gregor Gysi, o número um do partido comunista na Alemanha, é um ateu declarado, e disse algo notável num programa da TV alemã: "Foi um fracasso histórico dos comunistas perseguir o cristianismo. Pois a essência dos cristãos: amor ao próximo, igualdade (diante de Deus) e a observância dos mandamentos são muito semelhantes aos ideais do comunismo.”

 

Sempre me admirei por irmãos se combaterem, pelo simples facto de um olhar muito para o céu e o outro olhar demasiado para a terra.

 

Uma simples olhadela não determina a realidade e não faz de um, espírito, nem do outro, matéria! Torna-se importante não esquecer que também a verdade é feita de céu e terra. E o mais importante para a Europa é a sua união cultural e deixando de se autodestruir em guerrilhas ideológicas de leigos contra fiéis par reconhecerem a própria riqueza na numa relação de complementaridade.

 

O pensar baseado no politicamente correcto tem fomentado uma discussão teórica e uma tolerância infantil mais interessadas em encobrir os problemas, do que em ajudar a resolvê-los duma forma humana e justa. Há monstros a dormir nas sociedades que ressurgirão no momento em que as crises políticas se generalizarem. O movimento secular e o cristianismo de expressão moderada serão os que mais sofrerão as consequências da falsa política social e económica que se seguiu depois da última grande guerra.

 

A procura de valores globais, como sugere Hans Küng , exige mais da política do que ela está disposta a dar. De facto, o seu mero recurso a um pragmatismo de políticas locais, limitadas a dar respostas locais aos problemas populacionais e inter culturais mais urgentes, sofre de miopia. Aqui empanca o tal cosmopolitismo que, sem teto metafísico, quer viver de capelanias de pontos de vista limitados, fomentadores de cabeças viradas para uma terra, cada vez, menos mãe. É verdade que a consciência para a gravidade da situação surge no foco e não na periferia e os problemas da humanidade continuam a ser focados como problemas abdominais.

 

Quer-se uma ética urbana para um mundo, na grande maioria, rural e estranho a intelectualismos e a éticas generalistas ou de nível elevado. Não há uma sociedade mundial tal como não há um biótopo mundial. A coerência dos biótopos sociais não pode ser alcançada por uma rede económica frágil e injusta, nas mãos de poucos e à margem duma literatura mundial. A natureza continua a mostrar, na sua inter-relação de biótopos naturais como protótipo dos “biótopos” culturais. Para já, seria apressada a ideia de querer, sob a mesma atmosfera, igualar as diferentes regiões climáticas (culturais) sem atender às suas especificidades, e para mais num tempo em que as tendências hegemónicas das culturas entre si ainda são tabu ou apenas relegadas para o sector económico ou religioso. Neste sentido é absurda a ideia de que o negócio universal e a moeda se possam transformar em elementos criadores duma identidade global. A ideia de um cosmopolitismo político torna-se numa estratégia para distrair intelectuais. Como se pode defender a floresta quando nela não só se cortam e arrancam as árvores mas também destrói o seu húmus cultural?

 

A moderna missionação ocidental com o seu centro de gravidade na democracia e nos direitos humanos, não se revela tão eficiente como seria de esperar, dado, duma sociedade para a outra, sociológica e antropologicamente, mentalidades e modos de vida, se revelarem quase antagónicos. O conceito duma sociedade aberta para se chegar a um cosmopolitismo não se encontra aferido, nem à sociedade ocidental, porque a empobrece culturalmente, nem às outras sociedades porque as não respeita. É preciso trabalhar no sentido duma terceira via. A lusofonia oferece uma oportunidade para se trabalhar neste sentido. Para isso fica o apelo da História no sentido de se superar a humilhação envergonhada e a exaltação orgulhosa.

 

O cosmopolitismo, em via, mostra erros sociologicamente análogos aos da revolução industrial do séc. XIX e XX, focalizado num materialismo ideológico (marxismo) e prático (consumismo) expresso na economia financeira internacional fomentadora duma mentalidade proletária de aspiração burguesa a florescer num globalismo financeiro mundial que tudo reduz a mercado de clientelismo anónimo. Isto conduz a um pragmatismo sem horizonte destruidor de qualquer fé política ou religiosa que não se subordine ao pensar do correcto oportuno. Com uma fachada liberal destrói biótopos culturais e espirituais para criar um novo habitat de género latifundiário e de monocultura proletária.

 

A Europa encontra-se num grande impasse; destrói sistematicamente a sua identidade ao colocar a economia financeira como leitmotiv da civilização. Isto é constatável se observamos o seu pragmatismo selvagem que não reconhece na Constituição os seus pilares éticos do judeo-cristianismo, do direito romano e da filosofia grega para se abrir ao desconhecido e à anarquia do voto do braço erguido. A ganância económica e o lucrativo negócio com as armas justificam uma imigração selvagem criadora de grandes problemas para as gerações futuras e a destruição de aquisições humanas que se pensavam irreversíveis.

 

(Que uma sociedade aberta como a europeia renuncie a fronteiras é consequência do seu desejo de se formar como bloco perante outros blocos. O seu maior erro está, porém, em renunciar às colunas que constituem a civilização ocidental. O trágico está na irreversibilidade da situação que se criou já não baseada numa filosofia consistente mas no imperativo do pragmatismo factual que segue um liberalismo económico desrespeitador de tudo o que é pessoal e cultura adquirida. Devido à sua proximidade com a Europa e à, cada vez maior incapacidade de discernimento dos povos europeus, a longo prazo, a beneficiada desta filosofia pragmatista, será a cultura árabe, a não ser que se forme nela uma camada social média abrangente, fruto duma revolução religiosa cultural, à imagem da revolução protestante na Europa, que a liberte de restrições religiosas a nível de ética e hábitos e em que a antropologia ganhe relevância sobre a sociologia.)

 

Necessita-se uma política antropológica contrária à ideologia económica monetarista e ao liberalismo vencedor desencarnado.

 

Naturalmente que o reconhecimento do outro também mexe com a própria identidade; esta revelou-se a vantagem da civilização ocidental perante outras civilizações: uma abertura com significado e sentido. Nesta base será possível determinar novas políticas. Johan Baptist Metz, fundador das Novas teologias políticas, defende a valorização da Autoridade do Sofredor na humanização do mundo. Neste sentido, seria óbvia uma ética que reconheça o rosto da verdade nos pobres e que distribua a riqueza pelos continentes.

 

Não se trata de criar identidades submersas mas de integrar a própria diversidade na unidade duma realidade integral à maneira da complementaridade da verdade expressa na fórmula trinitária.

 

Daqui resultam direitos e deveres – responsabilidade ética – de cada um perante todos e de todos perante cada um (pessoa simultaneamente individuo e colectivo). A pessoa alcança um carácter universal e, como parte dele, é portador da sua dignidade. Há que voltar à reflexão cultural. A redescoberta da fórmula trinitária poder-se-ia tornar numa plataforma da complementaridade das partes num grande todo sem lugar para hegemonia duma cultura/religião sobre a outra, dado a diversidade natural e cultural serem a melhor condição possibilitadora de desenvolvimento individual e colectivo. Torna-se urgente a formulação de uma política do diálogo

intercultural neste sentido.

 

A apreensão da realidade, tal como a sua moldação, depende do ponto de vista ou da perspectiva, como dizem os jesuítas. A sabedoria está em reconhecer a complexidade das diferentes necessidades e usos. Uma anedota relativamente inofensiva, que li no “manager magazine” 10/2013, conta que um beneditino, um dominicano, um franciscano e um jesuíta se encontravam a rezar na Igreja. De repente, apagam-se as luzes. O beneditino continuou a rezar firmemente as orações do seu breviário, porque ele sabia-as de cor. O dominicano quer liderar um debate sobre a luz e as trevas na Bíblia. O franciscano louva Deus por ter dado a escuridão ao povo. E o jesuíta levanta-se e vai mudar o fusível. Todos têm razão, na medida em que agem em função do todo. A atitude pragmática do jesuíta revela-se eficiente e apresenta-se como uma perspectiva duma realidade que se modela diferentemente.

 

 António da Cunha Duarte Justo

A PEDRA NO SAPATO

 

De Sócrates. No sapato de Sócrates. Mas não acreditei que existisse pedra, a menos que ele tenha apanhado algum doloroso grão de areia nas corridas que costumava efectuar nos seus tempos de Primeiro Ministro, tanto no nosso país, como nos países aonde se deslocava. Todavia, acho que correria com os ténis de então, não iria usar os sapatos por confortáveis que fossem, nesses eventos desportivos que tanto me recordavam o costume do santo Papa João Paulo II de beijar, à chegada, por penoso que parecesse, o solo dos países que visitava.

 

José Sócrates não beijava os solos, corria neles, como forma de manter o seu garbo democrático, embora Clara Ferreira Alves omita esses pormenores vivenciais do seu entrevistado, inteligente e culta como é, mais votada aos pormenores da actuação política do seu protegido, na entrevista que lhe fez saída em 19 de Outubro na Revista do Expresso e onde ela se apaga como entrevistadora, aparentando modéstia mas também técnica narrativa, para projectar a luz inebriante e clarificadora sobre a argumentação do publicamente sempre injustiçado Sócrates, que, contrariamente ao seu predecessor que bebeu a cicuta, lança vitoriosamente sobre a nação os seus disparos biográficos, ora dramáticos, de autovitimização e garantia de inocência ora de devolução de acusação, ora de esbanjamento de perfil cultural, com referências intelectuais a filósofos e a filosofias que o orientaram na escolha do assunto para o seu livro “A Confiança no Mundo”, sobre a questão da tortura neste nosso democrático mundo em que qualquer um se pode tornar torturador, em situações-limite e não só, na banalidade dos caracteres normais, de que falou Hannah Arendt – dizem, eu não li - na sua tese sobre o torturador nazi Eichman.

 

De tudo isso e muito mais o fez falar Clara Ferreira Alves, para o fazer justificar-se, como ser humano com direito à justificação nos diversos casos de que fora acusado sempre injustamente, pois até na questão dos dinheiritos ganhos, se ficou a saber que quem lhos facultou foi sempre a mãe dele, e mais tarde o Banco que lhe emprestou o dinheiro para ele estudar e que gastou religiosamente, não sei se com inclusão das borgas.

 

De resto, uma pessoa que sofreu na vida, que estudou bem, que usa palavras insultuosas ou chãs, para classificar quem lhe fez mal, como todos nós usamos, quer tenhamos sido ou não bons alunos nas várias escolas da nossa frequência, entre as quais a da vida, o que é balela dizer-se, mas nem todos se podem gabar de aprender nesta e Sócrates sim.

 

E saiu um perfil que Clara Ferreira Alves tornou humano - o que não estranhámos, pois nele se mostrou o Sócrates que há muito conhecíamos - mas, intencionalmente valorizador, após ter retratado, como corolário antecipado da sua entrevista, o rival Passos Coelho da sua aversão, na Pluma Caprichosa da mesma revista, com o título “A história universal da infâmia” com a costumada iracúndia da sua sabedoria facunda mas escamoteadora de dados, como seriam os convergentes sobre a política ruinosa do governo socrático.

Prefiro o retrato – dele e do país – feito imparcialmente pelo sociólogo Alberto Gonçalves, no Fórum do Diário de Notícias de 13 de Outubro “Dias Contados – RTP símbolo da Nação” – onde não poupa o Governo nem Passos Coelho, e onde, no excerto de Domingo, 6 de Outubro, de título irónico, “A ineficácia da ASAE”, expõe os seguintes dizeres da minha plena anuência, como tudo o que dele tenho lido:

 

Não me escandaliza que alguém classifique as desculpas de Rui Machete a Angola. Faz-me certa impressão que esse alguém seja José Sócrates, também conhecido por “o Engenheiro”. Desde logo porque nenhum outro governante em democracia abusou tanto da representatividade para subjugar o país a regimes pouco recomendáveis, desde a tenda de Kadhafi às sucessivas vénias a Hugo Chavez. Mas sobretudo porque se trata do “eng.” Sócrates, cujo currículo geral devia isentá-lo de classificar o que quer que fosse. Vergonhosa de facto é a presença semanal da criatura na RTP, que passou há muito o estatuto de anedota e começa a incorrer no de ofensa.

 

A menos que se ache natural colocar o incendiário do Caramulo a comentar incêndios em horário nobre, ou contratar Otelo a fim de dissertar sobre geo-estratégia, o programinha “do eng.” Sócrates é dos principais sintomas do enlouquecimento acelerado da nossa vida pública. Não falo da radical ironia que consiste em obrigar o contribuinte a patrocinar (incluindo, parece, os custos em protecção policial) o homem que acima de todos, ajudou a desgraçá-los. Ainda que o “eng.” Sócrates pagasse do seu bolso o tempo de antena de que dispõe, o absurdo permaneceria.

 

E absurdo não é palavra excessiva, mesmo num lugar tão exótico que tolera a desmesurada percentagem do comentário político a cargo de personagens da política, mesmo que se invoque os direitos de liberdade e de cidadania. Depois das proezas que cometeu numa gloriosa carreira, já é um acto de generosidade permitir-se que o “eng.” Sócrates ande à solta: oferecer-lhe uma tribuna vedada a 99,99 por cento dos cidadãos é gozar com estes e demonstrar o atraso português em matéria de higiene. Infelizmente, nos casos graves a ASAE não toca.

 

Talvez a ASAE seja também um retrato do País, tal como a RTP. Esta esbanjadora, torturadora, na banalidade obediente e servil de programas feitos para um país pobrezinho, glutão e bailador. Aquela, assestando de preferência a questão higiénica sobre os sítios que têm mais dificuldade em recorrer das suas sentenças de encerramento. A RTP não tem tal dificuldade de recurso, tem-se visto, por isso nos impinge semanalmente uma reconhecida presença de torturador, com as pedras que atira do seu sapato de torturado. Presença que vai a todas, como também ao programa de Herman, que chama Lula para lhe apresentar o seu livro, falando do que costuma falar – as relações entre o Portugal e o Brasil da cordialidade.

 

E Spínola, e Soares, Sampaio, Sócrates, Seguro… Com outros SS menos imponentes pelo meio… Os SSS da nossa progressiva servidão de quarenta anos. Os SSS da nossa cruz. E todos jogando as pedras dos seus sapatos - afinal todos as tiveram e mantêm  - sobre quem vai tentando erguer, com tombos, claro, um país de muitos tontos:

  

um jovem arrogante, mas corajosamente decente, Pedro Passos Coelho

 

   

 

 Berta Brás

PÂNICO NOS PARTIDOS

 

 

 

Os partidos entraram em pânico.  Alguns portugueses acordaram do seu sono letárgico e, usando o pouco que a actual ditadura lhes dá de liberdade, apresentaram à Assembleia da República um pedido de alteração da Constituição, para alterar o Artigo 151º, de forma a poderem colocar na AR, como seus representantes, quem os cidadãos desejam e não quem os chefes dos partidos querem.

 

Levantou imensos protestos! Todos os partidos menos um votaram contra. Votou a favor o Bloco de Esquerda, honra lhe seja feita. E veio nos jornais que os independentes na AR seriam um atentado à democracia!!! Como inversão de conceitos, não se consegue melhor.

 

Esta escandalosa inversão de conceitos que os partidos mostram, são fruto do pavor de verem alguns portugueses acordarem e começarem a aperceber-se do enorme logro em que têm vivido ao longo de quase quarenta anos. Porque podem protestar à vontade –  incluindo o “direito” de insultar e apedrejar... – mesmo que nada alterem do sistema, vão para casa satisfeitos... porque puderam protestar. Têm-lhes dito que isto é “democracia”, e não se aperceberam, até agora, que estão submetidos a uma ditadura que se mostra bem pior que a outra, que afundou o país para uma situação ainda pior do que aquela de que a anterior o tirou e que causou à grande maioria dos portugueses uma perda do seu nível de vida como não há memória!

 

Esperemos que esta amostra de querer sacudir o jugo de ditadores sem escrúpulos aumente e que os seis mil que acordaram se transformem em seis milhões, para mudar esta antidemocrática Constituição e haver, em Portugal, democracia.

 

Para os leitores que estão a pensar que eu quero abolir os partidos – o que não é verdade - transcrevo o parágrafo final do artigo “Partidofobia e partidocratite”, que publiquei no Expresso, em 1979, tinha a revolução cinco anos e, estando mal, Portugal não estava como está agora:

 

“Partidos políticos como congregações de homens com o mesmo credo político, sim! Partidos como órgãos de poder paralelo, não! E partidos como órgãos de poder ditatorial, três vezes não!"

 

 Miguel Mota

 

Publicado no Público de 21 de Outubro de 2013

VENTURA

 

 

Há quem diga que a ventura

Anda no mundo perdida

Mas vem a quem a procura

Com veemência na vida.

 

Ventura é felicidade

Que alguns têm ao nascer

Outros nem por veleidade

A chegam a conhecer.

 

A ventura nos transcende

Não se estuda nem se ensina

Não se compra nem se vende

Nem se sabe onde origina.

 

Se há um destino traçado

Que o ser humano emoldura

Que outorgue ao desventurado

Ventura de ter ventura!...

 

 Euclides Cavaco

A JIHAD BRITÂNICA...

 

... VERSUS CATÓLICOS IRLANDESES

 

Jihadis, como os muçulmanos lhe chamam – a guerra santa – existem desde... desde quando mesmo? Ninguém o saberá dizer, mas a história conta-nos e continuará a contar-nos passagens de completa vergonha para o bicho que tem o desplante de se intitular o homo sapiens, e insiste, sapiens!

 

A Bíblia tem mais descrição de guerras e extermínios do que salmos e louvores ao Deus Omnipotente.

 

Mais perto de nós temos calamidades que feliz ou infelizmente não esquecemos, pior ainda quando pensamos que muitas dessas “guerras santas” se deram no seio daqueles que se intitulavam cristãos, negando, em total oposição, a base da Mensagem de Cristo “Amai-vos uns aos outros”.

 

Só para lembrar alguns casos:

 

- O Massacre de São Bartolomeu em França, em 1572, e o cerco em La Rochelle, onde terão sido mortos talvez até setenta mil huguenotes;

 

- A ferocíssima e odienta Inquisição em Portugal e pior ainda sobretudo em Espanha, que durou uns três séculos;

 

- A “limpeza” de índios americanos, sobretudo no Norte e áreas espanholas.

 

- O massacre, à fome, dos ucranianos, pelo Estaline.

 

- O genocídio dos arménios.

 

- Idem dos sérvios pelos croatas.

 

- Dos tibetanos.

 

- Dos tutsis.

 

- Na Somália e Sudão.

 

- No Zimbabwe.

 

- Sem esquecer o Holocausto e a exterminação de meio milhão de ciganos.

 

- E a guerra que os protestantes britânicos moveram, durante séculos, aos católicos, não só na própria Inglaterra, mas na Escócia, na Irlanda, e mais tarde até onde o seu império mandou e desmandou.

 

Em 1695 o parlamento irlandês, já dominado pelo ingleses, exilou da Irlanda monges, frades, jesuítas e toda a hierarquia católica. Como o Imperador Leopoldo da Áustria em aliança com os britânicos contra Luis XIV de França tivesse reclamado da violência desta lei, ela não foi logo executada. Mas assim que a guerra acabou, em 1697, a lei passou “triunfalmente”, e outras leis contra católicos seguiram-se umas atrás das outras.

 

Já em 1691 Westminster tinha passado uma lei proibindo membros do Parlamento irlandês de terem assento no “seu” Parlamento ou ocupar cargos públicos se não tivessem jurado negar a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Cristo. Nenhum católico podia prestar juramento parlamentar desde que não negasse a validade da Missa.

 

A perseguição não parava, e os reis, agora William de Orange encorajado pela mulher Rainha Ana, preparavam mais leis contra os católicos. Em 1704 apareceu o “Acto para evitar o futuro crescimento do papismo”, que ficou conhecido como o “Código Penal”, privando os católicos até do direito de voto, e cujas principais cláusulas eram:

 

- Nenhum católico pode comprar terras.

 

- Nenhum católico poderia alugar uma fazenda por mais de trinta e um anos; e o aluguer teria que ser pelo menos dois terços do valor anual da exploração.

 

- Quando um católico morrer, a sua propriedade não pode ser herdada pelo filho mais velho, mas dividida igualmente entre todos os filhos. Se um dos filhos se tornasse protestante ele poderia herdar a propriedade inteira.

 

- Nenhum católico poderia advogar em tribunais, ser solicitador, juiz ou membro do grande juri.

 

- Católicos não podem ter assento no Parlamento nem votar nas eleições.

 

- Católicos não podem ocupar lugares na administração pública – por exemplo um católico não podia ser servente, xerife ou membro do Conselho de cidade.

 

- Católicos não podem mandar seus filhos para fora para serem educados, nem criar escolas dentro de casa.

 

- Católicos não podem ser guarda de órfãos.

 

- Católicos não podem portar armas, entrar para o Exército, ou ter um cavalo que valha mais do que £5 – cinco libras.

 

- Católicos são proibidos de viver em muitas das mais importantes cidades das províncias.

 

- Católicos podem rezar livremente, mas as suas igrejas não podem ter campanários ou exibir cruzes. Os padres não podem vestir roupas clericais em público, nem exibir emblemas sagrados; eles terão que se registrar na administração do governo e fazer juramento de lealdade. Arcebispos, bispos, jesuítas e outros do clérigo regular (além de monges e frades) têm que viver no campo.

 

- Peregrinações de católicos, especialmente a do Lough Derg, in County Donegal, eram proibidas. (A mais antiga de toda a Irlanda, no dia de St. Patrick’s Day)

 

A Câmara dos Comuns chegou ao expoente máximo do absurdo quando propôs marcar todos os Padres que não se tivessem registado, com um “P” grande marcado a fogo na bochecha! O Conselho não gostou da solução, que era mais uma punição, e propôs coisa bem mais “simples”: a castração! Para os ingleses seria uma solução muito melhor!

 

O Conselho Privado do Rei não permitiu que nenhuma destas “soluções” fosse executada, por achá-las demasiado bárbaras! Mas o restante do Código Penal entrou em vigor.

 

Mas não ficou por aqui a perseguição. Em 1704 o mesmo Conselho do Rei, acrescentou nova cláusula:

 

- Toda a pessoa que tiver um cargo público deve produzir um certificado provando que ele tinha recebido a comunhão numa igreja da Irlanda. Como os católicos estavam já desqualificados para emitir qualquer documento este teria que ser passado pela igreja presbiteriana!

 

Tudo isto e outras “vergonhas” impostas aos católicos, empobreceram-nos e degradaram-nos a um ponto tal que a ingenuidade dos homens não havia conhecido.

 

Aqueles que ganharam com a ruína dos católicos foram os ingleses e os proprietários de terras protestantes e seus parentes.

 

Valentes, os católicos, onde somente cerca de cinco por cento se “converteram” para não serem marginalizados.

 

Tudo isto parece inacreditável, partindo dum povo que já no século XIII obteve do rei a famosa Magna Carta, que “dizem” ser o primeiro passo para a democracia.

 

A mesma democracia da Declaração de Independência dos EUA quando diz “que todos os homens foram criados iguais”; uma mentira que começa agora a parecer que é verdade, após mais de dois séculos.

 

Ainda a mesma democracia na Declaração dos Direitos do Homem que repete que “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, e continua a assistir-se ao gasto com armas que ultrapassa em mais de cinquenta ou cem vezes o necessário para que acabasse a fome no mundo.

 

Inclusive a Constituição do Brasil quando diz, no seu Art. 5° “que todos são iguais perante a lei”, onde um pobre que rouba uma galinha vai preso e leva da polícia e um político, ou até um presidente que rouba milhões nem sequer sabe onde ficam as prisões! Tamanha mentira faz doer até as meninges.

 

Enquanto o “deus dos homens” for o poder, o dinheiro, não haverá democracia, nem direitos humanos, nem nada disso. Mas continuará a haver povos submetidos, esmagados e a morrer de fome, e jihads a acontecer por todo o lado.

 

Ainda se continua a matar em nome de deus, não de Deus. Até quando?

 

Mais uns milhões de anos!


Rio de Janeiro, 21/10/2013

 

 Francisco Gomes de Amorim

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