O dia de ontem foi para mim prolixo em amostras da gente que somos no país que temos.
Começou pela leitura do “Público “ de sábado passado, 21/9, no, habitualmente lido em primeiro lugar, artigo de Vasco Pulido Valente: “Sem limites” foi sobre o candidato Fernando Seara à Câmara de Lisboa, com promessas utópicas – eu diria anedóticas - nos seus cartazes, para ganhar a Câmara, no que é apoiado pelos partidos do Governo. Transcrevo o parágrafo final:
«António Costa conseguiu ao fim de muito tempo e de muito esforço reduzir a dívida da Câmara de Lisboa e chegar a uma situação financeira sustentável. O programa de Seara (se merece o nome) iria numa dúzia de meses criar uma nova dívida muitas vezes superior à antiga. Mas parece que ninguém lhe chamou a atenção para esse ridículo pormenor; e nem o CDS nem o PSD se importam que ele faça uma campanha destinada a arruinar o Estado e a ludibriar o eleitorado. Esta prática não escandaliza agremiações que por ela sempre manifestaram uma especial deferência. Só não se percebe como, no meio do regabofe estabelecido, o Governo ainda arranja coragem para cortar “dez por cento aos pensionistas do Estado e aos pobres reformados do “regime geral”. A desvergonha é ilimitada.»
Entretanto, telefonou-me um amigo, contando da recandidatura de Carlos Carreiras, também do PSD, à Câmara de Cascais, e a notícia do aumento descomunal da dívida da autarquia relativamente à deixada pelo presidente anterior, António Capucho, que, se bem me lembro, dali saíra por acusações graves de negócios obscuros e agora se propunha para a Câmara de Sintra.
Eu acabara de ler, no mesmo jornal, o texto de José Pacheco Pereira, de verrina contra Paulo Portas – “A natureza da “crise Portas” é ser endémica” – e cansada de tanto ataque certeiro e de tanto saber pujante, pensara na anomalia de um país que vive de abocanhar, de largar bitaites, uns mais estudados do que outros, todos na ânsia de valorização pessoal, mais do que de tentativa de ajudar a salvar esse país. Pensara que, conhecendo pouco de política, ao que se aponta, Passos Coelho era um homem decidido a tentar ultrapassar uma crise, e Paulo Portas pretendia ajudá-lo nisso, e quando Portas usou o seu truque de alarme de saída, tudo ficou aterrado e criticou Portas, com receio de que faltasse a mama europeia, caso se mantivesse a resolução, que obrigou Coelho a fazer cedências a Portas para que reconsiderasse. Mas retomou-se o fôlego, e desde que tudo voltou ao normal tudo voltou a atacar em força, Marques Mendes, Constança Cunha e Sá, os habituais comentaristas, tudo com muita seriedade – ou mesmo sem ela - gente que se considera impecável, vomitando críticas ou impropérios, e embora outros considerem que há factores económicos positivos, isso passa ao largo, ninguém o reconhece ou todos os da crítica o minimizam .
E o que respondi ao meu amigo foi que, entre tantos os nossos bem falantes, nenhum se oferece para fazer melhor, substituindo os mal amados. No fundo, não passamos duns pedantes tão ridículos como os emigrantes pilosos e palreiros que a “Gaiola Dourada”, ao que se diz, põe em destaque. Piores do que estes, todavia, porque estes, pelo menos, apesar dos hábitos parolos com que emigraram, construíram filhos mais requintados, embora não suficientemente bem formados para não cuspirem na malga de que provieram.
É isso que fazemos bem. Cuspirmos, hábito muito nosso. Cospe Jardim também, no mesmo jornal “Público”, com a parolice grosseira de sempre, ao defender “ser necessária uma revolução no país para garantir que todas as conquistas do 25 de Abril não se percam por “imposição do capitalismo estrangeiro”, astutamente fingindo ignorar que as conquistas que conseguiu para a Madeira - tirante a independência desta “dos do Continente” que almeja conseguir – se deveram ao tal capitalismo estrangeiro, sem o qual tais conquistas turísticas não seriam possíveis. A imposição pelo actual Governo, de colaborar no pagamento das dívidas, restringindo-lhe o afluxo dos capitais anteriores, o torna eloquentemente palrador sem respeito pela bandeira do “seu” país.
É um humor sórdido e bem vaidoso o nosso. Acabei o dia a ver o Canal Memória, primeiro com um episódio do Conde de Abranhos, cujos actores acentuam os traços encontrados em Eça, a caricatura neste, transformada naqueles, em arrebiques de ostentação irónica ou grotesca, caso do prego espetado na nádega do sr. desembargador, pai da futura esposa de Alípio, que solícito, com mira na fortuna e mão daquela, o extraiu com as cautelas e servilismos necessários . Mas os berros e gemidos que o descritivo torna hilariantes, ostentados pelo actor-personagem tornam-se não caricatos mas obscenos. Em seguida foi o programa “Por Outro Lado”, apresentado com elegância por Ana Sousa Dias, de entrevista a António Lobo Antunes, que já em tempos vira e me desconcertara pelos trejeitos de lábios e voz e mãos em movimento, e dedos na boquinha ou no nariz, o olhar fugidio, em esgares e contorções, dizendo coisas para surpreender, contestando, mostrando desgostos, usando discursos pedantes de falsa modéstia e falsa vergonha a estralejar de orgulho e de falsa bondade e compreensão.
Um dia em cheio sobre as nossas gentes, imagem do que somos, papagaios vistosos e palradores, pretensiosos conhecedores e críticos de nós próprios, mas ninguém se propondo para assumir e fazer diferente. Os desligados do poder, apenas. Que os “ligados” condenam e prometem mudança, mas apenas para efeitos eleitoralistas.As contingências do status não possibilitam diferenças. Senão para pior.
Há dias, dizia-me um advogado meu amigo: "Por mor da crise, o número de litígios aumentou consideravelmente mas, como os litigantes não têm dinheiro, os meus honorários caíram verticalmente".
Dizem que os que vivem da terra não sentem a crise.
Em 1933, o Sr. Heine (pai de minha mulher), tinha, na Dinamarca, um negócio de galinhas que produziam abundantemente ovos. Mas como ninguém tinha dinheiro para comprar ovos, o negócio faliu. Comeu (e deu) as galinhas e foi ensinar História no liceu público. A minha mulher, nascida um pouco mais tarde, acha que deve ser por isso que se tornou alérgica a penas. O Sr. Heine nunca voltou aos negócios. Durante a invasão alemã, escapuliu-se por mar para a Suécia donde regressou com uma bateria de canhões para combater os invasores mas não teve ocasião de o fazer pois os invasores entretanto tinham fugido. Depois da II Guerra Mundial, o Sr. Heine fundou e organizou o Museu Rural dinamarquês, sito em Lingby, nos arredores de Copenhague, de que foi nomeado director. Uma maravilha de museu cuja visita fortemente recomendo.
Foto de 1940, Panorama nº 35. Foto de Castelo Branco
Aqui, dois parêntesis: (1) O Sr. Heine considerava o Museu da Arte Popularportuguês o melhor no seu género na Europa. Visitava-o demoradamente sempre que vinha a Portugal ver a filha; (2) nos anos 50, o Sr. Heine viu, nas imediações do Hospital Santa Maria, em Lisboa, um agricultor a trabalhar a terra com uma charrua de que ele tinha notícia histórica mas não conseguira encontrar qualquer exemplar na Dinamarca. Ficou extasiado não só por ver o objecto como por ver como era utilizado. Tentou comprá-lo mas o "saloio" disse que era o seu ganha-pão e não vendeu. O Sr Heine teve que se contentar com as fotografias que levou consigo.
Conheço outro caso semelhante mas com resultado diferente. O meu amigo Eduardo Morais Dantas, senhor de uma Construtora do mesmo nome de São Paulo era (infelizmente, já morreu) um louco por cavalos. (Chegou a ser campeão sul americano de hipismo como o seu cavalo Negreiro que um dia me deixou montar. Nunca esquecerei.) Eduardinho, como era conhecido em atenção à sua estatura, casou serodiamente. A meu conselho, veio passar a lua-de-mel em Sintra. Adorou. O que mais lhe interessou contudo foi o coche de praça com a parelha de lusitanos. Adoptou-os como meio de transporte, enquanto aqui esteve. No final, perguntou ao cocheiro se lhe vendia o coche o e os cavalos e quanto queria por eles. A mesma reacção "Então e eu? – Que vou fazer sem o coche e os cavalos" perguntou perplexo o hábil cocheiro. Eduardinho não se perturbou. "Vem também, caso queira, claro." E assim foi: cocheiro, mulher, cavalos e coche passaram a fazer parte do folclore da fazenda que Eduardinho tinha no Interior do Estado de São Paulo.
Depois veio a crise. No Brasil optaram pela inflação. Esta tornou-se galopante. Num ano atingiu os 300%. Eduardinho ficou entalado no cálculo do custo de uma empreitada. Uma fábrica. Levou a obra a peito e entregou mas, para salvar o nome, vendeu tudo o que tinha. O cocheiro teve que voltar para a praça. Isto foi em 1975. Nesse Natal, telefonei-lhe do Rio de Janeiro, onde me encontrava, para São Paulo. Eduardinho instalara-se com a mulher num quarto alugado. Chorou e disse: - Tu foste a única pessoa que se lembrou de mim.
A língua Portuguesa - a nossa língua - tem certas particularidades que fazem dela uma língua sui generis.
Exemplo:
Em todas as poucas línguas europeias que conheço, as ideias de brincar e jogar exprimem-se pela mesma palavra.
Vejamos:
Em francês:
Jouer avec des poupées
Jouer le futbol
Em italiano:
Giocare con le bambole
Giocare calcio
Em inglês:
To play with dolls
To play football
Em alemão:
Spielen mit Puppen
Spielen Fussball
Mas, em português:
Brincar com bonecas
Jogar futebol
Já noutras ocasiões chamei a atenção para certas "irregularidades" do português.
A verdade é que tendo a nossa língua derivado do latim, ela é inquestionavelmente europeia, mas não é só europeia: é também árabe, negro-africana, sul-americana e asiática.
Por isso e por outras razões, o verdadeiro Portugal, o genuíno, não se enquadra bem na URSE (União da Repúblicas Socialistas Europeias, vulgo UE).
Temos de dizer (insistentemente) a esses gajos, de dentro e de fora, que nos querem escravizar ao seu sonho de poder, que Portugal não é um país europeu que se agache às determinações dos tubarões, europeus ou não. Somos grandes, porque a história nos fez grandes; duma grandeza que não se mede em km2, nem em milhões de dólares, nem em mísseis de cruzeiro, nem sequer em graus de parvoíce.
A Alemanha elegeu e Ângela Merkel venceu. A CDU/CSU (União dos cristãos sociais-democratas) venceu com 41,5% dos votos, seguida do SPD com 25,7%, Die Linke 8,6%, Verdes 8,4%, a FDP 4,8%, AfD 4,8%, Piratas 2,2% e restantes 4,1%. A união recebe 311 assentos no parlamento, o SPD 192, o Die Linke 64 e os Verdes 63.
Surpresas: a Chanceler é indomável, a União é o único partido popular, o FDP que tinha 5 ministros no governo de coligação de Merkel não chega a entrar sequer no parlamento e o AfD (“Alternativa para a Alemanha” - partido contra o euro), conseguiu em seis meses, depois da sua fundação, um resultado de 4,7% dos votantes, advindos sobretudo da antiga Alemanha socialista. O AfD não conseguiu porém superar a barreira dos 5% que lhe possibilitaria o salto no parlamento, preparará porém muitas dores de cabeça à União. Uma coligação da esquerda (SPD, Verdes e Linke), embora matematicamente possível, torna-se irrealizável, também pelo facto do SPD e dos Verdes não aceitarem fazer coligação com Die Linke (comunistas).
Merkel terá de fazer coligação com o SPD ou com os Verdes. Um e outro partido têm medo de Merkel embora ela seja uma técnica do poder, de estilo presidencial, mas muito exigente na disciplina. O mais viável será uma grande coligação com o SPD. Este, teria a oportunidade de, no meio da legislatura, provocar uma crise governamental, mas Merkel poderia socorrer-se então dos Verdes como parceiros de governo. O socialista francês Hollande desejaria uma grande coligação de Merkel/SPD porque poderia, deste modo, ganhar mais influência nas redes socialistas da UE, por outro lado teria de aguentar com a pressão dos companheiros alemães no sentido de forçarem os socialistas franceses a fazerem as reformas que a Alemanha fez há dez anos e que a colocou na avançada do jogo económico europeu!
Governar na Alemanha não é fácil porque há um contrapeso regional dos Länder que no Bundesrat (Conselho Federal) podem bloquear ou aferir leis provindas do parlamento, devido ao contrapeso partidário a níveis de estados federais. Dos 16 Estados federais só 6 são regidos pela União (CDU/CSU).
Apesar de todas estas barreiras, o povo alemão possui uma vantagem em relação a outros Estados, tem um sistema partidário que, sem ser nacionalista, pensa primeiro no bem da nação e só depois no bem do partido. Esta é uma razão, entre outras, porque os partidos alemães não aceitam fazer coligação com Die Linke. Esta é também uma razão do sucesso alemão, usando um mínimo de ideologia e um máximo de especialização.
O povo está contente com a política da Chanceler, conhecem-na desde há oito anos como Chanceler e não quer experimentações. Com excepção do SPD que conseguiu melhorar o resultado em 2,7% em relação à última legislatura, todos os outros partidos perderam.
A Europa aprenderá a gostar de Ângela Merkel
Isto terá consequências para o trabalho na UE. Os alemães estão descontentes com o trabalho da Comissão Europeia; o instrumentário burocrático da UE tem-se revelado ineficiente com as medidas desenvolvidas nos últimos 5 anos no sentido de sair da crise. A Alemanha ficou chocada com os 150 mil milhões de Euros que perdeu com a crise dos bancos, que continuam a criar problemas. Ângela Merkel tem medo que o dinheiro investido na salvação de países em crise tenha um paradeiro semelhante ao da crise dos bancos e em que os credores/contribuintes e Estados terão de pagar a factura. Reconhece porém que é preciso fazer mais no sentido de investimento nos países com maior crise económica. Tem por outro lado dentro do país uma força popular crescente contra o Euro.
Tudo isto complica as decisões políticas de futuro numa UE em que cada país continua a orientar a sua visão para o umbigo do próprio país (talvez Portugal esteja a fazer uma dolorosa excepção, o que torna injusta a situação em relação aos portugueses).
A Alemanha continuará com uma política orientada para a economia real, isto é, em favor do curso de poupança. Neste sentido, a política irá favorecer, na UR, a fortificação das decisões a nível de Chefes do Governo, mais à margem do Parlamento Europeu; isto porque se prevê nas próximas eleições para o Parlamento Europeu (próximo ano), uma maior quantidade de deputados críticos da UE, o que complicaria decisões de compromisso. Dado a Alemanha e a França se encontrarem descontentes com a UE e a Inglaterra descontentíssima, a política irá no sentido de menos Europa e mais núcleos de Estados.
A Alemanha sente-se com responsabilidade pela Europa e certamente exigirá mais pessoal importante e da sua confiança na ocupação de postos na UE e na NATO. Merkel também não conseguirá continuar a adiar o desejo de Estados europeus, como Inglaterra e França, que querem da UE uma política de segurança semelhante à americana. Não será fácil para Merkel conseguir uma política que consiga unir conservadores e progressistas, a nível europeu na feitura de leis, no sentido de se nivelarem lucros e défices na competição entre os países.
A força da opinião pública alemã é muito forte perante o Governo e ela exige da política consolidação e poupança no orçamento. A economia alemã, em quarto lugar a nível mundial, determinará o futuro da Europa. O Presidente francês reconhece que a miséria financeira em que se encontra o obriga a encostar-se à Alemanha. A Europa terá de se encostar à Alemanha por convicção ou por oportunismo. A Alemanha sozinha tornar-se-ia um perigo económico para os outros países europeus e a Europa sem a Alemanha seria economicamente uma desgraça.
"Tirar-nos o dinheiro, também é tirar-nos a liberdade!"
Hernâni de Carvalho, Psicólogo e Jornalista,
Sic, programa "Querida Júlia", 23SET2013, 12h e30m
Nota Introdutória
Nas minhas frases incompletas, uso como eleitor e escrevinhador, para protestar, em primeiro lugar, o meu voto e, em segundo lugar, a escrita. Nesta, muitas vezes, recorro a figuras de estilo, tais como, a ironia e o humor.
32. Um dos Membros do actual Governo, nos contactos deste, com comunicação social, substituiu, o tapete de relvas, por urtigas, mas põe ares de maduro…;
33. O Chefe do Governo devia ouvir o Dr. Hernâni de Carvalho, afinal, como democrata que diz ser, anda a tirar-nos o dinheiro, leia-se: anda a tirar-nos a nossa Liberdade…;
34. E quem não respeita a nossa Liberdade e faz impor a sua insensível vontade, é Ditador, ainda que disfarçado de Democrata...
35. E a Ditadura é o oposto da Democracia, em que se afirma que vivemos...;
36. Os Capitães de Abril já se terão arrependido?...
37. Outro Membro do Governo, perdeu a memória e por lapso factual não escreveu a verdade! Tal é o sentimento de impunidade em que os políticos navegam…;
38. Há, também, a Senhora que substituiu o ex-Ministro das Finanças, originou uma crise governativa que nos custou 14 milhões de euros e, ironicamente, está irrevogavelmente, ligada à escandaleira dos swaps…;
39. Sabia qual é o lema dos agiotas? A solidariedade paga-se! Isso mesmo! Paga-se e com juros que nos levam os anéis e os dedos…;
40. Portugal pagou 1,1 milhões de euros de juros à troika. Este valor suporta o encargo dos hotéis de luxo onde se instalam os técnicos que cá vêm dar ordens ao nosso Governo e exigir-lhe políticas financeiras de terra queimada…;
41. Concluiu-se que o sacrifício de uns é o luxo de outros…;
42. Exploração, a quanto obrigas…;
43. Os anéis significam o nosso património. Os dedos, a nossa Vida…;
44. Anéis que começámos a hipotecar quando a seguir a l974, uma chusma de políticos irresponsáveis começou a tratar, unicamente, dos seus interesses e a vender o País aos bocados…;
45. Cometeram o crime de lesa-pátria ao entregarem a independência nacional…
46. "Toda a educação assenta nestes dois princípios: primeiro repelir o assalto fogoso das crianças ignorantes à verdade e depois iniciar as crianças humilhadas na mentira, de modo insensível e progressivo." Eu sublinhei e Franz Kapfa escreveu…;
47. Lembram-se de quem é que afirmou, insensivelmente, a uma criança, na campanha eleitoral de há dois anos e tal que, jamais, iria cortar subsídios e aumentar os impostos?...;
48. Conclusão: as crianças portuguesas aprendem cedo o que é o profissionalismo dos políticos…;
49. A imprensa nacional trouxe a público outra novidade: que o Chefe do Governo acusa o seu Vice de vir a ser responsável pelo segundo resgate…
50. Mas não é o Chefe do Governo o responsável pela política do seu Governo?…;
51. O Senhor Ministro da Educação é muito shakespearian: To be or not to be, there’s the question! To learn English or not to learn forcibly! There’s the question!...;
52 Será sempre uma questão de Ministro!…;
53. Quando é que o Banco Central Europeu desvaloriza o euro face ao dólar?...;
54. Ou não são, na falta de empresas de rating europeias, as empresas de rating americanas quem condiciona o mercado global?...;
55. O segundo resgate está à vista!...;
56. De quem é agora a culpa?...;
57. Não tenho dúvidas! A culpa é do arco da governabilidade…;
58. Fazem-se tentativas de repartição de austeridade, mas, esta ainda não chegou a toda a sociedade portuguesa…;
59. Há sempre excepções e privilégios…
60. A Presidência da República já deu conhecimento das medidas que tomou para reduzir as despesas desse Órgão?...;
Não é possível esconder que, vista de Varsóvia, a situação política portuguesa (...) é intrigante. Dois ex-presidentes da República apelam ao actual Presidente para que demita um Governo com maioria parlamentar. O Provedor de Justiça fez um apelo semelhante.
Com o devido respeito, não compreendo esses apelos. Um Governo com maioria parlamentar deve cair por procedimentos parlamentares – não por manifestações de rua, ameaças de violência ou insultos ao Presidente da República. Também não compreendo bem a ideia de convocar congressos com a esquerda radical para reclamar mais democracia. A democracia, para a esquerda radical, sempre foi a ditadura da esquerda radical, exercida na rua, em nome da democracia.
É verdade que existe um descontentamento geral no país e que o actual Governo já não dispõe de apoio popular?
Não sei, embora as manifestações (...) não pareçam corroborar essa estimativa. Mas, a ser verdade, o líder da oposição democrática, o PS, tem um caminho aberto à sua frente: deve apelar directamente aos deputados do PSD e do CDS para retirarem o seu apoio ao Governo. Deve propor-lhes uma plataforma de ampla coligação como base de um futuro Governo. Este poderia emergir como proposta do actual Parlamento ao Presidente da República, ou resultar de eleições antecipadas - que poderiam ser convocadas pelo Presidente quando a actual maioria parlamentar retirasse o seu apoio ao actual Governo.
Tudo o resto me parece um pouco peculiar. A ideia de que o Presidente deve demitir o Governo sempre que um coro de protestos se ouve nas ruas e na comunicação social, ou/e que uma sequência de notáveis apela à queda do Governo – essa ideia não é muito frequente numa democracia constitucional.
Se posso dar um conselho ao Partido Socialista, que obviamente não tem sequer de o ouvir, eu aconselharia a que se afastasse da extrema-esquerda – como de facto fez, pela ausência do seu líder no congresso acima referido – e que se dirigisse aos Deputados e, sobretudo, aos eleitores do PSD e do CDS. E que lhes dissesse, por exemplo, que admite as responsabilidades no despesismo que conduziu à vinda da troika, mas que a política do actual Governo é baseada numa engenharia financeira dirigista que ignora a realidade económica e social do país.
O PS tem preferido acusar de neoliberalismo a política do actual Governo. Parece-me difícil que uma política que aumenta os impostos seja neoliberal. Mas o nome não importa muito. Só que, ao chamarem-lhe neoliberal, estão a sugerir que a questão é basicamente entre famílias políticas e não entre a realidade socioeconómica nacional e projectos de engenharia financeira dirigista que a ignoram.
Devo imediatamente acrescentar que a referência à realidade nacional também não é conclusiva e contém os seus próprios perigos. Ninguém quer regressar ao "orgulhosamente sós" do Doutor Salazar e não convém acordar forças nacionalistas adormecidas. Mas parece incontornável discutir o que melhor corresponde ao interesse nacional no actual contexto da União Europeia e do seu (sub)projecto de moeda única.
Essa é a discussão que tem sido evitada entre nós – e por razões compreensíveis: é uma discussão tremendamente complexa e cheia de incógnitas. Não deve ser confundida, aliás, com um discussão, também necessária mas parcelar e subsidiária, sobre a aplicação dos fundos europeus. Um dia, aquela discussão mais funda vai ter de ser enfrentada. Entre nós e noutras paragens.
O Presidente Hollande, por exemplo, acaba de criticar a Comissão Europeia por ter emitido recomendações de reformas estruturais a França, em troca de aceitar mais um adiamento de dois anos no cumprimento das metas do défice orçamental. Disse François Hollande que "cada país é que deve decidir a sua política económica, caso contrário não há soberania". No mesmo dia, líderes democratas-cristãos alemães criticaram o Presidente francês acusando-o de estar a "minar o projecto europeu".
Horas depois, numa conferência de imprensa em Paris com a Chanceler Merkel, François Hollande declarou que ambos os países reafirmaram o seu acordo em prosseguir na criação de um "autêntico governo económico europeu". Não se compreende, francamente, como poderá a França continuar a reclamar soberania ao mesmo tempo que defende um governo económico europeu.
Estas e outras razões geram crescente cepticismo dos eleitorados relativamente às políticas ditas europeias. Os partidos constitucionais-pluralistas da Europa continental têm até agora reagido a esse cepticismo com declarações solenes contra os extremismos nacionalistas e xenófobos. Essas declarações são basicamente acertadas. Mas se os partidos constitucionais-pluralistas não escutarem os eleitores e não ponderarem as razões do mal-estar crescente, devemos recear seriamente que os extremismos sejam os grandes beneficiários das actuais dificuldades na zona euro.
O domínio da Tecnologia está em fluxo numa constante evolução, dir-se-ia em plena revolução. Cientistas e tecnólogos mostram-se impacientes e insatisfeitos. Dia e noite sonham com novas descobertas através de intensas pesquisas.
No horizonte industrial e tecnológico desponta uma novíssima fonte de energia eléctrica, em substituição de modalidades existentes. Assim, além da energia de algas unicelulares, do sistema fotovoltaico e do sistema hélio-térmico, já anteriormente discutidos, anuncia-se a promissora utilização de energia gerada por células combustíveis de hidrogénio (hydrogen fuel cells).
Há mais de 10 anos que DOE (Department of Energy / Secretaria de Estado de Energia, dos EUA) foi gastando US$ 1,5 biliões na pesquisa e no desenvolvimento da nova fonte revolucionária à base de células combustíveis de hidrogénio. De momento, esta novíssima energia limita-se quase exclusivamente às grandes empresas fabricantes de veículos automóveis com marcas altissonantes, tais como: Toyota, Renault/Nissan em conjunto com Daimler/Ford, General Motors e Honda. De 2015 a 2020, esses fabricantes vão comercializar seus novos autos a hidrogénio na seguinte escala: Toyota em Novembro de 2015 na grande Feira de Tóquio; Renault-Nissan/Daimler-Ford em 2017; General Motors em 2020 em associação com uma empresa não anunciada e a Honda que projecta o lançamento dos seus autos em 2015.
Como explicar esta corrida para o lançamento de automóveis a hidrogénio? É simples, a resposta. No Estado de Califórnia em 2022 apenas será permitida a circulação de automóveis híbridos ou com 0% de emissão poluidora do ambiente. A capacidade motriz de automóveis a hidrogénio atingirá 254 milhas (uns 400 km) com o tanque cheio de células combustíveis de hidrogénio, mesmo que, em termos dum galão de gasolina, os motores a hidrogénio saiam 2 ou 3x mais dispendiosos, taxa que posteriormente será muito reduzida segundo a Secretaria de Estado de Energia (citado DOE). Será reduzida a emissão de dióxido de carbono e a poluição ambiental.
Os fabricantes de automóveis a hidrogénio não desvendam como se obtém a nova fonte de energia. Porém todos eles confiadamente apostam que os veículos a hidrogénio dominarão o comércio mundial de veículos automóveis nas próximas décadas. Embora na Natureza o hidrogénio seja muito abundante, o hidrogénio utilizado provém do gás natural, donde são extraídos os electrões das células combustíveis para acionar os motores.
O atraso na comercialização de carros a hidrogénio é causado pela falta de postos de abastecimento. Previa-se que o problema seria vencido em 2010. E de momento apenas operam 3 postos de abastecimento de células combustíveis de hidrogénio e nove outros estão em acabamento. Cada um destes postos de abastecimento custa US$ 3 milhões. O Governo do Estado de Califórnia está empenhado na criação de 100 postos de abastecimento, pelo que no orçamento anual inscreve US$ 20 milhões.
Através dos EUA os postos de abastecimento à base de produtos petrolíferos contam-se em 170.000 e sua eventual substituição custará ao Pais US$ 512 biliões. Automóveis accionados por gasolina, nos EUA, numeram uns 250 milhões
Na União Europeia, a Alemanha vai construir 50 postos de abastecimento de automóveis a hidrogénio. Enquanto o Japão propõe criar outros 100 desses postos de abastecimento.
Aleajactaest – já dizia César na antiga Roma – e os próximos tempos darão o seu veredicto final. Ainda não se explorou o uso da nova fonte de energia eléctrica pelas empresas comerciais e industriais.
Quando comecei a leccionar, no liceu de Aveiro, em finais de 57, em substituição de uma professora, só em Abril é que tive direito a receber os quatro primeiros meses de vencimento pelo trabalho exercido, o que constituiu espórtula de envergadura – para cima de 12.000$00 – que me pôs logo em azáfama para arranjar casa e os móveis imprescindíveis para os livros, as louças, os lençóis e o primeiro filho a caminho, iniciando o processo de prestações, como coroa, não de glória mas de espinhos que me selou a vida inteira, e me fez viver feliz no imediato, é certo, sem o espectro da expectativa a realizar só para quando os ventos favoráveis da fortuna o permitissem. A fortuna – no seu sentido inebriante de riqueza – nunca me foi favorável, todavia, porque sempre a antecipei no gozo da obtenção do prazer imediato, com a colaboração compreensiva dos vendedores das minhas alfaias, logo seguida, hélas! dos doze meses, quando não anos infindáveis, a saldar a dívida. Daí os espinhos da minha coroa serem antes de brando plástico, de tal maneira que nunca me poderia orgulhar de construir os versos das grandes tristezas, como o “Erros meus, má fortuna” – que também incluiu a falha de proventos, pese embora o comedimento da espiritualidade clássica - ou mesmo “O dia em que nasci morra e pereça”, ambos do estro de Camões, que foi desgraçado a sério - “Que este dia deitou ao Mundo a vida / Mais desgraçada que jamais se viu!”, enquanto que o meu dia de nascimento não deitou nada disso cá para fora. Apenas atribuladas – é certo - prestações mensais.
Vem a história a propósito do chefe de secretaria do liceu de Aveiro, homem pesado, de compleição atrabiliária, que, ao entregar-me os doze contos e picos referentes aos primeiros quatro meses e picos de aulas por mim leccionadas, me disse de forma iracunda, que acolhi com deferência maravilhada, não só pelo desafogo inesperado, como pelo prodígio do vaticínio, que nem Nostradamus se arrogaria a executar: “Nunca a senhora virá a receber tanto na sua vida”.
Era ele o encarregado da distribuição dos vencimentos, o que lhe dava inegável autoridade e prestígio, por poder mergulhar mensalmente os olhos e as mãos naquelas muitas notas de que era obrigado a desfazer-se de seguida, mas enquanto isso, pudera sentir-se um novo Creso a contemplá-las. Suponho que se julgava o dono delas a distribuí-las com autoridade. E isso o pude comprovar noutras escolas, enquanto os vencimentos eram distribuídos em notas pelos chefes responsáveis, deuses arrogantes do seu poder distribuidor. Mais tarde os vencimentos foram distribuídos em cheques, não causariam tantos eflúvios de prazer, mas a arrogância manteve-se, pela concessão do poder de traçar cifras para o pessoal. Hoje as coisas tornaram-se assépticas, impessoais, abstractas, com a máquina multibanco a trabalhar incansável, eficaz e providencial, sem vaidades tolas, apenas emperrando, como defeito da sua contingência.
Mas sempre pude verificar, e cada vez com mais consciência, que o poder, qualquer que seja, transforma os homens em feras raivosas e imponentes, criadores de criaturas à sua imagem, eficientes, enfiadas na mesma rede de desumanidade para com os fracos, de subserviência prestável para com os que comandam.
A história que transcrevo do Público de 15 de Setembro, lida em “Espaço Público” é exemplo, não só de truques mistificatórios dos governos centrais a fim de distorcer a imagem do desemprego, mas dessa desumanidade arrogante para com os que precisam de emprego ou de subsídio e que não podem falhar às imposições de comparência, ainda que seja enganosa, sob pena de perderem o direito ao subsídio ou à oferta de trabalho. Afinal, qualquer ser humano se pode transformar em lorpa fera, desde que lhe seja fornecido o meio adequado. A falta de educação ainda enfatiza mais os casos, não devemos atacar só os cimeiros da nossa inveja.
Leiamos o texto, de José Manuel Silva, de Odivelas:
“A escravatura como forma de combater o desemprego?”
Permitam-me acrescentar algumas notas relativamente ao desemprego, a propósito do texto de José Vítor Malheiros “A escravatura como forma de combater o desemprego?”, publicado no Público no dia 10 de Setembro.
Como aí se diz, a taxa de desemprego mede apenas quem procura trabalho, mas como se sabe quantas são as pessoas desempregadas que não procuram trabalho? Ora bem, em Odivelas, que pertence ao Centro de emprego de Loures, convocam-se as pessoas que já não recebem subsídio de desemprego para sessões de presença obrigatória – a última a que assisti foi no dia 16 de Agosto, sexta feira (a seguir ao feriado) – sob ameaça de a falta implicar a anulação da inscrição no centro de emprego e inibição de reinscrição nos 90 dias seguintes.
O objectivo da sessão é verificar as faltas e dizer tão-só aos presentes que se devem dirigir ao Gabinete de Inserção Profissional da Junta de Freguesia de Odivelas, que fica do outro lado da freguesia.
Parece estúpido mas é isto: convocam-se por carta as pessoas para uma morada, apenas para lhes comunicar que devem ir a outra morada.
O que faz o Gabinete de Inserção Profissional? Verifica se a pessoa apareceu e recomenda que procure trabalho nos anúncios ou que se inscreva em cursos para aprender a trabalhar com o Word (incluindo licenciados e mestres)…
O ritual repete-se a cada trimestre, desde Abril. O objectivo real das sessões, que os funcionários já não conseguem esconder ao ponto de o admitirem, é fazer as pessoas andarem de um lado para o outro até falharem uma presença, e voilà, a inscrição anula-se, o desemprego desce, o país fica feliz.
A taxa de desemprego passa assim apenas a reflectir o desemprego recente, das pessoas que ainda recebem subsídio. Os restantes são toureados até saírem da estatística por falta de comparência.
Pelo meu lado vou continuar a procurar trabalho, mas, tal como a estatística já demonstra, vou deixar de aparecer nestas sessões de humilhação colectiva com objectivo de apenas manipular as estatísticas.
Parece-me um caminho socialmente perigoso, mas o que mais me impressiona é a eficácia com que está a ser executada esta orientação. Se tudo na administração pública funcionasse assim tão eficazmente…
José Manuel Silva, Odivelas
Um texto de fino humor e muita amargura. Não haverá quem o reconheça e igualmente as capacidades intelectuais do seu autor e lhe proporcione o emprego a que tem direito, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos (artigo 23º)?