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A bem da Nação

APROXIMAM-SE AS "AUTÁRQUICAS", MEDITEMOS...

 
 
 
"Sermão do Bom Ladrão",
Padre António Vieira

 

Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas.
Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os Reis encomendam os exércitos e as legiões ou o governo das províncias ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos. 
Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.
Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam.

MEDALHA DE BRONZE E CABELOS DE PRATA!

 

Dedicado ao grande Xico d’Água

 

 

1952 Helsinquia. Olimpíadas.

 

Portugal, atrasado na educação, cultura e desporto, sempre se atrevia a enviar alguns atletas à grande festa do desporto.

Já não sei de quantos elementos era composta a delegação portuguesa.

 

Mas com a garra de Bartolomeu Dias, Diogo Cão e outros grandes, a vela e o mar davam alguma possiblidade de não fazermos tão má figura.

 

 O barco era um Star, de classe olímpica, para dois tripulantes, com 6,9 metros, peso mínimo de 671 kg, e área velica total de 26,5 m², armado em sloop e com quilha fixa feito ainda de madeira.

 

 

Foi projetado em 1910, por Francis Sweisguth, projetista dos Estados Unidos e utilizado em olimpíadas desde 1932. Embora não tenha um desenho moderno, a classe continua popular e muito competitiva, com uma flotilha de mais de dois mil barcos participando de competições.

 

E lá vão os nossos velejadores para, brilhantemente conquistarem a medalha de bronze!

 

 

 Joaquim Fiuza e Francisco Rebelo de Andrade. Serão estes aqui em cima?

 

As únicas medalhas que Portugal trouxe de toda essa competição na Finlândia.

 

Foram recebidos, no regresso, como heróis. Há 51 anos.

 

Hoje, o Francisco Rebelo de Andrade, que ficou conhecido com o Xico d’Água, teria direito a ouro!

 

Faz noventa anos, está ótimo, continua alegre e bem disposto e o cabelo de prata.

 

 

Continuamos a competir, mas faltam-nos estes campeões bem como os irmãos Duarte e Fernando Belo também medalhistas Olímpicos, em Star, em Londres, quatro anos antes, 1948.

 

Parabéns ao “jóvem” Xico d’Água!  Muitos e bons anos ainda por navegar.

 

Rio de Janeiro, 15/08/2013

 

 Francisco Gomes de Amorim

PORTUGAL POBRE OU MAL GOVERNADO? - 3

 

 

Passando da análise para a solução constato que quase toda a gente com quem falo me diz: o que poderemos nós fazer para criar postos de trabalho para mais de um milhão de portugueses, se já não temos tudo isso que em tempos idos não soubemos aproveitar?

 

De facto já não temos territórios externos mas temos o nosso território actual e uma população, ambos até aqui mal aproveitados pelas medíocres práticas de gestão das nossas elites responsáveis.

 

Temos ainda muita capacidade desaproveitada em:

 

  • Turismo de qualidade principalmente ligado às actividades náuticas como são exemplos o estuário do Tejo, o Sotavento Algarvio e outros locais, empresas de navios de cruzeiros que já começaram a actuar, às actividades agrícolas e gastronómicas, às actividades medicinais, às actividades universitárias desde que se saiba tirar partido dos interessados de língua portuguesa em frequentar cursos em Universidades que sejam geridas de forma idêntica a outras como por exemplo inglesas ou norte americanas;  
  •  Indústrias que já temos mas que deverão ser incrementadas em especial as que produzem bens da elevada qualidade;
  •  Energia solar, que por razões ainda por explicar, não tem o desenvolvimento que deveria ter de forma a reduzirmos a importação de produtos petrolíferos;
  •  Produção de veículos movidos eletricamente em especial para usar nas povoações reduzindo a importação e podendo exportá-los;
  •  Voltar a ter empresas de navegação além das de turismo, que já vamos tendo;
  •  Favorecer inteligentemente o desenvolvimento de empresas de grande porte sem as quais não poderemos ter acesso às riquezas do nosso território marítimo e outras actividades que só podem ser praticadas por elas e não por PMEs;
  •  Piscicultura;

 BP: Lisnave adaptou navio para recolher petróleo

  • Indústrias metalo-mecânicas incluindo estaleiros navais;
  •  Tecnologias de informação.         

                                                                           

Aqui chegados, a pergunta que se coloca é: como corrigir a situação se os Órgãos de Soberania estão dominados pelos partidos cuja cultura é manifestamente imprópria, como a situação actual demonstra sem qualquer dúvida, mas que por seu próprio esforço são incapazes de alterar?

 

Cada vez as ruas se enchem mais frequentemente com gente a protestar contra o que parece estar errado, embora uma grande parte dela não só não parece saber como sair desta situação, como não entende poder ter colaborado, por ignorância ou distracção, nos actos que originaram a pobreza actual, como por exemplo quando, por razões ideológicas de esquerda, foram destruídas muitas empresas, assim se perdendo muitos postos de trabalho e a própria segurança do país.

 

Temos um Parlamento que tem dado provas de baixa eficiência e em que os Deputados não são responsabilizados, até porque a nossa Constituição é na verdade de um sistema bi-presidencialista pois elege-se um Presidente da República e um Presidente do Conselho de Ministros que por sua vez nomeia os Deputados que legalizam a sua eleição, não tendo eles assim qualquer elo de responsabilidade com os eleitores. E a irresponsabilidade é muito má conselheira.

 

Aliás, tem sido notória a redução de despesas que não foi feita na Assembleia da República, no Conselho de Ministros e na Presidência da República, bem como nas Autarquias em comparação com os sacrifícios que grande parte dos cidadãos tem suportado.

 

E a famigerada reforma do Estado em vez de uma reestruturação quer dos Órgãos de Soberania centrais quer das autarquias, cuja contribuição para a baixa competitividade é enorme, continua a não passar de listas de cortes que é exactamente o que não se deve fazer, pois a solução não é passar trabalhadores de empregados para desempregados mas sim passar trabalhadores em funções inúteis (e portanto parasitas) para outras produtivas.

 

Que é preciso criar e/ou recriar.

 

Estamos agora a chegar ao fundo.

 

Para recuperarmos a riqueza perdida e/ou desperdiçada, é forçoso alterar profundamente a cultura vigente, sabendo-se no entanto que muitas das actuais forças dominantes se mostram incapazes de realizar as mudanças e outras se opõem a elas por inércia, egoísmo e ignorância, como se pode avaliar no dia-a-dia da nossa vida política.

 

Mas nem tudo está perdido.

 

Uma vez mais na história da humanidade uma tecnologia nova poderá permitir uma solução moderna e eficiente: a “web”.

 

Primeiro, vamos apontar o que é preciso fazer de concreto para se alterar a cultura vigente e que não possa ser impedido pelos partidos políticos e pelas corporações que indiciem desvios do comportamento democrático eficiente:

 

  • 1º-aproveitar a “web” para estreitar a ligação entre toda a população e entre ela e as forças vivas políticas e corporativas de forma a permitir haver informação sobre todos os ocupantes actuais e os candidatos a cargos públicos, poderem ajuizar completamente a sua capacidade para ocuparem esses cargos e assim irem sendo sobressaindo os melhores e descartados os piores, evitando ou pelo menos tentando evitar o actual excessivo número de figuras de baixo nível cultural e profissional em cargos de responsabilidade.

 

Além disto também contribuirá para atrair para a vida política algumas personalidades que actualmente não aceitam o esquema actual.

 

Já existem na “web” referências a plataformas Wiki, a portais “e-gov” e outras que permitem ter forte convicção de que será possível a curto prazo ser criada uma plataforma que resolva esta questão.

 

  • 2º-alterar a Constituição, tendo presentes os princípios da gestão eficiente e não apenas conceitos jurídicos de forma a que ela seja de facto uma fonte de eficiência, competitividade e sustentabilidade sem prévias influências ideológicas antigas ou novas, mas que se comportam como preconceitos impeditivos de uma análise correcta e imparcial da vida do país tanto do ponto de vista económico como moral, social e ecológico, tendo sempre em vista a competitividade e a sustentabilidade nacionais.

 

  • 3º-alterar a organização dos Órgãos de Soberania e das Autarquias de forma a permitir a sua optimização tanto na redução de custos como no aumento da eficiência do seu funcionamento, para que não se torne a verificar uma situação como a actual em que o  excesso de gastos parasitas e a baixa eficácia pôs em perigo o nível do Estado Social sustentado, com a total complacência daqueles a quem competia o controlo das acções do Poder executivo.

 

Assim, será possível a participação da maior parte da população, do Povo, no controle da qualidade dos responsáveis e dos atos por eles praticados de forma a eliminar os desvios incomportáveis das verbas movimentadas pelo Estado e permitir a adoção generalizada da transparência, da integralidade e da eficiência como normas a cumprir por todos eles.

 

E insisto em que a revolução cultural que se pretende deve ser no sentido de deixar de se falar em cortes mas sim em alterações estruturais concretas e bem justificadas, deixar de se falar em despedimentos mas sim em mudanças de funções pois o que se deve eliminar são as funções parasitas ou inúteis e substitui-las por outras produtivas, deixar de falar em fascismo quando se exige disciplina e recordar que para se viver bem em democracia verdadeira é preciso ter chefias muito melhor preparadas que numa ditadura, seja ela de direita ou de esquerda.

 

A História ensina que uma democracia sem chefes competentes rapidamente se pode transformar numa ditadura. E quem vai pagando sempre os custos dos desmandos das chefias é o Povo.

 

FIM

 

Lisboa, 17 de Julho de 2013

 

  José Carlos Gonçalves Viana

PORTUGAL POBRE OU MAL GOVERNADO? - 2

 

 

Mas afinal quais as razões estruturais para esta incapacidade dos portugueses para saírem de uma vez destas situações de pobreza, sempre fruto de serem mal governados, quer seja porque em certas ocasiões viviam em ditadura e noutras em democracia, mas mantendo intacta uma cultura (não aquela que pertence ao Ministério com esse nome mas a que define os comportamentos e as atitudes da população) incapaz de permitir e motivar a prática generalizada, tanto da parte dos poderes públicos como dos privados, dos princípios da gestão eficiente?

 

Vejamos agora quais as práticas dos detentores do poder típicas desta cultura (por ordem alfabética da palavra chave):

 

 

  • Corrupção generalizada, isto é, democratizada pois aumentou com a democracia e com as deficiências da Justiça;

 

  • Compadrio, i.e., desprezar o valor das pessoas em favor de interesses pessoais e/ou políticos;

 

  • Tomarem decisões casuísticas e discricionárias não distinguindo o essencial do acessório e favorecendo a corrupção;

 

  • Não zelarem pela actuação eficiente dos Órgãos de Soberania, antes favorecendo comportamentos favoráveis aos seus interesses próprios e não aos do país;

 

  • Darem preferência ao imediatismo originado pelo período entre as eleições em vez de a dar à sustentabilidade, como aconteceu por exemplo com a actividade imobiliária e com as autoestradas;

 

  • Não permitirem a livre iniciativa nem produzirem regulamentações eficazes que evitem o condicionamento da actividade económica, desmotivando os investidores e motivando a corrupção;

 

  • Não evitarem nem combaterem monopólios em qualquer tipo de atividade, incluindo a política e a corporativa;

 

  • Não motivarem a população no sentido do aumento da competitividade, da valorização individual e da participação na vida colectiva;

 

  • Não se libertarem de preconceitos e ideias feitas, sejam de natureza ideológica, religiosa ou outras;

 

  • Acederem a cargos de elevada responsabilidade sem estarem preparados para os exercer eficientemente;

 

  • Não terem vergonha de praticar actos abusivos que criticavam aos detentores do poder anteriores.

 

A propósito, é interessante recordar Camões, Eça de Queirós, Fialho de Almeida, Camilo Castelo Branco, Aquilino Ribeiro, Tomás Figueiredo, Miguel Sousa Tavares, Mário Soares, Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Morais e tantos, tantos outros que nos seus escritos e intervenções sempre mostraram estas realidades e os prejuízos e dificuldades que causaram ao nosso País. Causaram e causam.

 

E já agora uns autores estrangeiros como Daron Acemoglu e James A. Robinson num livro muito oportuno “Porque falham as nações” para se compreender melhor quais foram as causas desta situação e como poderemos sair dela por cima e não por baixo.

 

(continua)

 

Lisboa, 17 de Julho de 2013

 

 José Carlos Gonçalves Viana

PORTUGAL POBRE OU MAL GOVERNADO? - 1

 

Portugal, a partir do início do século XIX foi normalmente um país mais pobre que rico, embora na verdade isto tenha sido assim desde o século XVI.

 

 

O Brasil deixou de ser fonte de receita, as outras colónias nunca foram aproveitadas e nem o episódio do mapa cor-de-rosa serviu de lição, pois em vez de ser corrigida a gestão medíocre destes territórios, atribuíram-se as culpas todas aos ingleses e nada aconteceu de positivo.

 

Quando nasce a República, o país estava muito empobrecido, segundo algumas estatísticas no mesmo grau de pobreza que se atingiu após estas últimas duas décadas, até 2010, de vida folgada a crédito.

 

Segundo essas mesmas estatísticas, o nível máximo de riqueza em Portugal foi atingido em 1961, embora a gestão das nossas riquezas ultramarinas, como se passaram a chamar as antigas colónias, nunca tenha sido praticada com a desejável eficiência, o que originou as guerras coloniais e a partir desta data a nossa riqueza tenha vindo sempre a descer até agora.

 

Reportando-me apenas à época em que eu vivi, podemos constatar que na verdade não somos um país pobre mas sim muito mal governado.

 

No fim da II guerra mundial, tendo recusado o auxílio do Plano Marshall, o que provavelmente não foi assim tão errado, iniciámos um processo de desenvolvimento de que a execução do plano do Despacho 100 referente à Marinha Mercante foi um passo essencial, mas mais tarde ao falharmos a execução do plano energético que previa a instalação de energia nuclear, demos um passo atrás de dimensão catastrófica que ainda poderia ter sido corrigido se, em 1972, a chamada crise do petróleo tivesse alertado as nossas elites dominantes para o perigo da dependência desta fonte energética.

 

Na verdade, o nosso país entre as energias nuclear, eólica e solar e uma gestão inteligente da água, poderia ser praticamente independente do petróleo, desde que o ordenamento do território e a gestão dos sistemas de transportes fossem eficazes.

 

O que não aconteceu.

 

Temos hoje um ordenamento deplorável, um sistema de transportes em que se favoreceu o rodoviário (o que tem maior consumo de energia e maior poluição) destruímos o transporte marítimo e fluvial, gerimos mal o ferroviário e o ordenamento do território foi essencialmente gerido para maximizar os ganhos imediatos da construção e da especulação imobiliária.

 

 Com os resultados à vista.

 

A nossa competitividade foi altamente comprometida, entre 90 e agora baixámos cerca de vinte lugares no “ranking” mundial da competitividade e assim o único factor de produção que podemos reduzir é o custo da mão-de-obra, que é exactamente o contrário do que aconteceria se tivéssemos sido bem geridos.

 

Nunca se pode esquecer que a competitividade e a sustentabilidade são essenciais para se desenvolver um país no curto e no longo prazo e que um país só se pode considerar verdadeiramente desenvolvido, quando o factor de custo de produção mais protegido for exatamente a mão-de-obra e não o contrário como aconteceu aqui.

 

Aliás, os países com níveis de competitividade mais altos têm também os salários mais altos, porque ela, a competitividade, depende essencialmente da qualidade da gestão das empresas e do país e não de salários baixos.

 

Nas últimas duas décadas não só destruímos muita produção industrial e agrícola como tivemos uma política de transportes oscilando entre e a indigência e a mediocridade, com a agravante do enorme endividamento que foi necessário para cometer tantos erros e/ou crimes e ainda pela criação de excessivos intermediários improdutivos e de parasitas originados pelos partidos políticos, tudo isto de difícil e morosa correcção.

 

E ainda por cima esquecendo questões essenciais como o aumento da longevidade da população, a diminuição da natalidade, as alterações tecnológicas e climáticas, a evolução mundial e as boas práticas de gestão.

 

Situação tanto mais complicada porque muitas das corporações têm mostrado estarem mais atentas aos seus lucros próprios e imediatos que aos interesses do país.

 

(continua)

 

Lisboa, 17 de Julho de 2013

 

 José Carlos Gonçalves Viana

PIRI-PIRI

JINDUNGO (termo angolano)

 

 


 

 

 

Quem coloca o jindungo no dia-a-dia está levando, além de tempero, uma série de medicamentos naturais: analgésico, antiinflamatório, xarope, vitaminas, benefícios que os povos primitivos descobriram há milhares de anos que agora estão sendo comprovados pela ciência. O jindungo faz bem à saúde e seu consumo é essencial para quem tem enxaqueca. Essa afirmação pode cair como uma surpresa para muitas pessoas que, até hoje, acham que o condimento ardido deve ser evitado. O jindungo traz consigo alguns mitos, como por exemplo o de que provoca gastrite, úlcera, pressão alta e até hemorróidas.. Nada disso é verdade. Por incrível que pareça, as pesquisas científicas mostram justamente o oposto! A substância química que dá ao jindungo o seu caráter ardido é exatamente aquela que possui as propriedades benéficas à saúde.

 

No caso da pimenta-do-reino, o nome da substância é piperina. No jindungo, é a capsaicina. Surpresa! Elas provocam a liberação de endorfinas - verdadeiras morfinas internas, analgésicos naturais extremamente potentes que o nosso cérebro fabrica! O mecanismo é simples: Assim que você ingere um alimento apimentado, a capsaicina ou a piperina ativam receptores sensíveis na língua e na boca. Esses receptores transmitem ao cérebro uma mensagem primitiva e genérica, de que a sua boca estaria pegando fogo. Tal informação, gera, imediatamente, uma resposta do cérebro no sentido de salvá-lo desse fogo: você começa a salivar, sua face transpira e seu nariz fica úmido, tudo isso no intuito de refrescá-lo. Além disso, embora a pimenta não tenha provocado nenhum dano físico real, seu cérebro, enganado pela informação que sua boca estava pegando fogo, inicia, de pronto, a fabricação de endorfinas, que permanecem um bom tempo no seu organismo, provocando uma sensação de bem-estar, uma euforia, um tipo de barato, um estado alterado de consciência muito agradável, causado pelo verdadeiro banho de morfina interna do cérebro. E tudo isso sem nenhuma gota de álcool!

 

Quanto mais arder o jindungo, mais endorfina é produzida! E quanto mais endorfina, menos dor e menos enxaqueca. E tem mais: as substâncias picantes do jindungo (capsaicina e piperina) melhoram a digestão, estimulando as secreções do estômago. Possuem efeito carminativo (antiflatulência).

 

Estimulam a circulação no estômago, favorecendo a cicatrização de feridas (úlceras), desde que, é claro, outras medidas alimentares e de estilo de vida sejam aplicadas conjuntamente. Existem cada vez mais estudos demonstrando a potente ação antioxidante (antienvelhecimento) da capsaicina e piperina. Pesquisadores do mundo todo não param de descobrir que o jindungo, tanto do gênero piper (pimenta-do-reino) como do capsicum (jindungo), tem qualidades farmacológicas importantes. Além dos princípios ativos capsaicina e piperina, o condimento é muito rico em vitaminas A, E e C, ácido fólico, zinco e potássio. Tem, por isso, fortes propriedades antioxidantes e protetores do DNA celular. Também contém bioflavonóides, pigmentos vegetais que previnem o cancro.

 

Graças a essas vantagens, a planta já está classificada como alimento funcional, o que significa que, além de seus nutrientes, possui componentes que promovem e preservam a saúde. Hoje ela é usada como matéria-prima para vários remédios que aliviam dores musculares e reumatismo, desordens gastrintestinais e na prevenção de arteriosclerose. Apesar disso, muitas pessoas ainda têm receio de consumi-la, pois acreditam que possa causar mais mal do que bem. Se você é uma delas, saiba que diversos estudos recentes têm revelado que o jindungo não é um veneno nem mesmo para quem tem hemorróidas, gastrite ou hipertensão.

 

DOENÇAS QUE O JINDUNGO CURA E PREVINE

 

Baixa imunidade - O jindungo tem sido aplicada em diversas partes do mundo no combate à aids com resultados promissores.

 

Cancro - Pesquisas nos Estados Unidos apontam a capacidade da capsaicina de inibir o crescimento de células de tumor maligno na próstata, sem causar toxicidade. Outro grupo de cientistas tratou seres humanos portadores de tumores pancreáticos malignos com doses desse mesmo princípio ativo. Depois de algum tempo constataram que houve redução de 50% dos tumores, sem afetação das células pancreáticas saudáveis ou efeitos colaterais. Já em Taiwan os médicos observaram a morte de células cancerosas do esôfago.

 

Depressão - A ingestão da iguaria aumenta a liberação de noradrenalina e adrenalina, responsáveis pelo nosso estado de alerta, que está associado tb à melhora do ânimo em pessoas deprimidas.

 

Enxaqueca - Provoca a liberação de endorfinas, analgésicos naturais potentes, que atenuam a dor. Esquistossomose - A cubebina, extraída de um tipo de pimenta asiática, foi usada em uma substância semi-sintética por cientistas da Universidade de Franca e da Universidade de São Paulo. Depois do tratamento (que tem baixa toxicidade e, por isso, é mais seguro), a doença em cobaias foi eliminada.

 

Feridas abertas - É anti-séptica, analgésica, cicatrizante e anti-hemorrágica quando o seu pó é colocado diretamente sobre a pele machucada. Gripes e resfriados - Tanto para o tratamento quanto para a prevenção dessas doenças, é comum recomendar a ingestão de um pequeno jindungo por dia, como se fosse uma pílula.

 

Hemorróidas - A capsaicina tem poder cicatrizante e já existem remédios com jindungo para uso tópico.

 

Infecções - O alimento combate as bactérias, já que tem poder bacteriostático e bactericida, e não prejudica o sistema de defesa. Pelo contrário, até estimula a recuperação imunológica.

 

Males do coração - O jindungo caiena tem sido apontada como capaz de interromper um ataque cardíaco em 30 segundos.. Ela contém componentes anticoagulantes que ajudam na desobstrução dos vasos sanguíneos e ativam a circulação arterial.

 

Obesidade - Consumida nas refeições, ela estimula o organismo a diminuir o apetite nas seguintes. Um estudo revelou que o jindungo derrete os estoques de energia acumulados em forma de gordura corporal. Além disso, aumenta a temperatura (termogênese) e, para dissipá-la, o organismo gasta mais calorias. As pesquisas indicam que cada grama queima 45 calorias.

 

Tensão alta - Como tem propriedades vasodilatadoras, ajuda a regularizar a pressão arterial.

 

 

 

- Bom, não é?

 

 

RECEBIDO POR E-MAIL, AUTOR NÃO IDENTIFICADO

Também para os nossos corpos –S.O.S. And B.

                        

"A AMEAÇA ISLÂMICA À EUROPA", um texto de Isaías Afonso de alerta para o mundo da agressão em que vivemos, causada, aparentemente, pelos fundamentalismos da torpeza humana, a coberto de cartilhas estagnadas no tempo, que mantêm as regras da sua conveniência de perversão imperialista e irrisória. Extremismos que convêm à babugem doutrinária de quem os apoia, num sentido de igualmente provocar desordem e pânico, aparentemente por simpatia humanitária com os mais desfavorecidos, na realidade para boicotar todas as tentativas de reconstrução que as contingências tornam dolorosas e injustas, mas que a intervenção daqueles - igualmente ambiciosos do poder, embora sem o suficiente impacto para estenderem o seu domínio doutrinário farisaico desprestigiado junto das populações cépticas – serve apenas de trombeta esganiçada e ruidosa a impedir a reconstrução pela via da reflexão e da real solidariedade.

                        

Um texto que historia os ataques terroristas da Al-Qaeda nos últimos tempos e lança a suspeita sobre as origens dos descarrilamentos e desastres aéreos da actualidade, e a ameaça de novas acções daquela, cada vez mais tentaculares, exigindo intervenções bélicas de quem assume a defesa da nossa tranquilidade para podermos continuar a expandir argumentos e protestos de cínica generosidade.

                        

Um texto sério e preocupado. Um texto triste, de Isaías Afonso, de inútil alerta.

 

 Berta Brás

 

CONTOS REFRATÁRIOS

 

 

II

 

Ovelhas tresmalhadas

 

 

Um Domingo, deste Ano da Graça, estava eu a beber uma bica, no Café do Largo, como sempre. Ao Domingo, era habitual, ao levantar-me, ir ao quiosque em frente, comprar um jornal e pôr as novidades em dia, quando o Camacho, meu Amigo de há trinta anos, chegou, sentou-se sem cerimónias, à mesa, e, como sempre, lançou um olhar bisbilhoteiro, pela sala, interrompendo a minha tranquilidade.

 

"É pá!" – "Está ali o Dr. Meandros" – Disse, chamando-me a atenção.

 

"E quem é esse?" – Questionei.

 

Fazendo uma expressão de mistério, como quem está a tratar de um assunto altamente secreto, disparou que o tal Meandros era um oprimido defensor da Lei, da província, até agora, pouco conhecido, sem nome na praça, sem experiência notória na barra, com algumas oficiosas em que se limitava a pedir Justiça. Surgiu, repentinamente, do nada, muito bem colocado num partido – o PCE – Partido das Conveniências Estabelecidas.

 

"É pá! Não conheces o gajo?"

 

"Não, não conheço o gajo! E deixa de me chamar ! Sabes que detesto que me tratem por ! "Chama-me pelo primeiro nome que é suficiente!" "Estou sempre a dizer-te a mesma coisa!". "E também não gosto de me repetir!". "Diz lá!".- Adiantei.

 

O Camacho empertigou-se, - tal como um camarada meu que se punha em sentido quando o General lhe telefonava - e desatou a

língua:

 

"Pois, acredito que não o conheças, fazes concorrência à NASA e andas sempre lá por Marte!". E, prosseguindo: "O Dr. Meandros era do meu partido, mas, como viu que não tinha grande futuro, passou-se para o tal PCE!". "E já agora, conheces o Ezequiel?" – Perguntou.

 

"O que é que tem?" Respondi tacticamente com outra pergunta.

 

"É…" "Desculpa, Luís!"." Como dizia, o Ezequiel, não respondeste, não sei se conheces, contou-me que o homem está em grande lá no partido dele". "Tornou-se esperto, bem-falante, politicamente habilidoso e subiu uns lugares nesse partido que nem um meteoro". "O Ezequiel contou-me, ainda, que se tomou de amizades com um tipo do topo e passou a apoiá-lo nas diligências políticas, como assessor!". "Foi convidado para um lugar no Estado, um job for the boys, sabes? E já é Conselheiro Nacional do partido!" "Um serial oportunista, sabes?"

 

"Não percebo o que é que eu tenho a ver com isso!" - Comentei.

 

"Não tens, pá, não tens?".

 

"É que o Ezequiel, contou-me mais umas coisas! É que este gajo até já foi ministro e sabes como? – Questionou-me irritado.

 

Estava lançado o proémio da mexeriquice!

 

"Não sabes, mas eu vou dizer-te!". "Insinuou-se a um alto quadro superior, um director qualquer coisa de um Ministério e apresentou-se como amigo de um Candidato à presidência do partido e sugeriu-lhe que podia ajudar!". "O tal director qualquer coisa lamentou e disse-lhe que era apoiante do outro Candidato". "Resposta imediata do Meandros: esse Candidato nunca, Sr. Dr.!". "Nunca apoiarei esse arrogante". "Ora, no dia do Congresso, o tal director não sei quantos, já no hotel, foi chamado pelo secretário do Candidato que apoiava, ao quarto onde se faziam as reuniões e, qual o seu espanto quando quem abriu a porta foi o Dr. Meandros que não o deixou

entrar no quarto, com a informação de que o Sr. Candidato estava a descansar". "Conta-me o Ezequiel, que acompanhava o tal director não sei quantos, que este, olhando com desprezo para o Dr. Meandros, lhe retorquiu: vejo, com satisfação que foste promovido a porteiro!". "Depois, abandonou o Congresso e comunicou à Organização que não fazia parte de palhaçadas e que não compactuava com oportunistas sem carácter".

 

Depois desta arrancada, o Camacho respirou fundo, para retomar o fôlego.

 

"E depois?" – Perguntei.

 

"Depois?". "O gajo continua em grande no partido e, até já foi ministro!".

 

"O tal director não sei quantos demitiu-se do lugar e abandonou o partido!"

 

"E tu? Não tiraste conclusão alguma daí?" Perguntei

 

"Que conclusão?" – Perguntou o Camacho.

 

"Nunca ouviste falar de metamorfoses?" – Adiantei.

 

"Eu não!" – Exclama o Camacho espantado.

 

"Qualquer dicionário da língua portuguesa te esclarece que, em sentido figurado, metamorfose significa mudança completa no estado ou no carácter de uma pessoa" – Esclareci. "O carácter e a dignidade resumem a Ética!". "E a Ética, a meu ver, emigrou!" - Conclui.

 

"Já entendi!" – exclamou o Camacho. "Somos um país metamórfico! De emigrantes forçados!".

 

 

 

"Não generalizes!" Retorqui. "Em todas as profissões, credos e classes sociais há pessoas que entendem e são defensores da Ética! E outras que, fazendo parte do rebanho, são apelidadas de ovelhas ranhosas! Eu, pessoalmente, prefiro tresmalhadas!". "O tal director não sei quantos provou que era um Homem! Não um oportunista!"

 

Mudando de assunto, o Camacho perguntou.

 

"Oh Luís, já agora esclareces-me de uma coisa?". "Andas a escrever num blogue, não andas?".

 

"Sim, escrevo! Chama-se "A Bem da Nação!" Respondi.

 

"Sim eu sei! E o que é que queres significar com Contos Refratários?" – Perguntou com curiosidade.

 

"São contos que expressam a minha rebeldia, isto é, sou insubmisso, ou seja, que não aceito, de boa mente, as aldrabices com que tentam convencer-me…!".

 

"Sou um refratário!"

 

"Ah!"

 

 Luís Santiago

 

Sintra, Agosto de 2013

 

NOTA DO AUTOR: Os Contos Refratários são ficcionados e os personagens descritos não são reais, são produto da imaginação do Autor

FALARES DE MOÇAMBIQUE

“República Militar da Maganja da Costa”

 

 

 

Há muito tempo que não falávamos de Moçambique. Não é por isso que ocupa lugar secundário nas nossas saudades de África. Mas o tempo vai passando, outros assuntos se interpondo e...

 

Hoje vamos buscar termos da região da Zambézia, mais especificamente da “República Militar da Maganja da Costa”, e em outro dia tentar explicar que república, e ainda por cima militar é, aliás foi, esta. Começámos a escrever isto em 2009 e acabou por ficar perdido nos milhões de bytes do computador!

 

- CAFRE

 

Sempre que algum termo passa a ser usado com conotação racista ou depreciativa, o que vem dar ao mesmo, deve abolir-se.

 

Os escritos dos portugueses do séc. XIX, que receberam essa palavra no Norte de Moçambique através de populações islamizadas, passaram a usá-la para definir, de forma genérica, os povos mais incultos, e estenderam essa denominação a todos os que se não distinguiam em grupos étnicos definidos.

 

É semelhante ao que se passou na Europa com a palavra “bárbaro” que significava o “outro” o “ateu”, o que não falava a “nossa” língua.

 

Depois passou a significar todo o “selvagem”, ou que praticava atos de selvajaria, etc. Apesar de cafre vir do árabe – kafr – e significar, expressamente, o infiel, o não muçulmano, aquele que ficava além Egito e Núbia, acabou tendo o mesmo sentido depreciativo que bárbaro.

 

Não se chama mais bárbaros aos germânicos, nem aos tártaros, mas... as barbaridades continuam pelo mundo fora, sobretudo cometidas pelos “civilizados”, e os “cafres” há muito foram deixados em paz. Melhor para eles.

 

- KRAAL

 

Por muito estranho que pareça o étimo desta palavra é latino!

 

Poucas vezes se encontra, na escrita portuguesa essa palavra para definir uma construção de defesa. O livro de António Ennes, “A

Guerra de África”, refere que era preciso atacar o kraal de Muzila, mas há sobretudo uma curiosa descrição quando descreve o ataque a Gungunhana, em Manjacase: “Os vátuas... nunca aprenderam com os indígenas do Zambeze a levantar aringas! Tradicionalmente conservavam dos seus antepassados o brio de combater a peito descoberto e em campo aberto, e foi essa ingenuidade de bravura que os perdeu.”

 

Kraal é uma palavra afrikaans, que foi adotada pelos ingleses e que deriva, ou antes, é deturpação de curral! Palavra usada pelos portugueses muito antes dos ingleses imaginarem onde ficava a África.

 

Curral é do latim corrale – lugar onde se guardavam os currus, os carros.

 

Isto parece encaixar-se perfeitamente sabendo-se que os africanos defendiam os seus gados, à noite, em currais circulares, dos ataques de predadores, sobretudo leões e leopardos. Eram, e são, paliçadas, com mais de 2 metros de altura, e que serviam também de defesas militares.

 

- ARINGA

 

1.- Origem alemã, hrings (círculo) ou do inglês ring (a mesma coisa, anel ou círculo), não faz o menor sentido. Os alemães só começaram a colonizar o Tanganica – Tanzânia – em 1880 e muito antes disso já o termo era usado no nordeste de Moçambique;

 

2.- A “capital” da “República de Maganja da Costa” chamava-se Aringa; o “dono” de um dos “prazos”, Bonifácio da Silva, fez construir uma aringa em Aringa, além de outras duas mais para o interior. Por aqui se vê que pode haver alguma distinção entre aringa – fortificação, como paliçada ou fosso, etc. – e Aringa povoação;

 

3.- Nessa região, entre os rios Lucungo e Raraga, viveram os Nharingas, povo altivo, forte, guerreiro, que se considerava superior aos outros! Aí se situava Aringa. Seria muito interessante que alguém consultasse o livro “Os Nharingas”, de Luciano da Costa Rebelo, Quelimane, 1960, dactilografado. (Melhor ainda se me conseguissem uma cópia do mesmo, pelo que eu ficaria extremamente grato!) Há também autores que classificam o povo da Maganja da Costa como um grupo ou sub-grupo étnico conhecido por “nharinga” ou “anyaringa”.

 

Como conclusão, ou existiu um povo nharinga, forte, lutador, que começou por criar uma defesa à volta da sua povoação, ou... a origem ficará longe de esclarecer, porque vindo do gótico ou saxão ninguém engole.

 

Curiosidade: em italiano, aringa é um peixe, o arengue, Clupea harengus, segundo Lineu!

 

 

 

A “República Militar da Maganja da Costa” ocupava o que é hoje o Distrito Maganja da Costa, na costa do Índico, a Norte de Quelimane, na Província da Zambézia, e a sua capital é Maganja.

 

Sob um estranho e único regimem, onde o “escravo” era mais importante que o homem livre, o agricultor, aquele povo estava organizado no modo a que hoje chamaríamos exércitos.

 

O prestígio dos chefes, a maioria descendente de portugueses, mas já todos misturados com africanos e indianos, media-se no número de “escravos” de que dispunha. Esses exércitos eram formados por milhares de escravos, verdadeiros achicunda, todos armados e com forte disciplina militar, eram respeitados, e sentiam-se superiores ao povo simples.

 

 

Achicundas

 

A organização desses exércitos era formada por ensacas – grupo de guerreiros que tanto poderia ser de 250 homens como de milhares, comandados pelos cazembes – capitães.

 

Abaixo dos cazembes havia os sachecundas – sargentos – e mucatas – cabos, que em conselho elegiam o cazembe, que só assumia depois de validado pelo conselho dos cazembes que era presidido pelo capitão da Aringa. E eram estes cazembes que, reunidos, nomeavam o capitão general.

 

O segundo personagem na estrutura de poder da República era o Bazo, uma espécie de diretor supremo dos serviços administrativos, também eleito pelos cazembes.

 

A terceira pessoa era o Canhongo. O adivinho! Velho sipai conhecido pela sua valentia e bom humor, o canhongo era o encarregado de vigiar de noite todas as sentinelas e de transmitir as ordens, e era equiparado aos cazembes.

 

Ambos usavam o cabo de guerra, cauda de búfalo, que sobressaia nas cerimónias feitas antes da guerra.

 

Antes de marcharem para a guerra sempre consultavam os mzimos, espíritos, através duma velha feiticeira, ou feiticeiro, pandoro, a troco de alguns saguates, prendas, de aguardente ou algodão.

 

(a continuar)

 

Rio de Janeiro, 16/06/2009

 

 Francisco Gomes de Amorim

A OPÇÃO

 

 

Um texto cheio de graça, que me chegou por e-mail, de Helena Sacadura Cabral.

 

E assim nos desenha, no pedantismo de uma linguagem, ora de afectos, dentro do conceito de humanismo igualitário de aproximação das classes – e é de crer seja pertença de uma esquerda sensível à dor e distribuidora de proximidades – laborais e outras – e comiserações dignas das nossas inclinações de religiosidade em Cristo – para com as populações humildes a quem se quer distribuir o reino terrestre, que o celeste lhes está garantido – e em contrapartida com as exaltações para com as elites das suas sanções – ora de uma linguagem de cultura e de primor, tanto da direita como da esquerda intelectuais, dadas às leituras dos livros técnicos e dos jornais estrangeiros, denunciantes de uma investigação prévia que nos serve de bandeja, para fazermos figura sem esforço de maior, nos nossos escritos e discursos.

         

Mas de facto o novo-riquismo linguístico não é exclusivo nosso, como bem acentua Helena Sacadura Cabral, que situa os inícios do “fartote pegado” do linguajar sedutor, ou do “politicamente correcto”, por alturas das mudanças humanitárias na USA relativamente à designação para os seus pretos – os “afro-americanos” do seu disfarce anti-racista - por altura, pois, dos anos 60 dos Kennedys e dos Luther Kings, semeadores, como Cristo, das certezas fraternas – o seu continente excluído, todavia da seara – e dos sonhos condenatórios das “Cabanas do Pai Tomás”.

 

Não é, pois, só pecha nossa este novo-riquismo da intelectualidade e da fraternidade linguísticas. Aliás, se alguma coisa criámos, nós, “Portugueses, poucos quanto fortes”, não foi, certamente, o altruísmo das modernas demagogias, apesar de sermos inclinados à lamechice e até de termos “dilatado a lei da vida eterna” segundo a visão optimista camoniana. Os ideólogos da fraternidade fundamentam-se em estudos e filosofias mais ou menos racionais e nós não possuímos tantos pensadores assim, mais em união com as exterioridades do passa-culpas estridente e libertador das nossas próprias responsabilidades nos casos dos dislates nacionais.

 

Mas o novo-riquismo é característico de todos os provincianismos como já o demonstraram as famosas “Preciosas Ridículas” de Molière, Magdelon e Cathos, chegadas da terra com muitos requintes de linguagem e desdéns  nos afectos, prova das suas competências e vaidades, equiparáveis às dos nobres requestadores, indecentemente vingativos.

 

Sejamos, pois, bons provincianos, na imitação dos bons sentimentos e das boas ideias traduzidos nos amaneiramentos linguísticos da nossa postura moral e social.

 

Viva, pois, o nosso provincianismo no postiço do linguajar ou outro qualquer. Trata-se do velho antagonismo entre o ser e o parecer e das nossas opções.

 

O texto de Helena Sacadura Cabral, explícito em relação ao nosso ser, é bem reveladora da nossa opção:

 

«Hoje não se fala português...linguareja-se!» 

 

NOVA LÍNGUA PORTUGUESA... - utilizada frequentemente em "ciências de educação" ...

 

Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos',com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado! As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .

 

De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa' e agora são 'assistentes operacionais'.

 

Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.

 

E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.

 

O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';

 

Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'

 

Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';

 

As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.

 

O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante. Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.

 

A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.

 

Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo' Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação' , os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.

 

Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)

 

As p.... passaram a ser 'senhoras de alterne'.

 

Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem. E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.

 

Estamos "tramados" com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta’.

 

Por Helena Sacadura Cabral

 

 Berta Brás

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