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A bem da Nação

DEVANEIOS

 

APOIO ÀS FAMÍLIAS DOS INCAPACITADOS E MORTOS EM SERVIÇO NACIONAL

 

 

É com o coração dilacerado e olhos a lacrimejar que ouvi na TV a notícia de vários mortos nos pavorosos incêndios ora assolando o país, de norte a sul. Acabam de morrer na flor da vida bombeiras, bombeiros e outros agentes de combate às labaredas que tudo consumiram - casas, hortas, quintas, herdades agro-pecuárias, empresas florestais e industriais – e deixaram as famílias dos sinistrados em completa miséria.

 

De ano para ano, os pavorosos e devastadores incêndios florestais são um lugar comum de calamidade nacional. Perante a angustiosa situação dos familiares desses sinistrados, não devemos ficar de braços cruzados sem um efectivo meio de garantir uma decente sobrevivência aos familiares dos incapacitados e dos que morreram para servir a Nação.

 

Se se verificar que o actual sistema de assistência do Estado aos familiares dos incapacitados e dos mortos nos pavorosos incêndios florestais, como ainda noutras calamitosas sinistralidades, não lhes garante uma satisfatória ajuda, estou certo de que o Governo, ouvindo os peritos na matéria, não deixará de preencher as lacunas onde necessário. Nunca é tarde para fazer as emendas para melhor.

 

Em nome da moral e da justiça, não será inoportuno ajudar eficazmente os sinistrados e os familiares carenciados dos que tombaram queimados...

 

Sem mais ambages, fica aqui minha opinião sobre o modo efectivo de apoiar quem tudo perdeu nos devastadores incêndios, ficando fisicamente incapacitado, bem como os familiares dos mortos em serviço nacional!

 

 

    Domingos José Soares Rebelo

Alcobaça, 28.08.2013

POBRE SÍRIA PARA ONDE VAIS

 

A guerra muçulmana entre Sunitas e Xiitas ao serviço dos EUA e dos lóbis de armamento internacional

 

 

A Síria é o palco da guerra muçulmana entre a confissão dos xiitas e a dos sunitas. A luta de influências entre os dois grupos é bem-vinda aos países da Nato porque lhe oferece a oportunidade de combater a influência russa na região e de fortalecer a Turquia como bastião avançado da NATO numa região que se pode estender pela Ásia Central, Rússia, Cáucaso, China, etc. Com a intervenção militar dos EUA, o Ocidente quer fomentar a soberania do islão sunita (Turquia) sobre o islão xiita (Irão). A Nato com a Turquia e a Arábia Saudita apoiam os rebeldes sunitas e a Rússia com o Irão apoiam o governo sírio e os rebeldes xiitas (xiitas Hezbollah).

 

 Baschar al Assad, presidente da Síria, pertence aos muçulmanos Alevitas (uma comunidades islâmica liberal com raízes no islão xiita mas que não segue os 5 deveres do Islão, nem o seu sistema de direito-sharia, e não frequenta a mesquita, nem interpreta o Corão à letra e reconhece mulheres e homens como iguais – um argueiro no olho islamista). Como se vê a Síria oferece-se como o melhor campo de batalha para as rivalidades entre NATO e Rússia, entre as facções sunita e xiita, entre Irão e Arábia-Saudita, entre Ocidente e Irão, dando oportunidade a todos estes para apoiarem os seus grupos rebeldes e em nome deles transformar um conflito religioso local num conflito político-militar regional. Por isso a imprensa internacional dá tanta importância aos rebeldes que camuflam interesses estratégicos estranhos à Síria e no fim só se aproveitam os extremistas religiosos e o Ocidente na reconstrução. Resumindo: na Síria alinham-se os interesses dos aliados EUA, Turquia, Arábia-Saudita e dos sunitas contra os interesses da Rússia, do Irão e dos xiitas.

 

O conflito descarregado na Síria é quase uma cópia da “Guerra dos 30 anos” entre a confissão protestante e a confissão católica; por trás do conflito religioso encontrava-se o conflito entre o sacro império germânico e a Áustria (dinastia dos Habsburgo) que envolveram, nessa guerra, a maior parte dos países da Europa. Tal como na guerra dos 30 anos do séc. XVII em que os conflitos religiosos entre católicos e protestantes davam oportunidade aos países e principados europeus para tentarem impor o domínio duns sobre os outros, repete-se hoje um conflito religioso muçulmano não declarado entre as duas confissões na Síria, Paquistão, Afeganistão, Iraque, Egipto, Líbia ao serviço de tendências hegemónicas da NATO, Rússia, Turquia, Arábia-Saudita e Irão.

 

Os Média ocidentais estão, duma maneira geral, ao serviço duma informação confusa e confundidora, dado estarem também eles ao serviço dos interesses estratégicos e económicos do Ocidente; por isso favorecem uma intervenção do Ocidente contra a Síria. Quem paga a factura é o povo ocidental com impostos e a obrigação de receber os refugiados que o Ocidente produz e o povo muçulmano obrigado a manter-se sob o jugo divino e sob o jugo regimes despóticos. Este conflito, que não deveria ser nosso, só serve a escalação do poder e os interesses das indústrias de guerra e de reconstrução. Uma intervenção militar seria mais um acto da selvajaria que o Ocidente e a Rússia, com gosto, atribuem a outros povos não tão “desenvolvidos”.

 

 António da Cunha Duarte Justo

AS ABELHAS

 

 

 

A apicultura, a criação de abelhas, em colmeias, para produção de mel e cera, tem algum desenvolvimento em Portugal, mas podia e devia ter bastante mais. A flora de Portugal tem muitas plantas que são boas melíferas. Além da produção directa que dão ao apicultor, as abelhas têm um papel importantíssimo na polinização, não só de árvores de fruto, mas de várias outras espécies. Se as abelhas desaparecessem, muitas  produções agrícolas ficariam reduzidas a quase nada.

 

Conhecidos estes factos, há que ter o máximo cuidado em proteger dos seus muitos inimigos esse insecto precioso, cujo nome científico é Apis mellifera L. nome que, como se indica com o “L.”, lhe foi dado pelo naturalista sueco Carlos Lineu, em 1758. Um dos inimigos é o homem. Nunca se devem usar insecticidas perto da época de floração de várias espécies. Alguns dos modernos insecticidas, como os nicotinoides, são particularmente perigosos para as abelhas. Há anos apareceu em vários países, entre eles Portugal, um outro inimigo, a varroa. É um ácaro (um pequeno aracnídeo, como o da sarna) que dizimou muitas colmeias.

 

Os Estados Unidos estão muito preocupados com os problemas, alguns mal conhecidos, que têm feito morrer muitas colmeias. A revista americana TIME dedicou às abelhas um extenso artigo (8 páginas), em que relata, entre outros temas, o caso dos produtores de amêndoa da Califórnia (a maior exportação agrícola desse estado), que estão em risco de ver essa produção desaparecer ou diminuir drasticamente pois, sem abelhas a polinizar, os frutos não vingam.

 

Lembro-me do nosso Algarve, em tempos famoso pelas suas amendoeiras, que até eram motivo de excursões em Fevereiro, para ver o espectáculo maravilhoso dessas árvores em flor. Graças aos péssimos governos que andaram décadas a destruir a nossa agricultura (e com ela a nossa economia), isso hoje não existe.

 

O Ministério da Agricultura tinha o Posto Central de Fomento Apícola que, além de estudar a vida das abelhas e os processos de melhor conduzir os colmeais, tinha pessoal que ia ensinar aos apicultores as mais modernas técnicas. A Estação Agronómica Nacional tinha um bom Departamento de Entomologia, que logo no início, na década de 1940, resolveu um problema importante, debelando uma anormal praga de gafanhotos.

 

Hoje, também nada disso existe e eu temo, pelo que não foi feito (e pelo que foi feito), em mais de dois anos, que se mantenha em vigor a criminosa “lei” (não escrita mas religiosamente seguida) que manda destruir toda a investigação científica pública que não seja das universidades, uma das grandes causas do descalabro da nossa economia. E não foi só a investigação agronómica e a agricultura que foram destruídas; ainda há quem se lembre do que era o Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Se essa famigerada “lei” está em vigor, o futuro de Portugal vai certamente continuar negro.

 

   Miguel Mota

 

Publicado no Linhas de Elvas de 29 de Agosto de 2013

CRIMINOSOS!

 

 

INFÂMIA!

 

PARASITAS! – DEVASSOS! – CORRUPTOS!

 

Ainda haveria mais alguns termos para definir os mais de 400 ladrões que se encobertam no refúgio de Ali-Baba, neste caso o congresso em Brasília, e que legislam em causa simulandi ou causa turpis.

 

O povo foi para a rua e... logo cansou. Ficaram os profissionais a soldo dos partidos comunistas e do “volta-meu-bem” conhecido por sapo barbudo, a destruir bens da população e do povo, sem que se lhes meta na cabeça uma paulada digna dos tempos chamados antigos, mas que eram bons. Óptimos.

 

E os (des)governantes e políticos nada aprenderam com o clamor.

 

 

Ontem a camara dos deputedos, perdão, deputados, não cassou o mandato dum criminoso – com o lindo nome de natan donadon - condenado em última instância a mais de 13 – treze – anos de cadeia por peculato (expressão latina que significa o crime de receber dinheiro de particular em detrimento do fisco e delapidação de dinheiro público) e por formação de quadrlha e, a seguir, o criminoso, todo elegante, voltou algemado para a cadeia, para daqui a uns dois anos voltar para exercer o mandato dos bestas que nele votaram e são incapazes de criar uma queixa crime, já que o bandido em vez de representar o povo, os rouba. (natanzinho e sua quadrilha terão roubado, aliás desviado que é mais suave, sómente uns R$ 9.000.000, mixaria, nove milhões de reais).

 

Como um dos crimes foi de formação de quadrilha... a quadrilha não o condena.

 

Mas este criminoso tem uma história curiosa e mostra como o voto no Brasil é pior do que piada, Também devia ser considerado crime.

 

Este donadon foi  julgado e condenado em 2010 a 13 anos 4 meses e mais uns dias de cadeia em regimem fechado. Mas como a justiça tarda, tarda, tarda, surgiram novas eleições e o bandido, condenado, candidata-se e consegue eleger-se para deputado federal. O povo gosta de bandido! Melhor do que isto só os anõesinhos da Branca de Neve!

 

A indignação é tanta que, de raiva, as lágrimas afloram. Os homens choram pouco, e normalmente só de dor psíquica e não física, mas a sistemática vergonha que nos assola, queima-nos a alma, o consciente, se é que, face a tamanha vergonha, o consciente pode continuar a existir.

 

***

Mais um pouco sobre os médicos cubanos.

 

Estupidamente foram muito mal recebidos por uns quantos médicos brasileiros... bestas.

 

Que o Brasil precisa de médicos é mais do que sabido. E vieram de Portugal, Espanha e outros países europeus, e a estes ninguém apontou o dedo. Mas aos escravos cubanos, que vem para aqui degredados, sem que as famílias os possam vir visitar, e que vão receber a quarta parte do que os outros, tratá-los mal é outra vergonha. É covardia.

 

Vergonha para esses médicos de araque que se manifestaram contra os escravos, mas sobretudo para o Brasil que parece não se satisfazer com o recorde de importação de escravos de África, e ter sido o último país a abolir a escravatura, e pactua agora com o regime de Cuba importando carne em vez de médicos, a quem, POR LEI tem obrigação de pagar o mesmo a todos por serviço igual.

 

A lei permitirá que se pague aos donos dos escravos em vez de ser aos trabalhadores? Parece que o STJ estará a analisar o caso, mas como a justiça tarda, tarda, tarda... quando terminar o contrato, daqui a três anos, se verá.

 

E a madama dona presidentA que se arroga a vaidosamente querer dar ao mundo lições de Direitos Humanos, continuando a importar escravos? Que tal, hein?

 

***

 

No meio de tanta vergonha (des)governativa, deu-se agora mais um caso de triste palhaçada. Um senador boliviano estava há 455 dias refugiado na embaixada do Brasil em La Paz, porque com prisão decretada por 22 casos de corrupção. Como é evidente é inimigo mortal do evinho morales, mas não se dá asilo a quem tem problemas na justiça mas a quem é perseguido políticamente.

 

Para a embaixada se livrar do incómodo hóspede, montou-se uma operação com exército e polícia federal para trazer, “às escondidas” o senador para o Brasil.

 

Resultado: o ministro das relações exteriores disse que não sabia de nada (foi demitido) a madama presidentA também disse que não sabia (mas não se demitiu!!!) e agora cada um conta uma versão à procura dum bode espiatório.

 

E o evinho, lá das bandas dos Andes, p. da vida, diz que quer o senador de volta para ser julgado.

 

Apareceu até na TV a ler (com dificuldade! Não é ele que escreve os pronunciamentos) um protesto contra o Brasil.

 

Agora só falta irem daqui beijar a mão do evo que nos tem roubado quase todos os investimentos que o Brasil tinha no seu – dele – país, e devolverem-lhe o senador!

 

Tudo figuras amorosas.

 

A Madre Tereza se tivesse conhecido estas pérolas, teria morrido mais cedo!

 

Bem previu Aldous Huxley, em 1932: «desenvolvimento demasiado rápido rumo a um “mundo novo”, conduziria a cidadões despojados de qualquer consciência moral».

 

Rematando com esta maravilha (retirada do blog www.abemdanacao.blogspot.com)

 

O problema com o mundo é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas e as pessoas estúpidas estão cheias de certezas.

Frase atribuída Charles Bukowski  (poeta e escritor americano 1920-1994)

 

29/08/2013

 

 Francisco Gomes de Amorim

AS VINHAS DA IRA

 

As duas guerras mundiais, que devastaram a Europa numa escala desproporcionada, foram as duas seguidas de uma espécie de nova belle epoque, a preencher o intervalo entre calamidades.

 

Entre as mudanças sociais decorrentes da primeira, a libertação das mulheres aparece como um facto dos costumes e dos valores.

 

Foi geralmente atribuída essa mudança às funções que inevitavelmente foram chamadas a exercer, vista a mobilização dos homens pelos exércitos e urgência de mão-de-obra, e do aprender a fazer, na retaguarda.

 

As oficinas, o campo, a casa, os hospitais, e assim por diante, encheram-se de uma criatividade feminina que, para facilitar a movimentação, e como foi observado, cortaram o cabelo e encurtaram as saias.

 

Uma nova atitude em relação às ascendentes que tinham sido viúvas de homens vivos que partiram para as tarefas do Estado nas lonjuras a descobrir, ou para onde o mercado de trabalho permitisse aos homens que emigraram que enviassem as remessas com que sustentavam a família que ficava e equilibravam a balança de pagamentos estaduais.

 

A crise de 1929, que antecedeu como anúncio a guerra seguinte, e que, como agora, teve causa relevante nos EUA, foi também caracterizada por uma explosão sem regra que não fosse a eficácia do enriquecimento especulativo.

 

A crise do comércio, o desemprego, o desespero, as tragédias, multiplicaram-se, com suicídios de grandes interventores no mercado.

 

Foi neste ambiente que Steinbeck, agora lembrado, escreveu As Vinhas da Ira, e que John Maynard Keynes publicou a Teoria Geral.

 

Felizmente para os EUA, o presidente Roosevelt, que evidentemente escutava os economistas, sabia que esta não dispensava, antes necessitava do estadista que, no caso, criou um conceito estratégico, o New Deal, assumido com essa natureza, porque, disse, tinha um encontro com um desafio de história (Barreau e Bigot).

 

A pergunta que a memória anda a suscitar é se As Vinhas da Ira, que corresponderam literalmente ao levantamento da circunstância social, não voltarão a ser uma leitura útil para quem governa em tempos de crise, atraindo-os para a realidade e não apenas para as proposições auxiliares dos analistas técnicos, acontecendo que Roosevelt nunca conheceu pessoalmente Keynes.

 

Na situação gravíssima da Europa, sobretudo a pobre, não faltam já páginas de novas Vinhas da Ira escritas por quem vive as circunstâncias reais da população, diferentes em cada comunidade, mas que são desconhecidas pelos qualificados técnicos que percorrem, decidindo, sobre os povos que não conhecem.

 

Isso não os impede de convictamente opinarem com decisão sobre a reforma de cada Estado, ou refundação do Estado, seja isso o que for, porque o consequencialismo visível, que envolve todos os outros, é o afundamento progressivo do Estado, da qualidade de vida, e das esperanças de futuro.

 

Alguma modéstia académica, e a leitura d'As Vinhas da Ira que vai sendo escrita, ou discursada, alguns dos excelentes cientistas que temos e não emigraram talvez pudessem enriquecer o processo de decisão, e sem dúvida diminuindo os custos da administração paralela.

 

As intervenções que constantemente fazem, tornando públicas as suas advertências e conselhos, correspondem a um ensino antigo, segundo o qual o acto de governar exige a coordenação da escuta do conselho com a responsabilidade de decidir.

 

A ordem e serenidade das vítimas dos erros da política de novo-riquismo demonstram que o civismo é um valor que resiste à quebra do valor da confiança na governança que lavra por todo o Ocidente.

 

É seguramente mais inquietante que pareça necessário afirmar que os responsáveis pela ordem garantem a governança, isto é, o civismo da população de que aquela depende, do que manter a certeza de contar com a boa ordem porque o valor da confiança não foi afectado pelo enfraquecimento da legitimidade do exercício.

 

Recentes eleições num país mais afectado pela crise, que é a Itália, demonstram que é a falta de esperança na legitimidade do exercício dos eleitos que já afecta o regime, visto pelos outros países.

 

5 de Março de 2013

 

 Adriano Moreira

ANGOLA E O "ACORDO"

 

Declarações da Profª. Doutora Amélia Mingas sobre o "acordo".

 

Declarações importantíssimas, desde logo porque delas decorre o que aqui em Portugal se esconde: trata-se de agradar ao Brasil - unicamente.

 

E Angola é um Estado soberano e rico...

 

‹‹A Decana da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto, Amélia Mingas apoia a posição do Executivo em relação a não ratificação ao novo acordo ortográfico, noticiou a RNA.

 

Antiga Directora executiva do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, frisou que, o novo acordo ortográfico não tem razão de ser, em virtude de o mesmo não ter levado em consideração o contributo dos 8 estados membros da CPLP para o desenvolvimento da língua portuguesa.

 

“O problema que se prende é que há um acordo que não tem razão de ser, porque quando se faz o acordo deve-se considerar a contribuição que, cada um dos estados que integra a CPLP trouxe para a Língua Portuguesa. Porque o que se nota são alterações tendo em conta o desenvolvimento da língua portuguesa no Brasil."

 

(dos jornais)

A 2ª ARMADA PARA A ÍNDIA

 

 

Vão partir de Lisboa as duas primeiras armadas que após a descoberta do caminho marítimo para a Índia de novo sulcaram a mesma rota, deixando vestígios na passagem pela costa oriental de África, sem con­tudo criarem feitorias estáveis.

 

D. Manuel, no imediato actuar, esteve à altura do momento histó­rico iniciado por esse feito.

 

Uma vez aberta a estrada pela qual se poderiam canalizar para a Europa as rique­zas do Oriente, libertas dos sucessivos intermediários por cujas mãos passavam até então, desde a Índia ao norte de África, impunha-se a organização de numerosas armadas.

 

O rei não descurou o magno assunto, pondo ao máximo rendi­mento o trabalho dos estaleiros. Chega a parecer inconcebível como tanto se conseguiu produzir em tão pequenos espaços de tempo. Não só o número de navios construídos foi enorme, como também a preparação de pilotos e mestres de marinharia, em tal ritmo, faz pasmar. No escasso tempo de seis meses estava pronta a partir uma das maiores armadas que jamais saiu do porto de Lisboa com destino ao Oriente. Impunha-se, com efeito, que a nova armada a enviar à índia fosse poderosa, pois era razoável admitir da parte das autoridades indianas o receio desse povo desconhecido, capaz de mandar tão longe os seus navios. E daí seria admissível uma maior preparação bélica a esperá-los, quando lá voltassem. Já João de Barros interpretando o pensamento de D. Manuel assim raciocinava: «o mais seguro e melhor era ir logo poder de naus e gente, porque nesta primeira vista que sua armada desse àquelas partes, que já ao tempo de sua chegada toda a terra havia de estar posta em armas contra ela, convinha mostrar-se mui poderosa em armas e em gente luzida».

 

E, em conselho, resolveu-se mandar nova armada às terras desco­bertas no Oriente, levando como capitão-mor Pedro Alvares Cabral.

 

A fina flor da gente lusa acompanha Pedro Alvares Cabral, nas naus e caravelas da sua armada de treze navios, passando de mil e duzentas pessoas, entre mareantes e homens de armas, «toda gente escolhida, limpa, bem armada e provida pêra tam comprida viage».

 

Entre os capitães seguem os nomes mais representativos da marinha de Portugal: Nicolau Coelho, companheiro de Vasco da Gama na primeira viagem; Bartolomeu Dias, o descobridor do Cabo da Boa Espe­rança; Sancho de Tovar (ou Toar) e outros igualmente célebres, refe­rindo-se apenas estes por terem ficado mais infimamente ligados aos feitos de África.

 

Esta armada interessa sobremaneira à História de Moçambique, pois no seu regimento impunha o rei a Bartolomeu Dias a missão de procurar Sofala. Cada armada, ao partir, levava rigidamente marcada a sua finalidade, não se deixando aos capitães absoluta liberdade de acção.

 

Vasco da Gama partira com a missão de descobrir a Índia e apesar do nome de Sofala ser conhecido já em Portugal, pela fama do seu ouro, não se deteve a procurá-la nem à ida nem à volta. Poderia alegar-se ignorância da sua posição, quando passou para o norte navegando directamente de Inhambane a Quelimane; mas tal ignorância seria inadmissível na viagem da volta, depois de tantas informações colhidas na ilha de Moçambique. E, contudo, Vasco da Gama desce também o Índico, sem se preocupar em buscar Sofala. Não era essa a sua missão, outros voltariam. Para ele bastava a glória de ter chegado às Índias. Também algumas vezes aconteceu terem os regimentos das armadas uma parte secreta, só conhecida dos capitães e dos seus mais ínfimos cooperadores. Se tal se dissesse do regimento desta segunda armada, não se cairia nos domínios da fantasia histórica, como se vai ver.

 

Nesta armada pela vez primeira vão às partes do Oriente, aos lados dos capelães dos navios, um vigário e alguns missionários para se fixarem nas ferras da índia, onde tal fosse possível. Coube à Ordem Franciscana essa honrosa missão, enviando um grupo de oito religiosos, levando como superior a Frei Henrique, mais tarde Bispo de Ceuta e Primaz de África, que voltou à cidade de Évora, de cujo convento franciscano saíra para seguir na armada, para ser o segundo Bispo Coadjutor do Cardeal Infante D. Afonso, filho do rei D. Manuel.

 

Preparada a armada para partir, vai o próprio rei à capelinha do Restelo assistir às cerimónias religiosas, para entregar no fim por suas próprias mãos ao capitão-mor o estandarte da Ordem de Cristo, «sinal de nossas temporais e espirituais vitórias». O embarque faz-se a seguir, largando a armada no dia seguinte — dia 9 de Março de 1500

 

TERRAS DE SANTA CRUZ

 

De Lisboa tomaram rota por as ilhas de Cabo Verde, onde fariam aguada, quando, estando perto, um temporal espalhou os navios, afas­tando-se tanto o barco comandado por Luís Pires, que este resolveu regressar a Lisboa.

 

Ficaram, assim, onze unidades, que, depois da aguada em Cabo Verde, onde chegaram com treze dias de viagem, por consequência a 21 de Março, seguiram a linha de navegação já conhecida, afastando-se assim das regiões de calmarias e buscando sempre a direcção do poente. Tanto continuaram nessa direcção, tanto, que aos 24 de Abril tinham à vista a terra firme, depois chamada da Santa Cruz. Estava descoberto o Brasil.

 

Ocorreria neste momento o ensejo de se pôr a questão: se o desvio para oeste assim tão excessivo teria sido casual ou, muito ao contrário, o cumprimento de uma daquelas instruções secretas dos regi­mentos das armadas. Com efeito, a corrente moderna de opinião his­tórica tem como certo o conhecimento da existência das terras do Brasil desde o tempo de D. João II, única forma plausível de explicar a tei­mosia deste rei na questão do Tratado de Tordesilhas.

 

Texto absolutamente comprovativo não existe, mas há valiosas alusões que nos asseguram a ida àquelas paragens de outros navegadores portugueses antes de Cabral. A insatisfação de D. João II perante a resolução do Papa Alexandre VI, quando este, a pedido dos Reis Católicos, depois da descoberta da América, separou por um meridiano os campos de ação de portugueses, para Oriente, e de Castelhanos, para Ocidente, ficaria também fora de interpretação lógica, se não houvesse qualquer conhe­cimento secreto daquelas terras. E curioso notar que nesse diploma pontifício dirigido ao rei Fernando Católico em 4 de Maio de 1493 não se faz qualquer alusão a Portugal nem ao seu rei.

 

D. João II, ao saber de tal resolução, em que se dividia o mundo por um meridiano situado a umas 100 léguas a oeste de Cabo Verde, não concordou com este número e propôs 370 léguas, isto é, mais 270 contadas a partir das cem.

 

Como explicar esta atitude tão pouco conciliadora se D. João II não tivesse já algum conhecimento, mesmo vago, das ferras ocidentais?

 

Os Reis Católicos concordaram, por se não verem prejudicados na sua expansão, evitando assim o azedar de uma questão que poderia levar a grave conflito. D. João II triunfou, ganhando para a sua Pátria o imenso Brasil, naquele dia 7 de Julho de 1494, em que foi assinado o Tratado de Tordesilhas.

 

Nada aqui se dirá do acontecido na chegada a um novo continente, por ser nosso único objectivo a terra de Moçambique. Deixemos partir para o reino a nau do capitão Gaspar de Lemos com a nova para D. Manuel e sigamos a armada em busca dos mares do sul.

 

DO BRASIL A SOFALA

 

Os onze navios que ficaram constituindo a frota de Pedro Alvares Cabral deixaram as terras da Santa Cruz aos 2 de Maio e meteram-se à grande travessia, tomando o rumo do Cabo da Boa Esperança.

 

Três semanas navegaram com bom mar até que no dia 23 se come­çou a empolar aparecendo então das bandas do Norte o espesso negrume de um «bulcão» seguido de furioso vendaval. Foi tão violenta a tempes­tade e «com tanta força de vento e tão de súbito, que à vista uns dos outros soçobraram quatro naus, sem delas escapar cousa viva».

 

Ninguém como João de Barros nós deixou, dessa hora trágica, mais bela descrição:

 

Posto que o auto deste ímpeto do vento foi a todos a cousa mais espantosa que quantas tinham visto, por se verem uns aos outros junta e tão miseravelmente perder; muito mais temeroso lhe pareceu verem sobre si uma escuríssima noite que a negridâo do tempo derramou sobre aquela região do ar, de maneira que uns aos outros não se podiam ver, e com o assoprar do vento muito menos ouvir. Somente sentiam que o ímpeto dos mares às vezes punha as naus tanto no cume das ondas, que parecia que as lançava fora de si na região do ar, e logo subitamente as queria sorver e ir enterrar no abismo da terra.

 

Perto do Cabo da Boa Esperança, onde se deu a tragédia, daquele, cabo que ele conseguira pela primeira vez ultrapassar anos antes, ali ficou para sempre sepultado com a sua nau o grande Barfolomeu Dias que trazia agora ordem de descobrir Sofala.

Das sete naus que se salvaram, uma voltou para trás, continuando as outras seis a sua viagem apesar de bastante sacrificadas.

A 16 de Julho chegaram ao parcel de Sofala, à vista já das ilhas Primeiras.

 

NOTÍCIAS DE SOFALA

 

A lendária Sofala, já conhecida pelos portugueses devido à fama do seu ouro, estava ali perto. As primeiras notícias por eles ali colhidas foram transmitidas à História por um dos pilotos da armada de Cabral, cujo nome até se desconhece. A sua narrativa vai-nos servir de guia, como já serviu a João de Barros, a Fernão Lopes de Casfanheda e a outros que ao assunto se têm referido.

Conta-nos o nosso informador, em sua linguagem simples mas colorida, que ao passarem ao largo de Sofala avistaram duas ilhas junto à povoação. Mas, em vez de se resumir a narração que nos transmitiu o primeiro contacto dos portugueses com Sofala, será preferível deixar falar quem assistiu aos factos. Um resumo faria perder a graça ingénua dos exageros da primeira página da História de Sofala; deixemos, pois, falar o marinheiro da armada de Cabral, modificando-lhe apenas a sua ortografia e a pontuação:

 

Continuando a nossa viagem, chegámos diante de Sofala, onde há uma mina de ouro, e achámos junto a esta povoação duas ilhas. Estavam aqui duas naus de mouros que tinham carregado ouro daquela mina, e iam para Melinde, os quais, tanto que nos avistaram, começaram a fugir e lançaram-se todos ao mar, tendo primeiro alijado o ouro, para que lho não tirássemos. Pedro Alvares, depois de se ter apoderado das suas naus, fez vir ante si o capitão delas, e lhe perguntou de que país era, ao que respondeu que era mouro, primo de El-Rei de Melinde, que as naus eram suas, e que vinha de Sofala com aquele ouro, trazendo consigo sua mulher e um filho, os quais se tinham afogado querendo fugir para terra. O capitão-mor soube que o mouro era primo de El-Rei de Melinde (o qual era muito nosso amigo) se desgostou sobremaneira, e fazendo-lhe muita honra, lhe mandou entregar as suas duas naus com todo o ouro que se lhe tinha tirado. O Capitão Mouro perguntou ao nosso se trazia consigo algum Encantador, que pudesse tirar a outra porção que tinham deitado ao mar, ao que ele respondeu que éramos Cristãos, e que não tínhamos semelhantes usos. Depois tirou o nosso Capitão-mor informações das cousas de Sofala, que ainda neste tempo não era descoberta senão por fama, e o Mouro lhe deu por novas que em Sofala havia uma mina muito abundante de ouro, cujo Senhor era um rei Mouro, o qual assistia em uma ilha chamada Quíloa, que estava na derrota que devíamos seguir, e que o parcel de Sofala já nos ficava para trás. Com isto o capitão se despediu de nós, e continuámos a nossa Jornada.

 

Foram estas as primeiras informações colhidas in loco pelos des­cobridores portugueses a respeito de Sofala, atractivo primordial da costa oriental de África para quem de tão longe vinha em procura das fabulosas riquezas do Oriente. Passaram a todos os historiadores, uma vez expurgadas dos exageros e contradições que uma simples leitura nos revela.

 

A DESCOBERTA DE SOFALA

 

A 20 de Julho chegou a Moçambique a armada de Pedro Alvares Cabral, bem necessitada de mantimentos para a tripulação e de arran­jos nas naus. Foram recebidos sem hostilidade pela gente da ilha, fazendo pacificamente a sua aguada e tomando piloto para Quíloa, onde estavam no dia 26. Aqui, as dificuldades esperavam-nos: tendo sido tomados por corsários, não lhes permitiram comerciar, nem con­seguir alcançar informações precisas sobre o «trato de Sofala». O que por Melinde e pela Índia sucedeu a esta segunda armada não interessa ao nosso trabalho e longo seria narrá-lo. Em Janeiro seguinte iniciou-se o regresso à Pátria, não se conhecendo com exactidão a cronologia dessa viagem. Sabe-se apenas com precisão que voltaram a Moçambique, onde se tomou uma resolução que muito nos interessa. Foi ali resolvido dar cumprimento às determinações do regimento dado por El-Rei a Barfolomeu Dias e seu irmão Diogo Dias, pelo qual lhes competia separarem-se da armada para irem à descoberta de Sofala.

 

Pedro Alvares Cabral encarregou então deste trabalho a Sancho de Tovar, fornecendo-lhe para esse efeito um pequeno navio, pois a nau de que este fora capitão naufragara dias antes, não longe de Mombaça, por ter dado «em um baixo por má vigia»; deu-lhe um intérprete e um piloto, mandando-lhe que a seguir partisse para Portugal.

 

Como o piloto cronista, de que já se falou, pertencia à tripulação de uma das naus do comando de Cabral, ficámos sem saber o dia em que Sancho de Tovar aportou a Sofala, mas apenas a chegada da armada a Lisboa, a 31 de Julho, e a do navio de Tovar, no dia seguinte.

 

Sabe-se dessa primeira exploração a Sofala que Tovar foi recebido com toda a cordialidade pelo chefe Issufo, a quem presenteou, recebendo em troca ampla autorização para os portugueses frequentarem o porto, como os mouros faziam, e nele desenvolverem seu comércio de trocas.

 

Sancho de Tovar ao chegar a Lisboa pôde também informar que Sofala «era uma pequena ilha na embocadura de um rio; e que o ouro que ali vem é de uma montanha aonde está a mina; é povoada de mouros e gentios que resgatam o dito ouro por outras mercadorias».

 

A segunda armada enviada à índia, onde consolidou as nossas posi­ções, deixou assim, ao passar pela costa oriental de África, mais uma parcela conhecida - Sofala, a lendária Sofala do ouro dos reis bíblicos.

 

In “Quadros da História de Moçambique” – Dr. Alcantara Guerreiro, 1948

 

Rio de Janeiro, 09/02/12

 

 Francisco Gomes de Amorim

CONTOS REFRACTÁRIOS

 

 

III

DINOSSAUROS NA FABULÂNDIA

 

 

Rei Leão, sentado numa grossa raiz de um frondoso Imbondeiro, gozando da augusta sombra da magestosa árvore, diliciava-se na navegação cibernáutica do seu Real iPad. El-Rei era um competente e avisado cibernauta.

 

Observava, no momento, a imagem de vários cardumes de várias espécies de pequenos peixes que nadavam numa certa direcção. Imagem essa colocada no Jornal on line "Accidentalia negotii", que incentivava os seus leitores a legendar as respectivas imagens e ganhava-se um prémio pela legenda mais votada.

 

Sua Magestade, cofiando a barba bem penteada, acabou por escrever a seguinte legenda:. "Arraia miúda a caminho do comício. Os tubarões já estão no palanque para botar discurso…". Esta frase não foi escrita por o Rei Leão ser um democrata convicto. Como as palavras não têm som, não se ouviu a raiva com que foram virtualmente tecladas.

 

"Alteza Real!" – Chamou o Aligator, aio de serviço.

 

"Estão ali os seus parceiros de poker!" – Informou.

 

"Está bem, figura peçonhenta! Diz-lhes que se vão instalando que eu já vou!" - Exclamou o Rei.

 

A magestática figura era arrogante com os servidores rastejantes que desprezava e pisoteava sempre que lhe dava na Real Gana.

 

A Fabulândia era uma Monarquia Absoluta. "

 

O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus" e Sua Alteza era o exemplo prático desta máxima do barão Lord Acton.

 

E se Sua Alteza era mau…

 

Certo dia chamou um dos seus Tigres - numas províncias da Fabulândia, eram conhecidos oficialmente por Vizires, noutras por Alcaides, na verdade esbirros ao serviço da causa do poder absoluto, - e mandou dar-lhe cinquenta conscenciosas vergastadas porque ousara dirigir-lhe um ofício que iniciava, atrevidamente, por "penso". Pensava, mas, não existia!

 

O desgraçado ficou mais morto do que vivo e garantem testemunhas oculares autorizadas que durante uns meses não pôde sentar-se…

Desde aí, Rei Leão deixara de dar importância aos Alcaides e aos Vizires.

 

Quando se apresentou perante Sua Alteza Real, o infeliz Flagelado ouviu El-Rei, que, olhando-o com desprezo, lhe disse rispidamente: "

Não estás autorizado a pensar em coisa alguma, eu penso tudo e por todos".

 

"L’État c’est moi!"

 

Mas, isto já se passara há milénios!

 

Entretanto, os jogadores de poker já estavam instalados na mesa quando a Magestade chegou. Tratava-se de um Tigre da Malásia, de uma Hiena e de uma Pantera. O Rei fazia cumprir a Lei da paridade de género, para se pôr ao lado de Terras mais desenvolvidas.

 

Só nalguns casos. Nos restantes Serviços era apenas para inglês ver. Como soi dizer-se! Aparências necessariamente mal disfarçadas!

 

A instâncias da sua Leoa, a Magnificente Rainha, que lhe dera cinco princesas, - lamentava-se amargamente de não ter tido um varão – era dominado pelas mulheres e resignava-se a dar cumprimento à tal paridade, mas, era ele que determinava e mandava publicar.

 

Sempre!

 

Quem pagava era a desgraçada da criadagem. Não tinham direitos. Só tinham deveres e amochavam.

 

Acabada a jogatana, chamou o aio Aligator e ordenou-lhe que os Elefantes chamássem a reunir, ao toque das suas trombas, os do Conselho Régio, Órgão que, como diz o nome, era destinado a dar-lhe conselhos. Mas, isto era só fachada, para manter sossegados os súbditos mais recalcitrantes ou não fora ele um Absolutista.

 

As trombas ecoaram por toda a Fabulândia - alguns mais refilões chamavam-lhe ironicamente, Selva Terceiro Mundista, - e os Conselheiros Régios começaram a chegar nos seus faustosos meios de transporte, alguns particulares, outros oficiais.

 

Nunca quis combater este sumptuoso despesismo!

 

O Conselho também era rigorosamente paritário, ou levava umas dentadas bem dolorosas das suas fêmeas, e era constituído por várias espécies não predadoras, entre patas e asas, para dar uma boa imagem da sua democraticidade enviesada. Aberta a sessão, Sua Alteza informou:

 

"Hoje,a Ordem de Trabalhos é sobre as novas nomeações para Vizires e Alcaides, em todas as províncias do meu país!"

 

Fez-se silêncio total.

 

"Alguma intervenção?" – Inquiriu Sua Magestade com ar enfastiado e de poucos amigos.

 

"Eu tenho, Vossa Graça" – Afirmou o elegante Antílope, levantando, timidamente, a pata e continuando: "Vossa Graça deixou os Tigres andar à vontade por muito tempo e agora não vai ser fácil mudar alguns!"

 

"Ora essa! E porquê? – Inquiriu Sua Alteza, já irritado.

 

"Bem! É que Vossa Gracíssima Graça deixou os Tigres lá ficarem por muitos anos e alguns deles, instalados nas benesses e nos prestígios, não querem dar lugar a outros e metamorfosearam-se em Dinossauros" – Explicou o arrojado Conselheiro.

 

"Dinossauros?" – Berrou Sua Alteza Real.

 

"Sim, Magestade!". "Aquela espécie fóssil de réptil dos períodos secundário e terciário, já lá vão cerca de cento e vinte milhões de anos, cujas dimensões atingiram 11 metros de altura e 30 metros de comprimento!". "Com este tamanho, tecnicamente, não é aconselhável mudá-los" - Explicou o Antilope Conselheiro, com ar de quem tem a firme certeza do que afirmava.

 

"Está acabada a sessão!" – Sentenciou, agastado, El-Rei.

 

Quando ficou só, cabisbaixo, foi agarrar-se ao seu Real iPad. Então não é que a sua legenda, colocada na imagem do Jornal

on line "Accidentalia negotii", que incentivava os seus leitores a etiquetar as respectivas imagens, fora premiada por ter sido a mais votada… e ganhara?

 

Moral da História: Nem os mais aparentemente democráticos aboslutismos conseguem vencer a força, o peso e as dimensões dos Dinossauros instalados.

 

 Luís Santiago

 

Sintra, Agosto de 2013

 

NOTA DO AUTOR: Algumas partes deste texto podem assemelhar-se à realidade. Trata-se, porém, de pura coincidência.

CONTAGEM DECRESCENTE

 Os Maias 3ª parte - coleção expresso

 

Foi a proposta comemorativa dos 125 anos de publicação de “Os Maias” e dos 40 da fundação do “Expresso”: continuar com a história d’ “Os Maias” do pobre do Eça, que estrebucha na tumba, em renovada agonia, pela obscenidade da ofensa ao seu génio, criador dessa obra prima. E os escritores que aceitaram a incumbência – à maneira de escolinha primária, em que se testa a criatividade das criancinhas mandando-as continuar os enredos das historinhas lidas (o que não é um mau exercício escolar, aliás) - consideram-se gente de bem, gente da moral e da crítica dos costumes nacionais. Bem libertos de autocrítica, na arrogância de todas as permissividades, a garantir todas as capacidades.

Estamos nitidamente na época de todas as traições, a de um Acordo Ortográfico que atraiçoou a língua mãe, a da diluição de conceitos e de desrespeito por homens, animais e coisas, começando pelas florestas que vamos destruindo sem pejo. A última traição é esta – a do seguimento da acção d’ “OS MAIAS” segundo as plumas deambulatórias  dos efabuladores convidados.

É certo que a proposta do “Eça Agora” se circunscrevia a “Os Novos Maias”, em princípio, pois, recriando figuras a partir das figuras de relevo nacional, já caricaturadas na televisão, mais ou menos despudoradamente, por actores ou ícones, reproduzidas as vozes e as figuras com grande eficácia, para o riso alvar, que é geralmente o nosso, mais pronto a saborear o que é imediato à nossa compreensão, a intuir o sentido do traço irónico mais subtil.

Mas “Os Novos Maias”, afinal, estão, nas obras tratadas – salvo, em parte, as narrativas contidas no volume 6º - de Gonçalo M. Tavares - brincalhona e chocarreira e com a amplitude do seu filosofar sintético habitual - e de Clara Ferreira Alves, com a recriação de um enredo em torno de um pretenso neto de Carlos da Maia, pretexto para vazar a sua arte e vivência pessoal de viajante de vários mundos e a sua crítica pautando-se, ao modo queirosiano, pelo desdém intelectual por uma população no seu geral destituída do condimento espiritual que distingue os homens – “Os Novos Maias estão no seguimento dos “velhos”, e isso é que me parece abusivo e denunciante daquilo que Vasco Pulido Valente no Jornal “Público” de 17/8 - “A Atracção da Asneira” – chama de revelador de “abismos de ignorância e de estupidez, que não se imaginariam em qualquer outra parte do mundo civilizado”.

Assim, a narrativa de José Luís Peixoto, no volume 4º, (os três primeiros constituindo a obra “OS MAIAS”) – “Depois de tudo, antes de alguma coisa” – (após um “Prefácio” e uma “Nota Prévia” explicativos) - gira, na 1ª parte, à volta da corrida para o americano do final de “Os Maias”, americano que conseguiram apanhar, bem a tempo do jantar no Bragança - pretexto para a constatação do desleixo e do vazio nacionais habituais - do início de uns amores com uma afrancesada e adúltera Claudine; uma 2ª parte, 10 anos depois, com Ega mais nostálgico e uma Claudine a reproduzir os desesperos anteriores da condessa Gouvarinho, na humilhação dos amores findos, o velho Dâmaso, oco e adoentado; uma 3ª parte baseando-se num quiproquó sobre a notícia - o “alguma coisa” do título – a morte de Dom Carlos e de Luís Filipe, do conhecimento do republicano Ega; o regresso de Maria Eduarda, amiga de Claudina, da estupefacção aterrada de Carlos. A fuga de Carlos para Santa Olávia, como refúgio, e como imitação da fuga de Maria Eduarda para França, após o reconhecimento do incesto, segundo a diegese queirosiana

 

Segue-se, ainda no volume 4º, “Tudo o que é chama”, por José Eduardo Agualusa, até aos anos vinte, pretexto para um puxar a brasa à sua sardinha, do escritor angolano, com cenas de corrida com flamingos e seu trocadilho com flamengos, os boers da colonização sul africana, de cenas de caçada, de graçolas, de histórias de desbravamento angolano com a indispensável acusação da acção portuguesa, para edificação dos dois amigos Carlos e Ega, e uma 3ª parte com os dois irmãos Carlos e Maria Eduarda vivendo assumidamente os seus amores incestuosos, a descoberta de Rosa, com fuga e zanga, mas o seu regresso final à casa colonial da mãe e do tio, na Restinga do Lobito.

 

O 5º volume, preenchido por José Rentes de Carvalho e Mário Zambujal, em, respectivamente, “O Rio somos nós” e “O imenso pulo de Carlos da Maia”. Mistura o primeiro as figuras de Carlos e Ega - e simultaneamente Jacinto e Zé Fernandes em Tormes - com uma acção localizada numa aldeia do Alto Douro, onde Carlos recebe um Ega, rezingão e desconfiado, mas saboreando os bons pratos caseiros, em breves referências impacientes ao “Esteves” da ditadura e à PVDE da protecção ao regime. Todavia, apesar de algum vigor dos seus comentários e da sua subida para a aldeia num burro, Ega morre, incoerentemente, durante essa breve estada junto do amigo, em 1937, Carlos no ano a seguir. Maria Eduarda já morrera, contara Carlos, a filha Rosa fora informada pela mãe, do caso fatal por eles vivido.

O livro de Mário Zambujal põe a personagem Carlos a narrar as suas histórias de vida em primeira pessoa, num tom por vezes displicente e observação grosseira que não se coaduna com a personalidade discreta e nobre do “belo cavaleiro da Renascença”. Uma vida aventurosa que passa pela Índia e regressa aos braços de uma Laura que um dia lhe mostrou o retrato da mãe, no qual reconheceu a condessa de Gouvarinho, e portanto Laura como sua filha:

«Martela-me a cabeça um batuque de contas. Sempre fui bom na aritmética e obtenho o resultado: Laura nasceu nove meses após a tarde em que a Gouvarinho e eu rebolámos no tapete persa!

- Que foi? Estás pálido.

- Nada. Água. Tenho sede.

Levanto-me e corro à cozinha, bebo, bebo, molho a cara no jorro da torneira. Nada apaga o lume dentro de mim. Meu Deus! Então Laura é… minha filha? Recuso-me a acreditar mas contas são contas. Choro. Outra vez tombado, inadvertivamente, nas malhas vergonhosas do incesto? Pior agora, a Maria Eduarda era meia irmã, desta sou pai por inteiro!»

Falso alarme do assustado Carlos. A Condessa Gouvarinho era apenas mãe adoptiva, Laura era filha da cozinheira da condessa, que morrera de parto.

«O alívio deu-me para correr e pular em toda a volta do quintal», a justificação do título do conto., que prossegue com a perseguição da PVDE, já a Alemanha invadira a Polónia.

           O “Ainda o apanhamos! Ainda o apanhamos!» do remate em paralelo com o final d’ OS MAIAS refere-se ao comboio que não chegaram a apanhar, na sua fuga. Mas também não seriam presos.

 

            O sétimo volume é constituído pelo estudo de Carlos Reis “Introdução à leitura d’ “Os Maias”.

 

            O projecto valeu como difusão de uma obra imperecível e juntamente com um estudo que ajudou gerações de alunos e professores. Isso bastaria como homenagem.  O resto não é sério, nem é a sério.

 

 

 Berta Brás

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