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A bem da Nação

CURAÇAO - 2

 

 

Por mera curiosidade, recordo que Peter Stuyvesant saiu de Curaçao em 1643 porque numa tentativa da conquista de St. Maartens aos espanhóis levou um tiro de canhão numa perna tendo que ir a tratamento à Holanda. Puseram-lhe uma perna de pau que ele fez revestir com placas de prata e foi já recuperado que o nomearam para a conquista de uma ilha lá mais a norte. Conquistada, chamou-lhe Nieuw Amsterdam. Nós hoje chamamos-lhe New York e à ilha propriamente dita chamamos Manhattan.

 

E seguiram-se outros Governadores à frente dos destinos de Curaçao até que o Padre António Vieira proferiu na Igreja da Ajuda, em Salvador da Bahia, o sermão “Polas armas de Portugal contra as de Holanda” assim provocando a Revolta Pernambucana que expulsou definitivamente os holandeses do Brasil. O Governador do Brasil Holandês, Maurício de Nassau, apanhou uma depressão de tal modo profunda que nunca dela voltou a recuperar acabando por morrer muito transtornado na sua Alemanha natal.

 

Por deturpação histórica, o Príncipe alemão Maurício de Nassau é por vezes apresentado como um pirata enquanto o inspirador do «pirata da perna de pau, olho de vidro e cara de mau» passa por um grande e nobre Senhor. Tresler é mais fácil do que contar a verdade. A questão está em que o Príncipe perdeu a causa por que pugnava e o coxo, perdendo uma ou outra batalha, ganhou as guerras em que se meteu.

 

Mas o Brasil Holandês era refúgio de muitos judeus portugueses que temeram o regresso da Inquisição pelo que decidiram acompanhar os holandeses na fuga. Rumaram a norte e se os houve que chegaram a Nieuw Amsterdam, outros houve que optaram por outra possessão holandesa, bem tropical, Curaçao. Chegaram em 1703 e ainda hoje são uma comunidade da maior relevância local. Basta referir que o banco mais conhecido se chama «Maduro and Curiel’s Bank». O apelido Maduro inspira o maior respeito e é um dos seus membros que preside à comunidade frequentadora da Sinagoga “Mikvé Israel-Emanuel” que, consagrada em 1732, é hoje a mais antiga em funcionamento ininterrupto nas Américas.

 

Sinagoga “Mikvé Israel-Emanuel”

 

Logicamente, com a chegada dos judeus portugueses, o papiamento levou um importante refrescamento da nossa língua.

E se a importância da comunidade judia tem muitos exemplos que vão neste breve texto ter que ficar no tinteiro, um há que não pode ser omitido: Moisés Frumêncio da Costa Gomes.

 

Moisés Frumêncio da Costa Gomes

 

De facto, foi este ilustre descendente de lusa gente que nos finais da década de 40 do século passado negociou com a Holanda a nova relação constitucional entre a metrópole e as chamadas Antilhas Holandesas tendo Curaçao deixado de ser uma colónia para passar a constituir uma região autónoma holandesa.

 

A autonomia significou que Curaçao assumiu a sua própria governação mantendo a Holanda a liderança das políticas monetária e da Justiça. Daí que a moeda seja o Florim com um câmbio que revela muita prudência.

 

É perante este câmbio que o visitante rapidamente se habitua a tomar em grande respeito este pequeno país.

 

Apeteceu-me dizer aos judeus de Curaçao que em Portugal já extinguimos a Inquisição em 1821 e que assim já podem regressar em paz. Só que quando os procurei a Sinagoga estava fechada pois no dia 25 de Abril também lá é feriado e no dia seguinte eu voaria para outras latitudes.

 

(continua)

 

Lisboa, Maio de 2011

 

 Henrique Salles da Fonseca em Curaçao Henrique Salles da Fonseca

SPA NÃO ADOPTA O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

 Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue!

A SPA - Sociedade Portuguesa de Autores continuará a utilizar a norma ortográfica antiga nos seus documentos e na comunicação escrita com o exterior, uma vez que o Conselho de Administração considera que este assunto não foi convenientemente resolvido e se encontra longe de estar esclarecido, sobretudo depois de o Brasil ter adiado para 2016 uma decisão final sobre o Acordo Ortográfico e de Angola ter assumido publicamente uma posição contra a entrada em vigor do Acordo.

 

Assim, considera a SPA que não faz sentido dar como consensualizada a nova norma ortográfica quando o maior país do espaço lusófono (Brasil) e também Angola tomaram posições em diferente sentido. Perante esta evidência, a SPA continuará a utilizar a norma ortográfica anterior ao texto do Acordo, reafirmando a sua reprovação pela forma como este assunto de indiscutível importância cultural e política foi tratado pelo Estado Português, designadamente no período em que o Dr. Luís Amado foi ministro dos Negócios Estrangeiros e que se caracterizou por uma ausência total de contactos com as entidades que deveriam ter sido previamente ouvidas sobre esta matéria, sendo a SPA uma delas. Refira-se que também a Assembleia da República foi subalternizada no processo de debate deste assunto.

 

O facto de não terem sido levadas em consideração opiniões e contributos que poderiam ter aberto caminho para outro tipo de consenso, prejudicou seriamente todo este processo e deixa Portugal numa posição particularmente embaraçosa, sobretudo se confrontado com as recentes posições do Brasil e de Angola.

Lisboa, 9 de Janeiro de 2013

*  *  *

 

Considerem que esta é a bofetada que eu há muito queria dar a um grupo de parvalhões que nem sequer sabem falar português. Muito menos imaginam que a origem da nossa língua está na Velha Europa...somos Latinos.

 

E em latim escreve-se: Actor, Baptismus, Selection, etc...

 

Bem hajam SPA por serem Portugueses.

 

A decisão da Sociedade Portuguesa de Autores pode ser considerada a sentença de morte do aborto do (des)acordo ortográfico que gente com pouca cultura e quase exclusivamente movida por intuitos políticos resolveu instituir.

 

Pelos vistos o tiro saiu-lhes pela culatra. Há por isso que festejar a decisão da SPA com garrafa de espumante... com um preço a condizer com a crise e continuar com a grafia antiga.

 

Considera a SPA que não faz sentido dar como consensualizada a nova norma ortográfica quando o maior país do espaço lusófono (Brasil) e também Angola tomaram posições em diferente sentido.

 

Perante esta evidência, a SPA continuará a utilizar a norma ortográfica anterior ao texto do Acordo, reafirmando a sua reprovação pela forma como este assunto de indiscutível importância cultural e política foi tratado pelo Estado Português, designadamente no período em que o Dr. Luís Amado foi ministro dos Negócios Estrangeiros e que se caracterizou por uma ausência total de contactos com as entidades que deveriam ter sido previamente ouvidas sobre esta matéria, sendo a SPA uma delas.

 

Refira-se que também a Assembleia da República foi subalternizada no processo de debate deste assunto.

 

O facto de não terem sido levadas em consideração opiniões e contributos que poderiam ter aberto caminho para outro tipo de consenso, prejudicou seriamente todo este processo e deixa Portugal numa posição particularmente embaraçosa, sobretudo se confrontado com as recentes posições do Brasil e de Angola.

 

Filomena Ferro Filomena Ferro

COLORAÇÃO

 

«O fato de Arlequim»

Conheceis o cais do ferro-velho

Onde se vendem pássaros, homens e flores:

É aí que eu por vezes trabalho,

Nos meus amores,

As minhas fábulas;

Lá, vejo animais e observo, com atenção,

Os jeitos deles,

Para uma segura opinião.

Numa terça feira gorda, estava eu à janela

Dum vendedor de pássaros meu amigo,

Quando no cais vi assomar

Um pequeno Arlequim todo lesto e bem vestido,

Que com o seu sabre de madeira,

E uma graça ligeira,

Atrás de uma máscara corria -

- A sua Colombina

Em traje de pastora fina.

Com risos e gritaria o povo aplaudia.

Perto de mim, numa gaiola,

Três pássaros de plumagem diferente,

Periquito, canário, cardeal,

Reparavam também no arlequim.

O periquito exclamava: “Gosto pouco da sua tola:

Mas o fato, acho-o ideal,

De um verde tão marcado,

Nunca teve outro igual.”

“Verde! retorquiu o cardeal,

Você não vê, meu caro, que é um fato encarnado?

É isso que o faz tão sedutor!”

“Oh! Quanto a isso, meu compadre,

Responde o canário, não tendes razão,

Porque o fato é amarelo limão.

E é esse amarelo que o torna encantador.”

-“É verde! – É amarelo! - É encarnado, ora então!”

Interrompe cada um, acalorado,

Do trio já irritado.

“Amigos, acalmai-vos! Grita-lhes um picanço

Sábio e manso.

O fato é amarelo, vermelho e verde.

Isso surpreende-vos bastante,

Mas o mistério não é surpreendente:

Tal como muitas pessoas de espírito e de saber

Mas que dum único lado vêem uma questão,

Cada um de vós não quer ver senão

A cor que lhe dá prazer.»

 

Pois o picanço manso

Da fábula de Florian

Tinha razão nessa questão

Da preferência por determinada cor

A justificar a aversão

Por outra cor qualquer,

Sobretudo se ela simbolizar

Clubes ou partidos do nosso gostar

Ou do nosso achincalhar.

Partidos, então

É um ver se te avias de murmuração!

Mais, todavia,

Se são os do governo responsável

Por tanta coisa intragável

Que vivemos hoje em dia,

Esquecendo que a nossa cor,

Também estragos causou

- Já que ninguém se safou

Em termos de responsabilidade,

Para o estado a que se chegou.

Muito melhor seria

Uma “branca” união

Para salvar a nação

Para a questão do pão!

Que o “branco” é, afinal,

A soma das várias cores

Do espectro solar.

O pensamento na nacionalidade

É suposto que deveria ser

A razão fundamental

Do nosso estar.

Mas o grupelho sindical

Não descansará enquanto não

Reduzir as cores do nosso mundo

Ao “preto” do buraco fundo.

 

 Berta Brás

CURAÇAO – 1

 

Bon Bini Curaçao = Bem-vindo a Curaçao

 

 

 

A cerca de 40 quilómetros ao largo da Venezuela, Curaçao parece uma banana com um pouco mais de 60 kms de comprimento, uma largura que varia entre os 3 e os 14 kms e é habitada por cerca de 100 mil pessoas. O respeito que inspira não resulta, pois, da dimensão física.

 

A tez popular varia entre o negro mais negro que os trópicos alguma vez imaginaram e o café com leite claro. Totalmente escolarizados, os naturais (curacenses?) falam e escrevem quatro línguas (papiamento, holandês, inglês e espanhol) mas têm o papiamento como língua materna. E o que é esta língua? É um crioulo de português salpicado de espanhol e de outras influências nem sempre bem identificadas mas que se diz serem africanas. Nós, portugueses, percebemos praticamente metade das frases e o resto lá vamos tirando pelo sentido da conversa. O facto de a dicção ser especialmente meticulosa facilita a compreensão. Quando não percebemos, lá vem o inglês ou o espanhol. Holandês, vou aprender na próxima encarnação.

 

Como é que tal realidade acontece num país que nunca foi colónia portuguesa?

 

A História de Curaçao começa no ano de 1499 com a chegada dos espanhóis; antes disso era a pré-história pois os habitantes que lá existiam – índios oriundos do continente ali mesmo em frente – não deviam conhecer a escrita. Ou seja, não tendo até hoje sido identificados traços desse povo que pudessem ser assemelhados a escrita, presumimos que a não conhecessem e, portanto, apelidamos a sua como sendo pré-história.

 

Chegados os espanhóis, logo começaram à procura de oiro mas...

 

O domínio espanhol manteve-se durante todo o século XVI, período durante o qual os indígenas foram transferidos para a ilha Hispaniola (actual Ilha de S. Domingos onde se localizam a República Dominicana e o Haiti) ficando Curaçao a servir de ponte para a exploração e conquista dos territórios no norte da América do Sul.

 

Mas como não foi encontrado oiro e a água potável era quase inexistente, à medida que avançava a colonização do continente a ilha foi perdendo importância para os interesses espanhóis, foi considerada inútil e abandonada progressivamente.

 

Foi com a saída dos espanhóis que começaram a aparecer outros cobiçosos e não tardou muito para que os piratas franceses, ingleses e holandeses começassem a defrontar-se para se servirem das diversas baías que a ilha tem para refúgio nos intervalos das intensas actividades que já então desenvolviam em todo o Mar das Caraíbas. E dos confrontos entre piratas foi rápida a passagem para o confronto entre as Armadas dessas três potências o que, diga-se em abono da verdade, pouca diferença fazia. Na realidade, o que distinguia os piratas dos almirantes era que estes custavam dinheiro às respectivas Coroas enquanto que os bucaneiros se auto financiavam e lá iam dando parte dos lucros apurados aos seus Senhores para lhes ganharem as graças. Apesar desta diferença não despicienda, entraram as Armadas em acção e acabou vitorioso em 1621 o almirante holandês Johan van Walbeeck que em 1634 formalizou a entrada da ilha na posse da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, o mesmo é dizer na posse do Príncipe de Orange, ou seja, o Rei da Holanda.

 

Em 1642, Peter Stuyvesant foi nomeado governador e Curaçao tornou-se num verdadeiro centro comercial holandês desenvolvendo intensas actividades esclavagistas sobretudo na extracção de sal.

 

Salinas em Curaçao

 

A mão-de-obra escrava foi abundantemente fornecida por comerciantes portugueses os quais recrutavam também os capatazes que administravam o trabalho desenvolvido nas salinas. Ou seja, eram portugueses que lidavam com os escravos e era em português que as ordens eram dadas.

 

Eis como um território que nunca foi português, tem uma língua oficial que nós entendemos com alguma facilidade. Mais: os próprios curacenses (será assim que se diz?) entendem português desde que falemos pausadamente, sem erudições pretensiosas e, sobretudo, com dicção clara.

 

Como havemos de fazer para lhes darmos algum enquadramento lusíada?

 

Lisboa, Maio de 2011

 

Henrique Salles da Fonseca em Curaçao Henrique Salles da Fonseca

INCOMPETÊNCIA OLÍMPICA

 

Ao contrário de todo mun­do, acho que ter sido esco­lhido sede das Olimpíadas foi uma das piores coisas que podiam ter aconteci­do ao Rio. Junte-se a isso a famigerada Copa, e a desgraça está feita. Antes que me atirem mais pedras do que provavelmen­te já estarão atirando depois dessas duas pri­meiras frases, esclareço que não tenho nada contra as Olimpíadas nem contra a Copa co­mo espectáculos, muito antes pelo contrário. Acho os dois eventos bonitos e simbólicos e fico fascinada com a mistura de gentes que proporcionam. Minha implicância é com a corrupção abissal que os cerca e com a sua realização no Brasil — sobretudo, no Rio de Janeiro. Não duvido que tanto Copa quanto Olimpíadas corram lindamente: somos os reis do jeitinho e, com um super facturamento aqui e uma enganação ali, teremos (quase) tudo pronto a tempo. Se não forem assalta­dos, estuprados ou mortos, os turistas volta­rão para casa com belas lembranças.

 

A questão, no entanto, não é o que os turis­tas dirão de nós; a questão é o que vai aconte­cer, e o que já está acontecendo connosco. Tanto a Copa quanto as Olimpíadas têm fun­cionado, até aqui, como carta branca para tu­do o que é descalabro. A sensação que tenho — e peço encarecidamente que me corrijam se eu estiver errada — é que nunca se roubou tanto, e tão impunemente, neste país. Não, não tenho números. Não tenho fatos. Tenho apenas a percepção de alguém que vê os va­lores de obras desnecessárias aumentando astronomicamente, enquanto os cidadãos fi­cam entregues à própria sorte num quotidiano cada vez mais degradado.

 

Com a desculpa das Olimpíadas, o metro está sendo ampliado sem nenhum critério.

 

Dia sim, outro também, mais uma árvore vem abaixo por causa das obras; a destruição no Leblon consegue ser pior do que a de Ipanema. Em breve não sobrará um único pedacinho ver­de no bairro. Os poucos equipamentos que nos ficaram do Pan foram sucateados sem a menor cerimónia; os atletas foram despejados porque, como bem sabemos, a principal preocupação do Comité Olímpico não é com o desporto, e sim com o facturamento.

 

Mas, ainda que tudo estivesse sendo feito com a maior correcção, os benefícios trazidos pela rea­lização desses eventos seriam questionáveis. Montreal que é Montreal levou 30 anos para qui­tar a dívida dos Jogos Olímpicos de 1976. Até agora ninguém descobriu o que os jogos de 2004 fizeram de positivo por Atenas: os equipamentos construídos na ocasião já estavam desertos e em ruínas antes mesmo da crise, e o número de em­pregos diminuiu com velocidade ainda maior do que tinha crescido tão logo a festa acabou. O fa­moso Ninho do Pássaro, em Pequim, virou um elefante branco — e olhe que o que não falta na China é gente para encher estádio.

 

Não é de ontem que penso assim, mas se ain­da me restasse qualquer dúvida em relação a es­ses desastres económicos, ela teria se transfor­mado na mais absoluta certeza depois que as­sisti à entrevista do ministro Aldo Rebelo, no programa “Roda Viva", da Nike. Não sei o que me indignou mais, se a má-fé com que ele res­pondia às perguntas dos jornalistas ou o pouco caso que faz da inteligência dos brasileiros. Há muito tempo eu não ouvia tanta besteira en­toada com tanto cinismo.

 

Ninguém precisa entender nada de futebol para prever que um estádio de 44 mil lugares em Manaus vai virar elefante branco; para o ministro, porém, questionar a necessidade dessa construção é ser preconceituoso com a região Norte. Ninguém precisa entender na­da do carácter das leis para perceber como é absurdo um país abrir mão da sua legislação só porque a Fifa quer vender cerveja nos es­tádios; para o ministro, no entanto, essa dis­torção é tão trivial quanto a eventual realiza­ção de uma corrida de automóveis numa área urbana, onde a lei estabelece limites de velocidade.

 

No mais, como qualquer pessoa despreparada, ele não tem dúvidas, só certezas. Acha que não podemos nos queixar de o Engenhão (o mais novo estádio do Brasil!) já estar podre porque, afinal, o estádio "recebeu os jogos dos grandes clubes nos úl­timos tempos"; considera que o país está per­feitamente preparado para grandes eventos, dado que recebemos a família real portugue­sa em 1808; afirma, categoricamente, que te­remos cobertura 4G em dois meses (até ago­ra, existem apenas quatro cidades cobertas, entre elas as megalópoles de Búzios, Paraty e Campos do Jordão, e uma única operadora oferecendo o serviço); diz que o dinheiro pú­blico empenhado nos estádios foi empresta­do "mediante garantias" e que "não há nada mais fiscalizado no Brasil do que o dinheiro da Copa".

 

Em qualquer país medianamente civiliza­do, uma entrevista tão constrangedora seria motivo suficiente para apeá-lo do ministério. Se Aldo Rebelo falou da boca para fora, ten­tando nos enrolar, não merece respeito; se é sincero e acredita no que disse, não tem competência nem para servir cafezinho na repartição.

 

 Cora Ronai

In O GLOBO

 

Não acabam aqui as miseráveis e ignóbeis “enganações” deste (des)governo, de que se podem citar algumas já tornadas públicas:

 

1.- Terminaram as obras do Maracanã! Só custaram 59,5% mais do que previsto e orçado! Porque? ...

 

2.- Depois de alardear que o custo de energia elétrica ia baixar 20%... a minha conta baixou (só um mês) 10% e já está anunciado um novo aumento de 12,13%! Porque? ...

 

3.- Na Petrobrás tudo vai bem com a bênção da quadrilha que a gerência: uma série de funcionários – superiores – da estatal petrolífera são ao mesmo tempo directores de empresas contratadas para prestar serviço à dita Pedra-brás. Porque? ...

 

4.- Como é tecnicamente sabido, entre o prospectar e começar a exploração de petróleo, pior ainda em águas fundas, decorrem, se tudo correr bem, entre 8 a 10 anos. Aqui não se sabe quando vai começar, porque a lei obriga a Petrobrás a ficar com 30% de cada contrato e... ela está sem caixa!!! Uma petroleira sem caixa! Porque? ...

 

5.- No Rio tudo vai bem, tão bem que diminuíram os homicídios em Março. No Estado do Rio só, só houve trezentos e cinquenta e nove – 359 – assassinatos. Porque? ...

 

6.- No que respeita à distribuição de energia eléctrica, do total de oitenta projectos de linhas de transmissão, cinquenta e três estão com atrasos: de 17.922 km o atraso é de 13.814. Porque? ...

 

7.- Para tentar auxiliar um pouco o povo do nordeste, onde as secas são regulares desde sempre, com sete anos de seca e um de chuvas, o (des)governo prometeu instalar até 2008, até 2008, um milhão de cisternas! Bonito! Estamos em 2013 e até agora só se instalaram 419.178! 41,9%. Porque? ...

 

8.- Apesar de ter corrido só um trimestre de 2013, o governo já não sabe o que fazer com a inflação, fala-se em aumento de juros (que ainda continuam os mais altos do mundo!) e os índices da indústria também se apresentam negativos. Porque? ...

 

9.- Saiu mais uma lei. Este é o país das leis... que depois não se cumprem, conflituam, etc. Mas enfim, a lei OBRIGA todas as crianças a irem para a escola aos quatro de idade e só de lá saírem com dezassete.

 

Isto é o que se chama de maravilha. Vamos ficar melhores, em ensino do que a Finlândia. Só que...

 

a)- não existem escolas, nem suficientes, nem ao alcance geográfico de toda a população. E seriam necessárias mais uns milhares de escolas;

 

b)- não há professores capazes para asa escolas actuais, quanto mais para essas hipotéticas vindouras;

 

c)- e, por fim, quem vai controlar se esses milhões de crianças vão mesmo para a escola?

 

Como é fácil criar leis. Para que? Porque ...

 

10.- E os bancos? Ah! Os bancos no Brasil têm o maior rendimento do mundo! A sua rentabilidade está entre 15 e 17% sobre o património! Porque?...

 

No entanto se alguém pensa que o Brasil é o El Dourado, venha então abrir um banco. Negócio garantido! Ou então um igreja evangélica, igualmente muito lucrativa.

 

Tudo isto porque os “os planos” do (des)governo são os seguintes:

 

1.- Roubar;

 

2.- Reelegerem-se;

 

3.- Igual a 1.-

 

4.- Igual a 2.-

 

5.- etc.

 

6.- Medidas.........................................................................................?????????

 

7.- Fim.

 

8.- Parece o fim mas não é. O rosário continua!

 

Rio de Janeiro, 13/04/2013

 

 Francisco Gomes de Amorim

A MULHER FANTASMA

 

             

                                                                                                                        

Quantos mistérios ocorrerem na nossa breve existência, que a simples observação ou mesmo as pesquisas ou teorias científicas, teológicas, espíritas, empíricas não explicam com plena convicção?

 

Segundo o psicólogo e pesquisador Justin L. Barrett, somos programados psiquicamente para acreditar em um ser superior e pra aquilo que não podemos entender. E então, quando se trata de como funciona a mente e a sintonia electromagnética das ondas cerebrais entre gémeos univitelínicos, o rapport entre eles é ainda mais espantoso e verdadeiro.

 

Naquela agradável e enluarada noite de Verão do Alto da Boa Vista, a visão era magnífica. Uma aragem suave, mas fria, vinha do mar que como um espelho metálico reflectia a luz clara da Lua tornando ainda mais evidente, em frente, a negra Ilha Montanha. Altas horas, o grupo vinha em pequenas e espaçadas levas. Braços dados, aconchegados, passos ligeiros, ecoados em uníssono na pedra vulcânica, conversas ligeiras, risinhos empáticos, abafados para não despertar os moradores do caminho, meus tios e alguns amigos vinham da casa de meus pais após uma noite de serão.

 

Todos os anos, no final do Agosto, nas lojas da casa do leão, os parentes e alguns amigos se reuniam para o mutirão da desfolhada do milho. Enquanto os adultos trabalhavam e as crianças brincavam a escalar os montes de maçarocas de milho, sob a luz morrente do lampião, minha bisavó Rosa lia As Pupilas do Senhor Reitor para entreter a malta. Depois das brincadeiras, da procura do milho rei (de grãos vermelhos), já quase ao final do serviço, Vovó Alice fazia chá preto e servia a todos com biscoitinhos de nata e pedaços de massa sovada, pra que fossem pra casa dormir com o estômago forrado. Pra nós, minha irmã e eu, aquilo era uma festa. Após nos lavarmos e de beber uma canequinha de leite morno, íamos para cama cansadas, mas felizes.

 

Um a um, a intervalos regulares, os dois pequenos grupos seguiram pela estrada em alegre palreiro. Ao passarem pelo portão de ferro que cerrava os muros do Campo Santo, que fica bem no alto da colina, fizeram silêncio e persignaram-se em respeito às almas penadas. Um pouco mais abaixo da rua, já na encruzilhada, enquanto um dos grupos esperava o outro chegar para se despedir e cada um tomar seu caminho, meu tio José perguntou curioso:

 

- Vocês conhecem aquela mulher que estava no portão do cemitério?

 

Para espanto geral, ninguém vira nada. Foi quando meu outro tio Gaspar, irmão gémeo de meu tio José, se aproximando com o grupo retardatário, também pergunta:

 

- Viram aquela mulher na porta do cemitério? Quem é?

 

Um frio passou pela espinha de todos eles. Só os irmãos gémeos haviam visto a mulher. Entre se olharam, benzeram-se e a passos rápidos desceram a ladeira..., rumo às suas casas.

 

Uberaba, 26 de Maio de 2013.

 

 Maria Eduarda Fagundes

ENTÃO É ASSIM...

  • Uma mulher que viva ou case com uma lésbica que seja mãe de uma criança torna-se também sua mãe;

  • Uma mulher que viva ou case com um homem que tem um filho será sempre madrasta.
  • EM RESUMO: os heterossexuais são padrastos, madrastas e têm enteados; os homossexuais têm filhos e são pais e mães.

  • CONCLUSÃO: inversão de valores.

 

 

A SEGUNDA MENTIRA

 

Portugal viveu durante muitos anos uma ilusão de facilidade artificial, paga com dinheiro externo. Como em todas as mentiras, um dia a realidade bateu à porta. Seguem-se anos de brutal ajustamento, para eliminar as tolices insustentáveis e colocar a sociedade numa trajectória robusta. Trata-se de um caso clássico na história económica, muito frequente, muito estudado, sempre doloroso.

 

Confrontada com a tarefa hercúlea, a sociedade divide-se em duas partes bem distintas. Como nas praças de touros, existe uma zona de sol e outra de sombra. A distinção não tem nada a ver ricos e pobres, mas com o nível de segurança económica. O rendimento social de inserção ou a pensão mínima faz sombra, enquanto os fundos de investimento milionários estão ao sol. Ora quando começa a trovoada, a diferença entre as duas áreas é nítida.

 

Os sectores que estão ao sol (neste caso à chuva) têm de ajustar rapidamente. As empresas vão à falência, os trabalhadores perdem o emprego e são forçados a mudar de vida. Convertem a actividade, emigram, encontram alternativas. Como esta crise bateu em 2008, há muito que a zona sol ajustou. Aquilo que se arrasta longa e demoradamente é a adaptação da zona à sombra. Aí regista-se uma luta terrível à volta dos poucos lugares protegidos, e que aliás se vão reduzindo à medida que a tempestade desgasta as coberturas.

A consequência disto é a criação de uma segunda mentira, tão ou mais dramática que a primeira. O fragor desta luta enche totalmente o debate mediático, fingindo que o bem público e o futuro do País dependem crucialmente do que não passa do interesse particular de um grupo. Basta abrir a televisão ou os jornais para encontrar alguém a gemer ruidosamente, afirmando que a dignidade nacional e o progresso lusitano só sobrevivem se for mantido o subsídio, assegurado o apoio, defendida a despesa. Os propósitos são muito variados; o único elemento comum é a fúria avassaladora contra o Governo do momento, acusado da incompetência mais gritante ou dos propósitos mais sinistros, simplesmente porque lhes tira o guarda-chuva.

 

Está a ser muito interessante ver a vastidão do poder das forças instaladas em Portugal, e a capacidade de manipulação da realidade a seu favor. Os serviços colectivos, dos ministérios às câmaras municipais, da electricidade às estradas, dos juízes aos diplomatas, por se localizarem bem dentro da zona sombra, conseguem prosseguir como se nada fosse, mantendo hábitos ruinosos. Vêm depois os sectores protegidos, da construção aos advogados, grandes grupos e elites sociais, mais próximos da margem, que manobram nos bastidores. Os bancos, que andaram décadas a financiar projectos tolos, ocultam os esqueletos no armário e asseguram ser indispensáveis ao futuro nacional, precisamente na altura em que o prejudicam. Finalmente, a região entre a sombra e o sol faz manifestações e gritaria. Estes são os sindicatos, funcionários, profissões liberais e empresas subsidiadas.

 

O resultado de tudo isto é ir-se adiando o ajustamento, que sempre foi inevitável, e que a economia real há muito fez. Desta luta depende a crise demorar cinco ou trinta anos. Ou até, como se vê na Grécia e no Japão, acabar por quebrar o sistema, que nunca volta a ser o mesmo. Neste campo pode dizer-se que Portugal até se tem comportado muito bem, mantendo a paz social, enquanto avança com algumas reformas.

 

O mais importante nesta fase é desmistificar o essencial da segunda mentira, a ideia de que há um caminho mais fácil e existe alternativa à austeridade. Este é o embuste alimentado pelas partes ameaçadas da zona sombra, tentando desesperadamente manter as benesses em risco. Mas a única opção real ao ajustamento é o caos, porque a tempestade é inelutável e o tecto tem limites. Urgente é mudar corajosamente os hábitos e abandonar regalias injustificadas, usando os poucos recursos, não para protecção a privilegiados mas para defender os pobres e sobretudo investir em actividades realmente produtivas, abandonando as ilusões que nos enfiaram na crise.

 

 JOÃO CÉSAR DAS NEVES

 

CURTINHAS CIX

 

Papel 2 - excel 0

 

v      Aqueles 11 actores que apresentei no escrito anterior não estão isolados, cada um em seu canto. Pelo contrário, interagem continuamente, uns mais, outros menos (e alguns, como veremos lá mais para diante, quase nada). No caso da economia portuguesa, “resto do mundo” à parte, dependem todos uns dos outros: o sucesso de uns não existiria sem a acção (e a cooperação) de outros.

 

v      A liquidez, ao passar de mão em mão, deixa mais folgada a restrição nominal de quem recebe e aperta a restrição nominal de quem paga. O que permite às Famílias, comprarem, restituindo às Empresas pelo menos uma parte do dinheiro que delas recebem – e às Empresas continuarem a produzir e a remunerar o emprego. É assim que funciona uma economia de base contratual.

 

v      Para se fazer uma ideia do que sejam estas interdependências, recorro a 4 eras, começando pela mais simples (era I): uma economia sem “resto do mundo”, sem Operadores Financeiros e sem Governo.

[NOTA: É uma ficção, escusado será dizer. Historicamente, as coisas não se passaram assim, mas dará para perceber o papel das diferentes formas de intermediação e os problemas que cada era não tem como solucionar.]

 

v      À era I corresponde uma organização da economia rudimentar:

(i) só há lugar para um único tipo de Empresas - aquelas dirigidas totalmente à procura interna (o 4º e último tipo de Empresas, no escrito anterior);

(ii) a liquidez circula, unicamente, através da intermediação comercial e do emprego. Mas que liquidez será essa? De onde provirá?

 

 

v      É que, sem liquidez não há economia de base contratual. Ou há troca directa (a outra face das economias próximas da subsistência), ou há um ditador iluminado que se apropria de toda a produção e a distribui conforme melhor lhe aprouver (com as preferências das Famílias, ou fixas e imutáveis, ou completamente irrelevantes).

 

v      Se a população crescer, até que esse surto demográfico chegue à idade activa, a mesma produção de antes terá de dar para mais bocas. Logo (propositadamente, deixo de lado as condicionantes que o “nicho ecológico” impuser):

(i) ou mais emprego (se houver Famílias Activas sem emprego);

(ii) ou mais tempo de trabalho (se a economia estiver já em pleno emprego);

(iii) ou menos produto per capita (ou seja, menos bem-estar actual na esperança de maior bem-estar, no futuro).

 

v      Mas, se a população diminuir, a economia entrará numa espiral descendente: a procura interna, ao cair, arrastará com ela o emprego. E, se a queda for suficientemente pronunciada, levará ao encerramento de Empresas, com o número de Famílias Activas sem emprego a aumentar, o que acelerará a contracção da procura interna - e assim sucessivamente, até se encontrar um outro equilíbrio (se tal ainda for possível). Esta era I não comporta de todo medidas anti-cíclicas.

 

v      Ah! E o espírito empreendor que leva a criar mais Empresas, reduzindo o número de Famílias Activas sem emprego? Não estará aí a solução? O problema residirá, então, no volume de liquidez que, sendo exógeno (caíndo do céu, para já), é fixo. Como encontrar espaço para a nova produção, partindo do princípio de que existe procura para novos bens e novos serviços?

 

v      Uma de três:

(i) ou aumenta a velocidade com que a liquidez circula entre Empresas e Famílias Activas – o que implica as Empresas modificarem a tecnologia para operarem com ciclos de produção mais curtos e poderem fazer pagamentos mais frequentes;

(ii) ou ocorre uma baixa de preços (incluindo o preço do emprego) generalizada - com a singularidade de ao mesmo PIB nominal corresponder, agora, maior disponibilidade de bens e serviços (maior PIB real);

(iii) ou alguma Empresa terá de desaparecer para dar lugar à nova Empresa – e o nível de emprego pouco variará.

 

v      E o que acontece se os prazos de pagamento variarem de Empresa para Empresa e de Família para Família (ou seja, como lidar com diferentes ciclos de tesouraria)? É que a intermediação comercial está longe de determinar ciclos de tesouraria iguais: os monopólios impõem, quase sempre, prazos de pagamento muito curtos - e a concorrência pode levar algumas Empresas a concederem prazos de pagamento excessivammente dilatados.

 

v      Na era I não há solução para Empresas com ciclos de tesouraria de tal modo longos que a intermediação comercial é incapaz de reconstituir a tempo as respectivas restrições de liquidez: não sobrevivem, asfixiadas pela falta de dinheiro que as impede de continuar a contratar.

 

v      E se a produção das Empresas não satisfizer as preferências das Famílias? Eis uma dificuldade que só existe na imaginação dos teóricos: sem “resto do mundo” a tentar com outros bens e outros serviços, prefere-se o que se conhece – e conhece-se o que as Empresas têm para oferecer.

 

v      Contudo, nada garante que todas as Famílias Activas com emprego obtenham das Empresas a liquidez de que necessitam para viver: tudo depende da variedade de preferências na procura interna, das tecnologias conhecidas e do “nicho ecológico” – sem esquecer os poderes contratuais em jogo.

 

v      Dito de outro modo, a era I não está livre de assimetrias pronunciadas na distribuição do rendimento. A acontecerem, vão determinar, quer a composição da procura interna, quer a relação entre Famílias Activas com emprego e restantes Famílias (o grau de dependência social).

 

v      É um problema clássico da teoria económica (“Será que a oferta gera a sua própria procura?”) a que a intermediação comercial vai dando solução, tant bien que mal. Mas daí até ao perpétuo equilíbrio a distância é enorme: a era I pode conhecer prolongados e dolorosos desequilíbrios.

 

v      Fica ainda por resolver um outro problema: Como é que as Famílias Activas sem emprego e as Famílias Inactivas podem obter a liquidez de que necessitam para celebrar contratos e sobreviver? Uma vez que só a intermediação comercial e o emprego fazem circular a liquidez, não participar na produção é ficar excluído do processo de distribuição do rendimento que alimenta as restrições nominais e torna possível apropriar, através de contratos, bens e serviços.

 

v      Resta-lhes:

(i) ou integrarem-se nas Famílias Activas com emprego (partilha);

(ii) ou receberem doações (dádivas) de Famílas Activas com emprego (o que vem dar quase no mesmo);

(iii) ou há outras formas contratuais que levam Famílias e Empresas a transferirem liquidez para as Famílias, em geral (participação no capital, empréstimos, arrendamentos, etc.).

 

v      Como se vê, mesmo na era I, a teia de contratos que são necessários para a economia funcionar não pode deixar de ser bastante complexa (o que nos conduz à era II). Mas, quanto menos sofisticada for essa teia de contratos, mais elevado poderá ser o grau de dependência social.

 

v      Enfim, a pergunta inicial: dinheiro, liquidez - o que será? Sem Operadores Financeiros, o dinheiro só poderá ser um objecto (mercadoria-dinheiro) que todos aceitem em pagamento - e, desse modo, alcandorado à categoria de instrumento geral, quer na intermediação comercial, quer para remunerar o emprego.

 

v      O volume de mercadoria-dinheiro em circulação é, assim, totalmente independente do nível da procura interna de bens e serviços (o PIB real) – mas o inverso não é verdadeiro. Um afluxo inesperado da mercadoria-dinheiro baralha as preferências das Famílias, perturba o processo de distribuição de rendimento – e, tarde ou cedo, acabará por interferir com o próprio processo de produção (o que é dizer, com as Empresas e com o PIB real).

 

v        Em sentido oposto, a redução súbita do volume de mercadoria-dinheiro:

(i) ou é imediatamente apercebida por todos, que ajustam voluntariamente os seus rendimentos (preços e remuneração do emprego) - com a consequente queda do PIB nominal (mas não do PIB real);

(ii) ou é a crise - com Famílias e Empresas (se não todas, pelo menos um número significativo) a terem cada vez maior dificuldade para reconstituirem as suas restrições nominais.

 

v      Nem mesmo um volume de mercadoria-dinheiro constante está livre de problemas. Se a procura interna (e o PIB real) cair porque a população diminui, o excesso de mercadoria-dinheiro que daí resulta poderá, talvez, manter o PIB nominal (por força do aumento dos preços de bens e serviços tornados escassos). Mas só novas tecnologias (Empresas) e preferências diferentes (Famílias) conseguirão o milagre de relançar o PIB real (e o bem-estar).

 

v        Na era I, as crises têm, assim, quatro causas possíveis:

  • Uma evolução demográfica nada suave: aumento brusco, ou diminuição brusca, da população;
  • Alterações no “nicho ecológico” – nomeadamente, na disponibilidade da mercadoria-dinheiro (choques exógenos, porque não têm directamente a ver com as preferências das Famílias e a organização da economia);
  • Mudanças súbitas e profundas nas preferências das Famílias (a psicologia colectiva a fazer das suas);
  • Falta de soluções para integrar Famílias e Empresas no processo de distribuição do rendimento (falhas na organização da economia).(cont.)

 A. Palhinha Machado

MAIO de 2013

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