Terra periférica, o Arquipélago dos Açores nos tempos iniciais do povoamento também foi local escolhido por famílias cristãs-novas para fugir às perseguições de que eram vítimas. Segundo pesquisa de Isaías da Rosa Pereira, em seu trabalho "Alguns açorianos na Inquisição de Lisboa" ( O FAIAL e a periferia açoriana nos séculos XV a XIX- Núcleo Cultural da Horta), existe um relato documentado na Biblioteca da Ajuda (Symicta Lusitana) de uma pequena revolta de judeus, na Ilha do Faial, contra os demais habitantes da Ilha que os hostilizavam.
Datado de 6 de Janeiro de 1532, o episódio descreve a encenação que fizeram na Praça da então Vila da Horta. Armaram uma tribuna onde havia uma criança, um mascarado fingindo ser judeu e um boneco de palha. Acenderam uma fogueira e disseram à criança que mandasse queimar aquele judeu que havia cometido pecado contra a fé. Em seguida jogaram o boneco de palha na fogueira para ser queimado.
Por falta de documentos, não se sabe mais acerca de outros acontecimentos.
O episódio demonstra que , claramente, havia judeus na ilha e uma repressão psicológica sobre eles. Acredita-se que a maioria tenha assumido a religião católica por toda essa situação conflituosa e pelos casamentos que sucederam entre os cristãos-novos e os velhos. Porém, percebe-se em certas família açorianas (portuguesa), comportamentos e costumes que fazem suspeitar a influência judaica sobre elas. Como o habito de, antigamente, se eleger o sábado como o dia da higiene, do banho geral, de vestir roupa lavada, de colocar velas ardendo até o final do dia; o costume de sangrar o animal antes de prepará-lo para comê-lo, a preferência, na alimentação, pelos peixes de escamas ( os de couro não são aceitos pelas leis dos judeus), o atributo feminino na educação dos filhos, o dualismo na maneira de ser, isto é, dizer ou mostrar uma coisa na aparência e pensar ou ser outra por dentro, jurar pela alma de alguém ( rito judaico), pagar a siza (Sizah do hebraico ), o emprego de palavras que fazem lembrar a história judaica, como judiar e massada (fortaleza de Massada onde pereceram 800 judeus).
Muitos são os hábitos e costumes que nos recordam que, em tempos passados, também tivemos a contribuição marcante da presença judaica na formação da nação portuguesa.
Se as participações empresariais do Estado têm mesmo que ser vendidas, então que o sejam em Bolsa, sem lotes mínimos de acções, de modo a que as pequenas poupanças lhes possam aceder
Foi a minha amiga que se exprimiu assim, a propósito da sensibilidade que a minha filha revelou, no nosso café matinal, aos frequentes arranques não propriamente tússicos de Marcelo Rebelo de Sousa, mas de aclaramento da glote, o que levou a minha amiga, depois da frase transcrita em título, a acrescentar: “Só falta dizer que lhe deu a tosse”. A minha filha lembrou então a rábula do Solnado, “Ida ao médico”, dos seus tempos de infância, em que o dito médico, depois de mandar o doente tossir três vezes, concluía drasticamente: “O que o senhor tem é tosse!”.
Ainda nos rimos com essas recordações dos tempos amenos, mas na realidade, a conversa surgira após a referência ao sono que dera na minha filha quando estava a ouvir o “Eixo do Mal”, que há muito eu me recuso a ouvir, incomodada com a gargalhada fácil no programa, apesar da participação de envergadura cultural de Clara Ferreira Alves, e até mesmo a “Quadratura do Círculo”, em que os intervenientes se esforçam por interpretar com maior ou menor subjectividade, sob aparências de rigor intelectual, os desvarios da governação, cada um segundo a sua filiação partidária ou a sua cultura copiosa, caso de José Pacheco Pereira, definitivamente avesso ao partido do governo, aparentemente o seu, mas que ultimamente enveredou por aqueles donde partiu, em tempos de juventude - maoísmo, comunismo, leninismo, ou mesmo soarismo, segundo dados que colho na Internet - tal a cólera que ele expande contra aqueles que se vão esforçando por reerguer a bandeira, que para ele talvez não passe de sintoma inferior de um baixo romantismo a extinguir.
Daí a minha referência a Marcelo Rebelo de Sousa, merecedor da minha admiração pela pronta reflexão certeira e reveladora de um certo optimismo consolador, daí a referência pela minha filha à sua mazela de obstrução da voz, sobretudo incómoda para ele, e a frase conclusiva da minha amiga: «As pessoas andam todas escangalhadas».
Complementei, em concordância, com a notícia recente sobre três mortes por hora de cancro, em Portugal, acrescentadas das outras milhares anuais provocadas por outras doenças ou acidentes, o que a levou a considerar exaltadamente que, com tanta morte e sem nascimentos que prestem, qualquer dia somos riscados do mapa.
A minha filha, olhando para os pesados dossiers com que anda sempre sobrecarregada, ponderou que, enquanto houvesse dossiers com trabalhos dos alunos e com estudos vivificantes, que com tanto entusiasmo acompanha em Lisboa, juntamente com colegas de grupo, se sentia bem viva e disposta a continuar a fazer parte.
A minha amiga apontou factos diversos do nosso estar no mundo diário, acabadinhos de ouvir nos noticiários matutinos:
- O Seguro está a ser abandonado. Filmaram uma assembleia dos socialistas, de muitas cadeiras vazias. Há por lá um problema. Mas este Costa! Está tudo desconjuntado. Aquela figura do Costa! Ninguém esperava uma destas!
Concordámos, a minha filha e eu, que realmente a atitude do Costa fora do menos ético, fazer-se candidato ao cargo de presidente do partido, e desistir, a pretexto de que prefere o seu trabalho de presidente da Câmara de Lisboa, depois de se fazer “ao bife” do partido?!
E o Seguro com cada vez mais opositores no partido, continuando a debitar os mesmos argumentos sem consistência, reveladores de um humanitarismo de sofisma, ao ocultar responsabilidades de anteriores governações socialistas, e não só…
- O Passos Coelho faz um erro por dia! – empolou a minha amiga. Agora foi a eleição do Franquelim Alves para secretário de estado do empreendedorismo, um fulano acusado de ter tido conhecimento dos desvios escandalosos no BPN, quando ali fora gestor e ocultou os factos. O Franquelinzinho tem que vir explicar.
Mas eu ouvira o ministro da Economia assumir a sua responsabilidade na eleição e até falar de baixa política da oposição, afirmando que confiava na competência do dito.
- Então acredita? - troçou.
E acrescentou sobre a brutal afirmação do presidente do BPI – Fernando Ulrich – falando de nós, povo da canga: “Aguentam, que os sem abrigo também”:
- A gente pensa: Ou o homem está doido, ou está a fingir! É que ele veio repetir a frase! Deviam pô-lo uma noite de camisa e calções junto dos sem abrigo.
A minha filha, que um dia por semana vai com o marido distribuir alimentos e roupas por aqueles, também se indignou com a bacorada:
- Uma noite?! Uma semana! Que miserável! A sequência lógica do disparate!
- E porque não, pô-lo apenas a distribuir a sua fortuna por esses?, sou eu que proponho, crente na sua virtude de adepto da igualdade e da fraternidade, e justificando, assim, com bondade, a sua saída, de futuro frade mendicante, de pé descalço, e sem gravata, coitado.
- A gente pensa que está num país de doidos! – concluiu a minha amiga sem se comover. Mas logo corrigiu, mais optimista: -Num país de burros!
A minha amiga está completamente estraçalhada, pois nem acredita já em virtude de nenhuma espécie.
Já tenho, mais de uma vez, mostrado o que tem de ridículo chamar a certos produtos agrícolas “biológicos”, pressupondo-se que há alguns idênticos que o não são. (DN Emprego de 18-1-2013)
Enquanto as fábricas não fabricarem couves, peras ou ovelhas sintéticas, todos os produtos agrícolas são seres biológicos.
Portugal não é o único país a usar esse ridículo nome. Alguns, como a Inglaterra e os Estados Unidos, usam outra designação igualmente ridícula, chamando-lhes produtos “orgânicos”, como se houvesse couves, maçãs ou vacas “inorgânicas”. Uma designação aceitável, porque se aproxima das condições naturais, é a de produtos “ecológicos”, como é usada em Espanha.
Não estou a criticar os processos que levam a essa designação, muitos dos quais são elementares normas de boa agricultura que sempre ensinei aos meus alunos dos cursos de engenharia agronómica. Lembro apenas o ridículo de tal designação, que era bom que fosse substituída por outra mais adequada.
Nos nossos sete, oito e nove anos tínhamos que fazer aqueles malditos ditados que as professoras se orgulhavam de leccionar. A partir do terceiro erro de cada texto, tínhamos que aquecer as mãos para as dar à palmatória. E levávamos reguadas com erros destes: "ação", "ator", "fato" ("facto"), "tato" ("tacto"), "fatura", " reação", etc, etc...
Com o novo acordo ortográfico, voltam a vencer-nos, pois nós é que temos que nos adaptar a eles e não ao contrário. Ridículo...
Mas, afinal de onde vem a origem das palavras da nossa Língua? Do Latim!! E desta, derivam muitas outras línguas da Europa. Até no Inglês, a maior parte das palavras derivam do latim.
Então, vejam alguns exemplos:
Latim
Francês
Espanhol
Inglês
Actor
Acteur
Actor
Actor
Factor
Facteur
Factor
Factor
Tact
Tacto
Tact
Reactor
Réacteur
Reactor
Reactor
Sector
Secteur
Sector
Sector
Protector
Protecteur
Protector
Protector
Selection
Seléction
Seleccion
Selection
Exacte
Exacta
Exact
Except
Baptismus
Baptême
Baptism
Exception
Excepción
Exception
Optimum
Alemão
Velho Português
(o que desleixámos)
O «novo» Português
(o do Brasil)
Akteur
Actor
Ator
Faktor
Factor
Fator
Takt
Tacto
Tato
Reaktor
Reactor
Reator
Sektor
Sector
Setor
Protektor
Protector
Protetor
Selecção
Seleção
Exacto
Exato
Excepto
Exceto
Baptismo
Batismo
Excepção
Exceção
Óptimo
Ótimo
Conclusão: na maior parte dos casos, as consoantes mudas das palavras destas línguas europeias mantiveram-se tal como se escrevia originalmente.
Se a origem está na Velha Europa, porque é temos que imitar os do outro lado do Atlântico????? Porque é que não são eles a adaptar-se um pouco mais?
Mais um crime na Cultura Portuguesa e, desta vez, provocada pelos nossos intelectuais (?) da Língua de Camões.
Era uso dizer que o cão é o melhor amigo do homem. Provavelmente ainda é, pelo menos em muitos casos. Mas nos últimos anos tem havido notícias de cães a morderem pessoas, muitas vezes com gravidade e recentemente mais um, causando a morte duma criança.
Podemos dizer que a culpa destes casos ocorrerem com certa frequência é do Estado, mais precisamente da entidade que é responsável por uma falha.
Antigamente havia leis que, agora, ou foram revogadas, ou pura e simplesmente deixaram de ser cumpridas, assistindo-se a uma vergonhosa impunidade dos prevaricadores. Entre essas normas encontrava-se uma que determinava que os cães não podiam andar soltos, pelo menos em público, sem açaimo. Por essa razão não havia os casos que agora ocorrem com alguma frequência, de cães a morderem pessoas e até, como neste caso recente, a causarem a morte.
Não sei se a lei que obrigava os cães a andarem com açaimo já foi revogada ou se é apenas o sector responsável por zelar pelo seu cumprimento que se desleixou. Penso que é urgente que essa lei volte a ser cumprida.
Miguel Mota
Publicado no Linhas de Elvasde 31 de Janeiro de 2013
Ontem submergiram às Colonizações das nações e hoje não resistem às das Civilizações
A Hora da Lusofonia está a chegar
O futuro já não se equacionará em termos de ideologias de esquerda ou direita nem de colonizadores e colonizados. A Lusofonia quer futuro e este só pode ser assegurado por uma terceira via diferente das outras. Temos realmente de construir uma nova matriz civilizacional.
Os Povos precisam dum Projecto novo e duma nova Bandeirância
Portugal iniciou outrora a grande aventura colonizadora hoje a Lusofonia poderá lançar-se na aventura humanizadora. A bandeirância que Portugal outrora assumiu como ponta de lança da civilização ocidental, na aventura colonizadora, terá de ser assumida hoje pela Lusofonia no sentido de construir um tecto metafísico possibilitador de relações humanas, económicas e culturais solidárias que sirvam de exemplo para a humanidade. As novas tecnologias podiam ser aproveitadas no sentido de superarem barreiras de aprendizagem e de mentalidades.
Sem sonho não há futuro. Sem mitos nem sonhos comuns deixaremos que as grandes potências económicas e os dinos do dinheiro repitam, de forma moderna e disfarçada, o que os países colonizadores conseguiram fazer de etnias outrora não unidas nem cristalizadas pelo tradicional processo de colonização interna. Neste sentido são necessárias fábricas de pensamento que preparem um projecto humano alternativo às tradicionais formas de domínio. O tempo do nacionalismo já foi ultrapassado pelo desenvolvimento histórico. Os novos contextos civilizacionais prescindem dele. A África não deve cair na tentação de procurar nos modelos nacionais ultrapassados do séc. XIX paradigmas para os novos Estados. Hoje, na ordem do dia estão as ligas, as uniões de estados pelo que a união dos estados lusófonos seria a consequência lógica duma estratégia actual e realista. Não reconhecer isto e apostar em nacionalismos é colaborar mercenariamente com potências estranhas. O que facilitou outrora a colonização foi o facto das tribos e grupos étnicos não se encontrarem unidos.Ontem não resistiram ao impacto das nações (Portugal, Espanha, Inglaterra, Franca, etc.) e hoje não resistirão ao impacto das civilizações (USA, Liga Árabe; China, Rússia, EU). Lógica: iniciar a alto nível conversações para uma confederação.
Os povos lusófonos precisam dum sonho, dum projecto próprio e duma Bandeirância que expresse a vontade subjacente. Não podemos deixar as etnias, os povos, as nações nas mãos dos oportunistas e dos jogos de grupos só interessados no proveito imediato. É preciso que os políticos dos países das Lusofonias se juntem e procurem fazer das universidades alfobres de Lusofonia, verdadeiros construtores de futuro e de progresso humano e fraternal. Criem-se parcerias com universidades; de não menosprezar universidades católicas devido à sua experiência internacional e à incardinação nos interesses do país, independentemente do credo. O gene da Lusofonia reúne em si as melhores heranças biológicas e culturais que as civilizações legaram (Miscigenação, inculturação aculturação, uma ética alta e universal, etc.).
Promoção da Arte como Estratégia de Implementação da Lusofonia como consciência comum
A promoção recíproca da arte lusófona será a fórmula mágica duma estratégia, que a ser tomada a sério, se poderia tornar tão eficiente como a cristianização no século XV. Esta ideia terá de ser levada aos nossos políticos, que andam muito preocupados com as tarefas do dia-a-dia, sem tempo para poderem notar que por trás duma grande obra se encontra uma filosofia coerente e humana.
Uma grande tarefa a assumir igualmente por todos os estados lusófonos seria o fomento concreto da arte e da literatura dos parceiros para que esta se torne cada vez mais parte do sentir comum. Para isso será preciso que os Estados que anteriormente impuseram as suas matrizes culturais a outros povos implementem mais as artes daquelas culturas que antes reprimiram ou deixaram na letargia. Todos os órgãos dos Estados membros e as instituições da sociedade (universidades, igreja, partidos, sindicatos, associações) devem empenhar-se e dar expressão a tal intento, concebendo e apoiando projectos, com novas caravelas a afrentar os novos desafios, sejam eles económicos, tecnológicos culturais ou políticos. Há que apostar nos multiplicadores culturais e programas fomentadores das histórias nativas pré-coloniais.
Urge um estudo sistemático das semelhanças dos povos e construir-se uma sinopse das características antropologias e sociológicas que também em Portugal podem ser identificadas. Em todos os cursos universitários e especialmente nos de antropologia, sociologia, história e português não deveriam faltar cadeiras de Lusofonia com as interferências interdisciplinares que a Lusofonia implica.
O Acordo Ortográfico deveria ter sido obra acabada dos especialistas de diferentes países e de diferentes disciplinas e não condicionado por interesses económicos ou políticos.
Também o Instituto Camões ao pecar pela falta duma estratégia de promoção da cultura portuguesa, não sei se por intenção, se por fraqueza, poderá sinalizar precisamente uma atitude não colonizadora…
O dinheiro que Portugal poupa em conselheiros culturais deveria investi-lo na investigação e na implementação de programas inter culturais a nível de universidades fomentadoras do espírito lusófono. O fomento de multiplicadores culturais da Lusofonia efectuado pelo poder estatal, poderia ser contrabalançado pelo fomento de outros artistas, através de outras instituições e associações livres. Assim poderia estrategicamente proceder-se à proliferação de eventos musicais, literários, folclóricos dos países irmãos. Ministérios e comarcas poderiam pôr como condição de apoios financeiros às associações de arte e cultura a inclusão em seus programas de eventos de inter culturalidade dos países lusófonos.
No novo enquadramento histórico a Lusofonia oferece a possibilidade da construção de novas identidades históricas abertas que não se afirmem umas contra as outras mas cresçam num espírito de complementaridade, ao serviço dum todo abrangente …
Precisa-se duma supra estrutura da Lusofonia capaz de se afirmar na concorrência civilizacional: Uma Lusofonia como lugar das oportunidades das novas gerações de angolanos, brasileiros, guineenses, portugueses, moçambicanos, timorenses, cabo-verdianos e das diferentes etnias conscientes de só assim poderem sobreviver contra os novos desafios e imperialismos.
Será necessário pensar-se em espaços de séculos para nos não deixarmos subjugar por interesses imediatistas. No espaço cultural português e na alma portuguesa de hoje encontramos vestígios culturais, étnicos, que vão dos godos, fenícios, gregos, judeus, romanos bárbaros, árabes, africanos, etc., mas tudo isto só foi possível mediante um ideário e um sonho integrador acompanhado duma vontade política.
Seria ingénuo ignorarmos que o desenvolvimento histórico acontece à margem da formulação dos interesses económicos e culturais e abandonar a Lusofonia aos interesses ocasionais de grupos económicos organizados. Não seria racional fixar-nos no fantasma dum colonialismo passado que nos distrai dos novos colonialismos em via. Importante é no meio de tudo isto manter a vontade emancipatória. Todos nós temos uma grande tarefa: fazer do património do mundo o património da Lusofonia e fazer da Lusofonia o património e a missão de cada país da Lusofonia.
Lusofonia é um modo específico de estar humano, cultural, económica e política com expressão em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-leste que se deveria tornar numa política comum a todos os estados lusófonos. Se antigamente a unidade cultural se formava em torno da religião hoje pode ser implementada através do fomento da arte das sub culturas em torno da língua. À volta da lusofonia não se pode abdicar dos elementos racional e emocional.
Do lusitano formou-se o português tal como do Angolano, do brasileiro, do moçambicano, do português, se pode formar o lusófono.
FIM
António da Cunha Duarte Justo
1) Esta parece-me uma abordagem da Lusofonia em termos arcaicos próprios duma lógica binária alijada ainda em mundivisões demasiadamente coniventes com ressentimentos étnicos e nacionais e do divide et impera. Seria fatal continuar a avaliar os tempos modernos com critérios e mentalidades de outros tempos.
Ontem submergiram às Colonizações das nações e hoje não resistem às das Civilizações
A Hora da Lusofonia está a chegar
Urge a Colaboração económica entre os países lusófonos
Trata-se realmente de unir, pessoas, povos e continentes para que da união surja uma força cultural, económica e política capaz de resistir a novos imperialismos. É importante apresentarem-se conceitos e estratégias capazes de alertar os governos para os perigos que se escondem por trás de acordos com firmas e potências que possam comprometer o seu futuro (a China, aproveitando-se da irreflexão europeia e da crise americana já conseguiu muito!). Os poderes das grandes potências camuflam-se através de influências anónimas que paulatinamente amarram governos, estados e nações. No futuro os Estados não terão sequer a oportunidade de corrigir os erros do passado com revoluções nem com nacionalizações. As intrigas internas serão controladas pelas grandes potências que não terão pejo de apoiar grupos contestatários de governos legítimos. No século passado as nações com pouca força económica ainda podiam optimizar negócios jogando com os interesses concorrentes entre capitalistas e socialistas (USA e União Soviética), hoje, com a reorganização dos Estados em grupos de interesses económicos estratégicos e políticos torna-se dificílimo para os governos avaliar a longo prazo os compromissos que assumem com os grupos concorrentes (China, Liga Árabe, USA, EU, Rússia, etc.). Numa fase de ainda não consolidação duma união dos estados lusófonos, toda a África deveria, por razões estratégicas de futuro, privilegiar as relações com a Europa, precavendo um possível cenário que poderá ser o de os possíveis conflitos entre a Ásia e a Europa se realizem na África, à imagem do que já aconteceu no passado em África relativamente aos interesses das nações e ao conflito da “guerra fria”.
Uma política favorecedora de colaboração com firmas e fluxos migratórios dos países lusófonos entre si revelar-se-ia como medida inteligentíssima contra o imperialismo económico que amarra o futuro das nações. É uma dor de alma ver como tantos académicos portugueses são aliciados por potências fortes, como a Alemanha, quando esses técnicos poderiam emigrar para os países lusófonos, contribuindo para o seu enriquecimento. É importante a salvaguarda de recursos humanos, étnicos, culturais e económicos numa cooperação multilateral que não avassale nenhum “biótopo” lusófono. A união faz a força. Cada país lusófono, no continente em que se encontra, constitui uma riqueza estratégica imensa.
A África continua em situação precária, sendo palco da cobiça e dos jogos de interesses ocidentais, árabes, chineses, russos, etc. Estas potências pretendem cimentar aí zonas estratégicas de influência. Ao contrário do autor inicialmente citado, sou do parecer que hoje a Lusofonia, à semelhança da posição de Portugal com a sua pretensão do Mapa Cor-de-Rosa na Conferência de Berlim (1884-85), pretende acautelar a defesa dos interesses das diferentes identidades étnico-culturais ameaçados por forças internacionais com mera intenção de domínio económico e estratégico. Às línguas estão subjacentes interesses de toda a espécie; em torno delas surgem as verdadeiras constelações do futuro. Hoje, tal como na Conferência de Berlim, as potências querem alargar as suas zonas de influência para depois, fazerem de terreno alheio e distante, o campo de batalha para as suas lutas de concorrência económica e política.
As zonas da Lusofonia não seriam bem aconselhadas se, abandonadas à lei da inércia, sem organização, se deixassem enredar por problemas ideológicos e programas não aferidos à realidade actual.
Quem torpedeia a construção da Lusofonia, uma maneira moderna de dar resposta ao desafio do turbo-capitalismo e ao imperialismo comunista chinês, apoia precisamente aquelas forças e princípios imperialistas que o Mapa Cor-de-Rosa queria impedir (ao pretender salvaguardar o direito histórico e geográfico contra o direito da ocupação e repartição da África). Seria fatal se a lógica da ocupação económico-política seguida pelo ultimato inglês (1890) continuasse a imortalizar o princípio do mais forte. Não! Com a Lusofonia, trata-se de recorrer a um outro instrumento da evolução que não seja apenas o selectivo mas o da cooperação dos pequenos entre si, para poderem subsistir ao lado dos mais fortes.
Quer-se uma Lusofonia construída na complementaridade partilhada por todos sem imposições dos mais fortes e acautelada de estratégias de afirmação por actos consumados de ocupação dos espaços económicos e culturais.
Naturalmente que Portugal não deve irradiar da sua consciência as barbaridades que cometeu em África nem desculpar-se com o preexistente comércio dos negreiros árabes. As suas brutalidades cometidas ao longo da história não são, porém, comparáveis à brutalidade sistemática doutros colonizadores, facto que não desculpa os erros cometidos mas prova uma outra mundivisão. Por vezes fala-se muito do colonialismo de ontem para se distrair das novas formas do colonialismo. Por outro lado, também seria ingénuo cair-se na cegueira de não reconhecer a luta da vida. A pequenez de Portugal e o seu caracter sonhador predispõe-no a ser conciliador, potenciando-o a ser um bom interlocutor no processo da Lusofonia. Por outro, Portugal, dentro da concorrência brutal em via na Europa sofre um ataque forte à sua instituição como Estado. Esta experiência poderia salutar se aproveitada nos espaços lusófonos como exemplo do que se dará mais tarde neles mesmos se não se prevêem.
Não é intento fazer do espaço da lusofonia um “império” mas um espaço global moderno de configuração a-perspectiva capaz de se manter e afirmar ao lado doutros constructos.
Também não se quer defender a ideologia dum luso-tropicalismo superior a outras civilizações, mas sim defender uma maneira de estar lusa ao mesmo tempo universal e respeitadora das culturas regionais. Portugal nunca assimilou mais que 1% da população colonizada. Havia a coexistência tolerante de culturas e hábitos (Cf. ideia da democracia racial em “Casa-Grande e Senzala” de Gilberto Freyre). De facto, desde o século XVI até Salazar (1940), não havia instituições coloniais nem um sistema de educação pública nas antigas províncias ultramarinas. Também a declaração da independência colonial em África não foi um acto contra Portugal mas o resultado de interesses económicos e ideológicos internacionais.
Já no 25 de Abril havia uma vertente da população portuguesa mais aberta à opção pelo ultramar do que à opção pela Europa. O espírito luso é arredio a ser encerrado num só país ou continente; ele é intercontinental, universal.
Encontramo-nos num momento de desenvolvimento histórico que não permite já a construção dum país pós-colonial. Os países foram uma forma anterior de socialização antes de se chegar aos constructos civilizacionais USA, EU, Liga Árabe, China, Rússia Índia…
Temos que ousar o salto de grupos étnicos ou nacionais para estruturas superiores. Doutro modo, os países, cada um por si, individualmente, sem um sonho nem um plano comum tornar-se-ão vítimas da cobiça das civilizações e potências fortes tal como aconteceu outrora.
É necessário equacionar-se os interesses de maneira convergente e não divergente. Já não nos encontramos no século XIX em que era ordem do dia a formação de nações. Hoje os sinais dos tempos apontam todos para a formação de órgãos/sociedades supranacionais. A experiência da formação da EU pode ser um exemplo de como se não deve proceder para criar um conglomerado. Apesar da génese e da filosofia ser baseada sobretudo pela concorrência e pelo poder, a EU afirmar-se-á. Muito mais prometedora e oferecedora de futuro seria a formação duma federação dos países lusófonos, no respeito dos biótopos naturais e culturais.
Seria um erro histórico crasso e constituiria um retrocesso se intelectuais africanos se afirmassem pela posição do contra, na intenção de construir uma identidade étnico-nacional.
Ontem submergiram às Colonizações das nações e hoje não resistem às das Civilizações
A Hora da Lusofonia está a chegar
Não, a Lusofonia não “ é a última marca de um império que já não existe” como quer António Pinto Ribeiro. (1) A construção de biótopos culturais /identidades nacionais não é contraditória à sua afirmação numa supra estrutura capaz de concorrer com outras supra estruturas mundiais.
Uma característica de quem se empenha na nobre tarefa da Lusofonia será, precisamente, através duma fábrica de pensamento, não adiar os problemas para o futuro mas sim encará-los com realismo para se antecipar a ele, numa estratégia de sustentabilidade. É necessário prever-se o perigo para termos a chance de lhe dar solução. Parte-se do status quo para se chegar ao que se deveria ser. Se queremos salvaguardar o bem-estar futuro, urge reformar o presente. A isto estão chamados, com conceitos e projectos concretos, os governos, as empresas, as universidades, as igrejas, os sindicatos, as associações e os cidadãos adultos interessados em construir um mundo adequado à dignidade humana e aos sinais dos tempos. A Lusofonia seria a realização de uma terceira via diferente.
Filosofia desejável para a Lusofonia
A Lusofonia não é nem foi, faz-se. Lusofonia poderá ser uma maneira diferente de ser e estar no mundo. Quer fomentar uma nova maneira de estar no tempo e no espaço, um novo modo de ver, agir e sentir o espaço geográfico-cultural lusófono e seus intervenientes. Essa maneira de estar já foi em parte exercitada, na miscigenação brasileira. A Lusofonia pretende fomentar a via especial dos povos lusófonos; uma terceira via diferente, não reduzível a um compromisso entre sistemas económicos/ideológicos (capitalismo e socialismo). Não se fica pelo pensamento bipolar. Raciocina, também, com uma lógica polivalente não fixada no “verdadeiro” e no “falso” mas reconhecendo no “possível” o elemento personalizador que leva a reconhecer a evidência da realidade. Não se fecha no “ou… ou” mas realiza-se numa prática e lógica aberta do “não só… mas também”, imbuída de complementaridade, enfim, uma via integral a-perspectiva. Também não rejeita a existência de padrões de comunicação: importante é a tentativa de integrar a posição do outro.
Os parâmetros filosóficos da Lusofonia incluirão uma consciência da complementaridade orientada pelo ideário de vida pensada e realizada a partir do nós, numa relação pessoal geradora de “eus” e “tus” adultos, gratos e gratificados.
O “nós” será o ponto de partida e de chegada do pensar e agir.
Alternativa: ser satélites dos outros ou planetas do próprio sistema
Os países lusófonos têm que estar conscientes da alternativa do seu futuro: ou ser satélites anónimos de algumas potências ou tornarem-se eles mesmos os planetas do próprio sistema lusófono, tendo como seu centro a língua portuguesa e um ideário comum expresso numa relação mais que de cidadãos de irmãos. Não é assim que já nos tratamos quando falamos dos irmãos timorenses, brasileiros, angolanos, etc? Se na palavra “irmãos” já temos um indicador de consciência fraterna e solidária, porque não investir nela a nível político, económico, cultural e humano? Já se esqueceu a solidariedade fruto dessa consciência lusófona, tida com Timor? A “Língua é a nossa pátria”! Unidos, ninguém nos destruirá e a Lusofonia (Comunidade Federal) transformar-se-á numa verdadeira potência de humanidade e fraternidade.
Como nações desorganizadas estaremos determinados a andar sempre atrás do progresso sob o ditame económico e político dos outros; como confederação lusófona (mais tarde federação) traria a si o poder de se auto determinar e influenciar o futuro a nível global com uma política e economia próprias. Para tal pressupõe-se a união da inteligência racional à inteligência emocional, se não nos queremos perder deixar levar e perder na ditadura do factual e nos meandros duma emotividade nacionalista míope.
O movimento da Lusofonia irmana a consciência de diferentes perfis antropológicos e sociológicos na resposta a dar aos sinais dos tempos como indicadores de futuro. Numa altura em que o imperialismo americano, chinês e europeu se aproveitam do globalismo para se imporem às nações e a grupos desacautelados, a resposta adequada será a organização das identidades lusófonas no projecto supranacional da Lusofonia: Um ecossistema cultural e humano à altura da nova reorganização civilizacional.
O conceito Lusofonia é realmente abrangente não podendo ser demasiadamente definido porque toda a definição bem contornada poder-se-ia revelar como limitadora do processo de desenvolvimento de identidades.
Já não chega uma boa relação entre os povos lusófonos; é preciso um sonho, um programa, uma vontade declarada de todos apostarem num ideário civilizacional comum, prometedor dum céu e duma terra para todos, com uma praxis de supremo respeito pela dignidade humana e pelo direito à diferença como valor.