A RESIGNAÇÃO DE BENTO XVI VAI AFECTAR OS DESÍGNIOS DA IGREJA
I
A inesperada resignação do Sumo Pontífice é um grande tsunami a varrer o mundo da cristandade católica levando inúmeros jornalistas, noticiaristas e comentadores das redes de emissoras da Rádio e da TV a formular suas congeminações bem divergentes. De acordo com as célebres previsões do Arcebispo e Legado Papal na Irlanda, São Malaquias (1050/1148), e de Michel Nostradamus (1503/66), haverá apenas mais um papa a ocupar a cadeira de São Pedro em Roma, isto é, o novo papa será brevemente o último a ser eleito no Vaticano.
Descontando todavia essas previsões, tentarei apresentar testemunhos credíveis de dois Santos e de três Papas dos séculos XIX e XX sobre os perigos que correrá o Papado de Roma no 1º quartel do nosso século. Eis alguns deles numa ordem cronológica dos seus respectivos autores:
São JOÃO BOSCO (1815/88) – João Paulo Freire, em 1911, durante uma entrevista ao “L’ Echo du Merveilleux”, declarou que o Superior Geral dos Salesianos, Pe. Filipe Rigualdi, lhe confirmara que D. João Bosco antevira um Papa a fugir de Roma, 200 dias após rebentar uma Revolução na Itália, e a andar errante por 100 dias, após os quais retomara seu cargo e cantara o TE DEUM em acção de graças. A revolução a que D. Bosco referira eclodiria 400 dias após o mês de flores com duas luas cheias;
São PIO X (1835/1914) - Em 1909 teve uma horrível visão com o Papa a fugir de Roma e do Vaticano por cima de cadáveres de padres. No leito de sua morte ele murmurou que o Papa em fuga será um dos seus sucessores e da série dos Papas PIOS. O próximo papa a ser eleito chamar-se-á PIO XIII (?);
PIO XI (1857/1939) - Teve uma chocante antevisão com cruel perseguição do Clero, dos Religiosos e do povo cristão, com tirania repressiva da juventude levada pela sua prevaricação e abnegação da Fé dos seus pais e antepassados;
PIO XII (1876/1958) – Segundo a clarividente Pascale Maby, em 1947 este Pontífice avisou “que os homens se preparem para enfrentar privações que a Humanidade nunca conheceu”, mais acrescentando ela que o religioso italiano Pe. Claudi mencionara que o previsto “terrível flagelo” seria “instantâneo e de curta duração”.
Sou um modesto católico sem quaisquer dons de clarividente. Encontrei várias outras previsões de videntes com sinistros presságios sobre a Igreja de Roma e da Cidade Eterna que, de momento, não vale a pena mencionar ou comentar.
II
Na minha provecta idade hão-de estranhar muitos dos leitores que me tivesse debruçado sobre o impacto da resignação de Bento XVI, cujo título papal havia previsto no meu livro “Que Futuro na Encruzilhada dos Milénios?”, escrito em 1994, ainda inédito e em arquivo da Biblioteca Municipal de Alcobaça, cidade onde vivo desde meados de 1980. A Biblioteca Municipal dedicou em 21 de Julho de 2005 um Comunicado à Imprensa salientando a minha previsão sobre o título de Bento XVI do sucessor do Santo Padre João Paulo II. Vou reproduzir, em seguida, o texto integral desse Comunicado à Imprensa.
«A SUCESSÃO E O NOME PONTIFICAL DE BENTO XVI PREVISTOS POR INVESTIGADOR ALCOBACENSE EM 1994.
Aquando do registo e inventariação do FUNDO DOCUMENTAL SOARES REBELO, oferecido à Biblioteca Municipal de Alcobaça (conforme relato da edição nº 603 de 10.03.2005 da Região de Cister) constaram os técnicos desta instituição que, já há mais de 10 anos, o seu ilustre doador e investigador de temas históricos alcobacenses, Sr. Dr. Domingos Soares Rebelo, antecipara o sucessor de João Paulo II e o respectivo nome pontifical em dois livros inéditos, dactilografados em português e em inglês, concluídos em Outubro de 1994 e em Maio de 1995 e arquivados nos volumes XIV e XV do riquíssimo espólio documental do referido Fundo, a saber:
1. QUE FUTURO NA ENCRUZILHADA DOS MILÉNIOS? (Capítulo III, pág. 34 e parágrafo 4º) (Secção D- Nº30);
2. HOW TO FACE THE THIRD MILLENNIUM (Chapter III, page 59 and 2nd paragraph), by SAGITTARIUS (Secção D – Nº31).
Para satisfazer a curiosidade dos leitores transcrevemos, com a devida autorização do autor, a significativa passagem referente à sucessão papal e à designação pontifical do Cardeal Joseph Ratzinger ao subir o Trono de São Pedro em Abril de 2005:
“N’AS PROFECIAS DO PAPA JOÃO XXIII, fala-se numa linguagem esotérica do penúltimo Papa e sucessor de João Paulo II. Diz-se aí (op.cit. pags. 87/88) que jovens ululantes gritarão: “Bendito, Bendito, Bendito” e Carpi insinua que este seja o nome pontifical do próximo Papa, mas confessa que não sabe como explicar o significado da expressão: ”Dezasseis te contarão” ligada ao dito Papa.
No meu modesto raciocínio não terá o nome pontifical do sucessor de João Paulo II, contido nessas três palavras simples e cristalinas, a sua significação como Bento XVI?
Ao erudito escritor Pier Carpi se ficou a dever a magnífica obra LE PROFEZIE DI PAPAGIOVANNI- La storia dell umanità del 1936 a1 2033, 1976 com as profecias de Ângelo Roncalli (com versão portuguesa de Março de 1977), relatos estes investigados pelo sr. dr. Soares Rebelo nas citadas obras, ainda inéditas e textualmente diferentes.
Ao ilustre investigador e escritor dr. Soares Rebelo (a quem os técnicos da Biblioteca Municipal de Alcobaça agradecem a amizade e dedicação de tantos anos de convívio intelectual); ao nonagenário filho de Goa residente em Alcobaça há 25 anos, e que mantém de há muito um intervenção activa na imprensa de Alcobaça, Coimbra e Lisboa, endereçamos as nossas afectuosas saudações e os parabéns pela sua original interpretação da profecia relativa ao HOMEM que veio a calçar as SandáliasdoPescadorGalileu em 2005.
Somos a geração que está a destruir Portugal. Daqui a décadas, aqueles que viverem nos escombros do que foi Portugal olharão para trás e culpar-nos-ão da sua situação. Apesar do nosso hábito pedante de condenar épocas antigas por males que lhes assacamos, as acusações que um dia ouviremos nunca as pudemos atribuir aos antigos.
Na sua amargura, os futuros terão dificuldade em acreditar que, apesar do desvario, tivéssemos momentos de lucidez e vislumbre da futura destruição. Hoje, no meio da crise, muitos dizem que Portugal está destruído. Só que, até admitindo o mal, a tacanhez que arruína o País está activa e distorce a compreensão. Os disparates que acompanham queixas e acusações manifestam, nelas próprias, o terrível vício que destrói Portugal.
Aqueles que agora contemplam a desgraça que cairá sobre nós começam logo por se considerar totalmente inocentes. São sempre outros os culpados. Como se um punhado de vilões, mesmo em posição de poder, conseguisse uma devastação destas. Muitos até dizem identificar os bandidos, lançando-se afanosamente em intensa e mesquinha campanha de denúncia e insulto. Assim manifestam a mesma desgraçada grosseria.
Pior é que o diagnóstico da situação, os males considerados e as curas recomendadas são tão laterais, incipientes e tolas que, em si mesmas, manifestam o vício que destrói Portugal. A razão por que tantos bramam que se arruína o País tem a ver com... dinheiros. É espantoso, mas muitos estão mesmo convencidos de que a recessão será irremediável e as dificuldades económicas fatais. O nosso problema é, afinal, falência de lojas e restaurantes, desemprego alto, dívida pública.
Isto permite compreender a desgraçada atitude que arrasa um povo. Pondo a nossa esperança a esse nível, colocando a nossa ânsia nesses temas, tendo a razão de ser em coisas dessas, não admira que se devaste uma nação. "Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração." (Mt 6,21)
De facto, a destruição de Portugal não tem nada a ver com isso. Esta crise estará esquecida dentro de anos, como tantas para trás, a maioria bastante pior. Aquilo que o tempo não pode apagar, aquilo que chega para aniquilar o País é a destruição da família e a extinção da natalidade. Com a taxa de fertilidade mais baixa da Europa Ocidental e das mais baixas do mundo, o casamento em vias de extinção, o divórcio em níveis nunca vistos e a educação na quinta década sucessiva de crise, não admira que as próximas gerações acusem este tempo dos seus males.
Em 2010, último ano com dados para a amostra completa, éramos o terceiro país dos 15 da Europa com mais divórcios e o quarto com menos casamentos. Com apenas mais 1.3 casamentos do que divórcios por mil habitantes, o nosso País mostra uma precariedade familiar que é difícil de replicar na história do mundo, e raramente se encontra fora de situações de calamidade nacional. Não podemos ter dúvidas de que estamos a destruir Portugal.
Nos cinco anos desde 2007 já houve mais de 80 mil abortos, cerca de dez vezes os soldados portugueses mortos nos 14 anos de Guerra Colonial. Muitos se queixaram das cicatrizes que esse conflito deixou na geração que a suportou. Mas ninguém ouve sequer a voz da geração que hoje é sacrificada a "razões socioeconómicas" e à "opção da mulher". E o genocídio não demora apenas 14 anos. Sem fim à vista, continua galopante.
Entretanto, muita gente acha Portugal perdido pela concorrência chinesa, reforma do Estado ou participação no euro. O disparate chega para revelar a infantilidade. Quando souberem que pensamos assim, os futuros habitantes desta terra perceberão a mesquinhez da nossa atitude. Os nossos poucos descendentes e todos aqueles que vierem de longe tapar o buraco populacional que deixámos vão entender como foi possível que fizéssemos esta desgraça.
Afinal, a atitude egoísta e interesseira que endividou o País, trazendo-o à crise, é a mesma que hoje motiva as lamúrias e os insultos e que promove o divórcio, despreza a fertilidade e prefere o aborto. Sem filhos não há futuro.
Há quase 2.500 anos! O que Aristóteles nos ensinou sobre educação, afigura-se, a quem minimamente pensa, ao mesmo tempo brilhante e elementar.
Num dos seus volumes “A Política” diz-nos que “a cidade não é obra do acaso, mas do conhecimento e vontade.” É evidente, porque se os humanos até hoje estivessem a viver na selva, selvagens, pouco mais precisariam conhecer do que alguns instrumentos de caça, e...!
Adiante dá-nos a lição básica do que deve ser a educação: “começa pela educação doméstica, informal, que vai até aos cinco anos; dos cinco aos sete a criança deve assistir a lições preparatórias; dos sete à puberdade, uma fase mais adiantada, e daí até aos vinte e um anos.
Na primeira fase a criança baseia-se, sobretudo no exemplo que lhe é transmitido e no ambiente que a cerca, e afirma que a boa condição física deve ser incentivada desde tenra idade, não por meio de actividades agressivas, mas jogos que estimulem um desenvolvimento salutar.
Como até aos sete anos têm que ser criadas em casa, é lógico que, sendo tão pequenas, poderão aprender coisas indignas a partir do que vêem ou ouvem. Na verdade, se receberem do pai e da mãe um trato rigoroso e justo, hão-de tornar-se pessoas de bem; se não tiverem recebido esse contributo vão acusar a falta dele: se os pais não derem o bom exemplo da própria vida aos filhos, estes vão ter uma desculpa para os desprezarem.
A exposição à realidade deve ser controlada, cabendo ao legislador criar leis que proíbam, por exemplo, a assistência a comédias obscenas, até terem suficiente idade para poderem filtrar essa informação e não serem mal influenciados.
Frisa Aristóteles que cabe ao encarregado de educação proibir o uso de linguagem imprópria.
Mais adiante defende uma educação igualitária para todos os cidadãos, opondo-se por isso ao ensino privado, uma vez que isso implica uma educação direcionada para propósitos particulares e não de conjunto.
Por isso, nesta terra “de brasilis”, os primeiros a dar o exemplo da deficiente educação, são exactamente os professores do ensino oficial, os primeiros que mandam seus filhos para escolas particulares. Quando podem! (No Rio de Janeiro, uma professora ganha R$ 765,55 brutos, por 16 horas semanais ($ 10,88 por hora, igual a £ 4,20! Assim, para não morrer de fome, e com curso superior, ela dá aulas numa escola pela manhã, em outra à tarde, ambas municipais, e à noite num estadual! Infâmia)
Apresenta-nos o grande filósofo o esquema dos “estudos liberais”: gramática, no sentido do aprendizado da leitura e da escrita, ginástica, música e desenho.
Ginástica para um saudável desenvolvimento do corpo, com desportos nem competitivos nem profissionalizantes, que não dignificam o homem, desenho pelo que pode vir a ser útil no futuro de qualquer um, e música que podendo não ter qualquer utilidade, orienta o ócio de modo mais benéfico, indispensável para a felicidade de qualquer indivíduo, contribuindo de modo saudável para os momentos de lazer, e estimula ainda o exercício intelectual, desde que não seja uma música de revolta, de rancor, ódio.
Brilhante este senhor Aristóteles, cujos ensinamentos perduram ao fim de vinte e quatro séculos, mas... a que raros por aqui ligam! Aristóteles passou a ser um velho louco, caduco, utópico, demente?!
Não previu o grande filósofo, que hoje o bom é ser profissional de futebol, tênis, golfe, basquete, corridas de automóvel, cantor de músicas selváticas, ou cantoras pornográficas, que muitas vezes nada entendem de música, aprender/ensinar a falar e escrever errado, praticar desportos brutos como boxe, judo, jiu-jitsu, competir só para ganhar, porque se não ganhar fica complexado, e desenhar... só para os naturalmente dotados.
Como se na Grécia antiga todos nascessem dotados, tal a beleza das obras de arte que chegaram, felizmente, até nós!
Para que ter ministros de educação com curso de Direito, mestrado em Economia e doutorado em Filosofia (saberá quem foi Aristóteles, ou sabendo o desprezou?), que mandam ou autorizam a distribuição de cartilhas, emanadas do próprio Ministério da Educação, ENSINANDO às crianças que se pode falar errado, outras contendo erros (ou propósitos?) aritméticos, mostrando que dez menos sete é igual a quatro, e, pior ainda editando cartilhas explicando que o sexo, o tal “plus”, como sua insolência o ministro do supremo tribunal lhe chama, pode ser usado indistintamente com parceiros do mesmo ou outro sexo?
Não esqueçamos que tudo isto objectiva, além da desestabilização da família, grandes negociatas – vulgo roubalheiras – entre autores/as, normalmente pessoal do próprio ministério, e as gráficas que facturam, a preços exorbitantes, para o mesmo ministério!
Como permitir que “pares” homossexuais adoptem “filhos” para estes, amanhã, logo, logo, se sentirem inferiorizados, abandonados por terem só, aparentemente, pais ou só mães? Que os pares vivam juntos, que façam o que bem lhes apeteça, mas não destruam o futuro de inocentes crianças.
Passando à música: o que se ensina no Brasil? Nas escolas, nada, e além dos clássicos samba e trevo, que se aprende em clubes de ferrenhos amadores, ouve-se o que? O Rap? Os gritos de rancor face a uma sociedade tremendamente injusta? Onde estão os corais, a harmonia, a doçura das músicas que embalam e enternecem as pessoas.
E o controle da TV, onde é raro, raríssimo, ver-se um filme com fundo historio e/ou moral, mas antes abusando-se da violência, do sexo mais ou menos explícito, das actrizes e até locutoras em trajes provocantes?
A tudo isto, imagina-se o que o (des)governo brasiliense, mais perdido que cego no meio dum tiroteio, irá responder: NADA!
Até porque a começar pela tal cultura de base, a ser ensinada às crianças, em casa, necessitaria que os pais estivessem já num razoável grau de cultura. Estão?
Mas enquanto continuarem a votar naqueles que são “como a nóis”... não há muito que possa ser feito. Pobres crianças e alunos.
Mais um século, talvez dois! Como dizia este homem há mais de 200 anos: “Só um povo bem instruído pode conservar-se livre”; James Madison, 4º presidente dos EUA, 1809-1817
No debate, ou ausência dele, sobre a chamada "reforma", ou "refundação", do Estado social, um tema aparentemente marginal merece, contudo, reflexão. Trata-se da proposta de extinção da ADSE, o sistema de saúde aplicado aos funcionários públicos. Penso que o sistema é conhecidos de todos, mas vale a pena recordar alguns aspectos. Trata-se de uma espécie de seguro de saúde, para a qual empregado e empregador descontam mensalmente. Em contrapartida, o empregado-utente da ADSE tem um desconto significativo no preço de cada consulta ou exame médico. A parte restante será paga pela ADSE, com comparticipação do Estado, ao fornecedor dessa consulta ou desse exame.
Finalmente, a ADSE permite ao utente escolher o fornecedor. Este pode ser privado, devendo apenas ter um acordo com a ADSE. Ainda assim, caso não o tenha, o utente da ADSE pode usá-lo, pagando o custo integral da consulta ou do exame, e sendo depois reembolsado pela ADSE de uma parte, em regra, pequena, do que pagou.
Não é preciso grande esforço intelectual para compreender que este sistema tem vantagens significativas relativamente a um serviço de saúde inteiramente estatizado. Em primeiro lugar, permite ao utente a liberdade de escolher o fornecedor de serviços médicos, incluindo o médico, que deseja utilizar. Em segundo lugar, através dos co-pagamentos, responsabiliza o utente pelas escolhas que fizer. Em terceiro lugar, e pelas duas razões anteriores, cria um mercado de serviços médicos e introduz nele concorrência entre fornecedores, estatais ou privados, que concorrem entre si para captar a preferência dos utentes. Este mercado, em quarto lugar, pode criar uma pressão para baixar os custos, com vista a praticar preços mais atractivos para o utente. Em quinto lugar, e finalmente, a ADSE permite uma garantia social por parte do Estado, sem que para isso o Estado tenha de construir e sustentar serviços estatais de saúde. Neste sentido, a ADSE é um sistema mais racional e menos despesista do que o serviço estatizado de saúde, do ponto de vista do princípio constitucional de garantia do acesso universal aos serviços de saúde.
Em face do que fica dito, uma reflexão séria sobre a reforma do Estado no sector da saúde deveria começar por ponderar a possibilidade de estender os princípios da ADSE – escolha pelo utente e concorrência entre fornecedores - a todo o Sistema Nacional de Saúde.
Contudo, temos assistido exactamente ao contrário. As propostas em cima da mesa propõem a extinção da ADSE, a qual é acusada de ser cara.
Vale a pena investigar em que sentido pode a ADSE ser considerada cara. Sabemos que é cara no sentido de que as contribuições dos utentes não cobrem a despesa global da ADSE. Mas a ADSE não pode obviamente ser mais cara do que manter milhares de médicos, enfermeiros e outros funcionários em hospitais e centros de saúde que são quase integralmente pagos com o dinheiro dos contribuintes. É obviamente mais barata. E tem a vantagem adicional de, através da escolha, produzir uma pressão para melhorar os serviços e, potencialmente, controlar os custos.
Insisto, por isso, na pergunta. Em que sentido pode a ADSE ser considerada como um problema estrutural? Só há um sentido possível. Se eu considerar como adquiridos e indiscutíveis os custos actuais do sistema de saúde estatizado, então devo percepcionar a ADSE como cara. Simplesmente porque ela é um custo adicional às quantias astronómicas já gastas no serviço estatizado.
Se o meu objectivo for simplesmente orçamental, isto é, se for basicamente cobrir o défice já existente na despesa do Estado, então é compreensível que queira abolir a ADSE. Tal como é compreensível que queira aumentar os impostos, para arrecadar mais receita que permita cobrir uma despesa cuja estrutura permanece intocável: a estrutura da despesa do aparelho do Estado, incluindo na Saúde e na Educação (cujos problemas são idênticos aos acima descritos para a Saúde).
Deve agora ser observado que, se o caminho para reduzir o défice do Estado consistir no acima referido - eliminar prestações sociais em regime de concorrência e aumentar os impostos -, o resultado não intencional pode ser contrário aos objectivos pretendidos. Poderá ser uma enorme estatização da sociedade portuguesa. O que resta de serviços de saúde não estatais será severamente enfraquecido, por via da eliminação da ADSE. E o que resta de economia independente será também severamente asfixiado pela subida dos impostos - como os números do desemprego e das falências mostram de forma alarmante.
O Presidente da República falou, com inteira propriedade, de uma espiral recessiva em curso entre nós. A esse alerta deveria talvez ser acrescentado o de uma possível espiral estatizante. A manterem-se a enorme subida de impostos e iniciativas como a promessa de extinção da ADSE, podemos estar a assistir a uma vaga não intencional de destruição da economia independente portuguesa.
Os portugueses, incluindo os mais ilustres politólogos, falam constantemente na “nossa democracia”, por oposição à tenebrosa ditadura derrubada em 25 de Abril. Eu gostava que me explicassem quais são as principais liberdades que consideram necessárias para um sistema ser considerado democracia.
Um exemplo, entre muitos. Luís Marques (Expresso de 12-2-2013) começa o seu escrito dizendo “O sistema político português, uma democracia bastante estranha...”
Parece que lhes basta, para estarem em democracia, não haver aquela censura estúpida e ineficaz. Eu gostava que me dissessem, também, se consideram compatível com o conceito de democracia um sistema em que os cidadãos não se podem candidatar a deputados e que, quando vão votar – para elegerem quem, presumivelmente em seu nome, irá legislar e governar – apenas têm a imensa liberdade de escolher uma lista – com ordem fixa e vários ilustres desconhecidos – entre meia dúzia delas, elaboradas ditatorialmente por outras tantas pessoas.
Fui sempre contra a outra ditadura. Considerando os resultados, acho esta muito pior
A forte emigração muçulmana para a Europa, as maiores taxas de natalidade dos muçulmanos e as condições do casamento de muçulmanos com mulheres doutras religiões são factores que conduzem a um grande avanço do Islão. A expansão, que não pode fazer através das armas, consegue-a através da procriação, da discriminação de minorias nos próprios países, da política de gueto no exterior, de leis de casamento e da severidade da religião. Por outro lado, a política ocidental aceita, sem contrapartidas, a sua auto afirmação dentro dos próprios Estados pelo facto da religião islâmica fazer parte do poder político e estatal dos países muçulmanos e também devido à dependência dos Estados ocidentais do petróleo árabe, e à possibilidade de investimento neles.
A linguagem das Estatísticas
Um estudo realizado nos finais de 2011 e publicado pelo US – Pew Research Center e seu foro Religion & Public Life, sobre o futuro global dos muçulmanos nos próximos 20 anos, revela que a população mundial muçulmana aumentará de 35%, isto é, passará de 1,6 mil milhões para 2,2 mil milhões. Nos países muçulmanos com menor formação escolar das mulheres, cada mulher dá à luz, em média, 5 filhos, enquanto nos países muçulmanos com maior formação escolar, a média por muçulmana é de 2,3 crianças.
O estudo prevê para a Europa de 2030 um aumento de, actualmente, 44,1 milhões de muçulmanos para 58,2 milhões; nos USA de 2,6 milhões para 6,2 milhões. Nas nações europeias, os muçulmanos sofrerão grande aumento: na Inglaterra passarão de 2.869.000 para 5.567.000; na Bélgica de 638.000 para 1.149.000; na Alemanha de 4.119.000 para 5.545.000; na França de 4.704.000 para 6.860.000; os Países Baixos também aumentarão de 914.000 em 2010 para 1.365.000 em 2030.
Mundivisões diferentes
O que está em questão entre a sociedade ocidental e a sociedade islâmica é o encontro de duas concepções de Deus-Homem-Sociedade totalmente diferentes e secundadas por práticas e estratégias contrárias de auto-afirmação. A sociedade islâmica caracteriza-se pela auto afirmação pela defensiva cultural (monocultura) pela acentuação do grupo e a sociedade ocidental (cristã) afirma-se pela abertura (interculturalismo), pela acentuação do indivíduo.
Assim não se proporciona um diálogo intelectual sério entre maometanos e o ocidente. A política está interessada numa opinião pública de nivelamento das religiões; não está interessada em diferenciações que tornem inquietas as maiorias. Sem discussão, a sociedade acolhedora vai cedendo às exigências dos guetos muçulmanos, procurando, por outro lado, fomentar oportunidades da sua integração indirecta através de aulas de religião islâmica nas escolas e através da criação de cursos da religião maometana (“Centros islâmicos”) nas universidades. Estes esforços dão-se na expectativa de fomentar entre os muçulmanos o espírito científico e o diálogo interdisciplinar, no intuito de levar os muçulmanos a fomentar o espírito académico teológico na sua discussão interna e a não se limitar ao âmbito moral (leis) e de costumes.
Na Alemanha há 900 mesquitas com os seus Imanes (orientadores religiosos) normalmente, enviados pela Turquia em sistema rotativo; estes têm, geralmente, pouca formação geral, o que se tem revelado como um dos factores fomentadores do espírito de gueto.
Cerca de 70% dos muçulmanos alemães são sunitas; os alevitas (mais democráticos) são 12%, os xiitas 7% e os Ahmadiyya 1,7%. Dentro da comunidade maometana há também a pequena minoria dos salafistas – grupo extremamente radical – muitas vezes envolvidos em ataques à sociedade não islâmica.
Entre maometanos alemães, levantam-se vozes raras, como a da deputada Lale Akgün, que considera a crescente "islamização desastrosa para muitas áreas da vida em que a religião não tem lugar".
De facto, esta civilização que não conheceu o renascimento não aceita uma sociedade laica a rivalizar com ela e para quem o ser humano é concebido apenas em parâmetros culturais religiosos (homo religiosus). A propaganda contra os judeus tem aumentado substancialmente entre os imigrantes turcos bem como na etnia árabe e norte africana. 90% da imigração para a Europa, desde os anos 90, é muçulmana. O fomento político desta imigração foi considerado como um erro por Helmut Schmidt, antigo chanceler alemão.
A estratégia muçulmana de auto-afirmação pelo gueto e a negação do modernismo em contraposição com o relativismo de valores ocidentais tem-se revelado vantajosa para a afirmação da religião muçulmana. Na França há mais de 1.000 mesquitas. No sul da França, já há mais mesquitas do que igrejas.
O diálogo intercultural urge e não pode continuar tabu
O tema da imigração muçulmana tem sido considerado tabu pela maioria dos intelectuais europeus e dos políticos. Não se dá uma discussão séria entre a cultura árabe e a cultura ocidental devido aos interesses das elites económicas, políticas e ideológicas. Nunca é tematizado o carácter da relação totalitária da religião a nível concepcional, social e humano.
Qualquer análise mais crítica relativamente ao Islão e às atitudes dos imigrados islâmicos é abafada de início com o carimbo de islamofobia e de extremismo. Do Islão ou se fala bem ou não se fala. O ditado do politicamente correcto da informação conduz a uma verdadeira desinformação e as pessoas, mesmo no convívio privado têm medo de se expressarem sobre o assunto. Devido à grande quantidade de muçulmanos os políticos estão interessados neles como votantes, com as consequências que daí derivam. É verdade que uma discussão aberta poderia, por um lado, ajudar os imigrantes maometanos a compreender melhor os parâmetros por que se orienta a sociedade civil ocidental, mas por outro criaria inquietação na sociedade acolhedora, correndo o perigo de se fomentar a xenofobia.
O comportamento exigente das comunidades islâmicas e a sua política de gueto na sociedade europeia aberta, que lhes permite liberdade total, fomenta muitos medos nos povos ocidentais.
Na discussão pública alemã procura-se branquear a praxis agressiva islâmica actual com argumentos de tolerância islâmica em eras passadas e sente-se a necessidade de enxovalhar o cristianismo de hoje com argumentos desfavoráveis do passado (cruzadas, inquisição, etc.) na esperança de que o maometanismo também se mude. Um irracionalismo de último grau ao denegrir-se o cristianismo portador no seu seio dos valore individuais e da democracia. A hipersensibilidade muçulmana com as suas reacções públicas imediatas, atemoriza os políticos e muitos membros da sociedade contribui assim para uma hipocrisia nas relações. A opinião publicada e o politicamente correcto paralisam qualquer opinião crítica em relação às comunidades islâmicas e ao Islão.
O desenvolvimento da economia ocidental criou a necessidade de mão-de-obra; nesse sentido, os políticos abriram as portas à imigração contando apenas com mão-de-obra mas, depois de algum tempo, depararam com pessoas que traziam com elas, como é natural, os seus costumes. Quando os políticos se viram confrontados pela afirmação de costumes e éticas culturais questionadores da harmonia social meteram a cabeça na areia, tal como faz a avestruz, quando se encontra em perigo. Agora a política (União Europeia) aceita as crenças sem contar que com elas vêm as religiões e os conflitos inter culturais. O direito à imigração é um direito inalienável; o que se precisa é responsabilidade e respeito pela dignidade humana da parte dos acolhedores e dos acolhidos.
Dificuldades no Diálogo inter-religioso e intercultural
Na Europa, a religião encontra-se enquadrada por um pano de fundo de tendência liberal capitalista e socialista; estas são orientações aparentemente contraditórias, mas complementares na instrumentalização da pessoa e do seu modo de sentir e viver. O que conta é a matéria e o produto que se faz dela. Uma filosofia relativista suporte, justifica o consequente individualismo consumista e a massificação duma sociedade, cada vez mais incapaz de distinguir e analisar.
Neste panorama, o cristianismo, fundamento da civilização ocidental, encontra-se de retirada. É sentido como demasiado complicado e exigente para uma sociedade que se quer consumista e proletária. Vão-se sucedendo ondas da moda a nível de ideias e de consumo, numa espiral de desresponsabilização individual e institucional.
Assim, na Europa dos anos 70 esteve em moda o induísmo que ainda acreditava em Deus. Depois seguiu-se-lhe a onda ateísta com o budismo. O Budismo (novo budismo), como é percebido e espalhado no Ocidente, vem mais de encontro às necessidades de pessoas que se satisfazem com um budismo de tipo coquetel espiritual à la carte, virado para o momento do agora e aqui. Procura-se o prático e o útil. Não se trata de crer mas de experimentar. As pessoas sentem-se bem num budismo que junta o útil ao agradável, ensinando técnicas de vivências pessoais e criando espaços para se descansar dum pensar esforçado e duma vida stressada.
Muitos ocidentais aprendem a aprofundar-se no cristianismo através do desvio do budismo. Um cristianismo, por vezes demasiadamente intelectual e fixado no além recebe assim uma rectificação intuitiva.
Um outro desafio, não só à religião cristã mas à cultura ocidental em geral constitui o aumento crescente e militante do Islão que com uma doutrina simples (subjugação) e uma ética fácil se vai espalhando na Europa.
Duas concepções de Homem e sociedade diferentes têm a oportunidade de se encontrarem na responsabilidade e respeito pela dignidade humana. Para isso o politicamente correcto não deve adiar uma discussão séria que ajudaria acolhedores e acolhidos a melhor compreender os parâmetros por que se orienta a sociedade árabe e a sociedade ocidental e ambos trabalharem no sentido de um progresso comum.
É que já é tempo de deixarmos de chorar pelo leite que andámos a derramar durante estes quase 39 anos carnavalescos.
Chegou a hora de respondermos à questão levantada por Kennedy no seu discurso ao Congresso em Janeiro de 1961 quando exortou os americanos a não mais perguntarem o que o país podia fazer por eles mas sim perguntarem-se a si próprios quanto ao que cada um podia fazer pelo seu país: - Ask not what your country can do for you; ask what you can do for your country!
Eu não preciso de lenço para limpar as lágrimas que não derramo mas preciso, isso sim, que me ajudem a ter mais ideias para ajudarmos o nosso país.
E a questão é esta: o que poderemos nós, individualmente ou em conjuntos restritos, fazer para que Portugal vá ultrapassando alguns dos problemas com que se depara?
Semear batatas? Fabricar aviões?
Quem é que já encontrou o lenço? Então limpe as lágrimas e junte-se a mim!
A governação de todos, sempre uns vendo entravadas quaisquer tentativas de conserto pelas tentativas de aniquilamento dos outros que a Constituição protege, em que o "A Bem da Nação" deixou de fazer sentido, substituído pelo slogan "O povo é quem mais ordena" das palhaçadas dos vitoriosos.
Em Portugal apenas um partido costuma habitualmente invocar a Constituição: o PCP. Mais ninguém cita a lei fundamental, excepto nas tentativas sempre falhadas de a rever. A razão é evidente: o texto concebido em 1976 é estruturalmente comunista. Apesar de sete revisões (1982, 1989, 1992, 1997, 2001, 2004 e 2005) no século XXI ela continua a pretender «abrir caminho para uma sociedade socialista» (preâmbulo) e quer o «planeamento democrático do desenvolvimento económico e social» (art. 80 e). Por isso os marxistas são os únicos satisfeitos com ela. Todos os outros a querem mudar mas, como nenhum deixa que os outros a mudem, ficamos na situação caricata de ter uma lei básica a que afinal ninguém liga.
Prova disso é a (falta de) atenção dada ao Tribunal Constitucional. Desde que começou a trabalhar, a 31 de Maio de 1983, essa meritíssima instituição já emitiu 17 609 acórdãos, uma média de quase 2 por dia (incluindo domingos e feriados). Praticamente nenhum interessou ao país, que ignora alegremente esta frenética actividade jurisprudencial.
Tudo mudou a 5 de Julho de 2012, abrindo-se uma nova era na democracia. Com o Acórdão n.º 353/12 o referido Tribunal surgiu como uma força decisiva da República, intervindo politicamente para modificar o Orçamento de Estado. A partir de então todos os que anseiam bloquear as reformas estruturais centram aí as suas esperanças. E, como a Constituição é marxista, as hipóteses de paralisar o país são excelentes. Assim a nossa lei básica, que não resolve nenhum problema, ainda pode estragar tudo.