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A bem da Nação

MONJAS DA LITERATURA – 4

 

Bruno Tolentino, poeta carioca nascido em 1940, faleceu em São Paulo, em 2007, vítima de AIDS. Pertencia a uma tradicional família carioca, onde conviveu desde a infância com escritores como Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto. Preparado, falava vários idiomas. Com o regime de 1964, estabeleceu-se na Europa a convite do escritor Ungaretti, tendo vivido desde então na Itália, Bélgica, Inglaterra e França. Professor nas Universidades de Bristol e Essex. Em 1987 foi acusado e preso por porte de drogas, passando vinte e dois meses na prisão de Dartmoor, no Reino Unido. Regressou ao Brasil em 1993 adoptando uma postura crítica sobre a situação intelectual e educacional brasileira.

Conheci Tolentino numa reunião do PEN Clube do Brasil, no Rio de Janeiro. Ele escreveu o surpreendente As Horas de Katharina, vencedor do prémio Jabuti de Poesia, que me enviou com a seguinte dedicatória: “para Raquel Naveira, ao início de um diálogo de que muito espera seu admirador, Bruno Tolentino. São Paulo, 94”. Nesse livro o poeta toma emprestada a voz de uma freira fictícia, supostamente nascida em Veneza, em 1861, como Elizabeth Katharina von Herzogenbuch e falecida no Convento das Carmelitas Descalças na Áustria, em 1927, como Soror Katharina da Anunciação e do Suor de Sangue, para desenhar os estágios de uma transformação espiritual que vai do lamento à epifania.

No livro transparece a refinada formação intelectual do polémico Tolentino, que cruza a dicção dos modernistas com a matriz simbolista francesa. Tudo isso aliado à leitura do pensamento cristão, sobretudo os monges-poetas Santa Teresa D’Ávila e São João da Cruz.

A ambientação do livro é fascinante: as figuras bíblicas (Salomé, Lázaro, Madalena); os salgueiros sagrados; as rosas fugazesa; os agapantos e madressilvas, as sempre-vivas, a flor de Edelweiss; os vagalumes, as lagartas, as salamandras, as lesmas, as andorinhas e gaviões. O tom das tragédias gregas na voz de Katharina/castelã:

Passando, quem sabe, os dedos

Por estas folhas, alguém

Séculos depois e sem

Compaixão destes segredos,

Levando os dedos à boca

Entre um e outro gemido

Que vai lendo distraído,

Como quem bebe e sufoca,

Essa figura que eu vejo

Entre a indiferença e o gozo,

Noiva, amante, mãe, esposo,

Esse espectro sem desejo

Talvez diga folheando:

“As horas de Katharina...”

 

 Raquel Naveira

ESTÃO A VER O FILME?

 corte-emergencial-de-custos-e-ineficaz-contra-crise-na-empresa-televendas-cobranca

Fala-se da crise há anos. Ouvem-se muitas teorias, protestos, fúrias e desânimos, mas no essencial ainda permanece enorme ilusão. As reacções ao recente estudo do FMI mostram acima de tudo profundo irrealismo face à real situação do país.

 

O texto Rethinking The State-Selected Expenditure Reform Options, pretende "reformar a despesa em Portugal, perante a questão de fundo da dimensão e funções do Estado" (p. 6). Chegámos finalmente à questão decisiva. Após ano e meio de medidas pontuais de emergência, tocamos nas reformas estruturais, discutidas há décadas e sempre adiadas. Perante um contributo tão importante para o nosso problema essencial, a grande maioria das reacções foi extravagante. É caso para perguntar se esses comentadores têm andado por cá ultimamente.

Todos sabemos que o país está na "unidade de cuidados intensivos", ligado à máquina da ajuda externa para sobreviver. Todos concordamos que temos uma crise grave e fundamental, que exige medidas profundas. Mas, logo a seguir a este consenso, grande quantidade dos analistas envereda por uma ilusão cómoda, para evitar enfrentar a realidade. Muita gente está plenamente convencida que a crise se deve a um punhado de maus (corruptos, incompetentes, esbanjadores) e, pior, que basta eliminá-los para tudo ficar normal. Nas actuais circunstâncias esta fantasia é irresponsabilidade criminosa. Num momento tão decisivo e doloroso, acreditar em tolices dessas só aumenta o sofrimento de tantos, prejudicando a ur gente solução do problema.

Portugal tem uma dívida nacional externa bruta total quase duas vezes e meia superior ao produto e dívida pública bem acima do que produzimos. Não há corrupções, incompetências e desperdícios que cheguem para justificar uma coisa destas. Quem fez isso não foram os ricos, políticos, ladrões. Tem de ser a vida comum e os hábitos dos cidadãos honestos a gerá-lo. Muitos nos lembramos como estávamos há 20 anos, e como tudo melhorou tão depressa. Muito disso foi mérito e crescimento sólido, mas a euforia empolou e foi-se para lá do razoável. Agora a situação nacional não se resolve só eliminando gorduras. É preciso cirurgia profunda e estrutural. Não é sina nacional, até porque vimos igual noutras zonas. Mas tem de ser feito.

A maioria das críticas olha, não para a situação nacional, mas para os interesses afectados. Falam então em "direitos adquiridos", sem notar que esse é outro nome da doença. Existem direitos básicos que o país tem de garantir a todos. Nesses não se pode tocar, nem ninguém quer que se toque. Mas grande parte dos supostos direitos não foram de todo adquiridos, mas atribuídos irresponsavelmente com dinheiro alemão. Foi bom recebê-los e custa a deixar, mas não há alternativa. Se quisermos um dia lá chegar de forma sustentável.
Cortar 4000 milhões de euros de forma permanente à despesa pública não é a solução. Apenas o primeiro passo para Portugal voltar a ser um país sério. Temos de viver com as nossas possibilidades. Durante uns tempos até um pouco abaixo, para aliviar as dívidas de se ter vivido demasiado tempo acima delas. A correcção não é o fim do mundo: pouco mais de 5% da despesa total prevista no Orçamento para 2013. Pode-se negar, insultar, protestar, mas a aritmética não se comove.

Isto não é novidade. Aliás todos o dizem há décadas. Perdemos a conta aos relatórios, estudos, programas de Governo e discursos de Estado em que foi repetida a necessidade de reformas estruturais. Esse é outro consenso. Quando uma das instituições mais experientes e reputadas neste tipo de reformas analisa a situação e sugere medidas concretas, será razoável tratar isso como um disparate? Uma imposição externa? Uma aleivosia? Será que não estão a ver o filme?

Perante o estudo do FMI há duas atitudes razoáveis. Pode-se aceitar e também é sensato discordar. Afinal é só um estudo técnico externo, nem sequer um programa político. Mas quem recusa tem de apresentar cortes alternativos de valor equivalente. Senão diz só uma tolice ociosa de quem não está a ver o filme.

 

 JOÃO CÉSAR DAS NEVES

 

DN 2013.01.21

É A FÉ QUE NOS SALVA

 

 

Eu até já estava meio afeita à ideia de colaborar com o meu governo no “custe o que custar” da expressão ministerial e mesmo reparei que o nosso país vai singrando relativamente bem dentro do lema que o 25 de Abril nele instaurou, lema bem de Cristo, há dois mil anos, de Igualdade e Fraternidade, excluída ainda a Liberdade, que o Cristo não ia em modernices tão descabeladas, mas que a Revolução Francesa incluiu, há mais de duzentos, até criando uma guilhotina em condições para semear a liberdade em igualdade, mostrando fraternamente à populaça hilariante, as cabeças perfeitamente cortadas por aquela, dos adeptos, régios e outros, das rígidas desigualdades para sempre “démodées”, embora com focos específicos ainda de manutenção. E foi assim que chegámos à nossa revolução de há 39 anos, reivindicativa do mesmo lema da Liberdade e Igualdade na Fraternidade com os irmãos da vila morena, que 39 anos depois continuam a manifestar-se com igual sanha e hilaridade dos nossos irmãos franceses de há duzentos, graças a Deus que já sem a assustadora guilhotina, usada agora apenas nos espectáculos de magia ou no corte alinhado de papéis além de, metaforicamente, no corte dos vencimentos..

 

De facto, todos os que tomaram nas mãos o leme da governação pós abril – e muitos foram e vão continuar a ser, tenhamos fé, - defenderam que se desunharam, a igualdade, içando-se por meios vários ao estatuto dos mais bem remunerados, mas, para disfarçarem e não serem mal interpretados e mesmo vexados com acusações graves de egoísmos antidemocráticos, abriram os cordões da bolsa que lhes caiu do céu das novas políticas europeias e desataram a distribuir pela populaça a côdea disfarçadora, esbanjando o resto em muita construção propiciadora de envolvimentos capitalistas massificadores, porque de acesso generalizador às massas europeias.

 

E foi assim que se chegou a uma democracia igualitária, com todos a ganharmos um bocadinho mais, numa fraterna escalada de ascensão para a Igualdade, graças à côdea, apesar das contínuas reclamações feitas pelos adeptos da vila morena - (mantidos um pouco de parte, nas questões da governação) - de subida nos vencimentos para a igualdade ser maior ainda.

 

Já no ensino, a massificação fraterna produzia há muito a amálgama igualitária tão pregada por Cristo há dois mil anos, expandida há duzentos, e virtuosamente seguida entre nós há quarenta.

 

Infelizmente o tempo das vacas gordas – superior a sete anos - deu lugar ao das magras – de prazo sem limite, ao que consta, - com a imposição do pagamento aos credores, e o nosso governo apressa-se a cumprir, pagando, para poder receber mais, posteriormente, dado o seu mérito de bom pagador. Nesse sentido, corta à grande e à francesa nos vencimentos, sobretudo daqueles a quem a formação científica exigiria uma certa diferenciação das tais massas salariais menores, os quais se devem sentir injustiçados, convictos de que os anos de estudo e de trabalho os punham a salvo de tão grande igualitarismo salarial.

 

Mas é porque não se sentem, como eu, minimamente coniventes com as doutrinas igualitárias não só de Nosso Senhor Jesus Cristo, como dos que condenaram Luís XVI e esposa à guilhotina, ou dos que estabeleceram no nosso país uma democracia simplificada à maneira.

 

É verdade que o nosso P.M. garantiu que não pretende tornar permanentes os cortes nos vencimentos, mas ele costuma enganar-se, eu tenho esperança de que os cortes se vão manter “sine die” graças à guilhotina metafórica, e assim chegaremos à tal massificação para a igualdade – (pelo menos a salarial) – igualdade pregada por Nosso Senhor Jesus Cristo, há dois mil anos, pelos filósofos enciclopedistas há duzentos, e pelos capitães abrilinos há quase quarenta.

 

Não se fala em extinção da classe média? Não nascem os homens, livres e iguais em direitos?

 

Digamos não à extinção dos cortes nos vencimentos. Tenhamos fé nos enganos do nosso P.M. e nas suas convicções de que os cortes serão temporários. Como diria Solnado, a respeito dos custos de vida em ascensão, estes são temporários porque ainda vão aumentar mais.

 

Os cortes são temporários porque ainda vão fazer-se mais. É preciso termos fé.

 

 Berta Brás

MONJAS DA LITERATURA – 3

  

Guilherme de Almeida, advogado, jornalista, crítico de cinema e poeta, que nasceu em Campinas no dia 24 de Julho de 1890 e faleceu em São Paulo, no dia 11 de Julho de 1969, escreveu Livro de Horas de Soror Dolorosa: a que morreu de amor. Há vinte anos leio esse livro extasiada. O poeta cria um monólogo na voz dessa freira imaginária, que simboliza a alma sedenta de Infinito.

Segue o poema “Oferenda”:

Em minha mão mais fresca que uma concha,

Suspendo aos lábios do Senhor

As lágrimas de fel da pobre monja

Que amou demais o seu amor;

Em minha voz de desbotados timbres,

Levo aos ouvidos do Senhor

Uma alma feita em sons, uma alma simples

Que amou demais o seu amor;

Em meu alento, onde ânsias se diluem,

Envio ao rosto do Senhor

Um coração desfeito numa nuvem

Que amou demais o seu amor;

Em meu burel que é um grande lírio negro,

Revelo aos olhos do Senhor

Um corpo, em luto eterno e sem sossego

Que amou demais o seu amor...

Como na valva fresca de uma concha

Ressoa o mar, deixai, Senhor,

Que tudo fale na canção da monja

Que amou demais o seu amor!

Soror Dolorosa descobre que o mundo “é tão belo na forma e tão triste no fundo” e que “todo amor não é mais do que um ‘eu’ que transborda.” Numa espécie de novo Cântico dos Cânticos declara que o seu Rei, o seu Bem-Amado é “longo e pálido/ Pálido e longo como um lírio/ e suave e bom como um perdão.”

Livro de Horas de Soror Dolorosa: um longo e profundo poema sobre o relacionamento da Alma com o Outro, em eterna fusão de Amor e Dor.

 Raquel Naveira

MONJAS DA LITERATURA – 2

 

 

Florbela Espanca, assim como Mariana Alcoforado, nasceu no Alentejo, Portugal, em 8 de dezembro de 1894. Escreveu Livro de Soror Saudade em 1923. Infeliz nos vários casamentos, ficou com os nervos exaustos. Morreu, talvez de suicídio, em 1930. Depois de Mariana, nunca houve uma poetisa do amor tão forte quanto Florbela, um calvário amoroso como o de Florbela.

 

 Américo Durão, poeta, escritor, colega de Florbela na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em dezembro de 1919, publicou na página literária do jornal O Século um soneto dedicado a ela, no qual lhe chamou de “Soror Saudade” . Segue a estrofe:

 

Irmã, Soror Saudade, ah! Se eu pudesse

Tocar de aspiração a nossa vida,

Fazer do mundo a Terra Prometida

Que ainda em sonho às vezes me aparece!

 

A resposta de Florbela veio publicada em forma de soneto, “O meu Nome”, que depois foi alterado para “Soror Saudade”:

 

 

Irmã, Soror Saudade, me chamaste...

E na minh’alma o nome iluminou-se

Como um vitral ao sol, como se fosse

A luz do próprio sonho que sonhaste.

 

Numa tarde de Outono o murmuraste;

Toda a mágoa do Outono ele me trouxe;

Jamais me hão-de chamar outro mais doce;

Com ele bem mais triste me tornaste...

 

E baixinho, na alma de minh’alma,

Como bênção de sol que afaga e acalma,

Nas horas más de febre e ansiedade,

 

Como se fossem pétalas caindo

Digo as palavras desse nome lindo

Que tu me deste: “Irmã, Soror Saudade”...

 

Um ano depois, Américo Durão enviou à poetisa, que passava as férias de Natal em Vila Viçosa, a página de jornal onde os dois sonetos foram publicados. O epíteto “Soror Saudade” tornou-se um símbolo da estratégia de ocultação que ela iniciou com o seu Livro de Soror Saudade, uma espécie de aura de clausura em que ela se envolveu. Em seu poema “Lágrimas ocultas”, Florbela refere-se a si mesma como tendo o “rosto de monja de marfim” e em “Castelã da Tristeza” como aquela que chora, lendo, toda de branco, “um livro das horas,/ À sombra rendilhada dos vitrais”.

 

Soror Saudade foi mesmo nome perfeito para seu alter-ego de artista e esteta.

 

 Raquel Naveira

MONJAS DA LITERATURA – 1

 

Nasci mulher. A feminilidade expressa em minha poesia me faz fantasiar com figuras romanescas nascidas da história e das lendas: sou princesa, esfinge, árvore, flor, pedra, nuvem, infanta, castelã, monja...

 

Monja. Esse foi um ideal louco que sempre tive. Isolar-me por fé e cálculo da sociedade. Viver uma vida austera entre livros, jardins, meditações, silêncio, votos solenes.

 

Monja, freira, soror... A literatura é rica de vozes de monjas solitárias, desnudando suas almas em preces, poemas e cartas.

 

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(*)

 

Que emocionantes as Cartas de Amor ou Cartas Portuguesas de soror Mariana Alcoforado. Publicadas pela primeira vez na França em 1669, essas cartas são uma das obras mais populares da Literatura Portuguesa. Mariana nasceu em Beja, em 1640. Desde menina professou no Convento de Nossa Senhora da Conceição, em sua cidade natal. Conhece Chamilly, oficial francês servindo em Portugal, durante as guerras da Restauração. Apaixonam-se. Ele regressa à França por ordens militares. Trocam cartas, das quais só ficaram as escritas pela freira, que falece em 1723, após amarga penitência.

 

Coloquei-me na pele deMariana. Presa no convento cheio de varandas e flores, perto de uma fonte, encontrou-se com Chamilly, a paixão proibida e insana. Entregou-se a ele, sufocando-o com seu manto negro brocado de estrelas. Depois que ele partiu, enviou-lhe cartas tensas e dramáticas, que estilhaçaram seus nervos, levando-a a transes e sangrias. Nessas cartas, escrivã sem pejo, traída, abandonada, expeliu toda sua fúria, seu ódio de fêmea pagã, queimando de desejo. Escreveu assim: “A esperança me proporciona prazer, só queria sentir a minha dor. Que seria de mim sem esse amor e esse ódio que enchem meu coração? O que vai ser de mim? Morro de vergonha.”

 

Mariana, amante suprema, ofereceu-se a um cínico, a um ingrato e por ele feneceu e morreu com dores cruéis como as de Cristo no Calvário.

 

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Octávio Paz, o poeta e ensaísta mexicano, ganhador do Prémio Nobel de 1990, falecido em 1998, trouxe do século XVII a voz de sóror Juana Inés de la Cruz, freira mexicana, bela e inteligente poetisa, que nasceu e viveu entre 1648 e 1695. Era requisitada e festejada, tinha amigos nos altos círculos da corte e consagrou-se como nome importante da literatura espanhola. Escreveu certa vez a um amigo ausente: “Ouve-me com os olhos/ já que estão distantes os ouvidos” e “Ouve-me surdo, pois me queixo muda.” Ela amava os paradoxos, os jogos de palavras e conceitos, bem ao estilo barroco.

 

O livro Soror Juana Inés de la Cruz: as armadilhas da fé é um monumento. De um lado Octávio Paz como autor de uma prodigiosa façanha intelectual e, de outro, Juana Inés actualizada e revigorada. Há uma total mistura de géneros. Trata-se de uma biografia, mas carente de documentação e abundante de imaginação. Envereda por assuntos como crítica literária, história do México, sociologia de um período. É o esforço de uma pessoa para compreender outra, para decifrá-la depois de três séculos. Octávio Paz é o erudito engenheiro do tempo, cheio de inteligência e sensibilidade, dialogando com Juana Inés nos tons de romancista.

 

Soror Juana Inés nasceu Juana Ramírez, filha de pai que ela não chegou a conhecer e de uma mãe de família remediada. O quadro histórico era o do México colonial, “um país enorme, próspero e pacífico”. Amava os livros e, a certa altura, desejou vestir-se de homem para frequentar a universidade. Acabou entrando num convento para executar seu projecto pessoal de estudar e aprender. Quando já era escritora aclamada em todo mundo hispânico, decidiu entregar-se inteiramente a uma silenciosa vida religiosa.

 

No início de 1693, sóror Juana renunciou às letras. Humilhou-se, confessou seus pecados, anulou-se, entregou aos prelados a sua biblioteca particular, depôs as armas. Isolada e penitente, morreu dois anos depois, aos 46 anos, talvez de peste. Terá sido renúncia? Uma espécie de conversão profunda e radical? De busca de total santidade? Ou terá sofrido perseguição ferrenha de superiores religiosos desconfiados e invejosos? Terá tido receio da excomunhão e das fogueiras da Inquisição?

 

Octávio Paz compara a perseguição de que foi vítima sóror Juana com práticas similares adoptadas pelos regimes comunistas do século XX. Os dois casos, segundo ele, “unicamente se podem dar em sociedades fechadas, regidas por uma burocracia política e eclesiástica que governa em nome de uma ortodoxia”. Octávio Paz, com sua potência imaginativa, abraça física e espiritualmente a freira oprimida e silenciada. Lendo esse livro, escrevi:

 

Ó musa do México!

Tua alma nasceu de dentro do sol,

Em tua poesia

Bailam índios,

Negros,

Narcisos,

Evangelizas com doçura

A América esmagada de sangue.

Ó musa do México!

Tua cela de monja era teu refúgio,

Cheia de livros,

Banjos,

Lunetas,

Ora lias,

Ora tocavas,

Ora observavas caudas de cometas.

Ó musa do México!

Que mente prodigiosa era a tua?

Capaz de investigar versos,

Cristais,

Colcheias,

Astros,

Mistérios

Com tanta força transcendente?

Entre piratas salteadores,

Índios rebelados,

Fome, peste,

Perseguição,

Renunciaste a toda arte humana

Pelo destino de santa,

Ó mártir mexicana!

 

 Raquel Naveira

 

(*) desenho de Autor não identificado na Internet

DE VOLTA À INDONÉSIA

 

Há uns quantos – muitos – anos, ainda o nosso querido amigo, hoje embaixador, António Pinto da França, estava longe de ir como cônsul de Portugal para a Indonésia, em Luanda, um jornalista cujo nome esqueci já, contou-me uma história, que sempre supus autêntica, sobre uma aventura por ele vivida.

 

Estávamos no meio da II Guerra Mundial. Os japoneses haviam invadido Timor, e os soldados portugueses que ali estavam juntaram-se às tropas australianas. Discretamente, como tudo que Salazar fazia, mandou-se de Portugal um navio, um “steamer ship”, a carvão, levar mais um contingente de tropas para aquela longínqua colónia, aliás para a Austrália. A acompanhar esse contingente, e para relatar a viagem, um jovem jornalista, esse que bem mais tarde conheci em Angola.

 

O navio, não tinha capacidade para fazer a viagem directa até ao destino. Tinha que ir parando pelo caminho para se abastecer de alimentos e sobretudo de combustível, carvão.

 

Com a guerra em plena força, as esquadras japonesas e americanas no Pacífico, encontrar carvão era um problema grave.

 

Pelo rádio ia-se tomando conhecimento que em tal porto ainda havia carvão, mas ao ali chegarem eram informados que tinham acabado de passar os navios de um dos beligerantes e rapado tudo. O navio português começava a ver que seria difícil chegar ao destino, andando “de Herodes para Pilatos”. Navegaram por vários portos e o problema ficava cada dia mais complicado.

 

Uma das paragens foi em Batávia, Jacarta, onde o jornalista teve oportunidade de descer em terra. Quando souberam que ele era português, foi rodeado de simpatia, e uma das coisas que lhe quiseram logo mostrar é o que escreve mais tarde o embaixador Pinto da França no seu livro, primeiramente editado em inglês em 1970, “Portuguese Influence in Indonésia”;

 

“No mesmo Museu (Arquivo Nacional de Jacarta), levaram-me a uma arrecadação para me mostrarem o famoso canhão português, conhecido por "Si Djagur", que foi transferido para Batávia pelos holandeses, após a queda de Malaca (para os ingleses, em 1825). É realmente enorme e muito bonito. Tendo a culatra a forma invulgar dum punho fechado, para os indonésios símbolo de relações sexuais — tem em Java a reputação de ser uma fonte de fertilidade. Por muitas gerações as mulheres estéreis vinham, de perto ou de muito longe, trazer flores a "Si Djagur", nome dado pelos javaneses ao canhão. Depois, sentavam-se no canhão, acreditando que assim se tornariam férteis. Alguns anos após a independência, no empenho de combater a superstição, o governo ordenou que o canhão fosse transferido da entrada para um armazém do Museu Nacional. De nada serviu. Numerosos grupos de mulheres juntavam-se diariamente à porta do Museu, protestando, pedindo com grande alarido que lhes franqueassem o armazém e as deixassem sentar-se sobre o canhão. Como esta crença parecesse haver esmorecido, o canhão saiu posteriormente da arrecadação onde estivera escondido e passou a estar exposto à entrada do museu de Kota, no centro histórico de Jacarta. Porém, segundo me dizem, as mulheres estéreis voltaram a visitá-lo para lhe trazerem flores e nele se sentarem.”

 

Contou-me ainda o tal jornalista que as mulheres, e não só as estéreis, além de se sentarem no canhão, esfregavam nele as mãos e as passavam depois na cabeça, no coração e nos órgãos sexuais dos filhos e filhas, porque os homens que tinham feito aquele canhão, além de prolíferos eram bondosos!

 

A seguir o nosso jornalista foi levado a encontrar outra marcante presença dos portugueses naquela terra. Meteram-no num carro e diziam-lhe que ele haveria de descobrir por si o que lhe queriam mostrar. O carro seguiu por uma estrada à beira da costa, o mar de um lado a encosta do outro. Uns quantos quilómetros percorridos e de repente surge a meia altura um espigueiro! Isso mesmo: um espigueiro como os que se vêm no norte de Portugal.

 

Espigueiros no Soajo, Serra da Peneda, Gerêz, norte de Portugal

 

Rezava a lenda que um dia fora encontrado na praia o corpo dum homem, de pele clara, forte. Ainda respirava, levaram-no para cuidarem dele, e como nunca tinham visto nenhum semelhante acreditavam, que tinha sido enviado pelos deuses.

 

Não há dúvida que era português, um náufrago, que ali ficou, criou família, ensinou aos nativos como conservar as suas produções ao abrigo de predadores e deixou essa indelével marca da sua origem e a memória de homem bondoso, forte e prolífero, e assim também venerado.

 

Ainda há pouco tempo, e nalguns lugares, segundo Pinto da França, quando nascia uma menina de pele mais clara diziam logo que era descendente de portugueses, e se fosse rapaz, mas forte, era também de origem “portuguis”!

 

Belas sementes espalharam os portugueses de então.

 

Na Índia, Mascate, Malaca, um grande centro de irradiação da influência portuguesa, Indonésia, Macau e até Japão.

 

Em muitos lados ainda se fala um “papia kristang”, ou qualquer outro “crioulo” com as raízes portuguesas. O que será que Portugal tem feito, ou está a fazer, para preservar essa cultura, tão bonita e tão venerada, nessas longínquas terras?

 

Ou abandonou tudo como fez com o Gabão onde grande parte da população, que sabe que o primeiro contacto com europeus foi com os portugueses, que deram nome ao seu país, sempre quis estudar a língua portuguesa e a história dos descobrimentos para melhor compreenderem a criação do seu país, e Portugal nem se dignou enviar para lá um professor!

 

Em Malaca, Singapura, e outras cidades há uma imensidão que não quer perder um valor cultural que lhes deixámos: a língua, o kristang. Em nem um destes países Portugal tem sequer um consulado!

 

Morreram Afonso de Albuquerque, Francisco Serrão e outros que deram portugueses de valor aos povos que encontraram e promoveram a sua aproximação e integração.

 

E assim, lá nos confins, se mantém tão vivo o culto do “Meninu”.

 

Já Bandarra previa esse culto do Menino Imperador.

 

E hoje Portugal espera por quê?Milagre?Milagres são os homens de fé e vontade que os fazem acontecer.

 

Até remover montanhas.

 

Rio de Janeiro, 15/11/2012

 

 Francisco Gomes de Amorim

A EMIGRAÇÃO FLORENTINA

 

 

Desde a sua ocupação o arquipélago dos Açores foi terra de emigrantes. A constituição vulcânica, sujeita a periódicos desastres naturais, e a distante posição geográfica e politicamente periférica, em relação à metrópole portuguesa, favoreceram à debanda dos habitantes mais carentes toda a vez que surgia uma urgente situação de sobrevivência.

 

Se o Brasil foi o foco na busca dos ilhéus para a emigração desde o século XVI, a partir da segunda metade do século XIX a América do Norte tornou-se a preferência. Para isso influenciaram a proximidade geográfica, a baleação luso-americana, e as histórias bem sucedidas daqueles que para lá foram tentar uma vida com melhores perspectivas de conforto e desenvolvimento.

 

Foi em 1765 que começaram a surgir nas águas das Ilhas das Flores e Corvo os barcos baleeiros da então Colónia Britânica da América.

 

Em tempos certos, chegavam à caça da baleia (cachalotes) para a extracção do óleo, âmbar e espermacete, produtos altamente valorizados naquele tempo. Meses passados no mar, era nos longínquos ancoradouros açorianos das Flores e da Horta (Faial) que os baleeiros encontravam refresco, géneros alimentícios e gente. Herman Melville em 1851 no seu mundialmente conhecido livro, Moby Dick, escreveu que os baleeiros procedentes dos Açores traziam entroncados campesinos que completavam a tripulação como marinheiros e trancadores de baleias.

 

Para os florentinos (naturais da Ilha das Flores), por mais de um século, os barcos da baleação foram o meio de transporte mais utilizado na fuga para as terras idealizadas da América. Apesar da preocupação das autoridades do reino em conter e reprimir a evasão de jovens em idade produtiva, através de patrulhas marítimas, as fugas continuavam de forma ininterrupta. Embora sem estadistas oficiais, sabe-se através de jornais da época que entre 1864 e 1920 saíram das Flores quase dez mil pessoas ( das ilhas açorianas), a maioria clandestinamente, com a escandalosa inobservância, e até anuência, das autoridades locais que faziam vista grossa, mediante pagamento. Eram jovens que vinham de outras ilhas para as Flores, onde sabiam que encontrariam facilidade em embarcar em navios que os levariam para Boston ou New Bedford, destino preferido pelos ilhéus. Provincetown, Nantucket, New Bedford, Boston, Califórnia, Nevada, era terra de açorianos na América. De nada serviram as canhoneiras que fiscalizavam as águas florentinas e os sermões encomendados dos padres, que falavam das agruras e sofrimentos daqueles que emigravam para terras estranhas. O som tonante das "águias americanas" (moedas de ouro de 20 dólares) que chegavam com os retornados e a aversão ao serviço militar em terras distantes tropicais, para defender um espaço que nada lhes dizia, falavam mais alto ao ilhéu.

 

Com os anos, tantos foram os emigrados e tão estreita se tornou a relação com a América baleeira, que pelo menos dois florentinos, Manuel Borges de Freitas Henriques e Manuel José de Avelar adquiriram embarcações (Kate Williams e Pimpão, respectivamente) destinadas às ligações marítima entre a Ilha e a América.

 

Quando o petróleo descoberto no século XIX sobrepujou em importância económica o óleo de baleia, o que havia sobrado da frota baleeira americana estava em mãos de açorianos ou de seus descendentes. ANTONIO INÁCIO BIXO, ANTONIO TEODORO ARMAS, ANTONIO CAETANO CORVELO, HENRY CLAY ( ou AQUILIA RODRIGUES), WILLIAN F.JOSEPH, FRANCISCO AUGUSTO, NICHOLAS RODRIGUES VIEIRA, JOHN VIEIRA, JOSEPH A. VIEIRA, ANTONIO JOSE DE FREITAS, JOSEPH THOMAS EDWARDS, e outros mais foram capitães, pela experiência adquirida na labuta de anos em águas do Pacifico e do Atlântico, que levaram a saga florentina baleeira em terras luso-americanas.

 

Nos Açores e na América a vida do ilhéu se alterou. A linguagem, o comportamento social e a cultura açoriana sofreram influência de americanismos. O trabalho passou a ser facilitado pelo emprego de instrumentos e utensílios importados. Trouxeram o rádio, as impressoras tipográficas, a canoa baleeira, as caliveiras para o milho, as ideias e as bíblias protestantes. O açoriano conheceu as comodidades da vida norte-americana.

 

O distanciamento, a pouca importância e visibilidade da metrópole portuguesa em relação ao ilhéu, a proximidade e relacionamento histórico com a América tornaram em geral, até hoje, o açoriano um americanófilo e, para outros, simpatizantes da pouco viável independência.

 

 Maria Eduarda Fagundes

 

Uberaba, 19/02/13

 

Compilação de dados do livro de Francisco Antonio Nunes Pimentel Gomes, "A Ilha das Flores: da redescoberta à actualidade (Subsídios para a sua História)"

QUANDO AS AMIGAS CONVERSAM...

 
A Bolsa

 

Foi do que se falou hoje. Não da de valores mas de avaliadores externos. A Paula vinha impressionada, falando da colega cuja aula ia ser assistida, sem conhecer a professora que a iria avaliar, e perguntando se alguém a conhecia. Foi então que falou na Bolsa, a Bolsa de Avaliadores Externos, que encontro definida na internet do seguinte modo:

 

« Informa-se que de acordo com a legislação em vigor (Despacho n.º 13981/2012. D.R. n.º 208, Série II de 2012-10-26 e Despacho normativo n.º 24/2012. D.R. n.º 208, Série II de 2012-10-26) se encontra em fase de constituição a Bolsa de Avaliadores responsáveis pela avaliação externa da dimensão científica e pedagógica do processo de avaliação de desempenho docente.

 

A bolsa de avaliadores externos será composta por docentes de todos os grupos de recrutamento que reúnam cumulativamente os seguintes requisitos: a) Estar integrado no 4.º escalão ou superior da carreira docente; b) Ser titular do grau de doutor ou mestre em avaliação do desempenho docente ou supervisão pedagógica ou de ter formação especializada naquelas áreas ou possuir experiência profissional no exercício de funções de supervisão pedagógica que integrem observação de aulas.»

 

 - “A professora que ia ser observada estava “à rasca” – disse a Paula - sem conhecer a colega que a iria observar. Se já era mau, agora é pior, pôr pessoas a avaliar, vindas de outros aglomerados educativos, com severidade ou complacência, sem orientação de espécie alguma… A B., que é de português e francês, vai assistir a uma aula de espanhol, numa outra escola e diz que não está para lixar ninguém. Mas a minha colega “à rasca” tinha razão para temer a professora que a ia observar É uma pessoa de quem se contam anedotas de reivindicações de prestígio, mais do que exposição de saberes.

             

A minha amiga falou em absurdo, ir assistir a uma aula sem ser da especialidade, no caso da B., eu conhecia a professora temida, na insignificância empolada dos seus discursos subjectivos, achando que a professora assistida tinha razão em a temer, já que sempre a arrogância mesquinha ilude a falta do conhecimento.

             

E uma vez mais se falou em falta de seriedade nestas avaliações que não resultam de um acompanhamento sério, mas de um despachar de “casos”, para se subir na carreira, tal como as “Novas Oportunidades” do anterior governo despacharam diplomas dignificantes, sem custos de ensino, apenas de uma orientaçãozinha, para inglês ver.

             

E falámos em Nuno Crato que, com a visão que parecia ter de um ensino sério, não julgaríamos capaz de cair numa insensatez – vigarice - destas.

 

- Já não caem estrelas do céu, disse eu muito céptica. Só meteoritos a estilhaçar janelas com o impacto da sua passagem.

             

Mas a Paula está muito feliz no curso que frequenta em Lisboa, onde encontrou pessoas competentes e uma orientação didáctica e pedagógica de excelente nível, a aplicar nas suas aulas de literatura.

             

A minha amiga, para variar, concluiu que felizmente ainda caem estrelas do céu. Mas eu preferia que fossem sob a forma do euro milhões, em bolsa que se visse.

 

 Berta Brás

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