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A bem da Nação

DEVANEIOS

 

MINHA PRIMEIRA NOITE NUM HOSPITAL

 

I

 

Inegavelmente há sempre na existência humana um evento marcante, indelével e inesquecível, eivado bem no fundo do corpo e da alma, sobretudo com esse evento ocorrido na fase infantil ou pré-juvenil duma pessoa.

 

Há precisamente 90 anos levaram-me ao Hospital da então vila de Margão a fim de visitar e beijar meu pai com galopante gangrena duma perna que o vitimou no dia seguinte, 10.11.1922. Chocado com sua morte, fiquei apavorado com os hospitais julgando-os como um lugar donde os doentes saíam já mortos. O trauma infantil fez-me afastar dos hospitais, evitando mesmo visitar familiares e companheiros aí acolhidos para seu tratamento.

 

O adágio popular que «DEUS escreve direito por linhas tortas» verificou-se nos meados do corrente mês: fui obrigado a recorrer ao Hospital de Alcobaça por doença aguda. Aí estive das 9.30 horas às 14.30 horas e, por decisão do médico, fui despachado para o Hospital das Caldas da Rainha, bem provido e bem organizado, por suspeita de problema cirúrgico, onde três distintos clínicos uniram seu saber e abafaram o meu grande sofrimento. Foi nesse magnífico hospital que passei a minha 1ª noite num leito hospitalar, de que darei um breve relato. Dali em diante fui confiado à perícia da Médica encarregada de medicina interna, com uma equipa de jovens enfermeiros e auxiliares de ambos sexos, simpáticos, encantadores e de extrema dedicação, que muito me comoveu no fundo do coração.

 

II

 

Mal chegado ao Hospital das Caldas da Rainha, confiado aos cuidados da Secção de Medicina Interna com enfermeira e uma auxiliar, fui abordado com muito carinho e com extrema dedicação. Vendo meu rosto não enrugado submeteram-me a um cerrado interrogatório estranhando o meu sotaque e o meu ar de homem bem adulto, mas não caduco ou avelhentado. Assim quiseram saber a naturalidade, a nacionalidade, os estudos, as profissões exercidas e os países por onde emigrara, apenas levados pela curiosidade de lidar com alguém que ultrapassara 96 anos. Mesmo que estivesse algo sonolento, faziam cócegas para me despertar, como se eu fosse um fenómeno, alguém que não passava de modesto português e filho de Goa. Nunca deixei de responder às perguntas feitas sobre o meu passado e o meu presente, apenas comentando que tudo quanto fiz, o devo à Divina Providência.

 

Nunca imaginei que, entrado como um patriarca nonagenário, seria alvo de tantas e tão inesquecíveis atenções do pessoal médico e para médico dum hospital, onde iria passar a minha 1ª noite numa maca, tendo ao lado, direito e esquerdo, outros doentes, de ambos sexos e de variadas idades, uns gemendo seus abafados áis e uis em surdina, outros abafando seus sofrimentos em gritos dilacerantes e outros berrando de desespero no auge dos sofrimentos. Tudo isto para mim era uma novíssima revelação dum mundo até então desconhecido, numa visão panorâmica televisiva com magotes de gente em movimento socorrendo os adoentados com remédios e paliativos diversos, correndo aqui e acolá na extensão da enfermaria numa profusão de luz fluorescente duma cidade cosmopolita. O hospital afinal não era «a morgue» que eu gravara na penumbra da memória dos meus dias de infância, mas um lugar quase sagrado e dedicado a minorar os sofrimentos alheios num espírito de solidariedade humana, de caridade cristã, tal e qual era e é praticada pelos monges seguidores do santo português São João de Deus!

 

III

 

Da grande lição espiritual recebida em Caldas da Rainha e seu magnífico Hospital, no desejo de bem-fazer pelo próximo do bíblico samaritano, apelo aos prezados leitores para dar seu apoio, não apenas moral mas financeiro, já que os Serviços Médico-Sociais da Nação não têem à disposição verbas gigantescas do erário público a despender em saúde pública. Que cada um de nós, sobretudo os ricos e detentores de fortunas colossais e chorudas reformas e altíssimos salários, façam o que fez o bom samaritano.

 

 

 

Recambiado ao modesto Hospital de Alcobaça, se DEUS me deixar uns anos, farei algo pela melhoria de atendimento de idosos carenciados recorrendo a essa nobre instituição, originalmente fundada pela Misericórdia de Alcobaça. Cumprirei com a minha parte, se Deus me permitir a ventura de aliviar dessarte o sofrimento alheio!

 

 

Alcobaça, 28.02.2013

 

 Domingos José Soares Rebelo

MAS... O QUE É UTOPIA?

 

 

Ouvi há dias um professor falar sobre utopia, e pus-me a pensar no que vai de utopia por esse mundo “au diante”!

 

Só para recordar, a palavra de origem grega, significa “o lugar que não existe”! Mas existem os utópicos, os quixotescos, os franciscos de Assis, e muitos outros babacas, ingénuos ou idiotas, como eu por exemplo, que continuam a não querer deixar de acreditar que o mundo pode ser melhor, e ainda o povão empobrecido, abestalhado que se permite gastar algumas horas do seu hipotético descanso para discutir em qual governante vai votar: se o que rouba mais ou menos ou que mais depressa ou mais devagar vai contribuir para destruir o próprio povo.

 

Em França o tal hollande quase se transfigura em Napoleão com a intervenção no Mali, e ainda tem o descaramento de dizer, ao fim de poucos dias, que a guerra estava vencida! Agora é que ela vai começar a doer para aquele povo esquecido do SAEL. E arredores.

Também há poucos dias um cônsul, aliás ex-cônsul do Irão na Noruega, em Oslo, recebeu, surpreso, a inesperada visita de alguns agentes da temível polícia shariacreta iraniana. Uma espécie de CIA ou KGB, mas pior! Tinha havido em Teerão manifestações contra o governo e o tal aiatolá, que a polícia registou detalhadamente em filme. Depois analisou um por um dos manifestantes, mascarados, e começou a caçada.

 

Mostraram o filme ao cônsul perguntando-lhe se reconhecia alguém. Negativo. Então pararam uma imagem, ampliaram, e atrás da máscara o cônsul reconheceu um filho seu, rapaz de 20 anos, universitário. O cônsul, chocado, tentou defender o filho com a exuberância própria da idade. Nada perturbou os carrascos, que lhe disseram que para esquecer o acontecimento ele deveria ir a Teerão, e fazer um pronunciamento na TV oficial – a única! – condenando a manifestação, e por consequência a atitude do filho. Deram-lhe 24 horas para responder. O cônsul pediu demissão e asilo político porque já sabia o que o esperava se voltasse ao seu país.

 

E foi assim que ele deu essa entrevista à TV na Noruega, durante a qual afirmou, categoricamente, saber que o Irão quer por força ter a bomba atómica para a largar em cima de Israel, porque, segundo o todo poderoso aiatolá, o Islão tem que limpar o mundo dos infiéis para preparar a vinda do Mahdi, o redentor profetizado do Islão – (exclusivamente pelos xiitas) – que permanecerá na Terra por sete, nove ou dezanove anos antes da chegada do dia final, o Yawm al-Qiyamah o "Dia da Ressurreição".

Esta é uma das tais utopias, de vertente louca e assassina. Mas grave, e há que jamais menosprezar as actuações e intenções dos inimigos da humanidade.

 

Em muitas mesquitas imãs insistem em fomentar o ódio contra sobretudo os Estados Unidos, mesmo nalgumas em território americano, e mais ainda na Europa.

 

O mais que estes fanáticos loucos, assassinos, vão conseguir é criar uma barreira mais profunda ainda, entre o mundo “ocidental” e a grande maioria dos muçulmanos que até agora têm vivido em paz, mas que vão ter dificuldade em mantê-la.

 

Lembro ainda, não deixando a utopia, uma vergonha passada em Moçambique em 1998 (meu livro Loisas da Arca do Velho, 2001).

Quanto vale a vida de uma pessoa em Moçambique?

 

Por 1998, um dos garotos da Casa do Gaiato ali foi recolhido muito fraco, mal nutrido, genética doença da desnutrição, pobreza, etc. Tempos depois adoece novamente e o seu estado de saúde ultrapassa a capacidade de atendimento que lhes é ministrada no posto de saúde da Casa. Correm com ele a um médico italiano, a meia dúzia de quilómetros dali, voluntário contratado em muitos dólares por uma empresa italiana que tinha acabado de construir uma barragem, em cooperação. O garoto chega ao médico muito mal. É logo visto, e o médico:

 

- Não vale a pena.

- Não vale a pena, o quê?

- O tratamento.

- O que significa isso, não vale a pena?

- O medicamento é muito caro.

- !!!

 

Não havia mais conversa. Internou-se o garoto, encomendou-se o remédio da África do Sul, que chegou no dia seguinte - em Moçambique até aspirina era difícil encontrar - e salvou-se-lhe a vida. Está vivo e alegre até hoje. O remédio custou caro, mais de quinhentos dólares. Foi muito caro, sim. Mas quanto vale a vida de um indivíduo? Será que em Itália só tratam italianos até quatrocentos e cinquenta dólares, ou... o valor de uma criança em África é mais baixo?

 

Quem continua a acreditar que uma pessoa vale menos do que dinheiro?

 

E segue o rosário de esperanças utópicas, umas só caricatas, outras assassinas, outras criminosas pelo descaso e/ou despreparo dos governantes.

 

O “bom” utópico será esquecido, quando não ridicularizado pelo seu quixotismo. Mas há muitos, graças a Deus, que não desistem, quebram a cara, são insultados, e conseguem atingir o maior ideal que o homem deveria ter nesta vida: “dar a vida pelo seu irmão”!

 

 

Homens, e mulheres, desta têmpera, por muitos que sejam serão sempre pouquíssimos. O bezerro de ouro fala mais alto e mais forte, o lucro alcançado de qualquer forma, sempre e sempre à custa dos mais fracos, a constante lavagem cerebral que a mídia, sobretudo a TV, nos impõe, onde tudo parece fácil, o ódio fomentado pelos ignorantes, o descaso no ensino, a mentira, o poder, sim, o poder, são a grande atracção.

 

A grande atracção dos canalhas. Canalhas, que por estas bandas se apoderaram da res publica e a delapidam.

 

Algum dia um canalha pode virar cavalheiro??? Isso não é utopia, é piada.

 

Rio de Janeiro, 15/02/2013

 

 Francisco Gomes de Amorim

UMA OBRA DE AMOR

 

 

 

 

Tal é “Exsurge, Deus” de Henrique Salles da Fonseca.

 

Na escolha do tema, no avultado da pesquisa e recolha de dados, na originalidade da exposição, na leveza, por vezes, do discurso subjectivo, onde o humor e a ironia perpassam, com claro sentido de paralelismo com uma actualidade que talvez necessite de manter resquícios de crenças ou de esperanças messiânicas…

 

A originalidade da sua exposição, com as divisórias modestas, como de guião apressado: nº 1 – “TEMAS CHAVE” («quem foi quem e o que foram as coisas»), tópicos orientadores ou definições, e fotografias acompanhando referências a pessoas ou locais ou insígnias - seguidas de «BIBLIOGRAFIA. Um discurso mais sequencial, vindo a seguir: no nº 2 – «NA POLÓNIA» («onde nasceram as Monita Secreta, livro que serviu para criar ódio à Companhia de Jesus»), no nº 3 - «NO MUNDO» («onde se trata da guerra que sempre existiu dentro da Igreja entre os conservadores beneditinos e dominicanos e os “progressistas” jesuítas») e se apontam os papas que tiveram influência sobre a vida de Vieira e dos reis portugueses – e espanhóis – durante a Restauração.

 

O nº 4 – «EM PORTUGAL», de texto em negrito («Onde se referem as circunstâncias políticas durante os reinados de Filipe III, D. João IV e D. Afonso VI que motivaram a ida do P. António Vieira a julgamento pela Inquisição)», que inclui a biografia de Vieira e excertos dos Sermões («Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda», que fez de Vieira “o verdadeiro herói da restauração portuguesa no Brasil”) , Filipe III- Rei de Portugal, (1605-1665); D. João IV (oitavo duque de Bragança, nasceu em Vila Viçosa a 19 de Março de 1604 e morreu em Lisboa a 6 de Novembro de 1656), que chama Vieira para confessor e o nomeia embaixador de Portugal junto à Santa Sé, para advogar a causa da independência.

 

Vieira suscita invejas, pronuncia sermões de defesa dos cristãos novos e contra a escravatura, ataca a ignorância e o pedantismo oratório do clero no Sermão da Sexagésima, é diplomata na Holanda, na França, em Roma, defende a aceitação da independência portuguesa pelos estados europeus e a Santa Sé, a isso renitentes. Numa carta a um, “amigo e colega jesuíta – D. André Fernandes, então Confessor da Rainha viúva – D. Luísa Gusmão - e bispo eleito do Japão” defende a formação do Quinto Império do Mundo” sob a égide de D. João IV, (e na sucessão do “Assírio, do Persa, Do Grego e do Romano”), crente na ressurreição de D. João IV, segundo provara o sapateiro Bandarra, um verdadeiro profeta.

 

5: Seguem-se as Trovas do Bandarra e a brilhante descodificação e interpretação de Vieira, no sentido da demonstração do “Quinto Império”, de que não resisto a transcrever as quase finais estrofes comprovativas:

 

«Portugal tem a bandeira / Com cinco quinas no meio, / E segundo ouço e creio / Ele é a cabeceira; / Tem das chagas a cimeira / Que em Calvário lhe foi dada, / E será rei da manada / Que vem de longa carreira.»

 

“À vitória dos Turcos e redução dos Judeus se seguirá também a extirpação das heresias por meio deste glorioso príncipe. Bandarra nas trovas do fim:”

 

«Vejo erguer um grão rei / Todo bem-aventurado, / E será tão prosperado / Que defenderá a grei; /Este guardará a lei / De todas as heresias, / Derrubará as fantasias / Dos que guardam o que não sei.»

 

«Todos terão um amor, / Assim gentios pagãos / Como judeus e cristãos, / Sem jamais haver error. / Servirão a um só Senhor, / Jesus Cristo que nomeio; / Todos crerão que já veio / O ungido Salvador.»

 

Morre D. João IV, o seu protector, Vieira cai em desgraça, a ponto de ser preso pela Inquisição:

 

«Quando Vieira chega ao Reino encontra um ambiente que lhe é claramente hostil. Todos os seus inimigos são importantes. É abruptamente afastado e em 1662 enviado para o Porto de modo a não ter qualquer influência na Corte. E dá-se o grande absurdo de um português em bolandas pelo mundo em obra de engrandecimento da Fé e da Pátria se resguardar em Portugal julgando que chega a casa onde pode ficar tranquilo e ser afinal trucidado por uma máquina gigantesca… de mesquinhez.»

 

«Mérito seja entretanto reconhecido a Castelo Melhor que se tornara o verdadeiro governante, pois reorganizou as finanças e praticamente completou a obra da Restauração vencendo os espanhóis no Ameixial em 1659, em Castelo Rodrigo em 1664 e em Montes Claros em 1665.»

 

          O capítulo 6 contém as referências às andanças de Vieira, liberto das garras da Inquisição, em Roma, na busca do “reconhecimento da soberania portuguesa (só obtido em 1669, pelo papa Clemente IX) e de um salvo-conduto que o tornasse a ele próprio imune à famigerada Inquisição”, referências à amizade com Cristina da Suécia, ao confronto entre o universo cultural de modernização e progresso no estrangeiro e o universo português tacanho, dogmático e cada vez mais envilecido e distanciado daquele, referência aos muitos sofrimentos de Vieira no Brasil, à sua morte, em 18 de Julho de 1697.

 

Termina o livro com a frase “EXSURGE DEUS, JUDICA CAUSAM TUAM”, «inscrição latina no lintel da porta principal do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Évora, que em português comum significa: LEVANTA-TE DEUS , JULGA A TUA CAUSA»

 

Depreende-se que, na opinião de Salles da Fonseca, o julgamento de Deus será bem positivo, pois só uma admiração grande por uma figura tão extraordinária possibilitaria um tão árduo trabalho, com a transcrição do emaranhado das trovas do Bandarra e a densa argumentação de Vieira comprovativa das profecias daquele.

 

Vários excertos apetecia citar da obra “EXSURGE, DEUS”, título com o seu quê de irónico, de quem não receia o julgamento. Transcrevo o seguinte passo tão expressivo da argúcia narrativa e argumentativa de Salles da Fonseca:

 

«Pregação da Palavra ou doutrinação política? Divinização do poder régio? Houve quem gostasse de ouvir, a começar pelo próprio Rei; houve quem não ouvisse bem o que foi dito pois estaria mais interessado em ser visto na Capela Real como membro da Corte do que prestar atenção a um sermão tão comprido . . . mal disfarçando um ou outro bocejo; houve quem não entendesse nada do que foi dito por estar munido de capito diminutia e as rendas e bordados serem o motivo do raciocínio mais elaborado que alcançaria; mas também houve quem entendesse muito bem o que ouviu e não gostasse da teologia da profecia. Julgar-se-ia o novo Pregador oficial da Corte um par de Nostradamus? Disparate; não passava de um bandarreiro qualquer vindo lá dos sertões (alusão pejorativa a Gonçalo Eanes, o Bandarra, sapateiro de Trancoso, trovador, profeta: 1500? -1556) dos brasis falando guaranis e sem hábitos de convivência com pessoas civilizadas. Então o Rei não tinha cá Padres capazes de servirem na Corte? Logo tinha que dar o cargo a um índio cheio de sotaques!

 

«As críticas motivadas pela inveja podem ser infundadas e, portanto, injustas mas produzem resultados habitualmente funestos. É típico de Portugal apear qualquer um que se distinga em vez de o aplaudir. Não se trata de uma questão teológica ou sequer biológica mas apenas de um tique de mediocridade. Não será esta uma das causas principais do nosso atávico subdesenvolvimento? E há quem diga que Portugal é um País muito católico…a inveja é pecado e, afinal, é por cá tão costumeira. Grandes católicos ou ignaros e mesquinhos? Se a isso juntarmos a coragem dos que rompem com a mediocridade e mesquinhez e emigram, dá para crer que os que ficam são precisamente os que não têm coragem e se conformam com essas mesmas mediocridade e mesquinhez. Portanto, os que ficam é porque têm de seu ou porque são medíocres e mesquinhos. Ah! Também há os herdados que não prestam e com alguma presteza “distribuem” a herança por credores e gatunos. Terá sido exactamente por esse tipo de razões que D. João chamou António Vieira para junto de si: ele não emigrara deliberadamente pois que era então uma criança e se limitara a acompanhar os pais mas vira entretanto muitos outros horizontes, tinha uma grande experiência de vida, experimentara a força da natureza em naufrágios e nas florestas amazónicas, era um grande pregador e sobretudo já era um herói da restauração portuguesa no Brasil. Bastaria esta última referência para que D. João entendesse como sendo da mais elementar justiça dar a António Vieira uma recompensa. E que melhor estatuto do que a de amigo do Rei e seu embaixador especial? Mas, para além da recompensa, estava em causa o interesse do então periclitante reino e esse, mais do que nunca, necessitava de homens inteligentes, cultos, experientes e corajosos. Se a essas características se juntasse a facilidade da palavra, tinha-se António Vieira em pessoa a ajudar o seu Rei e amigo.»

 

Finalizo com um conhecido excerto do “Sermão da Sexagésima”, desse autêntico virtuose da palavra, que foi o P. António Vieira, excerto bem comprovativo, (no brilho do seu discurso), de que mereceu inteiramente o entusiasmo e a dedicação de Salles da Fonseca no trabalho extraordinário de divulgação que dele fez:

 

«Fábula tem duas significações: quer dizer fingimento e quer dizer comédia; e tudo são muitas pregações deste tempo. São fingimento, porque são subtilezas e pensamentos aéreos, sem fundamento de verdade; são comédia, porque os ouvintes vêm à pregação como à comédia; e há pregadores que vêm ao púlpito como comediantes.

 

Uma das felicidades que se contava entre as do tempo presente era acabarem-se as comédias em Portugal; mas não foi assim. Não se acabaram, mudaram-se; passaram do teatro ao púlpito. Não cuideis que encareça em chamar comédias a muitas pregações das que hoje se usam. Tomara ter aqui as comédias de Plauto, de Terêncio, de Séneca, e veríeis se não acháveis nelas muitos desenganos da vida e vaidade do Mundo, muitos pontos de doutrina moral, muito mais verdadeiros e muito mais sólidos, do que hoje se ouvem nos púlpitos. Grande miséria por certo, que se achem maiores documentos para a vida nos versos de um poeta profano e gentio, que nas pregações de um orador cristão, e muitas vezes, sobre cristão, religioso! Pouco disse S. Paulo em lhe chamar comédia, porque muitos sermões há que não são comédia, são farsa.

 

Sobe talvez ao púlpito um pregador dos que professam ser mortos ao Mundo, vestido ou amortalhado em um hábito de penitência (que todos, mais ou menos ásperos, são de penitência; e todos, desde o dia que os professamos, mortalhas); a vista é de horror, o nome de reverência, a matéria de compunção, a dignidade de oráculo, o lugar e a expectação de silêncio; e quando este se rompeu, que é o que se ouve? Se neste auditório estivesse um estrangeiro que nos não conhecesse e visse entrar este homem a falar em público naqueles trajos e em tal lugar, cuidaria que havia de ouvir uma trombeta do Céu; que cada palavra sua havia de ser um raio para os corações, que havia de pregar com o zelo e com o fervor de um Elias, que com a voz, com o gesto e com as acções havia de fazer em pó e em cinza os vícios. Isto havia de cuidar o estrangeiro. E nós que é o que vemos? – Vemos sair da boca daquele homem, assim naqueles trajos, uma voz muito afectada e muito polida, e logo começar com muito desgarro, a quê? – A motivar desvelos, a acreditar empenhos, a requintar finezas, a lisonjear precipícios, a brilhar auroras, a derreter cristais, a desmaiar jasmins, a toucar Primaveras, e outras mil indignidades destas.

 

Não é isto farsa mais digna de riso, se não fora tanto para chorar? Na comédia o rei veste como rei e fala como rei; o lacaio veste como lacaio e fala como lacaio; o rústico veste como rústico e fala como rústico; mas um pregador, vestir como religioso e falar como... não o quero dizer, por reverência do lugar. Já que o púlpito é teatro, e o sermão comédia se quer, não faremos bem a figura? Não dirão as palavras com o vestido e com o ofício? Assim pregava S. Paulo, assim pregavam aqueles patriarcas que se vestiram e nos vestiram destes hábitos? Não louvamos e não admiramos o seu pregar? Não nos prezamos de seus filhos? Pois porque não os imitamos? Porque não pregamos como eles pregavam? Neste mesmo púlpito pregou S. Francisco Xavier, neste mesmo púlpito pregou S. Francisco de Borja; e eu, que tenho o mesmo hábito, porque não pregarei a sua doutrina, já que me falta o seu espírito?»

 

JUDICA CAUSAM TUAM

 

Fevereiro de 2013

 

 Berta Brás

CONSTITUIÇÃO, A QUANTO OBRIGAS

 

 GUILHERME LARA CAMPOS/AE

 

A Constituição de 1976, elaborada segundo os moldes marxistas, e tendo sofrido já várias revisões, constitui não um elemento propício ao desenvolvimento equilibrado de reformas institucionais, mas um factor de entrave, pela razão fulcral de que qualquer medida terá que passar pelo cadinho da óptica socialista que, visando a igualdade de oportunidades democrática, estabelece como direito fundamental o direito à greve, à paralisação, e à consequente destruição da economia que isso implica.

 

Manipulado pelos partidos de esquerda e respectivos sindicatos, o povo, sabendo que é ele quem mais ordena na nossa Grândola de trazer por casa, julga defender melhor os seus direitos saciando os seus instintos de protesto nas ruas, as mais das vezes parco em ideias e pródigo em insultos e grosserias vãs.

 

Cavilosamente, todos os governos fingem reconhecer esses direitos, por dever de ideologia imposta em 74, deixando passar a onda protestante, sabendo que no dia seguinte ela já não volta – até nova ordem sindical – e recomeçam o trabalho governativo na mesma linha de orientação que é a sua – os governos anteriores recolhendo o naco que entenderam que lhes pertencia e aos amigos, dentro da mesma ideologia democrática, e antes que se exaurisse de vez o depósito dos empréstimos exteriores, o governo actual, exaurido o depósito, tentando atamancar a sua governação, impondo normas e restrições e fazendo pagar o mesmo povo, que é sempre quem paga, enquanto a economia se vai arruinando estrondosamente, com o alastrar do desemprego, das falências, da “gente a passar fome”

 

Mas, como afirma João César das Neves, os marxistas são os únicos a quem agrada a Constituição bloqueadora dos adeptos do capitalismo, e nem a dança dos acórdãos do Tribunal Constitucional consegue fazer engrenar as rodas dentadas de uma economia doente, apesar das alavancas desses empréstimos mal geridos, que a imposição de pagar faz sacrificar, neste momento, sem esperança.

 

Mas em greve sempre.

 

 Berta Brás

O FASCISMO DE GRÂNDOLA VILA MORENA

 Grândola Vila Morena no Parlamento

Os fascistas vermelhos em plena actuação na Assembleia da República

 

 

Sophia de Mello Breyner cunhou uma expressão engraçada para classificar as tácticas inquisitoriais dos companheiros de estrada do PCP: o "fascismo do anti-fascismo" . Esta intolerância de esquerda foi criada antes do 25 de Abril e, como é óbvio, conheceu o seu esplendor no PREC. Mas, volta e meia, a agressividade dos virtuosos reemerge. Nos últimos dias, por exemplo, têm caído alguns pinguinhos: meninos e meninas têm usado "Grândola Vila Morena" como forma de calar outras pessoas. Uma música criada para promover a liberdade de expressão foi assim transformada numa arma contra a liberdade de expressão.

 

Os novos cantadeiros do "Grândola Vila Morena" dizem que são anti-fascistas. Bom, sobre isso nada sei, mas sei que são bons aprendizes de fascistas. Têm todas as sementes do bicho. Em primeiro lugar, revelam uma total intolerância em relação ao outro lado; há que malhar na "direita" (assim mesmo: a "direita", um bloco compacto, monolítico, desumanizado, desprezível e espezinhável). Em segundo lugar, respiram e transpiram ódio, um ódio que escorre pelos cartazes, pelos rostos, pelas vozes. E, de forma mui fascista, esta malta tem orgulho nesse ódio. Aquilo que os define é o amor que têm pelo seu ódio, adoram odiar a "direita" ou seja lá o que for. Esta elevação do ódio à categoria de virtude é a marca do fascista, seja ele castanho ou vermelho. Em terceiro lugar, temos a consequência lógica das duas premissas anteriores: o culto da violência. Se a "direita" é espezinhável, se não vale a pena ouvir o outro lado, se o ódio é uma virtude que confere uma legitimidade superior, então a violência é legítima e não faz mal dar uns carolos no Relvas. Aliás, só faz bem dar uns tabefes no Relvas.

 

Para terminar, só queria dizer que gosto bastante deste PREC cantado. É que assim já não tenho de recorrer à história para explicar a profunda intolerância das extremas-esquerdas portuguesas. Agora basta-me apontar para o presente. Ela, a intolerância progressista e revolucionária, está aí, anda por aí. Até peço uma coisa: aumentem o volume da violência, continuem a mostrar que não sabem viver em democracia, que não sabem aceitar opiniões contrárias, continuem a ameaçar, continuem a ser fascistazinhos de vão de escada.

 

 Henrique Raposo

SAMBAQUI

Foto: (arquivo particular da Autora)

 

A imagem é de calma e beleza. Virada para a baía norte da ilha de Santa Catarina, olhando para o continente, a Praia do Sambaqui tem águas tranquilas que, em ondas pequenas, se espraiam preguiçosas sobre a grossa areia de conchas milenares. No mar, sob o Sol reluzente, pequenos barcos amarrados por fortes correntes balançam, dolentes, à espera que alguém os tire daquele marasmo e os faça de novo cortar as águas e o vento, à busca do peixe, sagrado alimento. No horizonte, ao longe, montanhas azuis enfeitadas com um longo colar branco, como pérolas, dizem que para lá há cidade, mais gente...

 

Na estreita faixa de terra beira-mar, casas pequenas, antigas, caiadas, de característica ilhoa, bordam o caminho, olham o mar. Quem sabe não esperam o pescador, dono da casa, chegar.... Colinas milenares, de conchas e esqueletos marinhos construídas, cemitérios magníficos de ancestrais indígenas, hoje cobertas por uma vegetação sempre verde e exuberante, aconchegam o local, servem de barreira às águas da baía, protegem os quintais.

 

Foi também no Sambaqui, lugar de nostalgia e sossego, onde os espíritos dos povos semi-nómadas que ali viveram desfrutam a paz e a beleza paradsíaca do lugar, que açorianos chegados nas primeiras levas de imigração do século XVIII escolheram para morar. Passeando por lá, me veio à ideia: quem sabe naquele tempo, sentado na praia, ao pôr do Sol, algum faialense, como eu, ao ver a montanha-continente, em frente, deva ter fechado os olhos e, com saudades, imaginado o Pico olhar!

 

 Maria Eduarda Fagundes

 

Floripa, Fevereiro/ 2013

ANTES O RELVAS QUE TAIS SELVAS

 

Os símbolos são aspetos importantes da vida em sociedade, todos o sabem. Ora Relvas tornou-se neste Governo um símbolo. Porque é trapalhão, porque é e sempre foi um boy, porque tem um curso à trouxe-mouxe e porque é suspeito de imiscuir-se nos conteúdos da informação pública, como a RTP ou a LUSA.

 

Relvas há muito devia ter saído do Governo pelo próprio pé - ou a mando do primeiro-ministro. Mas ficou. E, no auge da impopularidade do Executivo, no cume da sua própria desgraça, renasce pela mão de uns contestatários que lhe cantam o Grândola, chamam-lhe fascista e ladrão (o primeiro adjetivo não cola pela certa) e o impedem de falar. E Relvas, que já tinha demonstrado, como diz quem o conhece, saber engolir elefantes, hipopótamos e tiranossauros rex, ressurge. Sem jeito, sem voz para cantar, sem nada que se veja, mas com calma, pedindo mesmo ao organizador do Clube dos Pensadores (que nome!) para não chamar a polícia. No meio do desacato, tanto no Porto como em Lisboa, se fosse necessário identificar um malfeitor, não seria ele por certo.

 

E isto é um favor que se lhe faz. Se eu fosse do estilo de levar a teoria da conspiração aos limites, diria que aqueles jovens estavam ao seu serviço.

 

Acontece, ainda, que Relvas é um seguro (hony soit..) do Governo. Basta sair à rua e dizer umas coisas para entre canções e insultos, ninguém se lembre que andam por aí a cortar quatro mil milhões. E, já agora, para que alguns, os mais velhos, recordem que quando era "o povo a mandar" (não no sentido democrático do termo, mas no sentido de poder da rua), esse "povo" não queria eleições, nem pluralismo, nem imprensa livre. E nesse momento possamos, a contragosto, tendo em conta a figura, pensar que antes o Relvas que tais selvas...

 

 Henrique Monteiro

 

Expresso on-line 2013-02-20

 

OS EUA, O REINO UNIDO E A EUROPA

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Foi considerada inédita a tomada de posição norte-americana sobre a conduta que o Reino Unido deveria adoptar relativamente à União Europeia. A notícia produziu ondas de choque na imprensa britânica e europeia.

 

Embora o assunto possa parecer menor à primeira vista, talvez não fosse pior prestar-lhe alguma atenção. Aproximam-se decisões cruciais quanto ao futuro da União Europeia e talvez elas não se centrem exclusivamente nas condições mais ou menos favoráveis do resgate a Portugal.

 

Que alguma coisa deve estar em jogo é sugerido pela singularidade da tomada de posição norte-americana. Embora o autor da declaração tenha sido apenas um secretário adjunto do Departamento de Estado para os Assuntos Europeus, a verdade é que não é costume a Administração norte-americana produzir declarações sobre a política particular dos seus aliados europeus.

 

Mas foi isso que aconteceu com a declaração de Philip Gordon, na embaixada americana em Londres. O assunto constituiu título de primeira página dos jornais ingleses e originou em seguida notícias e comentários através da Europa. O Financial Times de Londres dedicou ao tema uma coluna editorial inteira, no espaço habitualmente ocupado por três temas. Impacto semelhante ocorreu nos outros títulos maiores da imprensa britânica.

 

Que disse basicamente Philip Gordon? Afirmou que os EUA têm "uma relação crescente com a UE como instituição, a qual tem uma voz crescente no mundo, e nós queremos ver uma voz britânica forte nessa UE. Esse é o interesse americano. Desejamos uma UE virada para fora com o Reino Unido dentro dela". Acrescentou ainda que as negociações no interior da UE frequentemente tendem a virar a União para dentro e que "os referendos frequentemente viram os países para dentro".

 

A referência dificilmente poderia ser mais clara à reclamação crescente de um referendo no Reino Unido sobre a sua relação com a União Europeia. E o timing também dificilmente poderia ser mais certeiro. O primeiro-ministro David Cameron vem anunciando desde o final do ano passado um discurso estratégico sobre a posição britânica na União Europeia. Na data em que escrevo, prevê-se que possa ter lugar a 21 ou 22 de Janeiro. O local não está ainda definido, sendo a Holanda a hipótese mais citada.

 

A posição de David Cameron não é fácil. De um lado, enfrenta uma vaga crescente de eurocepticismo no interior do seu grupo parlamentar e do seu eleitorado, bem como no país em geral. Sondagens recorrentes registam mais de 50% dos britânicos favoráveis à saída da União Europeia. As mesmas sondagens registam maiorias semelhantes a favor da permanência na União Europeia, se esta regressasse basicamente a uma área de comércio livre. Por outro lado, os países da zona euro iniciaram uma rota de crescente integração orçamental, fiscal e política que tornará inevitável a prazo a revisão dos tratados da União Europeia no sentido de maior, e não menor, integração.

 

David Cameron sabe que essa maior integração não será aceitável pelo eleitorado britânico, que já não quis aderir à moeda única europeia. Simultaneamente, se simplesmente tentar ficar de fora do processo de maior integração – à semelhança do que fez com o euro – arrisca-se a ficar definitivamente marginalizado do processo de decisão da União Europeia.

 

Um ponto que talvez deva ser acrescentado é que a dificuldade da decisão não pertence apenas ao Reino Unido. Os restantes membros da União enfrentam uma escolha de dificuldade semelhante. Desejam que a União Europeia se transforme num núcleo coeso apenas daqueles países que estão dispostos a aceitar essa coesão? Ou preferem que essa escolha de maior integração continue a ser compatível com a inclusão de países que preferem uma relação mais distendida?

 

Entre os países que desejam maior integração, a Alemanha tem dado insistentes sinais de que deseja simultaneamente a manutenção do Reino Unido na União Europeia. Sabendo, em contrapartida, que os britânicos não aceitarão maior integração, os líderes alemães enfrentam uma encruzilhada de certa forma simétrica da britânica: como manter os ingleses dentro da UE e simultaneamente reforçar a integração da zona euro?

 

Neste sentido, talvez o discurso norte-americano tenha mais do que um destinatário. Certamente foi dirigido em primeiro lugar aos britânicos. Mas não deixa de interpelar todos os outros europeus sobre a arquitectura da União Europeia. Talvez este assunto devesse merecer alguma atenção também entre nós.

 

 João Carlos Espada

 

 

O MEU MELHOR AMIGO - 4

 

 

Há coincidências que a razão diz ser difícil explicar e há acontecimentos que ligamos e temos por coincidentes.

 

O meu melhor amigo já não aguentava o período entre duas sessões semanais de quimioterapia porque esta já não estava a conseguir vencer o linfoma. Ultimamente, o Caramelo tinha um gânglio que lhe empurrava a traqueia e ameaçava sufocá-lo a qualquer momento.

 

Levei-o para o hospital onde quimicamente tentaram de novo reduzir esse tal gânglio. Debalde. O sofrimento não dava mostras de o abandonar e eu senti-me culpado por o estar a demorar nesse estado.

 

Tive que tomar a decisão de pedir que o pusessem a dormir. Não tive coragem de ir lá dentro ao recobro para me despedir dele.

 

Vim para casa e tentei desviar as ideias aqui no computador. E a certa altura, o computador bloqueou de modo completamente anómalo. Tive a sensação de que o Caramelo estava naquele momento a passar para a outra dimensão. Parei. Pensei no bem que ele espalhou durante toda a sua vida. Nada fiz e esperei. O computador desbloqueou-se e eu fiquei com a ideia nítida de que o Caramelo se tinha assim despedido de mim.

 

Engoli em seco.

 

Adeus Caramelo! Até logo, nesse lugar em que o tempo não é...

 

Lisboa, 21 de Fevereiro de 2013

 

 Henrique Salles da Fonseca

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