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A bem da Nação

BZZ… BZZ…CORO DAS ERÍNIAS

 

Tempo de reler “Les Mouches”. Uma peça de teatro empolgante de Sartre, a sua primeira, aliás, escrita em 1943. Na riqueza dos referentes míticos e sua adaptação ao contexto da altura, de resistência ou de submissão à ocupação nazi, nos simbolismos dos gestos, na filosofia de responsabilização e assunção dos actos próprios – Orestes – livremente, sem necessidade de um deus omnipotente e manipulador, ou, pelo contrário, de submissão à regra imposta pela convenção – Electra.

 

A regra – o remorso – fora imposta em Argos pela rainha – Clitemnestra, viúva de Agamémnon, que ela assassinara, no seu regresso de Tróia, juntamente com Egisto, seu amante, como vingança por aquele ter sacrificado a filha de ambos –Ifigénia – para obter ventos favoráveis no embarque das naus para Tróia.

 

Uma intriga em torno, pois, de uma vingança – a de Orestes assassinando a mãe – Clitemnestra – e o padrasto Egisto, responsáveis pela morte de seu pai Agamémnon, e o entregaram, com três anos, a uns mercenários, e reduziram a irmã Electra a uma infeliz Gata Borralheira rancorosa. Tais crimes de assassinatos de parentes constituiriam a “maldição dos Átridas”, nome proveniente do primeiro dos seus assassinos – Atreu, pai de Agamémnon e de Menelau (este, marido da bela Helena, irmã de Clitemnestra, raptada por Páris…). O nosso Camões o cita, no episódio de Inês de Castro, LUS., III, 133:

 

«Bem puderas, ó Sol, da vista destes,

Teus raios apartar aquele dia,

Como da seva mesa de Tiestes

Quando os filhos por mão de Atreu comia.»

 

Um I Acto de 6 Cenas, constituindo uma espécie de Exposição, com pistas indiciando o Conflito - o II Acto com um Primeiro Quadro com 4 Cenas, um Segundo Quadro com 8 Cenas – o III Acto, o Desenlace, com 6 cenas, numa estruturação equilibrada.

 

Um I Acto com Orestes procurando o palácio da rainha, acompanhado do Pedagogo, um Júpiter que os segue e com eles trava diálogo, tentando induzir Orestes/(Filebo) a voltar atrás nas suas intenções de descoberta e provável vingança, nesse dia da festa dos mortos, com estes empestando a cidade e perseguindo, por meio das moscas –Erínias – os habitantes de Argos, como retaliação pelos seus crimes – (o primeiro dos quais, o de Clitemnestra e Egisto, praticado quinze anos antes, e forçando os habitantes a um programa de expiação e remorso generalizado), representados pelas velhas de negro fazendo oferendas e libações à estátua de Júpiter, sendo uma delas interceptada por Júpiter, durante a conversa deste com Orestes e o Pedagogo, a qual justificará esse viver de expiação e remorso imposto desde o crime cometido pelos reis de Argos, num seguidismo de rebanho dócil, conveniente a Júpiter, avesso à liberdade humana.

 

Este tentará induzir Orestes a retirar-se de Argos, sugerindo o crime possível de assassínio vingativo da rainha Clitemnestra, caso ele fosse o jovem expulso por Egisto, quinze anos antes, revelando, assim, a pista de que é alguém que sabe e não se deixa enganar. O encontro de Orestes, sob o disfarce de Filebo, com a revoltada Electra, que espera o milagre do regresso do irmão, para repor a ordem, e seguidamente com Clitemnestra, rainha amarga perseguida pelo remorso que impôs na cidade, decidem-no a ficar, contrariamente às tentativas do Pedagogo para o afastar das ambições, retomando as viagens e os estudos libertadores do homem.

 

O Acto II, num Primeiro Quadro em torno da expiação, com cenas caricatas da multidão nos seus preparativos para a festa, o Grande Sacerdote diante da caverna apelando aos mortos para se erguerem, no meio da putrefacção, para virem atormentar os vivos e roê-los até aos ossos, Orestes horrorizado pensando intervir, contrariado por Júpiter, Egisto pedindo perdão e piedade ao lembrar o seu crime, tal como a multidão que expõe os seus crimes, Electra que aparece provocatória, vestida de branco, lembrando as cidades onde há alegria, apelando para seu pai Agamémnon e sua irmã Ifigénia, para que fiquem silenciosos, ao contrário dos outros mortos, provando que estão com ela, em dança sacrílega que vai provocar, a par do entusiasmo das mulheres jovens, a raiva das velhas e a ira castigadora de Egisto.

 

A Cena IV, nos degraus do Templo, é a cena do reconhecimento (“anagnórise”), após uma primeira recusa de Electra, convencida de que fala com o jovem Filebo, Electra confiando finalmente no irmão, disposta a colaborar com ele, como salvador do povo e vingador do crime.

O Segundo Quadro, em torno de Egisto e do seu cansaço de viver, do seu assassínio por Orestes, ante a alegria de vingativa Electra, o recuo desta perante a decisão de Orestes de matar a Mãe, o começo do arrependimento de Electra, o seu repúdio pelo irmão, que assume o seu acto em liberdade, ao contrário de Electra, que se deixa perseguir pelas moscas, as Erínias, as deusas do remorso.

 

No III Acto, no Templo protector de Apolo, os dois irmãos dormem rodeados pelas Erínias ameaçadoras – representantes do destino (“anánkê”). Um Júpiter chantagista pretende atrair para si a devoção do irmão e da irmã, mas enquanto esta cede ao remorso, repudiando o irmão, integrada no rebanho, este responde com a altivez do ser livre, mas definitivamente só – “só como um leproso” – dirá Júpiter.

Como o “tocador de flauta”, dirá ele á multidão de Argos, que conduziu os ratos para o mar, para limpar a cidade, e com eles se afogou, ele conduzirá para o mar as Erínias que o espreitam à beira do templo de Apolo para o perseguirem, assumindo desse modo, com a sua morte, a sua liberdade de salvar o povo de Argos da maldição do remorso, e de os conduzir à consciência da responsabilidade dos actos próprios, qual Cristo deixando-se imolar para Redenção dos pecados dos homens, imagem, em todo o caso, estranhamente contrária ao pensamento ateu sartriano.

 

É tempo, pois de relermos “Les Mouches”. Pela consciência de se ser livre em responsabilidade. E afinal, homens livres sempre os houve, Cristo foi um deles. Assumiu e pagou. Como Orestes. Como Pigmalião.

 

Mas esses pertencem ao mito, não é deles que reza a história. Qualquer Napoleão se julga livre, qualquer Hitler, qualquer Mao, e mais modernamente, qualquer… São os que fazem pagar. E nunca assumem. Menos ainda se arrependem, eles próprios Erínias vorazes que reduzem a cidade a um coro de gritos e de maldições contra o seu bzz bzz ensurdecedor de explicações ou justificações de embalar.

 

 Berta Brás

POSTAIS ILUSTRADOS LXV

 

A ECONOMIA DO FUTURO

PARTE III

 

 

 Eliana Cardoso, Economista Brasileira (1), sobre a Economia afirma que esta ensina-nos que os homens fazem escolhas, ao porem na balança os custos e os benefícios de suas acções, e tentam maximizar o proveito individual que eles tiram destas.

 

E reitera que é esse princípio que qualquer economista conhece e conclui que é incrível que, como algo tão trivial, pode dar aso à criação de uma ciência que tem tanto poder (a Economia), tal como para explicar as coisas que nós observamos, ou, tal como para elaborar predições e prescrever políticas. Penso ter traduzido o pensamento desta brilhante Economista, pensamento no qual me revejo e que abordarei em próximos textos.

 

Esta conclusão já eu tirei no texto anterior, (2), ao afirmar, por outras palavras, que a Economia é uma “ciência de contrários ideológicos e causalidades empíricas”.

 

Isto é, a Economia, como ciência, adquiriu poder, precisamente, por estar intimamente ligada ao factor humano e aos interesses individuais produzidos por este. Interesses que estão agarrados como um apêndice, indissociável do homem e que é o seu rico e estimado bolso.

 

Tenho um amigo meu que me contou que uma vez, em negociação com um banco para um empréstimo à sua empresa, comentou com o negociador, qualquer coisa deste género: “É pá! Vocês são uns gajos impagáveis! Quando está Sol abrem-nos um guarda-chuva! Quando chove, fecham-no!...”. Esclarecedor e irónico! E este meu Amigo, de certeza, não conhece Albert Otto Hirschman, (3) como eu não conheço, mas, li a citação, que dele fizeram e versa qualquer coisa parecida, diametralmente oposta, nestes termos, “A economia moderna imita o paraquedas: só funciona quando está aberta”.

 

Mas, passemos ao que aqui me trouxe.

 

Começando pelo fim a que quero chegar, não podemos esquecer que as palavras escritas acima se referem à Economia Tradicional, em que o processo económico está voltado para a preocupação exclusiva da acumulação de capital emergente do efeito marginal contabilístico da receita versus despesa, que resulta no superavitou no deficit.

 

Com superavit o sistema está feliz!

 

A Economia Tradicional vive da frieza contabilística ligada ao Lucro, não importando se o efeito marginal deste elemento diabólico, provoca desequilíbrios sociais que conduzem a injustiças e falta de equidade, e, até, à miséria, como escalão mais baixo da pobreza.

 

Porém, a Economia, cujos factores dependem da decisão humana, não é uma ciência estática e tende a progredir, como ciência da condição financeira no seio das sociedades e a comportar-se modernamente como esta, ou seja, a reagir dinamicamente, como a Sociedade, em módulos sectoriais de reformulação e processos de reorganização mais amplos, até à Globalização.

 

Esta é a Economia Moderna a posicionar-se para o futuro, para a compreensão de um mundo melhor que só será possível quando as gritantes desigualdades financeiras entre os ricos e os pobres evoluir substancial e gradualmente, para o equilíbrio “mágico”, acreditando eu, que isto seja possível, na posteridade, lá para o Séc XXX!

 

Até lá muita água vai correr debaixo das pontes e muito sofrimento se espalhará neste longo caminho.

 

Quando isto suceder, o Mundo reconhecerá a Segunda Parusia.

 

Esperança há…

 

Para tanto, o Economista do Futuro deverá encontrar soluções, sem ambiguidades, para que o Homem Social esteja acima do individualismo do Homem Económico.

Fico-me com este texto do Professor Agostinho da Silva, sob o tema, “Combater a Opressãoe que dirijo aos Economistas do Futuro: “É certamente admirável o homem que se opõe a todas as espécies de opressão, porque sente que só assim se conseguirá realizar a sua vida, só assim ela estará de acordo com o espírito do mundo; constitui-lhe suficiente imperativo para que arrisque a tranquilidade e bordeje a própria morte o pensamento de que os espíritos nasceram para ser livres e que a liberdade se confunde, na sua forma mais perfeita, com a razão e a justiça, com o bem; a existência passou a ser para ele o meio que um deus benevolente colocou ao seu dispor para conseguir, pelo que lhe toca, deixar uma centelha onde até aí apenas a treva se cerrara; é um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho a seguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou o intimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma luta de que a não interessam nem dificuldades nem extensão. (4)



 

 Luís Santiago

 

(1) Eliana Cardoso, Economista

Brasileira, Formada em Economia pela PUC – Rio de Janeiro (1972); Doutorada em economia no MIT; Professora Catedrática, trabalhou como Economista-Chefe no Banco Mundial e como Conselheira do Departamento de Pesquisa no FMI

 

(2) Postais Ilustrados LXIV – Economia do Futuro;

(3) Albert Otto Hirschman. Economista Alemão - (1915)

 

(4) Agostinho da Silva, in 'Considerações' - Fonte“Citador”

FAMÍLIA DRUMMOND

 

Origens

 

Segundo consta no Armorial Lusitano, a família Drummond é originária da Escócia. João Drummond ou João Escórcio foi para a Ilha da Madeira e lá deixou descendência que se espalhou no reino português e suas colónias. Ao que parece casou duas vezes. A primeira com Catarina Vaz de Lordelo e a segunda com Branca Afonso. Seus descendentes apuraram que João Escórcio era filho segundo da Casa Drummond de Stobhall (Escócia), cuja varonia e primogenitura oriundas de Walter Drummond se conservaram até 1878, quando então morreu o sexto Conde Perth (ultimo representante dessa linha). Os descendentes dessa Casa na Madeira, Açores e Brasil pretenderam se habilitar à herança da família, o que não conseguiram por falta de documentação comprovadamente autêntica. No entanto, o livro GENEALOGY OF THE MOST NOBLE AND ANCIENT HOUSE OF DRUMOND (Edimburgo-1831), publicou correspondências (1519, 1604, 1634) entre os membros descendentes de João Escórcio e da família Drummond de Stobhall, algumas em latim. O Arquivo Histórico da Madeira traduziu-as e publicou-as no seu volume III. Nessas cartas, aos parentes portugueses, os escoceses confirmam que um filho segundo do Lorde Drummond (irmão da rainha Arabela da Escócia) fora em 1420 para a França, atrás de glórias e honras e que dele nunca mais tiveram notícias. Como por essa época aportou na Ilha da Madeira um João Escórcio (apelido tirado da Escócia) que deixou na sua descendência o apelido Drummond, supõem-se ser o tal, filho da Casa Drummond de Stobhall.

 

 Maria Eduarda Fagundes

 

Uberaba, 25 de Novembro de 2012

 

Fonte dos dados e referência:

ARMORIAL LUSITANO (Editorial Enciclopédia Lda., 1961, pág. 192)

 

A MÃO NO SACO

 

 

Uma pessoa entra no mundo das fundações (de qualquer género) e fica estupefacta com a desordem e a estranha ambiguidade a que ele chegou. Que se trata de meter a mão no saco do Estado e no bolso do contribuinte: nenhuma dúvida. Mas não se esperava os requintes de invenção e tortuosidade da coisa.

 

O assunto, em que a imprensa mal tocou, merecia um livro de mil páginas não um artigo de 30 linhas.

 

Comecemos pela Gulbenkian (pedindo desculpa a Artur Santos Silva que só lá entrou ontem). Mas quem me explica a mim por que misteriosa razão a Gulbenkian (que é uma das fundações mais ricas da Europa) recebeu do Estado, entre 2008 e 2010, 13 483 milhões de euros? E quem me dá uma justificação aceitável do facto inaceitável de a Gulbenkian continuar a ser uma "fundação pública de direito privado", em vez de ser, numa sociedade democrática, simplesmente uma fundação de direito privado, quando com o estatuto que tem agora o governo pode, quando quiser, "designar ou destituir a maioria dos titulares dos órgãos de administração"? E quem me explica a inexplicável existência da Fundação Caixa Geral de Depósitos (a Culturgest)? Não é a Caixa um banco do Estado? Não há no Estado uma Secretaria ou um Ministério da Cultura? Ou a existência da Fundação Batalha de Aljubarrota (que nos gastou desde 2008 a 2010, um milhão e 900 mil euros) dedicada a "reconstruir" (palavra de honra) o "campo militar" e as "circunstâncias" (não estou a inventar) desse memorável combate (que, de resto, a tropa inglesa ganhou por nós? Ou a da Fundação Navegar (800 mil euros no mesmo prazo), que pretende o "desenvolvimento cultural, artístico e científico de Espinho"? Ou a Fundação Carnaval de Ovar (750 mil euros), que sempre foi, como se sabe, um acontecimento mundial? Ou dezenas de outras fantasias, quase todas sem o mais leve senso e todas sem o mais leve escrúpulo.

 

Este espaço não basta para contar e analisar a história aberrante das fundações. Mas basta para dizer que o Estado (ou seja, a maioria dos governos democráticos) deixou crescer este monstro e o alimentou durante mais de 30 anos, sobre as costas do cidadão que hoje resolveu patrioticamente espremer. E também chega para notar que os pretextos mais comuns desta razia silenciosa e prática, sempre invocada em tom indiscutível e beato, são dois, cultura e artes, com a ciência a grande distância.

 

Isto é, as fundações servem fundamentalmente para recolher e sustentar a iliteracia e a ignorância indígena (por exemplo 13672 funcionários nas fundações que Passos Coelho pensa fechar). E o que é que sucedia ao País se ele amanhã parasse de estipendiar esta turba sem nome? Nada, queridos portugueses, rigorosamente nada. E talvez, com isso, o governo adquirisse alguma confiança e dignidade.

 

 Vasco Pulido Valente,

In Público

 

COMENTÁRIO FUNDAMENTAL

 

Já nada se estranha, neste amontoado de indignidades no nosso país. O que se estranha é a facúndia dos que, tendo contribuído para elas, protestam alto e bom som contra os que, muito drasticamente, é certo, porque não poderão fazê-lo doutra forma, tentam dar uma reviravolta a tais anomalias, que nos possam ainda fazer erguer deste rastejar na lama da ignomínia contínua, diariamente enriquecida por novas achegas. Berta Brás

QUANTO CUSTA AO ESTADO A EDUCAÇÃO DE UM ALUNO?

 

 

 

É mais barato para o Estado ter uma turma numa escola com contrato de associação? Sim, fica 1045 euros mais barato, se tivermos em conta o custo médio nacional

 

A pergunta teve respostas no relatório do Tribunal de Contas (TC), publicado no final de Outubro, e no estudo, divulgado na semana passada, da autoria de um grupo de trabalho (GT) nomeado pelo Ministério da Educação e Ciência. Os valores diferem pouco quanto ao ano lectivo de referência da base de dados (2009/2010), ficando o custo médio nacional em cerca de 5 mil euros por aluno. A verdadeira dificuldade estava em estimar, a partir de um valor datado, o custo para o actual ano lectivo. Só o GT arriscou fazê-lo. Descontou o valor equivalente aos cortes salariais na função pública, ao corte num dos subsídios e ao impacto da revisão da estrutura curricular. E calculou um valor médio nacional de 86 mil euros por turma (4 mil euros por aluno), correspondente a cerca de 70 mil euros por turma no ensino básico (2º e 3º ciclos) e 89 mil euros por turma no ensino secundário. É uma estimativa com muitas limitações e cuja utilização deve ser prudente. Mas é a que temos. A dúvida é o que fazer com ela. E é aqui que começam os problemas.

O debate público português tem uma aversão aos números. Os que abalam as certezas corporativas estão errados; os que as confirmam estão correctos. E, quando é preciso, até se arranjam outros para contrapor. A objectividade nunca interessou. Permanece-se alheio aos factos. Impede-se o debate. E mantêm-se vivos os mitos que alimentam os interesses do costume – e que, na educação, nunca são os dos alunos.

A abordagem da questão do custo por aluno não é excepção. É mais barato para o Estado ter uma turma numa escola com contrato de associação? Sim, fica 1045 euros mais barato, se tivermos em conta o custo médio nacional. Sim, fica 3707 euros mais barato, se olharmos para o custo médio no ensino secundário. Mas não, fica 15 mil euros mais caro em relação ao custo médio no ensino básico. A estimativa não é perfeita. Nem o são as respostas que obtemos à pergunta inicial. Mas, na verdade, ninguém se importa. A questão é, antes de tudo, ideológica. Deve o Estado financiar privados para a prestação de serviço público na educação? Nem que ficasse por metade dos custos e pelo dobro da qualidade, a esquerda jamais aceitaria a possibilidade. Volta-se ao ponto de partida: a discussão dos factos é infrutífera pois, do seu lado, os números servirão somente para ornamentar argumentos.

Perante o bloqueio, há que libertar o debate. As estimativas levantam muitas outras questões que carecem de discussão. Uma, em particular. Por que razão só são discutidas as implicações para as escolas privadas na rede pública? De facto, parece contraditório. Perante uma estimativa sobre o custo por aluno em 841 escolas públicas do Estado, o escrutínio e as atenções focam-se exclusivamente nas 83 escolas públicas privadas. Como se não existissem disparidades e gestões ruinosas nas escolas do Estado. E como se esses despesismos, multiplicados pelo número de escolas, não tivessem um impacto significativo nas contas do Estado. Pode Portugal adoptar regras iguais de financiamento das escolas da rede pública, sejam elas privadas ou estatais? A questão nem sequer é original: em diversos países do mundo, é assim que se faz. Com igualdade no financiamento e na responsabilidade.

Não tenhamos ilusões. Dificilmente a questão será discutida. Ela não entusiasma os sindicatos ou os interesses instalados no sistema educativo. Ambos receiam a prestação de contas. E, apesar das evidências, ambos acreditam, por doutrina, que o Estado gere sempre bem os recursos públicos. Talvez seja, por isso mesmo, esta a questão que mais importa discutir.

 

Alexandre Homem Cristo Alexandre Homem Cristo

i-online 26 Nov. 2012

VIVER BEM

 


Os portugueses sempre souberam viver bem. Neste tempo de crise é bom recordar isto. Temos um clima excepcional, paisagens deslumbrantes, a melhor culinária, fruta, queijos e vinhos únicos, bons divertimentos, fé sólida, hábitos afáveis e forte camaradagem, um povo sereno e esperançoso.

Mesmo quando éramos um país pobre e atrasado sabíamos viver bem e hoje que somos ricos e preocupados continuamos a saber viver. Por isso é tão triste que quase desapareça por cá um dos maiores prazeres da vida.

Há poucas coisas nesta Terra que sejam melhores do que ter um rancho de filhos à volta da mesa a rir. Quando vêem isso, um homem e uma mulher sentem algo indefinível, único, incomparável. Esta é uma das principais razões por que os portugueses vivem tão bem, pois até na choupana mais pobre se pode sentir este prazer sublime.

Hoje cada vez menos. Não se diga que a causa disso é a maldita austeridade, que apaga o riso ou força a ausência. A verdadeira razão veio da prosperidade balofa, que nos trouxe à crise, e desfez os casais, reduziu a prole, gerou a esterilidade e o aborto.

Quando a fartura regressar e nós voltarmos a viver, bem como sempre, mas de novo com facilidade, esse prazer particular não regressa. A mesa passará a ser farta, mas as cadeiras permanecem vazias.

A questão é importante, não apenas em si mesma, mas também pelos efeitos. É que as cadeiras vazias de filhos põem em risco a dimensão das futuras gerações e até a sobrevivência dos portugueses. O que seria uma pena para o mundo, porque eles sempre souberam viver bem.

 

  João César das Neves

 

DESTAK | 21 | 11 | 2012

QUATERNÁRIO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Estamos numa era de uxoricídios

Um palavrão de graves vícios

Que implica má preparação

Cívica e cultural

Que nos é muito natural

Como uma condenação

Pouco abonatória

– Direi mesmo vexatória -

Da nossa condição social,

Em Portugal.

 

Ela justifica outros maus tratos

De crianças e de velhos, de animais,

E tantos mais,

O que nos penaliza em inúteis exaltações

De comoções

Sem resultados práticos.

 

O tema dos conflitos familiares, afinal,

- De violência doméstica, como consta -

É universal

Já o disse Florian, um fabulista

Novecentista

A propósito de pássaros

De oposta compleição:

 

«A pega e a pomba»

«Uma pomba tinha o seu ninho

Ao pé do ninho de uma pega.

Chama-se a isso, sem descortesia,

Arranjar fraca companhia,

Mas, por ora, não é

Dessa anomalia que vos damos fé.

Na casa da rolinha era tudo

Felicidade e amor;

No outro ninho, eram só questões,

Ovos partidos, discussões,

Rumor.

Quando do seu esposo ela levava pancada

- Bicada, para maior precisão -

A casa da vizinha ela logo vinha,

Falava, chorava, gritava danada,

Passava em revista

Os defeitos do seu esposo sacrista:

“ - Ele é altivo, exigente, duro, violento,

Ciumento,

Além de que eu sei muito bem

Que ele vai visitar umas gralhas

Ao calhas”;

E cem outras coisas parelhas

Ela dizia na sua raiva despeitada,

Desgraçada…

“ - Mas vós, responde a rolinha,

Sensata e boazinha,

Não tendes também defeitos?”

“- Claro que tenho, isso que fique entre nós.

Em conduta, em propósitos, sou de grande ligeireza,

Coquete até mais não, irosa, com certeza,

E divertindo-me a valer

A fazê-lo enraivecer.”

“ – Mas isso é um exagero, minha cara,

Começai por vos corrigirdes,

O vosso humor poderá irritá-lo…”

“ –Chamais-me minha cara?

Logo a interrompe a pega bera:

« Eu ? Mau humor? Como? Conto-vos os meus males

E vós injuriais-me?

Acho-vos uma graça irritante,

Se não, pedante!

Adeus, impertinente;

Ocupai-vos dos vossos filhotes,

Esses rolinhos franganotes;

Concordámos na questão dos defeitos,

Mas apenas para que sejam desmentidos,

Com todos os preceitos,

Não para que nos sejam criticados

Com tais trejeitos

Atrevidotes.”»

 

Ninguém gosta, com efeito,

De ser assacado de defeito,

Mesmo que sejamos às vezes os primeiros,

Modestamente,

A levantar a lebre dos nossos argueiros,

Para seguidamente,

Iradamente,

Apontarmos as trancas

Nas carrancas

Que temos defronte,

Que não merecem perdão,

Isso não!

 

Berta Brás

SOBRE A AUSTERIDADE

 

Já mais de uma vez expandi minha estupefacção perante um fenómeno “tsunamesco” que tem vindo sistematicamente a derrubar a chamada economia ocidental

 

Todos os países devem biliões, triliões ou quatriliões, os bancos foram generosamente socorridos pelos governos falidos, os dias vão passando e ninguém enxerga – ninguém quer enxergar – o óbvio.

 

E o óbvio é que alguma coisa, ou a coisa toda está errada. Os únicos que estão certos são os bancos que sobem o custo dos empréstimos, e se estiverem em más condições os governos imprimem mais umas toneladas de notas – à sorrelfa – e entregam aos bancos para... para que mesmo?

 

A solução há muito que se apresenta clara: devo não nego, pagar não pago.

 

Zera tudo, repõem-se os salários dos pequenos, só dos pequenos, que foram cortados, reduzem-se os juros, estimula-se o investimento particular, e encara-se de frente a concorrência da Coreia, China, Marrocos, Etiópia e outros.

 

E os países, voltam a poder respirar, porque hoje estão afogados na estúpida e brutal “austeridade”, que continua a matar a classe produtiva em favor dos sanguessugas.

 

Felizmente que nem todo o mundo compactua com esta ladroagem de austeridade. Graças ao Bom Deus ainda há gente neste planeta que pensa, age e resolve.

 

Leiam o texto a seguir que, mesmo sem autorização se transcreve, e que foi hoje publicado no jornal “O Globo” por um professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), com algumas passagens que merecem especial destaque:

 

- Saíram para as ruas batendo com colheres em panelas vazias (e olha que há países com muitos paneleiros),

- Cadeia para os responsáveis

- E fora com os partidos políticos.

 

A ilha da utopia

 

Era uma vez uma ilha, perdida nos mares do Grande Norte, si­tuada além do que a imagina­ção possa conceber. Era tão fria que a chamavam Iceland, terra do gelo. Em nossa língua, Islândia. Viviam nela cerca de 300 mil habitantes: um lugar próspero, rico para os padrões da épo­ca, uma gente bonita e saudável. Com um regime democrático estável, con­trolado pela população, dispunha de excelentes sistemas de saúde e de edu­cação, boa alimentação, baixa crimina­lidade, alta esperança de vida, desen­volvimento económico sustentável, re­gulado por diversas agências públicas.

Nada indicava que algo de mal pode­ria ocorrer naquela Terra da Promis­são. No entanto, trágicos fatos ali tive­ram lugar e sua recordação talvez possa ajudar a reflectir sobre a crise que an­gustia o mundo actual.

Quando e como exactamente esta his­tória aconteceu? Os arqueólogos mais reputados, com base em evidências e documentos, atestam que as coisas co­meçaram a degringolar na virada no século XX para o século XXI, há centenas de anos...

Disseminaram-se, então, pela ilha, trazidas por mercadores estrangeiros, fantásticas promessas. Baseavam-se em três palavras-chave: desregulamentar, privatizar, internacionalizar. Se fos­sem capazes de enveredar por este ca­minho, os ilhéus se tomariam muito ri­cos, e em pouco tempo.

Persuasivos eram aqueles mercado­res, e o povo resolveu segui-los. Os bancos públicos foram privatizados, e as empresas internacionais, autoriza­das a explorar os recursos naturais. As agências reguladoras, enfraquecidas, definharam. Os dinheiros agora circu­lavam em abundância, a Bolsa de Vai rés galopava e a construção civil alçai cava níveis frenéticos. Houve espantosos fenómenos, como o fato de os bancos privatizados contraírem empréstimos equivalentes a dez vezes ao que então se chamava o PNB, ou seja, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país.

Vozes prudentes murmuravam: aquilo não podia dar certo.

E não deu.

Num belo dia, no ano de 2008, estourou a crise. Medonha. Os bancos faliram. A Bolsa despencou. Cessaram as actividades económicas. O desem­prego disparou. A ilha descobriu-se endividada até o último fio de cabelo.

Vieram então homens probos e pediram calma. Numa língua ininteligí­vel, explicaram tudo: os antecedentes e os consequentes. As coisas se resolveriam através de uma nova palavra mágica: austeridade. Instituições e bancos internacionais ajudariam. Os problemas seriam equacionados, embora fosse necessário apertar os cintos. Claro, muitos perderiam ca­sas, haveres, empregos, futuro e tudo o mais. As dívidas, porém, seriam pa­gas, e a honra, salva. O pacote, em­brulhado com laço de fita e aprovado pelo Parlamento, virou lei. Em 2009, a factura parecia liquidada.

Entretanto, as gentes não mais se deixaram persuadir.

Queriam entender melhor como pudera uma terra tão próspera tor­nar-se em menos de dez anos uma nação de mendigos. Não haveria responsáveis! Foram às ruas, com apitos e bum­bos, batendo talheres em panelas va­zias. Pulando e gritando, cercaram o Parlamento, atirando ovos e tomates nos representantes. Não houve polícia capaz de segurar aquela ira. Corria o ano de 2010 quando a pressão das multidões organizadas impôs um referendo. A Lei do Parlamento foi recusada por 93% dos votos. A dí­vida, contraída por alguns, não seria paga por todos. Era preciso zerá-la e recomeçar.

E teve início a investigação sobre as responsabilidades. Altos executivos e gerentes dos bancos foram para a ca­deia. Os banqueiros que puderam, fu­giram, como ratos de um barco à deri­va. Ao mesmo tempo, decidiu-se redi­gir uma nova Constituição, capaz de proteger a nação de outros aventurei­ros. Por toda parte, organizavam-se as gentes. Em cada distrito, uma assem­bleia. Participativa e consciente de que aCoisa Pública deveria ser trata­da com atenção e cuidado. Entre pou­co mais de 500 candidatos, sem pré­via filiação partidária (os antigos par­tidos tornaram-se suspeitos), elege­ram-se 25 representantes. Foram eles que, ouvindo as assembleias locais, autónomas em relação ao Estado e aos partidos, construíram uma nova Carta Magna, a ser aprovada em outro referendo popular. Regulação e controle, palavras esquecidas, retorna­ram, devidamente valorizadas. A primeira consequência foi a renacionalização dos bancos, baseada no con­ceito de que o dinheiro de todos é muito importante para ser deixado em mãos de poucos.

Aquele povo mostrou que, por ve­zes, como dizia E. Morin, o imprová­vel acontece. Demitiu-se um governo. Refez-se o Parlamento. Exercitou-se a autonomia. Foi escrita uma nova Constituição, preocupada com as pessoas e não com os dinheiros. E a prosperidade voltou, atestada por bons resultados em 2011 e 2012.

Uma revolução. Pacífica e democrá­tica.

Mas realizada há tantos séculos e numa terra tão longínqua... Talvez por isso se fale tão pouco dela e dos maravilhosos eventos que acontece­ram na bela Islândia. Uma ilha da “utopia.”

  Daniel Aarão Reis

Professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense

 

Rio de Janeiro, 20/11/2012

 

 Francisco Gomes de Amorim

POSTAIS ILUSTRADOS LXIV

 

A ECONOMIA DO FUTURO

PARTE II

 

 

Só tem o direito de criticar, aquele que pretende ajudar

Abraham Lincoln, 16º Presidente dos EUA

 

 

É! A citação acima referida, é aplicável a quem provoca protestos incendiários a bordo da Nau da Assembleia da República ou dos Gabinetes do Largo do Rato, sem apresentar soluções credíveis ao país. Toda esta fumaça (lembram-se do Almirante?) não tem bases para se transformar em soluções exactas e incontestavelmente lógicas e práticas. É só conversa para Povo dormir! E, de facto, já bocejamos…

 

É, porém, verdade, que precisamos de rebeldia q. b., e bater o pé às regras que vão emergindo da confusão instalada para recuperar o verdadeiro sentido de Estado! Regras que cada vez mais nos dizem nada. Esta Oposição à novel Aliança Democrática tem razão numa coisa: acabou-se com o PEC 4 e correu-se com o Srº Sócrates, com o fundamento que não havia mais lugar para a austeridade ali proposta. E teceram-se loas à intransigente defesa dos nossos bolsos contribuintes e à verdadeira e exigida reforma do Estado, dando cabo das gorduras daquele Ente Público que foi apelidado de “Monstro”. Os eleitores foram na conversa das promessas dos magos da Solução Económico-Financeira, mas, em vez desta, enfrentamos a Solução Final e é o que se vê de promessas incumpridas.

 

Está a fazer-se, precisamente, o contrário; desfazendo, com a prática da governação à vista, sem planeamento estratégico fundamentado, o tecido económico e dando livre curso a bases e fases de experimentalismo irresponsável e inaceitável, quando a culpa, aqui só é, numa pequenina fracção, do Povo, e, isso sim, é de quem recorreu a decisões erradas de investimento público e pôs o Estado de tanga, (aproveitando a expressão de quem voltou as costas ao país, mantendo-o de tanga porque lhe acenaram com um lugar nas instituições europeias). Coisas dos interesses individuais que se sobrepõem aos do interesse público. Humanamente previsível!

 

A parte da culpa que nos cabe, como Povo, foi ter ido na conversa da casa própria de família, na da segunda casa própria de férias; nas férias do vá agora e pague depois; na do bom e moderno carro – o bólide! -: na aquisição de bens não tão essenciais como isso…

Sob a intensa pressão de um marketing bancário violenta e despudoradamente agressivo. O negócio dos bancos é o dinheiro e o dinheiro vendeu-se a rodos.

 

Tal como sucedeu ao Estado, fomos na conversa do crédito fácil dos bancos que mais tarde iriam ter de cobrar, ressarcindo-se do emprestado. Não teríamos sido todos aliciados, mas muitos foram na conversa das ofertas sedutoras, e, passámos a viver na desconformidade. Esta prática de aliciação deveria ter sido proibida, mas não foi. Fomos ingénuos e também estamos a pagar essa ingenuidade com os olhos da cara… Custa-me dizer, mas, é bem feito. No futuro, passada esta crise (e já passámos por piores), espero que tenhamos aprendido a lição, a vários níveis.

 

Na minha opinião, o Srº José Sócrates devia estar a governar o país e a corrigir as asneiras que puseram Portugal neste estado de insolvência, para poder ser responsabilizado pelos seus actos, em vez de estar a passar férias em Paris, com dinheiro que não se sabe onde o arranjou. Aliás, devia ser inquirido por um colectivo de juízes, pelo menos umas doze horas, como sucedeu a Sarkozy. Se este colectivo o ilibasse, como aconteceu com Sarkozy, eu fechava a boca e nunca mais falava no assunto.

 

Os eleitores portugueses têm culpa das suas escolhas e, agora, não podem fazer muito mais barulho. Aguentar com as consequências e esperar pelas próximas eleições é o melhor que podemos fazer.

 

O voto é a nossa arma!

 

Na continuação, chamo à colação que não contam só as gorduras do Estado que impedem que o défice seja dominado, dado que ao aumento das receitas provenientes da intensa carga fiscal que sofremos, também contam as despesas que não fazem parte das “gorduras” e aumentam, exponencialmente num perigoso e assustador desequilíbrio, incontrolável e criminoso.

 

Só é possível bloquear as despesas com uma pesada mão de ferro e com um rigor e disciplina absolutos.

 

Não há força para impor disciplina nas despesas?

 

Parece que não! Mas há força que sobeja para nos sobrecarregar, inconstitucionalmente, de impostos até ao limite das nossas já exauridas capacidades. Porém, a capacidade para controlar o Estado nos gastos perdulários, faustosos e inimagináveis, na Presidência da República, na Assembleia da República, no Governo e no Ente Público, em geral, em época de austeridade, não existe. Haja vergonha!

Eu seria um aluno aplicado e diligente da Srª Merkel, mas, não seria um aluno fácil. Seria irrequieto e contestatário e não aceitaria ordens quanto à forma de dirigir o meu país. Se não nos quisessem emprestar dinheiro para o reequilíbrio da Economia e Finanças, segundo as nossas regras, paciência! Alguma coisa se haveria arranjar pela via diplomática. Creio que os nossos credores não estariam dispostos a enfrentar uma crise na economia europeia, pela saída de Portugal e da Grécia do Euro. A Economia europeia ficaria à mercê do poder económico dos EUA. Porém, não sou defensor de voltar ao escudo, para de desvalorização em desvalorização, pôr a moeda a flutuar, com as consequências do que já sofremos com a primeira chamada do FMI.

 

Umas décadas atrás, encantámo-nos pelas ditosas vantagens dos fundos comunitários e entregou-se às grandes economias da europa de então, como a Alemanha, a França, a Itália e a Espanha, a nossa posição nos mercados da agricultura e das pescas, sem contar com a carga de betão armado que o país levou em cima das suas terras, em regiões, actualmente, sob o estigma do abandono absoluto; tudo isto com as verbas provindas do FEDER, do FEOGA e mais algumas siglas de que já me esqueci. O país ficou desarmado sem a vantajosa produção de bens transacionáveis que lhe enriquecia os edifícios do Mercado Interno e do Mercado Externo. O efeito marginal da perda do lugar dos bens transacionáveis, menina dos olhos de toda e qualquer economia, perdeu o pé e afundou-se…

 

A Economia ficou de rastos! Porquê? Porque o FEDER e o FEOGA eram cartões de crédito e gastámos, indisciplinadamente, o dinheiro, sem procurar acautelar as verbas para repor o que foi gasto, porque o dinheiro que recebemos não foi gratuito, foi, ardilosamente, emprestado e, agora, estamos a pagar as facturas da displicência que tivemos. Digo ardilosamente, porque nos foi emprestado com o objectivo de nos afastar dos mercados e anular a concorrência que fazíamos aos grandes da europa. Caímos nesta, agora só nos resta, com orgulho, levantarmo-nos.

 

Ora, mas hoje, estou aqui para falar da Economia do Futuro e não do Passado, se a tanto, o meu engenho e atrevimento me consentirem esse arrojo.

 

E a primeira análise que se nos apresenta, trata de nos questionar sobre se a Economia é uma Ciência?

 

Eu, modernamente, diria que sim, mas, atenta a divisão dos seus desenvolvimentos nos campos de aplicação biológica, dividida em microeconomia e macroeconomia e a sua divisão disciplinar em áreas da política (economia política), da ordem social (economia social), do Estado (economia financeira) e, no universo do comportamento e relacionamento humanos, mais uma vasta diversidade universal de abrangências condicentes com especificidades sectoriais de interesses individuais ou colectivos, afirmaria que é uma ciência de contrários ideológicos e causalidades empíricas, porque não podemos confiar em experiências cujos resultados são de consequências imprevisíveis e esperarmos conclusões científicas inexistentes ou dúbias, por que os factores experimentais da vivência emocional e intelectual na Economia, acontecem num laboratório chamado “A Vida”, onde o que hoje é, amanhã já não é.

 

As causas e os efeitos podem assim rastrear-se pela propriedade dos bens privados ou colectivos, pela produção, alienação, troca ou consumo destes, acantonados num edifício de muitas fracções e pisos, designado por “Mercado”, com várias residências.

 

A partir daqui, encontramos uma miríade de vectores incontornáveis, tais como a Oferta e a Procura que têm uma descendente: a “Escassez” e, esta, é mãe do “Preço” que é representado por um outro bem fungível, designado “Dinheiro” e este é patenteado por um ícone conhecido por “Moeda” que tem várias nacionalidades, para já não falar das primas em segundo grau: as joias e do primo direito: o ouro.

 

Não falo, agora, do Ouro Negro, o Petróleo, que é duma família à parte.

 

Podemos estar aqui horas a escrever sobre estas referências do sentir económico, ligadas, indefectivelmente, à vida e à morte dos indivíduos e das organizações, mas, passo a passo chamarei por cada uma delas, para as observar mais de perto.

Acabei de recordar Júlio Verne e bem preciso da imaginação dele para chegar à Economia do Futuro.

Para finalizar, por hoje, por curiosidade, e consultando os textos bíblicos, a fundação do regime de propriedade privada teve origem no roubo de terras, levado a cabo por Caim, que, apossando-se destas, lhes chamou suas e tomou posse. Este personagem bíblico também fundou a primeira cidade, “Enoque”, nome do seu primogénito. A fundação desta cidade teve lugar após ter praticado fratricídio na pessoa de Abel, seu irmão.

 

A génese da Economia começou, no Génesis, com processos criminosos ligados à factologia histórica da realidade de parte do começo desta…

 

 

 

Luís Santiago

TEOTÓNIO NAS SALSAS ONDAS

 

 

Foi D. Teotónio, com D. Telmo e D. João Peculiar, um dos três fundadores do Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra cuja primeira pedra foi lançada no dia 28 de Junho de 1131. Mas antes disso já o presbítero tinha ido duas vezes em peregrinação à Terra Santa para onde não regressou definitivamente a insistente rogo dos dois amigos que o convenceram a fundar uma Ordem não contemplativa e que pregasse o Evangelho no meio das gentes.

 

Na segunda peregrinação, embarcou em Bari com destino a Jafa mas como depois de alguns dias navegassem pelas alturas de Mália – ponta sul do Peloponeso, cabo muito temido pelos marinheiros por causa da brusca mudança dos ventos – começaram todos a correr perigo devido a uma súbita tempestade escurecendo-se de repente o céu. E eis que por cima deles se assombrou uma nuvem com vento violento e terrível fragor. E ela, a nuvem, revolvendo as águas profundamente, agitava o mar tempestuoso e suspenso à maneira dum monte líquido e ora mergulhava nas profundezas, o navio sacudido pelas massas das ondas, ora levantava do profundo abismo até aos altos cimos e cristas das vagas e derribava-o juntamente e, o que é maravilhoso de dizer, chupava para o alto a água do mar como um cano potente a que os marinheiros chamam sifão.

 

 

Prevendo já a tempestade, logo que o navio começou a andar à roda entre a agitação das ondas quebrando-se com suma rapidez o mastro a caindo às ondas, começaram também os marinheiros a colher as velas, a ligar o cordame e as antenas e a compor todo o equipamento do navio e do leme, não se quebrassem eles com a força do mar e também a alijar a carga, a fim de aliviar o barco. O mar avançava e empolava-se por cima deles, aterrados com medo de morrer. Porém, a coisas terríveis sucedem outras mais terríveis.

Já tinha desaparecido toda a esperança de salvação. Enraivecendo-se as ondas ferozes para os matar e enfraquecidos os membros deles com o temor, estando já todos perturbados por causa da presença da própria morte, deram-se mutuamente a paz, já prontos para morrer, implorando com lágrimas o socorro do Omnipotente para que Aquele que entregava os seus corpos a tão temerosa morte, recebesse as suas almas com muita benignidade ou que lhes enviasse, misericordiosamente, o socorro que os salvasse.

Porém, D. Teotónio, prostrado também a rezar com lágrimas e todo voltado para Deus, depois dos salmos e ladainhas, invocou, deste modo, o Senhor da vida e da alma:

- Senhor, Senhor Jesus Cristo, filho de Deus vivo, filho de Santa Maria, que com o Pai e o Espírito Santo sois um só Deus em altíssima Trindade e verdadeira Unidade, socorre-nos a nós, postos no maior perigo, a fim de que, arrancados à ira das ondas do mar, mereçamos ver o glorioso sepulcro da Tua Santa Ressurreição, ao qual viemos venerar e beijar, e para que demos graças por nos teres livrado.

Enquanto isto se passava, Deus todo poderoso que lhes enchera a alma de terror, com maior maravilha lhes patenteou inesperadamente a Sua misericórdia principiando a sossegar o sopro do vento e, quebradas a pouco e pouco as montanhas de água, tornou-se o mar tranquilo.

 

Foi já com fama de santidade que Teotónio aportou a Jafa mas, não querendo correr novo risco de ser sugado por mais algum olho de ciclone, pouco usou a via marítima no seu regresso a Coimbra.

 

É que, por muita que seja a fé, não se deve abusar da sorte nem da santidade.

 

Lisboa, 25 de Novembro de 2012

 

 Henrique Salles da Fonseca

 

BIBLIOGRAFIA:

 

Uma narrativa marítima do séc. XII, Mário Martins, SJ, in Brotéria, Vol. XLVII, fasc. 4, 1948 remetendo para Vita Sancti Theotonii da autoria de um discípulo de S. Teotónio (não identificado no texto que me serviu de apoio)

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