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A bem da Nação

QUANDO AS AMIGAS CONVERSAM...

 

AUMENTAM OS SEGURANÇAS

 

Falámos no bonito gesto da Adriana, acariciando a couraça do polícia Sérgio, imagem de ternura e deslumbramento que tanta emoção e entusiasmo despertou no país, devidamente registado nas vozes dos políticos, na escrita dos jornais, nas referências da Internet, como nosso “casus belli” a merecer digna epopeia nos nossos tempos conturbados.

 

Até me lembrou, por contraste, o gesto do Astianaxezinho, no canto VI da Ilíada, quando viu o elmo de crista de crinas de cavalo do seu papá Heitor, e se pôs a chorar de susto, o que forçou Heitor a pôr o elmo no chão para beijar o filho, juntamente com a atribulada Andrómaca que tanto apelou para que o marido não fosse combater contra Aquiles, que já lhe tinha matado o pai e os sete irmãos e que iria sem dúvida fazer o mesmo ao marido, o que teve como efeito a resposta comovida de Heitor, mandando-a, com imensa ternura, para os seus lavores de tear e roca, que a ele competia defender marcialmente Tróia e os troianos, como grande herói que era e sabedor dos seus deveres.

 

Mas o gesto da nossa gentil Adriana de carícia à couraça do nosso gentil polícia Sérgio, e fixado em notável foto que marcará na nossa história pátria, sem que, hélas! surja um épico disposto a eternizá-lo, apesar de estar nele bem expresso “o peito -embora couraçado - ilustre lusitano”, para o possível canto épico, em “som alto e sublimado” já que a nossa era das glórias foi ultrapassada e só nos resta a crise, recorda bem, esse gesto gentil, sem dúvida, o da esposa de Heitor, acariciando o marido com a mão, na tentativa infrutífera de o demover do combate com Aquiles.

 

Adriana também acaricia a couraça de Sérgio, num gesto de terna sensualidade, de quem apela para que deixe o dever que lhe impôs o Governo, de defender a ordem, e que desça à praça e mesmo a ela que é tão bela, para defender a manifestação popular dos que preferem o pão e mandar abaixo a governação.

 

Estávamos nós nestas amenas referências aos acontecimentos vividos e mesmo repetidos na história e na arte intemporais, quando chega a minha filha Paula, com a experiência dos seus agravos, sem gestos de doçura mas de crença nos malogros:

-“Vamos para a rua p´rás manifs e agora pagamos-lhes as seguranças!”

 

E ei-la com a minha amiga em altissonantes referências ao governo de ministros, assessores, consultores de imagens, etc., cada qual protegido por abundância de seguranças, exemplo visível de gorduras estatais não desaparecidas, enquanto os trabalhadores perdem o seu emprego ou são espoliados no seu ordenado e o mal estar do desemprego e da fome vai alastrando.

 

Mas a brutalidade da dívida nacional e a imposição de a pagar não passam na boca dos críticos nem dos manifestantes, como motivo de moderação.

 

Venham então os seguranças, no cavalo da nossa “Tróia” a destruir. E juntem-se aos guerreiros da praça pública, com as suas armaduras das carícias.

 

 Berta Brás

LIDO COM INTERESSE – 57

 

 

 

Título: DJAN OU A ALMA

 Autor: Andrei Platónov

Tradutor: António Pescada

Editora: ANTÍGONA, Lisboa

Edição: 1ª, Setembro de 2012

 

 

(...) ao lado das habitações estavam deitados dois camelos mastigando diverso lixo à sua volta para não se aborrecerem nem pensarem em coisas inúteis. Eis um exemplo do suave humor com que Andrei Platónov (1899 – 1951) salpica esta novela.

 

E quem eram os djan? Eram fugitivos e órfãos de toda a parte, escravos velhos e extenuados que tinham sido expulsos da casa dos beis, seus antigos proprietários, mulheres que traíam os maridos e que fugiam com medo, viúvas que não queriam mais ninguém como marido, gente que não conhecia Deus, que troçava do mundo, criminosos... Enfim, uma amálgama de indigentes vivendo no deserto, comendo as pobres ervas que a severa natureza permitia, a quem apenas restava a alma e, mesmo essa, muito adormecida.

 

Mas o Estado Soviético não queria pobres que pela sua mera existência negassem o paraíso socialista e nomeou um jovem economista, nascido entre os djan mas educado em Moscovo, para que liderasse aquele povo e nele construísse o socialismo... E Nazar Tchagatáev, com sangue na guelra, dedica-se apaixonadamente à missão que lhe fora confiada até que... chegamos à última página com pena de não haver mais para ler e tudo se conclui de um modo tipicamente russo.

 

É claro que não conto o final pois com isso estragaria a leitura de livro tão agradável mas posso transcrever algumas passagens que apreciei especialmente.

 

Assim, na caminhada pelo deserto a fim de encontrar o povo djan, o nosso herói passa a ter a companhia de um camelo a quem salvara da morte certa dando-lhe de beber num poço que arduamente escavara, até porque (...) lhe parecia também um membro da humanidade. (pág. 46)

 

Mais à frente, próximo da exaustão, deita-se algures e fica a ver as lagartixas e outros bichos pois (...) na realidade também aqui, no Amudária e no Sari-Kamich, havia todo um mundo difícil, ocupado no seu destino. (pág. 57).

 

O russo afastou-se a sorrir. Quase todos os dias, durante sessenta anos, a sua vida esteve a ponto de acabar mas ele não tinha morrido uma única vez (...) (pág. 88)

 

(...) porque é que as pessoas procuram tanto o infortúnio, a desgraça, quando a felicidade é igualmente inevitável e muitas vezes mais fácil de alcançar do que o desespero? (pág. 90)

 

A luta de classes começa quando o opressor vence o «espírito santo» contido no escravo; a blasfémia contra aquilo em que o amo acredita, contra a alma e o Deus do amo, nunca tem perdão, enquanto a alma do escravo é submetida à consumição na mentira e no trabalho arrasador. (pág. 127)

 

Há sempre um lugar vazio na alma onde um homem quer guardar a sua felicidade. (...) a alma torna-se alheia: ela pensa bem daquilo que é mau, aborrece-se em nós e promete aquilo que não haverá, pensa naquilo que não existe. (pág. 129)

 

(...) quando se esquece depressa aqueles que morreram e desapareceram, a vida torna-se completamente sem sentido e lastimável e só restará a cada um lembrar-se de si próprio. (pág. 146)

 

Para que viveram as pessoas antes, se ela, aquela rapariga turcomana desconhecida, estava agora ali perplexa com o seu pensamento e a sua aflição? Que infelizes teriam sido os pais dela, toda a sua tribo, se em nada podiam ajudar a sua filha: viveram em vão e morreram e ela ali estava outra vez sozinha, como em tempos estivera a sua pobre mãe... (pág. 154)

 

Sim, fiquei com pena de ter chegado à última página, a 178, desta novela escrita em 1935 mas que só foi resgatada das estantes do esquecimento da censura soviética em 1999. Boa leitura!

 

Outubro de 2012

 

 Henrique Salles da Fonseca

DEVANEIOS

Tântalo 

 

GRANDE PROCURA DE METAIS RAROS E ESTRATÉGICOS

 

I

 

   Foi com imenso prazer que acabei de ler na revista “FORTUNE” (Vol. 166, Nº8 de 08.10.2012), uma reportagem sobre a exploração e o comércio de TÂNTALO – um metal raro e estratégico – em grande demanda pelas potências mundiais, em especial  pelos países democráticos dos Estados Unidos e do Reino Unido, para utilização no mundo da electrónica (computadores, condensadores, telefones, telemóveis, televisores, transístores, etc.), no fabrico de aço, de armas militares de alta precisão, de mísseis nucleares, de micro aparelhos cirúrgicos, de implantes cirúrgicos, de motores para aviões e aeronaves, et alia. O tântalo é um metal anticorrosivo, imbuído de carga eléctrica latente, que se encontra associado com outros metais, v.g. cobalto, colúmbio, nióbio e níquel.

 

   A citada reportagem descreve, em curtos parágrafos, a actual situação de tântalo  na sua exploração e no seu comércio a nível mundial pelos grandes produtores-exportadores como Brasil, Moçambique, Austrália e Congo. A maior empresa australiana desistiu de sua actividade produtora face aos insuportáveis custos; enquanto uma recente produção exportável de concentrados de tântalo no Congo foi roubada à mão armada. Na África predomina o tráfego ilegal de metais raros, tântalo, colúmbio, etc. pelos Exércitos de Uganda, Ruanda, Burundi e Congo mancomunados com empresas ocidentais negociando-os a bom preço nos países do Oriente como o Japão, Coreia do Sul e China (com sua produção insuficiente para seu consumo doméstico).

 

   Curiosamente, faz 44 anos que, nos meus ócios, debruçara-me sobre a mineração de concentrados de pentóxidos de columbite-tantalite em Moçambique num estudo económico refletindo no contexto mundial o competente lugar que coube à essa colónia portuguesa no seu comércio exportador. Toda a temática passarei em seguida a sumariar.

 

II

 

   De facto, nos finais dos anos sessenta do século findo, tive o ensejo de apresentar, em inglês, uma comunicação ao Congresso da S2 A3 – South African Association for the Advancement of Science -  reunido em Lourenço Marques em Julho de 1968, discutindo a mineração de columbite-tantalite, que ficara inédita até que editasse sua versão portuguesa no BSEM (Boletim da Sociedade de Estudos de Moçambique /Ano 41º, Nº 171, de Abr./Jun. de 1972).  

  

   Destacando alguns dos significativos pormenores da citada comunicação, focarei que Moçambique produziu 1230 toneladas métricas dos concentrados de Colúmbio (Cb2O5) e de Tântalo (Ta2O5) no valor global de 168.948.000 escudos no período de seis quinquénios (1937/66). A II Grande Guerra paralisou tanto a produção como o comércio exportador desses pentóxidos em Moçambique, nos anos de 1939, 1940, 1946 e 1947. Retomada a exploração mineira em 1948, Moçambique produziu 738 t.m. no quinquénio de 1957/61 e 338 t.m. para o comércio exportador no quinquénio seguinte (1962/66) de valor global respectivo de 96.940.000 e 50.534.000 escudos. Houve posteriormente uma baixa na cotação mundial dos concentrados de pentóxidos de columbite-tantalite com a concorrência aos mercados norte-americano e inglês por parte de numerosos fornecedores como Austrália, Congo, Guiana Francesa, África do Sul, Brasil, Malásia, Moçambique, Nigéria, Espanha e até Portugal.

 

   Continua a procura norte-americana dos metais raros e estratégicos e não apenas de colúmbio e de tântalo graças à legislação de DPA (Defense Production Act) visando a formação de reservas do País, hoje imprescindíveis para a manutenção das indústrias dos Estados Unidos.

 

   Oxalá as empresas mineiras do espaço português ora explorando o ouro, o volfrâmio e outros metais semi-preciosos descubram, mesmo em simples associação, uma jazida de metais raros e estratégicos ajudando o País a sair da pavorosa e actual crise sócio-económica e financeira em que se encontra mergulhado, Deo juvante!

 

 

Alcobaça, 28.10.2012

 

 Domingos José Soares Rebelo

AGOSTO, QUEM DIRIA?!

 

 

1. Segundo o Boletim Estatístico do Banco de Portugal, esta semana divulgado, a Balança de Pagamentos com o exterior apresentou, no período Janeiro-Agosto, um EXCEDENTE de € 750 milhões.

2. Este excedente é o resultado de um défice da Balança Corrente (- € 1.733 milhões) e de um superavite na Balança de Capital (+ € 2.483 milhões), este último proveniente de transferências de capital da EU.

3. Note-se que o défice da Balança Corrente é consequência da elevada factura de juros pagos ao exterior, causados pelo endividamento da economia portuguesa e que pesam na rubrica de Rendimentos, a qual apresenta um défice elevado (- € 4.770 milhões) – enquanto que as rubricas de Bens e de Serviços, em conjunto, apresentam já um superavite de € 315 milhões, pela 1ª vez desde há mais de 15 anos!

4. Esta evolução é tanto mais notável quanto é certo que o mesmo saldo da Balança de Pagamentos, agora positivo como referido em 1, apresentou no último triénio os seguintes valores:

- Em 2009, deficit - € 17.009 milhões (10% do PIB)

- Em 2010, " - € 15.184 "

- Em 2011, " - € 8.975 "

5. Se me tivessem dito há 3 anos que isto iria acontecer, eu teria comentado "estão a sonhar alto"! Mas aconteceu, e o mérito desta radical mudança de desempenho da economia vai em primeiro lugar para as empresas privadas – empresários e trabalhadores – que têm vindo a realizar um esforço gigantesco de adaptação às novas condições da economia, arregaçaram as mangas e foram por esse Mundo fora à procura de novos clientes e mercados!

6. Note-se que as exportações de Bens aumentaram até Agosto 9,15% em relação ao período homólogo de 2011 e as exportações de Serviços 15,7%, isto num enquadramento internacional que, como se sabe, está longe de ser favorável. É certo que as importações diminuíram 4,3%, no mesmo período, mas sem o crescimento das exportações a Balança de Pagamentos não teria sofrido esta enorme alteração de comportamento.

7. Mas, PARADOXO dos PARADOXOS, um País sufocado por uma despesa pública opressiva, com exemplos de desperdício lamentáveis na administração central, regional e autárquica, bem como nos respectivos sectores empresariais, é obrigado, para cumprir os compromissos com os seus credores internacionais, a tributar cada vez mais aqueles que têm estado na base deste quase milagre económico...para dar ainda mais dinheiro ao Estado!

8. Pior ainda, "dia sim, dia não" temos de assistir ao espectáculo de protestos de rua protagonizados pelas corporações de comensais do Orçamento – desde os ENVC até aos grupos de artistas subsidiados – reclamando que não estão sendo bem servidos, que a mesa do Orçamento deveria ser mais generosa!

9. Para cúmulo, esses protestantes quase profissionais beneficiam de toda a cobertura e mesmo do apoio explícito da generalidade dos "media", a começar por aqueles que tb pagamos a título de prestarem um serviço público! Mas que "raio" de País, este!

 

  Tavares Moreira

 

In Quarta República,   http://quartarepublica.blogspot.pt/ 25OUT12

CATALUNHA

 

 

O Separatismo catalão é muito mais antigo, julgo eu, do que o chamado e falhado "iberismo" castelhano e tem toda a razão de ser.

 

A Catalunha, como Portugal, não é Castela.

 

A Catalunha tem uma identidade própria, uma história própria e uma língua própria, cuja importância supera a de outras línguas europeias, como por exemplo o dinamarquês.

 

A Catalunha devia ser independente como Portugal, e não o é porque uma Castela imperialista sempre o impediu.

 

Os que lutam por uma Catalunha independente não são de modo algum traidores da sua Pátria, pelo contrário: são patriotas.

 

E não me venham com a U. E. unificadora das nações. A U. E. não une as nações. Procura dissolvê-las para sobre elas reinar autoritariamente, o que aliás nunca conseguirá.

 

Saudemos os Catalães pelo amor à sua terra e seu bom europeísmo, que é o das nações livres e fraternas, nunca o de nações sujeitas.

 

26OUT12

 

 Eduardo Amarante

 

NOTA DE LA ASOCIACIÓN DE MILITARES ESPAÑOLES

 http://www.ame1.org/noticia.asp?idReg=1929

 

RESPOSTA A...

 

CARTA ABERTA AO SENHOR PROFESSOR MIGUEL MOTA

 

Exmo. Sr. Dr. Luís Santiago, Prezado Amigo,

 

Começo por pedir desculpa de só agora responder, incluindo àquilo que prometi num Comentário. Um congresso, uma ausência, alguns compromissos e um período de doença não me permitiram antes dar esta resposta, que não poderia ser muito curta.
Começo pelo fim, agradecendo a Carta Aberta que me é dirigida. Escreve, com razão, sobre o que é preciso fazer e faz a pergunta: “o que se pode, então, fazer? É que, laboratorialmente, da teoria nada resulta, se não se passar à fase experimental. Na, verdade, toda a gente teoriza muito, mas, opiniões sem soluções de meras teorias não passarão“.

 

No artigo “Greves manifs ou votos”, que publiquei em 2010 e que está no A Bem da Nação, em 23 de Agosto desse ano, enunciei o que considerava possível, se os portugueses quisessem, pois não vejo que uma pessoa só o consiga realizar. Ali indicava que as greves e as manifs nada resolviam e só via duas formas de resolver. Uma era fazendo uma revolução, tão justificada como o 28 de Maio ou o 25 de Abril. Por razões óbvias, não aconselhava. A outra, dentro do sistema partidocrático vigente, e verificando-se que nenhum dos actuais partidos serve, seria ir ter com duas dúzias de pessoas muito competentes e muito honestas, capazes de integrarem um governo, aparecerem com um ou dois milhões de apoiantes e, com essas pessoas no comando, formarem um partido. Seria preciso ter cuidado e não permitir a entrada dos que já deram boas provas de não servirem. Não queremos um PSOP (Partido das Sobras dos Outros Partidos).

 

Permita-me que, em aparte, conte algo que chega para concluir que os portugueses não estão para maçadas e, portanto, tornam a solução inviável. Na antiga Academia Cultural par a Terceira Idade, hoje com o nome de Universidade Sénior de Oeiras, onde, desde a sua formação, tenho dado aulas de Genética, dei também, alguns anos, aulas de “Conversas sobre Democracia”. No fim duma destas últimas, uma das alunas veio ter comigo e disse-me que “o senhor é que era bom para liderar um movimento desses”.

Respondi-lhe que “estou disponível; a senhora aparece com um milhão de apoiantes”. A resposta que recebi foi um “ah!”. “Então o que é que quer que eu faça?”, foi o que lhe disse. Fiquei elucidado que, na sua maioria, os portugueses estão à espera que alguém lhes resolva os problemas porque eles não estão para a maçada de apoiarem alguém de forma a ter um partido decente, capaz de ter 70% dos votos e mudar a Constituição.

 

Refere a frase corrente “não há democracia sem partidos” e diz, no seu Comentário que não são estes partidos, mas outros melhores. Na minha modesta opinião, considero que os partidos são uma conveniência e não uma necessidade da democracia. Tenho boas razões – com factos ocorridos – para mostrar que os cidadãos – excepto os fanáticos deste ou daquele – estão mais interessados nas pessoas do que nos partidos. Adiante mostrarei. O mal não está nestes partidos. Está na nossa não plebiscitada e antidemocrática Constituição, que rouba o poder aos cidadãos – a essência da democracia – e dá aos partidos um poder ditatorial. Para estar de acordo com os outros ismos políticos, cunhei para este sistema o nome de “Partidismo”. O que penso sobre isto não é de agora e posso prova-lo transcrevendo o período com que encerrei o artigo “Partidofobia e Partidocratite”, que publiquei no Expresso em 1979, já lá vão 33 anos:

“Partidos políticos como congregações de homens com o mesmo credo político, sim! Partidos como órgãos de poder paralelo, não! E partidos como órgãos de poder ditatorial, três vezes não!"

 

Porque considero a nossa Constituição uma verdadeira desgraça, mesmo não sendo jurista e apenas um cidadão medianamente informado, já publiquei em 2002, numa revista universitária uma “Proposta de Alterações à Constituição da República Portuguesa”. Desse escrito respigo a alteração de dois artigos, fundamental para termos democracia e as necessárias eleições livres:

Artigo 149º
 

Alterar para:
Os Deputados são eleitos por círculos eleitorais uninominais, constituídos por um conjunto de freguesias adjacentes, somando um total de (40.000 a 50.000 ?) eleitores ou, no caso de haver freguesias com mais do que esse número de eleitores, por bairros adjacentes, de forma a situarem-se dentro daqueles limites.

Artigo 151º
 

1 – Alterar para:
As candidaturas serão apresentadas, nos termos da lei, por um grupo de não menos de X nem mais de Y eleitores do respectivo círculo eleitoral.
 

Definir os números X e Y. Pode considerar-se como referência a eleição para o cargo de Presidente da República, em que a proporção é de, aproximadamente, um a dois por cada mil eleitores. Para um círculo de 40.000 eleitores teríamos 40 a 80 proponentes, que parece ser número aceitável.

 

2 – Suprimir

É, aliás, o sistema que temos apenas para a eleição do Presidente da República, um cargo de grande projeção e escasso poder, a única democrática em Portugal. Desse os portugueses não se podem queixar. Se não gostam dele tivessem eleito um melhor. Para a Assembleia da República, o partidismo – ditadura partidocrática – é total. E dessas eleições resultam não só os nossos legisladores, mas também o governo. Por isso o patrão dos deputados não é o conjunto dos cidadãos que os elegeram – porque não lhes davam “licença” de eleger quem desejassem – mas sim o chefe do seu partido. Se lhe desagradarem, não voltam a ser candidatos.

 

Para as autarquias, já se abriu aquilo que eu designo por “uma pequena janela democrática” e logo se viram os resultados. Podendo, também – eu entendo que devia ser exclusivamente, como na eleição do Presidente da República – haver candidatos fora dos partidos, em vários casos e com três partidos – PSD, PS e PC – alguns deles ganharam, um deles no concelho onde vivo, contra os candidatos dos partidos.

 

Vejamos agora algumas provas de que os cidadãos não querem saber dos partidos, mas sim das pessoas.

Antes da abertura da tal pequena janela democrática, quando só os partidos podiam apresentar candidatos, num concelho, creio que Penalva do Castelo, mas não tenho a certeza, o Presidente, que tinha anteriormente sido eleito pelo CDS, ia agora ser candidato pelo PS. Numa entrevista, creio que na rádio, declarou que “quem está com o poder mama; quem não está chucha”. O governo era nessa altura do PS. O PS não gostou da frase e resolveu que ele não seria candidato, mas sim outro. Acontece que os eleitores desse concelho gostavam dele para Presidente e, como não podia candidatar-se como independente, foi candidato pelo PPM. E ganhou! Porque os eleitores passaram a querer monarquia? Nada disso. O que eles queriam era aquele Presidente e se essa era a forma de o terem, votaram PPM.

 

Um caso mais recente, nas últimas autárquicas, ocorreu, como é sabido, em Tavira e Faro. Se Macário Correia (PSD) quisesse candidatar-se novamente a Tavira, seria certamente eleito. Mas ele resolveu ir para mais alto e concorrer a Faro, a capital do distrito. Ganhou contra o anterior Presidente, que era do PS. Significa isso que os farenses deixaram de querer socialismo e quiseram antes a social democracia? Obviamente que o que entenderam é que Macário Correia poderia ser melhor que o seu antecessor PS.

Mas há ainda outra prova de que o partidismo não interessa. Em Tavira, que o PSD com Macário Correia ganharia, foi eleito Jorge Botelho, do PS. Quererá isto dizer que os tavirenses deixaram de querer a social democracia para desejarem socialismo? Certamente que não. Na falta de Macário Correia, consideraram que o melhor Presidente seria aquele senhor, por acaso, do PS.

 

Para finalizar este já longo arrazoado, vou procurar responder à pergunta que faz no final do seu Comentário:

“Como cidadão português e no uso do seu direito do exercício da cidadania, e eu do meu, e de tantos portugueses como nós, porque não começamos a trabalhar para a consecução deste objectivo?

Para começar, peço que leia o que atrás escrevi sobre a aluna que me veio dizer, no fim duma aula, que eu é que era bom para liderar um movimento e que, quando eu lhe disse que estava disponível, que aparecesse com um milhão de apoiantes, me respondeu com um ah!

Certamente seria possível fazer o que preconizo no artigo de 2010 e formar um partido com gente decente. O problema é a enorme apatia da grande massa dos portugueses, que não está para grandes maçadas. Fazem grandes protestos e manifs e depois vão para casa satisfeitíssimos porque protestaram, sem ver que, no sistema blindado como está, nada conseguiram. Aquele ah! da senhora é elucidativo. Se ela dissesse “está bem, vou começar a falar com as pessoas minhas amigas, tão interessadas como eu, para elas falarem às pessoas suas amigas, em cadeia crescente e quando formos um milhão voltamos cá” haveria esperança. Com aquele ah! vejo ali um símbolo do povo português actual. Eu estou farto de, em numerosos escritos, dizer o que há a fazer, particularmente nos sectores em que tenho responsabilidades, como a investigação científica, o ensino superior e a agricultura. Mas só eu e sem quaisquer poderes, certamente que não o posso realizar. Durante a minha vida oficial activa pude realizar algumas coisas, aliás uma fracção do que poderia ser se não fossem tão numerosos e drásticos os torpedeamentos, destruições e cortes de trabalho em fase avançada e perto de poder dar bom dinheiro ao país. Isso não sucedeu só a mim, mas também a vários colegas meus. Não é por acaso nem por chuvas ou trovoadas que o país está como está. E vejo o futuro ainda mais negro, pela apatia referida.

 

(Se lhe pode interessar algo do que tenho andado a fazer e me quiser dar o seu e-mail – por exemplo através do Dr. Salles da Fonseca – terei muito prazer em o enviar).

 

Peço que aceite os meus melhores cumprimentos.

 

 Miguel Mota

QUERIAM ALTERNATIVAS À AUSTERIDADE?

 

 

Então tomem lá!

 

Foram anos e anos que os vários governos levaram a gastar à tripa forra. E muitas vezes em obras inseguras como foram, por exemplo, os IP3, IP4 e IP5, em obras de fachada como foram os Estádios de Futebol, nas Parcerias Público Privadas com o incremento de auto-estradas por tudo quanto foi sitio, no tempo em que o dinheiro era muito e as derrapagens orçamentais o pão-nosso de cada dia. Nos últimos anos, tudo continuou, com o maior dos desplantes, como é o caso das três auto-estradas para o Porto e até da transformação de IPs, como foi o caso do IP6 em A23, e de alguns ICs em auto-estradas como é o caso do IC3 que agora é a A13 – para quê? E depois de tanta trapalhada, nós é que gastámos demais. Essa é boa!

 

Daí até à implantação da austeridade, que está a condenar milhões de pessoas à fome e à miséria de antigamente e a paralisar o país, foi um ápice. Cortes de subsídios, de vencimentos e pensões, aumento de impostos de toda a ordem e, mesmo assim, pasme-se, a dívida aumenta todos os dias, o desemprego não pára de crescer, a economia a paralisar, o défice cada vez maior. Só a balança de pagamentos se tem vindo a equilibrar porque se importa menos, porque também se consome menos e as exportações que têm vindo a crescer, muito por força da venda dos anéis e alianças, brincos e pulseiras, dos fios e cordões, enfim o ouro que tínhamos em casa que tem sido vendido e exportado.

E depois, sem nos darem conta para onde é que foram os 8 MIL MILHÕES dos Fundos de Pensões dos Bancários e o dinheiro da privatização da EDP e da REN, desafiam-nos a apresentarmos alternativas para acabar este ciclo. Assim, para que não lhes falte nada, aqui vão propostas de alternativa à austeridade que tudo está a secar, isto no que toca a CORTE DE DESPESA nas gorduras. Por isso:

- Reduzam 50% do Orçamento da Assembleia da República

e vão poupar +- 43.000.000,00€

- Reduzam 50% do Orçamento da Presidência da República

e vão poupar +- 7.600.000,00€

- Cortem as Subvenções Vitalícias aos Políticos senadores

e vão poupar +- 8.000.000,00€

- Cortem 30% nos vencimentos e outras mordomias dos políticos, seus assessores, secretários e companhia

e vão poupar +- 2.000.000.00€

- Cortem 50% das subvenções estatais aos partidos políticos

e pouparão +- 40.000.000,00€

- Cortem, com rigor, os apoios às Fundações e bem assim os benefícios fiscais às mesmas

e irão poupar +- 500.000.000,00€

- Reduzam, em média, 1,5 Vereador por cada Câmara

e irão poupar +- 13.000.000,00€

- Renegociem, a sério, as famosas Parcerias Público Privadas e as Rendas Energéticas

e pouparão + 1.500.000.000,00€

Só aqui nestas “coisitas”, o país reduz a despesa em mais de 2 MIL e CEM MILHÕES de Euros.

Mas nas receitas também se pode melhorar e muito a sua cobrança.

- Combatam eficazmente a tão desenvolvida ECONOMIA PARALELA

e as Receitas aumentarão mais de 10.000.000.000,00€

- Procurem e realizem o dinheiro que foi metido no BPN

e encontrarão mais de 9.000.000.000,00€

- Vendam 200 das tais 238 viaturas de luxo do parque do Estado

e as receitas aumentarão +- 5.000.000,00€

- Façam o mesmo a 308 automóveis das Câmaras, 1 por cada uma,

e as receitas aumentarão +- 3.000.000,00€

- Fundam a CP com a Refer e outras empresas do grupo e ainda com a Soflusa

e pouparão em Administrações +- 7.000.000,00€

Nestas “coisitas” as receitas aumentarão cerca de VINTE MIL MILHÕES DE EUROS, sendo certo que não se fazem contas à redução das despesas com combustíveis, telemóveis e outras mordomias, por força da venda das viaturas, valores esses que não são desprezíveis.

Sendo assim, é ou não possível, reduzir o défice, reduzir a divida pública, injectar liquidez na economia para que o país volte a funcionar? Há ou não alternativas?

Admite-se que com a estratégia implantada, isto possa dar algum trabalho. Mas como o querer é poder, neste caso inverta-se o ditado e diga-se então que o poder tem que querer.

Havia muito mais por onde cortar. Mas para já tudo ficava em ordem e ainda havia folga suficiente para que o crescimento se consolidasse.

Metam mãos à obra, porque amanhã será tarde.

Nota final: Depois das pérolas dum tal senhor Borges, no final de Domingo somos brindados com outra pérola acerca das Portagens nas antigas SCUTS. Se havia uma espécie de discriminação positiva, para os residentes nas áreas das tais antigas SCUTS, isso acabou. Eram dez viagens gratuitas todos os meses e nas restantes havia um desconto de 15%. Agora os preços baixam 15%, e os residentes que se lixem. No caso da nossa região, não sabem, ou não querem saber que o IP6, até Abrantes, foi feito pela JAE e estava pago. Mas “prontos”.Não se podia esperar outra coisa desta gente.

30.09.12

carlos-pinheiro1 Carlos Pinheiro

In "O Almonda" 5 de Outubro de 2012

LOURENÇO MARQUES

 

 

Do seu estabelecimento

 

 

 

Assim que D. João II tomou conhecimento da entrada de Lourenço Marques na baía que levou seu nome, escreveu logo a Dom João da Castro que estava como Vice Rei na Índia:

 

Dom Joam de Castro Amiguo. Eu elrrey vos emuio muito saudar. Per bernaldo nacere capitão da naao de garcia de saa que chegou aquy no mês de feuereiro pasado receby a carta que me escreuestes de moçambique e dou muytas graaças a noso senhor da boa viagem que le­vastes, de que folguey de me dardes conta tão particularmente; ......

Do descobrimento daqueles rios que fez Louremço marques folguey de saber, e parece que será cousa muy ymportante e necesaria acabarse bem de saber, pelo que vos emcomemdo muyto que ordeneis loguo mamdar da ymdia pêra iso hum navio ou fusta, qual vos parecer maes comveniente: e pela emformaçam e pratica que jaa disto tem louremço marques me parece meu serviço emcarregardelo desta viagem, ao qual dareis regimemto muy particular de tudo o que faça e procure de saber. E parecemdouos bem leuar ele no dito navyo algüas mercadorias, como parece que será necesareo, será bem mamdardeslhas, com as quaes ele poderá milhor resgatar as da terra, e saber uerdadeiramemte as que haa nela. E do que se nisto fizer me avisares. E posto que uos diga que mamdeys a isto Louremço marques, não o encaregareys diso, senam parecendouos que he tam soficiente pera iso que podereyes de mamdar a iso outra pesoa...

 

Bartolameu froes a fes em allmeyrim a oyto de março de 1546.

- Rey

Pera dom Joam de Castro

 

(Ainda que foi Lourenço Marques o primeiro explorador da bahia d'esse nome e rios que n'ella esboçam é de ver que já fora conhecida dos nossos navegadores desde a epocha em que D. Manuel mandou Cyde Barbudo(1) e Pedro de Quaresma(2) examinar a costa desde o Cabo até Sofalla para obter noticias de Francisco de Albuquerque e Pedro de Mendonça quen'aquellas paragens tinham desapparecido: a armada sahiu de Lisboa em setembro de 1505, e o regimento dado a Cide Barbudo pode ver-se nos Annaes marítimos e coloniaes, serie 4.a paginas 162 e seguintes.)

 

O que parece se ter passado a seguir foi um quase abandono dos portugueses com o comércio naquela baía, até à sua “retomada” em 1781.

 

Portugal, por ter descoberto o caminho para a Índia, reservava-se o exclusivo do comércio europeu desde o Cabo até Sofala. Para norte já havia árabes e indianos há muito tempo.

 

A "cidade" original não era uma cidade: era uma ilha. A uma distância regulamentar do Presídio, fez-se um aldeamento precário. Na parte baixa desse aldeamento vê-se a Rua dos Mercadores - a original rua de Maputo - mais tarde a Rua Araújo

 

Quatro anos antes, 1777, um aventureiro inglês, Guilherme Bolts, homem culto, arguto e diplomata, tipo “homem das arábias”, depois de ter trabalhado para os ingleses na Índia, e de ter enriquecido por meios escusos – que tudo perdeu porque a companhia inlgesa lhe sequestrou os bens - aparece em Lisboa e daqui vai a Viena e Trieste, onde consegue que alguns comerciantes lhe confiem um navio e mercadorias, esperando o “belo e lucrativo retorno”. Como a sua fama era conhecida em Portugal, onde nada conseguiu, passou à ilha da Madeira onde também não lhe venderam vinhos, depois Rio de Janeiro e finalmente em Lourenço Marques, onde não encontrou qualquer autoridade que o prejudicasse. E ali fundou uma feitoria, em nome de sua magestade imperial a arquiduquesa Maria Theresia Walburga Amalia Christina von Österreich, arquiduquesa e soberana da Áustria, Hungria, Bohemia, Croácia, Mântua, Milão, Galícia e Lodomeria, Parma e Países Baixos Austríacos. Pelo casamento, tornou-se duquesa da Lorena, grã-duquesa da Toscana e imperatriz consorte do Sacro Império Romano-Germânico. (É considerada um dos "déspotas esclarecidos", mas não se pode negar que não tenha sido “um bom partido” e uma grande parideira: teve 16 filhos!)

 

Bolts quiz a seguir negociar na Índia onde após uma série de “portas fechadas” conseguiu por fim fazer algum negócio, o que mereceu forte censura dos ministros e deputados da Junta da Fazenda da Índia. Dizia o ministro: “O dito Bolts tem arte, destreza, e astúcia, acompanhada de um grande conhecimento do comércio na Ásia, para poder persuadir e talvez determinar a Corte de Viena com estas ideias a formar uma Companhia em Trieste, ainda que ocorra o mesmo que à de Ostende”. Para ele “Bolts era um aventureiro e pirata por se intitular diretor geral de uma companhia que nem existe”!

 

Isso não o impediu de assonhorear do comércio com os régulos da região, correndo até com navios ingleses que ali aportaram.

Em 3 de Maio de 1777 assinou o primeiro tratado com o régulo Capela que designa por Rajá Mohaar Capelle, sempre assinando em nome de sua Magestade Imperial!

 

Dias depois assina novo tratado com o régulo Matola, a quem chama Rajá Chibanzan Matola, assinado também pelo Rajá Mafumo, que lhe vendeu toda a terra onde hoje se encontra a cidade de Maputo!

 

Portugal decidiu então correr dali com os “intrusos invasores” e a 31 de Março de 1781 ancorou, em frente do forte de S.José uma fragata, comandada pelo tenente-coronel Joaquim Vicente Godinho de Mira, que ali encontra três outros navios: um português, outro inglês e o terceiro, o Principe Fernandi da companhia de Trieste.

 

Godinho de Mira assim “que deu fundo” mandou logo apresar o navio “imperial” e com alguma tropa desceu em terra e sem encontrar resitência tomou conta da bateria de artilharia! No dia seguinte arvorou a bandeira portuguesa, notícia que logo se espalhou por toda a região, e os régulos acorreram para saber o que se passava, sendo o primeiro o régulo Mafumo, recebido a bordo com toda a dignidade.

No texto anterior transcrevemos o relato da visita do rei da Matola, o segundo a comparecer. No dia seguinte:

 

Em o dia 5 de abril, pelas nove horas da manhã, chegou a bordo da fragata uma pessoa do rei Capélla, mandado pelo dito, a fazer-nos saber que elle vinha já em marcha para ter o gosto de nos fallar, e que espe­rava nós fossemos encontrá-lo ao logar onde se fazia a agua, porque a bordo o dito rei não podia vir; o tenente coronel lhe procurou o motivo de não querer vir à fragata aonde já o rei Matolla tinha vindo, e entre elles era costume virem a bordo de todas as embarcações que ali che­gavam; a pessoa do rei não respondeu nada, senão que o rei não vinha a bordo, a que respondeu o tenente coronel fizesse o que quizesse, comtanto que o dito rei ordenasse se nos viesse vender tudo que precisasse a fragata e que passasse ordem para se deixar fazer aguada, e tudo o mais que fosse preciso á fragata de Sua Magestade Fidelíssima; com esta resposta se foi a pessoa do rei, e o tenente coronel desembarcou para a terra aonde tinha a tropa da legião, e achando-se no mesmo sitio o ca­pitão de mar e guerra, chegaram a este tempo pessoas do dito rei, di­zendo que o rei era já perto d’aquelle sitio, e nos queria ali mesmo fallar e que vinha acompanhado da sua gente, que seriam três mil cafres antes mais do que menos; o tenente coronel respondeu que fossem dizer ao rei, que podia vir, que ali esperava, ainda que o logar era bem impróprio; retiraram-se as pessoas, e o tenente coronel fez desembarcar as peçinhas de amiudar, e alguma tropa de infanteria, e pondo tudo em or­dem esperou o dito rei, que não tardou muito em chegar ao dito logar aonde se achava a tropa formada com os seus ofticiáes, o capitão de mar e guerra, e alguns, oíficiaes do corpo de marinha, que todos estes se avànçaram alguns passos a receber o rei e conduzi-lo a uma pequena bar­raca, aonde depois de muitos cumprimentos lhe foi dito pelo tenente co­ronel a pouca rasão que o rei tinha para deixar fazer estabelecimentos n’aquêlles logares, não o podendo, nem devendo consentir ali outra na­ção que não fossem portuguezes, a quem só era permittido o poder ali ir commerciar, e que por esta vez mandava Sua Magestade Fidelíssima fazer-lhe constar, que não era do seu real agrado aquelles estabelecimen­tos, que lhe levaria muito a mal todas as vezes que elle consentisse n'aquellas terras alguma outra bandeira que não fosse a de Portugal; foi respondido pelo rei, que elle não queria a outros amigos senão os portu­guezes, e que se estes tivessem continuado em levar saguates grandes, e roupas para a sua gente, que elles não teriam recebido outros, nem deixariam levar o seu marfim senão aos portuguezes, a quem elles tratam como irmãos; depois d'esta falla lhe assegurou o tenente coronel, que haviam vir áquelle sitio bastantes embarcações a levar-lhe os géneros precisos, e que elles olhassem a bandeira de Sua Magestade Fidelíssima com aquelle respeito, amor e veneração que deviam; que tivessem o maior cuidado, em que se lhe não fizesse nunca insulto, aliás seria obrigado a tornar áquelle logar aquella mesma fragata para os castigar. O rei protestou amisade e respeito á bandeira de Portugal; a esta resposta deu-se-lhe muito de comer, muito mais de beber, deu-se-lhe saguate com que foram satisfeitos, e se despediram, e ao sair da barraca se lhe deram nove tiros de peçinha; marchou a tropa para elle ver, de que gostou muito, e deram grandes gritos a sua gente; isto se passou tudo sendo presente todo o corpo de officiaes, e eu que por verdade o escrevi e me assignei,==Antonio Joaquim Pinto Gollares, escrivão,

 

 

 

N.-

1.- Cide Barbuda foi capitão do mar. Quando D. Francisco de Albuqueque, em 1505, se perdeu na volta de Cananor a Portugal, D. Manuel I ordenou que saisse de Lisboa uma esquadra, cujo comando foi entregue a Cide Barbuda e Pero de Quaresma, com a finalidade de procurarem Albuquerque e Pero de Mendonça que com ele viajava. Barbuda navegou até ao Cabo e dali a Sofala, mas todas as pesquisas foram baldadas.

2.- Pero Quaresma foi um dos construtores da fortaleza de Sofala em 1506.

 

26/07/2012

 

 Francisco Gomes de Amorim

 

QUANDO AS AMIGAS CONVERSAM...

 

ÀS VEZES QUEREM A CAMA

 

A minha amiga começou por falar no BPN como organismo que, segundo ouvira e vira nas media, se repusesse o que roubara, pagava-se o que se devia ao BCE. E eu referi que ontem a cabeleireira já me dissera o mesmo, pois também escutara, tendo-lhe eu respondido que para isso era preciso que importassem dos paraísos fiscais o produto desses furtos nada fortuitos porque programados com a competência que nos ficou de mestres eminentes, como Alves dos Reis, com o que a cabeleireira concordara por também ter visto o filme. E a minha amiga vá de continuar, alheia às minhas práticas coloquiais com a cabeleireira, que afinal também é a dela, não havia razão para o desinteresse:

 

- Roubaram tudo e a Troika acaba de dizer que as pessoas têm que passar por isto com dor. Eles não podem fazer mais nada, quando dizem que não podem ceder, que estamos na era do “condor”.

- Em trocadilho, está visto.

- E aquele sacrifício exigido aos médicos de horas seguidas de trabalho diário! E sabe o que pode acontecer? Ficam esgotados e cometem erros.

- Sim, os professores também andam esgotados e podem falhar, mas não põem vidas em risco. Só as suas.

- Já viu a quantidade de falhas? Até gente morre… Uma técnica de máquinas ligou aquilo mal… E sabe o que acontece? Tem de ir para a rua. Assou a pessoa num forno, como um animal. Uns dias depois, foi a mulher com uma dor no peito. Já está tudo a morrer assim, com dor no peito. Foi para casa. Ora estes fulanos médicos não sabem que isto acontece? Que às vezes a dor volta e é fatal? Aconteceu com o filho de uma minha amiga. Baixou ao hospital de Setúbal, mas mandaram-no para casa, aparentemente melhor. A dor no peito voltou, mas a família levou-o desta vez para o Garcia de Horta. Houve uma amiga de peso que perguntou por ele, o bastante para o tratarem com cuidado. Foi operado para abrir uma válvula. E o hospital de Setúbal manda-o para casa? Mas eu alguma vez tinha que dizer isto: se não há cama, metam-no na maca. Às vezes querem a cama, por isso os mandam para casa. E aquele rapaz actor, de 41 anos? Também foi ao hospital e também voltou para casa e a dor insuportável voltou. E assim morreu. As famílias agora também não se calam. Isto não pode acontecer. E a mulher que voltou para casa depois de ter estado ligada a uma máquina mal programada… Volta para casa, começa a ter bolhas no corpo e ela morre. O que é que nos interessa a nós, doentes, que os médicos estejam cansados? Mas voltamos ao mesmo. Não se pode fazer doutra maneira, actualmente. À custa de vidas! Muitos velhos têm a receita na mão e não compram. As farmácias dizem: já os há aos molhos. Pronto! Começam a morrer! São velhos. Não tomam medicação. Parece notícia do outro mundo. Andam a faltar remédios. As farmácias pagam impostos tão grandes ao Estado que não podem pagar aos fornecedores. Mas os médicos dos hospitais também andam cansados. Já se nota bem isso. Eu tenho imensa pena que os horários sejam assim. E ontem na assembleia, os empresários estavam revoltadíssimos, obrigados a fechar… E esses Soares e Sampaios, contra as medidas! Não haviam de ser, eles! Vem a Troika e diz que não há outra maneira….

 

Finalmente, pude falar em Belo Marques. Tinha ouvido o programa sobre ele no Canal Memória. Um homem de valor, compusera sinfonias, mas o país desdenhara delas, estendera-lhe a mão para outro género de composições, e assim nasceu “Alcobaça”. E também a bonita música que se me fixou na memória, por me trazer lembranças do meu pai cantando-a ao som da sua viola:

 

Na minha aldeia

Não há ódios mas estimas.

Tem-se amor pela vida alheia

Tudo são primos e primas.

Sem ambições,

Cada qual seu pão granjeia.

Há noite há serões

À luz da candeia.

 

Falámos nas tais sinfonias de Belo Marques, provavelmente arrumadas na prateleira, que não somos gente de valorizar sinfonias. Sempre valorizámos com mais ponderação jogadores de futebol. Alguma coisa havíamos de valorizar! Que a ninguém admitimos desconsiderações, pela nossa falta de valorização!

 

 Berta Brás

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