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A bem da Nação

HISTÓRIAS DA HISTÓRIA

ANGOLA - A Jinga e o Baiano

 

 

Em terras de Quiluanje-Ca-Caconda, Bento Banha Cardoso pediu ao capitão-mor de Cambambe que prevenisse o de Ambaca da disposição dos chefes do Musseque; em resposta ao que a autoridade próxima do Cuanza informou saber do levantamento refe­rido, cujo cabecilha, Angola Calunga, era seguido pelo próprio Cabouco.

 

Entrementes, o capitão-mor recebeu emissários de D. Ana de Sousa, que lhe entregaram a seguinte carta da rainha:

«Na alma estimo o vir V. M. a essa fortaleza de Ambaca para que como a pai dar-lhe conta como mandando eu umas “peças” à feira de Bumba Aquiçanzo saiu o Aire com guerra, e me salteou umas trinta “peças”, das quais mandando eu tomar satisfação, como a meu vassalo, acertou a minha guerra encontrar com uns nove homens que estavam com o Tigre na terra; e botando estes nove a vir encon­trar-se com a minha guerra fora da Pedra(1) quis Deus que dos meus fossem vencidos de onde me trouxeram seis vivos de que me penou muito que na Pedra de Aire estivessem portugueses com guerra de socorro a Aire, aos quais faço muito bom agasalho por serem vassalos de El-Rei de Espanha, a que reconheço obe­diência como cristã que sou. Ao sábado chegou aqui um criado meu, Moembo, o qual me disse que na Ambaca estava muita guerra junta, e que esperavam por V. M. para a mover contra mim a libertar os portugueses cativos, sendo que nenhuma cousa se quer levada por força, e isso é fazer-me mal a mim, e a eles, porque isso se pode fazer tudo por bem; e se alguns senhores moradores por estarem individados metem ao senhor governador, e a V. M. em cabeça que faço guerra, para se desindividarem, podem fazê-lo, que eu não quero nenhum. Contra o capitão, não se ofereceu outro nosso senhor. Hoje, 3 de Março de 1626 anos. Mande-me V. M. uma rede, e quatro côvados de grã para um cobertor, e uma colcha de mentário, e vinho bom, e uma arroba de cera de velas, e meia dúzia de canequis, e duas, ou três toalhas de mesa de rendas, e umas gravatas roxas, e avinhadas e azuis, e um chapéu-de-sol grande, de veludo azul, ou o que V. M. traz, e quatro mãos de papel. Ana rainha de Dongo».

 

A esta exposição habilidosa, respondeu o capitão-mor com não menos velhacaria:

«Recebi a carta de V. S. com gosto, e vi o que nela me relata por extenso em que já estava bem porque não costumamos aba­lar-nos senão com grandes fundamentos, nem bastam moradores de Luanda interessados para mover ao senhor governador, nem a mim a guerras injustas, quanto mais que nem eu venho fazer guerra a V. S. mais que a servi-la e a ampará-la de seus inimigos, quando V. S. tome à primeira obrigação em que nos está guar­dando com pontualidade a religião cristã a que se obrigou pelo santo baptismo, e dê licença aos quimbares(2) que se venham a seus senhores, por que eu dou palavra serão deles bem recebidos. Dos portugueses não trato porque já me parece que lhes faço mal em os tirar do bom gasalhado e tratamento que V. S. lhes faz, porque eu me dou por obrigado. A pouquidade que V. S. me pede eu lha mandarei logo; mas, como estes vão e vêm pela posta, não podem levar nada, porém eu me vou chegando, e por horas posso ser com V. S. e isso e o mais que V. S. me pede a servirei com gosto. Nosso Senhor guarde a V. S. como pode. Quiluanje-Ca-Caconda» a 15 de Março de 1626. Bento Banha Cardoso».

 

In História de Angola – Ralph Delgado

***

 

 

 

Havia (em Luanda, cerca de 1780, no governo de José Gonçalo Camera Coutinho) hum Bahianno por antonomazia o Farofa, Chicanador em Direito, Bacharel por génio, e não de profissão: Advogado à falta de Doutores, mas suspenso por Embrulhador astucto.

Não tendo outro Officio mais análogo ao seu genio para viver, dirigio hua petição ao General, para obter Provizão que lhe permitisse advo­gar, relatando a mizeria em q. se achava &a. O General não despacha; mas fasendo hüa analyse do seu trato: de hua certa, e quase commua paixão viciosa, q. o dominava; com a mizeria q. alegava, projectou dar-lhe hum despacho, q. só constasse, e não se visse. Esperou para isso occazíão de avistar-se com al­gum membro do Conclave murmurante; e ao q. lhe apareceu expôs debaixo de aparencias benignas, Lizongeiras expressoes e injenuidade com q. falava, o requerimento do Farofa, e o despacho q. o tinha difirido: concebido pouco mais, ou menos nestes termos: “Não hé pobre quem se trata, e se sustenta a A... farofa, e não convém que hum tal Doutor advogue por evitar q. a Justissa ande de Herodes para Pilatos”.

Este despacho imaginário, adubado de sal picante, passou logo a negros caracteres, e bem depreça se transcreveo de mão em mão como extracto de hum publico original; o mesmo q. o Ouvio, e o lavrou estava persuadido de q. o Suplicante o pos­suía, o Ouvidor e o Juiz de Fora, dous únicos Magistrados da terra, se derão por Satirizados nestes despacho: hum de nós, dizião é o Herodes e o outro o Pilatos; e com efeito consta, q. neste dia de inimigos, q. erão, ficarão congraçados em algua amizade; a nossa offença preciza publica satisfação; e para a obter dirigirão ao General, q. os satisfez mostrando-se offendido de semelhante impostura, em q. o seu Caracter era insultado, e os Ministros descompostos. A toda a pressa mandou lavrar uma portaria dirigida ao Juiz de Fora, para devassar deste absurdo. O Juiz comessando então a trabalhar em cauza própria, fes grandes progressos, pronunciando os Actores da Sá­tira, q. jamais mostratrão o original das copeas q. extrairão, e sepultando na enchóvia toda a assemblea mal dizente. O Ouvidor melhor instruido do disfarce, e não tendo acção para com­bater o General, se contentou em anullar a devaça do Juiz; asseitou o Agravo dos culpados; condemnou o Pronunciante; e desligou os prezos do Suplicio, não tão brevemente, q. não ja­zessem muitos mezes em prizão. Camera(3) não vio o fim desta tramóia.

 

Nadando em num mar de disgostos, q. o Ouvidor; o seu ciúme; o próprio génio; e o descontentamento do povo lhe cauzavão, comessava a afligir-se em quanto esperava os recurços da Corte para dezafogar-se. O clima parecia haver-lhe, não só pou­pado a saude, mas extinguindo a antiga enfermidade da gotta, de q. não foi aftacado des q. pizou Angola: com tudo declarou-se-lhe, como sucessora desta moléstia hua sufocação, q. de tempo em tempo o acometia; athé q. na manhã de 19 de Desembro de 1782 lhe veio tão forte, q. repentinamente o arrebatou desta vida.

 

O Juiz de Fora, lizongeado da sua amizade, e das conferencias em q. a sua conducta era abonada foi o seu Testamenteiro, e dispôs as suas Exéquias com a descencia respectiva ao seu Caracter; dando-lhe sepultura na capella do S. S. Sacramento da Igreja Cathedral, a q. assistio o Exm°. Prelado. A Plebe, que igualmente se encanta do aparato festivo, e do funebre, com tanto q. brilhe aos seus olhos, concorreo atraz da Tropa, para ver o Espectáculo, q. sim era triste, mas não lhe foi terno. Alguns enfatuados em poder, em riqueza, e independência; mas q. verdadeiramente se poderião conceituar a escoria da mais baxa classe, cometerão a iniquidade de se banquetear à funesta sorte do seu General, saudando sua morte com abundantes Licores; taes são os excessos a que con­duz a vingança.

 

In História de Angola – Elias Alexandre da Silva Corrêa

 

1.- Pungo Andongo

2.- Guerreiros livres ou cativos

3.-O governador

 

25/06/2012

 

 Francisco Gomes de Amorim

QUANDO AS AMIGAS CONVERSAM...

 

 

 

ESTÁ SECO

 

- Acha que teremos tranche? – pergunto eu, na inquietação que me aniquila a alma, sempre que as figuras sinistras dos troikos de maleta se desenham no nosso horizonte nacional.

 

Mas a minha amiga é muito prática nas questões da alma e das tranches e despachou-me deste modo:

- Isso temos, não se vive de outra maneira. Então, se eles não dessem mais dinheiro, Portugal vivia de quê? Da agricultura? Ou do mar?

 

Torci-me toda, no sentimento de humilhação em que a nulidade das nossas perspectivas nos coloca, apesar do amparo momentâneo das promessas propaladas a espaços, relativas à existência de petróleo ou ouro, que logo esmorecem e tombam, apenas surgem na imprensa, vindas não se sabe de que ponto da rosa-dos-ventos. A minha amiga diz que essas atoardas estão na mesma linha de pensamento que veicula os dados optimistas sobre as exportações e que são imediatamente desmentidos ou minimizados às vezes pelos do próprio governo que as propalou umas horas antes.

 

A propósito, lembrei os comentários do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, que ouvi ontem sobre as visitas trimestrais da Troika para conferir os nossos gastos, condenando tais visitas significativas de perda da nossa soberania, o que me caiu muito mal no pensamento - para não dizer no goto, que é menos fino, para não dizer subtil - não só porque vi nesses dizeres quanto ele se estava a desligar da política de honestidade, pelo cumprimento dos compromissos, do seu Primeiro Ministro, provavelmente já na perspectiva do salto para qualquer outro cargo da oposição quando a oposição for governo, mas também porque discordei radicalmente da teoria, achando que, muito pelo contrário, todos os emprestadores anteriores e presentes da CEE, U.E. etc., nunca nos deveriam ter entregado as suas tranches sem cá virem verificar periodicamente como estavam a ser aplicadas. Não teríamos chegado certamente a este estado de desertificação económica, e de proliferação corruptiva.

 

Mas a minha amiga achou que não valia a pena lamentarmo-nos sobre o leite derramado e mergulhou nos seus referentes de fresca data – os cem jovens de Lisboa e do Porto que foram enganados pelo vigarista que lhes prometeu trabalho na Holanda a troco de 25 euros e faltou ao compromisso (mas eu condenei os rapazes que já deviam saber pelos filmes – nossos, reais, e estrangeiros, ficcionais - que nunca se deve crer nos angariadores de trabalhadores), os homens que apanharam berbigão e tiveram que o despejar no mar porque é proibido apanhar berbigão…

 

- Já viu aquilo que eles sofrem? Primeiro, para apanhar berbigão e depois para não serem apanhados. Agora porque é proibido, não percebo bem. Se a gente tem mar e berbigões, porque não deixar viver quem vive disso? O país está seco.

 

Foi então que eu comparei este caso com o do sr. João da Esquina, que não queria tomar o arsénico recomendado pelo Doutor Daniel, o apaixonado final da Margarida, mas, antes, da Clara, e agora, da menina Francisquinha, por conveniência da mãe desta, a srª Teresa, que, insinuantemente, insistia com o marido para ele o tomar, o que o levava ao rubro na sua cólera, ao ouvi-la dizer: "Toma arsénico, menino, toma. E porque não hás-de tomar arsénico?"

 

Um país seco, tal como o sr. João da Esquina, desconfiado contra Daniel por motivos que não vêm ao caso, repelindo o arsénico da receita e respondendo com violência à exortação da esposa. Um país que não quer tomar arsénico para viver e deixar viver. Do mar, da terra, do ar…

 

Berta Brás

DEVANEIOS

NA SAGA DOS RILHÓ(S) DE CANTANHEDE

 

 

 

Da bruma dos tempos surgiu o clã dos Rilhó(s) em terras primitivas de Escumalha (Vilamar, Coimbra), ora pertencendo ao concelho de Cantanhede. Os primitivos Rilhó(s), de estirpe judaica e de procedência da Catalunha, ocuparam-se de pequenas forjas como ferreiros e armeiros.

 

Com o rodar dos anos deixaram esses ofícios para trabalhar em metais não-ferrosos (ouro e prata), uma actividade mais lucrativa. Especializaram-se como fabricantes e vendedores de objectos e peças de ouro e prata, em diversas localidades concelhias. Alguns elementos do citado clã abandonaram as forjas e dedicaram-se ao sacerdócio diocesano de Coimbra. Os Rilhó(s), ourives, vendedores ambulantes e sacerdotes, declaram-se entre si como elementos não-consanguíneos.

 

Segundo o bem conceituado ourives da praça, Manuel Braga Rilhó, ele radicou-se em Alcobaça há mais de 50 anos como sucessor do seu pai, vendedor ambulante de ouro e de prata, que a pé ou em bicicleta transportava um pesado malão, procurando compradores de porta em porta. Ele confirmou-me que no clã dos Rilhó(s) houve sempre padres, mencionando-me que vivia em Cantanhede um velho padre desse clã.

 

Contactada a família do Pe. Manuel Augusto Marques Rilhó (1916/2004), sacerdote diocesano vivendo em casa própria na companhia de duas irmãs, apurei que ele falecera com 87 anos de idade em 2004. Segundo a Geneall, o dito Pe. Manuel Augusto foi filho de Manuel Marques Rilhó (n.1888), descendente dos Rilhó(s) oriundos do Covão do Lobo e que o mesmo viera ao mundo 44 dias antes do signatário abrir seus olhos ao sol tropical de Goa! Deixou duas irmãs ora nonagenárias, um primo também sacerdote, além do irmão emigrado para Brasil, onde vivem e trabalham numerosos Rilhó(s). Na conversa telefónica com uma irmã do falecido padre, esta contou-me que vive em Setúbal um Capitão Rilhó das Forças Armadas Portuguesas. Assim se verifica que os Rilhó(s) se encontram actualmente estabelecidos em Cantanhede, Coimbra, Lisboa, Alcobaça, Barreiro, Condeixa-a-Nova et alia, sem parentesco consanguíneo.                                                  

 

Um Rilhó em Goa (1612)

 

Já no fecho do Dicionário de Goanidade, Volume I, de que me vinha ocupando desde meados de 2008, fiquei muito surpreendido que em 1612 um indu, chamado Rilhó-Naique abraçara o Cristianismo tomando o nome de António Rebelo no acto do seu batismo por missionário jesuíta. Era um natural da aldeia de Navelim (Salcete), contígua à capital concelhia. Donde teria vindo esse Rilhó apenso ao sobrenome Naique? Que respondam os mais bem entendidos… No meu modo de pensar, o pai indu deu ao seu filho o nome Rilhó dum missionário ou duma autoridade administrativa da então Província de Salcete, ora Concelho de Salcete, por simples admiração. Fora disto, era praxe corrente dos neo-cristãos receberem os nomes e sobrenomes dos seus padrinhos e dos missionários que lhe administrassem os batismos. Ele foi apenas um dos primeiros mil indus cristianizados em Salcete (jesuítas), em Bardez (franciscanos) e nas Ilhas (dominicanos et alii), todos incluídos no meu Dicionário, muitos deles com seus novos nomes batismais a partir de 1595 a 1630, como consta dum extracto de Registos existentes na Torre de Tombo de Goa.

 

Alcobaça, 02/07/2012                                              

 

 Domingos José Soares Rebelo

“Cuando ya no estemos”

Título: Cuando ya no estemos - Quando já não estivermos

 

Autor: José Antonio González Carrillo

 

Língua da publicação: Espanhol - Português

ISBN: 978-84-615-6714-0

 

 

O novo livro do autor José Antonio González Carrillo (Olivença, 1975), narra o acontecer das obras de arte, das tradições, dos factos e dos valores arquitetónicos mais íntimos e desconhecidos da cidade de Olivença e do seu contexto histórico através dos séculos.

 

Progressivamente, desde que, em 1801 Olivença sofreu a mudança de nacionalidade e o processo de espanholização, muitos dos seus valores culturais, expressões artísticas e tradições portuguesas foram sendo descontextualizadas nos âmbitos quotidianos do meio.

 

Com este pretexto e inspiração, o autor do livro, em pleno século XXI, encontra a oportunidade de revitalizar o referido património, descontextualizando-o novamente, mais uma vez; mostrando-o sob diferentes prismas, muitas vezes artificiais; utilizando recursos gráficos e montagens com documentos históricos, azulejos, obras de arte sacra ou telas, pegadas de séculos passados que temperam e reforçam o valor documental de cada página da publicação. Desta forma, e conscientemente, González Carrillo reivindica a importância de todo este conjunto patrimonial menos conhecido para denunciar que, sem ele, a personalidade atual de Olivença não poderia ser totalmente valorizada.

 

Um livro de caráter intimista e de complexa confeção, pela dispersão das obras compiladas, hoje em dia diluídas em mãos privadas e instituições, e também na sua forma de conceptualização, sempre com o inconfundível selo criativo do autor.

 

As obras de José Antonio González Carrillo, definidas pela crítica como “trabalho comprometido e de vincada personalidade criativa”, tiveram um importante acolhimento em âmbitos nacionais e internacionais, sendo a fotografia e o desenvolvimento criativo o eixo principal do seu legado artístico. O autor recebeu diversos prémios relacionados com a publicidade e a fotografia, e publicou os seus trabalhos e obras em prestigiadas revistas do setor gráfico e audiovisual de todo o mundo. Criador incansável, agora desenvolve uma intensa atividade em diferentes projetos, à procura, com o seu particular olhar, do motor da sua criação mais essencial e pessoal.

 

Outros livros do autor: Oliventinos (2005), Saudade (2006), Olivenza oculta (2009), La herencia portuguesa en las cofradías de Olivenza (2010), Almas da Magdalena (2011).

 

O livro será apresentado na sexta-feira 14 de setembro, às vinte horas espanholas, no Museu Etnográfico “González Santana” de Olivença.

 

Vídeo promocional do livro, no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=d-B_7EmsE5Q

  António Marques

CINCO QUADRAS DE ANTÓNIO ALEIXO

(*)


Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.

Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.

Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.

Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.


António Aleixo

 

(*)http://www.google.pt/imgres?q=antónio aleixo loulé&um=1&hl=pt-PT&sa=N&biw=1192&bih=561&tbm=isch&tbnid=MnVYYmxvJ_wghM:&imgrefurl=http://www.igogo.pt/estatua-de-antonio-aleixo/&imgurl=http://cdn4.igogo.pt/fotos/01/70/estatua-de-antonio-aleixo.jpg&w=375&h=255&ei=01E-UKy_OIiIhQfToYH4Aw&zoom=1&iact=hc&vpx=592&vpy=262&dur=1615&hovh=185&hovw=272&tx=112&ty=119&sig=109766553202599468647&page=1&tbnh=116&tbnw=155&start=0&ndsp=23&ved=1t:429,r:19,s:0,i:131

COISAS DA ÍNDIA – 2

 

BASTIÃO PIRES EM COCHIM

 
 

Quando Bastião Pires chegou a Cochim os mecanismos da religião católica estavam já a funcionar perfeitamente e existiam muitas conversões: mulheres que se tinham ligado a soldados, marujos, comerciantes, à ralé, prostitutas que o constante e progressivo aumento da chegada dos portugueses veio aumentar o desejo de muitas mulheres nativas exercerem a mais antiga profissão do mundo.

 

Na propagação da fé cristã, os missionários do Padroado Português do Oriente não procuravam gente de qualidade ou de casta pura. Todas serviam e eram muito bem recebidas. Interessava, apenas, conseguir a conversão de grandes multidões. A selecção desses novos fiéis ficava para depois. A prostituição veio a ser um quebra-cabeças para Afonso de Albuquerque, porque pretendia que os seus homens não fossem atingidos pelas doenças venéreas, já muito desenvolvidas na Índia.

 Já antes de Albuquerque, em 1506, Dom Francisco de Almeida se insurgia contra as "mulheres de vida fácil". Desejava pôr termo e encerrar as casas de "porta aberta" de Cochim mas o hábito dos homens lusos de procurar essas mulheres já vinha de 1498, quando fizeram parte da armada de Vasco da Gama e descoberto o Caminho Marítimo para a Índia.

 

Onde as naus aportavam, os homens ataviados de cio pela longa permanência de meses nas águas dos oceanos, saíam para terra em busca do que a natureza do corpo lhes pedia. Vasco da Gama, na escala que fez em Quilôa em 1502, com a segunda armada para a Índia sob o seu comando, foi de tal ordem desassossegado por mulheres nativas e pelos seus homens que permitiu o acesso a bordo de 40 mulheres, que de suas vontades seguiram até Cochim.

 

Por lá ficaram depois. Antes de partir para conquistar Malaca, Albuquerque escolheu um local onde construir uma igreja afastada da fortaleza e substituir a capela dentro do baluarte. Mediu o terreno em frente do ancoradoiro das naus. Encomendou a obra e pensava Albuquerque que no regresso de Malaca estaria concluída mas tal não viria a acontecer durante os seus dois anos de afastamento. O empreiteiro tinha falecido e sumido o dinheiro adiantado. Bastião Pires, já Vigário de Cochim, informou El Rei Dom Manuel ter pedido dinheiro ao Vedor da Fazenda para as obras mais importantes. O Vedor respondera-lhe que a Fazenda não tinha provisões e o pouco, se ainda existisse, era bem melhor utilizá-lo em favor dos portugueses que em Cochim morriam à fome.

 

Bastião Pires decidiu ele próprio construir a igreja pedindo esmolas aos fiéis conseguindo valiosas dádivas de pardaus de ouro. Apesar de tanto ouro oferecido, a igreja ainda não estava construída em 1527. Em 1532, o novo vigário, Padre Manuel Vaz, comunicava ao Rei D. João III ter encontrado a igreja coberta de palha.

 

Com virulência atirava as culpas e o desleixo para Bastião Pires: «As obras da casa da oração não são mais, tão pouco menos que obras de Santa Ingrássia». Passado mais de nove anos, em 1514, uma carta da Câmara da cidade transmite ao Rei, em Lisboa que «....a igreja de Cochim estava cuberta de ola e feita hum palheiro».

 

 José Gomes Martins

(Bangkok)

 

http://portugalnatailandia.blogspot.com/2010/06/coisas-da-india-os-pecados-de-bastiao.html

NOTÍCIAS DO RIO + ?????

Notícias dos últimos dias:

1.- A Rio+20... ficou para daqui a 20 ou 100 anos;

2.- O lula foi beijar a mão do seu arqui inimigo maluf (esperto este bandido, hein?)

3.- A previsão do PIB para 2012 continua a cair. Agora é de 2,18%. Começou o ano com 5% !!!

4.- O nível de desemprego aumentou. Há SÓ mais 400.000 deesempregados do que no mesmo período do ano passado

5.- Entretanto a previsão de inflação (com os métodos meditórios do governo) irá para 4,95 (olha o preciosismo!)

6.- A dívida pública federal (aqui não entram as dívidas dos estados e municípios!!!) está SÓ em R$ 1,9 trilhões.

 

 

 

7.- Parece que o Deus, que era brasileiro, pediu asilo político, mas não sabe, ainda, onde!

 

Rio de Janeiro, 26 de Junho de 2012

 

Francisco Gomes de Amorim

PORTUGAL, O MUNDO MUÇULMANO E A EUROPA

 

“Em muitas coisas não pareces sucessor

de Pedro, mas sim de Constantino”

S. Bernardo, ao Papa Eugénio

 

 

No fim do século XI, princípios do XII, a Europa Cristã estava cercada.

 

A Norte pela calote polar; a leste por eslavos hostis e pela ameaça constante de Mongóis e Tártaros; a Sul e SE pelos povos islamizados, em rápida expansão. Esta expansão tinha, até, ocupado toda a Península Ibérica em poucos anos, a partir de 711, sendo travados por Carlos Martel, em 732, já no actual Sul de França.

 

    Uma pequena bolsa de cristãos resistiu, porém, nas Astúrias e foi a partir daí que a Reconquista teve inicio, a partir do séc.IX. A navegação desde o Mediterrâneo até à Corunha não era dominada por nenhuma das partes e os conflitos eram constantes.

 

    No princípio do século XII um magistral personagem que ficou conhecido na História por S. Bernardo, abade de Claraval (1090-1153) – a quem devemos muito da Europa que herdámos – ajudou a delinear uma estratégia para aliviar e resolver este sufoco (cerco): atacar directamente o Islão no seu coração – e libertando a cidade santa de Jerusalém – e conter ou expulsar as ameaças nos flancos.

 

     Esta estratégia já vinha do tempo em que o Papa Urbano II pregou a Cruzada (o que aconteceu pela 1ª vez, em 1095, no Concilio de Clermont Ferrand) e incentivou a saída dos sarracenos da “Ibéria” – a Cruzada do Ocidente (que só se concluiu com a queda de Granada, em 1492). Tudo isto se veio a apoiar na criação e desenvolvimento das Ordens Militares e Religiosas, em que se distinguiram a Ordem Teutónica (fundamental para conter

as hordas bárbaras vindas de leste) e os Templários. Estas Ordens organizavam e enquadravam a colonização das terras libertadas e garantiam a sua defesa.

 

 

São Bernardo de Claraval O.Cist
Bernard of Clairvaux - Gutenburg - 13206.jpg
São Bernardo de Claraval, representado em A Short History of Monks and Monasteries de Alfred Wesley Wishart, 1900
Abade de Claraval e Doutor da Igreja (Doctor Mellifluus)
Nascimento?1090 em Castelo de Fontaine-lès-Dijon, Borgonha
Morte20 de Agosto de 1153
Canonização18 de junho de 1174 por: Papa Alexandre III
Festa litúrgica20 de Agosto

 

    D. Afonso Henriques correspondeu-se com o Abade de Claraval – e é possível que ainda fosse seu parente – e Portugal muito deve a este monge (e estratega), depois Santo e doutor da Igreja, a sua independência.

 

    Toda esta estratégia teve um sucesso parcial (não conseguiu destruir o Islão nem segurar Jerusalém), mas garantiu, com o desenvolvimento dos estados/nações europeus, a segurança das fronteiras da Europa, com uma zona de fractura nos Balcãs.

 

    O declínio dos povos árabes e assimilados do Norte de África, bem como dos Persas, foi compensado com o Império Otomano cujo alargamento foi parado em Lepanto, em 1571 e às portas de Viena, em 1525 e 1683 (sendo atacado pela “retaguarda”, pelos portugueses, a partir de 1497), e circunscrito basicamente à Península da Anatólia, após os turcos terem sido derrotados na IGG. Durante 500 anos a guerra marcou sempre a sua presença.

 

    A expansão europeia pelas quatro partes do mundo e o seu poderio crescente, levou a que várias das suas potencias ocupassem a maioria dos territórios islamizados do Norte de África e do Médio Oriente, durante o século XIX e princípios do XX.

 

    Na sequencia da II GM e com a evolução do Direito Internacional e os “ventos” de autodeterminação dos povos, cada um destes países foi ganhando a sua independência baseada nas fronteiras coloniais e herdando todas as vicissitudes da sua atribulada História.

 

    A complicar toda esta situação foi criado na Palestina, em 1948, o Estado de Israel, acabando assim um vácuo político da “nação” judaica que durava há cerca de 2000 anos. Um evento único na História da Humanidade.

 

    Esta ocorrência deve-se, fundamentalmente, à acção do movimento Sionista fundado pelo húngaro Teodor Herzl (1860-1904), e cujo primeiro congresso teve lugar em Bale, Suíça, em 1897; no sentimento de culpa europeu e sequelas por causa do “Holocausto” e, sobretudo, pelas promessas do governo inglês feitas durante a IGG (declaração de Balfour, de 1917), entregue ao Barão de Rotchild, um dos principais apoiantes da causa sionista, em troca do apoio desta à entrada dos EUA na guerra, contra os alemães. Um facto muito pouco estudado e evidenciado por historiadores, políticos e diplomatas…

 

    Ajudava ao caso, o facto da Grã – Bretanha deter o mandato para a administração da Palestina, outorgado pela defunta Sociedade das Nações, em 1922.[1]

 

   Ora a instauração do Estado de Israel, do modo como foi feita e pela não resolução adequada da situação dos povos que por lá habitavam havia séculos, levaram à não aceitação do “status quo”, por parte da grande maioria do mundo muçulmano, o que tem originado, desde então, várias guerras, terrorismo internacional e uma instabilidade permanente.

 

    Jerusalém é, por via de tudo isto, um epicentro que está sempre na linha da frente de uma deflagração bélica a nível mundial.

 

    A decadência de séculos, a memória de uma antiga civilização florescente, a ocupação colonial europeia, as sucessivas derrotas militares e a pobreza endémica em contraste com a opulência malsã das cliques de governantes, transformaram a reconhecida resignação do árabe num sentimento de profunda humilhação e revolta.

 

    O único traço de união e esperança é a religião, a que se agarram como tábua de salvação e coesão por não lhes restar mais nada. Mas, por outro lado, é a própria religião, pelas imposições dogmáticas que faz e por querer dominar o pensamento, a vida social e o próprio Estado, que impede qualquer progresso e evolução. Por isso a investigação científica quase desapareceu, as artes plásticas não têm expressão, a literatura é pobrezinha, enfim a cultura e o engenho definharam. O mundo muçulmano não inventa nem cria nada que se veja, desde o século XII…

 

    A baralhar ainda mais as coisas existem divisões religiosas profundas, entre muçulmanos, as mais visíveis das quais são entre Sunitas e Xiitas.

 

     Como pano de fundo actual, devemos ainda considerar duas realidades da maior importância: a primeira é a dicotomia entre a “UMA” e os regimes políticos que governam os respectivos povos; a outra é a geopolítica do petróleo (e gaz natural).

 

     A UMA representa a comunidade dos crentes, ou seja a irmandade de todos os povos submetidos ao Islão. Esta ideia é universalista e não entende a necessidade de fronteiras ou de estados diferenciados. Aspira a um novo “Saladino”que una todos os crentes numa única humanidade…Esta ideia percorre transversalmente todos os povos islamizados e torna-se, por vezes, antagónica da existência de poderes diferenciados e locais. A realidade politica definida pelas fronteiras coloniais apenas serve para exacerbar este conflito.

 

     A geopolítica do petróleo torna o Ocidente refém da sua importância, dado que as sociedades desenvolvidas basearam a sua riqueza e progresso material nos combustíveis fósseis. E deixaram desenvolver-se, no seu seio, verdadeiros “estados dentro do estado” que são os colossos das grandes companhias que exploram e negoceiam o produto. Ao ponto dos interesses destas multinacionais chegarem a sobrepor-se ao interesse dos países ocidentais. Agora também da Rússia.

 

     Ou seja não se faz o que se deve, mas sim o que interessa a este negócio/dependência.

 

    Por outro lado os povos dos países muçulmanos produtores não se sentem tocados, na sua generalidade, com os benefícios que esta enorme riqueza e “arma” estratégica lhes poderiam proporcionar.

 

    O resultado é o aumento das tensões sociais, a pobreza arrastada e a falta de qualidade de vida; a demografia galopante, cuja tradição social, imperativos religiosos e interesses políticos, potencia, vai obrigar à emigração em massa, por causa do desemprego existente.

 

    As maiores vitimas deste fluxo migratório, que se descontrolou, foram os países europeus da margem norte da bacia mediterrânica.

 

     A situação está prestes a gerar conflitos insanáveis devido ao excesso de permissividade das leis das sociedades ocidentais e porque as comunidades islâmicas não se integram, por norma, nos países de acolhimento.

 

     As tentativas dos países da UE em os integrar falharam redondamente e as tentativas para dourarem a realidade com o “multiculturalismo”não resistem à mais leve análise. A recente confissão da Srª Merckel deu – lhe o golpe de misericórdia.

 

     Mesmo iniciativas políticas para melhorar o comércio e o desenvolvimento económico e social, como foram as 5+ 5 e a Declaração de Barcelona, respectivamente em 1990 e 1995, foram tardias e pouco lograram e os recentes eventos mataram-nas de vez.

 

     Finalmente a constituição de duas forças militares da UE, para o Mediterrâneo, a Euroforce e a Euromarforce, criadas em 1995 (em que participam forças da França, Espanha, Itália e Portugal), foram vistas pelos países do Magreb, como uma ameaça.

 

     E foi assim que chegámos à actual sucessão de eventos de revolta político/social, que varre todo o mundo islâmico de Marrocos ao Iémen, com um efeito de dominó notável. E que, tanto quanto se sabe, “ninguém” provocou ou previu. E não parece ir parar por aqui…

 

    Para a Europa a que pertencemos, estes eventos além de irem evidenciar, mais uma vez, as perplexidades europeias e a falta de entendimento crónico e atempado dos “27”, vão ter reflexos previsíveis em quatro áreas fundamentais:

  • Aumento do preço do petróleo/gaz e perturbação no seu mercado;
  • Aumento, por arrastamento, de todos os restantes bens, de que os mais graves parecem vir a ser, os alimentos;
  • Instabilidade/ameaça relativamente ao investimento já efectuado, ou a efectuar, nos países atingidos;
  • Aumento da emigração e possível exacerbar das tensões entre as comunidades de emigrantes, já existentes.

     Acresce a todo este quadro as incógnitas em catadupa relativamente à estabilização político/social em cada um dos países ora afectados pelas sublevações populares. Cada um irá ter o seu “processo revolucionário em curso”…

 

     E não é estimável que se venham a estabelecer regras de estado de direito democrático, como são entendidas no Ocidente (embora a sua prática deixe muito a desejar), em virtude das tradições politicas, culturais e religiosas dos povos em questão. E é difícil de prever o grau de influência do “Fundamentalismo Islâmico”…

 

    A perigosidade do momento aconselhava a que os países europeus (já que persistem na ideia da União), abandonassem a única coisa que têm sabido e tido a coragem de fazer, que é a de aproveitar as crises ou o seu intervalo, para fazerem uns negócios e tentar resolver as crises politico/sociais com subsídios a esmo. Não tem sido bonito nem eficaz.

 

      Melhor seria imporem regras estritas dentro dos seus territórios, relativamente ao comportamento dos emigrantes. Quem chega integra-se e cumpre a lei; quem não quer não entra ou é expulso na hora. Ponto final. A emigração tem, aliás, que ser parada, por uma simples razão demográfica: com os números actuais a Europa desaparecerá em poucas décadas. É tão simples quanto isto e não há “direitos humanos” que nos valham!

 

     A Europa, isto é, os países europeus, têm que voltar a querer defender-se. Têm que ter uma estratégia e esta não existe sem Forças Armadas a sério. Os conflitos e as guerras não vão desaparecer.

 

    O modelo de desenvolvimento tem que voltar a ser baseado em valores (respeitar o dos outros não quer dizer destruir os nossos…), e não no negócio a qualquer preço. E já se devia ter, há muito, começado a encarar seriamente alternativas aos combustíveis fósseis.

 

    Os problemas dos países muçulmanos têm que ser confinados e resolvidos por eles próprios. E as relações têm que ter reciprocidade, isto é, se não deixarem construir igrejas nos seus países, por ex., nós não podemos fechar os olhos a isto e facilitar os pedidos das suas comunidades…

 

     Ter estadistas que entendam o que se passa e tenham nervo para tomar medidas sérias e difíceis, parece ser uma miragem enquanto os políticos forem escolhidos maioritariamente nos oriundos das juventudes partidárias e eleitos em pugnas circenses de grande visual e medíocre substancia.

 

     Entre nós, portugueses, passámo-nos a julgar “pequeninos” e por isso nos tornámos indigentes e saloios. Senão atalharmos caminho, brevemente teremos os nossos dias de “raiva”.

 

25.02.2011

 

 João J. Brandão Ferreira

                                                           TCorPilAv (Ref.)    

 


[1] Outro ponto pouco conhecido, mas curioso, tem a ver com o facto de se ter pensado instalar o Estado de Israel, no planalto angolano…

 

In http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/

QUANDO AS AMIGAS CONVERSAM...

 

UMA FAMÍLIA INGLESA

 

- Tudo é espetado nas revistas, na televisão, nos jornais, na Internet… – começou a minha amiga, a propósito das fotos que topou de um neto da rainha Isabel II, o príncipe Harry, filho mais novo de Carlos e Diana. Todo nu, a fazer sexo com uma rapariga, isto para a família deve ser vergonhoso. Hoje não se pode fazer nada. É uma coisa que toda a gente sabe. A Internet é a autoestrada do conhecimento. Até o rabo do príncipe lá mostra. Mas a coisa mais engraçada é levar a coroa da avó. Se as pessoas tivessem vergonha já nem conseguiam viver. Vergonha é uma palavra que vai desaparecer. Daqui a uns anos os miúdos perguntarão? “Vergonha o que é que quer dizer?”

- Ai, mas os miúdos perguntam sempre tudo, pelo menos quando são curiosos. Há os que se fecham na ignorância. E também os que já sabem tudo e não admitem explicações.

Mas a minha amiga, quando está embalada nos seus actos locutórios - para aplicar uma expressão de cariz científico, mais consentâneo com a natureza solene do assunto versado, em torno de uma família real – nem se debruça para ouvir melhor, numa impassibilidade sintomática do desprezo pelo meu desconhecimento dos factos assinalados. Prosseguiu:

- Antigamente era mais discreto, as difamações faziam-se honradamente, quer por carta anónima, quer por ingénuo telefonema também aparentemente anónimo, embora facilmente identificável, depois veio a chusma dos paparazzi, que até causaram a morte da mãe do Harry, de tão empenhados… Eles agora fazem para a Internet. Está em todas as televisões. “Olha, o que é que vocês são mais que os outros?” É o que pensam os pesquisadores dos escândalos sociais. Aquele rapaz vai dar cabo da cabeça à família. Tem tudo à disposição, é simpático… Muita gente dirá que ele tem direito, é novo. Mas não sei se ele tem culpa ou não. Aquela gente sofre, realmente. Família sofre!

Eu considerei que aquela família inglesa já estava habituada há muito tempo e tinha dinheiro para apagar os efeitos dos seus escândalos e a minha amiga concordou, sem qualquer resquício de caridade:

- Eles têm tantas regalias, podem ter estas preocupações.

Também se falou nos escândalos do Vaticano e a minha amiga não deixou de exclamar:

- O que aquele Vaticano deve ter de histórias macabras! Foi preso o secretário do Papa. Cada vez as histórias são mais edificantes. Mas antigamente não saíam cá para fora.

Nesse ponto eu discordei, com os meus conhecimentos obtidos na adolescência, através de um livro do meu pai, escondido por trás dos livros lisíveis da sua estante, que era sempre eu quem arrumava para descobrir as preciosidades desse mundo encantado da nossa casa. Chamava-se “O Convento Desmascarado” e revelava muitas dessas coisas não propriamente edificantes, embora não pertencessem ao Vaticano.

Mas eu vinha impressionada de casa com uma notícia que escutara nessa manhã, e ainda não tivera oportunidade de expor o meu desagrado. Era sobre um congressista norte-americano – Todd Akin – candidato a senador a quem ouvira um abjecto pedido de desculpas pela sua tese sobre o não necessário engravidamento das mulheres violadas, o que o fizera descer no favoritismo eleitoral.

- O candidato perdeu votos muito justamente, considerou a minha amiga. A menos que ele veja a situação desta maneira: No momento do acto, a rapariga que vai ser violada diz: “Pára aí!” E põe o preservativo de segurança.

 

Berta Brás


 

POSTAIS ILUSTRADOS LVIII

 

 

LESA-PÁTRIA III

PARTE II

 

A nossa dignidade consiste no pensamento.

Procuremos pois pensar bem. Nisto reside o princípio da moral.

 Blaise Pascal

 

 

 

 (*)

 

Estou quase no final da apreciação desta parceria entre o Estado (concedente) e a Lusoponte (concessionária) e tenho de reconhecer que o Governo se dedicou a esta problemática concluindo, já com êxito, três renegociações de parcerias e que deram para pôr parte da casa na ordem, culminando nalguma poupança. Alguns, já eufóricos, falam em poupança significativa, mas só em presença dos números públicos se poderia concluir isso. É que só certificando-nos que essas Parcerias Público Privadas, renegociadas, não prejudicaram fortemente o Estado concedente, por via dos acordos que estavam a ser aplicados, poderíamos tirar conclusões próximas da factualidade, se conhecêssemos, na íntegra, a realidade.

 

Diria que estamos, nestas negociações, em presença de dois soberanos: a dor e o prazer (1). Dor para quem fica lesado e prazer para quem fica, significativamente, beneficiado, ou seja, com a parte de leão. Mas, já lá irei.

 

Prossigamos…

 

Ora, afirma-se, a páginas 27 do Relatório de Auditoria em apreciação que, na verdade, o Estado concedente se tornou o mais importante e decisivo financiador da concessão, sem a explorar (destaque e sublinhado meus). O mesmo é dizer, se não estou errado, que o Senhor Investidor que investiu num projecto meu, financia o meu projecto, mas não recebe nada. Ele fica com os riscos e eu assumo os lucros. O felizardo sou eu, que tenho prazeres, sem ter as dores do risco.

 

Lá para a página 39, os Auditores do Tribunal de Contas surpreenderam-se com a inexplicável atitude do concedente que negoceia e aceita ser gravemente penalizado por alterações às condições de financiamento, que acabam por configurar-se numa espécie de modificações unilaterais; mas agora impostas pela concessionária e no seu evidente interesse, ou seja, alguém usou do poder que tinha – ou lhe foi cedido – para, unilateralmente, se impor, beneficiando com a demonstração de força. A força do leão!

 

Por outro lado, tenho ainda de salientar que o Estado concedente foi pronunciado como manda o figurino, (boa prática processual), para que se defendesse, podendo argumentar de sua justiça, em contraditório. O Estado apresentou uma argumentação conjunta, subscrita pelos Senhores Secretários de Estado do Tesouro, Finanças e das Obras Públicas, do Governo de então.

 

O mais esclarecedor é que o Instituto das Estradas de Portugal, na qualidade de representante legal do Concedente, não apresentou qualquer argumentação, em defesa das suas decisões, tomadas no decorrer das negociações e nos acordos que foram fragilizando, sucessivamente, a posição do Estado.

 

E nesse contraditório, o Estado requereu a reformulação global do relatório de Auditoria do Tribunal de Contas. Porém, contestando, os Auditores concluíram que não vislumbraram qualquer motivo que fundamentasse o requerido, conforme está escrito nas conclusões finais plasmadas no final da página 82 do Volume II.

 

Permito-me, ainda, fazer referência a algumas das declarações de voto dos Senhores Juízes Conselheiros que concluíram, designadamente, que a argumentação do Estado, no contraditório, foi pobre e deficiente; que existem elementos que apontam no sentido de não terem sido devidamente acautelados os interesses financeiros do Estado concedente; e um dos Senhores Juízes Conselheiros aponta, também, o facto de "o comportamento negocial do concedente é em minha opinião passível de um juízo público de censura" (destaque e sublinhado meus).

 

Não detectei qualquer iniciativa para corrigir as ilegalidades apontadas, nem de que alguém tenha sido chamado à responsabilidade. Talvez, agora, nas renegociações se tome essa atitude, para esclarecimento dos eleitores, para que a receita do Estado seja aumentada e a despesa pública corrigida! O Estado continuou a pagar à Lusoponte milhões de euros indevidos. Passou-se, até, aquela dessintonia pública, entre a concessionária e o concedente quanto ao recebimento e pagamento das taxas de portagem da Ponte 25 de Abril, no mês de Agosto. Terei sido suficientemente claro?!...

 

Ainda assim, em anotação abaixo, referencio-vos o quadro que faz a demonstração do crescente agravamento dos custos e riscos para o Estado e que em condições normais caberiam à esfera jurídica da responsabilidade da concessionária.. Façam uma consulta ao referido mapa e tirem as conclusões que acharem por bem. (2)

 

E, a partir daqui, resta-me deixar algumas notas conclusivas:

 

- Começo por referenciar que há fortes indícios da existência de pactos leoninos que infectaram as sucessivas alterações ao acordo global de 1995, elaborado com fundamento nas Bases aprovadas pelo Decreto-Lei nº 168/94, de 15 de Junho. Em cada alteração seguinte existe uma intentio de praticar a violação das referidas Bases, com vista a ir melhorando a posição da concessionária, com o aumento, cada vez maior, dos riscos do Estado concedente e aumento que eu classificaria de imoral, para não dizer criminoso - das suas participações financeiras à concessionária. Os relatórios públicos de apresentação de contas, provam-no.

 

- Que se conheça não houve consequências, provavelmente porque o artº 994º do Código Civil, que considera que tais actos são nulos, passou despercebido a toda a gente envolvida nas negociações. Ou não passou e assobiaram para o lado?

 

- Concordo que o Governo tem feito algum esforço nas renegociações e tem conseguido recuperar algumas das posições mais desequilibradas e prejudiciais ao Estado. Mas, e o dinheiro que foi sendo pago, indevidamente, ao longo de todos estes anos de regabofe? Não é devolvido? Nem que seja a prestações? Esta era mais uma forma de equilibrar a derrapagem da receita, mas, a meu ver, o problema não está, tanto na derrapagem da receita, mas sim, na falta de controlo da despesa públicaEsta falta de controle da despesa, exige uma reforma administrativa, clara, decisiva e corajosa. Corre, na Internet, a seguinte informação. Temos 3 governos no continente e ilhas; 333 deputados no continente e ilhas (3); 308 câmaras; 4.259 freguesias; 1.770 vereadores; 30.000 veículos, se não forem mais; cerca de 40.000, estruturas dependentes do Erário Público, entre fundações, associações, onde se incluirão 1.284 serviços centrais, institutos públicos, empresas públicas e empresas municipais e, mais alguns trocos, tais como, observatórios (119) e outros não tão identificáveis à vista desarmada, tais como uma montanha de assessores e de aquisições de serviço não especificadas, que envolvem pequenos contratos de prestação de serviços, normalmente, da competência de quadros dirigentes superiores. Os novos boys for the jobs, cuja existência nos prometeram ir ser controlada e moderada. O número de nomeações públicas é prova de que os actuais partidos continuam agências de emprego público e por aí adiante. Segundo algumas vozes, o Governo precisa de tomar novas medidas de austeridade? Quais? Mais impostos? Novo aumento do IVA? Numa economia já altamente recessiva?

Senhor Primeiro-Ministro, ordene que se intensifique a racionalização efectiva dos serviços públicos; mande renegociar as restantes parcerias público privadas, mas todas as que faltam!!! – incluindo as da Saúde - e exija a devolução, ainda que parcelada, dos dinheiros que foram indevidamente pagos pelo Estado a todas estas verdadeiras aberrações jurídicas. É um substancial encaixe!

 

É que "É o princípio da felicidade, que sustenta tanto o princípio da moral, como o da legislação" (4)

 

Legisle e mande publicar!… Faça-nos felizes!

 

 Luís Santiago

 

(1) Jeremy Bentham, in "Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação" fala-nos de dois soberanos: a dor e o prazer: Filósofo inglês (1748-1832).

(2) Página 28 do já citado Relatório de Auditoria.

(3) Para a Assembleia da República Portuguesa ter um número de deputados, em percentagem equivalente à da Alemanha, teria de reduzir substancialmente.

(4) Página 318, do Livro "OS GRANDES MESTRES DA ESTRATÉGIA. Estudos sobre o poder da Guerra e da Paz". Editores Científicos, Ana Paula Garcês e Guilherme d’Oliveira Martins; Editora Almedina, Setembro de 2009.

 

(*)http://www.avozdeportugal.com/wallpaper/portugal/ponte25deabril.jpg

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