A selecção de notícias continua na sua deriva masoquista. A malta quer mesmo ver Atenas em Lisboa. Não sei se isto resulta da doença esquerdista (o governo é de direita, logo, não podemos dizer nada de positivo sobre o país) ou da doença queirosiana (isto é uma choldra), mas o certo é que começa a ser aflitiva a forma como as narrativas dos media não enquadram os factos positivos que estão a ocorrer em Portugal. Sim, factos e não meras opiniões.
E, por falar em factos, o último relatório do INE sobre o comércio internacional de Portugal devia ser música para os nossos ouvidos. Nos primeiros quatro meses do ano, a taxa de cobertura das importações pelas exportações ultrapassou os 80%. Os mais velhos dizem-me que não se lembram de uma coisa assim. O José Gomes Ferreira até fez uma pergunta retórica elucidativa: "há quantas décadas não acontecia isto?". E sabem o que é ainda mais engraçado? Se retirarmos destas contas os combustíveis e demais derivados do petróleo, o saldo da nossa balança comercial já é positivo em 150 milhões de euros. Nem o mais optimista dos optimistas poderia conceber um ajuste tão rápido da sociedade portuguesa, que começou a poupar a sério, que aumentou exportações enquanto diminuiu importações. Estas eram as três coisas que tínhamos de fazer. O resto é fumaça.
Este caminho é duro, mas é o caminho certo. Queriam o quê? Que o Estado continuasse a gastar receita fiscal e dívida no "crescimento" das PPP? Queriam que as famílias continuassem a consumir como se não existisse amanhã? Ao não consumirem, as famílias criam problemas em alguns sectores, mas geram a poupança que será fundamental a médio prazo. Lembrem-se que a troika está estacionada no Terreiro do Paço, porque o país inteiro dependia (e ainda depende) de dinheiro do exterior. Nós tínhamos de retirar o Estado e as famílias desta toxicodependência do crédito, suportando a ressaca inerente ao fim desse vício. E quem defender o contrário é que é "neo liberal". Sim, os críticos da austeridade são os verdadeiros fantoches dos tais "mercados financeiros".
É agora evidente que a principal causa da crise do euro reside na renúncia do direito de emitir moeda por parte dos estados-membros, a favor do Banco Central Europeu. Os estados-membros não compreenderam tudo o que essa renúncia implicava – e as autoridades Europeias também não o compreenderam.
Quando o euro foi introduzido, os reguladores permitiram que os bancos comprassem quantidades ilimitadas de obrigações de dívida pública sem constituir quaisquer reservas de capitais próprios e o BCE garantiu todas as obrigações de dívida pública da zona euro em condições equivalentes. Os bancos comerciais encontraram vantagens na acumulação de obrigações dos países mais fracos para auferir mais alguns pontos base, o que causou uma convergência de taxas de juro por toda a zona euro. A Alemanha, lutando com o fardo da reunificação, empreendeu reformas estruturais e tornou-se mais competitiva. Outros países aproveitaram fortes expansões na habitação e no consumo sustentadas por crédito barato, tornando-os menos competitivos.
Depois veio a crise de 2008. Os governos tiveram que resgatar os seus bancos. Alguns deles viram-se na posição de um país em desenvolvimento que se endividara pesadamente numa divisa que não controlava. Reflectindo a divergência no desempenho económico, a Europa tornou-se dividida entre países credores e devedores.
Quando os mercados financeiros descobriram que obrigações soberanas supostamente livres de risco poderiam ser forçadas a um incumprimento, aumentaram dramaticamente os prémios de risco. Isto tornou potencialmente insolventes os bancos comerciais, cujos balanços continham grandes quantidades de obrigações deste tipo, dando origem à simultânea crise Europeia da dívida soberana e da banca.
A zona euro está agora a imitar o modo como o sistema financeiro global lidou com essas crises em 1982 e novamente em 1997. Em ambos os casos, as autoridades internacionais infligiram sofrimentos na periferia de modo a proteger o centro; agora a Alemanha está a desempenhar inadvertidamente o mesmo papel.
Os detalhes diferem, mas a ideia é a mesma: os credores estão a transferir o fardo inteiro do ajustamento aos devedores, enquanto o “centro” evita a sua própria responsabilidade pelos desequilíbrios. Interessantemente, os termos “centro” e “periferia” entraram em uso de um modo quase desapercebido. Contudo, na crise do euro, a responsabilidade do centro é ainda maior do que era em 1982 ou 1997: o centro desenhou um sistema monetário defeituoso e falhou na correcção dos defeitos. Nos anos 1980, a América Latina sofreu uma década perdida; um destino similar espera a Europa.
No início da crise, uma desagregação do euro era inconcebível: os activos e responsabilidades denominados numa moeda comum estavam tão interligados que uma desagregação teria levado a um colapso incontrolável. Mas, à medida que a crise progrediu, o sistema financeiro tem-se reordenado cada vez mais ao longo das linhas nacionais. Esta tendência ganhou ímpeto em meses recentes. A operação de refinanciamento de longo prazo do BCE permitiu aos bancos espanhóis e italianos comprar as obrigações dos seus próprios países e beneficiar do diferencial de taxas. Simultaneamente, os bancos preferiram eliminar activos fora das suas fronteiras nacionais e os gestores de risco tentaram equilibrar activos e responsabilidades internamente, em vez de no seio da zona euro como um todo.
Se isto continuasse por alguns anos, uma desagregação do euro seria possível sem um colapso, mas deixaria os países credores com grandes direitos sobre os países devedores, que seriam difíceis de cobrar. Para além das transferências e garantias intergovernamentais, os direitos do Bundesbank sobre os bancos centrais dos países periféricos no âmbito do sistema de compensação Target2 totalizavam 644 mil milhões de euros (804 mil milhões de dólares) a 30 de Abril e o montante está a crescer exponencialmente, devido à fuga de capitais.
Portanto, a crise continua a crescer. As tensões nos mercados financeiros atingiram novos máximos. Mais revelador é que o Reino Unido, que reteve o controlo da sua divisa, goza das remunerações de dívida mais baixas da sua história, enquanto o prémio de risco sobre as obrigações espanholas está num novo máximo. A economia real da zona euro está a decair, enquanto a Alemanha está a florescer. Isto significa que a divergência está a aumentar. As dinâmicas políticas e sociais também estão a contribuir para a desintegração. A opinião pública, como ficou expresso em recentes resultados eleitorais, está cada vez mais oposta à austeridade e é provável que esta tendência continue até que a política seja revertida. Algo terá que ceder.
Na minha opinião, as autoridades têm uma janela de três meses durante a qual ainda conseguirão corrigir os seus erros e reverter as tendências actuais. Isso requererá medidas políticas extraordinárias para levar as condições mais perto do normal e que deverão respeitar os tratados existentes, que poderiam então ser revistos numa atmosfera mais calma para prevenir a recorrência de desequilíbrios.
É difícil, mas não impossível, identificar algumas medidas extraordinárias que cumprissem estes duros requisitos. Teriam que atacar os problemas da banca e da dívida soberana simultaneamente, sem negligenciar a redução das divergências de competitividade.
A zona euro precisa de uma união bancária: um esquema Europeu de seguros de depósitos para refrear a fuga de capitais, uma fonte europeia para financiar a recapitalização bancária, e supervisão e regulação por toda a zona euro. Os países altamente endividados precisam de alívio dos seus custos de financiamento. Há vários modos de o fornecer, mas todos requerem o suporte activo da Alemanha.
É aí que está o bloqueio. As autoridades alemãs estão a trabalhar febrilmente para encontrar um conjunto de propostas a tempo da cimeira da União Europeia no fim de Junho mas todos os sinais sugerem que só oferecerão o mínimo em que todas as partes podem concordar – implicando, mais uma vez, apenas alívio temporário.
Mas estamos num ponto de inflexão. A crise grega é susceptível de atingir um clímax no Outono, mesmo se a eleição produzir um governo que esteja disposto a respeitar o actual acordo entre a Grécia e os seus credores. Nessa altura, a economia alemã também estará a enfraquecer e a chanceler Angela Merkel achará ainda mais difícil que hoje persuadir o público alemão a aceitar responsabilidades europeias adicionais.
Excluindo um acidente como a bancarrota do Lehman Brothers, a Alemanha fará provavelmente o suficiente para manter o euro unido, mas a UE tornar-se-á algo de muito diferente da sociedade aberta que uma vez incendiou a imaginação do povo. A divisão entre países devedores e credores tornar-se-á permanente, com a Alemanha a dominar e a periferia a tornar-se uma região secundária e deprimida.
Isto aumentará inevitavelmente a suspeita sobre o papel da Alemanha na Europa – mas qualquer comparação com o passado da Alemanha é deveras inadequada. A situação actual é devida não a um plano deliberado, mas à falta de um plano. É uma tragédia de erros políticos. A Alemanha é uma democracia funcional com uma maioria esmagadora a favor de uma sociedade aberta. Quando o povo alemão se aperceber das consequências – espera-se que não tarde demais – quererá corrigir os defeitos no desenho do euro.
É evidente o que faz falta: uma autoridade fiscal europeia que seja capaz e esteja disposta a reduzir o fardo da dívida na periferia, bem como uma união bancária. O alívio da dívida pode tomar várias formas para além das eurobonds, e seria restrito aos devedores respeitadores do pacto orçamental. Retirar todo ou parte do alívio em caso de incumprimento seria uma protecção poderosa contra os riscos morais. Cabe à Alemanha assumir as responsabilidades de liderança que o seu próprio sucesso lhe acarretou.
George Soros
InRemarks at the Festival of Economics, Trento, Italy
Só uma Fé absolutamente inabalável evita a debandada geral da audiência indefectível quando uns quantos voluntários do canto abrem as goelas em sons guturais e outros se empenham em gritar notas de horrível estridência. Há muito que não ouvia «coisa» tão horrível. E, contudo, há quem chame àquilo um coro. Não, é uma prova da Fé da audiência. Dignidade acústica apenas salva pelo órgão.
Há quantos anos eu não ia a Alcobaça? Nunca menos de 50. Desde que a estrada nacional 1 mudou para Rio Maior e desde que a auto-estrada foi concluída no percurso entre Lisboa e o Porto, várias foram as cidades por que deixámos de passar nelas largando algum dinheiro para um café, um almoço, uma visita a um monumento ou qualquer outra coisa. Agora, para isolarem ainda mais a urbe, temos que deixar os carros lá longe e o centro é mesmo só para quem se desloque numa nuvem. Está certo! É mais condizente com a elevação inspirada pela abadia.
Seria eu ainda criança quando pela mão dos sábios visitei o Mosteiro de Alcobaça e estranhei agora a total ausência de patine na nave principal da igreja. Pareceu-me tudo acabado de construir, muito limpinho, muito parecido com... Com quê? Cimento ou plástico? Já não me lembrava que os túmulos de Pedro e de Inês tinham em tempos sido vandalizados e fiquei com pena de, aí sim, não se ter feito alguma reconstituição recorrendo a materiais modernos para que o visitante não hesitasse em reconhecer que se trataria de cuidado e não da entrada em funcionamento de alguma modernização para ocultar a passagem dos séculos.
E os séculos têm passado... desde a pujança cisterciense até ao marasmo actual passando por efémeros momentos de alguma animação. Mas desenvolvimento sustentado é coisa que mal se vislumbra. E, contudo, o cenário poderia ser bem diferente se as fábricas disto e daquilo não tivessem fechado, se os mercados das frutas e legumes fossem transparentes, se a instrução média das populações fosse tão elevada quanto nos países escandinavos...
O Mosteiro, se falasse, teria tanto que contar que muitos seriam os governantes a pintar a cara de preto pela pasmaceira em que Alcobaça caiu.
Continuo a crer que o Oeste tem tudo para ser uma verdadeira locomotiva nacional se a agricultura pudesse ser o elemento dinâmico que tem sido impedida de assumir, se o analfabetismo adulto fosse erradicado e a juventude encaminhada para profissões inequivocamente ligadas à produção de bens transaccionáveis e se localmente houvesse quem quisesse debater estes temas.
Quanto à tenacidade das gentes ali residentes, basta ouvir aquele coro para se ter a certeza de que, não arredando pé, são firmes nas suas convicções, que sabem distinguir o fundamental do acessório e que facilmente poderiam desenhar um futuro modelo de desenvolvimento regional bem melhor que o presente. Que bom seria se os Partidos políticos se dedicassem a este género de temas em vez de, em plena menoridade, se dedicarem à maledicência uns dos outros, à demagogia e às promessas de tudo fazerem com o dinheiro dos outros.
Como por certo diriam os indefectíveis cistercienses se lessem estas linhas, «ámen!»
Na ordem do dia está a extinção dessa histórica herança do património nacional que, durante 80 anos, foi berço de milhares de crianças com a assistência médica nos primeiros dias mais difíceis de sua vida, fossem elas filhas de pais ricos, pobres ou marginalizados. O Governo em nome de austeridade, face ao descalabro provocado pelos agentes da Escola Socrática, pretende extinguir a instituição não tomando em conta as manifestações da massa popular expressivas do axioma: VOX POPUL1, VOX DE1!
Com esse breve introito, urge dizer algo sobre a figura do Dr. Alfredo da Costa (1859/1910), de seu nome Manuel Vicente Alfredo da Costa, nascido em Margão-Goa, filho de Bernardo Francisco da Costa (1821/96). Este, o pai do Dr. Alfredo da Costa, fora advogado, jornalista, escritor, deputado (1853/69); anteriormente fora aluno laureado e Lente da Escola Matemática e Militar de Goa e Inspetor dos Estudos na India; e, ainda em Portugal, assinalou-se como figura de relevo em Almada, onde foi presidente da Câmara, Administrador do Concelho e Juiz Substituto, e tem uma rua nessa cidade evocando-o; acabou seus dias em Diu; em 1900 foi evocado por Soares Rebelo num soneto plangente, em francês, na homenagem póstuma a ele dedicada como Fundador do Montepio de Goa.
Com essas ricas tradições de família, Alfredo da Costa formou-se pela Escola Médica de Lisboa (1884) e foi médico-cirurgião do Hospital de São José (1885), Demonstrador da Secção Cirúrgica da Escola Médica (1899), Regente de Anatomia Patológica (1898) e de Obstetrícia, Director das Enfermarias de Sta. Bárbara e Sta. Joana, Presidente da Sociedade das Ciências Médicas, Presidente das Secções da S.G.L. e da Comissão da Assistência Nacional aos Tuberculosos, Sócio da Academia das Ciências e autor de artigos científicos na "Revista de Medicina e Cirurgia, de Lisboa" e na "Medicina Contemporânea" de que foi Redactor e Director.
Como médico-cirurgião foi um habilíssimo profissional sendo quem introduziu em Portugal o método Estlander e a ressecção vaginal pelo processo Walkmann.
Não chegou a realizar o seu grande sonho de dar ao País uma condigna maternidade, a qual viria a surgir em 1932, vinte e dois anos após a sua morte, por consenso geral dos médicos, cirurgiões e professores de Medicina e Cirurgia. O edifício foi iniciado em 1891 por iniciativa do MINISTRO-CONSELHEIRO ANTÓNIO CÂNDIDO RIBEIRO DA COSTA gerindo a pasta de Negócios Estrangeiros e da Instrução.
Seria louvável que o Governo mantivesse e melhorasse este histórico Monumento Nacionalem vez de ordenar a extinção da Maternidade Alfredo da Costa de tão ricas recordações para milhares de portugueses!
Murchas, foi como nos cumprimentámos ontem, a minha amiga a lembrar que lembrava o mesmo de sempre e que não tinha emenda, e eu a referir o susto provocado nessa manhã de domingo, com os dizeres da arrogância sapiente do “Eixo do Mal” a respeito da Grécia e da vitória da Syriza, a Esquerda Radical Grega, tão apoiada pelos nossos partidos da Esquerda, com o intelectual Louçã à cabeça, tão certos da sua vitória contra a “paz podre” dos partidos da “austeridade”, que já retiravam a Grécia das patas da Europa troikista, da Europa “tout court” de que ela foi cabeça – ou ventre - para a fazerem sucumbir, com os seus dracmas, sob as patas da Turquia, da Rússia, até mesmo, salvo erro, da China.
Creio que foi a Clara Alves que evocou esse cenário que, confesso, me aterrorizou, na minha credulidade ignorante, que já passou por outros cenários, dos que falavam em “paz podre” referindo o salazarismo também austero, e desejando alterá-la para “guerra sã”, ou “guerra santa”, nem sei bem, porque a favor dos pobrezinhos, como se tem visto, que enriqueceram à custa da mudança.
Felizmente que eles não acertaram nas suas esclarecidas previsões e a Syriza perdeu a favor da chamada Nova Democracia que volta a pegar nas propostas troikistas da tal paz podre actual, que faz espumar de raiva os que afirmam que estamos a saque, nós, os pequenos. Eu nisso concordo, mas desejo que o nosso país consiga vencer o impasse, e a Grécia também.
Mas a minha amiga não acredita que consigamos, e eu então lembrei-lhe umas trovas antigas, embora sem “saudade louca”, nem “cantigas a bailar de boca em boca”, nem mesmo “guitarras a gemer de mão em mão”, como lhes chamaria o nosso Carlos do Carmo, que é um fadista também muito erudito e crente, ao contrário de nós, cépticas por experiência própria, tal como o Velho do Restelo. São elas de Duarte da Gama, poeta do Cancioneiro Geral e chamam-se “Trovas às desordens que agora se costumam em Portugal”, de um conservadorismo tacanho e reaccionário, tal como o nosso, embora não tão passadista como o dele, valha a verdade, que se enraivece contra o novo-riquismo ambicioso trazido pelos descobrimentos marítimos e o envilecimento dos costumes, como agora também sentimos, sem tanta raiva contudo, por muito que o enriquecimento actual tenha provindo também de esforços, mas, apesar de tudo, menos trabalhosos do que os daquele tempo de navegações e naufrágios, o que é sempre um factor prestigiante e de modernidade, por estar assente no conceito hedonista da existência, o prazer sendo o que se leva desta vida. Vejamos então algumas dessas 32 trovas, de uma dimensão temporal à prova de fogo:
1-“Não sei quem possa viver
Neste reino já contente,
Pois a desordem, na gente
Não quer deixar de crescer;
A qual vai tão sem medida
Que se não pode sofrer:
Não há aí quem possa ter
Boa vida.
2- Uns vejo casas fazer
E falar por entre-solos(= a ocultas, ruminando os seus projectos de grandeza?)
Que creio que têm mais dolos (= apoquentações)
Do que eu tenho de comer;
Outros, guarda-roupa, quartos
Também vejo nomear,
Que já deviam d’estar
Disso fartos.
3- Outros vejo ter cadeiras
De justo e de cruzado
E chamarem-lhes de estado:
Não entendo tais maneiras.
Outros vendem a herdade
Por comprar tapeçaria,
Dos quais eu ser não queria
Na verdade
…………………………………………
13- Outros não querem verdade
Falar, com ribaldaria (= desvergonha)
Falando por senhoria
A homens sem dignidade.
Ó usura conhecida,
Tratada por tanta gente,
Porque és no mundo presente
Tão crescida?
14 - Na cobiça dos prelados
Não é já para falar,
Que em vender mais que rezar
E em comprar são ocupados.
…………………………………………..
18 – A maneira de escrever,
Que costumam nos ditados,
É chamarem já preçados (= distintos, notáveis)
A mil homens sem o ser.
E quando na baixa gente
O costume for geral,
Há-de vir a principal,
A excelente.
………………………………..
21 – O cavalo desbocado
Nunca se pode parar
Sem primeiro se cansar:
Então logo é parado.
Assim creio que faremos
Nos gastos demasiados,
E depois de bem cansados,
Pararemos.
…………………………………………..
24 – A cidade de Cartago,
Depois de ser destruída,
Fez em Roma mor estrago
Que antes de ser perdida.
Os “Romãos” desde que venceram
Foram dos vícios vencidos,
E seus louvores crescidos
Pereceram.
25 – Assim, para não perecerem
Os tão antigos louvores
Dos nossos predecessores,
Convém que nos “reprenderem”
Dos vícios e da torpeza
Em que queremos viver,
Antes de se converter
Em natureza.
…………….
Não, a nossa conversa murcha, sempre “à roda”, embora antiga, não tem hoje trova que preste, de tão repetida, impecavelmente à moda.
O Tumulto religioso nos Regimes ditatoriais do Magreb
Uma cultura dogmática hegemónica produz regimes ditatoriais que por sua vez nutrem a sua sustentabilidade na guerrilha. Esta serve os interesses dos mais fortes sem olhar a perdas.
O futuro da África do Norte continua a decide-se em Riad, Teerão, Istambul, Paris, Londres, Berlim e Washington e naturalmente nas mesquitas. O que temos assistido na África do Norte não tem passado, em grande parte, dum tumulto religioso de idealistas, de fanáticos, de regimes déspotas, todos secundados por interesses de estratégia económica, militar e religiosa (luta de hegemonias sunitas-xiitas). Uns e outros, para atingir os seus fins, não receiam em sacrificar todo o povo.
Quem beneficia do Futuro da Síria? O Povo sírio certamente não
Os “libertadores”/rebeldes, com a sua autoproclamada “Armada Síria Livre”, os “Amigos da Síria”, Salafistas, células de Al-Kaida, etc., querem que o exército regular lhes entregue as armas para melhor os poderem assassinar. O regime não é bom mas a oposição não é melhor! A maioria do povo apoia o Presidente, e isto não é negado sequer pela corrente principal dos Meios de Comunicação Social.
Na Síria vivem Cristãos e Muçulmanos (Sunitas, Xiitas, Alevitas, Drusos e Ismaelitas). Os grupos muçulmanos concorrem brutalmente entre si. O presidente Baschar-al-Assad pertence à minoria liberal muçulmana dos Alevitas (uma seita xiita). Na Síria desenrola-se o conflito entre as facções muçulmanas de Sunitas e Xiitas.
O ocidente tem sido mais solidário com os sunitas até porque estaria mais interessado na hegemonia da Turquia (Sunita) sobre a região do que na hegemonia do Irão (xiita). O poder xiita estende-se do Irão, Iraque e Síria até ao Hisbollah (Partido de Deus). O Wahhabismo (sunita) da Arábia Saudita (1) e os Xiitas do Irão fomentam a insurreição. Querem derrubar o regime de Assad, a quem consideram um homem de Israel.
Os rebeldes são apoiados por regimes intolerantes que não toleram direitos da mulher nem direitos humanos como é o caso da Arábia Saudita e do Irão.
Em nome de motivos humanos unem-se ditadores contra um regime que é mais democrático que o deles. O Ocidente alia-se aos Ditadores da região no apoio aos seus rebeldes. Para o oportunismo dum Ocidente interesseiro chega-lhe a palavra mágica “liberdade” para se pôr em movimento. Em nome da filantropia, a NATO tem cometido aberrações que comprometem o futuro dos cidadãos. Até hoje esses motivos filantrópicos não passaram além da garganta e oferecem uma boa ocasião para os vendedores de armas e para quem vive da miséria dos outros. O que tem frutificado é a violência! O povo europeu terá de pagar bem cara a miséria e a insurreição dos povos “árabes” e seus refugiados, o que servirá de pretexto, por outro lado, para uma futura corrida ao armamento.
Na Síria, o desenrolar dos acontecimentos diferenciar-se-á doutros da África do Norte. A guerra civil prolongar-se-á indefinidamente porque a maioria do povo sírio apoia o seu presidente e a NATO não poderá intervir porque, mais uma vez iria servir os interesses dum grupo muçulmano instável contra os interesses de grupos hegemónicos; além disso a Síria é militarmente forte e os rebeldes ainda não conquistaram nenhum território para si; só conseguiram ocupar um terço da cidade de Homs.
Indirectamente, o Ocidente conseguirá criar mais instabilidade na Síria usando a Arábia-saudita como sua aliada, nas pretensões de eliminar o regime sírio.
O interesse do Irão na construção da bomba atómica tem a ver com o poder estratégico de hegemonia xiita sobre a região. A Turquia (sunita) não tem bomba atómica mas como membro da Nato está protegida pelo seu poder atómico. Por tudo isto e também contra Israelo Irão construirá a bomba atómica, embora muita gente se perca em conversa fiada para um público desatento. Israel é para o regime iraniano o símbolo do Ocidente. O Ocidente apoia a Arábia Saudita porque ela é inimiga figadal do Irão. O Ocidente ao apoiar os rebeldes apoia simultaneamente os interesses contraditórios de Sunitas e Xiitas, segundo o mote: o inimigo do meu inimigo é meu amigo!
A Oposição matou mais Civis que o Regime de Assad.
Por trás dos combatentes da liberdade (os rebeldes) escondem-se muitos terroristas ao serviço do ódio e da vingança em nome dum deus ciumento à sua semelhança e de interesses de poder. Os nossos Meios de Comunicação Social, na sua informação habitual, tomaram partido pelos rebeldes tal como já têm feito em relação a outros países da África do Norte.
Na Síria, até agora já foram mortos mais de 9.000 pessoas, tendo sido, mais da metade deles, morta pelos rebeldes. Disto mal se noticia! Os rebeldes na Síria assassinaram, torturaram e tomaram como reféns Alevitas (cf. Human Rights Watch) e mataram, já nos primeiros três meses, 200 soldados e polícias. Torna-se fácil uma rebeldia (com espírito não melhor que o dos governantes) que conta de antemão com o apoio do Ocidente e duma imprensa ávida de libertinagem e de violência para noticiar.
Embora a maioria da população apoie a ordem estatal com Assad à sua frente, os rebeldes (TSA), que dominam apenas parte da cidade de Homs, pelo facto de usarem a palavrinha mágica „Liberdade”, granjeiam logo as simpatias gratuitas de muita gente não interessada em conhecer os ideários e os interesses que se escondem por trás da guerrilha.
Ocidente “aquece o conflito”, afirmam pessoas sírias interessadas na paz e vêm na Constituição de Assad um passo importante na intenção de reformas. Argumentam: o que é preciso é o diálogo dos grupos dentro do país e não uma atitude exterior elaborada longe de toda a realidade.
Organizações sérias da Síria testemunham que os rebeldes mataram mais civis do que os órgãos de segurança de Estado. O problema é que o Ocidente parece interessado numa história mal contada.
Torna-se fácil falar da ”primavera árabe „ a quem desconhece a geografia e os mapas culturais da região.
Em actos de desespero costuma dizer-se, “mal por mal Marquês de Pombal” e o facto lamentável mas real é que, para já, teremos que assentar na agenda: Nos países da região árabe a razão estará mais do lado dos militares, dado a política ser determinada pela emoção e pelas mesquitas às sextas-feiras.
O Ocidente tem dois problemas por resolver: a crise económico-cultural e o problema árabe.O Médio Oriente constitui o problema futuro próximo da Europa (óleo, desemprego, pobreza e refugiados). No futuro, os problemas da África do Norte também aumentarão porque os USA cada vez se desinteressarão mais desta região e a Europa terá de aguentar sozinha com os seus problemas. Esta região encontra-se vocacionada para muitas convulsões sociais porque incontrolável e ingovernável. Os grupos Al-Kaida encontram-se agora mais presentes na África do Norte que nunca. É um facto que as esperanças da juventude só poderão ser desiludidas por governos e pelas facções religiosas organizadas em partidos. A energia que investem na religião deveria ser canalizada para a reconstrução dos seus países e na promoção cultural do povo. O mal vem de raiz e vem duma socialização árabe que se desenvolve num jogo entre a ditadura e a guerrilha com um espírito fascista de base. No caso da Síria a ditadura do governo contra a ditadura da rua alimentam-se da guerra civil de xiitas, sunitas e alevitas, de uns contra os outros e os cristãos de premeio. Neste enredo, o Ocidente sempre que intervém apoia os falsos. Os povos vizinhos da Síria deveriam ser os primeiros a preocupar-se pela situação e não o Ocidente. A situação não é fácil devido aos interesses hegemónicos entre sunitas (Turquia) e xiitas (Irão). Os diferentes grupos muçulmanos têm movido a NATO a fomentar os seus interesses e a assim poderem entre “irmãos” atribuir a culpa ao estrangeiro. O apoio do ocidente às forças rebeldes da Síria só ajudaria a Síria a tornar-se num estado Sunita. Isto interessaria à Turquia e à Arábia Saudita que deste modo afirmaria a sua facção religiosa contra a concorrente xiita do Irão.
Tal como no Iraque onde apenas há partidos religiosos de xiitas contra curdos, de sunitas contra xiitas e de todos contra os cristãos, na Síria não há forças seculares.
Infelizmente, a paz em que a Europa tem vivido continua a ser um estado de excepção. A maneira como falamos e interpretamos outros povos dá a impressão de vivermos num mundo do sonho, num estado de graça.
Discurso da Sessão de Abertura proferido por António Pinto Leite, Presidente da ACEGE
Na presença do Primeiro Ministro, do Cardeal Patriarca, do Reitor da Universidade Católica, de representantes das centrais sindicais, de representantes da ACGD – Associação Cristã de Gestores e Dirigentes
1 - Começo por agradecer calorosamente ao dono da casa, ao nosso querido Amigo e Reitor da Universidade Católica Portuguesa, Manuel Braga da Cruz, por mais esta disponibilidade para receber o congresso da ACEGE. Neste contexto, quero agradecer a todos os que prepararam este congresso, em especial a todos os oradores de amanhã, que tão espontaneamente aceitaram desenvolver e partilhar o tema da nossa reunião.
Ao Senhor Cardeal Patriarca, quero agradecer a sua presença e o estímulo que sempre deu ao voluntariado empresarial que se reúne na ACEGE. Quero também na sua pessoa agradecer, em nome de todos os portugueses, em nome do coração português, o serviço aos mais desprotegidos que a Igreja tem prestado, em especial neste tempo tão adverso. A Igreja Católica é a maior história de amor de Portugal. O incansável serviço que a Igreja tem prestado é um testemunho que desperta em milhares e milhares de portugueses o que neles há de melhor e de mais generoso. Bem haja, Senhor D. José Policarpo.
Finalmente, uma palavra de abertura muito especial para o Senhor Primeiro Ministro, expressando-lhe, o que todos aceitarão, a minha amizade pessoal. O modo tão instintivo e interessado como aceitou o convite para abrir um congresso com este tema improvável – o amor como critério de gestão –, é uma distinção e um sinal para nós. Cabe-lhe, Senhor Primeiro Ministro, a mais difícil missão de entre todas as missões que a cada português estão distribuídas. O seu sentido de verdade e a sua capacidade de liderança são motivos de confiança de que a sua missão será entregue.
Estou certo de que logo que haja evidência sem retorno de que Portugal cumpre e cumprirá os seus compromissos, financeiros e estruturais, os nossos parceiros internacionais saberão, por sua própria iniciativa, aliviar a carga a que o contrato celebrado pelo Estado sujeita o povo português. Mas se o não fizerem, Senhor Primeiro Ministro, diga-lhes, da parte dos líderes empresariais que aqui estão, que somos um povo nobre e uma nação valente e que sozinhos daremos a volta por cima.
Senhor Primeiro Ministro, o senhor tem um grande povo atrás de si. Há três anos, aqui mesmo, no anterior congresso, disse que os líderes empresariais não iam arredar pé. E não arredaram. Hoje, acrescento outros pontos que me encantam ao olhar o meu povo: Primeiro, a generosidade. A generosidade que por todo o lado se sente e de que a evidência mais recente foi o aumento de alimentos doados ao Banco Alimentar. Segundo, algo que conheço bem, sobretudo na área da Justiça: a acção dos funcionários do Estado, que tendo sido particularmente atingidos pelas medidas da crise, mantêm o mesmo espírito de serviço como se nada tivesse ocorrido nas suas vidas.
Terceiro, a tão falada coesão social e política, para a qual, formal ou informalmente todos têm contribuído, com destaque para as organizações sindicais, cuja missão neste contexto histórico, devemos todos reconhecer, é particularmente difícil. Repito: o senhor tem um grande povo atrás de si. Não somos gregos com mais juízo, nem queremos ser alemães com menos método. Somos Portugal, uma nação que quando se concentra e se organiza, vence sempre e sempre mais depressa do que os cépticos profetizam.
Temos ainda dois factores a nosso favor para resistir com esperança e pensar positivo: primeiro, a globalização. A globalização é uma oportunidade espantosa para um pequeno povo que fica com o mundo inteiro à sua disposição. É uma questão de tempo e temos um século inteiro pela frente. S
Segundo, a nova geração, a extraordinária geração dos nossos filhos, uma geração construída e preparada com o esforço dos nossos impostos e com o lado saudável da nossa dívida externa.
Portugal tem a elite mais bem preparada de toda a sua História. Criar condições atractivas para que fique em Portugal é a melhor garantia para o nosso futuro.
2 - Mas permitam-me associar a política ao tema do nosso congresso. Tal como a economia não pode evitar o confronto com o amor, também a política não pode evitar o confronto com o amor. Mais impressivo de que os políticos não falarem de amor aos seus povos, é os povos terem interiorizado que não é suposto serem amados pelos políticos que escolhem para os governar. É uma patologia profunda da democracia moderna e uma injustiça para os políticos que colocam o bem comum acima dos seus interesses pessoais.
3 - A ACEGE continua um espaço de acolhimento e de integridade espiritual. Não defendemos qualquer interesse, nem procuramos qualquer vantagem ou qualquer evidência. Aqui não se fazem negócios, nem se trocam cartões. Aqui não se vem para ver ou para se ser visto. Aqui juntamo-nos em nome de Cristo e daquilo que Ele nos pede, em nome dos outros e daquilo que eles precisam.
Aqui somos livres na nossa espiritualidade, livres nos tempos e nos registos diversos da espiritualidade de cada um. Livres no acolhimento de todas as pessoas de boa vontade que não desistem de um mundo melhor. Aqui não julgamos, acolhemos. Ter fé não é resolver um mistério, é fazer parte de um mistério. Não ter fé não é resolver um mistério, é fazer parte de outro mistério. Por isso, a vocação central dos homens de boa vontade deve ser o acolhimento recíproco e a compreensão de que o amor é o ponto de encontro que a todos permite contribuir para o bem comum, caminhando cada um no silêncio do seu mistério.
4 - Não vos farei o relatório de actividades, porque tudo o que possamos ter feito ou vir a fazer será sempre pouco para o que de nós é esperado. Como já o disse, como empresário poderei estar satisfeito com o que a ACEGE fez, mas quando me ajoelho fico perplexo com o que Deus nos pede.
Limito-me a saudar o nosso fundo, o Fundo Bem Comum, que prossegue a sua actividade de apoio a projectos empresariais de desempregados com mais de 40 anos. A saudar os 15 núcleos regionais que a ACEGE abriu e neles todos os pequenos e médios empresários do nosso país.
A saudar a CIP, a APIFARMA e o IAPMEI que connosco desenvolveram e continuarão a desenvolver em 2012 e 2013, com o apoio da União Europeia, o projecto AconteSer - Liderar com Responsabilidade. Através deste projecto, divulgamos por todo o país, em dezenas e dezenas de sessões, os critérios de uma gestão empresarial responsável e que assegure a competitividade das nossas empresas. E saúdo, finalmente, os cerca de 50 jovens líderes empresariais, com menos de 35 anos, que aderiram à ACEGE e com os quais reunirei a seguir a esta sessão. A cada um de vocês apenas digo: muito vos foi dado, muito vos será exigido.
5 - O V Congresso da ACEGE tem lugar num tempo raro de mudanças à escala universal e num tempo de enorme sofrimento na sociedade a que pertencemos. Ninguém com responsabilidades e com sentido de responsabilidade pode ficar de fora deste tempo e de nele intervir para defesa do bem comum.
A ACEGE publicou há um ano a sua Reflexão sobre a Crise. Já então, convocando o amor como critério de gestão, demos indicações a todos os líderes empresariais, algumas das quais aqui renovo:
(i) neste contexto tão adverso, procuremos evitar despedir pessoas, utilizemos o despedimento como ultimo recurso e não como primeiro recurso;
(ii) não tiremos partido, em circunstância alguma e sob nenhuma forma da insegurança dos nossos colaboradores, cumprindo integralmente os deveres legais e contratuais;
(iii) façamos das empresas anéis de protecção social, criemos sistemas internos de auto-diagnóstico social, que permitam o apoio, por via confidencial, aos colaboradores cuja situação familiar se possa agravar;
(iv) paguemos o salário mínimo o mais elevado possível, conjugando uma visão realista das capacidades da empresa, com um sentimento de generosidade e de alegria por contribuirmos para que todos os dias possam sair do limiar da pobreza concidadãos nossos;
(v) salvo constrangimentos atendíveis, paguemos pontualmente uns aos outros, não só porque pagar no prazo acordado é o mínimo ético empresarial, mas porque está demonstrado que o pagamento atrasado entre empresas destrói emprego todos os dias, isto é, destrói famílias indefesas todos os dias.
6 – Este congresso é sobre um encontro improvável, mas essencial: o encontro entre amor e economia, entre amor e gestão. Percebi dentro de mim que nada ficava igual confrontando a liderança empresarial com a palavra amor. No percurso da direcção nacional da ACEGE até tomarmos a decisão sobre o tema deste congresso, percebi que o mesmo se passava com os outros líderes empresariais. É impressionante a força da palavra amor. E é ainda mais impressionante a força transformadora da palavra amor dita no mundo dos negócios.
Somos uma associação unida por valores, mas integrada por pessoas pragmáticas, racionais, responsáveis e competitivas. Não falamos de amor para subverter a economia, falamos de amor para tornar a economia mais competitiva e a sociedade mais justa.
O confronto entre amor e empresa parece místico, irrealista, inoperacional. O amor como critério de gestão corre o risco de ser mal interpretado, de desregular as expectativas, a começar pelas expectativas do líder empresarial sobre a sua própria missão.
Corre outros dois riscos fundamentais: primeiro, ter uma leitura meramente sentimental, o que seria incompatível com a gestão das organizações; segundo, ser orientado para um fundamentalismo religioso, que perverteria a dimensão universal que o amor tem.
Todos estes riscos são verdadeiros e devemos estar atentos a eles. Também devemos acolher os olhares cépticos sobre este critério, uns vindos de experiências empresariais traumáticas ou de desencanto, outros com fundamento num pessimismo filosófico sobre o ser humano, outros ditados pelo triunfo do ter, do aparecer , do poder e da obsessão pelo lucro como centros de excelência da economia de mercado.
7 - Enfrentemos estas questões com clareza. Em primeiro lugar, não está na liberdade de um cristão decidir se amor e economia se devem confrontar. O primeiro mandamento, o mandamento segundo o qual tudo se deve ordenar, é o mandamento do amor. Se é assim, se tudo se deve ordenar segundo o amor, a economia também. A nós, cristãos, cabe perceber como ordenar a economia segundo o amor, nãose a economia deve ser ordenada segundo o amor. Em segundo lugar, o bem maior que Deus nos pede para proteger é a empresa que nos está confiada. Deus ama as nossas empresas, como comunidades humanas que são, como obra humana que são. O que seria do mundo e dos Homens sem as empresas?
As empresas são elas e a sua própria circunstância, são comunidades expostas à concorrência, à incerteza e ao risco. Este quadro em que agimos não é um mal, é a circunstância concreta em que Deus põe à prova as nossas competências e o nosso amor.
A primeira obra que temos para entregar ao bem comum é a sustentabilidade das nossas organizações, enquanto tal, o que implica muitas vezes fazer escolhas dilacerantes e tomar decisões difíceis. Mas o amor deve estar presente antes, durante e depois da tomada de uma decisão difícil.
Em terceiro lugar, o amor como critério de gestão não é incompatível com a exigência própria das empresas. É o critério de liderança mais exigente que conheço, para o próprio líder e para os outros. Um grande empresário português colocou-me esta questão, com toda a pertinência: como conjugar a exigência necessária nas empresas com o amor como critério de gestão? Perguntei a mim mesmo: quem são aqueles que mais amo? Os meus filhos.
Há alguém com quem seja mais exigente do que com os meus filhos? Não. Não há nada mais exigente do que o amor. Aliás, se numa comunidade de voluntários um dos voluntários falhar, a consequência é muito mais disruptiva do que se, numa empresa, falhar um dos seus colaboradores. Precisamente porque a cultura do amor é a mais exigente de todas.
Finalmente, amor e competitividade. Não há resposta para o desemprego e para a pobreza se a nossa economia não for competitiva. Ora, o amor como critério de gestão faz pessoas felizes. Pessoas felizes fazem empresas produtivas, empresas produtivas fazem uma economia competitiva e uma economia competitiva é a base de uma sociedade justa. O amor não é um intruso na competitividade empresarial, é o seu maior aliado.
8 - O amor como critério de gestão tem uma definição muito concreta: significa tratarmos os outros como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar deles. E quem são os outros? São os colaboradores, os clientes, os fornecedores, os accionistas, os concorrentes, a comunidade e as futuras gerações.
Não consigo ponderar um critério nem mais simples nem mais operacional para o discernimento ético empresarial.
No plano ético, o critério permite enquadrar as situações a resolver de um modo muito intuitivo e eficiente. Tem ainda a grande vantagem de, numa perspectiva cristã, ser o critério que corresponde à noção de que o centro vital da ética cristã é o amor. Através deste critério, o nosso próximo é sempre tratado por nós como nós próprios seríamos tratados se estivéssemos no lugar dele.
9 - No plano económico, o valor de um conceito deve ser avaliado respondendo a uma pergunta: qual a consequência em termos económicos se todos os decisores empresariais passassem a actuar segundo este princípio? Não tenho uma dúvida em responder que seríamos mais competitivos, mais ricos e teríamos uma sociedade muito mais justa.
É essencial que a universidade investigue este conceito.
Quanto vale uma organização em que os colaboradores acreditam ser amados? Quanto vale uma empresa de voluntários?
Quanto vale uma empresa de pessoas felizes? Quanto vale um trabalhador em harmonia com a sua dimensão familiar? Quanto vale em sustentabilidade, em retenção de talento, em gestão da mudança, em inovação, em «commitment», em «extra mile», em alinhamento? Quanto vale em quebra de absentismo e em produtividade?
Quanto vale o amor como pesticida contra o egoísmo, a vaidade, o despique interno, a ganância, a tensão entre pessoas que devora estupidamente energias caríssimas?
Quanto vale a confiança nos negócios?
Quanto vale um cliente ou um fornecedor que acredita que será sempre tratado pela outra empresa como ela cuidaria de si mesma? Quanto vale em relações comerciais recorrentes, em planeamento estratégico, em eficiência, em gestão da marca? Quanto vale um parceiro no lugar de um cliente ou de um fornecedor?
E abram a vossa alma a esta pergunta: quanto vale um jovem? Quanto vale esta nova geração que criámos nos últimos dez - vinte anos e que está a partir e a encantar o mundo? Quanto vale esta nova geração se for orientada por valores e por ideais e não apenas por objectivos?
10 - Num país onde, segundo o Census de 2011, nove em cada dez portugueses se dizem cristãos, este tema ganha ainda mais premência: como vivermos segundo os fundamentos da nossa fé e da nossa cultura, incluindo na economia?
Não tenhamos medo das perguntas que o amor fará, desde logo nos debates de amanhã. Sobre distribuição de valor, sobre meritocracia, sobre segmentação de remunerações, sobre salários justos, sobre família e trabalho, sobre a vaidade nas organizações e tantas outras. Não tenhamos medo se o amor nos pedir os KPY's sobre os seus próprios efeitos nas organizações.
Não tenhamos medo do deserto, a começar pelo deserto das nossas próprias empresas. Não tenhamos medo da indiferença, do cepticismo ou do cinismo. Não tenhamos medo da nossa própria fragilidade.
Recusemos o pessimismo espiritual moderno, que nos diz que Deus está desencantado ou mesmo zangado com o nosso mundo.
Os talentos concedidos aos responsáveis empresariais são, eles próprios, a melhor evidência de que o plano de Deus passa pelas nossas empresas e do amor de Deus pela nossa vocação empresarial.
Deus deu aos líderes empresariais o dom do risco, o dom da liderança, o dom do negócio, o dom da visão, o dom da organização, o dom de não quebrar. O dom da energia, o dom de empreender, o dom da insatisfação, o dom de exigir. O dom da estratégia, o dom da autoridade, o dom de decidir, o dom de criar a partir do nada.
Cruzem todos estes dons com o amor e imaginem quanto Deus espera de cada um de nós.
Ainda há muita gente que ama verdadeiramente Portugal. Ama-o, não por ser grande e próspero, não pelas suas obras e feitos, não omitindo fraquezas e misérias. Ama-o por ser o que é. Ama-o por ser nosso. Ama-o por ser aquilo que somos.
Hoje é preciso dizer isto, pois o que se ouve é precisamente o contrário. A crise é má conselheira e a cada passo alguém sente a necessidade de denegrir a sociedade e insultar o País. Estamos mal e não era suposto estarmos. Houve erros, roubos, abusos que não eram para acontecer. Devíamos ser perfeitos, e afinal somos humanos. Isso prova que o País não presta e temos de o censurar.
É indiscutível o terrível sofrimento de tantos e a legítima indignação por erros inacreditáveis, ultrajes descarados, crimes impunes. Mas tudo isso remete apenas para pessoas concretas, factos particulares, circunstâncias específicas. Extrapolar de situações individuais para injúrias colectivas é, em si mesmo, um erro, um ultraje, um abuso. Apesar de comum.
Existe mesmo um prazer mórbido em exagerar os males, uma satisfação doentia em coleccionar misérias e maldades. Muitos sentem ânsia em apregoar desgraças, em afirmar que sempre foi assim, que Portugal nunca saiu da "cepa torta", que "este país" não tem emenda. Em blogues e conversas de café surgem verdadeiros desafios, concursos, congressos de injúrias, aliás, no cumprimento de antiga tradição nacional. Há gerações que alguns intelectuais, cheios da própria superioridade, fazem questão em analisar e explicar a pretensa boçalidade nacional, esmiuçando causas de uma suposta decadência lusitana. Sem se darem conta de que esses esforços são, em si mesmos, os verdadeiros sinais da alegada decadência. O País não é mau, apesar da inegável mediocridade dessas elites.
Esta crise, como todas as anteriores, não é sinal de especial fraqueza e inferioridade. Dramas destes existem em todas as épocas e latitudes. Todos os povos passam continuamente por momentos altos e baixos, épocas de grandeza e sofrimento. Faz parte da natureza humana. Afinal, cada crise é apenas um desafio à presente geração para vencer as dificuldades que lhe competem, como as anteriores fizeram. Como elas, podemos conseguir ou falhar. Mas a culpa do resultado não é do País, cultura ou tradição nacional. É mesmo só nossa.
Outro sinal, este inverso, do mesmo problema é a reacção que exalta a grandeza lusitana de forma exagerada e mítica. É verdade que, ao contrário do que dizem os mórbidos, há muito de que nos orgulhar na história, que tem características únicas e espantosas: as mais antigas e estáveis fronteiras do planeta, enorme diversidade em pequeno espaço, influência espalhada pelo mundo, resiliência, hospitalidade, bonomia, imaginação, improvisação. Tal não deve gerar orgulho, raiz de todo o mal, mas alegria e humildade.
Em tudo isto há mérito e sorte, empenho e acaso, misturado com muita mesquinhez. Afinal somos humanos. Grandes artistas e pensadores, grandes epopeias e resultados são sempre realizações de luz e sombra. Os Descobrimentos, gesta ínclita e decisiva, incluíram as maiores baixezas e vergonhas inimagináveis. Simplesmente porque foram humanos.
Além disso, como todas as realidades naturais, nasceram, cresceram, diminuíram e passaram. Chegou uma época, aqui como noutros locais, em que coube a Portugal traçar o rumo da humanidade. Fizemo-lo com grandeza e eficácia, no meio de muitos erros e males. Depois esse tempo passou, não por falha ou fado, mas simplesmente porque, como sempre através dos séculos, a história muda e outros apanham a onda. Não é portanto justificado nem o pedantismo patrioteiro nem o decadentismo masoquista. Portugal é humano, e por isso tem crises e prosperidades, grandezas e misérias.
Acima de tudo, como todos os humanos, anseia ser amado. Amado precisamente como é. Esta é a única atitude séria: amar o País por ele ser nosso. O único que temos. Sem ele nada somos. Amá-lo com tudo o que tem de bom, e é muito, e o que fez de mal, que deve ser mais.
O vocábulo «maestro» deriva de «magister» que por sua vez deriva do latino «magis» cujo significado é «mais» ou «maior». Podemos assim concluir que o «maestro» é aquele que está acima dos demais devido aos seus conhecimentos e capacidades específicas. Por exemplo, o «magister equitum» era o Chefe da Cavalaria na Roma antiga enquanto o «magister militum» era o Chefe Militar.
O vocábulo «ministro» deriva de «minister» que por sua vez deriva de «minus» que significa «menos» ou «menor». O «minister» era o servente ou subordinado por falta de conhecimentos e capacidades específicas.
Eis como o latim nos explica a razão por que qualquer inapto pode ser ministro mas não maestro.