ADEUS...
...ATÉ AO MEU REGRESSO
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...ATÉ AO MEU REGRESSO
Esta deveria ser leitura obrigatória para cada homem, mulher e criança na Jamaica, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Portugal e em todo o mundo...
Tenho 74 anos. Excepto num breve período na década de 50 quando fiz o meu serviço militar, tenho trabalhado duro desde os meus 17 anos e excepto por alguns graves desafios da saúde. Trabalhava 50 horas por semana e não caí doente em quase 40 anos; tinha um salário razoável e trabalhei para chegar onde estou. Dado o estado da economia, parece que a reforma foi uma má ideia: estou cansado, muito cansado.
Estou cansado de que me digam que tenho que "espalhar a riqueza" para as pessoas que não tenham a minha ética de trabalho; estou cansado de que me digam que o Governo fica com o dinheiro que eu ganho para o dar aos preguiçosos.
Estou cansado de que digam que o Islão é uma "religião da paz", quando todos os dias leio dezenas de histórias de homens muçulmanos que matam as suas próprias irmãs, esposas e filhas para “salvarem a honra" da família; de muçulmanos a assassinar cristãos e judeus porque não são "crentes"; de muçulmanos queimando escolas femininas; de muçulmanos apedrejando adolescentes vítimas de estupro, até à morte, por "adultério"; de muçulmanos a mutilar o genital das meninas, tudo em nome de Alá, porque o Corão e a Sharia lhes dizem que o façam.
Estou cansado de que me digam que em nome da "tolerância para com outras culturas" devemos deixar a Arábia Saudita e outros países árabes usarem o nosso dinheiro do petróleo para financiar mesquitas e 'madrassa' para pregar o ódio na Austrália, Nova Zelândia, Reino Unido, Estados Unidos, Europa, Canadá, etc... enquanto ninguém está autorizado a fundar uma sinagoga, igreja ou escola religiosa na Arábia Saudita ou qualquer outro país árabe, para ensinar amor e tolerância.
Estou cansado de que me digam para eu baixar o meu padrão de vida para lutar contra o aquecimento global, o qual não é sequer permitido debater.
Estou cansado de que me digam que os toxicodependentes têm uma doença, e eu tenho que ajudar no seu tratamento e pagar os danos que eles cometem. Terá por acaso sido um germe gigante que saiu a correr de um beco escuro agarrando-os enchê-los de pó branco pelo seu nariz ou enfiar uma agulha em seu braço enquanto eles tentavam combatê-lo?
Estou cansado de ouvir ricos atletas, artistas e políticos de todas os partidos falarem sobre os seus erros inocentes, erros estúpidos ou erros da juventude, quando todos sabemos que o que eles pensam é que o seu único erro foi terem sido apanhados.
Estou realmente cansado de pessoas que não assumem a responsabilidade pelas suas vidas e acções. Estou cansado de os ouvir culpar os Governos, a discriminação, a economia e a falta de equidade social. De facto, eles não durariam muito mais numa sociedade de verdadeira equidade social...
Eu também estou cansado e farto de ver homens e mulheres jovens e adolescentes serem "doca" de tatuagens e piercings, assim se auto-excluindo do mercado de trabalho, reivindicando dinheiro dos Governos como se de um direito se tratasse.
Sim, estou muito cansado. Mas também estou feliz por ter 74 anos. Porque não vou ter de ver o mundo nojento que essas pessoas estão a criar. Só estou triste por causa da minha neta e dos seus filhos.
Graças a Deus, estou a caminho da saída e não no da entrada...
Bill Cosby
"Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e pela influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de nós; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada".
Ayn Rand
Filósofa russo-americana, judia, fugitiva da revolução russa que chegou aos Estados Unidos na década de 1920
Simone de Beauvoir, na expressão clara das suas ideias contra a desigualdade entre os sexos, explicou no seu livro “O Segundo Sexo” que, graças à educação para a feminilidade, de que a sociedade é responsável, a mulher torna-se mulher, não nasce mulher, o que me parece um aforisma contrário aos dados fornecidos, entre outros, pela Bíblia, em que a mulher surge como fruto secundário da costela viril de Adão, e pela Biologia, com os nomes arrevesados do aparelho reprodutor, com que massacram as crianças logo no seu terceiro ano escolar, após as primeiras letras, fazendo-as distinguir os testículos dos ovários, os espermatozoides dos óvulos, conceitos arrevesados que remexem mais com os rapazinhos tímidos do que com as meninas inicialmente mais desenvoltas.
Mas, enfim, Simone de Beauvoir, na sua revolta contra a condição da fêmea amordaçada que sempre foi a mulher, escreveu a obra citada, uma das grandes responsáveis pela autonomia actual da mulher, que lhe permite votar, ascender a cargos governativos, etc., etc., e, sobretudo, desinibi-la a tal ponto que nenhum escrúpulo a impede de se expor em programas de sexo sem tabus, que,
naturalmente, pervertem cada vez mais o mundo das crianças que nele vão colher os princípios da sua orientação espiritual.
Simone de Beauvoir tinha razão na sua revolta contra a marginalização a que foi sempre votada a mulher, e nem se estranha que seja a França a detentora de uma obra de tal envergadura intelectual, por muito anterior que tenha sido o Women’s Lib, iniciado nos Estados Unidos, a grande pátria de todas as libertações.
Contudo, Simone de Beauvoir tinha antecedentes, como alguns escritos defensores dos direitos da mulher, e entre esses a pequena peça em apenas um acto, “Quitte pour la peur”, de Alfredo de Vigny, que focando o adultério da mulher, num nobre casamento imposto, e o medo da sua heroína duquesa, das represálias do marido, ultrajado na sua honra, mau grado o seu parceirismo em idêntica pecha conjugal, por posse de uma também nobre amante, termina em apoteose de alegria, entre a ama e a criada, após a visita do marido, salvadora das aparências e desculpabilizadora da falta da frágil e revoltada duquesa sua esposa, por ele abandonada. Nada, pois, semelhante às nossas histórias machistas de faca e alguidar, mas discursos reveladores de uma plena consciência da injusta desigualdade na repartição da lei para o crime feminino e para o masculino, de que citarei breves excertos.
Uma amostra do diálogo entre a duquesa e a sua camareira:
Cena I:
“A Duquesa: …Ai, em que tempo vivemos! – Compreendes isto, que um homem seja meu marido e não me visite? Explicas-me o que é precisamente um amo desconhecido que devo respeitar, temer e amar como Deus, sem o ver, que nada se preocupa comigo e que devo honrar; de quem me devo esconder e que nem se digna espiar-me; que me dá somente o seu nome para usar de longe, como se dá a
uma terra abandonada?”
“Rosette: Senhora, eu tenho um irmão dono de uma bela quinta na Normandia, o qual repete sempre que quando não se cultiva uma terra, não se deve ter direito nem sobre as suas flores nem sobre os seus frutos.”….
CenaXII:
A Duquesa (para o Duque, erguendo-se, enfurecida) : Senhor Duque…eu não percebo mais nada, nem das vossas ideias, nem dos vossos sentimentos, nem da minha existência, nem dos vossos direitos, nem dos meus; não serei talvez mais do que uma criança! talvez tenha sido sempre enganada. Dizei-me o que sabeis da vida real do mundo. Dizei-me porque é os usos são contra a religião e o mundo
contra Deus. Dizei-me se a nossa vida tem ou não razão de ser; se o casamento existe ou não; se sou vossa mulher, porque é que vós nunca mais me vistes, e porque é que não sois censurado por isso; se os juramentos são sérios, porque o não são para vós; se tendes e eu própria também, o direito ao ciúme.
(…)
Mas o Duque revelar-se-á em toda a magnanimidade e tolerância de quem tem iguais pecados secretos, deixando a mulher liberta do seu medo, “quitte pour la peur”.
Nos nossos tempos, já tudo se faz mais às claras e até os casais se separam em amizade e desportivamente, “numa boa”, para bem dos filhos, que beneficiam das novas relações dos pais, por vezes mesmo em lucrativos negócios de chantagem disputadora de afectos.
O ciúme é, todavia, causador de muita atitude vingativa, já mesmo nos tempos do Eurípedes, que pôs Medeia a matar os filhos que tivera de Jasão, o primeiro navegador marítimo de que há memória, na conquista do velo de ouro. Afinal, até fora Medeia que, apaixonada por ele, com as suas artes mágicas o fizera conquistar o tal velo que pertencia a seu pai, o rei da Cólchida. Não, não fora Jasão, nem nenhum dos seus argonautas que o conseguira. Fora ela, Medeia, que sabia que por trás dum grande homem está sempre uma grande mulher. E ele atraiçoara-a, amando outra, por isso se vingou atrozmente.
Estas histórias até provam que o segundo sexo também é relevante na condução do mundo. Mas nunca, como hoje, foi tão grande a diferença entre os dois sexos, apesar dos direitos femininos conquistados.
A menos que os grandes escândalos financeiros da nossa e outras praças, geralmente praticados, na actualidade, pelos homens - o primeiro sexo, o do prestígio, das conquistas, das escroquerias – tenham, as suas não medeias mas ninfas, a manobrar por trás, como já se vira dantes e se vê ainda a cada passo.
Daí que a Simone de Beauvoir não precisa de se preocupar mais, lá onde a eternidade a imortaliza, nem com as mulheres nem com
as políticas de chavascal das nossas sociedades. “Tout va bien qui finit bien.”
Berta Brás
8-Final
Entretanto estamos numa crise estrutural iniciada há duas a três décadas, ainda reforçada pela crise mundial da desregulação financeira e mental das elites financeiras dominantes, e não posso deixar de chamar a atenção para o facto de existirem várias possibilidades concretas de empreendimentos ligados ao Mar, que poderão ser realizados desde já sem recorrer a investimentos do Estado e criando alguns milhares de postos de trabalho sustentado.
E não me acusem de pessimismo, talvez com mais justiça de teimosia, pois após mais de trinta anos de luta a apresentar propostas e fatalmente de críticas por pouco ou nada ser feito de concreto, e com uma taxa de insucesso notável, como se viu neste texto, ainda continuo a apresentar propostas que pressupõem a fé nas mudanças em curso.
Assim vou acabar com a sugestão que fiz ao Ministro da Economia há cerca de um mês e que até agora ainda não tive qualquer sintoma de ter sido considerada, aliás acompanhada por outras vozes consonantes, e que é a seguinte:
"Crise em terra, oportunidades no mar"
Em 16 de Novembro passado apresentei no Colóquio dos Olivais uma comunicação com este título que será publicada oportunamente pela entidade organizadora, mas dada a situação que vivemos julgo ter interesse em apresentar já este excerto desse trabalho em que são indicadas algumas iniciativas a serem realizadas quase totalmente por entidades privadas e que permitirão a criação de alguns milhares de postos de trabalho, com a vantagem adicional de várias destas atividades terem características exportadoras, obviamente via o turismo de qualidade em que se inserem.
Será muito oportuno que os Ministros da Economia e do Ambiente tomem esta iniciativa
………"A lista das atividades marítimas passíveis de constituírem meios de aumentar a riqueza nacional é muito longa e neste momento interessa sobretudo aproveitar as de mais rápido retorno enquanto se preparam as bases para, a seguir, aproveitar as outras, se entretanto nos prepararmos, o que só será possível se a nossa população estiver integrada nas atividades marítimas e não, como está agora de costas para o mar, porque, mesmo que queira, não tem acesso ao seu usufruto.
Se houver da parte do Governo Central e dos Autarcas dos municípios com esses potenciais o entendimento desta realidade e das decisões que é indispensável tomar rapidamente
Concretizando:
Vou apresentar-vos, como exemplos concretos, uma lista de empreendimentos possíveis de realizar, com fortes ligações ao turismo de máximo valor acrescentado, quase todos para investidores privados e os que não o são no início por razões operacionais, deverão posteriormente ser privatizados ou em certos casos especiais ficarem parcialmente municipalizados.
Tendo em atenção, que do ponto de vista ambiental, todos os exemplos indicados se pressupõe terem qualidade ambiental do mais elevado nível, o que aliás também é essencial para o seu sucesso económico pois, como têm ligação ao turismo só interessam empreendimentos de 5 ou 6 estrelas.
Bem basta o que se passa com a Ria Formosa que continua a ser gerida deficientemente, portanto com baixo nível de qualidade ambiental e consequente baixo nível económico e social.
1-Fecho da Golada na zona do Bugio, com aproveitamento de cerca de 120 ha sobre o cachopo sul, aproveitando para proteger definitivamente a Caparica e a margem direita do Tejo até Paço de Arcos e para melhorar o acesso do canal da barra
2-A construção de uma ilha no cachopo norte, na barra do Tejo, para um empreendimento de 5 ou 6 estrelas, aproveitado para melhorar o canal da barra e proteger a praia de Carcavelos
3-Desenvolvimento do Barreiro como o maior centro náutico do país
4-Dinamização do estuário do Tejo, em particular o Mar da Palha, para a pesca profissional e desportiva, e para a náutica ligada ao turismo e à educação
5-Marina de Castro Marim com cerca de 2000 postos de amarração, em que parte será para utilização dos munícipes e outra para "resort" de nível 5-6 estrelas
6-Marina em Vila Real de Santo António, na foz do Guadiana, com cerca de 2000 postos de amarração sem imobiliário pois o objetivo é complementar o imobiliário existente em Monte Gordo, que sofre o efeito da elevada taxa de sazonalidade por falta de um equipamento deste tipo e desta dimensão
7- Portos de recreio em Tavira, situados em Cabanas, Santa Luzia, 4 Águas e centro num total superior a 2000 postos de amarração
8-Porto de recreio "off shore" em frente de Vale do Lobo e da Quinta do Lago que sendo empreendimentos de elevado nível têm no entanto a falta deste equipamento para atingirem o grau mais alto da excelência, além do efeito protetor da costa que causa danos e preocupações todos os invernos.
9-Ainda se poderão considerar mais oportunidades, mas não tenho os mesmos pormenores, como seja em Olhão, onde já foi iniciado pelo município este desenvolvimento, bem como o rio Arade, o estuário do Sado, a ria de Aveiro etc.
Estes empreendimentos permitirão a criação de alguns milhares de postos de trabalho diretos e permanentes, quer nas atividades próprias quer nas atividades induzidas, particularmente no turismo, além dos implicados na construção cujo setor atravessa uma situação muito difícil neste momento.
Além dos efeitos na economia e na participação da população nas atividades marítimas, também há a considerar o efeito psicológico porque se trata de uma abertura de novas oportunidades e não de fechos ou cortes, pois embora sendo estes necessários, é essencial haver a contrapartida de factos futuros positivos."
Iniciei este testemunho com um poema de Fernando Pessoa
E termino com o final de um poema de A. Herculano de Carvalho intitulado "Sonho?"
Triste de quem desiste
que afinal
o que pode na vida ser real
mais do que puro sonho que persiste?
Muito obrigado pela vossa atenção.
Lisboa, 18 de Janeiro de 2012
Enquanto em Portugal tanto iluminado de "esquerda" quer mandar prender o Graça Moura, no Brasil há quem ponha os pontos nos iis no negócio do Acordo.
Tantas Páginas: O que acha do acordo ortográfico? Acha mesmo que, como dizem os editores portugueses (e muitos intelectuais), o acordo foi uma gigantesca maquinação brasileira para permitir que os livros brasileiros entrem livremente no mercado português e no africano, acabando com a indústria portuguesa do livro?
Paulo Franchetti: O acordo ortográfico é um aleijão. Linguisticamente malfeito, politicamente mal pensado, socialmente mal justificado e finalmente mal implementado. Foi conduzido, aqui no Brasil, de modo palaciano: a universidade não foi consultada, nem teve participação nos debates (se é que houve debates além dos que talvez ocorram durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras), e o governo apressadamente o impôs como lei, fazendo com que um acordo para unificar a ortografia vigorasse apenas aqui, antes de vigorar em Portugal. O resultado foi uma norma cheia de buracos e defeitos, de eficácia duvidosa. Não sei a quem o acordo interessa de fato. A ortografia brasileira não será igual à portuguesa. Nem mesmo, agora, a ortografia em cada um dos países será unificada, pois a possibilidade de grafias duplas permite inclusive a construção de híbridos. E se os livros brasileiros não entram em
Portugal (e vice-versa) não é por conta da ortografia, mas de barreiras burocráticas e problemas de câmbio que tornam os livros ainda mais caros do que já são no país de origem. E duvido que a ortografia seja uma barreira comercial maior do que a sintaxe e o ai-meu-deus da colocação pronominal. Mas o acordo interessa, é claro, a gente poderosa. Ou não teria sido implementado contra tudo e todos. No Brasil, creio que sobretudo interessa às grandes editoras que publicam dicionários e livros de referência, bem como didáticos. Se cada casa brasileira que tem um exemplar do Houaiss, por exemplo, adquirir um novo, dada a obsolescência do que possui, não há dúvida que haverá benefícios comerciais para a editora e para a Fundação Houaiss. Antonio Houaiss, como se sabe, foi um dos idealizadores e o maior negociador do acordo. O mesmo vale para os autores de gramáticas e livros didáticos entre os quais se encontram também outros
entusiastas da nova ortografia. E não é de espantar que tenham sido justamente esses e não os linguistas e filólogos vinculados à universidade os que elaboraram o texto e os termos do acordo. Nem vale a pena referir mais uma vez o custo social de tal negócio: treinamento de docentes, obsolescência súbita de material didático adquirido pelas famílias, adequação de programas de computador, cursos necessários para aprender as abstrusas regras do hífen e outras miuçalhas. De meu ponto de vista, o acordo só interessa a uns poucos e nada à nação brasileira, como um todo. Já Portugal deu uma prova inequívoca de fraqueza ao se submeter ao interesse localista brasileiro, apesar da oposição muito forte de notáveis intelectuais, que, muito mais do que aqui, argumentaram com brilho contra o texto e os objetivos (ou falta de objetivos legítimos) do acordo.
7-Período até agora
Enquanto ocorriam estes factos houve várias entidades que iniciaram ações de promoção da importância do mar, e portanto da Marinha, na vida do País pois verificava-se enorme desinteresse e até muita ignorância relativa a este tema em quase toda a população, com especial ênfase para a classe política, e que após as mudanças operadas na Soponata se tornaram ainda mais necessárias.
Tratou-se da Academia de Marinha e da Sociedade de Geografia
Em 1984 fui admitido como membro da Academia de Marinha com a apresentação de uma comunicação intitulada "O Mar nas origens e no futuro de Portugal" onde tentei mostrar quão essencial foi a Marinha para a criação do nosso país e quais os caminhos que o Mar nos apresentava para termos um futuro mais promissor.
Constato hoje que poucos dos que o ouviram dele se recordam e muito poucos ou nenhuns o leram mais tarde, pelo que tenho visto proliferarem trabalhos a dizer praticamente o mesmo e alguns, verdade se diga mais pormenorizados, algo dispendiosos, mas todos eles sem seguimento operacional.
O que já me levou a afirmar que D. João II descobriu ou permitiu descobrir todos os continentes sem escrever coisa alguma, excepto o Tratado de Tordesilhas a meias com a Rainha Isabel de Castela, enquanto agora já se escreveram centenas de páginas de livros de cores várias e muitos discursos, mas continuamos a ter uma população de costas para o mar, o que põe em perigo o magnífico trabalho realizado pela Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar.
Também em 1984 é iniciado o trabalho da Secção de Transportes da Sociedade de Geografia de Lisboa que realiza a sua primeira sessão com uma comunicação do Almirante Cruz Júnior seguindo-se outras, algumas com a presença de Seretário de Estado onde se apresentaram os problemas e as soluções para se restabelecer a Marinha Mercante.
Recordo em especial uma sessão realizada na Academia de Marinha em 7 de Novembro de 2000 com um painel formado por Almirante Cruz Júnior, Comandantes Barbosa Henriques e Ferreira da Silva e eu, cujo título era "A Marinha Mercante Portuguesa na transição do século XX para o XXI"
Ainda em 2000 houve mais um curto episódio que só tem interesse contar para se ter noção da importância que era dada aos assuntos da Marinha: fui convidado para participar num grupo de trabalho, que se me não falha a memória, denominado "Tecnologia 2000" e organizado pelo IST e pela Ordem dos Engenheiros, em que só participei na primeira sessão porque foi recusada a proposta de incluir tecnologias marítimas.
Episódio da Fundação Vasco de Gama
Entretanto aproximava-se a data das comemorações da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, por vezes e infelizmente muitas vezes chamada de descoberta do caminho para a Índia, o que de facto foi realizado por Bartolomeu Dias.
No século XIX tinha sido a Sociedade de Geografia de Lisboa encarregada pelo Governo de organizar estas comemorações mas agora competia a outra entidade esta responsabilidade.
Não podemos esquecer ou menosprezar este período da nossa história em que se verificam cinco factos essenciais a saber:
1488 Bartolomeu Dias: descoberta da passagem para o Índico
1488-1492 Bartolomeu Dias/Pacheco Pereira: descoberta dos ventos e das correntes do Atlântico sul e portanto do Brasil
1492 Colombo, e
1494 Tordesilhas, consumando-se a estratégia de D. João II de desviar os espanhóis para a América central, deixando livre o Oceano Atlântico sul para atingirmos a Índia,
1497-1498 Vasco da Gama: primeira viagem à Índia, já com naus
1500 Pedro Álvares Cabral toma posse oficial do Brasil
Parecia pois que dada a importância destes factos não só para Portugal mas para todo o mundo, a Expo 98 deveria dar ênfase máxima a estas comemorações, tirando delas obviamente o maior partido quer para o turismo nacional quer para estimular atividades essenciais para a economia nacional.
Mas nada disto aconteceu assim.
Muitos portugueses em geral e com grandes responsabilidades nesta área em especial, parecem ter vergonha em se afirmar Portugal como o grande iniciador da expansão europeia e assim ter sido líder em navegação, em construção naval, em cartografia, em poderio naval, em ousadia, e portanto em de facto ter aberto o Mar à Europa e ao Mundo.
A Espanha dos Reis Católicos dependia dos bascos e dos catalães do ponto de vista naval e Cristóvão Colombo como iniciador dos seus descobrimentos marítimos aprendeu com os portugueses e descobriu o que estes queriam que ele descobrisse de forma a permitir que fosse iniciado o caminho marítimo para a Índia.
Mas enquanto Portugal se auto-excluiu de propagar convincentemente a sua posição de líder e de iniciador dos descobrimentos marítimos europeus, a Espanha fez uma campanha de informação à escala mundial com uma frota de Colombo e assim ficou a figurar como sendo ela a primeira e não nós.
Até o Relatório da CMOI de 1998 dirigida por Dr. Mário Soares e Dr. Mário Ruivo, mostrou Colombo como o principal navegador oceânico enquanto a Expo 98 esquecia a viagem de Vasco da Gama.
Dado o desinteresse demonstrado pelos responsáveis políticos por realizações náuticas, isto é, que incluam navios, decidiu o então Presidente da Sociedade de Geografia Alte Sousa Leitão e mais um grupo muito reduzido de colaboradores nos quais me orgulho de estar incluído, envidar esforços para conseguirmos ter uma nau já que jamais conseguiríamos fazer o que fez a Espanha que passeou por todo o mundo a frota de Colombo para comemorar a sua viagem à América Central.
Tínhamos bem presente as dificuldades havidas para se construir a caravela "Bartolomeu Dias" para comemorar a descoberta do caminho para a Índia por Bartolomeu Dias que só se realizou porque houve uma ajuda da República da África do Sul, naturalmente implicando a caravela ficar lá num museu em Mossel Bay.
Dados os contactos culturais da Sociedade de Geografia com entidades goesas foi possível encontrar um empresário goês de hotelaria que estava interessado em fazer um contrato connosco de forma a ser construída em Portugal uma nau, que seria utilizada numa repetição da viagem de Vasco da Gama e que depois ficaria em Goa para realizar cruzeiros turísticos locais.
A Embaixada indiana em Lisboa manifestou muito interesse mas o nosso governo desaconselhou o projecto e perdeu-se esta oportunidade de comemorar dignamente e com repercussão mundial este nosso feito.
Entretanto tinha-se constituído uma fundação, dita de Vasco da Gama, cujo objetivo era não só a comemoração da viagem mas estimular e perpetuar o interesse da população pelas nossas actividades marítimas, que se encontrava em enormes dificuldades financeiras porque não houve qualquer apoio mesmo de entidades que foram grandes entusiastas da sua criação.
Como algum tempo antes, i.e. cerca de 1993 eu tinha estudado a hipótese de se tentar construir no Porto uma torre para comemorar o nascimento do Infante D. Henrique o que me levou a aprofundar este tipo de projecto, incluindo conversas com o Arq. Souto de Moura, embora o desinteresse do Presidente da Câmara do Porto tenha abortado tal iniciativa, resolvemos aproveitar este balanço e tentar a oportunidade de Lisboa.
Com efeito entretanto nasceu a EXPO 98, e como só havia no projecto inicial a torre do TCC da refinaria, foi proposto à sua Administração um ante-projeto, com um estudo económico que demonstrava a sua viabilidade, que não só permitiria recuperar o investimento em pouco mais de dois anos, se fosse construída convenientemente, em tempo e lugar, e depois constituir uma fonte de receita para os projetos da Sociedade de Geografia, incluindo a desejada nau.
Isto de facto não aconteceu assim, a Fundação Vasco da Gama foi afastada pela EXPO 98 e acabou por se extinguir, o projecto foi alterado, perdeu rentabilidade e hoje está a ser transformado num hotel.
Aliás a Expo ainda foi protagonista de mais um caso, este ligado apenas a mim, relacionado com a construção da marina. Quando foi criada a Expo 98 estava em curso a negociação com a AGPL de uma marina flutuante no poço do Bispo que implicava a ocupação de uma zona do cais que em virtude daquele novo projecto teve que ser cancelada.
Como consequência desta alteração contactei a Administração da Expo e propuz-lhe a adopção do sistema previsto para o Poço do Bispo, mas agora com melhores condições e principalmente com grande capacidade para se tornar uma grande marina vocacionada essencialmente para a navegação fluvial, pois era e é notória a falta que fazia, e que faz, uma marina com preços baixos dos postos de amarração que permitisse a sua utilização por vastas camadas da população.
Mas a Administração da Expo não entendeu assim, realizou um concurso e um projecto de ordenamento abaixo de medíocre que redundou na situação actual de ter enorme dificuldade em rentabilizar o actual investimento, aliás várias vezes maior do que seria necessário, pois não foi previsto o espaço indispensável para o estacionamento de viaturas dos utilizadores desejáveis da marina e dos espaços adjacentes.
Portanto mais uma machadada na marinha de recreio desta zona da cidade.
No final deste período de comemorações da viagem de Vasco da Gama o balanço não pode deixar de ser considerado muito negativo, embora a zona abrangida tenha ficado recuperada e até muito agradável à vista.
Do ponto de vista do prestígio nacional ligado aos descobrimentos foi muito mal aproveitado e então quanto à nossa Marinha ainda pior. E tudo isto sucedeu perante a passividade da comunicação social e da sociedade civil.
Ainda por cima do ponto de vista económico também bastante para o lado negativo o que originou depois o abastardamento da qualidade urbanística desta zona.
No final desta fase há a assinalar o falecimento do Alte Sousa Leitão que foi uma perda irreparável nos esforços para defender a campanha em prol da Marinha Portuguesa.
Entretanto a partir de 2004 começa a manifestar-se o interesse da CE nos assuntos do Mar do que resultaram muitas reuniões e tomadas de posição muito favoráveis ao desenvolvimento deste assunto, mas quanto à Marinha pouco ou nada aconteceu.
Entretanto desde 2001 até 2008 estive a residir em Tavira donde resultou algum afastamento do que se passava em Lisboa, que era na verdade muito pouco de concreto, mas com grande profusão de publicações, reuniões e comemorações.
Já agora devo dizer-vos, que durante este período algarvio, todas as tentativas para desenvolver actividades náuticas essenciais ao combate ao desemprego e à emigração dos quadros mais novos foram contrariadas tanto pelos autarcas locais como pelos responsáveis pelo turismo algarvio, acompanhados pelo desinteresse da Universidade do Algarve.
Aqui chegados parece agora haver fortes probabilidades de ser aprovada a extensão da nossa zona atlântica com o reconhecimento internacional das suas potencialidades económicas, mas temos continuado a desprezar a Marinha e a criação de empresariado forte, porque destruímos os grupos económicos que existiam e não foram substituídos, e só com PMEs não teremos dimensão crítica para nos lançarmos por nós próprios no aproveitamento das riquezas existentes.
O que aliás vem ao encontro da posição definida por Bruxelas que parece apontar para as decisões sobre esta matéria serem tomadas lá e não cá. Além de recomendações quanto ao interesse no desenvolvimento da náutica de recreio, o que, sendo conhecido o atraso de Portugal nesta matéria, deve ter uma importância acrescida para os nossos responsáveis quer por esta atividade desportiva quer pelo turismo que tanto a tem desprezado.
Comunicações: COM(2010) 352 final-Brussels, 30.6.2010 e
COM(2011) 782 final-Brussels, 21.11,2011
Só tenho a lamentar estar a acertar na previsão que fiz em 1984 quando apresentei a primeira comunicação de entrada na Academia de Marinha: já está a caminho um novo mapa cor de rosa.
(continua)
Lisboa, 18 de Janeiro de 2012
- Aos outros! – indignou-se a minha amiga, que saiu finalmente à rua após uma semana de quarentena, por conta duma tosse renitente e que por isso lhe provoca estas propensões atrabiliárias contras as anomalias da nossa vivência nacional propensas ao azedume.
Porque há quem diga que é pura “mitomania” governativa pretender saldar a dívida de um empréstimo, numa paranóia de honestidade, sem criar riqueza, reduzindo à pobreza e à paragem no trabalho e na exportação, e ao surto da fuga dos capitais e de empresas para sítios de maior equilíbrio financeiro, etc., etc., empréstimo que possibilitou as escroquerias aliadas a uma generalizada feira de vaidades de um povo mal habituado ao dinheiro fácil e que se deixou deslumbrar pelo inesperado bodo, em compromissos de aquisições de bens materiais que se despenham, nesta hora, no caminho da insolvência dum país ao qual más políticas anteriores revelaram uma abundância irrisória e desencaminhadora.
E assim, continuou:
- Estes estão na rua, ao frio.
- Nanja nós! - defendi-me eu, avessa a invasões de lamúria na nossa privacidade, mas a minha amiga ignorou a interrupção:
- Vamos pagar a dívida. Vamos pagar a dívida, mas arrancado ao desgraçado que a vai pagar. Acredito que a pagarão…
- Mas há quem discorde disso! – explico eu, muito pessimista, por conta dos prospectores dos truques económicos da nossa governação tão drástica como pouco explícita.
Mas ambas tínhamos ouvido o banqueiro optimista, em entrevista da noite anterior, a explicar que a banca estava de boa saúde e quisemos crê-lo, nestas flutuações entre o medo e a confiança que nos têm arrastado ultimamente, contudo a minha amiga não se deixou entusiasmar tanto:
- O mundo começou a afundar desde o que foi roubado por ele e pelos comparsas. E não é a Europa, é o mundo inteiro…
- Menos a China! - garanto, com a confiança no país que nos vem dar a mão, embora cortando-nos as pernas, ao que se diz…
- É isso! A China sobe… Quem é que há-de subir senão a China? Mas o Brasil também…
- Mas no Brasil há muita corrupção!
A minha amiga é de ideias fixas, no capítulo da justiça:
- Esta mulher Dilma já pôs na rua cinco ou seis ministros… Aquele país não havia de ser rico porquê? Qual é a matéria de que é feito o ser humano, que, quando enriquece o faz unilateralmente?
E assim nos íamos afastando do ponto de partida da nossa conversa inicial, a frase brutal de Passos Coelho, pronunciada com grande salero, e que me trouxe à memória, comovidamente, o fado da nossa Amália, trocando, evidentemente de destinatário, não o homem amado mas o amado país merecedor das nossas lágrimas de dedicação patriótica, inspirada na força anímica do discurso do nosso PM:
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar,
Por uma lágrima tua
- Que alegria! – me deixaria matar.
É claro que a letra seria alterada de acordo com o nosso arroubo patriótico:
Se eu soubesse que morrendo
Com teu “custe o que custar”
Eu salvaria a nação,
Mesmo sem lágrima tua
Com alegria, deixar-me-ia matar.
E no fado se finou a nossa conversa.
Berta Brás
6-Período da Soponata
Até à ida em 1983 para a Soponata, estive como responsável de uma pequena empresa que fabricava embarcações e outros equipamentos em fibra de vidro o que me levou a estudar o desenvolvimento possível no estuário do Tejo de navegação de recreio para fins turísticos e de usufruto da população, uma vez que os custos dos postos de amarração seriam muito baixos.
Tal iniciativa esbarrou na inércia da APL e no pouco interesse dos municípios ribeirinhos, onde, aliás, só agora vai despontando lentamente alguma atenção pelas atividades náuticas.
Com a excepção da Marinha do Tejo que tanto deve ao Prof. Carvalho Rodrigues, e ao Sr. Carlos Salgado com quem trabalhei nos Amigos do Tejo, mas que poderá crescer mais se forem criadas condições operacionais que nem precisam de dinheiro do Estado para serem realizadas. Só é preciso haver decisões corretas.
Caso da Marina de Algés
No âmbito deste estudo surgiu a ideia de se construir em Algés uma grande marina, com cerca de 2000 postos de amarração, com duas bacias ficando entre elas a entrada e a extenção do Aquário Vasco da Gama que assim ficaria não só com mais área mas também com ligação direta ao mar.
Nessa altura já havia esforços para que fosse fechada a golada do Bugio o que defenderia mais a margem direita do rio, mas nada foi resolvido e o Presidente da AGPL, antigo colega meu no IST, acabou por me dizer que a ideia parecia boa, mas valia a pena fazer um concurso para ver se haveria algo melhor. O concurso ficou deserto, na minha opinião por estar mal feito, e nada se fez.
Aqui, e antes de entrar no tema da minha passagem pela Soponata convém recordar, embora resumidamente o que de mais relevante aconteceu na Marinha Mercante portuguesa nestes anos pós revolucionários, pois parece-me essencial para se melhor entender os acontecimentos desta década que culminaram com o maior desastre que este setor sofreu desde 1945.
Em 1975 surgem as ditas nacionalizações, que na verdade são apenas estatizações pois as empresas já eram nacionais, e as reivindicações sindicais que criam dificuldades crescentes à gestão das empresas de navegação além da perda do negócio mais rendoso que era o do transportes para e das ex colónias, como foi o caso da CNN e da CTM extintas em 1985, acumulando dezenas de milhões de contos de prejuízo e milhares de desempregados.
Para se ter uma ideia do que foram os desmandos praticados por pretensos defensores dos trabalhadores havia casos de estabelecimento de tripulações em navios em que eram impostos tripulantes na base de um por cada cama existente a bordo e com o acréscimo de uma tripulação completa de substituição, o que mais que duplicava os custos de exploração.
Além de outros desmandos na manutenção e na operação dos navios.
Por exemplo o Funchal que antes de Abril de 74 tinha resultados positivos passou a dar prejuízos e acabou por ser vendido a um armador grego, felizmente atuando em Portugal.
Antes de entrar no capítulo Soponata quero referir o caso do Centro Cultural de Belém que tem alguma relação com o Mar e muita com a forma de praticar política nesse tempo, que em parte explica os desastres que então se iniciaram e resultaram agora no que sabemos e sentimos.
Quando mudei a SE do Terreiro do Paço para o edifício do INIP em Algés passava frequentemente em frente dos Jerónimos e assim dei conta de um terreno cheio de máquinas de construção civil que, se não me falha a memória, era um parque de estacionamento relacionado com as estradas, o que parecia ser um péssimo aproveitamento de um dos lados da maior praça do País.
Daqui ter nascido a ideia de se construir nele o que foi chamado "As Naus de Belém", onde se procurava abrir ao máximo a vista dos Jerónimos para o rio e dotar o empreendimento de motivações relacionadas com os descobrimentos, que dessem vida á praça diariamente e todo o ano.
Para isso haveria uma nau e uma caravela no meio de um lago de cerca de um ha em cujas margens eram instalados restaurantes e lojas de artesanato de todos os locais que os portugueses tinham contactado nos séculos XV e XVI e na parte poente um hotel.
Assim se fez e o projeto foi autorizado pelo Presidente da Câmara de Lisboa. Entretanto quando já se iniciara a negociação para o financiamento, o Governo decidiu atropelar a iniciativa privada que daria vida à Praça e receitas ao Estado e pôr a concurso o que é agora o CCB, que dá muito menos vida e muito mais despesa em vez de receita.
Os acontecimentos de 1985 vieram, no entanto, a ter consequências positivas pois na Soponata os desmandos cometidos e que tinham criado uma situação financeira negativa, maugrado os esforços de administrações anteriores de quem recebi excelentes conselhos, puderam então ser combatidos e a empresa passou rapidamente a ter resultados positivos, obviamente também porque ainda se mantinha o sistema de fretes protegidos.
Convém esclarecer dois pontos essenciais para se poder compreender a evolução desta empresa nestes últimos anos da sua vida que são:
1º havia um regime especial de fretes protegidos para garantir a segurança do abastecimento de produtos petrolíferos que permitia obter estes resultados mas que se sabia ter que acabar quando estivéssemos integrados na Comunidade Europeia.
2º o negócio do transporte de petróleo, tal como o de granéis sólidos, tem grosso modo duas modalidades a saber: o negócio ocasional praticado por armadores com custos muito baixos (em inglês diz-se "tramping") e os contratos a prazo onde pesam decisivamente os contactos pessoais e onde uma empresa estatizada não tem condições de atuação competitiva.
Como tive oportunidades de experimentar, uma em conjunto com o Dr. António de Sousa pelo IPE e o Dr. Norberto Pilar pela Portline, e outra sozinho em Hong-Kong.
Assim a estratégia a desenvolver seria diversificar o que se tentou em Macau com a nossa participação maioritária no porto que ia ser construído e em companhias de navegação locais com interesses chineses, e em Portugal com a criação de uma empresa de navios de cruzeiros.
Por razões óbvias nesta última empresa, o primeiro seria o Funchal, que tinha acabado de ser posto à venda, e para os novos navios a utilizar, encomendámos ao Eng. Ribeiro e Castro o projeto de um navio de cruzeiros à vela e a motor destinado em particular a explorar a chamada zona ibero africana /ilhas atlânticas. Praticamente a que se chama a Macaronesia.
Curiosamente logo a seguir apareceram no mercado navios exatamente com esta configuração o que veio confirmar o acerto da nossa frustrada tentativa.
Entretanto fui eleito na ISF- International Shipping Federation seu vice –presidente e chegou a estar prevista a realização em Portugal da sua reunião anual em 1991 mas tudo isso se perdeu.
Ambos os projetos foram liminarmente proibidos pelo governo do Prof. Cavaco Silva que nessa altura ainda não pensava como pensa agora. Pena foi não ter começado a pensar assim mais cedo.
Esta atitude do governo foi resultante de uma tolice típica da nossa política de transportes desde o século XIX: o desenvolvimento de um meio de transporte ser feito contra outros meios em vez de em conjunto com eles.
Assim o comboio destruiu o fluvial e a estrada destruiu o comboio e o marítimo. Temos muitas auto-estradas e portanto o transporte mais caro. Bem como a energia mais cara. E entretanto discutimos à exaustão uns euros de ordenados para melhorar a competitividade.
Donde um desabafo: com elites dominantes assim nem precisamos de ter inimigos!
Convém neste momento recordar a Federação Portuguesa dos Transportes de que era presidente o Eng. Silva Carvalho em representação da Associação de Armadores da Marinha Mercante e que faleceu, deixando-me esse encargo.
Foi nesta altura que a AAPAM, era seu Director o Dr. Mário Salvado, sendo a Soponata o maior sócio, contratou uma agência para fazer uma campanha de informação a fim de lutar pela importância da Marinha Mercante em Portugal.
Em seguimento foi realizado um Congresso de Transportes que parece ter tido a oposição do Ministro da tutela porque proibiu as empresas estatais de pertencerem a esta entidade e enviou o seu Secretário de Estado falar comigo porque as nossas opiniões eram contrárias às do Governo. A reunião acabou mal e passado algum tempo fui substituído e a Soponata vendida.
(continua)
Lisboa, 18 de Janeiro de 2012
Um acordo de empobrecimento da língua
e de interesses geoestratégicos
O assunto não é fácil, atendendo às diferentes grafias (europeia, brasileira e africana) e aos interesses políticos, económicos e culturais a elas subjacentes. O Acordo ortográfico vem beneficiar a grafia brasileira em relação à grafia luso-africana da língua portuguesa. Na sua forma possibilita assim uma maior concorrência, salvaguardando sobretudo interesses geopolíticos e económicos do Brasil.
O maior problema na génese e no processo do acordo, encontra-se, a meu ver, num espírito simplicista e vulgar, em via desde há décadas, na política cultural ocidental.
O maior problema manifesta-se na acentuação e na supressão das chamadas consoantes “mudas”, acabando-se assim com uma diferenciação etimológica insubstituível para a boa compreensão das palavras.
Para se perceber um pouco o fundamento dos que questionam o acordo e para se ter uma ideia da riqueza da exactidão das palavras, apresento a etimologia das diferentes palavras portuguesas: facto, fato, fado e feito. As palavras portuguesas facto e feito vêm da palavra latina factu (do verbo facere=fazer); a palavra portuguesa fado vem da palavra latina latim fatu. A palavra portuguesa fato (roupa exterior do homem) virá do germânico fat. A palavra facto (realidade, verdade) é usada em todos os países lusófonos excepto no brasil que usa a palavra fato para designar facto e fato. Deu-se assim um empobrecimento da língua muito embora em benefício do povo com menos formação. (Apresento no final do artigo o exemplo de palavras provenientes do mesmo étimo latino para melhor se compreender a presença dum c ou dum p mudo na palavra, que levam à pronunciação aberta da vogal precedente). (Infelizmente em muitos dicionários virtuais já se abdica da diferenciação. Forças de interesse e ideologias procuram apagar os vestígios que os não servem. Isto acontece também no que respeita à disponibilidade de termos e de sinónimos no léxico).
Angola e Moçambique ainda não ratificaram o Acordo Ortográfico e naturalmente têm razões muito válidas para o não fazerem tal como os brasileiros e outros terão as suas para o fazerem. O “Jornal de Angola” ao lamentar o empobrecimento etimológico dum acordo ortográfico que se orienta pelo português falado ou pronunciado, mostra o busílis dum acordo que se orienta por um simplicismo redutor, traiçoeiro e mercantilista. Aqui os Angolanos manifestam-se contra a corrente entrópica ao exigir que “os que sabem mais têm o dever sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos” para não baixarem o seu nível.
O problema acentuou-se pelo facto de muitas objecções não terem sido resolvidos já na génese que prepararia o acordo ortográfico. Comete um grande erro quem parte para um acordo com base apenas no português falado. De lamentar seria naturalmente se não houvesse um acordo em defesa da língua. Por muitos erros que se cometam é melhor um acordo que nenhum; a não ser que se defenda a hegemonia do inglês.
O acordo ortográfico beneficia os que falam pior a língua. Por outro lado a língua não se mantem dependente de quem a melhor pode falar: padres, juristas, linguistas e médicos pelo facto de saberem a língua mãe, o latim.
O acordo é necessário para possibilitar a afirmação do idioma português no contexto internacional sem se atraiçoar a alma dos diferentes povos a veicular num português de afirmação global.
Os peritos que elaboram os acordos ortográficos deveriam dominar bem o latim e o grego; especialmente o latim.
O português é uma das línguas chamadas românicas, com a sua origem no latim, sendo uma evolução deste. O latim na sua expressão clássica manifesta um alto nível intelectual e na sua expressão popular (língua falada pelo povo: sermo vulgaris, cotidianus, plebeius, rusticus), com a sua riqueza fonética e morfológica, cria termos novos para expressar vocábulos por ele desconhecidos do latim erudito. Deste modo enriquece a língua, tal como hoje acontece com o português vulgar (provincianismos, e outras formas de formação, entre elas, os neologismos…).
A língua latina suplantou as línguas dos povos vencidos relegando, muitas vezes, as destes para dialectos. Na península ibérica, só o basco lhe resistiu. A língua latina abandonada a si mesma no povo, sem disciplina gramatical, na sua evolução, deu lugar a diferentes falares ou falas que depois deram origem a línguas. Um desses falares foi o galaico-português (também língua dos poetas) que, devido a circunstâncias políticas, deu origem aos idiomas, galego e português. A evolução do português já se pode documentar em monumentos e documentos notariais a partir do séc. VII num latim bárbaro (língua falada pelo povo). A partir do séc. XII os poetas apoderaram-se desse falar (galaico-português) que no séc. XVI se estabilizou no português e no galego. A partir de então temos o português moderno como podemos ver em Camões.
O latim afirmou-se por todo o lado. Na nossa língua, encontram-se também com certa frequência, termos de povos invasores (cerca de 600 palavras usuais germânicas e cerca de 600 palavras usuais árabes).
O vocabulário da língua portuguesa formou-se principalmente através do latim vulgar que se vai modificando através da fonética e da derivação de termos populares; uma outra forma de formação da língua foi a via erudita que de proveniência latina e grega se manteve mais próxima do padrão original latim e grego. O português tem uma fase arcaica que vai do séc. XII ao seculo XVI e uma fase moderna começada no séc. XVI (Camões).
Para melhor se poder compreender as divergências no que respeita ao acordo ortográfico e apelar ao respeito pela etimologia da língua, passo a dar exemplos da formação de termos em que o mesmo étimo latino origina duas palavras diversas. O Acordo Ortográfico nas suas coordenadas gerais deixa-se orientar mais pela via popular ou vulgar. De notar que, hoje como ontem, as pessoas mais simples têm tendência para não mastigar as palavras, ao contrário do que acontece no falar das pessoas mais eruditas. A maior traição ao português e à alma do falante dá-se porém na redução das pessoas verbais (eu tu ele (ela,você), nós vós, eles (vocês). A língua em vez de evoluir e de se diferenciar embrutece seguindo o princípio da inércia, ao eliminar o vós e ao evitar até o tu na linguagem falada (como já adverti noutros textos). Assistimos a um empobrecimento geral em questões. A ignorância não nota o que perde, ganha sempre!
A palavra latina factum deu origem à palavra portuguesa facto por via erudita e à palavra feito por via popular.
Simplificando:
- do latim focum originou-se foco por via erudita e fogo por via popular
- do latim legalem originou-se legal por via erudita e à palavra leal por via popular
- do latim matrem originou-se madre por via erudita e à palavra mãe por via popular
- do latim Hispaniam originou-se Hispania por via erudita e à palavra Espanha por via popular
- do latim jactum originou-se jacto por via erudita e à palavra jeito por via popular
- do latim alienare originou-se alienar por via erudita e à palavra alhear por via popular
- do latim plenam originou-se plena por via erudita e às palavras cheia, prenha por via popular
- do latim oculum originou-se óculo por via erudita e à palavra olho por via popular
- do latim grandem originou-se grande por via erudita e à palavra grão por via popular
- do latim angelum originou-se Ângelo por via erudita e à palavra anjo por via popular
- do latim aream originou-se área por via erudita e à palavra eira por via popular
- do latim arenam originou-se arena por via erudita e à palavra areia por via popular
- do latim atrium originou-se átrio por via erudita e à palavra adro por via popular
- do latim catedram originou-se cátedra por via erudita e à palavra cadeira por via popular
- do latim conceptionem originou-se concepção por via erudita e à palavra conceição por via popular
- do latim delicatum originou-se delicado por via erudita e à palavra delgado por via popular
- do latim digitum originou-se dígito por via erudita e à palavra dedo por via popular
- do latim dolores originou-se Dolores por via erudita e à palavra dores por via popular
- do latim directum originou-se directo por via erudita e à palavra direito por via popular.
Desta observação podemos concluir que o povo simples simplifica (via popular) e os eruditos preferem a clareza.
Com acordo ou sem ele, cada pessoa deve ter a liberdade de escrever na grafia que aprendeu.
António da Cunha Duarte Justo
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