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A bem da Nação

MAS AFINAL, COMO É?

A ESCOLHA

Portugal enfrenta uma escolha decisiva, que se pode resumir na referência a dois países: México e Bélgica. Para o entender temos de recuar 30 anos.

Em 1981 o nosso país vivia há sete em democracia, após décadas de ditadura. Saía de uma crise financeira, ajudado pelo FMI, e ia cair noutra, que o FMI também resolveria.

 

A nossa credibilidade era mínima e o nível de produto per capita estava em 8000 dólares (preços 1990). Éramos então um país semelhante ao actual México, cujo produto é agora o que então tínhamos.

 

Nestes 30 anos desenvolvemo-nos bem. Somos uma economia europeia, integrada na União, com sociedade moderna e um produto per capita nos 14 mil dólares. Ou seja, estamos parecidos com a Bélgica de 1981, que tinha então um produto semelhante ao nosso actual. Em 30 anos foi como se passássemos do actual México para a Bélgica de então. Claro que entretanto a Bélgica também cresceu, embora menos que nós, e hoje está quase nos 24 mil dólares.

 

Nos últimos tempos Portugal voltou a hábitos antigos, aqueles que geraram as crises de há 30 anos. Esbanjámos dinheiro, deslumbrámo-nos com a facilidade, descurámos o investimento e inovação, endividámo-nos. Por isso voltámos ao FMI, à austeridade e ao dilema de 1981.

 

Hoje somos mais ricos, com o nível de vida da Bélgica de então, mas perante os duros sacrifícios que temos pela frente a alternativa é clara. Ou conseguimos pôr a casa em ordem, o que nos permitirá apanhar a Bélgica, ou deixamos reinar a confusão e irresponsabilidade dos últimos anos, e regressaremos ao nível do México.

 

14 | 09 | 2011

NÃO PAGAMOS!

O Estado português está a cortar a despesa pública. Esta frase só pode ser piada.

 

Às vezes a despesa desce por si mesma, como aconteceu aos juros no caminho para o euro. Outras, surge uma ditadura que trata disso, com João Franco ou Salazar. Mas deixada a si mesma, em liberdade, nunca a despesa pública portuguesa desceu.

 

É verdade que a troika está a criar uma espécie de «ditadura financeira» no meio da democracia: ou se reduzem os gastos ou não há mais dinheiro. Será que isto chega para que finalmente se possa ver este fenómeno cósmico de o Estado português cortar despesa? Promessas são muitas e duras, mas isso é costume. Até agora «descer despesa» teve apenas o significado clássico em linguagem orçamental: subir impostos.

 

Ah, é verdade, e também há aquele truque canónico que parece mesmo descer despesa mas não é: o Estado não paga as contas. Trata-se de uma forma de criar dívida pública informal, usando os fornecedores como caixa económica. Assim gasta menos: os bancos queixam-se que o seu único problema de solvabilidade é o sector público não pagar o que deve, milhares de pequenos fornecedores são estrangulados por dívidas a cobrar do erário público, a Ordem dos Advogados ameaça processar o Estado por pagamentos em atraso das defesas oficiosas. Mas cortar a despesa, cortar não cortou.

 

28 | 09 | 2011

 

 João César das Neves

NEKRASSOV

Nikolaï Alekseïevitch Nekrassov - em russo : Николай Алексеевич Некрасов, (1821-1878)

 

Muitas vezes na minha memória ressoam os versos imortais do poeta russo, Nekrassov (séc. XIX):


Vnimáia újassom voyný

Внимая ужасам войны

Atendendo aos horrores da guerra

 

Pri kájdoy nóvoy jértve bóia,

При каждой новой жертве боя,

A cada nova vítima da luta,

 

Mne jalh nie drúga, nie jený,

мне жаль не друга, не жены,

Não tenho pena do amigo, da esposa

 

Mnie jalh ne sámovo gueróia...

Мне жаль не самого героя...

Nem tenho pena do próprio herói...


Então de que tem pena o poeta? Tem pena, sim, muita pena, das mães dos caídos, dos filhinhos que deram à luz, que amamentaram, criaram e educaram para os verem desaparecidos, tombados por balas traiçoeiras ou estripados por impiedosos sabres. Isto foi o que aconteceu na Guerra da Crimeia (1853-1856). Se Nekrassov hoje vivesse ficaria siderado pela bestialidade desumana da guerra contra o "terror": diria "Мне страшно..!". Tenho pavor!


 A guerra da Crimeia foi feita contra o expansionismo do Império Russo, – que perdeu -pela Turquia, auxiliada pela Inglaterra, França e Reino Sardo. Ficou célebre a batalha de Balaclava, em que brilhou a "Carga da Brigada Ligeira", que inspirou o poeta inglês Tennyson e foi, mais tarde, transposta ao cinema.


Joaquim Reis

ERA ASSIM ANTIGAMENTE NO SERTÃO...

 

 

Foto: Uma fazenda do Triangulo Mineiro (arquivo particular)

 

 

Naquele final de tarde poeirento e ventoso de Agosto, em alguma parte do Triangulo Mineiro, um cavaleiro esporava seu cavalo, até sangrar, numa corrida doida por uma estrada de terra do sertão. Mais uma vez, após uma discussão com a jovem mulher, motivada por infundados ciúmes, dera-lhe uma tunda de criar bicho, sob as esquivas e protestos de inocência dela. Agora, procurava-a, após saber que abandonara a casa que era dos dois.

 

Mariinha, como era carinhosamente tratada, havia casado contra a vontade da família mesmo sabendo que Jerónimo, capataz da fazenda do Coronel Julião, era um frio bugreiro, apesar da fala macia e da agradável estampa. Julgava que o amor que lhe dedicava o transformaria num peão aquietado ou num lavrador pacato. Mas se enganara e naquele dia, toda machucada, cansada de tanto apanhar pelas mínimas coisas, buscava a protecção dos pais. A casa deles ficava atrás da venda, na beira da estada que levava à fazenda do patrão do seu marido.

 

Corria o inicio do século XX quando aquelas terras vermelhas de massapé eram ocupadas por fazendeiros, senhores todo-poderosos do lugar, capatazes, empregados e agregados, todos a eles submetidos por laços de parentesco ou poder.

 

As grandes fazendas eram verdadeiras comunidades com casas, mercearias, barbearia, capelas, eiras, silos, até estações de estrada de ferro. Primeiro chegavam os bugreiros “limpadores” de espaços, depois os fazedores de terrenos para plantar e criar gado. Mais tarde os pequenos comerciantes se instalavam com suas vendas e botecos na beira dos caminhos oferecendo pinga e mercadorias variadas aos habitantes do lugar.

 

Enquanto Teodoro, irmão mais velho, e Joel, irmão caçula, atendiam os sertanejos que, após a lida, se reuniam para saber das noticias, fazer negócios, ou beber uma caninha, Mariinha contava aos velhos pais a sua desdita.

 

A noite caía quando Jerónimo chegou. Com o cenho fechado, entrou no boteco dos cunhados, pediu uma pinga e perguntou pela mulher, já desconfiado que ela estivesse lá, na casa dos pais.

 

Cauteloso, Teodoro esperou que ele tragasse a branquinha e pausadamente disse-lhe que ela não queria voltar para ele. Os olhos de Jerônimo escureceram. Pousou o copo na bancada de madeira, levou a mão à cintura, afastou o paletó e deixou que o cunhado visse a pistola na cartucheira. E, como se nada tivesse ouvido, ameaçador, pediu que chamassem a mulher. Queria “tirar” uma prosa com ela. Conhecedor do génio instável do rapaz, Teodoro mandou o caçula buscar a irmã, que apesar do medo resolveu enfrentar o companheiro e dar um basta à triste união.

 

Como por encanto, antevendo a desgraça, os fregueses desapareceram ficando na venda os irmãos e o marido valentão.

 

Ao ver a mulher, seco, Jerônimo ordenou que voltasse para casa, enquanto Mariinha protestava, dizendo que o relacionamento deles estava acabado. Não voltaria, não! Enfurecido, agarrou-a pelo braço, arrastou-a para fora da venda, e atirou-a ao chão. A lua cheia, clara, iluminava o ambiente como uma cena trágica, grega, num palco de teatro. Puxou a arma e ameaçou: Ou voltava pra casa ou dava cabo dela ali mesmo. Jerônimo não teve tempo de ouvir a resposta, tombou inerte, alvejado por um tiro certeiro nas costas. Teodoro vendo a irmã acuada, indefesa, não titubeou, tirou a pistola que guardava carregada atrás do balcão e atirou no cunhado.

 

Como um relâmpago, a noticia da morte de Jerônimo chegou à casa grande. O Coronel Julião, prontamente dirigiu-se ao local da tragédia e se inteirou do fato. Mandou chamar o delegado, seu protegido e afilhado, e seguro determinou que Joel fosse preso sob a acusação de assassinato do seu capataz.

 

O trato já havia sido feito: Como Teodoro era pai de três crianças pequenas que dependiam dele para sobreviver, o Coronel, que também era padrinho de Teodoro, acertou que Joel, bem mais jovem e sem família para criar, responderia pelo crime do irmão. As testemunhas, empregados do fazendeiro, aquiesceram com receio de contrariar o patrão, e assim foi feito. Joel foi preso, julgado e condenado no lugar do irmão por ordem do fazendeiro!

 

Era assim naqueles tempos no sertão...

 

 

 Maria Eduarda Fagundes

 

Uberaba, 15/09/11

A INCRÍVEL FALTA DE PRINCÍPIOS DOS POLÍTICOS

 

 

            Políticos portugueses entenda-se, já que com os outros poderíamos bem.

            A actual crise financeira na Madeira é a última ponta visível do imenso iceberg de bandalheira financeira, corrupção, nepotismo, amiguismo e irresponsabilidade (democrática!), que tem varrido a sociedade e, sobretudo, o Estado Português, nas últimas décadas. O agravamento da situação económica e financeira – após as duas primeiras intervenções do FMI, e que tiveram origem no cataclismo do pós 25 de Abril – começou por ser aritmética, com os governos Cavaco (a origem da coisa) passou a geométrica, aí por altura da época Guterres; passando a exponencial com o incrível consulado de Sócrates.

            Pela primeira vez observou-se o Dr. Jardim a perder o pé, e a meter os ditos pelas mãos. Nem a sua habitual ironia, sarcasmo e destempero vocabular, conseguem disfarçar o incómodo e as coisas mais inverosímeis.

            De facto o Dr. Jardim fez obra e não consta – até prova em contrário – que tenha feito qualquer enriquecimento ilícito, embora toda a família e amigos, não se possam queixar de alguma vez passarem mal ou terem problemas de emprego.

            A obra feita reverte a favor das populações? Reverte, apesar de muita ser de utilidade duvidosa, ter implicações ambientais ou roçar a sumptuosidade ou o novo - riquismo escusado. Valoramos a obra feita, que no Arquipélago, qualquer mente honesta dará, no cômputo final, uma nota positiva.

            Não é isso que está em causa, o que está em causa é que a obra feita não teve em conta as reais possibilidades económicas e financeiras da Região e do País. E foi feita à custa de empréstimos, muito para além daquilo que o senso comum aconselharia. Isto para não falar nas constantes derrapagens dos custos, que deveriam ser analisados em tempo. Não consta que faltem entidades para o fazer.

            Ora, governar desta maneira não custa nada, nem mostra especial competência em nada (a não ser em “engenharia financeira”). Quando em cima de tudo isto não existe uma contabilidade credível e, aparentemente, se esconde ou escamoteia a realidade, o quadro fica todo borrado.

            É neste estado em que se encontra o Dr. Jardim e o seu governo. É o único? Está longe de ser o único, o que teve foi azar já que a “bomba” noticiosa calhou num “timing” particularmente sensível.

            Por todo o país não faltam buracos financeiros, deficits incríveis, crédito mal parado, confusão, desrespeito pelo Tribunal de Contas, falências, endividamento galopante, etc. Um desastre que obriga o país a uma das mais humilhantes provações da sua História. Superior, até, ao Ultimato inglês (ao menos aí o país reagiu!). Nem os Filipes se atreveram a tirar-nos a moeda! O facto do embaixador inglês, em meados de oitocentos se tenha sentado no Conselho de Ministros Português e o rendimento das alfândegas estivesse, por várias vezes, penhorado como garantia de empréstimos internacionais, se pode comparar à “Troika”. E o que mais adiante se verá.

           Não parece haver grande vergonha em todo o país, a começar na classe política, pela situação lamentável e muito perigosa a que chegámos.

            E não há vergonha porque os responsáveis de todos os desmandos têm permanecido inimputáveis e porque a Ética parece ter-se esfumado do nosso país.

            De facto as coisas não acontecem por acaso. O Estado deixou de ser uma pessoa de bem. Tem destruído a soberania e as instituições que a preservam; retirou autoridade às forças de segurança e não consegue pôr o aparelho da justiça a funcionar minimamente – provocando alterações substanciais na segurança dos cidadãos – e foi destruindo, alegremente, o tecido económico tradicional português, sem arranjar quase nada que o substituísse. Fez erros estratégicos avassaladores em quase todas as áreas e acabou com a hierarquia nas relações pessoais e de trabalho, criando-se, assim, continuadas situações de impasse, e impedindo a execução eficaz/eficiente das decisões.

            Os actores políticos não falam a verdade, por norma, e não cumprem o que prometem.

            O Estado, através da maioria dos seus organismos, deixou de pagar as contas atempadamente como fazem as pessoas honestas. Às vezes leva tanto tempo a pagar que é como se não pagasse. Mas, sem qualquer vergonha ou resquício de arrependimento, massacra todo o cidadão com a máquina fiscal (à excepção daqueles que o sistema permite fugas – outra injustiça!) e cobra juros leoninos, uma hora depois de passar o prazo, por si determinado, para a colecta.

            Isto resultou num gravíssimo problema de liquidez para todas as empresas que trabalham para o Estado ou com o Estado (e que em Portugal são a maioria), tendo como consequência constantes pedidos de empréstimo à banca, falências (raramente se apurando quais as que são fraudulentas), e cessação de pagamentos por parte das empresas a fornecedores e assim sucessivamente, entrando-se numa espiral em que nos aproximamos do estádio em que ninguém para a ninguém.

            As consequências para as actividades económico - financeiras, creio, têm sido estarrecedoras.

            Para além da falta de vergonha, ética e princípios, toda esta situação foi muito ajudada – se é que não tem aí a sua origem – no actual sistema político. Significa que, aquilo que legitima o acesso ao Poder é o voto das populações. Ora sendo o cidadão comum influenciável, individualmente e mais ainda em grupo, a verdade foi substituída pela demagogia e o possível, pelas promessas irrealizáveis. Para realizar promessas, mesmo aquelas que não interessam ao menino Jesus, é preciso dinheiro. Daí que as dívidas não parassem. O sistema, simplesmente, implodiu.

            Poderá parecer, aos mais avisados ou ingénuos que é incompreensível que ninguém tenha dado conta do buraco madeirense (ou de outros) e, ou, das “manobras” para o esconder. Que fez o PR, a AR, o Parlamento Regional, o Banco de Portugal, o Tribunal de Contas, as inúmeras entidades reguladoras, que foram nascendo como cogumelos; os próprios “media”, tão ciosos da sua importância em denunciar o que está mal, etc.? São todos incompetentes ou distraídos? Não me cheira.

            Estavam fartinhos de saber.

            E estavam tão fartinhos de saber deste buraco e de outros (fora os que devem estar ainda a antecipar), que o Ministro das Finanças deste Governo resolveu, desde logo, ir mais além do que previsto pela “troika”. Aliás estou convencido que o buraco da “Pérola do Atlântico”, só veio a público, por causa da troika, senão sempre se arranjaria um jeitinho.

           O que é crível é que quando se chega a determinadas questões “sensíveis”, as forças políticas e até os órgãos de soberania, encobrem-se uns aos outros pois, infelizmente, parecem ser todos “farinha do mesmo saco”. E lá diz o velho ditado, que “quem tem telhados de vidro, não atira pedras ao do vizinho”.

            E é bem verdade.

            Irá alguém ser punido no fim de toda esta farsa? Dificilmente. Não há leis nem vontade. A razão é simples: as leis são os políticos que as fazem, ora não há, ou irá haver nenhum político (a não ser alguém que esteja fora desta lógica partidária), que vá votar uma lei que possa vir, mais tarde, a responsabilizá-lo a ele ou a alguém do mesmo ofício, seja pelo que for.

            Têm chamado a isto Democracia.

            Nem sabem o mal que fazem.

 

 

22/09/11

 

João José Brandão Ferreira 

             TCor/Pilav(Ref.)

OS GRANDES HOMENS - 1

 

 

Muito se fala de David Livingstone e das suas explorações em África. Sobretudo por causa do famoso encontro com o jornalista Stanley, e da inusitada frase deste ao encontrar o explorador/missionário/comerciante: “Dr. Livingstone, I presume?”

 

O grande sertanejo Silva Porto, nascido no Porto em 1817, e onde estudou as primeiras letras, chamou-se António Francisco Ferreira da Silva. De família pobre, seu pai tinha sido condecorado com distinção, como soldado do 18° regimento de infantaria, na chamada Campanha Peninsular, e sua mãe, criada em casa duma família. Aos 12 anos, terminada a instrução primária, seu pai pergunta-lhe que profissão queria seguir e ele respondeu logo: “o comércio, mas no Brasil”, porque “desde a infância sonhava com uma linda árvore cheia de patacas”; embarca então para o Rio de Janeiro, onde foi trabalhar na rua de S. José, armazém de louça de Gregório José Teixeira. “Um dia recebi uma bofetada de um serviçal, por ter vendido uma peça de louça e ter colocado o dinheiro em cima da mesa e não na gaveta. Sebastião, que assim se chamava o meu agressor, chegando próximo e por detraz, assenta-me a bofetada, e eu voltando-me, retribuo a ofensa com outra bofetada, mas criança, ferida no meu pundonor, ponho-me a chorar. N’este entrementes entrando meu amo, e informando-se do ocorrido, ao contrário de mandar castigar o preto, passa a repreender-me do meu descuido; eu porém não o deixei acabar. Pego no chapeo, que ponho na cabeça, e incontinente ponho os pés na rua. Que havia de ocorrer? Ir queixar-me a D. Pedro II e pedir-lhe emprego!”

 

Não chegou a tanto, porque no meio do caminho, depois de ter passado “a rua de S. José, Largo da Carioca e Rocio, Campo de Sant’Anna ao tempo, e mais ruas da cidade, até chegar na de São Christovam,” é abordado pelo dono de uma taberna que lhe deu abrigo até encontrar novo trabalho.

 

Espírito irrequieto, criança ainda, na sua estadia no Rio passou por nove empregos, mas desejoso de independência, em 1835 vai para a Bahia, e em 1836 adopta o sobrenome de Silva Porto, não só em homenagem à sua terra natal, mas para evitar confusões com outras pessoas que tinham o mesmo nome.

 

Em 1837, na sumaca (1) Novo São José, vai a caminho de Angola, onde não lhe corre bem a vida; regressa à Bahia, que encontra em plena revolução do Sabino, que paralisara todos os negócios, e no ano seguinte está de novo em Luanda, a trabalhar num pequeno estabelecimento pré falido!

 

Depois de dois empregos em tabernas pobres, e “na impossibilidade de continuar ao serviço de um comerciante pobre, e das ideias com que estava, influenciado com as entradas de todos os pontos do interior, e desgostoso por me fazerem sentar praça no batalhão de voluntários de Loanda”, reduziu as suas pequenas economias à compra de algumas “fazendas”(2), e ainda em 1839, “dei princípio à minha carreira de sertanejo”, que só terminaria, em tragédia, em 1890, quando se sentindo desprestigiado e desamparado pelas autoridades, pôs fim à vida, enrolado na bandeira portuguesa, fazendo explodir oito barris de pólvora.

 


 

Estátua de Silva Porto que esteve na cidade que começou sua existência com o seu nome, hoje se chama Kuito... e a estátua... sumiu!
Além disso parece que Silva Porto, quando usou barba, e foi pouco tempo, teria a barba curta!

 

Apesar de ter só a instrução primária, escreveu, sempre, muito, e os seus apontamentos são uma magnífica fonte de conhecimento do interior de Angola.

 

Um dos assuntos que também muito o “ofenderam” foi a maneira como Livingstone descreve a sua caminhada por África.

 

Primeiro, porque se vangloria de ter descoberto “tudo” por onde os portugueses andavam já há muito, muito, tempo. Mas Livingstone percorreu África sempre com bastante dinheiro e acompanhado dum engenheiro, que lhe permitiu definir com mais precisão a região que era conhecida por pouco mais do que “a tantos dias de viagem”, sem qualquer rigor geográfico.

 

Além disso, pela forma como trata Silva Porto, que se prontificou a ajudá-lo em tudo quanto necessitasse, inclusive lhe arranjando guias para poder ir a Luanda.

 

No seu trabalho, Livingstone, diz, que quando estava em Naliele (3) os negros eram tão negros como os de Barotse, às margens do Zambeze, mas “vive entre eles grande número de mulatos, distintos pela sua cor peculiar de amarelo doente!” Mais adiante: “os mulatos, os portugueses nativos, todos sabem ler e escrever e o chefe do bando, se realmente não é português, tem o cabelo europeu!” O “chefe do bando” era Silva Porto!

 

Também afirma nos seus escritos, o inglês, que se vangloria de ter estado em regiões onde jamais qualquer branco tinha aparecido, o que Silva Porto refuta categoricamente, e ainda que tenha sido o primeiro branco a atravessar o continente de costa a costa.

 

Em 1802, o também sertanejo tenente coronel Honorato da Costa, foi encarregado de promover a travessia de Angola a Moçambique. Os angolanos Pedro João Baptista e (seu irmão?) Amaro José – há ainda algumas notícias de um terceiro acompanhante, Anastácio Francisco – saem de Luanda em 1804, e após terem ficado detidos durante quatro anos em Cazembe (4), chegam finalmente a Tete em 1811. (Estava Livingstone ainda sem ter entrado sequer na barriga de sua mãe). Em 1815 os mesmos estavam de regresso a Angola. Mas... não eram brancos. Eram angolanos portugueses.

 

Em 1798 Francisco José Lacerda de Almeida, nascido em S. Paulo em 1750, licenciado em Matemáticas em Coimbra, de regresso ao Brasil, trabalhou na comissão da definição de limites Sul do Brasil. Oficial da Marinha, matemático e geógrafo, feito sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, foi por esta encarregado, em 1798, de fazer a ligação entre as duas costas, aproveitando para explorar geograficamente o continente.

 

Voltaremos a Silva Porto, mas por ora deixemos só o esclarecimento de que, muitos anos antes do Sr. Livingstone, já os portugueses, quer fossem brancos ou pretos, ou “mulatos com cabelo europeu” haviam detalhado conhecimento do interior de África.

 

(1) - Pequena embarcação americana de dois mastros

(2) - Fazendas eram chamadas todas as mercadorias que levavam para o sertão para negociar

(3) - Localidade na margem direita do Zambeze

(4) – Cazembe. Região Norte da hoje Zâmbia

 

Rio de Janeiro, 3 de Março de 2011

 

Francisco Gomes de Amorim.jpg Francisco Gomes de Amorim

POLITICAMENTE CORRECTO?

 

 

A ideologia da diferença, ao tornar as diferenças indiferentes, arruína o espírito crítico que repousa sobre a partilha das mesmas regras de discussão e sobre a participação em actividades de argumentação recrutadas em bases diferentes da constituição histórica de grupos diferentes de pertença.

 

 Paul Ricoeur

 

In A CRÍTICA E A CONVICÇÃO, Edições 70, Ed. Março de 2009, pág. 94

BRASILEIRO QUE NÃO GOSTA DE PORTUGAL



Há dias, um jornalista brasileiro de Porto Alegre, de seu Nome Políbio Braga, publicou a seguinte notícia:

 

 

Portugal não merece ser visitada e OS portugueses não merecem nosso reconhecimento. Há apenas uma semana, em apenas quatro anos, o editor desta página visitou pela quinta vez Lisboa, arrependendo-se pela quarta vez de ter feito isto. Portugal não merece ser visitada e OS portugueses não merecem nosso reconhecimento. É como visitar a Casa de um parente malquisto, invejoso e mal educado. Na sexta e no sábado, dias 24 e 25, Portugal submergiu diante de um dilúvio e mais uma vez mostrou suas mazelas. O País real ficou diante de todos. Portugal é bonito por fora e podre por dentro. O dinheiro que a União Européia alcançou generosamente para que OS portugueses saíssem do buraco e alcançassem seus sócios, foi desperdiçado em obras desnecessárias ou suntuosas. Hoje, existe obra demais e dinheiro de menos. O pior de tudo é que foi essa gente que descobriu e colonizou o Brasil. É impossível saber se o pior para OS brasileiros foi a herança maldita portuguesa ou a herança maldita católica. Talvez as duas.



Esta Nota mereceu a seguinte resposta do nosso Embaixador Francisco Seixas da Costa:

Senhor Políbio Braga

 

Um cidadão brasileiro, que faz o favor de ser meu amigo, teve a gentileza de me dar a conhecer uma nota que publicou no seu site, na qual comentava aspectos relativos à sua mais recente visita a Portugal. Trata-se de um texto muito interessante, pelo facto de nele ter a apreciável franqueza de afirmar, com todas as letras, o que pensa de Portugal e dos portugueses. O modo elegante como o faz confere-lhe, aliás, uma singular dignidade literária e até estilística. Mas porque se limita apenas a uma abordagem em linhas muito breves, embora densas e ricas de pensamento, tenho que confessar-lhe que o seu texto fica-nos a saber a pouco. Seria muito curioso se pudesse vir a aprofundar, com maior detalhe, essa sua aberta acrimónia selectiva contra nós.

Por isso lhe pergunto: não tem intenção de nos brindar com um artigo mais longo, do género de ensaio didáctico, onde possa Dar-se ao cuidado de explanar, com minúcia e profundidade, sobre o que entende ser a listagem de todas as nossas perfídias históricas, das nossas invejazinhas enraizadas, dos inumeráveis defeitos que a sua considerável experiência com a triste realidade lusa lhe deu oportunidade de decantar? Seria um texto onde, por exemplo, poderia deter-se numa temática que, como sabe, é comum a uma conhecida escola de pensamento, que julgo também partilhar: a de que nos caberá, pela imensidão dos tempos, a inapelável culpa histórica no que toca aos
resquícios de corrupção, aos vícios de compadrio e nepotismo (veja-se, desde logo, a última parte da Carta de Pêro Vaz de Caminha), que aqui foram instilados, qual vírus crónico, para o qual, nem os cerca de dois séculos, que se sucederam ao regresso da maléfica Corte à fonte geográfica de todos os males, conseguiram ainda erradicar por completo.

Permita-me, contudo, uma perplexidade: porquê essa sua insistência e obcecação em visitar um país que tanto lhe desagrada? Pela quinta vez, num espaço de quatro anos? Terá que reconhecer que parece haver algo de inexoravelmente masoquista nessa sua insistente peregrinação pela terra de um "parente malquisto, invejoso e mal-educado". Ainda pensei que pudesse ser a Fé em Nossa Senhora de Fátima o motivo sentimental dessa rotina, como sabe comum a muitos cidadãos brasileiros, mas o final do seu texto, ao referir-se à "herança maldita católica", afasta tal hipótese e remete-o para outras eventuais devoções alternativas.

Gostava que soubesse que reconheço e aceito, em absoluto, o seu pleníssimo direito de pensar tão mal de nós, de rejeitar a "herança maldita portuguesa" (na qual, por acaso, se inscreve a Língua que utiliza). Com isso, pode crer, ajuda muito um país, que aliás concede ser "bonito por for a" (valha-nos isso!), a ter a oportunidade de olhar severamente para dentro de is próprio, através DA arguta perspectiva crítica de um visitante crónico, quiçá relutante.

E porque razão lhe reconheço esse direito? Porque, de forma egoísta, eu também quero usufruir da possibilidade de viajar, cada vez mais, pelo maravilhoso país que é o Brasil, de admirar esta terra, as suas gentes, na sua diversidade e na riqueza da sua cultura (de múltiplas origens, eu sei).

Só que, ao contrário de si, eu tenho a sorte de gostar de andar por onde ando e você tem o lamentável azar de se passear com insistência (vá-se lá saber porquê!), pela triste terra dessa "gente que descobriu e colonizou o Brasil". Em má hora, claro

Da próxima vez que se deslocar a Portugal (porque já vi que é um vício de que não se liberta) espero que possa usufruir de um tempo melhor, sem chuvas e sem um "dilúvio" como o que agora tanto o afectou. E, se acaso se constipou ou engripou com o clima, uma coisa quero desejar-lhe, com a maior sinceridade: cure-se!

Com a retribuída cordialidade de

   
Francisco Seixas da Costa

Embaixador de Portugal no Brasil

 

 

RESSENTIMENTO E ÓDIO

 

 

PAPA EM VISITA DE ESTADO À ALEMANHA ACOMPANHADA DE APLAUSO E CRÍTICA

 

O ressentimento e o ódio descem à rua acompanhados de deputados

 

A convite do presidente da Alemanha, Christian Wulff, Bento XVI visita pela primeira vez oficialmente a Alemanha, de 22 a 26 de Setembro, na qualidade de chefe de Estado do Vaticano.


Uma Visita Papal ao País de Lutero não é empresa fácil.

 

Parte dos Deputados do partido comunista “Die Linke” e alguns outros vão estar ausentes à sessão parlamentar onde o Papa fala (22 de Setembro). Alguns pretendem juntar-se a manifestações paralelas contra o Papa nas ruas de Berlim. Aí juntar-se-ão grupos defensores do aborto, o grupo “divertimento de pagãos em vez do medo do inferno”, um comício de homossexuais e de lésbicas, o movimento “nós somos igreja”.

 

Grave é o facto de Deputados não compreenderam que são representantes do povo e que também têm católicos como seus eleitores. Deputados não se representam a si mesmos. Cada vez assistimos mais a uma sociedade em pé de guerra. A sociedade divide-se em lutas de trincheira. Antigamente as maiorias determinavam a norma. Hoje, minorias organizadas querem ditar o dizer. Exigem tolerância para si mas não toleram as ideias dos outros. Contra o cristianismo levantam a voz porque sabem que não têm nada a recear. Perante o islão acobardam-se e vergam a espinha. O Dalai Lama também é contra o aborto mas para a estratégia dos anticatólicos isso não interessa registar.

 

A informação da comunicação social, em questões de Papa, parece congregar os arautos da guerra escura contra o catolicismo. Por vezes tem-se a impressão de não estarem interessados em narrar, mas apenas em cuspir. A nomenclatura da polémica e da demagogia aproveita para fomentar uma imagem do Papa como inimigo perigoso do progresso e das opiniões de estatística. Assiste-se a uma lavagem ao cérebro.

 

Um Papa que pretende um momento de reflexão conservadora num progressismo absolutista é tido como desmancha-prazeres.

 

Ele não serve os poderosos, é um espinho nos olhos de muitos que se encontram em posições-chave da sociedade (economia, política, ciência e religião).

 

O Papa não obriga ninguém a aceitar as suas ideias. Provoca porque acredita em Deus; provoca por estar à frente duma instituição que defende as crianças por nascer (outros defendem as rãs e ainda bem); por acreditar na ordem natural da criação; por ser contra as guerras do Ocidente; por defender igualdade, solidariedade; por condenar um sistema capitalista financeiro e social que de crise em crise destrói um mínimo de solidariedade social entre pobre e rico; por condenar um estilo de vida que conduz à ruina da pessoa e da nossa civilização; provoca por ter uma convicção que desagrada a uma nomenclatura que só quer opinião. É contestado por comunistas e capitalistas.

 

“ Deus está morto, não há razão para vociferar tribulação” anuncia Siegel.online. Como resposta, também irracional, poder-se-ia dizer: Hitler tentou construir uma ordem estatal e social sem Deus e Estaline também…

 

Os filósofos Adorno e Horkheimer falam duma filosofia do “Iluminismo” que difunde " com sinais do mal triunfante".

 

A propaganda dum paganismo politeísta pretende desligar o Homem de todas as incorporações. Quer uma religião civil com o deus dinheiro e o consumo como liturgia. A felicidade não se pode reduzir a gozo a curto prazo;
a masturbação satisfaz o momento mas não cria futuro. Os resultados do ateísmo podem ver-se no nazismo e no estalinismo. Os resultados de dois mil anos de cristianismo são magros. Temos que nos unir, todos crentes, ateus e pagãos, amigos e adversários, para juntos nos tornarmos melhores e assim possibilitar um mundo melhor. O que temos feito é prolongar a guerra querendo ter sempre razão.

 

O papa vê na razão uma expressão de Deus e Deus como a súmula do ser e do sentido. Num mundo que cada vez desrespeita mais a pessoa, vê Deus como garante de individualidade e dignidade humana. Num mundo do ateísmo ele defende Deus. Com a morte do Deus da Bíblia desaparece a base duma existência civilizada.

 

Quem critica o Papa tão ferozmente não o conhece nem leu os seus livros. Alimenta-se do preconceito, não é honesto. Desconhece que no cristianismo, ao lado dos dogmas, o cristão tem uma consciência soberana. Não chega catar algumas afirmações do Papa discutíveis e reduzi-lo a elas para apanhar pessoas incautas para o seu rebanho.

 

Deparamo-nos muitas vezes com um jornalismo de campanha. Dirigido ao ânimo das pessoas e não à razão. Assiste-se à adulteração da informação. A propósito da visita do papa a Madrid com mais de um milhão de visitantes, as notícias falam primeira e detalhadamente dum grupo de 5.000 demonstrantes e doutro grupo de 150. Concede-se nas páginas dos jornais espaços extensos a críticos, espaços que não se concedem aos conteúdos transmitidos pelo Papa. Assiste-se a uma afectação anti-romana em que se fazem afirmações de “católicos escuros”. Jacobinos de várias facções coordenam as suas acções contra o catolicismo.

 

Uma igreja com comunidades em todas as nações precisa dum cargo da unidade. Os Papas apesar das sombras e pecados na História serviram a unidade da fé e a ideia duma comunidade global em que o irmão e o próximo vivem em paz. Como Papa não é um funcionário duma organização, a ele obriga-o só a Bíblia e o serviço à humanidade. A Igreja é uma comunidade peregrina sempre em processo e em mudança precisando naturalmente também ela de mudança.

 

A religião é mais feminidade, como a razão é mais masculina. A igreja é mulher, é mãe. A sua padroeira é Maria. Uma sociedade extremamente masculina, que impôs os padrões da masculinidade à mulher, critica uma Igreja em que a feminidade é guardada a nível de fé. Nos ataques jacobinos sistemáticos e organizados a nível mundial contra a Igreja parece querer branquear-se uma sociedade extremamente injusta para poderes escuros poderem agir à vontade, sem ninguém que lhes fale à consciência. A Igreja, como cada pessoa e cada instituição é pecadora. Se cada um olhasse para os próprios defeitos talvez compreendesse melhor os outros.

 

 António da Cunha Duarte Justo

22 SETEMBRO

 

Bom dia

 

What a country

Ontem, ao sair de casa, a Jette deparou-se com uma carrinha de serviço que tinha a seguinte inscrição em letras garrafais:  

 

Jesus & Baptista, Comércio de Auto Peças, Lda.
Rua Nossa Senhora de Fátima, 77, Artrozelo

 

 

****

Crise financeira

Depois de ouvir a prelecção de Christine Lagarde, eu fiz um voto: "Que Dieu la garde".

 

Luís Soares de Oliveira

SERÁ ASSIM?

EIS A QUESTÃO:

 

Podemos perguntar se existe no mundo uma ética capaz de impor obrigações idênticas, quanto ao conteúdo, ao mesmo tempo às relações sexuais, comerciais, privadas e públicas, às relações de um homem com a esposa, com a vendedora de legumes, com o filho, o concorrente, o amigo e o inimigo.

 

Podemos acreditar com sinceridade que as exigências da ética possam ficar indiferentes ao facto de que toda a política utiliza como meio
específico a força, por trás da qual se perfila a violência? Não constatamos que, visto os ideólogos do bolchevismo e do spartaquismo terem precisamente recorrido à violência, acabam exactamente por ter os mesmos resultados que qualquer outra ditadura militar?

 

(...) Em que é que a polémica da maior parte dos defensores da pretendida nova ética, mesmo quando criticam as dos adversários, é diferente da de qualquer outro demagogo?

 

Poderia dizer-se que é pela intenção nobre. Ora bem. Mas o que está aqui em questão é o meio, pois os adversários que combatem reivindicam exactamente da mesma maneira, com a mesma e integral sinceridade subjectiva, a nobreza das suas intenções últimas.

 

 Max Weber

 

In «Le Savant et le Politique», UGE, col. «10/18», 2002, pág. 169

 

SUGESTÃO DE LEITURA: http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Weber

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