Há um travo amargo na boca dos portugueses, deixado pela longa decadência do consulado Sócrates. Não é apenas a crise e os sacrifícios, mas o desprezo pelos políticos e funcionários e a suspeita das instituições. Portugal desconfia da sua democracia. Não falta quem diga que o país é mesmo mau e que há séculos não tem saída.
Passos Coelho enfrentou a questão com um Governo jovem, caras novas e independentes em pastas decisivas. Assim rasgou a rotina e abriu uma janela de esperança. Foi uma decisão inteligente e natural, também seguida por Soares em 1976, Cavaco em 1985, Guterres em 1995 e até Sócrates em 2005. Como se vê, refrescamos as elites de dez em dez anos (note-se que desta vez passaram só seis).
Mas isso não chega. É preciso que as caras novas aprendam a lidar com a velha máquina. Porque o país e o Estado não mudam com o novo ciclo político. Os grupos instalados são os mesmos e os aparelhos organizativos também. E não são maus. Defendem os seus interesses, como todos, e precisam de ser equilibrados para bem de todos. O país é bom; só falhou o Governo.
O grande desafio do novo executivo é convencer Portugal de que o mal que nos trouxe a esta situação extrema não constitui um vício antigo que nos assola há décadas, não vem do país ou da democracia. Foi apenas um grupo de políticos interesseiros e mentirosos que conseguiu manter a sociedade refém durante uns anos. Isso não é comportamento típico de portugueses, democratas ou sequer socialistas. É uma coisa triste, que acontece nos melhores países e regimes.
Crise é como mosca, mosquito e jacaré: existem há centenas de milhões de anos e não se antevê que acabem. Nem os jacarés, tão perseguidos por causa da sua pele.
Diz a Bíblia que houve uma “crise” quando se construía a Torre de Babel, e assim a construção foi interrompida; houve graves crises nos vários impérios que se esfumaram na história – sassânida, egípcio, persa, romano, inglês e até o pseudo português – e agora chegou a crise que demorou a manifestar-se: a da ganância e da roubalheira!
Mal fazia ideia do agravamento que iria ter esta pseudo crise. Pseudo porque assistiu-se aos governos de todo o mundo a sustentar os bancos com milhões ou triliões e nem seis meses eram passados e já todos eles tinham lucro suficiente para pagar a “ajuda” que receberam. Até a General Motors, agonizando, pré falida, no ano seguinte tem o maior lucro de toda a sua história.
A França luta com um crescente desemprego, a que não sabe como dar fim, mas no último mês diminuiu o número de “demandeurs d’emploi”, dos que estão inscritos aguardando um posto de trabalho. Como isto aconteceu? Onde está a crescer o mercado? Nos bancos, correctores de bolsa, empresas de produtos de alto luxo, como a de relógios que se vendem entre dez e cem mil euros, nas “grifes” de roupas extravagantes e caríssimas, perfumaria sofisticada, etc.
Nunca se venderam tantos carros de luxo, relógios de ouro com diamantes e tantos aviões para particulares. Até a Rolls Royce decidiu fazer um modelo exclusivo para venda na China!
Nunca, jamais, em tão pouco tempo surgiram do nada, como fungos e cogumelos (não comestíveis, venenosos) tantos milionários, biliardários! E a pobreza cresce no mundo.
Mas que diabo de contra-senso! Alguma coisa está profundamente errada em tudo isto, o que nos leva a imaginar que o “efeito Tunísia” não vai ficar pelos países árabes, mas espalhar-se por todo o mundo!
"Business marriage"
Os órgãos de informação andam excitadíssimos com o, em breve, casamento do príncipe William e a mulher com quem já vive maritalmente há vários anos. Logo ele que vai ser o chefe da Igreja Anglicana! Prepara-se uma festa “a la royale” para uns 2.000 convidados! Revistas de fofoca estão loucas para serem as primeiras a darem essa importantíssima reportagem ao mundo, a BBC vai ganhar uma fortuna, e os noivos, aliás, os amancebados, receberão uma grossa parte de toda essa encenação teatralizada, que vai fazer vibrar os peitos de milhões de babacas de ambos os sexos por esse mundo de “republicanos”!
É difícil imaginar o quanto vai custar ao tal príncipe regularizar, perante a lei e a Igreja, a sua situação de concubinato conhecido e aplaudido. Os dois milhares de convidados “especiais” vão, além de aplaudir, também gastar fortunas em presentes, vestidos novos, exibição de jóias, hospedagem e deslocações até ao local da boda, etc.
E à nossa volta, milhões, milhões, mesmo de súbditos dessa majestade, passam mal. Pior ainda os pseudo súbditos da Commomwealth, como alguns países africanos, que a única migalha que vão receber desse fausto, será a fotografia do casal, cheio de medalhas, tiaras, brilhantes e outros adornos e ainda terão de pagar esse papel com os noivos a rir da miséria.
Lembra-me aquela maravilhosa canção com Bing Crosby e Louis Armstrong: “What’s the reason for the celebration?”... Mais ainda porque o “hoje” não tem nada a ver com aquele “What a wonderful world”!!!
No Brasil, 38% dos jovens na faixa dos vinte anos não conseguem trabalho. O índice de criminalidade entre esses jovens é o mais alto do mundo. E as empresas públicas e os bancos têm lucros recorde na sua história. Em toda a história. Nem os Rothschildquando eram praticamente os únicos a explorar, violentamente, como todos os banqueiros, o “grande império” britânico.
Não é o Ben Ali, nem Mubarak ou o louco do Kadhafi que estão errados. É o mundo todo que está de cabeça para baixo e, como os Três Macacos Sábios, ninguém quer saber do Outro. Nem do planeta em que vivemos, que está doente, doentíssimo.
O mundo árabe está à procura do seu futuro. Luta, mostra que as “coisas” não se podem eternizar só para benefício de uns quantos e... os especuladores de petróleo aproveitam para fazer subir os preços em flecha. A Líbia produz somente 1 a 2% do petróleo mundial; reduziu a produção para menos de 50%; a Arábia Saudita já disse que aumenta a sua caso seja necessário e os preços não pararem de subir!
E não há ninguém que vá em cima desses especuladores e os meta na cadeia, como ao sr. Madoff. Porque a corrupção é assim mesmo: uma mão lava a outra! Como na política.
Não tarda a que o fenómeno “Tunísia” atravesse o Mediterrâneo e outros mares. A “Alternativa” só pode acontecer quando a população se dê conta da força que tem... quando culta e unida!
Não é pelo voto que se lá chega. Por enquanto. Porque a verdadeira crise está na falta de Homens (ou Mulheres!).
Lembrai-vos de São Paulo na Iª carta aos Coríntios: “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.”
Já tínhamos comentado o escândalo do sangue colhido para salvar vidas humanas, metade do qual desperdiçado, incinerado, por falhas no armazenamento, e a minha amiga exaltou-se ao seu jeito exacerbado, comentando sobre os milhões que representava a importação de sangue. Também se falou nos copianços dos candidatos a juízes, nos seus exames de cruzes. E no alcance negativo das greves na TAP sobre a economia da nação…
E falou-se no texto de Pezarat Correia, que, no rastro de Ana Gomes, que ele muito admira, ao que afirmou, acusa Paulo Portas porque mentiu deliberadamente há uns anos, sobre o pretenso armamento iraquiano, após uma sua visita aos Estados Unidos. Ana Gomes limitara-se a referir os submarinos, e mais umas observações de delírio provocatório comparativo, sobre Strauss-Kahn, Correia acrescentou a questão do armamento no Iraque, inquestionável segundo Portas, que provocara a guerra que destruiria o ditador Hussein. Um mentiroso deliberado não podia, pois, ser eleito ministro, segundo Correia, indignado e esquecido.
Esquecido de que também ele mentira ao jurar defender a pátria antes dos cravos de Abril, atraiçoando as suas juras anteriores com os tais cravos. Esquecido igualmente de que o governo do Ex-Primeiro Ministro fora assente sobre alicerces de mentira e dolo e assim vivera, seis longos anos. Matando, é certo, princípios e sobrevivência, mas Pezarat fora dos que se safara, que ganhara com a sua acção de incumprimento, fora dos que sobrevivera, protegido pelo sistema, como muitos dos companheiros da destruição, convinha-lhe continuar.
Não, não lhe convinha mesmo mudar de rumo, esquecido da multiplicação dos sem abrigo, do aumento dos desempregados, do débito pátrio crescente. Um novo governo nascera, mas era preciso deitá-lo abaixo à partida, com a saliência das Gomes e dos Correias deste nosso mundo ilimitado, na pequenez de princípios.
Ia começar tudo de novo, mau grado as promessas de Passos Coelho de que não iria contra-atacar. Mas são muitos os Pezarats, são muitas as Anas das nossas pequenas saliências.
E nós assim falámos dessas e doutras coisas neste país de coisinhas. Como Zaratustra – Zoroastro nos meus tempos do liceu - falámos do Bem e do Mal, mais visível, todavia, o Mal, por cá.
Transcrevo, da Internet, princípios piedosos do Zend-Avesta que ainda hoje nos serviriam, se quiséssemos segui-los:
«Zaratustra propõe que o homem encontre o seu lugar no planeta de forma harmoniosa, buscando o equilíbrio com o meio (natural e social), respeitando e protegendo terra, água, ar, fogo e a comunidade. O cultivo de mente, palavras e acções boas é de livre escolha: o indivíduo deve decidir perante as circunstâncias que se apresentam em determinado facto. A boa deliberação, ou seja, uma boa reflexão a respeito de cada acção faz surgir uma responsabilidade social para colaborar com o projecto que Deus propôs ao mundo. Os seres humanos, portanto, possuem livre-arbítrio e são livres para pecar ou para praticar boas acções. Mas serão recompensados ou punidos na vida futura conforme a sua conduta.
Os principais mandamentos são: falar a verdade, cumprir com o prometido e não contrair dívidas. O homem deve tratar o outro da mesma forma que deseja ser tratado. Por isso, a regra de ouro do Mazdeísmo é: "Age como gostarias que agissem contigo".
Entre as condutas proibidas destacavam-se a gula, o orgulho, a indolência, a cobiça, a ira, a luxúria, o adultério, o aborto, a calúnia e a dissipação. Cobrar juros a um integrante da religião era considerado o pior dos pecados. Reprovava-se duramente o acúmulo de riquezas.
As virtudes como justiça, rectidão, cooperação, verdade e bondade, surgem com o princípio organizador de Deus Ascha, que só se pode manifestar com o esforço individual de cultivar a Tríplice Bondade. Esta prática do Bem leva ao bem-estar individual e, consequentemente, colectivo. A comunidade somente pode surgir quando o indivíduo se vê como autónomo, e desse modo pode descobrir o outro como pessoa. O ego é valorizado como fonte para o reconhecimento do próximo. Cultivado de forma sadia, o ego torna-se forte e poderoso para o homem observar a si próprio como membro da comunidade e capaz de contribuir para o bom relacionamento harmonioso com os outros seres.
Por isso, eram incentivadas as virtudes económicas e políticas, entre elas a diligência, o respeito aos contratos, a obediência aos governantes, a procriação de uma prole numerosa e o cultivo da terra, como está expresso na frase: "Aquele que semeia o grão, semeia santidade". Havia também outras virtudes ou recomendações de Ahura Mazda: os homens devem ser fiéis, amar e auxiliar uns aos outros, amparar o pobre e ser hospitaleiros.
A doutrina original de Zaratustra opunha-se ao ascetismo. Era proibido infligir sofrimento a si, jejuar e mesmo suportar dores excessivas, visto o facto de essas práticas prejudicarem a alma e o corpo, e impedirem os seres humanos de exercerem os deveres de cultivar a terra e de procriar. Essas prescrições fomentavam a temperança e não a abstinência. Assim, as exortações e interdições destinavam-se a proporcionar aos homens uma boa conduta, além de reprimir os maus impulsos.
As revelações e profecias de Zaratustra estão contidas nos Gathas, cinco hinos que formam a mais antiga parte do livro do Mazdeísmo, o Avesta. Os Gathas datam do final do segundo milénio a.C….. Originalmente, esses hinos eram transmitidos oralmente. Grande parte do Avesta original foi destruída, com a invasão de Alexandre Magno e com o domínio posterior do Islamismo. As escrituras sagradas do Mazdeísmo, o Avesta ou Zend-Avesta, como se tornaram mais conhecidas no ocidente, significam "comentário sobre o conhecimento".
O Zoroastrismo é uma das religiões mais antigas e de mais longa duração da humanidade. O seu monoteísmo influenciou as doutrinas Judaica, Cristãs e Islâmicas... Como já mencionado, a base da doutrina de Zaratustra é o dualismo Bem-Mal. O cerne da religião consiste em evitar o mal por intermédio de uma distinção rigorosa entre Bem e Mal. Além disso, é necessário cultivar a sabedoria e a virtude…»