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A bem da Nação

ALENTEJANANDO – 6

 

Foi ao passar por S. Miguel de Machede na estrada do Redondo para Évora que me lembrei de Endovélico, o Deus lusitano cujo santuário principal fica algures ali para as bandas de Mérida. Dessa religião há inúmeros monumentos (megalíticos) por todo o Alentejo: sei – mas não conheço – da existência de um santuário de Endovélico na região de Borba e conheço um enorme menir fálico perto de Monsaraz a que ainda hoje as mulheres inférteis se esfregam para que concebam.

 

E quando os romanos conquistaram a Lusitânia não baniram esses símbolos da religião local – apenas rebaptizaram Endovélico passando a chamar-lhe Zéfiro. E adoraram-no enquanto por cá andaram… O povo, mais atento aos ícones do que aos nomes, concordou.

 

A cristianização seguiu a mesma política dos romanos e a Zéfiro chamou S. Miguel, o Arcanjo. Eis por que ainda hoje o menir de Monsaraz cumpre a função para que foi erigido. É claro que quem conhece as Escrituras não vai a Monsaraz esfregar-se no que quer que seja.

 

E os campos continuavam lindos… Até que na cerca duma propriedade vi uma tabuleta para afugentar caçadores e outros intrusos que só na Península Ibérica é credível:

 

CUIDADO!

GADO BRAVO

 

É claro que não parei, por muito bonito que estivesse o campo. E estava!

 

A chegada a Évora é hoje bem diferente da que lá estava quando cursei no Instituto de que anos mais tarde nasceria a Universidade.

 

Rotundas por «dá cá aquela palha» com passagens para peões elevadas de modo a quebrar as suspensões dos carros dos automobilistas mais apressados. E para dar um ar de metrópole progressista, as ignóbeis faixas BUS que são verdadeiras afrontas ao maior contribuinte que existe em Portugal, o automobilista. Quem recebe subsídios do erário público tem assim direitos preferenciais sobre quem paga os impostos que financiam esses privilégios. Evidente inversão de valores. Solução? Muito simples: querem faixa BUS, perdem o subsídio. Optem!

 

É claro que este princípio tanto se aplica a Évora como a qualquer outra cidade que esteja pendurada nos meus impostos.

 

E dali fomos direitos à Praça do Giraldo, o tal que conquistou Badajoz por três vezes, para descermos pela Rua da Moeda até à Cozinha de Stº Huberto, o restaurante em que reserváramos mesa. Tudo bem e sem história especial a não ser que tive que ir estacionar o carro «onde o diabo perdeu as botas» pois tudo é proibido ou reservado restando ao forasteiro ir quase até à periferia para voltar a pé até ao centro. Pode ser eficaz mas não é simpático. Se não tivesse deixado a minha mulher na Praça do Giraldo, teria seguido caminho para outras paragens mais acolhedoras. Lisboa, por exemplo, onde tenho garagem.

 

(*)

Praça do Giraldo, em honra do tri-conquistador de Badajoz

 

Depois do almoço fomos dar uma volta pela zona histórica da cidade mas dá para nos perguntarmos sobre o que é que em Évora não está recheado de História. Sou do tempo em que Túlio Espanca (1) passeava pela cidade com grupos de turistas e outros interessados a explicar o que acontecera em cada local…

 

Évora continua num processo de evolução interessante valorizando o seu património arquitectónico; a Universidade encarrega-se de valorizar o património humano e sem este nada de positivo pode acontecer.

 

E lá estou eu novamente a imaginar o «click» para que aquela cidade voltasse a ter a importância relativa que já teve há séculos. Sim, creio que bastaria criar as condições para que a agricultura pudesse voltar a existir. Até lá, continuará a ser sobretudo um sorvedouro de recursos públicos. Mais um como tantos e tantos outros em Portugal cuja governação só pensa em tributar o trabalho de qualquer formiga para depois subsidiar todos os que não podem trabalhar porque a economia não funciona.

 

Como não haveríamos de cair no buraco em que nos meteram? Felizmente, há cá dentro quem tenha as soluções para sairmos da crise.

 

Sim, se o presente é de desespero, o futuro só pode ser melhor. Haja esperança!

 

Aqui fica a sugestão aos agricultores alentejanos: façam a vossa Bolsa de cereais com operações sobre futuros e digam ao Governo que, se tiver tempo e souber, legisle sobre o facto consumado pela vossa iniciativa.

 

Entretanto, o templo romano continua no local em que o deixara na minha última passagem por Évora e no lintel da porta principal do Tribunal da Inquisição continua a frase por que muitos suaram as estopinhas: EXSURGE DEUS, JUDICA CAUSAM TUAM o que em comum significa LEVANTA-TE DEUS, JULGA A TUA CAUSA.

 

E foi a fazer slalom por entre nuvens negras que regressámos secos a Lisboa.

 

Março de 2011

 

Henrique Salles da Fonseca

 

 

(1)     - http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%BAlio_Espanca

 

(*)http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.mapadeportugal.net/.%255CLocalidades%255C7%255C705%255Cevora%255CGiraldo.jpg&imgrefurl=http://www.mapadeportugal.net/localidade.asp%3Fn%3Devora%26c%3D705%26t%3DPontos%2520de%2520Interesse&usg=__e95ZwLoVoP_jKf6v9XEROBn_510=&h=413&w=550&sz=162&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=z8m9PMFFtjIEgM:&tbnh=154&tbnw=189&ei=kzaUTZ6eOtOq8QPj3agX&prev=/images%3Fq%3D%25C3%2589vora%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbm%3Disch&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=722&vpy=121&dur=3385&hovh=194&hovw=259&tx=132&ty=127&oei=ZzaUTfz4PIzItAav2dXGCA&page=1&ndsp=12&ved=1t:429,r:3,s:0

 

Curtinhas LXXXVI

ARBEIT MACHT FREI

 

 

v      Está bem enraizada na mente de todos nós, creio que desde tenra idade, o modo virtuoso, exemplar e, diria mesmo, único como os alemães gerem as suas finanças.

 

v      Ideia que nem o facto de os Orçamentos por lá também derraparem (como em 2002) e de um ou outro Banco Alemão ter passado por maus momentos (o Herstatt Bank, que desencadeou a crise financeira internacional de 1974 e faliu; mais recentemente, do HVB/Hypo Vereinsbank, grande cliente dos “produtos tóxicos” made in USA, que teve de ser salvo não uma, mas duas vezes no lapso de uns poucos meses; para não falar já das peripécias em torno do Dresdner Bank e de alguns Landesbanks) consegue turvar.

 

v      A proeminência alemã é, assim, vista como a feliz conjunção de uma capacidade industrial e científica difícil de rivalizar com uma disciplina férrea em matéria de políticas monetária e orçamental. Disciplina que Frau Merkel quer impor como cartilha à UE (ou, pelo menos, à Zona Euro) - no convencimento de que, qualquer que seja a economia, os resultados serão sempre decalcados dos da ortodoxia alemã: virtuosos, exemplares e únicos.

 

v      Contudo, já nos anos ’90, quando da “serpente europeia” (o European Exchange Rate Mechanism, iniciado em 1979, que fixava as taxas de câmbio centrais entre as principais moedas europeias, permitindo-lhes uma estreita faixa de flutuação; com a saída do Reino Unido e a crise da Stirling Pound, em 1992, deu lugar ao European Monetary System - e, no final da década, ao €) era evidente para alguns que o DMark não se valorizava tanto quanto seria de esperar de tamanho rigor monetário e fiscal. Com o que a indústria alemã, aliás, muito folgava (as políticas sustinham os custos unitários do trabalho; uma moeda nacional não tão forte assim reforçava a competitividade externa).

 

v      Aos olhos mais atentos não passava despercebido:

-             Que outros Estados Membros (a França e a Itália, sobretudo) adoptavam, talvez por hábito, políticas monetárias e orçamentais bem menos ortodoxas (isto é, mais acomodatícias), estimulando assim as respectivas procuras internas e criando mais mercado para as exportações germânicas (a quase ausência de risco cambial associada à “serpente europeia” facilitava as coisas);

-             Que a Alemanha reexportava para a CEE a parte maior dos superavits da sua BTC, ora como investimento directo, ora como investimento de carteira, ora como capitais monetários (empréstimos Banco a Banco);

 

v      Difícil era identificar a causa e o efeito: se era a Alemanha a esterilizar a largesse franco-italiana; ou se eram estas economias a pouparem os alemães às consequências inevitáveis de tão estrita ortodoxia.

 

v      Verdade seja dita que a indústria alemã (potenciada por “Ossies” a preço de saldo e pelo aproveitamento da mão de obra barata, mas bem preparada, nos países do Leste Europeu) foi, no contexto da CEE, a que melhor soube aproveitar de todas as circunstâncias que iam surgindo no processo de integração económica europeia. Mas, tanto uma agricultura eficiente e fortemente subsidiada, como um esquema de seguro de créditos à exportação (Hermes, a maior Agência a nível mundial) com grande músculo financeiro, ajudaram bastante.

 

v      Visto isto, cabe perguntar: “O que acontecerá à Zona Euro se todas os Estados Membros forem, por fim, tão virtuosos quanto a Alemanha?”

 

v      Três cenários são possíveis:

-             Cenário 1 – Todos os países do €, na peugada da Alemanha, conseguem, ano após ano, superávits da BTC com os países fora da Zona Euro. E das duas uma: ou competem entre eles, roubando mercado uns aos outros, tornando o Cenário mais difícil de concretizar; ou cada um tem a sorte de encontrar o seu nicho de mercado, na geografia e na actividade. De qualquer modo, os superavits teriam de dar lugar a exportação de capitais e aos inerentes riscos de toda a ordem (riscos a que a Alemanha tem sido, em larga medida, poupada, graças à UE e Zona Euro). Ficariam por resolver em todos eles: uma agricultura subsidiada e a cobertura dos riscos de crédito na exportação. Ah! E a cotação do € dispararia por aí acima.

-             Cenário 2 – Como que se dá uma divisão de trabalho no interior da Zona Euro: de um lado, as economias que se especializam nas exportações para terceiros países; de outro, as economias que participam nos processos produtivos daquelas, para onde passam a exportar. E os países com BTC superavitárias relativamente ao exterior da Zona Euro começam a partilhar esses saldos com os restantes, não através da exportação de capitais (como acontecia nos tempos da “serpente europeia” e aconteceu no passado recente), mas da importação de bens e de serviços. É certo que as exportações de capitais para outras paragens não seriam muito diferentes das que são hoje, tal como com as pressões sobre o €. Mas duvido que seja isto o que Frau Merkel tem em mente quando argumenta a favor de um “pacto de competitividade”.

-             Cenário 3 – Alguns países não conseguem saltar a “barreira da competitividade” e, aí, o ajustamento entre rendimento real e emprego faz-se por meio da emigração para a Alemanha e outras economias bem sucedidas. Dito de outra maneira, as economias que não descolarem passam a ter gente a mais (consequência a que R. Mundell, o pai das “zonas monetárias óptimas”, e a teoria não deram uma importância por aí além).

 

v      Temos, então, um cenário irrealista (o Cenário 1), um cenário politicamente inadmissível (o Cenário 3) e um cenário que não deixa a Alemanha (nem, em geral, as economias mais competitivas da Zona Euro) de fora das exigências de ajustamento estrutural (o Cenário 2).

 

v      Os números (em 31/12/2010) lançam alguma luz sobre esta discussão. Vejamos:

-             Os Bancos Alemães estão expostos: à Dívida Externa Portuguesa em € 20 mM (€ 6 mM de Dívida Soberana e € 14 mM de Dívida Bancária); e à Dívida Externa Espanhola em € 90 mM (€24 mM de Dívida Soberana e €66 mM de Dívida Bancária)

-             Os Bancos Franceses, por sua vez, estão expostos: à Dívida Externa Portuguesa em € 24 mM (€ 13 mM de Dívida Soberana e € 11 mM de Dívida Bancária); e à Dívida Externa Espanhola em € 78 mM (€37 mM de Dívida Soberana e €41 mM de Dívida Bancária)

-             O BCE está exposto: ao risco Portugal em € 62 mM (€ 21 mM de Dívida Soberana e € 41 mM de Dívida Bancária); e ao risco Espanha em € 65 mM (tudo Dívida Bancária)

-             Os Bancos dos restantes países da Zona Euro correm riscos mais modestos na Dívida Externa Portuguesa (€ 25 mM), mas têm uma exposição já apreciável na Dívida Externa Espanhola (€ 64 mM

 

v      Assim, a situação financeira de Portugal é temida, não tanto pela sua dimensão própria (€ 131 mM), mas por ser o detonador de uma crise financeira em Espanha (€ 297 mM).

 

v      É compreensível, pois, que tanto a França como a Alemanha (cujos sistemas bancários são o epicentro da Zona Euro e o suporte do BCE) tentem tudo para que a desgraça financeira dos países ibéricos não se traduza em fortes rombos (coisa próxima do melt down) nos seus Bancos nacionais.

 

v      Já é mais discutível se a solução encontrada de penalizar unicamente os devedores, deixando incólume quem não soube medir os riscos financeiros a que voluntariamente se expunha e quem não foi competente na supervisão das actividades a que os seus Bancos se dedicavam, respeita um módico de equidade.

 

v      E é totalmente inaceitável que, em plena crise grega, Alemanha e França tenham insistido com a Grécia para que este país recebesse e pagasse o equipamento militar anteriormente encomendado – sem o que, nada feito.

 

v      Como, por cá, está a acontecer com o TGV. Pensa, Caro Leitor, que é só mais uma birrinha do nosso PM demissionário?

Palhinha Machado.jpg A. Palhinha Machado

 

Março 2011

ALENTEJANANDO – 5

 

 

Saindo de Vila Viçosa de regresso a Lisboa, decidimos passar pelo Redondo e almoçar em Évora.

 

E por ali viemos nós ladeados por montanhas de escombros das pedreiras de mármore ou por blocos à espera de expedição. Curiosamente, uma região eminentemente exportadora de grandes blocos de pedra, tem o caminho-de-ferro desactivado. Quando eu for crescido hei-de entender o porquê de tal facto. Por enquanto, considero isso uma grave anomalia. Ou será que a ferrovia portuguesa ganha muito dinheiro noutras linhas e não precisa do negócio do frete do mármore?

 

Foi durante esse percurso que me lembrei de que o Convento das Chagas em que pernoitámos esteve muito tempo ao abandono entre a extinção das Ordens religiosas e algum aproveitamento que se lhe deu como dormitório de seminaristas e mais tarde como Escola de Artes. Os seminaristas escassearam e extinguiu-se o dormitório; os alunos de arte faltaram e a Escola fechou. Até que num Governo do Professor Cavaco Silva se transformou o Convento em Pousada e vida nova surgiu do que se preparava para cair em ruína. Mas ficou-me na ideia de que o mármore é exportado com muito pouco valor acrescentado local. Pedregulhos e alguma serração menos bruta mas sempre escassa elaboração. Ou seja, a terra pouco faz actualmente para valorizar o seu principal (e exaurível) recurso. A Escola de Artes formal não resultou mas eventualmente poderia ser interessante a Câmara de Vila Viçosa desafiar algum ilustre escultor aposentado a instalar-se em casa-atelier que lhe seria disponibilizada graciosamente na condição de «fazer escola» atraindo forasteiros que com ele quisessem aprender o refinamento da sua arte em mármore.

 

E dali seguimos até ao Redondo de modo a metermos pela estrada que atravessa a Serra d’Ossa em direcção a Estremoz. Tínhamos como objectivo visitar o hotel instalado no antigo Convento de S. Paulo. Tudo bem sinalizado, foi fácil lá chegar. Sim, os frades sabiam escolher os locais em que se instalavam e bem andou o Engenheiro Henrique Leote quando decidiu adaptar o convento a hotel de 4 estrelas.

 

(*)

Muito bom, o mínimo que posso adjectivar.

 

 

 (**)

 (***)

 

Mas a surpresa estava à minha espera logo à entrada quando deparei com uma maquette que me pareceu relativa a local meu conhecido. Não foram necessárias grandes adivinhações para reconhecer Juromenha. Sim, a Fundação Henrique Leote vai muito em breve tomar conta do supra-sumo do desmazelo que dias antes tanto me contristara e repor vida onde hoje ela só se manifesta pelas ervas daninhas. E aqui fica um tranquilizante: não vi qualquer referência a campos de golf ou a outras imbecilidades do estilo. Logicamente, com um lago a seus pés como é o Alqueva, para quê estragar a ecologia local com os químicos pavorosos que transformam qualquer local à superfície da Terra em greens escoceses?

 

Se outro motivo não houvesse para a minha satisfação – e houve – bastaria esta notícia sobre Juromenha para justificar a visita ao Convento de S. Paulo na Serra d’Ossa.

 

Foi com a alma lavada de fresco que seguimos para Évora…

 

Março de 2011

 

Henrique Salles da Fonseca

 

(*)

http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://canelaehortela.com/home/wp-content/uploads/2010/06/hotel_convento_sao_paulo-0035-300x213.jpg&imgrefurl=http://canelaehortela.com/convento-de-sao-paulo-leva-a-cabo-mais-uma-passagem-de-ano&usg=__VBHLE2PtPC9jsouenz_ce5ElTTg=&h=213&w=300&sz=23&hl=pt-pt&start=42&zoom=1&tbnid=VzQPMgSPxxmakM:&tbnh=166&tbnw=221&ei=pending&prev=/search%3Fq%3DConvento%252BS.%252BPaulo%252BSerra%252Bd%27Ossa%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbm%3Disch&um=1&itbs=1&iact=rc&dur=452&oei=2JKRTYaoK8HOtAb4zcjRBg&page=4&ndsp=12&ved=1t:429,r:8,s:42&tx=140&ty=89



(**)

http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://1.bp.blogspot.com/_BrQcIsKCpnY/Sf3BVg2lk-I/AAAAAAAAAIU/EwvQF7w1YnQ/s400/Claustros%2Bdo%2BHotel%2Bdo%2BConvento%2Bde%2BS.%2BPaulo2.JPG&imgrefurl=http://alfredo-moreirinhas.blogspot.com/2009/05/1-de-maio-passeio-ao-alentejo.html&usg=__4YB4RrBMDA43eRArYJJpef-a7X4=&h=300&w=400&sz=34&hl=pt-pt&start=54&zoom=1&tbnid=MRbanuQThfqLYM:&tbnh=165&tbnw=214&ei=n5SRTZO4EpiS4gbu4ZSbAg&prev=/search%3Fq%3DConvento%252BS.%252BPaulo%252BSerra%252Bd%27Ossa%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbm%3Disch0%2C2042&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=145&vpy=345&dur=2746&hovh=194&hovw=259&tx=125&ty=117

 

(***)http://canelaehortela.com/convento-de-sao-paulo-leva-a-cabo-mais-uma-passagem-de-ano

ALENTEJANANDO – 4

 

A INESPERADA RECUPERAÇÃO DO PORTUGUÊS EM OLIVENÇA


(RESUMO DE ACONTECIMENTOS DE TRÊS ANOS: 2008-2011)

 

 

Portugal é um País de contradições. Ambiciona ser conhecido, reclama que a sua cultura é pouco divulgada... mas, contraditoriamente, parece envergonhar-se de assumir manifestações concretas da sua cultura.
   

Desde 2008 (em Março de 2011, celebra-se o terceiro aniversário), algo de novo surgiu no panorama cultural português... ou, se se quiser, lusófono.

 

Previamente, a União Europeia chamou a atenção para a falta de protecção de que a Língua Portuguesa era vítima por parte do Estado Espanhol em Olivença e Táliga (antiga aldeia de Olivença).

 

Mais importante, na própria Olivença, um grupo de locais fundou a Associação "Além Guadiana", que, sem se preocupar com a questão, que se mantém, algo discretamente, sobre a soberania legal (ou efectiva) sobre a Região, decidiu meter "mãos à obra", e começar a lutar pela recuperação da sua cultura e da sua História.

 

Entenda-se: Cultura e História portuguesas.
   

Menos de um ano sobre a sua fundação, o grupo conseguia, em 28 de Fevereiro de 2008, organizar uma "Jornada do Português Oliventino", que decorreu na Capela do Convento português de São João de Deus (em Olivença, naturalmente).


Quer se queira, quer não, fez-se História: pela primeira vez desde 1801, a Língua Portuguesa manifestava-se livremente em Olivença, com a "cobertura" das autoridades espanholas máximas a nível local e regional. Quase 200 pessoas foram testemunhas disso, entre as quais o arqueólogo Cláudio Torres, o "herói" do mirandês Amadeu Ferreira, e outros!


Vale a pena fazer um resumo do que então se passou.




A JORNADA DE FEVEREIRO DE 2008


Falou primeiro o Presidente da Junta da Extremadura espanhola, Guillermo Fernández Vara. Curiosamente, um oliventino. Foi comovente ouvi-lo confessar
que, na sua casa paterna, o Português era a língua dos afectos.  

O Presidente da Câmara de Olivença, Manuel Cayado, falou em seguida.

Joaquín Fuentes Becerra, presidente da Associação "Além Guadiana", destacou e insistiu no aspecto cultural da Jornada.

Juan Carrasco González, um conhecido catedrático, falou depois.
Seguiu-se Eduardo Ruíz Viéytez, Consultor do Conselho da Europa, que explicou as recomendações críticas deste, ao Estado Espanhol, em relação ao Português de Olivença. 

Falou depois Lígia Freire Borges, do Instituto Camões, que destacou o papel da Língua Portuguesa no mundo.

Após o almoço, foi a vez de ouvir a voz de alguns oliventinos, em Português, bem alentejano no vocabulário e no sotaque, não faltando críticas e denúncias de situações de repressão linguística não muito longe no tempo.
Falaram depois Domingo Frade Gaspar (pela fala galega) e José Gargallo Gil (Línguas minoritárias).
Seguiu-se Manuela Barros Ferreira, da Universidade de Lisboa, que relatou a experiência significativa de recuperação do Mirandês.

Falou finalmente o Presidente da Câmara Municipal de Barrancos, a propósito dos projectos de salvaguardar o dialecto barranquenho.
No final, foi projectado um curto filme sobre o Português oliventino, realizado por Mila Gritos (Milagros Rodrígues Perez). Nele surgiam oliventinos a contar a história de cada um, sempre em Português.
Deu por encerrada a sessão Manuel de Jesus Sanchez Fernandez, da Associação Além-Guadiana.

Os assistentes e os promotores da Jornada abandonaram o local, já de noite, convictos de que tinham assistido a algo notável.
     

Estava dado um passo de gigante para a recuperação de cultura lusa em Olivença.
     

Cerca de um ano, um pouco mais, depois, nova surpresa!


   
TOPONÍMIA EM PORTUGUÊS

 

A Câmara Municipal de Olivença decidiu começar a recuperar os antigos nomes em português das ruas da localidade. A iniciativa partiu, claro, da associação cultural Além Guadiana que apresentou à Câmara e aos diferentes representantes políticos de Olivença um projecto pormenorizado para a valorização da toponímia oliventina, com unânime aceitação.


O projecto, com início a 12 de Junho de 2010, e que prossegue, estando já quase concluído em Janeiro de 2011, contempla a adição dos antigos nomes das ruas aos actuais, mantendo a mesma tipologia e estética nas placas. Assim, resgatam-se as denominações das ruas, dos becos, das calçadas, etc., que configuram o conjunto histórico encerrado nas muralhas abaluartadas, com um total de 73 localizações.


Recorde-se que a maior parte da toponímia urbana de Olivença foi substituída ou modificada na primeira metade do século XX, embora quase todos os nomes continuassem a ser utilizados pela população apesar das alterações, como nos casos da rua da Rala, da rua da Pedra, da Carreira, etc.
   

A Associação "Além Guadiana", num comunicado, esclarecia: «os antigos nomes das ruas falam-nos do passado português da "Vila", como popularmente é conhecida a cidade, desvelando aspectos diversos, amiúde desconhecidos, da sua História.

Estes remontam a séculos atrás, muitos deles à Idade Média, aludindo a pessoas ilustres da História, a antigos grémios de artesãos, a santos objecto da devoção popular ou à fisionomia das ruas, entre outros aspectos. A rua das Atafonas, a Calçada Velha, o Terreiro Salgado e o beco de João da Gama são alguns exemplos.
   

Mais dizia o comunicado. «Com esta iniciativa pretende-se, enfim, realçar um interessante componente da rica herança cultural oliventina, a toponímia, contribuindo para testemunhar a história partilhada deste concelho e para a tornar visível em cada recanto intramuros. Os nomes ancestrais dos espaços públicos conformam uma janela que convida a assomar-se e a explorar a apaixonante história de Olivença. Expressados na sua originária língua portuguesa, constituem o testemunho vivo de uma cidade onde se respiram duas culturas e são um veículo que encoraja os mais novos a manter a língua que ainda falam as pessoas mais velhas do município. Para a associação Além Guadiana, trata-se de uma iniciativa com fins didácticos, culturais e turísticos, com a qual se resgata para o presente uma parte do passado oliventino.

 

UMA ESPÉCIE DE «DIA DE PORTUGAL»... DOIS DIAS DEPOIS

 

A inauguração das primeiras ruas com os nomes em Português, teve lugar no meio de uma espécie de festival promovido pela Associação citada, denominado «Lusofonias». No sentido de promover a cultura e a língua portuguesa, a organização do evento elegeu como imagens promocionais da iniciativa Amália Rodrigues, Fernando Pessoa e Vasco da Gama.


A "Além Guadiana" justificou estas escolhas: «São ícones de Portugal e da sua História. Como curiosidade posso dizer que os familiares de Vasco da Gama são originários de Olivença e desta forma vamos relembrar esse facto.»
   

A iniciativa cultural contou com a colaboração do Ayuntamiento de Olivença, da Associação para o Desenvolvimento Rural da Comarca de Olivença e da Junta da Estremadura e consistiu ainda num vasto conjunto de actividades, entre as quais se destacaram peças de teatro, música, literatura e animação de rua.

 

Em paralelo, houve uma zona reservada a exposições, onde estiveram artesãos, um espaço dedicado à gastronomia e a instituições do espaço lusófono, bem como trabalhos ao vivo e animação musical a cargo de grupos de Portel (Évora).
   

Procedeu-se a uma leitura pública contínua em português, na qual participaram oliventinos de todas as idades lendo ou recitando na língua de Camões. Este foi um dos pontos altos que a organização destaca deste dia dedicado ao mundo lusófono.
   

Durante a manhã ocorreu também uma demonstração de folclore, através do grupo "La Encina" de Olivença e a actuação das Cantadeiras de Granja (Évora).
   

No período da tarde foi projectado no Espácio para la Creación Joven, o filme "O Leão da Estrela" e houve actividades de animação nas ruas, bem como ainda a actuação dos alunos de português da escola pública Francisco Ortiz, de Olivença.

A "Estória da Galinha e do Ovo" e "O Canto dos Poetas", ambos interpretados pela associação "Do Imaginário" de Évora, foram dos atractivos desta iniciativa promovida pela associação "Além Guadiana".


UM MERCADO MENSAL

 

O final de 2010 e o princípio de 2011 viram realizar-se mais uma iniciativa deste prolixo grupo oliventino: um mercado mensal de artesanato e antiguidades portuguesas. O primeiro efectuou-se a 11 de Dezembro de 2010, o segundo a 8 de Janeiro de 2011. O terceiro em 12 de Fevereiro de 2011.
   

Pela primeira vez, em mais de duzentos anos, ressurgiu o mercado antigo tradicional de Olivença que era aos Sábados, nas suas características originais. Na verdade, este evento efectua-se num local distinto do mercado mais convencional (Adro da Igreja manuelina da Madalena), que é no mesmo dia da semana.
   

Foi curiosa a primeira edição, não só pelo afluxo de interessados, mas também por algumas das motivações expressas. Muitas louças tradicionais (do Redondo, por exemplo), e mobiliário, também tradicional, foram adquiridos porque lembrava aos compradores objectos vistos em casa de antepassados seus, onde constituíam uma espécie de relíquias. Note-se que, na falta do seu tradicional mercado, muitos oliventinos, durante mais de cem anos, se deslocavam a Elvas ou a outras localidades, procurando obter os produtos (então de utilidade doméstica, ou de decoração) a que estavam tradicionalmente habituados.


INTEGRAÇÃO NA LUSOFONIA

"A língua de Camões fala-se ininterrompidamente em Olivença desde finais do século XIII". Estas são palavras do Presidente da Associação Além Guadiana, o já citado Joaquín Fuentes Becerra, "Este, o mais importante legado português. Até meados do século XX, 150 anos após a mudança de nacionalidade, a língua maioritária era o Português, apesar de não ter tido qualquer apoio institucional". Becerra acrescenta que, hoje em dia, para além de conservada pelos mais velhos, a língua portuguesa já está a ser ensinada nas escolas. "Estamos no caminho correcto, mas faz falta uma aposta mais forte para que a língua portuguesa não se perca em Olivença. A língua é tudo". E, sem abordar aspectos políticos, Becerra reclama para a localidade a sua "INTEGRAÇÃO NA LUSOFONIA".
   

Parece que algo de novo, e talvez um tanto inesperado, está a surgir no espaço lusófono. Ignorá-lo, fingir que não existe, começa a ser impossível.

 

E insuportável!
   

Estremoz, 27 de Janeiro de 2011

 

Carlos Luna Carlos Eduardo da Cruz Luna

 

MENINA DE LÁ D’ALÉM…

NOTA PRÉVIA - A Mãe da Professora Berta Brás faz hoje 104 anos pelo que é com o maior gosto que o “A bem da Nação” publica este magnífico texto. MUITOS PARABÉNS! à aniversariante e a toda a Família.

 

 

E a minha mãe contou, dos tempos em que guardava os gados, juntamente com as amigas com o mesmo ofício – do lado de lá do rio do Inço, no Vale dos Barreiros, ela com a Maria Pia, do lado de cá do rio, no Crasto, (passando pelo Cabeço Murado, Souto, Ribeira das Vinhas) a Rosinda do Bispo, a chefe, por ser a mais velha, sua futura cunhada, que ia com a Palmira do Castanheira, filha da tia Rufina, irmã do seu pai, e a Eurides do Guieira - pastoreando e intercomunicando-se com a cantiga de “loar”, para reconhecimento mútuo. A menina de lá d’além respondia, e as vozes, avolumadas pela barreira dos montes, eram perfeitamente audíveis, e assim as pastoras desfiavam os passos das suas andanças, em “facebooks” primitivos, não de tipo visual mas acústico, remontando, provavelmente, aos tempos recuados da transumância, de eco onomatopaico audível no próprio estribilho fónico precedendo o verso seguinte da comunicação:

Eh! Lá! Ou! em… Menina de lá d’além!

Eh! Lá! Ou! ais… Diz p’r’a onde é que tu vais…

Eh! Lá! Ou! eiras… Vais para as Corgas Salgueiras?

Eh! Lá! Ou! oite… Ficas lá até à noite?

Eh! Lá! Ou!  is…

Ó menina ora diz… Ou…

A loar a loa lou…

            Outras mais coisas contou, com uma animação extasiada, de quem aprecia auditório - dos cabritinhos que nasciam nos montes e elas transportavam ao colo para as quintas, como a do Vale dos Barreiros, onde havia figueiras de todas as qualidades, do choro da nossa futura tia Rosinda quando lhe mandavam deixar no curral da sua casa as cabras e os cabritinhos que ela sabia que iam ser mortos, para as panelas, no estrume que o gado fazia, bom para as terras, nos lugares onde elas iam roçar carqueja para as vacas comerem, da primeira carta que a futura sua sogra, de Destriz, ponto extremo das suas andanças com os rebanhos, lhe entregara, do meu futuro pai, chegado recentemente à terra, ido de Macau, onde fizera a tropa e estudara… Descreveu o Cabeço Murado como uma serra só de penedos, que dum lado dá para o rio, onde há moinhos de maquia, e do outro é o caminho do Crasto, com o Rochão, uma planície de terra, e mais a Quinta do Bacelo, e o Forno dos Mouros, uma cavidade na rocha… E cantava a cantiga que se cantava na terra:

Da banda d’além do rio

Tenho eu os meus amores,

É o padre Santo António

Mais a Senhora das Dores.

Contava a minha mãe e revivia as saudades nas recordações tão presentes no seu espírito, a passos largos para os cento e quatro anos. E a gente escutava e espantava-se de uma memória tão precisa, que outras quadras, algumas das quais impregnadas de secular malícia popular, tem vindo a desbobinar, nestes últimos tempos:

Sete estrelas, sol e lua

Tudo p´r’ó mar embarcou.

Se não era do teu gosto,

Meu amor, quem te obrigou?

 

Ó minha mãe quem me dera

O que a minha alma deseja:

As portas do céu abertas

Como estão as da igreja.

 

Está o céu estreladinho

De estrelinhas amarelas

Já o rei não quer soldados,

Já se acabaram as guerras.

 

Ó minha mãe quem me dera

Minha mãe quem me daria,

Um cantinho lá no céu

Ao pé da Virgem Maria.

 

Caçador que vai à caça

Não vai lá pelo coelho,

É só pela rapariga

Do saiotinho vermelho.

 

Se ouvires dizer que eu morri

Não tenhas pena, meu bem,

Que a morte é tão desgraçada,

Não causa pena a ninguém.

Não, a última quadra, não sei se recordada em assustada previsão de partida, não a aplicamos à nossa Mãe, ainda, a quem admiramos a memória e desejamos muitos mais anos de vida, neste domingo dos seus 104 anos, 27/3/2011.

Preferimos respeitar-lhe a saudade, e mandar um beijo dela para as suas companheiras da mocidade, “meninas de lá d’além” – a Rosinda, a Eurides, a Maria Pia, a Palmira. “Eh! Lá! Ou!”

 

Berta Brás

 

ALENTEJANANDO – 3

 

Felizmente, estou sempre a deparar com oportunidades para aprender.

 

Íamos nós, a minha mulher e eu, a passear a pé por Vila Viçosa quando numa placa toponímica li qualquer coisa como

 

Rua Florbela Espanca

(poetisa calipolense)

 

 (*)

 

Mais à frente, o Clube Columbófilo Calipolense e como não me era dado saber que Florbela se dedicasse à columbofilia, comecei a imaginar outras coisas… Foi só chegar à Internet e passar a ter a certeza do que já me ia parecendo: calipolense é o natural de Vila Viçosa e tem tudo a ver com Calipolis, o nome romano do povoado que ali existia.

 

Continuando a passeata em busca de um restaurante cujo nome a minha mulher levava no «programa das festas», a Taverna dos Conjurados, vi pelas costas um monumento que me intrigou pela forma compacta do busto: era Públia Hortênsia de Castro. Creio que, tanto na base como no fuste, não lhe chamam o tal palavrão que por gozo já me apetecia associar à columbofilia mas fiquei pasmado com a história dessa fantástica mulher que tanto terá penado pelo facto de ter nascido fora de tempo.

 

 (**)

 

Não contente com o que já estudara, esperava-me a novidade de que o pintor Henrique Pousão, afinal, também era calipolense. E, para além de um busto em bronze sobre mármore na alameda principal da terra, tem também placa indicativa da casa onde nasceu.

 

 (***)

 

Caramba! É tudo gente do mais ilustre que se pode imaginar na cultura portuguesa…

 

SUGESÃO DE LEITURAS:

Sobre Florbela Espanca – http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

Sobre Públia Hortência de Castro – http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%BAblia_Hort%C3%AAnsia_de_Castro

Sobre Henrique Pousão – http://pt.wikipedia.org/wiki/Henrique_Pous%C3%A3o

 

Mas se estes foram os temas por que eu não esperava, foi chegando ao Terreiro do Paço que me lembrei duma história que me foi contada pelo protagonista, avô de uns amigos meus, que tinha sido amigo pessoal do rei D. Carlos.

 

Numa corrida às lebres nos arredores de Elvas, o Dr. Ruy d’Andrade [1] ouvira dizer que se estava a preparar o regicídio para daí a dois dias quando o rei chegasse a Lisboa. Sem perda de tempo, esporeou o cavalo até Vila Viçosa para avisar o rei antes que tomasse o comboio para o Barreiro e, daí, o barco para Lisboa. Chegou a tempo de encontrar o rei nas lides de um lavrador em final do dia. Informou D. Carlos do que acabara de ouvir e pediu-lhe que não viajasse para a capital. O rei pôs-lhe uma mão no ombro e disse: - Oh Ruy! Já viste que lindo dia está hoje?

 

Cortada a conversa, ao Dr. Ruy d’Andrade mais nada restava fazer do que se calar. Não esporeou o seu cavalo no regresso a Vila Fernando. Não estranhou a notícia do regicídio que recebeu daí a dois dias mas ficou para sempre com a dúvida sobre se o rei saberia do que lhe estava a ser preparado. Aliás, dias antes, ao assinar um Decreto, o rei dissera a João Franco que estava a assinar a sua própria sentença de morte…

 

Disto, sim, lembrei-me enquanto passeava a pé pelo Terreiro do Paço de Vila Viçosa pisando as mesmas pedras sobre que se fizera História. E pisei-as tão suavemente quanto pude, por uma questão de respeito.

 

Março de 2011

 

Henrique Salles da Fonseca

 

[1] Último Presidente da Câmara Municipal de Elvas no regime monárquico

 

(*)http://img.listal.com/image/349547/600full-florbela-espanca.jpg

 

(**) http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://guiaturistico.cm-vilavicosa.pt/personalidades/personalidade04.png&imgrefurl=http://guiaturistico.cm-vilavicosa.pt/personalidades/personalidade4.html&usg=__1GVcJj0PTngNzcgvz9MSennwDuE=&h=268&w=350&sz=163&hl=pt-pt&start=23&zoom=1&tbnid=QlzSZ3XY9ngSmM:&tbnh=164&tbnw=212&ei=DKWNTfPnAqeJ4gber-yyCw&prev=/search%3Fq%3DP%25C3%25BAblia%252BHort%25C3%25AAnsia%252Bde%252BCastro%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbm%3Disch&um=1&itbs=1&iact=rc&oei=BqWNTdruAsyBswauvN2MCg&page=2&ndsp=12&ved=1t:429,r:9,s:23&tx=112&ty=81

 

(***) http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://cultured.com/images/image_files/1815_henrique_pousao.jpg&imgrefurl=http://cultured.com/people/Henrique_Pousao/&usg=__VfrTjQ5AWKjVHXCS9MgYH969BQs=&h=243&w=200&sz=13&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=LN5Wxozrm-VsFM:&tbnh=150&tbnw=119&ei=SKWNTajmF4jQtAa9lMz8CQ&prev=/images%3Fq%3DHenrique%252BPous%25C3%25A3o%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DG%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbm%3Disch&um=1&itbs=1&iact=rc&dur=546&oei=SKWNTajmF4jQtAa9lMz8CQ&page=1&ndsp=16&ved=1t:429,r:9,s:0&tx=63&ty=61

Caturrices 24

Ah, Malvados! Então isso faz-se? - II

 

 

v      Chegados a este ponto, será que consegui convencê-lo, Leitor, de que:

-             Os investidores institucionais são como os génios da lâmpada – existem para satisfazer, tant bien que mal, os desejos dos seus clientes quanto a segurança (a preservação do capital investido) e retorno (o rendimento líquido obtido)?

-             Os clientes dos investidores institucionais somos nós - ou é gente como nós?

-             Notações de risco (ratings) credíveis (mas não necessariamente as actuais Agências de Rating) são essenciais à transparência e ao funcionamento responsável dos mercados financeiros?

-             Especulação não é manipulação – os especuladores arriscam na esperança de um ganho legítimo, cientes de que a realidade lhes pode trocar as voltas e infligir-lhes perdas?

-             A manipulação, essa, nunca corre riscos - excepto o de ir para a cadeia, nos regimes jurídicos que a criminalizam?

-             Em condições normais, o diminuto (na proporção) stock de Dívida Soberana portuguesa torna a especulação nestes títulos muito mais arriscada, por serem títulos com pouca liquidez no mercado secundário?

 

v      No mundo da Dívida Soberana (e das Obrigações, em geral), as coisas passam-se sem sobressaltos – se tudo correr bem, naturalmente. Cada emissão, uma vez colocada (mercado primário), percorre sucessivamente três etapas (mercado secundário):

(1) negociada activamente, nos primeiros meses (na gíria, “on-the-run”);

(2) negociada ocasionalmente, no que faltar até ao final do primeiro ano, ano e meio do respectivo prazo (“off-the-run”);

(3) negociada muito raramente até final (“off-off-the-run”).

 

v      E quem investe no mercado primário, nem sempre o faz para manter em carteira até ao vencimento a totalidade dos títulos que subscreve. Aposta, sim, na possibilidade de a cotação subir acima do preço de emissão e proporcionar umas mais-valias a curto prazo. Especula - mas, a priori, nada garante que as contas não venham a sair-lhe furadas.

 

v      Uma vez estabilizada a cotação no mercado secundário (as etapas off-the-run e off-off-the-run), os títulos de uma dada emissão de Dívida Soberana só são transaccionados:

(1) ou por razões específicas dos investidores institucionais (condicionalismos de tesouraria, por exemplo);

(2) ou em resposta às contingências da política monetária (alteração das taxas directoras ou das condições de acesso à liquidez do Banco Central).

 

v      Mas é o que se passar com o Estado emitente que faz com que a Dívida Soberana volte à etapa on-the-run:

(1) umas vezes por boas razões, quando, aos olhos do mercado, a sua situação financeira melhora (o que não é tão infrequente assim);

(2) as mais das vezes por más razões, ao generalizarem-se as dúvidas sobre se ele vai ser, ou não, capaz de pagar.

 

v      Três notas, antes de prosseguir:

-             Os Regulamentos dos Fundos são, regra geral, taxativos quanto ao risco de crédito a que podem estar expostos (“nada abaixo do rating tal”). E os títulos de uma emissão cujo rating deixe de ser compatível com o Regulamento têm de ser imediatamente vendidos, com as consequentes menos valias (para Bancos e Seguradoras, a questão coloca-se mais em termos do rombo que as menos valias provoquem nos Capitais Próprios).

-             No mercado secundário, os títulos de Dívida Soberana são transaccionados pela respectiva cotação – e não, como se ouve e lê, pela taxa de juro. Assim, quando se diz que os juros no mercado secundário estão a subir, isso não significa que o Estado Português esteja a pagar juros mais elevados nas emissões aí transaccionadas. Significa, apenas, que a cotação está abaixo do preço de emissão. E como a Dívida Soberana portuguesa é emitida com taxas de juro fixas: (1) quem compra exige uma taxa de retorno superior àquela com que a emissão passou no mercado primário para correr o risco de as dificuldades financeiras do Estado Português se agravarem (ou, no limite, de este se declarar incapaz de pagar); (2) quem vende aceita suportar uma menos valia para se ver livre desse risco (na gíria, consolida a perda).

-             Quando se diz que a taxa de juro da Dívida Soberana portuguesa atingiu, no mercado secundário, 7%, isso significa que esses títulos foram negociados com uma menos valia de 12% (aprox.) relativamente ao respectivo preço de emissão. Menos valia que salta para os 15% (aprox.) se essa pseudo taxa de juro for de 8%.

 

v      Para o comum dos mortais, investir em Dívida Soberana é sinónimo de manter os títulos em carteira, receber os juros e recuperar o seu capital a tempo e horas - gentileza do Orçamento do Estado devedor, ponto final. Sob este ângulo, nenhum investidor assumiria um comportamento tipicamente especulativo.

 

v      Contudo, a Dívida Pública (em boa verdade, quaisquer títulos, como as acções cotadas) pode também proporcionar ao investidor outro tipo de ganhos, obtidos agora no mercado secundário, à custa, não do Estado devedor, mas de outros investidores. As mais valias na etapa on-the run, acima referidas, são disso um bom exemplo.

 

v      Outro exemplo é quando a situação financeira do Estado devedor dá sinais de se degradar, mas não ao ponto de ser já um default evidente. Uns investidores pensarão que se degradará ainda mais. Parecerá a outros que os problemas são, apenas, passageiros, tudo se recompondo em breve. Outros ainda hesitarão entre estes dois cenários.

 

v      Para quem crê que a situação financeira do Estado devedor só pode piorar, e que a cotação da sua Dívida Soberana não parará de cair, faz sentido efectuar vendas “a descoberto” (short selling):

(1) pedir emprestado um lote [q] desses títulos a quem não pense assim, ou esteja obrigado a mantê-los em carteira (por vezes, acontece);

(2) vender o lote ao preço do mercado à vista [p0];

(3) esperar que a cotação caia ainda mais; (4) recomprar um lote idêntico (são títulos fungíveis) a um preço mais baixo [p1<p0], restituir os títulos que pedira emprestado e encaixar o ganho [=q.(p0-p1)].

 

 

v      É claro que se a cotação desses títulos nunca descer abaixo do preço a que os títulos sejam inicialmente vendidos [p0], o prejuízo numa operação de short selling pode ser substancial. A especulação é isto mesmo: corre o risco de perder (e paga, à cabeça, uma comissão a quem emprestar os títulos) na mira de obter um ganho jeitoso.

v      O apetite por estas operações de venda “a descoberto” é tanto maior:

(1) quanto mais acomodativa for a política monetária (taxas directores muito baixas, liquidez abundante);

(2) quanto maior for a diferença entre as taxas directoras e as rentabilidades que alguns investidores institucionais (Seguradoras “Vida” e Fundos de Pensões) contratam com os seus clientes;

(3) quanto mais problemática for a situação financeira do Estado devedor.

 

v      Malvado especulador é, então, aquele que toma a iniciativa de vender “a descoberto”? Nem por sombras. Quem compra o lote não é menos especulador, pois aposta na subida da cotação a breve trecho – e não é malvado, antes evita que a cotação, pelo menos nesse momento, caia ainda mais. E quem vende mais tarde para permitir o fecho da operação será, quando muito, um especulador desiludido que renuncia ao valor temporal da emissão.

 

v      Visto isto, diga-me Leitor: se eu lhe devesse uma quantia que excede em muito o meu rendimento disponível; se para receber de mim o que eu já devo tivesse de continuar a emprestar-me; se mesmo para eu pagar os juros só com mais dinheiro emprestado; se, para mais, soubesse que sem mais dinheiro ainda eu não sobreviveria – continuaria a tratar-me como se eu fosse um devedor de confiança?

 

v      É que o nosso maior problema não reside na Dívida Soberana acumulada (que é enorme). Reside, sim, em não sabermos ainda onde arranjar o dinheiro que é necessário para pagar os juros que entretanto se vencerem e os deficits orçamentais que estão previstos.

 

v      Afinal, os malvados somos nós - que deveríamos ter tido mais juízo (leia-se: sido melhor governados) todos estes anos.

 

(FIM)

 

 A. Palhinha Machado

 

DA CRISE SOBERANA

 

Três depoimentos e uma conclusão

 

I

 

George Soros diz no Financial Times (21 Março 2011) o que adiante se resume:

 

A Alemanha tem estado a resgatar os países altamente endividados como forma de proteger o seu próprio sistema bancário. No início do Euro, os bancos alemães foram obrigados a deter dívida soberana por necessidade de reduzir níveis de liquidez interna. Isto produziu um tsunami de crédito nos países periféricos que decidiram fomentar o consumo: - viver à grande, gastar à tripa forra. Sonho de pobre. O resultado foi um crise bancária que pôs em risco sobretudo os bancos alemães. Tornar sacrossanta a dívida soberana interessa antes do mais aos financeiros alemães. É a forma de se salvarem.

 

Os diferentes Estados da Eurolândia formaram opiniões bastante diferentes da crise e as suas políticas reflectem mais essas opiniões do que uma visão do interesse nacional e, menos ainda, interesse colectivo europeu. A Alemanha tem sido hábil ao fazer esquecer que a crise não é apenas soberana mas sobretudo cambial e bancária. O problema porém é que as diferenças de opinião persistem e, a seu tempo, degeneram em conflito.

 

Soros propõe:

 

1- Colocar os bancos em pé de igualdade como os Estados e submetê-los também a fiscalização central europeia.

 

2 - Permitir os eurobonds, como solução de emergência. Assim os países deficitários não serão imediatamente asfixiados e poderão - mediante trabalho e austeridade - sair do buraco em que caíram.

 

II

 

Hans Werner Sinn presidente do International Financing Office, em declarações ao Económico de 20 de Março dizia:

 

" Claro. O problema está nos dois lados. O fluxo de capital ia da Alemanha para a periferia. Irlanda, Portugal, Espanha e Grécia faziam parte dos países que investiam e consumiam o crédito que vinha da Alemanha. Este fluxo de crédito criou um ‘boom' e um défice externo nesses países. A Alemanha ficou para trás. As importações foram esmagadas, os preços e os salários cresceram pouco e isso trouxe um excedente nas contas externas. Este processo está a chegar ao fim".

 

III

 

Em entrevista ao PUBLICO (17 corrente), Amartya Sem, Nobel da Economia põe a claro com total simplicidade e relevância que o erro da abordagem regeneradora reside no timing da acção: o «médico» entrou a matar quando o doente estava debilitado; em vez disso, deveria ter fixado objectivos e dilatado o prazo para a sua execução.

 

+++

 

Temos pois que "o facto de estarmos errados não significa que os outros estejam certos".

 

 Luís Soares de Oliveira.bmp Luís Soares de Oliveira

TRIBUTO AO JAPÃO

 

 

O mundo inteiro tem assistido, horrorizado, ao descomunal desastre a que o Japão está sendo acometido. E se acompanhamos a sua dor, ao mesmo tempo nos rendemos à sua extraordinária capacidade de sofrimento e serenidade.

 

Hoje fui buscar um texto do sempre grande admirador e apaixonado pelo Japão, Wenceslau de Morais, que nos dá uma pequenina ideia da filosofia deste povo que, apesar de tudo, não elimina a sua dor. A dor de cada um não há quem possa medir. E toda a dor merece o nosso respeito.

 

Transcrevi há dias um texto do livro “O Bon-Odori em Tokushima”, mas vem agora a propósito a explicação do título deste livro.

 

(*)

 

A dança do Bon-Odori

 

Bon-Odori. Estranha frase japonesa; mais do que estranha, - incompreensível -, para leitores da minha terra. Eu explico. Bon é um vocábulo budista, que significa a festa dos mortos. Com efeito, há no Japão, em cada ano, um período, geralmente de 13 a 15 do 7° mês do ano lunar, durante o qual se festejam os mortos; festejam, o que marca profunda distinção entre esta comemoração japonesa e a comemoração católica do Dia de Finados. Odori quer dizer simplesmente: dança. Bon-Odori é pois a dança da festa dos mortos, mística cerimónia congratulatória, persistindo desde os remotos tempos bárbaros, pela qual a família japonesa honrava por todo o império os seus defuntos; honrava e honra ainda, onde a ocidentalização dos costumes, na sua acção demolidora, ainda não abriu brechas nas velhas crenças, nas usanças populares.

 

Tokushima, onde me encontro, é uma cidade tranquila da costa da ilha de Shikoku, pouco distante de Osaka e de Kobe; mas cujo povo se mostra estranhamente conservador nos seus costumes. A cidade é famosa, desde tempo distante até hoje, pelo seu Bon-Odori.

 

Ora, em Kobe, onde fiz uma longa permanência, gente de Tokushima contava-me frequentemente maravilhas do seu portentoso Bon-odori. Tantas vezes as alusões se repetiram, tantas vezes o shamisen, a guitarra indígena, me tocou aos ouvidos a toada com que a chusma vai rompendo pelas ruas e dançando ao mesmo tempo, que há cerca de seis ou sete anos, desejoso de ver pelos meus olhos o Bon-odori em Tokushima, decidi-me por uma excursão de poucos dias, indo à cidade em época própria. Completa desilusão, porém tempo perdido. A quadra é traiçoeira. É então que se desencadeiam vulgarmente os terríveis tufões do mar da China; atingindo por vezes as costas do Japão, já enfraquecidos de ímpetos, mas ainda bastante tormentosos para causarem no país graves estragos.

 

Mas falemos da excursão. Já quando eu ia de viagem, a bordo de um pequeno vapor de carreira, de Kobe para Shikoku, o vento começou a soprar rijo, o céu a anuviar-se, o mar a enfurecer.

 

Em Tokushima, um temporal tremendo, rajadas formidáveis; chuvas diluviais; a cidade inundada; perdas de vidas; destroços importantes; um, de entre muitos, foi a completa demolição da ponte de Tomidá, só há pouco reconstruída. Claramente, não se comemorou naquele ano o Bon-odori em Tokushima.

 

Há pouco arremessou-me o destino de novo a esta cidade, não por alguns dias, mas por muitos dias; onde venho viver; onde, talvez venho morrer; ...

 

Vi, há alguns meses, por uns belos dias estivais, o Bon-Odori em Tokushima, em todo o seu clássico brilhantismo, em todo o seu místico frenesi de festa consagrada a todos os defuntos; dias de excepcional confraternização terrestre entre vivos e mortos, cada qual acarinhando os seus entes queridos que se foram e que envolvem, em espírito, ao lar familiar, por curtas horas; eu, pobre ignaro, de mistura com a multidão dos crentes, evocava também, por sugestão do meio, alguns mortos do meu conhecimento.

 

Comento agora: provavelmente, continuarei a ver aqui o Bon-Odori, por mais um ano, por mais dois anos, por mais três, eu sei lá... e após um ano virá, próximo, sem dúvida, em que o Bon-Odori volte a animar as ruas da cidade com as suas procissões festivas, Bon-Odori que eu então não verei, mas de cuja comemoração piedosa a minha alma penada, de forasteiro, que teve o capricho de vir aqui depor o mísero despojo do seu invólucro terrestre, poderá reclamar, não sei se com pleno consentimento de Buda, uma parte em seu favor...

 

---

 

Gostaria de me juntar a um próximo Bon-Odori. Mas como ocidental, em vez de dançar, eu choraria pelos seus mortos.

 

Com a lição que o mundo está a receber do civismo e da filosofia dos japoneses, muito lhes desejamos que não deixem enfraquecer, muito menos desaparecer, as suas tão bonitas tradições.

 

Rio de Janeiro, 18 de Março de 2011

 

Francisco Gomes de Amorim.jpg Francisco Gomes de Amorim

 

(*)http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.cozinhajaponesa.com.br/images/200711/0002_Bon_Odori_Dancer.jpg&imgrefurl=http://www.cozinhajaponesa.com.br/V04/artigosjaponeses_d.asp%3Fs%3D2%26c%3D1&usg=__UW5BZhd9zxuheJGADO-8DMTzjno=&h=480&w=640&sz=174&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=g0s7aHhdgP9BgM:&tbnh=120&tbnw=126&ei=CZaJTfCfMc7xsgbP2Z2kDA&prev=/images%3Fq%3DBon%252BOdori%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbm%3Disch&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=250&vpy=408&dur=1467&hovh=194&hovw=259&tx=130&ty=113&oei=CZaJTfCfMc7xsgbP2Z2kDA&page=1&ndsp=20&ved=1t:429,r:16,s:0

CURTINHAS LXXXV

  Cicuta maculata (*)

 

 

A CICUTA DE SOCRATES (REMAKE)

 

 Em Abril de 2007 (perdoe-me a imodéstia da auto-citação, Caro Leitor), escrevi, a propósito do canudo universitário do actual Primeiro-Ministro (PM), o seguinte: “E talvez não seja indiferente para o ar político que respiramos o modo como quem hoje é PM procedeu, ontem, com o fito de obter aquilo que ambicionava.”

 

 O episódio dava indícios fortes de que José Sócrates seria mais um exemplo vivo do aforismo: “A quem não tem vergonha, todo o mundo lhe pertence”. Mas um exemplo conspícuo, pelo cargo que ocupava.

 

 Entenderam todos que, feitas bem as contas, eram coisas do foro privado, esperteza de um rapaz desembaraçado – um mais entre tantos que, como uma praga bíblica, empestam o nosso ambiente nacional de há uns 15, 20 anos a esta parte.

 

 Não era. Era, sim, uma prova de carácter que teria convindo não menosprezar (muito menos encobrir). Que teria sido importante sancionar.

 

 Carácter que veio juntar a má fortuna de se ter perdido o crédito nos mercados financeiros internacionais (as notações de risco da nossa Dívida Soberana até continuam a ser “investment grade”, só que os investidores interessados rareiam), a vergonha de ser representado por quem tem uma notação de credibilidade DDDD junto dos restantes parceiros comunitários.

 

 A distância que vai de ser perdulário, endividado até à raiz dos cabelos e sem cheta, à perda de dignidade é maior do que aquela que separa a Terra de Betelgeuse. Alguém faz o favor de esclarecer o PM (e a sua entourage próxima) sobre este ponto de etiqueta e boa educação.

 

A. PALHINHA MACHADO

 

MARÇO 2011

 

(*) http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.missouriplants.com/Whitealt/Cicuta_maculata_inflorescence.jpg&imgrefurl=http://www.missouriplants.com/Whitealt/Cicuta_maculata_page.html&usg=__bXrK2LaMz9NAXMC0gKjO3-ITVtI=&h=418&w=450&sz=65&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=uUp7L4N8a7kroM:&tbnh=126&tbnw=132&ei=NWKITb_NOcbOswbE0uG0DA&prev=/images%3Fq%3Dcicuta%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbm%3Disch&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=118&vpy=60&dur=8096&hovh=216&hovw=233&tx=90&ty=241&oei=NWKITb_NOcbOswbE0uG0DA&page=1&ndsp=22&ved=1t:429,r:0,s:0

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