1) A média do crescimento económico é a pior dos últimos 90 anos. Fonte: Santos Pereira (2011)
2) A dívida pública é a maior dos últimos 160 anos Dívida pública portuguesa em % do PIB, 1850-2010. Fonte: Santos Pereira (2011)
3) A dívida externa é, no mínimo, a maior dos últimos 120 anos (desde que o país declarou uma bancarrota parcial em 1892) Dívida externa bruta em % do PIB, 1999-2010. Fonte: Santos Pereira (2011)
4) O desemprego é, no mínimo, o maior dos últimos 80 anos. Temos 610 mil desempregados, dos quais 300 mil são de longa duração Taxa de desemprego em Portugal, 1932-2010. Fonte: Santos Pereira (2011)
5) Voltámos à divergência económica com a Europa, após décadas de convergência PIB per capita português em % do PIB per capita da Europa Avançada. Fonte: Santos Pereira e Lains (2010)
6) Vivemos actualmente a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos Emigração portuguesa (milhares de pessoas), 1850-2008. Fonte: Santos Pereira (2010)
7) Temos a taxa de poupança mais baixa dos últimos 50 anos Taxa de poupança bruta, 1960-2010. Fonte: AMECO, Santos Pereira (2011)
Mostrei a minha indignação a respeito dos “acórdos” de que falou imoderadamente o nosso PM, opinei sobre a visível satisfação que nele provocaram os seus “acórdes” musicais de sintonia com os do PR da China e respectiva esposa – do Presidente, não da China – a quem o povo português de uma localidadezinha lusa onde se vai fabricar mais um “acordo” de o fechado, ofereceu um bule para o chá, que me pareceu piroso – o bule, não o chá - mas não tive tempo de o averiguar, distraída com o ar fechado da madame e do respectivo esposo orientais, talvez apreensivos, talvez arrogantemente depreciativos, mais uma vez falei doutoralmente em metafonia, que faz abrir certos ós plurais, como o de “fógos”, enquanto se mantêm fechados outros, como os de “acôrdos”, lembrei que a moda do “o” aberto em “acordos” pegou mesmo, pois muitos são os ilustríssimos – alguns até advogados da nossa banca ou políticos e jornalistas da nossa praça – que o proferem, sem terem o cuidado de consultar uma gramática que os esclareceria, embora isso não me admire tanto no nosso PM, que, se despreza a sua língua e a sua nação, com provas irrefutáveis, muito mais desprezará a gramática dessa língua, de preferência acedendo ao dicionário, para nele se ilustrar a respeito da deturpação capciosa do pensamento, para uma acção política caprichosamente mistificatória.
Logo a minha amiga, tristemente, concluiu:
- O que vai ficar são os “acórdos”.
Mas continuou, profusamente, sobre os novos habitantes:
- Estes vinte mil que cá estão já fecharam lojas portuguesas aos molhinhos. E não dão trabalho a ninguém. Nós sabemos muito bem como são os chineses. Ficaremos de gatas e de olhos em bico. Os gajos estão em Angola a construir sem empregados angolanos. Não compram uma pá. Tudo os acompanha. Eles trazem tudo, todo o material lá da China. Não é que o chinês não seja um povo trabalhador!
- Isso é – consegui meter a minha colherada – mas nunca tive confiança no “made in China”, ao contrário do “made in England”, de qualidade sólida.
- As coisas mudaram muito, com a fabricação em série. Mas a louça e as mobílias trabalhadas eram de grande valor e perfeição.
- Nunca gostei. Gosto mais do liso das nossas porcelanas e mobílias. E não confio nas comidas.
Mas a minha amiga não concordou, embora lamente os nossos comerciantes:
- O comércio mais pequeno está nas mãos deles. Cascais está cheio deles.
- Estamos perdidos. Mas será que entre os “acórdos” se conta o reverdecimento dos nossos campos, mesmo com as alfaias vindas da China?
- Não acredito. Eles lá trabalham nos campos, mas cá é no seu comércio.
- De quinquilharia, digo, agoniada.
Mas de facto também já lá comprei, que é mais barato e tem de tudo, desde roupas aos esfregões da louça, de papel de carta aos cortinados e aos chapéus de chuva… Estamos perdidos.
Descrição do Rio de Janeiro no século XVI (Fernão Cardim)
O jesuíta Padre António Vieira
Autor desconhecido
Fonte: Enciclopédia Delta Universal
”A cidade está situada em um monte de boa vista para o mar, e dentro da barra tem uma baía que parece que a pintou o “supremo pintor e arquitecto do mundo,” Deus Nosso Senhor, e assim é coisa formosíssima e a mais aprazível que há em todo o Brasil, nem chega à vista do Mondego e Tejo. É tão capaz que terá vinte léguas em roda, cheia pelo meio de muitas ilhas frescas de grandes arvoredos, e não impendem a umas as outras, que é o que lhe dá graça; tem a barra meia légua da cidade, e no meio dela uma lájea de sessenta braças de comprimento, e bem larga que a divide pelo meio, e por ambas as partes tem caudal bastante para naus da Índia. Nesta lájea manda El Rei fazer fortaleza e ficará coisa inexpugnável, nem se lhe poderá esconder um barco. A cidade tem cento e cinquanta vizinhos com seu vigário, e muita escravaria da terra.”
Narrativa Epistolar de uma viagem
Fernão Cardim nasceu em ano incerto, na década de 1540 em Viana do Alentejo (Portugal), e morreu em 1625, na Aldeia de Abrantes, Bahia (Brasil). Foi um jesuíta português que em 1566 ingressou na Ordem fundada por Inácio de Loyola e que em 1583 veio para o Brasil com o governador Manuel Teles Barreto e com o visitador Cristóvão de Gouveia. Depois de percorrer as capitanias da Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, e São Vicente (São Paulo), escreveu cartas e textos importantes para a Companhia de Jesus sobre as terras do novo mundo. Suas anotações seriam posteriormente fonte de pesquisa histórica e etnográfica para colonos, missionários e estudiosos dos primeiros tempos do Brasil Colónia.
Fernão Cardim foi reitor do Colégio dos Jesuítas na Bahia e do Colégio de São Sebastião, em 1596, no Rio de Janeiro.
Em Roma é eleito Provincial do Brasil. Na viagem de volta ao país, em 1601, o barco aonde vinha é tomado pelo corsário inglês Francis Cook. Aprisionado, é levado para Londres e seus manuscritos sobre as terras, as plantas, o clima, e os índios do Brasil são confiscados. Após ser resgatado pela Companhia de Jesus, volta pela segunda vez ao Brasil e assume finalmente em 1604 o cargo de provincial. Vinte e quatro anos depois, em 1625, ano da sua morte, parte do seu trabalho (Do clima, e da terra do Brasil. Do principio e da origem dos índios do Brasil) é editado em Londres pela primeira vez, na língua inglesa, dando como autor Manuel Tristão, português que viveu muito tempo no país. Porém, no final do século XIX, o historiador brasileiro Capistrano de Abreu identificou o verdadeiro autor.
Após publicações em Portugal e Brasil no século XIX, Rodolfo Garcia reuniu e editou em 1925 todos os textos conhecidos da obra de Fernão Cardim sob o título Tratado da Terra e gente do Brasil.
No Brasil, os trabalhos escritos pelos jesuítas dos séculos XVI e XVII são na maioria das vezes descritivos, informativos, voltados principalmente para a educação e catequese dos colonos e indígenas, são as primeiras manifestações literárias brasileiras.
Parece, só parece, que a democracia, será a menos pior forma de governo. Mas essa “coisa” de democracia há muito que sumiu da maioria dos governos do mundo. Sobram só uns tantinhos, que insistem, insistem, bradam, bradam, mas o seu exemplo não é seguido. Basta ver, por exemplo, a velha República DEMOCRÁTICA da Alemanha, a democracia em Angola, Congo, etc.!
A tal democracia representativa (algumas vezes chamada "democracia indirecta"), onde o povo expressa sua vontade (ou ignorância?) através da eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram, só funciona onde o nível cultural dos eleitores for MUITO alto.
Ao que normalmente se assiste é a um partido, por qualquer razão maioritário, alcançar o poder, e depois governar-se; a si e sua camarilha. Quando forma coligações, o escândalo aumenta, pela constante compra de votos, ficando a esperança, ao povo, o tal eleitor, que eles um dia se entendam. Porque governar para o bem de todos, do país como um todo, sem privilegiar os compadrios, ou compartidários, isso é coisa rara. Deve ser até uma espécie louca.
Mas é nessa espécie que os olhos do mundo se põem, à espera do milagre acontecer em todo o lugar, ou aguardando séculos de instrução e cultura, ou através de revoluções.
Lembram da Revolução Francesa e os anos, largos anos, de terror e total anarquia, antes da chegada de Napoleão? Se não fosse a disciplina deste homem talvez, até hoje, a França estivesse na anarquia.
E a bolchique, seguida de setenta anos de profundo desprezo pelo povo, em todas as repúblicas democráticas soviéticas!
A famosa revolução no Irão contra o babaca do Xá, transformou uma monarquia no pior governo deste planeta: a teocracia.
Outra revolução “popular” foi em Cuba. Deu na democracia fidelista. Há cinquenta anos!
A chamada Revolução dos Cravos em Portugal, teve passagens curiosas e dolorosas. Em primeiro lugar não foi uma revolução popular, como a que assistimos, torcendo para que vencessem... na Tunísia e Egipto. Os cravos que quase não existiam em Portugal chegaram na manhã da “revolução”, de Paris, aos milhares e milhares, encomendados com a devida antecedência pelo único partido organizado, clandestino, o comunista! Uma “revolução” de capitães que não queriam a concorrência de milicianos e estavam cansados da infindável “guerra colonial”; num instante foram dominados pelos comunistas que mandaram e desmandaram, enquanto, pela violência, o que lhes era ingénito, aproveitaram para saquear o país e destruir a sua economia. Quando ao fim de alguns anos se conseguiram fazer eleições, os comunistas que dominavam tudo, ou quase, receberam 10 ou 12% dos votos, grande parte deles oriundos dos que se tinham apropriado de explorações agrícolas, indústrias, bancos, etc. Que deixaram destroçados.
Na Polónia, no fim da II Guerra, com o exército soviético a ocupar o país, fizeram-se eleições. Os comunistas tiveram 9% dos votos e... com os outros 91% dos canhões, ali ficaram e desmandaram até ao, esse sim famoso, movimento do Solidarinosk, que culminou com eleições livres em 1989.
Estava aceso o rastilho que derrubaria o Muro de Berlim e logo a seguir o regime soviético.
Foi uma época vivida com imensa intensidade e entusiasmo por quem queria liberdade, e por aqueles que já se sentiam livres.
Hoje estamos numa conjuntura semelhante. A Tunísia deu o “grito” e as monarquias/ditaduras/sultanatos/sheikatos, e outras “democracias” árabes começaram a cair, mas...
Ninguém ainda pode prever o que se vai passar no mundo árabe. Mas sabe-se que tanto na Tunísia, como no Egipto, e ainda na Argélia, Iemen, etc., “Los Hermanos Musulmanes” são a única força organizada! Podem não ser maioria, mas...
Apesar de terem sido dois movimentos populares maravilhosos, os olhos do mundo estão voltados para o desenrolar dos acontecimentos, e para a esperança de autêntica, ou quase, democracia, que todos almejam e merecem, e que seria um profundo golpe nos fundamentalistas, a Al Qaeda.
Em Portugal havia uma sólida estrutura administrativa que nada tinha a ver com política, nem partidos (aliás só havia um, a União Nacional) e todos os serviços funcionavam normalmente. Até isso os vermelhos conseguiram desestabilizar.
E nestes países árabes, será que as estruturas administrativas, que estavam fortemente manietadas, vão conseguir organizar-se e funcionar, independente de quem ficar com o poder?
O problema se repetirá: se um partido só ganhar a maioria, pode dar mau ou péssimo resultado. Se houver que fazer coligações e os descendentes de milhares de anos de história quiserem, MESMO, um país democrático, vão ter que continuar a sair às ruas para imporem o bem geral.
Que Deus, Allah, Jeová, Nzimbo ou que tenha qualquer outro nome, os ajude e proteja.
Eis a grande máxima que, este autor de textos literários, o Dr. Palhinha Machado, nos recorda: “não perder de vista o essencial”. Mas, não há volta a dar-lhe: estamos perdidos!
“Remoem hoje, amanhã, sempre, as mesmas palavras vulgares, para não pronunciarem as palavras definitivas.” (1)
Estamos perdidos! A nós, como Povo, não nos dizem coisa alguma em definitivo, nem nós temos a coragem de exigir e tomar decisões definitivas.
Os adiamentos, os atrasos das decisões essenciais, resultam numa catarse silenciosa e o cheiro pútrido dos gases do sistema político, assalta-nos as narinas.
“Aqui não andam só os vivos - andam também os mortos… todos os dias os mortos se misturam à nossa vida” (2)
Passámos ao estado vergonhoso da incúria pública e indeterminada por haver responsabilidades e responsáveis sem rosto que vivem da burocracia e da tecnocracia, (irmãs gémeas), que alimentam os incompetentes que vivificam nos serviços públicos e são protegidos pela classe política em troca de um voto miserável, oportunista e sandeu. Refiro-me ao caso dos idosos encontrados nas suas casas já cadáveres. É necessário um produto natural para depurar, aquele produto natural que elimina as gorduras… O Estado está gordo e engorda muita gente…
E o tal produto depurante, bem podia ser aquele rasgo popular bem português de 1640! Venham as fiandeiras do Porto com as maçarocas e as pedras, para alertar o Estado, este Ente gastador descontrolado, indisciplinado e alheio às dificuldades concretas do Povo, submetendo-o a taxas, entre Ministérios e Autarquias, que se duplicam todos os dias, apesar de tal prática ser inconstitucional…
Restauremos o 25 de Abril de 1974, mas, desta vez, com saneamentos sérios dos comprovadamente corruptos, não saneamentos ideológicos, nem manipulados por votações de braço no ar, (todos temos direito à Liberdade de Pensamento conquistada pelos Militares de Abril e ao segredo do voto.). Usando as maçarocas das fiandeiras do Porto, mocas de Rio Maior e paus de Trás-os-Montes, manuseados por pauliteiros competentes, podemos restaurar a Democracia, a verdadeira, a única tolerável, com Partidos, mas sem ditadura partidocrática.
Exijamos a presença e estimulemos a presença de políticos novos, inteligentes e honestos para conduzirem o país e estabeleçamos, logo à partida, a seguinte regra: “Quem estiver em lugares públicos de desempenho político mais de 25 anos, reforma-se e dá lugar a outros”. Uma sugestão aos Ministros do Trabalho e Segurança Social e da Administração Interna: Srs. Ministros, V. Exas. criam uma pareceria com as Autarquias e põem esta gente a trabalhar como voluntários em equipas de contacto de proximidade a apoiar os idosos solitários e, em resultado, chamam à responsabilidade os familiares directos pelo acompanhamento dos seus velhos, propondo a criação, no ordenamento penal português, da figura do crime de abandono de familiar idoso. Se o Sr. Primeiro-Ministro quiser até faço o texto do artigo e não cobro nada por isso.
Como escreveu Mário Crespo, esta gente deve-me muito dinheiro. É altura de pagar, saindo da vida pública política da engorda e passando ao trabalho voluntário a bem da comunidade. Se os Srs. Ministros não sabem fazer isso, eu apresento um esquema em projecto ao Sr. Primeiro-Ministro, com exemplos e tudo, e faço de graça.
O essencial é não perder o essencial de vista, para não virmos amanhã a cantar uma missa de defunto ao sonho de 1974 e podermos regressar conscientemente à rota do caminho marítimo para a Democracia.
Isto que agora temos é que é coisa nenhuma…
Fico-me, por aqui, deixando-vos com Winston Churchill: “Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido.”
Não restam dúvidas de que o Brasil é, e será, o Estado ribeirinho dominante no Atlântico Sul – onde projecta uma presença assaz discreta, diga-se de passagem. Mas isso não chega para fazer de “el charco” (é assim que os argentinos se referem carinhosamente ao oceano) um pólo geoestratégico. Terá de haver parceiros à altura na margem oposta.
Angola é o primeiro candidato que vem à ideia, apesar das suas actuais debilidades. Mas, para tal, são imprescindíveis:
(1) portos marítimos eficientes ligados ao interior do continente (para Norte, para Leste e para Sul) por ferrovias capazes;
(2) e um hub intercontinental que satisfaça os padrões internacionais da aviação comercial.
Uma possibilidade que desaparecerá se esse hub vier a ser localizado na Zâmbia (Lusaka?). Se isso acontecer, Angola ficará, no melhor dos cenários, como um território:
- Por onde transitam mercadorias;
- Que gera, apenas, procuras de transporte aéreo que aí tenham origem ou destino (designadas por “procuras locais” de transporte aéreo);
- Remetido para a periferia distante dos pólos geoestratégicos, em cujos mercados a sua economia (dos minérios à produção agro-pecuária, a indústria ainda vem longe) terá de competir onerada pela distância;
- Totalmente dependente do que acontecer nos restantes países da SADC (Southern African Development Community).
A oferta de transporte aéreo (passageiros e carga) à roda do Globo está hoje perfeitamente estruturada em torno de 3 Grupos (indico, para cada um deles, as companhias aéreas de referência no Atlântico Sul, apenas): Sky Team (Air France/KLM), One World (British Airways, IBERIA, LanCHILE), Star Alliance (TAP e, em menor escala, Lufthansa).
O que não está ainda completada é a rede mundial de aeroportos, que será formada por hubs intercontinentais, hubs regionais e aeroportos locais (escrevi sobre isto no semanário “O Independente”, entre Janeiro e Março de 2006, e nas Curtinhas 36 a 40 e 42 a 48, entre Abril e Setembro de 2007).
Para atingir a máxima rentabilidade numa rota intercontinental (ou “de longo curso”) é determinante que o tempo de viagem, em condições normais de voo, não exceda 9 ½ horas. Só assim:
(1) uma aeronave poderá fazer diariamente uma rotação completa (ida e volta no mesmo dia), já contando com pequenos imprevistos;
(2) será possível minimizar, simultaneamente, o custo imputado da aeronave e o custo da permanência em aeroportos.
9 ½ horas é o tempo médio de viagem entre S. Paulo (ou Rio de Janeiro) e Lisboa (Portela ou Alcochete). Para Madrid (Barajas) há que adicionar 50-55 minutos - e para Paris (Charles DeGaulle ou Orly) ou Londres (Heathrow ou Gatwick) mais 2 ¼ horas (aprox.).
Uma vez que S. Paulo é (porque reúne todas as condições para ser) o hub intercontinental de referência na América do Sul, a rota transoceânica S.Paulo/Lisboa é a que permite o menor custo por lugar oferecido – um custo significativamente inferior aos das rotas que têm no outro extremo Madrid, Paris ou Londres. E a TAP (sem concorrência nessa rota, após o desaparecimento da VARIG) tem tirado bom proveito disso (com preços exorbitantes, forçoso é reconhecer).
Por outra parte, é de prever que a tecnologia na aviação comercial conheça, no futuro próximo, substanciais avanços nos vectores “fiabilidade”, “capacidade/payload” e “consumo/poluição”, mas não quanto a “velocidade de cruzeiro” – pelo que o raciocínio acabado de expor deve permanecer válido, mesmo com a nova geração de aeronaves.
A rota Lisboa/Luanda (mas poderia se Lisboa/Saurimo ou Lisboa/Huambo) fica confortavelmente aquém das 9 ½ horas (e a TAP faz uma rotação completa/aeronave). Tal como não excedem essa duração limite as rotas Madrid/Lusaka (One World) ou Paris/Lusaka (Sky Team).
1ª conclusão (óbvia): um hub intercontinental da África Austral localizado em território angolano só terá vantagens competitivas se existir um hub intercontinental em Lisboa.
2ª conclusão (não tão óbvia): o pólo geoestratégico do Atlântico Sul só surgirá se o hub intercontinental da África Austral ficar localizado em território angolano.
3ª conclusão (ainda menos óbvia, mas perfeitamente demonstrável): o pólo do Atlântico Sul conferirá à economia portuguesa uma posição de charneira incontornável (entre a Europa a América do Sul e a África Ocidental), tanto para passageiros como para mercadorias (uma espécie de EUA em ponto pequenino, irrepetível noutra qualquer parte do mundo).
4ª conclusão (igualmente demonstrável): se o pólo do Atlântico Sul não conseguir ganhar expressão, a economia de Angola perde (remetida como fica a uma posição periférica na SADC) e será mais difícil rentabilizar plenamente o hub intercontinental de Lisboa.
5ª conclusão (não menos demonstrável): a maior vantagem que o pólo do Atlântico Sul terá para oferecer ao Brasil consiste no preço das passagens aéreas de e para a Europa Ocidental - pelo que não é de esperar que esta perspectiva lhe desperte um entusiasmo por aí além.
6ª conclusão (óbvia): sem o pólo do Atlântico Sul o primeiro perdedor, entre nós, mas longe de ser o único, será a TAP, que terá mais dificuldade para se afirmar como membro proeminente do exclusivo clube dos carriers intercontinentais.
7ª conclusão (óbvia): os estudos que fundamentam o NAL, na medida em que colocam a tónica nas procuras locais de transporte aéreo e ignoram a função hub intercontinental, são completamente inúteis para o que interessa decidir.
8ª conclusão (também óbvia): Jo’burg não deverá manter a posição de hub intercontinental para a África Austral por muitos mais anos.
9ª conclusão (de palpite): Brasil e Angola são dois países unidos pela língua, com interesses comuns em quase todas as actividades económicas (nomeadamente na agricultura e pecuária), mas que o petróleo tende a separar – por isso, o pólo do Atlântico Sul necessita de ser triangular, cabendo ao vértice português, desde logo, assegurar que a ligação (por mar e pelo ar) dessa área à Europa Ocidental seja optimizada.
Resta a pergunta fatal: neste contexto multipolar, o NAL será, ou não, mais um “elefante branco”?
Neste momento, não tenho condições de responder com segurança. Mas, caro Leitor, se quiser ter a resposta, não encomende estudos a consultores de grande prestígio internacional - que só perde tempo e dinheiro:
- Meta-se no avião (de preferência acompanhado por alguém qualificado da TAP);
- Vá à sede da Lufthansa (Star Alliance) e pergunte se lhes interessa dispor de um hub intercontinental em Portugal (isto é, que volume de tráfego preveriam passar por aqui) e em que condições;
- Se a resposta for positiva (como aposto que será), no regresso passe por Paris e faça as mesmas perguntas à Sky Team;
- Baseado nas previsões de tráfego assim recolhidas, estimar as receitas potenciais do NAL está ao alcance de uma simples folha de cálculo – e o custo máximo admissível para o investimento ficará logo claramente determinado;
- Assegurar a cobertura financeira do investimento (sempre que aquele custo máximo seja respeitado), tendo presente as utilizações previstas por Star Alliance e Sky Team, é coisa para uma meia dúzia de telefonemas, não mais – sem que o Estado gaste 1 ¢.
Complicado? Só se o Governo quiser:
- Sobrecarregar o investimento (que pouco terá a ver com as procuras locais de transporte aéreo) com uma ponte exuberante num local pouco apropriado (quando um túnel, um pouco mais a montante do rio, é a solução apropriada).
- E, de caminho, imitar Salazar quando ele decidiu, de dedo em riste: “Quero obra que se veja. Ponte!”. E é assim que hoje nos orgulhamos da Ponte sobre o Tejo.
O professor Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.»
Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas.
Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
«Os cozinheiros desta magna fast food intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.»
O problema central está na família e na escola.
«Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma “alimentação intelectual” tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»
Num dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma:
«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.»
O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante.
«Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»
Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.
«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem teto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.
«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.»
Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.
Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade.
O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental.
Como assim? Num momento como este, de sufocante aperto financeiro, quando parece que nada saiu certo nestes últimos vinte anos, vir defender o NAL, um óbvio “elefante branco”? É mais um que a crise ensandeceu!
Calma, Leitor, eu explico. Mas terá de ter a paciência de me acompanhar numa longa caminhada.
Com a Conferência de Berlim (1885), o mundo passou a ter, pela primeira vez na História, um único centro de gravidade: a Europa Ocidental. A 1ª GG (com a ajuda da Grande Depressão de 1929-33) vai deslocá-lo mais para o Ocidente, para o Atlântico Norte – nada de mais. E por lá se manteve até ontem.
Mesmo com o surgimento económico do Japão, nos anos ‘60, e, mais recentemente, dos Tigres Asiáticos, o epicentro do mundo continuava a ser o Atlântico Norte:
(1) era para lá que confluía o capital financeiro;
(2) era de lá que partiam os grandes fluxos de investimento;
(3) era a procura aí gerada que justificava tecnologias e absorvia excedentes.
A entrada em força da China (e, em menor escala, da Índia) no comércio mundial e a crise financeira de 2007/2009 puseram fim a este estado de coisas – apanhando de surpresa Europa Ocidental e EUA, que tinham a situação de privilégio por imutável e eterna.
É banal afirmar, agora, que está em gestação um mundo multipolar. Mas já terá interesse investigar o que é que isso significa para nós, portugueses. E, como veremos, significa muitíssimo.
Desenham-se presentemente quatro pólos geoestratégicos caracterizados pelas manchas de maior intensidade na movimentação de capitais, mercadorias e serviços (mas não tanto, de pessoas):
- O que vem do passado, o Atlântico Norte – e que continuará a ter o inglês como língua franca;
- O Pacífico Norte, que promete ser o mais pujante no futuro próximo – também com o inglês (aqui made in USA) como língua franca;
- O Índico Oriental, que se encontra ainda em embrião, a aguardar que a Índia desponte em força – de novo, o inglês (ou, talvez, o “Hinglish”) como língua franca;
- O Atlântico Sul, envolvendo a África Ocidental e praticamente toda a América do Sul – que ainda hesita entre o inglês e o português (falta à língua castelhana uma presença forte na África Ocidental para ser um candidato a língua franca com hipóteses).
Nesta nova arquitectura mundial:
(1) os EUA continuarão a dominar - já que serão a única potência a integrar dois pólos (o Atlântico Norte e o Pacífico Norte) e a ter um outro (o Atlântico Sul) ao alcance do braço;
(2) e a Rússia, uma super-potência do passado recente, será remetida, de novo, para uma posição periférica. Mas é o pólo do Atlântico Sul que aqui interessa (pelo menos tanto quanto interessa ao Governo dos EUA).
O Atlântico Sul tem por alicerces “naturais” o Brasil (a Ocidente) e Angola (a Oriente). Com dois arquipélagos (Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) a servirem de barreira de contenção (numa espécie de cobertura à zona) a outros candidatos ribeirinhos bem posicionados para determinar a geometria deste pólo: Senegal, Guiné/Conakri e, principalmente, Nigéria (pela dimensão populacional e pela riqueza em combustíveis fósseis).
A África do Sul encontra-se demasiado distante do Atlântico Norte e do Pacífico Norte, e não conseguiria dar resposta economicamente satisfatória ao problema da movimentação de mercadorias de e para o interior do continente africano.
Angola, Brasil, Cabo Verde e S.Tomé, países de língua portuguesa. Senegal e Guiné/Conakri (com fracos argumentos a favor, até porque estão localizados muito a Norte), de língua francesa (com nulas hipóteses para se tornar a língua franca deste pólo). Nigéria, cuja língua oficial é o inglês - que se imporá, fatalmente, como língua franca, caso seja este país, e não Angola, a economia dominante na margem oriental do Atlântico Sul.
Neste pólo, o Brasil tem lugar cativo:
(1) nenhum outro país lhe disputa a dominância na margem ocidental do Atlântico Sul (a Argentina está demasiado a Sul);
(2) dispõe de uma base industrial importante, inovadora, competitiva e muito dinâmica;
(3) é rico em minerais e em combustíveis fósseis (ainda que de difícil acesso e com custos de extracção muito altos);
(4) acima de tudo, domina como ninguém a agricultura e a pecuária tropicais (ou de “cerrado”) - o que lhe permite produzir grandes volumes de excedentes alimentares exportáveis e o torna parceiro privilegiado no desenvolvimento dos países da África a Sul do Sahara.
Angola:
(1) também é excepcionalmente rica em combustíveis fósseis e numa vasta gama de minérios (diamantes, ferro, prata, areias finas, etc.);
(2) tem bons portos naturais;
(3) dispõe de excelentes pesqueiros;
(4) possui o que são, talvez, as últimas grandes extensões de solos férteis ainda por cultivar;
(5) e, mais que tudo, tem em abundância a água que falta ao cone sul de África.
Mas tem contra ela o facto:
(1) de ser deficitária em bens de toda a ordem (sobretudo, alimentares) que tem de importar;
(2) de se encontrar numa fase muito preliminar de um processo de desenvolvimento económico que tem sido gerido de forma algo inconsequente;
(3) de carecer de base industrial;
(4) de, por lá, ser ainda ténue a segurança jurídica. Nada disto é irresolúvel, mas vai demorar o seu tempo a resolver.
Outros alicerces possíveis para o pólo do Atlântico Sul, no caso de Angola não oferecer condições suficientes, são:
(1) a Nigéria – que lhe proporcionaria uma configuração típica, onde predominariam os hubs de transporte marítimo de mercadorias;
(2) a Zâmbia – que, por ser um país interior, descaracterizaria o Atlântico Sul como verdadeiro pólo geoestratégico, ficando, então, tudo como até agora (os países do Atlântico Sul manteriam ligações de periferia com os dois pólos já em actividade: Atlântico Norte e Pacífico Norte).
Apesar de todas as suas fragilidades, Angola tem um trunfo forte para jogar: a sua localização geográfica – ideal para a concentração e distribuição de pessoas (transporte aéreo) e mercadorias (transporte marítimo) em viagens intercontinentais.
Os seus portos marítimos são incontornáveis para as economias do interior do continente africano a Sul do Equador, até mesmo para a ligação da África do Sul ao Atlântico - assim existam ferrovias fiáveis. E na região do Golfo da Guiné, são vários os portos candidatos a desempenhar essa função em benefício das economias circunvizinhas.
A sorte do Atlântico Sul como pólo geoestratégico depende, então, da capacidade de Angola criar um hub intercontinental para o transporte aéreo de passageiros – que pode ser: em Luanda, em Huambo (antiga Nova Lisboa) ou em Saurimo (antiga Henrique de Carvalho). Seria o hub da margem oriental do Atlântico Sul – de par com Rio de Janeiro e S. Paulo, na contra-margem.
“Quentura de alma e queixume de corpo” é uma frase que ouvi a António Torrado quando há dias entrevistado na Antena 2 da RDP.
Se a ordem dos factores fosse arbitrária, a frase transformar-se-ia em “quentura de corpo e queixume de alma” o que, convenhamos, adquire um significado bem diferente do da frase original.
Disse George Bernard Shaw, o famoso e espirituoso escritor irlandês: "A generalidade das pessoas só pensa duas ou três vezes por ano. Eu, porém, ganhei uma reputação internacional, pensando duas vezes por semana".
Consta que Shaw um dia encontrou-se com uma também famosa actriz ou bailarina inglesa, Isadora Duncan, se não estou muito em erro. Diz-lhe ela: "Imagine, Sr. Shaw, como seria um filho nosso com a sua inteligência e a minha beleza...".
Responde Shaw: " E se tivesse a minha beleza e a sua inteligência?".
Certo dia arengava a uma pequena multidão em cima duma barrica de madeira, quando esta rebenta...: "É para verem o peso dos meus argumentos!"
Homens destes são preciosos, pois dão um extraordinário encanto à vida. Rendamo-lhes homenagem. Não se deixam ofender, nem ofendem. O seu espírito tem a leveza duma morna brisa matinal em campo aberto, puro e perfumado.
Nós, Portugueses (e julgo por mim) não temos esta graça. A nossa é pesada, com socos nos pés, e barrete saloio na cabeça. Somos directos, não sabemos cobrir a nossa rudeza com um leve véu de encanto, e quando somos poetas, somos chorões. Ah, meu Deus, quantos defeitos eu não tenho! E já não tenho tempo de me emendar! Mea culpa!