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A bem da Nação

SAÚDE PÚBLICA: PREVER E PREVENIR

 

 

O “NEW England Journal of Medicine” está cheio de dicas. Mas a medicina em Portugal é business para uns poucos grupos estrangeiros de fármacos e de aditivos alimentares; e ainda de corporações profissionais e especuladores portugueses.

 

Aqui investe-se em caras vacinas quase inócuas, que os médicos franceses se recusaram a prescrever. E em caros hospitais, ao contrário dos países modernos.

 

Fármaco e hospital é para remediar. Mas a função real do Ministério da Saúde deve ser prever e precaver, e não corrigir um mal já ocorrido. Assim, queremos a medicina preventiva, que começa com uma alimentação saudável, aditivos aprovados por médicos sérios, informação massiva e proibição dos que enfraquecem o sistema imunológico da população. Como é feito nos países nórdicos e não só.

 

A medicina alternativa, muito mais barata e com menos riscos, é algo que pouco se difunde. Por exemplo, as aplicações de ozónio para artrites e para fortalecer em geral o sistema imunológico do nosso próprio corpo.

 

Porquê gastar em publicitar genéricos e ao mesmo tempo permitir que os giga-laboratórios dificultem ao ministério registar e permitir vender em Portugal o que já se vende na Europa há meia década? Para cortar nos gastos basta fazer como outros países, obrigar todos os médicos a prescrever genéricos e só com detalhada justificação na receita, autorizar os de marca; ela é depois analisada no ministério.

 

Muitos laboratórios oferecem seminários de seis horas durante uma semana em hotéis de luxo em paraíso turístico aos médicos que mais prescrevam os seus produtos e travem a receita, para impedir o doente de comprar um genérico. Porquê contratar com grupos financeiros e não PME do sector a gestão dos hospitais privados?

 

Inovar é também adoptar bons exemplos!

 

 Jack Soifer

Consultor, autor de “Como Sair da Crise”

Fonte : Jornal OJE, 27 de Novembro de 2010

O PROBLEMA

 

 

Nada indica que se esteja a programar para resolver a principal questão estrutural da economia portuguesa: o défice de produção e criação de riqueza, que está na origem de todos os outros défices.

 

Como de há duzentos anos a esta parte: “ Não há futuro sólido, sustentado e soberano sem uma aposta na produção nacional , na industrialização do país, no desenvolvimento da agricultura e das pescas.”

 

Questão prévia: quem são os responsáveis da crise?

 

Foram os trabalhadores por conta de outrem?

Foram os agricultores?

Foram os pensionistas e reformados?

Foram os pequenos e micro empresários?

 

Recordemos que o défice orçamental é de, números redondos, 15 mil milhões de Euros. O que fazer?

 

Reduzir os salários e as pensões é a solução, proclamam.

 

Mas foram os salários e as pensões que provocaram a crise?

 

Em 1975, a parte que as remunerações, sem incluir as contribuições sociais, representavam do PIB era de 59%. Em 2009, de menos de 34% do PIB!

 

Pergunta-se: o país está mais justo, mais igual e menos pendente?

 

Curiosamente os que defendem os cortes salariais, todos sem excepção, recebem mensalmente vencimentos equivalentes a 20, 30, 40,50, 100 e mesmo mais salários mínimos nacionais.

 

Curiosamente também, quase todos eles assumem (ou assumiram) responsabilidades governativas ou de direcção do “ sistema”. O que não impede de se comportarem como virgens vestais.

 

Quanto a impostos, eles são a demonstração inequívoca de que não existe o chamado “interesse nacional”.

 

Podem-nos esclarecer por que não se tributam a banca e os grandes grupos económicos com a taxa efectiva de IRC de 25%, (o que renderia 500 milhões de Euros no mínimo)?

 

Ou as transacções de Bolsa (mínimo de 135 milhões de Euros)? Ou as transferências financeiras para os offshores (cerca de 2200 milhões de Euros, base 2009)?

 

E por que não se tributam os que apostam na economia paralela e clandestina, que significará hoje cerca de 20% a 25% do PIB real? O que se traduziria na recolha, em impostos de valores da ordem dos 16 mil milhões de euros/ano. Valor que é várias vezes superior aos fundos comunitários.

 

“Interesse Nacional”? Observe-se o caso da venda à Telefónica da participação da Portugal Telecom na VIVO. Os accionistas da PT alcançaram mais de 6 mil milhões de euros de mais valias bolsistas , fazendo-os passar por um paraíso fiscal na Holanda, sem pagarem um único Euro de imposto no nosso país!

 

“Interesse Nacional“? O Estado e a banca pública socorreram o sistema financeiro. E logo deram 4 mil milhões de euros em Outubro de 2008 e garantias superiores a 20 mil milhões de euros (mais 12,5% do PIB , depois foi o BPN , onde o valor injectado ultrapassa os 4 mil milhões de euros (2,4% do PIB).

 

Mais de dez biliões de Euros (10.000.000.000.000.) , tal foi a verba injectada pelos bancos centrais e pelos governos , só no sistema financeiro desde Agosto de 2007. E a 1% de taxa de 2007.

 

Agora os Estados que assim se endividaram pagam junto do mercado (leia-se sistema financeiro) juros de 3,4,5, e 6%.

 

A divida privada em Portugal é mais do dobro da divida pública.

 

(recebido por e-mail; Autor não identificado)

Crónicas Portucalenses - 5ª e última

 

 

(desanimado e saudoso!)

 

...

 

Tinha reservado esta última crônica para falar da família, dos amigos, daqueles que, enfim, nos levaram a Portugal. Mas ao ler, todos os dias, o jornal da manhã, e ver as barbaridades que se cometem neste lindo Brasil, um frenesi me percorre, e o desabafo, somente nestas linhas, é mais forte, quase, do que as saudades!

 

Há dois dias o jornal dizia que o chefe do MST, o tal movimento de bandoleiros pagos com dinheiro do governo que invadem e arrasam fazendas, matam gado de concurso que vale fortunas, destroem a floresta porque “precisam” de plantar alimentos, destroem também equipamento agrícola e laboratórios de pesquisa florestal porque não gera batatas ou couves, tudo isto com o beneplácito e dinheiro do governo, vai ser condecorado com a Medalha de Mérito Legislativo!

 

Isto nem absurdo é. Não tem qualificação esta atitude covarde dum governo com medo e sócio desta gente, a quem paga para obter votos, e ainda os condecora! Meus Deus!

 

E ontem, a madama dona primeira futura presidenta, ao tomar conhecimento de que, segundo a ONU, o Brasil em termos de educação está igual ao Zimbabwe, o país africano com o pior IDH (Indíce de Desenvolvimento Humano) do mundo, também teve o desplante - ou a ignorância? – de dizer que a educação não é das suas prioridades, pois “já está muito bem encaminhada”!

 

Pobre país, tão rico e tão pobre de inteligência e seriedade. A riqueza é para ser roubada e a ignorância para votar na ignorância!

 

Voltemos a Portugal.

 

Rever os irmãos e os amigos, alguns com 90 anos e de ótima saúde, outros menos bem, muitos com oitenta e bastante, a maioria rondando as oito décadas, estar com companheiros da escola primária com quem mantivemos toda a vida uma profunda amizade, onde a conversa parece não acabar num almoço que demora mais de seis horas, lembrando professores bons e aquela horrível “menina de sete olhos” com que todos fomos “acariciados”, um nunca mais acabar de recordar, até sermos corridos do restaurante, é uma benção.

 

Um colega de estudos fez, de carro, mais de mil quilômetros para nos vermos, e procurarmos saber daqueles que ainda estão vivos dos que terminaram o curso conosco, e são já menos de um terço! Outro foi de Madrid para lembrar os tempos de sempre, desde talvez 1936, de Angola e até lá de Madrid, onde assisti à última corrida de touros em 1977! Para encontrar um outro fui eu que fiz mais de quinhentos quilometros, fora as inúmeras voltas dadas em Lisboa e arredores para não deixar de ver um só deles.

 

Mas, às duas por três, as forças começaram a fraquejar e não pude cumprir com o que tanto desejava; alguns tiveram que ficar para a próxima vez, se... essa próxima vier a acontecer!

 

Estar com os irmãos e os primos irmãos de ambos os lados da família é sempre uma experiência única! Contam-se histórias dos pais e tios, algumas que nos fazem chorar a rir, maluqueiras da mocidade, rirmos também, em vez de chorar, com as histórias daqueles que já se foram, nos deixaram a alma menor, mas não saem dos nossos corações. Recordar os momentos alegres da vida faz-nos rejuvenescer.

 

Encontrar a amiga e vizinha de infância na rua das Trinas, que mais tarde foi também nossa vizinha em Luanda e ainda se lembra do cor do suporte, verde, da nossa máquina de café, quando esta, há meio século, circulava lá no bairro;

 

 

Oh! Ana: olhe a máquina de café, com o suporte verde... e que deve ter quase 60 anos !!!

 

descobrir que o famoso Alberto Gomes, que nos ofereceu a tal caldeirada espetacular,

 

 

Olha só o aspeto... e o cheirinho !

 

 

 

As recordações de Angola dum homem de 90 anos!

 

e que depois dos oitenta anos virou pintor sem que ninguém o ensinasse, um “naif” encantador; ter a oportunidade de estar presente nas Bodas de Ouro de outros amigos, onde encontrámos as famílias dos dois lados dos noivos, alguns que não víamos há décadas, e imensos convidados também velhos amigos; reunirmo-nos com a “velha” família de Angola, quando todos éramos uns meninos de pouco mais de trinta anos, e ver agora os filhos destes, como os nossos, cheios de netos e até bisnetos; ver aparecer uma “garota” ou um “garotão” de quarenta ou cincoenta, cabelo a esbranquiçar, perguntar-nos: “o tio sabe quem eu sou?”, e de repente lembrá-los meninos de meia dúzia de anos a brincar com os nossos filhos, sentir no abraço de cada um uma saudade e uma amizade que os anos só continuam a fortalecer, e não conseguir, nem querer impedir, que os olhos de vez em quando se encham de água.

 

Tudo isto faz com que o retorno a casa se torne um misto de alegria e tristeza!

 

Mas como “a casa da saudade se chama memória”, e o coração, esperamos que ambos durem ainda muito tempo.

 

Rio de Janeiro, 8 de Novembro de 2010

 

quinta-feira, 5 de março de ... Francisco Gomes de Amorim

O MORTO DE BOA SAÚDE

Olha, parece que o Estado-providência morreu! Aliás, é melhor dizer que morreu outra vez, porque já perdemos a conta à quantidade de vezes que nos anunciaram o seu falecimento. Mas ele continua a ser o morto mais saudável que conhecemos.

 

Nesta monumental tragicomédia em que se tornou a nossa política orçamental (comédia política, tragédia económica) volta a dizer-se que o Estado social, como o conhecemos, vai desaparecer. A razão é a do costume: não há dinheiro. Estas declarações geraram as habituais reacções, do furor indignado à penitência compungida. Só não se vê aquilo que realmente melhoraria a situação: um pouco de equilíbrio e racionalidade. E decência. Mais uma vez, os maiores inimigos da segurança social são os que se dizem seus dedicados defensores.

 

O Estado-providência é composto por três processos diferentes. O primeiro é um mecanismo de poupança, em que se acumulam descontos no trabalho para se obterem pensões na reforma. O segundo garante seguros contra acidentes, como o subsídio de desemprego e outras prestações ligadas a circunstâncias especiais, apoios na doença, bolsas de estudo, etc. O terceiro elemento é de solidariedade, distribuindo aos mais pobres e promovendo a justiça.

 

Há séculos que todas as sociedades fazem poupanças, contraem seguros e dão esmolas. Mas nas últimas décadas, nos países ocidentais, o Estado interveio assegurando esses serviços a todos os cidadãos. Assim nasceu a segurança social, sistema nacional de saúde, escolaridade pública, etc. Estas políticas tiveram o aplauso unânime dos eleitores e rapidamente o sistema fez inchar a despesa pública e ocupou a maior fatia do Orçamento do Estado.

 

Tal popularidade garante que o Estado-providência não vai morrer. Quem o tem quer mantê-lo, e quem não o tem gostaria de o ter. O actual debate americano sobre o sistema de saúde é disso prova evidente. Assim seria bom evitar as declarações bombásticas sobre a sua extinção, pelo menos por parte dos defensores, pois apenas servem para aumentar a emotividade e o nervosismo, precisamente o mais prejudicial ao Estado social.

 

O único problema é que, por muito populares e poderosos que sejam, os sistemas de apoio social não podem fugir às regras da aritmética. Infelizmente, o oportunismo político tem repetidamente manipulado os termos financeiros do processo, fazendo assim perigar a sua sustentabilidade. Os piores inimigos do Estado-providência não são os neoliberais (que, se existirem, ninguém ouve), a crise internacional ou o sistema bancário. É apenas a estupidez. É espantoso como, sendo uma política que todos dizem defender, tantos façam tanto para a destruir.

 

Os ataques mais mortíferos são também três, todos partindo dos seus mais fanáticos promotores. O primeiro é o peso da máquina, tantas vezes funcionando para cumprir as suas manias, não para servir o público. Depois vêm os vários esquemas ruinosos que, dando votos no imediato, comprometem a prazo todo o sistema. A demência em descer sucessivamente a idade da reforma perante uma subida da esperança de vida, se não era sabotagem propositada, foi negligência criminosa.

 

Estes dois problemas estão diagnosticados e, mal ou bem, começam a ser abordados. A reforma da segurança social de 2007 foi um passo importante para a sustentabilidade do nosso sistema. Ainda existe muito irrealismo, como mostram as delirantes manifestações em França contra a subida da idade de reforma de 60 para 62 anos. Mas, apesar de tudo, é uma tolice a convicção generalizada de que em breve não haverá dinheiro para pensões.

 

O pior dos inimigos, que agora domina Portugal, é a suprema hipocrisia de certos políticos, alguns até auto-intitulados "socialistas", que perante um aperto financeiro por razões alheias ao sistema esquecem as juras de solidariedade e cortam nos apoios aos mais necessitados para manterem benesses dos grupos de pressão.

 

O Estado-providência não está morto. Nem sequer moribundo. Mas era bom que fosse tratado com um pouco mais de serenidade, realismo e, sobretudo, dignidade.

 

  JOÃO CÉSAR DAS NEVES

 

DN 2010-11-01

25 de Novembro, há 500 anos

 

 

Afonso de Albuquerque - conquista de Goa, 1510  (*)

 

Afonso de Albuquerque forma uma poderosa armada, reunindo vinte e três naus e 1200 homens. Relatos contemporâneos afirmam que pretendia combater a frota mameluca egípcia no Mar Vermelho ou regressar a Ormuz. Contudo, informado de que seria mais fácil encontrá-la em Goa, onde se havia refugiado após a Batalha de Diu, dada a doença do sultão Hidalcão e a guerra entre os sultanatos do Decão, investiu de surpresa na captura de Goa ao sultanato de Bijapur. Cumpriu assim outra missão do reino, que não pretendia ser visto como eterno "hóspede" de Cochim e cobiçava Goa por ser o melhor porto comercial da região.

 

A primeira investida a Goa dera-se entre 4 de Março e 20 de Maio de 1510. Numa primeira ocupação, sentindo-se impossibilitado de segurar a cidade dadas as más condições das suas fortificações, Afonso de Albuqerque recusou um vantajoso acordo de paz e abandonou-a em Agosto.

 

Apenas três meses depois, a 25 de Novembro, Albuquerque reapareceu em Goa com uma frota totalmente renovada e, em menos de um dia, tomou a cidade a Ismail Adil Shah e seus aliados otomanos. Estima-se que 6.000 dos 9.000 defensores muçulmanos da cidade morreram, quer na violenta batalha nas ruas ou afogados enquanto tentavam escapar.

 

Apesar de ataques constantes, Goa tornou-se o centro da presença portuguesa, com a conquista a desencadear o respeito dos reinos vizinhos: o sultão de Guzerate e o samorim de Calecute enviaram embaixadas, oferecendo alianças, concessões e locais para fortificar.

 

Albuquerque iniciou nesse ano em Goa a primeira cunhagem de moeda portuguesa fora do reino, aproveitando a oportunidade para anunciar a conquista territorial.

 

António Marques

(anterior Presidente do

Grupo dos Amigos de Olivença)

 

(*) http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bf/Goa_Braun_Hogenberg.jpg&imgrefurl=http://www.alvarovelho.net/index.php%3Foption%3Dcom_content%26view%3Darticle%26id%3D1424:conquista-de-goa-1510%26catid%3D85%26Itemid%3D25&usg=__nReg2knUra2QabDzgYwi22VWmNY=&h=2330&w=7751&sz=1811&hl=pt-pt&start=0&zoom=1&tbnid=nAsEOTaw7lxB3M:&tbnh=54&tbnw=179&prev=/images%3Fq%3DAfonso%252Bde%252BAlbuquerque%252Bconquista%252BGoa%252B1510%26um%3D1%26hl%3Dpt-pt%26sa%3DN%26biw%3D1007%26bih%3D681%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=51&vpy=112&dur=2995&hovh=123&hovw=410&tx=165&ty=73&ei=-1zyTJK_Ec24hAeC_82jCg&oei=-1zyTJK_Ec24hAeC_82jCg&esq=1&page=1&ndsp=22&ved=1t:429,r:0,s:0

O ELMO DE D. SEBASTIÃO

 ELMO DE D. SEBASTIÃO

 

É dia 24/11/2010, são 11 horas. Começa um leilão de obras de arte em Londres. Entre elas encontra-se um elmo de D. Sebastião. A grave crise mundial fez muitos venderem objectos herdados que nem sabiam bem o que eram. Os leiloeiros estão tão atarefados, que nem tempo têm de estudar devidamente o que lhes passa pelas mãos. Assim surgiu, no mercado internacional, este elmo rapinado pelo Duque de Alba em Lisboa, em 1580. Espero que passe despercebido! Em tempos já consegui adquirir e trazer de volta a Portugal uma boa parte de uma das armaduras de D. Sebastião. Tinha sido classificada como sendo do Duque Emanuel Filiberto de Sabóia (casado com a Infanta D. Beatriz de Portugal), o que aliás está correcto. Não tinham, porém, visto o quadro no Museu das Janelas Verdes que mostra D. Sebastião utilizando esta armadura que lhe foi oferecida pelo Duque de Sabóia, seu primo, que, com mais 26 anos de idade, já não cabia nela e ofereceu-a a D. Sebastião.

 

Mantive-me calado! Não disse a ninguém que o elmo de D. Sebastião iria a leilão em Londres. Também dizer para quê? As nossas “Entidades Oficiais” não iriam mexer um dedo para o recuperar! Apenas acabaria por alertar os museus estrangeiros e os leiloeiros. Estes sabem muito bem que uma peça de armadura atribuível a um Duque importante vale, pelo menos, 10 vezes mais do que a mesma sem essa atribuição. Quando a peça é indiscutivelmente atribuída a um monarca, o valor é 20 vezes superior. Mas quando se trata de D. Sebastião, a peça tem simplesmente de regressar a Portugal. Haja manhã de nevoeiro ou não.

 

Estando o Desejado nele ou não! Se alguém descobrir, vai ser uma desgraça financeira para mim. Encontro-me praticamente sem vintém. Mas, o elmo tem de voltar! A minha conta bancária está vazia. De pouco me ajudaria vender o meu carro. Tem 25 anos e ainda me presta bons serviços. De qualquer maneira, o elmo vai custar o equivalente a muitos carros. Não sei o que fazer. Com lógica não chego lá. Tenho de me deixar guiar pelo subconsciente, e este diz-me: “O ELMO DE D. SEBASTIÃO TEM DE REGRESSAR A PORTUGAL!”

 

Não fui a Londres, uma vez que a minha presença neste leilão faria algumas pessoas pensarem e eventualmente acordarem.

 

Pedi para a leiloeira me telefonar.

 

Em Londres já estão a vender as primeiras peças no leilão. Tenho o catálogo sobre os joelhos, sentado ao lado do telefone. Da nossa televisão só oiço os berros de mais uma greve geral, totalmente inútil, onde políticos e sindicalistas fazem o seu circo perante as câmaras dos média, vermes do sistema. Se houvesse entre eles alguém que realmente estivesse empenhado no bem de Portugal, essa pessoa estaria a esta hora em Londres a fim de trazer o elmo de D. Sebastião de volta. É preciso defender a identidade lusa e esta mantém-se quando se ama Portugal e a sua história, e não com malabarismos vocais e movimentos de massas arrancadas do trabalho.

 

Se eu tiver a sorte de, nem o Musée de l’Armée de Paris, nem a Armeria Real de Turim, nem o museu de Filadélfia – visto todos eles possuírem alguns elementos desta armadura, desejando certamente completá-la –, se darem conta de que este elmo lhes faz muita falta, ainda assim é necessário ultrapassar os comerciantes, sempre à procura de lucro fácil. Aí, tenho a “sorte” do elmo ter um pequeno furo (menor do que uma moeda de 1 cêntimo), o suficiente para muitos não o quererem. Este buraquinho não altera em nada a importância histórica da peça, mas apenas o seu momentâneo valor comercial, enquanto não se tiverem dado conta de que se trata de um elmo de um duque, oferecido a um rei. AO NOSSO REI!

 

Tenho os nervos à flor da pele. O telefone vai tocar dentro de instantes. O que é que vou ter que dar em troca para poder pagar esta factura choruda? Não sei! Depois se verá. O ELMO TEM DE VOLTAR!

 

Não vai haver férias nem presentes de Natal, e mesmo estes cortes não vão ser suficientes. Mas O ELMO TEM DE VOLTAR!

 

O telefone toca. O elmo vai à praça! Dou uma ordem: “COMPRE!”.

 

O martelo do leiloeiro bateu!

 

O ELMO DE D. SEBASTIÃO VAI VOLTAR A PORTUGAL.

 

 Rainer Daehnhardt

MEDITANDO

 

A teologia é devida à falta de fé

 

Karl Popper

 

in “BUSCA INACABADA – autobiografia intelectual”, pág. 32 – Ed. ESFERA DO CAOS, 1ª edição, Fevereiro 2008

AS EMOÇÕES NA VELHICE

 

 terceira idade

Foto: arquivo particular

 

 

É na terceira idade, maneira “polida” da mídia se referir aqueles que já passaram dos sessenta, que se percebe “na carne” o quanto as emoções abalam o indivíduo. Se antes, na juventude, elas fustigam de leve, sem grandes repercussões físicas e mentais, na velhice são verdadeiras tempestades que arrasam e aniquilam. Derrubam sim, pois não há noite bem dormida, massagem relaxante ou creme tonificante que acabe com aquela feição abatida, aquela ruga vincada acrescida na face, ou aquele cabelo branco que ontem não estava ali, na cabeleira grisalha, e que a vaidade insiste em esconder ao pintá-la. Quantas vezes dores de cabeça, tremores, taquicardias, gastrites rebeldes, má digestão, “nó” na garganta, boca amarga, cólicas abdominais sem explicação são sinais de emoções mal resolvidas.

 

O stress pode transformar a emoção numa doença psicossomática, que o digam os clínicos, os gastrenterologistas, os cardiologistas, os geriatras e neurologistas, que atendem todos os dias pacientes idosos que perambulam de consultório em consultório em busca de solução para suas feridas físicas e mentais. Eles querem um profissional que os ouçam, que aplaque seus temores, que alivie suas dores que parecem não ter fim... E quando bem diagnosticados, depois de bem avaliados, os profissionais descobrem que ouvindo os pacientes, interessadamente, já trataram 50% das suas doenças.

 

 Ignorado pelo médico e familiares, o idoso poli-queixoso tem mais chances de desencadear uma doença abrupta grave, seja degenerativa cerebral ou até mesmo cardiocirculatória, que qualquer outro paciente. No velho o stress é sempre uma situação de perigo.

 

A velhice precisa de um lar seguro e aconchegante, uma família amorosa e participativa, um médico atencioso e constante, uma sociedade respeitosa para ser feliz. No tabuleiro da vida devemos movimentar as peças com tino, prudência, raciocínio, prever situações de risco, evitar surpresas desagradáveis que mudem para o pior o destino. É vital lembrar que, com a idade, uma emoção desagradável pode ser desastrosa para a qualidade de vida.

 

Desenvolver o lado lúdico e afectivo dos relacionamentos, dar e aceitar o toque pessoal, unir o prazer às actividades quotidianas, preencher os dias, viajar, ver coisas e lugares novos, é promover a saúde física e mental. Resgatar a importância do idoso para a sociedade e família, como elemento de experiência e sabedoria, é tornar a vida melhor, mais rica e feliz, mais longa para todos, velhos e jovens.

 

Maria Eduarda Fagundes Maria Eduarda Fagundes

 

Uberaba, 21/11/2010

A DÉCADA PERDIDA

 

 

De 2002 até hoje a economia portuguesa, basicamente, não cresceu. Se tomarmos os dados do Rendimento - e não do Produto -, a situação é ainda mais triste. Porquê?

 

Não conheço estudos que possam dar uma resposta quantificada e mais ou menos definitiva. É pena. Mas podemos pensar sobre o assunto. Não houve certamente um só factor mas uma conjugação de factores que determinaram o paupérrimo desempenho da economia portuguesa nos últimos oito anos, quase uma década.

 

Entre os muitos factores, parece-me relevante destacar quatro. Primeiro, o efeito da abertura das economias desenvolvidas à China e à Índia. Com estes países mais envolvidos no comércio mundial, os preços de muitos bens de baixa tecnologia e de produtos mais estandardizados caiu significativamente. Desde a T-shirt à torradeira acabando na televisão, a queda dos preços foi brutal. Isso tem sido certamente muito bom para o consumidor, que viu o seu poder de compra aumentar significativamente. No entanto, muitos desses produtos concorriam com as nossas exportações, nomeadamente todo o têxtil mais tradicional. Deste modo, a queda do preço destes bens no mercado internacional configura aquilo que os economistas chamam uma perda nos termos de troca. As nossas exportações viram os preços cair e as nossas empresas mais tradicionais tiveram problemas, e muitas, naturalmente, fecharam. Quando os termos de troca caem o bem-estar também cai; ou seja, teríamos de exportar mais T-shirts para podermos importar um programa de software, por exemplo...

 

É claro que a entrada da China no comércio mundial era bem conhecida, mas os nossos empresários sempre acharam que era só fumaça e o Estado havia de arranjar qualquer coisa. Não arranjou, nem podia.

 

Mas infelizmente tentou. Ou seja, com políticas de apoio à reestruturação de empresas, o Estado subsidiou empresas arruinadas, adiando e protelando os necessários ajustamentos na produção. Estes passavam com toda a certeza pelo fecho de empresas, agora inviáveis. Por isso, durou oito anos o nosso sacrifício e não apenas três ou quatro, embora os ajustamentos que tudo isto implica levem tempo. Verifica-se, desde há alguns anos, uma clara evolução nas nossas exportações para bens tecnologicamente mais evoluídos. Isto não é fruto, estou certo, de grandes políticas públicas, mas de um rearranjo nas vantagens comparativas: agora temos de exportar mais, mas fundamentalmente melhores produtos.

 

Um segundo aspecto tem a ver com a entrada dos países de Leste na União Europeia. A entrada de países como a República Checa ou a Hungria não só aumentou a concorrência das nossas exportações tradicionais, reforçando o efeito da China, mas também desviou muito investimento internacional. O investimento internacional, mormente da Alemanha, passou muitas vezes a preferir localizar-se em países com mão-de-obra muito mais barata e não raro mais qualificada que a portuguesa. Eram economias ávidas de capital e de novos investimentos e, para os alemães, ficavam ali mesmo ao lado. Sem dúvida que este factor explica em grande parte a queda no investimento directo estrangeiro em Portugal nos últimos dez ou quinze anos, o que contribuiu para a estagnação da última (quase) década.

 

A reacção dos vários Governos a esta perda de capacidade de atracção de investimento internacional não foi a melhor. Como sempre, em vez de os resolver, lançou dinheiro sobre os problemas.

 

Um terceiro factor que também teve influência - e, mais uma vez, actuou no sentido de deteriorar as nossas relações de troca - foi a subida dos preços do petróleo. No início da década o barril deveria rondar os 25 ou 30 dólares e, com altos e baixos, desde então a tendência geral foi de subida. Como o petróleo e o gás natural são integralmente importados, as importações ficaram mais caras, enquanto as exportações tradicionais viam os preços a cair. Infelizmente também aqui a reacção dos Governos foi a pior. Inicialmente protelou-se (mais uma vez o protelar) a subida dos combustíveis nas bombas e depois foi a moda, politicamente correcta, das renováveis, com especial destaque para os últimos cinco anos. A aposta nas energias alternativas - vento e sol - saiu caríssima às famílias e às empresas, que já estão a pagar a factura, com perdas acrescidas de bem-estar e competitividade.

 

Mas um quarto e último aspecto foi crucial e decorre do já referido atrás: o Estado. O que é que andámos a discutir desde 2002? Finanças públicas, o défice ou a dívida pública. E com boas razões o discutimos, porque este problema é um problema real como o sentimos hoje. E afugentou o investimento. De facto, um investidor internacional - que pode muito bem ser português - pode escolher entre investir na Hungria, na Polónia ou em Portugal. Os critérios de decisão têm certamente a ver com a prospectiva solidez financeira do Estado, com a expectativa do nível futuro de impostos, com a facilidade futura de acesso ao crédito, com o risco de o país não vir a pagar o que deve. Por tudo isto, o nosso país comparava mal. Para além dos outros factores muitas vezes referidos: ensino, justiça, burocracia... E sem investimento, não há crescimento.

 

Como seria de esperar, a situação orçamental deteriorou-se para níveis nunca imaginados serem possíveis. Tudo isto com custos para todos nós, com mais impostos, menor crescimento e mais desemprego. E a próxima década será outra década perdida? Tudo estamos a fazer para que seja.

 

 Luís Campos e Cunha

Professor universitário

In Público, 20 DE Outubro de 2010

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