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A bem da Nação

Augúrios

Não sei por que razão

Se foi Esopo inspirar,

Como exemplificação

De uma figura detestada,

Embora só pela deusa

Da grega sabedoria,

Na gralha de bico aberto,

A coaxar.

Afinal, é esse o seu falar

Embora sem grande acerto,

E com pouca harmonia.

Mas gostos são relativos

Não podemos generalizar

Nos motivos,

Valha-me a Virgem Maria.

Tanto mais,

Que gralhas há muitas,

Tal como os chapéus,

Ó céus. Leiamos então,

Com atenção

A fábula de Esopo

Na tradução:

«A gralha e o cão

Uma gralha que pretendia

A Atena, sacrificar,

Para esse banquete resolveu,

Com a necessária cortesia,

Um cão convidar Um dia. “

- Para que te metes em tanta despesa

Com esses sacrifícios, tão inúteis

Como fúteis?”

- O cão lhe perguntou, com esperteza,

Se não até com tristeza.

E continuou:

“Com efeito, a deusa tem por ti

Um ódio tão feroz

Que, como um algoz,

Aos teus áugures exclui

O crédito desejado.

“- Ora essa!” A gralha lhe respondeu

Com enfado:

“Por isso mesmo eu lhe sacrifico”,

Sei que ela me detesta

E espero apaziguá-la

Com a minha festa

A favor dela.”

De igual forma, muita gente

Pouco influente

Não hesita, por receios ancestrais,

Em cobrir de benefícios

Os seus inimigos figadais.»

Penso que a gralha pertencia

À lusofonia,

Mas não tenho a certeza.

Porque tal natureza

De cumular de benefícios

Os superiores,

Amigos ou inimigos,

Mesmo com sacrifícios,

Para obter deles favores,

É coisa antiga,

Própria da literatura

Que a imitou da Mãe Natura.

Não vou , pois, fazer fraca figura.

Não vou explorá-la.

Vou mesmo ignorá-la,

Essa coisa de servir

De sacrificar

De prendas trocar…

Não vá uma Atena segura

O crédito dos meus áugures banir.

 

Berta Brás

Crónicas Portucalenses - 2 - (ao correr da pena)

 

Se Portugal vale a pena, um passeio pelo Alentejo é sempre algo maior! Aquelas planuras imensas com uma luz andaluza, os sobreiros com as suas copas abertas lembrando as acácias das savanas de África e, como símbolo da vitalidade de um país antigo (aliás o mais antigo do mundo com suas fronteiras definidas!), os milhares de hectares com novas plantações de oliveiras e até, para meu grande espanto, plantações de sobreiros que os proprietários sabem, primeiro da sua dificuldade em “pegar” e depois que só vão tirar rendimento destas maravilhosas árvores ao fim de 30 anos!

 

 

E como se come bem no Alentejo!... Beber, tem muita escolha dos vinhos regionais alentejanos, de que é difícil eleger o melhor. Podem bebê-los todos que são sempre bons.

 

E também se roda bem nas ótimas estradas que o retalham de vila em vila!

 

A brancura das suas casas, a lhaneza das gentes, uma anedota dos próprios sobre si mesmos, um castelo aqui e uma fortaleza do tempo dos árabes, além.

 

Além da sua beleza, o Alentejo é uma terapia para a alma! A quietude, ou espaço que chama à elevação, à meditação, ao sossego.

 

E o Algarve? O Al Garb, o velho Ocidente de toda a Península Ibérica, assim chamado pelos árabes.

 

Não há que o comparar ao Alentejo. Cada região sua beleza. O Algarve, atração turística por excelência em toda a Europa, com as suas praias lindas, um clima ameno praticamente todo o ano, mais de uma dezena de campos de golfe, montes de hotéis, cassino, prédios, sobretudo de veranistas, que saem do chão a toda a hora, o que mais falta para ser um lugar de eleição?

 

Voltemos à gastronomia, e aqui é o mar que impera.

 

No entanto não foram todas estas maravilhas que me levaram ao Algarve, mas sim encontrar e abraçar o meu amigo Alberto Gomes, “O Alberto” de quem já falei neste blog, e não via há mais de 47 anos! Recebeu-nos principescamente com uma caldeirada à moda da Baía das Pipas, uma verdadeira obra de arte culinária, mas sobretudo com seu enorme coração, sempre forte e rijo, com imenso calor humano e uma simplicidade que continua a captar a admiração e a amizade de quem o conhece.

 

O peixe para a caldeirada teve que o ir buscar a Olhão porque na Quateira o peixe parece ser pequenino e inapropriado!

 

E o vinho, além e de umas garrafinhas da vizinha Adega Cooperativa de Lagoa mais duas dum novo Alvarinho “Reguengo de Melgaço”, todas para serem bebidas de pé... mas apesar destas excelências, a caldeirada sobrepujou os vinicultores!

 

Alberto ainda é um homem rijo e forte, em vésperas de completar 91 anos! Uma memória que envergonha qualquer elefante, e sempre uma história divertida para contar.

 

Descendente de pescadores algarvios pelo pai e neto dum chefe Mucubal pela mãe, foi um dia assistir a um casamento desta sua gente. Boi não se mata habitualmente; só em cerimônias especiais, como funeral ou casamento, e nesse dia o melhor boi, gordo e grande, foi o escolhido para abate. Vários homens correram, mas o bicho era forte e correndo, a todos ia sacudindo, não se deixando apanhar. Devia calcular a sorte que o esperava! No meio da confusão o nosso amigo Alberto esperava impassível o desenrolar do acontecimento, quando o boi corre em direção a ele. Alberto só tem tempo de o agarrar pelos chifres e, com toda a sua força, não largava o bicho! Este, deseperado sacode-se violentamente e consegue fugir. Mas os dois chifres ficaram na mão do Alberto!

 

O grande Alberto Gomes e toda a sua juventude de 90 anos Podem achar que é balela dele.

 

É preciso conhecê-lo, além da fama de no seu tempo ser talvez o homem mais forte da região de Moçamedes, hoje Namibe, para se ter a certeza de que isto foi verdade!

 

Foi uma grande jornada de muita amizade e recordações de um bonito passado que só volta nestes encontros.

 

(continua)

 

Rio de Janeiro, 31-Out-10

 

Francisco Gomes de Amorim

OLHAR EM FRENTE - 2

 

 

Como confeccionar uma crónica…

 

Faz tempo em que cozinhar uma crónica era algo de muito complicado. Por vezes sinuoso, dadas as “fintas” que era necessário fazer para escapar ao grosso e censurante lápis da respectiva Comissão.

 

Nessas malhas algumas vezes caí. Uma delas por ter tentado abordar a especulação petrolífera, a propósito de súbita alteração de preços com base no exercício de chantagem que os produtores do Golfo resolveram ensaiar. Claro que o ensaio passou a prática comum…Estávamos então em 1973.

 

Depois, os cronistas respiraram de alívio. Podia dizer-se tudo quanto se quisesse. E houve um período em que, sem exageros, a Comunicação Social era respeitada e se respeitava. Pegava-se no facto. Se possível fresco, de interesse público, que possuísse contornos suficientes para motivar a atenção do leitor. Comentava-se com seriedade, noticiava-se com verdade e ninguém insultava ninguém. Contenção na palavra escrita, responsabilidade nos debates, elegância nas relações, mesmo entre adversários políticos. Hoje, primeiro que tudo, cria-se o facto. Se não houver à mão, inventa-se. O órgão de comunicação precisa de vender, de ter espectadores, de interessar ouvintes. E nesta selva informativa, em que muitas vezes se não distingue o comentário da notícia, o ouvinte, o leitor ou o espectador – dependendo da sua formação ou cepticismo – voga perdido num mar de vagas cruzadas, numa tempestade informativa que o confunde e desmotiva.

 

A realidade não é absoluta, depende de quem a difundiu.

 

Hoje, que não há Censura, as condições de confecção de uma crónica alteraram-se de tal maneira que não reconheço nenhum dos condimentos então utilizados. Que eram, necessariamente, o interesse público, o evitar os ataques pessoais, o uso de termos apropriados e sem obscenidades, honestidade nas posições, reconhecimento das razões entre quem concorda ou quem discorda.

 

A situação difícil que se vive em Portugal fez aumentar, entre outras inseguranças, o clima de insegurança verbal, na perca de prestígio da maior parte dos comentadores e cronistas de serviço, rendidos, uns e outros, aos interesses de quem lhe paga ou aos benefício que espera cobrar um dia.

 

Enquanto jornalista, agora retirado mas não amordaçado, sempre adoptei a máxima de que posso não concordar com as ideias de qualquer adversário…mas defenderei, até ao impossível, o seu direito de as expor.

 

Assim, nesta série de crónicas ou noutras que por aí vou subscrevendo, enquanto o universo de leitores se mantenha em volume que o justifique, continuarei a manter estes princípios e esta vontade.

 

Só assim poderei continuar a olhar em frente.

 

 Luís de Melo e Horta

Se...

 

 

Se, em Portugal, a política tivesse gente séria em vez dos irresponsáveis que nos têm governado, nos vários partidos e num sistema que lhes dá o poder de serem nossos donos, ouviríamos de Passos Coelho a seguinte Declaração:

 

Cidadãos,

Há meses declarei que não aprovaria qualquer orçamente que aumentasse os impostos.

O governo elaborou um orçamento com grandes aumentos de impostos e outras medidas (cortes de benefícios, alterações de IRS, etc.) que têm o mesmo efeito. Naturalmente, não posso descer ao nível do Primeiro Ministro, que afirma veementemente uma coisa hoje e amanhã faz exactamente o contrário. Por essa razão, não posso aprovar um orçamento com tais condições.

Mas se esse orçamento, por motivo da nossa acção, não for aprovado, é óbvio que todas as desgraças que vão cair sobre os portugueses seriam indicadas pelo Primeiro Ministro, com a sua magnífica técnica de vendedor de banha de cobra, como da total e única responsabilidade do PSD. E, com a mais perfeita aparência de convicção e a tal magnífica técnica de vendedor de banha de cobra, diria que, se o orçamento tivesse sido aprovado, os portugueses seriam agora os mais ricos da União Europeia e Portugal seria o melhor dos 27 países membros.

Em Portugal, infelizmente, há milhões de cidadãos que não raciocinam e que, apesar de tudo o que já sofreram, continuam a comprar grandes quantidades de banha de cobra.

Por estes factos, decidi apresentar a minha demissão de líder do PSD e dou aos meus correligionários o conselho de deixarem totalmente aos deputados do nosso grupo parlamentar a decisão que considerarem melhor para os portugueses. Aliás, foram eles e não eu quem foi eleito pelos cidadãos.

Muito obrigado.

 

Anónimo, para que se não pense que eu estou a favor deste ou daquele partido. Quaisquer que fossem os partidos nesta situação, a minha decisão seria a mesma.

“Eles sabem o que fazem”

  (*)

 

Foi a respeito das margarinas. Ouvi Passos Coelho falar em margarinas, julguei que se tratasse de Margaridas, como produto de rentabilidade mais propícia a regateio, mas o meu marido confirmou as margarinas e fiquei ciente do valor destas, visto que estavam a ser discutidas. Parece que Sócrates as queria encarecer, Passos Coelho achou que, como artefacto indispensável à população isso não seria justo, não sei se Passos Coelho as usa nos seus refogados e por isso se achou no dever de lhes reduzir o preço, como condição da sua aceitação do próximo Orçamento para a Nação, juntamente com outros produtos, que todos se me varreram da memória, actualmente em mau estado de conservação – a memória, não as margarinas - à excepção destas últimas, que lambareira como sou, uso às vezes nos bolos, e por isso se me fixou no espírito.

 

Mas eu de facto julgava que a sonoridade do silêncio de Passos Coelho em relação à sua adesão ao OE tinha a ver com uma caixa de surpresas com que iria maravilhar a população e multiplicar os seus votantes nas próximas eleições. Julguei que iria propor como condição sine qua non para tal adesão, que os que roubaram, ou não pagaram os impostos, fossem obrigados a pagá-los e a repor com juros o que roubaram. Os ordenados de afronta fossem obrigados a descer, os múltiplos vencimentos de alguns fossem reduzidos a um só – o maior deles - enfim, as trafulhices fossem desmascaradas e condenadas, a verdade das contas obrigada a ser esclarecida pelo governo, os campos e pescas fossem repostos num outrora mais obreiro, a Educação fosse tornada mais responsável, a Justiça mais justiceira, a seriedade fosse imposta onde ela faltasse.

 

Mas falou em margarinas, eu ainda pensei que fora troca com Margaridas, já expliquei porquê, e o meu marido considerou que os telhados de vidro são muitos, que eles sabem o que fazem, que ninguém se atreve a exigir tanto de um governo habituado a não saber fazer contas e a impor as contas erradas a um povo que também não estudou a tabuada.

 

Porque mesmo que esse que se vê que também quer o palanque não tenha ainda os tais telhados, o seu sonho é pertencer aos que os têm. Por isso se fica nas margarinas – peannuts para os mais poliglotas – e faz alarde com elas para justificar a adesão ao Orçamento para a Nação.

 

O povo tudo fará para continuar a amparar os tais telhados que, para todos os efeitos, reflectem bem o sol do nosso bonito clima soalheiro que nos abriga, sem nos obrigar.

 

Berta Brás

 

(*)http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://1.bp.blogspot.com/_kYRFbETl9No/TA98cHsvQUI/AAAAAAAAA3Q/GrSNpeiBfT4/s1600/Pilares%2Bda%2Beconomia%2Bportuguesa%2B2.jpg&imgrefurl=http://porcausasemodivelas.blogspot.com/&usg=__AJPCQE8wAuoATHXOxZoCexuKByE=&h=586&w=862&sz=65&hl=pt-br&start=0&zoom=1&tbnid=oH6DqAVkoK6HHM:&tbnh=108&tbnw=150&prev=/images%3Fq%3Dpilares%252Bda%252Beconomia%252Bportuguesa%26um%3D1%26hl%3Dpt-br%26sa%3DN%26rlz%3D1T4SUNA_enPT292PT293%26biw%3D1003%26bih%3D496%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=rc&dur=360&ei=MxzITMPSC5KHswav883GBg&oei=MxzITMPSC5KHswav883GBg&esq=1&page=1&ndsp=15&ved=1t:429,r:0,s:0&tx=67&ty=48

INSULTOS

 

 

Na Primeira República, existiam algumas coisas muito curiosas. Uma das mais insólitas eram os insultos, aliás herdados directamente da Monarquia que derrubara. É espantosa a quantidade e o calibre dos vitupérios que dominavam a vida política portuguesa dos finais do século XIX e inícios do XX. Comparados connosco, esses nossos antepassados eram muitíssimo mais grosseiros e insolentes.

 

As próprias palavras usadas soam hoje muito estranhas. Ninguém se lembraria de chamar ao senhor Primeiro-ministro «mariola», «pulha» ou «grande marau», epítetos que eram profusamente utilizados para todos os dignitários da época, com maior frequência quanto mais eminente era o alvo.

 

Mas pior eram os efeitos desta atitude. Num clima de ultraje permanente é impossível respeitar ou dar-se ao respeito. Não há dúvidas que a rudeza de linguagem da imprensa, discursos, comentadores e conversas era dos piores problemas da época, com graves consequências na vida e desenvolvimento, que resultaram na falência do regime.

 

Esta lição é útil hoje em dia. A actual crise, junto com alguns escândalos sortidos, está a fazer regressar, sobretudo em blogs e mensagens, um tipo semelhante de linguagem indignada. Muita gente, considerando-se ferida ou incomodada pelo que julga passar-se, acha-se com o direito de divulgar as calúnias e injúrias mais torpes sobre os nossos dirigentes. Não interessa se têm razão ou não. O que importa é que, descendo o nível do debate político, todo o país perde gravemente.

 

 João César das Neves

 

in DESTAK | 20 | 10 | 2010

COISAS DA ÍNDIA – 1

 

 

OS PECADOS DE BASTIÃO PIRES

  (*)

 

. Embarcou de Lisboa para a Ásia pouco depois de 1500. Foi Vigário geral da Ilha de Cochin, na Costa do Malabar. Ao Oeste e não muito distante situa-se a Serra da Pimenta, Cabo de Comorim um pouco mais ao Sul da Índia. Cochim foi base importante dos portugueses antes de Afonso de Albuquerque conquistar definitivamente Goa em 1510.

 

. De Cochim é planeada a expansão lusa para a Costa do Coramandel, a Ilha do Ceilão que se situa a Sul da Baía de Bengala até ao extremo Oriente. Bastião Pires, também conhecido por Sebastião, chega a Cochim nos anos de 1512. Em Lisboa, foi pároco de prestígio, confessor e Capelão de Dom Manuel I.

 

. O monarca Venturoso, tendo em Bastião um clérigo da sua confiança, nomeou-o Vigário-Geral de Cochim e mandou-o seguir para a Índia arrebanhar cristãos; numa terra onde havia muitos infiéis, inclusivamente mouros de tez escura iguais aos de Marrocos e Tânger e que imenso trabalho tinha dado aos portugueses escorraçá-los do Algarve para o Norte de África.

 

. Trocou correspondência com o Rei D. Manuel I; foi a Lisboa apresentar-lhe "queixinhas", dando-lhe conta do pouco zelo que à sua fazenda lhe era dado na Ilha da Pimenta; voltou à Índia. E, depois da morte do seu Rei protector, foi acusado de crimes de peculato, de "mulherengo" e acabou por desaparecer da arena política/religiosa da Índia.

 

. Ficaria por lá mas Lopo Soares de Albergaria enviou-o para Lisboa a fim de prestar contas do que foi acusado. Pobre do padre Bastião Pires que depois da morte do seu grande amigo Afonso Albuquerque não conseguiu libertar-se da vingança dos adversários políticos. . A intriga era coisa comum entre os portugueses da época. Todos desejavam – fosse como fosse – enriquecer sem escrúpulos.

 

.Não vamos julgar o pároco Bastião Pires, tão-pouco condená-lo pelas acusações que lhe foram feitas há quase 500 anos. Para atingirem objectivos, os fidalgos vaidosos, a gente de confiança d’el-Rei, que depois o traiam na Índia, não olhavam a meios para regressarem poderosos a Lisboa.

 

 [ReportagemMim.JPG] José Gomes Martins

(Bangkok)

 

(*) http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://1.bp.blogspot.com/_4aYoFdiHgTk/Rt1Qr2J9zxI/AAAAAAAAA2g/FuPjBPBoxFU/s320/Cochim.JPG&imgrefurl=http://aquitailandia.blogspot.com/2007_07_01_archive.html&usg=__7Vj9Q-9nzV_pQq55pXvs9rSTnjk=&h=247&w=320&sz=26&hl=pt-br&start=0&zoom=1&tbnid=pi5hAdPwbQh41M:&tbnh=161&tbnw=207&prev=/images%3Fq%3DBasti%25C3%25A3o%252BPires%26um%3D1%26hl%3Dpt-br%26sa%3DN%26rlz%3D1T4SUNA_enPT292PT293%26biw%3D1003%26bih%3D496%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=624&vpy=123&dur=3656&hovh=197&hovw=256&tx=113&ty=112&ei=iynETOHPGMnEswa-lfS4CA&oei=iynETOHPGMnEswa-lfS4CA&esq=1&page=1&ndsp=10&ved=1t:429,r:3,s:0

MEDITANDO

Aqueles que pretendem criar o paraíso na Terra podem facilmente criar o Inferno. O melhor que se pode dizer do terror de Robespierre é que foi relativamente efémero.

 

(*)

Karl Popper

 

(*) http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.ivanjeronimo.com.br/imagens_up/karl_popper11423.jpg&imgrefurl=http://www.ivanjeronimo.com.br/imagem.php%3Fimagem%3D30&usg=__mGAyPMVfB06ZiC5Ga0wShv3SIdE=&h=400&w=302&sz=29&hl=pt-br&start=0&zoom=1&tbnid=Z3PYgKvSkeCEwM:&tbnh=155&tbnw=117&prev=/images%3Fq%3DKarl%252BPopper%26um%3D1%26hl%3Dpt-br%26sa%3DN%26rlz%3D1T4SUNA_enPT292PT293%26biw%3D1020%26bih%3D446%26tbs%3Disch:1&um=1&itbs=1&iact=rc&dur=461&ei=bx7DTNiSF8-RswaYhbygCA&oei=bx7DTNiSF8-RswaYhbygCA&esq=1&page=1&ndsp=12&ved=1t:429,r:3,s:0&tx=59&ty=74

EUROPA, SOLUÇÃO OU PROBLEMA?

 

 

Hoje ninguém fala de Europa. Apesar das eleições para o Parlamento Europeu, ninguém na Europa está a falar de Europa. Todos na Europa, e ainda mais em Portugal, pensam no que os resultados podem significar para a política local. A Europa é hoje a última preocupação dos europeus. Já ontem foi, pois o sinal dominante dos resultados eleitorais, que se sabia antes mesmo dos resultados, é que a grande vencedora, com maioria absoluta, foi a abstenção.

 

Apesar destes dois factos, desinteresse e vacuidade dos números, a Europa é um grande projecto e está a ser um grande sucesso. Infelizmente as instituições europeias têm sido parte do desinteresse e vacuidade, não do projecto e sucesso. A prova que a União Europeia é um estrondoso sucesso é clara: todos os vizinhos querem entrar e todos os longínquos querem copiar. Existem comunidades económicas em todo o mundo, todas inspiradas na UE. É verdade que nenhuma realiza uma integração a sério e a Europa permanece o único caso histórico de significativa partilha voluntária de soberania entre países independentes. Mesmo sem a reproduzirem, as cópias são uma prova de sucesso.

 

O sucesso é tanto mais significativo porquanto a ambição do projecto europeu é quase inconcebível. O espanto vem, não da dimensão física da União, menor que os impérios de Alexandre, Gengis Khan e Tamerlão, mas da forma livre como foi construída. Trata-se de um clube onde a adesão é voluntária e opcional. Só entra e permanece quem quer. E todos querem. Ninguém há 50 anos podia prever que tal ambição teria tal vastidão e solidez. Muitos referem os problemas da União, sem compreenderem que o simples facto de ela existir para ter esses problemas é, em si, um êxito espantoso.

 

Infelizmente o êxito é um veneno muito mais poderoso que os maiores problemas. A União hoje padece, não das dificuldades naturais, mas do sucesso inesperado, que a desviou do caminho. A grande intuição dos pais da Europa foi perceber que em povos tão diferentes, que tantas vezes ensanguentaram o continente e quase o levaram à destruição depois de 1939, existe apenas uma coisa em comum. O génio dos fundadores da CEE foi entender que a única maneira de unificar nacionalidades tão distintas e tão inimigas era através da economia. A Europa ou é económica ou não é. Aliás, durante décadas foi conhecida como "mercado comum" e ainda hoje o núcleo relevante chama-se "Zona Euro".

 

É verdade que a guerra constituiu a motivação e a política representou o condutor. Mas a economia foi o caminho seguido na integração europeia. Ainda hoje a razão porque os vizinhos querem aderir e os longínquos copiar, não é política, militar ou patriota. É económica.

 

Por muito que custe aos meritórios funcionários, os cidadãos não sonham com projectos geoestratégicos, não se comovem com palácios de congressos, não ligam a tratados e constituições. Ninguém se empolga com o hino ou a bandeira ou sente cidadania europeia. Isto não é um defeito a corrigir. É a realidade original e natural da Europa. O sucesso foi conseguido apesar disso.

 

A preocupação dos cidadãos é, como deve ser, a lista do supermercado, o emprego, a prosperidade familiar. Pode ser tacanhez ou falta de visão, mas afinal para que existem instituições e políticas senão para tratar disso? A Europa só pode ser voluntária se se ocupar do que interessa às pessoas, sem lhe tentar ensinar o que as deveria interessar.

 

Este axioma fundamental, que cada ano de integração confirma, é fácil de esquecer nos gabinetes. Aí vive-se o sonho, edifica-se o projecto, concebe-se o ideal. Isso obscurece a realidade. Por isso, apesar da abstenção esmagadora, do fiasco da Constituição e Tratado, os eurocratas insistem na superestrutura que ninguém entende. As acções dos dirigentes fizeram da Europa mais um problema, em vez de ser, como devia, uma solução para os problemas.

 

Hoje ninguém fala de Europa ou liga ao Parlamento. Todos tratam da sua vida. E os políticos não entendem que só isso interessa.

 

  João César das Neves

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