Navegar é preciso, viver não é preciso... Dizem os versos de Fernando Pessoa, talvez reportando as palavras lendárias de um general romano, ao incitar seus legionários à luta no mar.
E o homem lançou-se às águas, vencendo o medo, pondo à prova sua capacidade de desvendar os mistérios do além-horizonte, conquistando terras e gentes. Para não perder o reparo e mostrar aos navegantes os perigos da costa e seus baixios, acendeu fogueiras e fachos de madeira resinosa em lugares estratégicos para mostrar o perigo ou , quem sabe, atrair astutamente o inimigo.
Farol da Alexandria
Fonte: Wikipedia
Contam os relatos históricos que os gregos, líbios e romanos construíam torres encimadas com fogo para darem sinalização e orientação aos barcos mercantes que circulavam nas águas da conquista romana e do Mediterrâneo. Entre vários ficaram famosos o farol de Bolonha e a Torre de Hercules. No Egito, na ilha de Pharos ( daí o nome), o farol da Alexandria, todo em mármore branco, construído à época de Ptolomeu II em 300 a .C, foi considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Com os séculos, os faróis ganharam outras fontes luminosas mais sofisticadas e potentes, aperfeiçoadas com cristais e lentes. A França mostrando competência levou-os mar adentro. Os paises colonizadores ergueram- nos em terras do novo mundo.
Em Portugal só em 1758, por ordem de Pombal, a edificação e gerencia dos faróis passaram ao Estado. Antes eram construções dispersas, erigidas por Ordens Religiosas e confrarias marítimas. No final século XIX, a farolagem portuguesa passou para a responsabilidade da Marinha.
Apesar de antigas petições, dos muitos naufrágios e tragédias provocadas pelas revoltas águas do Oceano Atlântico Norte, as ilhas dos Açores só tiveram os relampejos dos primeiros faróis em 1876 e 1901 (Ponta do Arnel e Ferraria), em São Miguel.
Gaspar Pereira Fagundes Jr.(arquivo particular)
Foi no final do ano de 1908, que o jovem Gaspar Pereira Fagundes Jr, meu avô, após seleção, foi nomeado pela Marinha Portuguesa para exercer a função de faroleiro no Farol da Vila, Ilha do Corvo (freguesia Nossa Senhora dos Milagres). Casa-se em janeiro de 1909 e, imediatamente, com a esposa, sai da Praia do Almoxarife (Faial) berço da sua família, para oisolamento do Corvo, onde fica por sete anos. Nesse período nasceram os cinco primeiros filhos (dois deles gêmeos) do casal.
Naufrágio do paquete Slavonia
Fonte: Guia da Ilha das Flores (pg. 17)
Direção Regional de Turismo dos Açores
Nesse mesmo ano de 1909 houve um grande naufrágio nas águas das Flores, ilha que lhe fica defronte.
O comandante do paquete Slavonia, que vinha de Nova York para a Europa, para atender ao pedido dos passageiros que queriam conhecer as ilhas açorianas, resolveu mudar a rota ( iria passar ao largo do Corvo) e rumou para o sul das Flores. Num local onde o tempo vira rapidamente ao sabor dos ventos ele foi surpreendido por um espesso nevoeiro e uma forte correnteza. Com as máquinas a todo o vapor, na madrugada do dia 10 de junho 1909, viu seu navio bater e encalhar na costa do Lajedo, a sudoeste da ilha. Os prejuízos foram materiais, perdeu-se boa parte da carga e o navio. Devido a excelente folha de serviços, o comandante depois de julgado foi absolvido. Ainda hoje é possível ver em algumas casas de florentinos relíquias, mobílias e utensílios, recolhidos na praia pelos habitantes daquela época.
Findo o serviço no farol do Corvo, Gaspar Pereira Fagundes foi deslocado para a Ribeirinha, ilha do Faial, em 1916, onde se procedia ao acabamento do edifício e montagem do farol daquela freguesia, inaugurado finalmente em 1919. Terminado o período de estágio, meu avô foi transferido para a Ilha da Graciosa, freguesia de São Mateus ( Praia da Graciosa), fixando residência na casa dos faroleiros, na Arrochela, local onde nasceu em 1924 seu sexto filho, Carlos, meu pai.
Após o terremoto de 1926, na ilha do Faial, mais uma vez Gaspar é enviado pela Marinha para prestar serviço nos faróis da Ponta da Doca e da Boa Viagem, na cidade da Horta.
Tantas andanças e desavenças acabaram com o casamento de meus avós. Assim foi que ele partiu em 1933, desta vez, sozinho e divorciado, para trabalhar no farol de Albarnaz, Ponta Delgada das Flores. Tempos depois prestou serviço nos faróis da Fajã Grande e Santa Cruz das Flores. Após alguns anos, nova transferência o levou para o farol das Lages das Flores, local onde realizou o seu segundo casamento civil, em 1938. Teve mais um filho, Aníbal Fagundes.
Mas a vida de faroleiro não era fácil. Períodos de solidão intercalados com mudanças de lugar.
Em 1943, meu avô estava outra vez na Ribeirinha ( Faial), no farol que ele havia inaugurado. Lá ficou durante dois anos até que foi enviado novamente para o das Lages ( Flores) onde em 1951, como chefe dos faroleiros, já cansado, pediu e foi concedida a sua merecida reforma. Finalmente pode ir para a sua casa.
Farol das Lages , Flores
( Revista da Marinha)
Foto de Manuela Viola
Trabalhar num farol requeria, nos faróis com guarnição (com funcionários), capacidade física e psíquica para enfrentar a rotina e o isolamento. Olhos fixos no horizonte à procura de alguma mudança no tempo ou embarcação. Durante o dia manutenção dos aparelhos, dos metais e vidros. Tudo devia estar em perfeito estado, farol e arredores. Os registros técnicos, ocorrências diárias e procedimentos, anotados com detalhes e precisão. Vigilância constante do mar, dos instrumentos, fazer a sinalização. À noite, antes da moderna tecnologia, era necessário acender e manter a luz do farol.
Nas tempestades e nevoeiros, a claridade difusa e pouco visível do farol, associada ao uivo do vento e ao estrondo das vagas batendo na rocha povoavam a mente dos faroleiros de histórias e fantasmas.
Mas o faroleiro, sentinela do mar, estava sempre lá, dia e noite, ajudando o solitário navegante.
“Se marcares ao largo um lampejo
De um farol amostrar o caminho,
Saberás ser o nosso desejo
Que jamais tu navegues sozinho”..., diz a canção do hidrógrafo.
Farol de Mantenha, Ponta da Ilha, Pico.
Fonte: Livro Pico e Faial-Açores
(Everest Editora)
Com a evolução dos tempos, os faróis passaram de fogueiras a edifícios equipados com sistemas sofisticados de lentes e fontes luminosas, comandados por células fotoelétricas. Hoje, mesmo com a toda a moderna tecnologia de rastreamento e posicionamento, oferecida pelos radiogoniômetros e por um sistema de satélites interligados (aparelhos de GPS), o farol ainda é um instrumento importante de sinalização e localização que tem uma longa história de serviços prestados à navegação. Na atualidade, ser faroleiro é recuperar, resguardar e preservar um património histórico milenar, o farol.
Curiosidades sobre os faróis dos Capelinhos e da Ribeirinha, ilha do Faial, Açores.
Farol dos Capelinhos, na década de 80.
Fonte: foto de Maria Eduarda Fagundes
Tem uma torre octogonal, ornada até a platibanda de cantaria em basalto escuro, elevando-se ao centro de um edifício de dois pavimentos.
Altura da lanterna, acima do solo: 35 metros .
Altura do foco luminoso acima do nível do mar: 94 metros .
Luz branca e vermelha, produzindo relâmpagos sucessivos (dois brancos, dois vermelhos).
Alcance: 30 milhas náuticas.
Nota: ( 1903-1957)
Esse farol foi quase totalmente coberto em 1957 pelas cinzas do vulcão submarino dos Capelinhos . Ao explodir junto à costa formou uma outra pequena ilha que acabou se fundindo com as terras dessa freguesia. Nele trabalhou Luis Avelar Fagundes, meu tio, também faroleiro, bem antes do sismo.
Hoje, passados 54 anos, pela ação dos ventos o farol está quase descoberto, virou local turístico da ilha do Faial.
Luis Avelar Fagundes
Fonte: arquivo particular de Maria Eduarda Fagundes
Farol da Ribeirinha
Farol da Ribeirinha ( ruínas)
Fonte: Internet A Freguesia da Ribeirinha
Torre quadrangular, revestida de azulejo branco. Edifício anexo de um só pavimento (para os faroleiros e família)
Altura da lanterna: 20 metros acima do nível do solo
Foco luminoso: 142 metros acima do nível do mar.
Luz branca de três relâmpagos
Alcance: 29 milhas náuticas.
Nota:
Inaugurado em 1919, destruído pelo sismo em 1998.
Gaspar Pereira Fagundes Jr. foi uns dos pioneiros a dar serviço nesse farol, na montagem e na função.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 18/10/09
Dados, fontes e créditos:
Enciclopédia Delta Universal
Anais do Município da Horta
Arquivo familiar de Maria Eduarda Fagundes
Internet: Faróis de Portugal e wikipedia
Livro Pico e Faial, Açores (Everest Editora).
Revista da Marinha, foto de Manuela Viola.
Guia das Flores (folheto da direção regional de Turismo dos Açores)
Implementação A implementação desta política não deve ser brutal nem grotesca: não se trata de fechar a Europa, renunciar à mudança e criar deseconomias de escala. Temos que encontrar o nível adequado de protecção com a análise, sector por sector, ex-ante e ex-post regulamentação. O proteccionismo deve ser moderado e parcial; deve ser calculado de modo que cada economia possa beneficiar de uma concorrência efectiva e de ganhos do comércio com o exterior; deve ser concomitante com um livre-comércio também ele parcial.
Olhando em detalhe, descobrimos uma série de dispositivos que podem ser agrupados em quatro áreas: comercial, financeira, industrial, jurídica.
1.No comércio, podemos imaginar uma nova Pauta Aduaneira externa comum, que poderia começar com uma fase experimental. A desvantagem é que se trataria da mesma forma a Noruega e a China. Outro problema, é que é praticamente impossível avaliar o preço de cada produto em cada país. Milhares de funcionários públicos não seriam suficientes. As decisões seriam arbitrárias, deveriam ser alteradas constantemente e a negociação seria muito difícil. Em segundo lugar e mais importante, o sistema de taxas de câmbio flutuantes torna impossível calcular a compensação tarifária: seria difícil determinar as taxas de câmbio de equilíbrio do Dólar vis-à-vis o Euro ou o Yen.
O sistema provavelmente mais eficaz seria a solução de quotas de importação defendido por Maurice Allais (La Mondialisation, op cit, 1999). O sistema de quotas leiloadas é o sistema mais fácil de estabelecer e a forma mais eficaz e compatíbilizável com os princípios gerais de uma economia de mercado. Só implica uma decisão única por produto: determinar a parcela máxima do consumo comunitário desse produto a ser fornecida por importações. Não haveria contingentes para produtos que o país não tem, por exemplo, matérias-prima, produtos tropicais e artesanato ou para aqueles que deixaram de ser produzidos (computadores por exemplo). Para todos os outros, a protecção baseia-se no leilão de cotas para cada produto ou grupo de produtos: o produto do leilão poderá ser utilizado para os grandes programas industriais, os subsídios à exportação ou à cooperação económica com países em desenvolvimento. Segundo Allais, o valor médio desta proporção poderia ser em torno de 80%.
Um exemplo pode ser evidente: desde que os fabricantes de téxteis chineses ultrapassassem a sua quota de importação na Europa (tinham uma até 2005), deveriam pagar uma quantia de dinheiro à União Europeu ... ou fazer a produção na Europa e gerar emprego e rendimento na Europa. Também se poderia imaginar que uma parte desse montante lhes seria reembolsado, mediante a melhoria das condições sociais e ambientais nas suas fábricas.
Os acordos sobre téxteis de 1974 entre a Comunidade Económica Europeia e os Estados Unidos, por um lado, e alguns países em desenvolvimento exportadores (especialmente os quatro "dragões" do Sudeste Asiático), por outro bem como a limitação " voluntária", em 1981, das exportações japonesas para 1,68 milhões de automóveis para os Estados Unidos assentavam nesse princípio.
Estes, foram acordos entre países ocidentais, abertos à economia de mercado. A regulamentação proteccionista é uma variante da economia de mercado, não é uma alternativa. And it's like that.
Dentro da comunidade, a concorrência seria inteiramente livre. Este sistema permitiria evitar o desaparecimento total ou parcial de um conjunto de sectores de actividade. Não haveria nenhum subsídio interno. Este sistema não teria custos orçamentais. O mesmo poderia ser estabelecido para a agricultura.
Como alternativa, a aplicação de medidas anti-dumping de impostos que já existem para certos produtos: as bicicletas importadas da China são tributadas a 47%, o que permitiu a indústria de bicicletas europeia manter 70% do mercado. E desde 7 de Abril de 2006 existe uma taxa anti-dumping fiscal de 19,4% sobre as importações de calçado chinês. E o princípio desta taxa anti-dumping fiscal poderia ser expandida para lutar contra o dumping social.
2.Outra linha de acção, a soberania política industrial europeia. No âmbito europeu, poderíamos recomeçar a organizar a cooperação entre os principais intervenientes da indústria para eles conquistarem mercados externos em conjunto. Por que não imaginar uma task forceChina na Comissão Europeia, responsável por coordenar as propostas para as principais empresas europeias impedindo-os de competir entre si? Porque é que a Alstom e Siemens não unem forças para ir à China? É igualmente urgente promover a fusão de grandes grupos nacionais em empresas europeias: a Airbus é uma aliança de um francês e um alemão e dois subempreiteiros sendo um espanhol e outro do Reino Unido. Por que não podemos incentivar a aproximação dos campeões nacionais de energia que permitiria que uma cooperação em larga escala da tecnologia post petróleo?
3.Em matéria jurídica, finalmente, há muito a ser feito, para a Europa impor as suas normas, desenvolver uma preferência comunitária pelos mercados públicos e lutar mais eficazmente contra a contrafacção: falsificação de produtos de luxo, mas também medicamentos falsificados, brinquedos ou outras peças de automóvel que fazem perder 200 a 300 biliões de Euros por ano para a economia do planeta (6 biliões para a economia francesa). Cada ano, a contrafacção destrói 200 000 postos de trabalho na Europa, incluindo 30 000 em França. São empregos roubados.
A maioria das falsificações vem da Ásia (41% dos itens apreendidos em 2005 vieram da China). A França já não é, como em 2002, um país de trânsito de mercadorias copiadas pois que se tornou um país de destino desse género de mercadorias. O Dubai serve de hub da falsificação chinesa. É tempo de a Europa fazer pagar pesadas multas àqueles a quem toleramos essas práticas com base na ideia de que "copiar não é roubar". O tratado que institui a OMC, assinado em Marraquexe, na primavera de 1994, previa que os países que desrespeitassem as leis que protegem a propriedade industrial, deviam entrar na linha num prazo máximo de dez anos, caso contrário teriam de enfrentar uma acusação. É tempo de a União Europeia colocar na agenda das discussões na OMC a questão da falsificação. Pode-se objectar que o Sul será afectado por esta escolha. Não nos esqueçamos de que o Norte é muito mais "aberto" que o Sul e que podemos alargar o círculo europeu caso a caso. Também se diz que o verdadeiro perigo reside em retaliação: este é o lugar onde devemos considerar a natureza das importações nos países em desenvolvimento e seus determinantes. Ao contrário das importações nos países desenvolvidos, o determinante não é o preço, mas a qualidade e, em alguns casos, o facto de que simplesmente não há outra fonte de abastecimento. A China não vai criar imposto sobre a Airbus em retaliação a medidas proteccionistas europeias pela simples razão de que não tem interesse na Boeing!
Outra vantagem: uma relocalização da produção e uma maior proximidade dos mercados reduzirá os riscos ambientais produzidos ao nível global. Os morangos chineses tornaram-se muito competitivos, mas exigem vinte vezes mais petróleo do que o equivalente francês. Durante os últimos trinta anos foram claramente favorecidas as economias de escala, com fábricas cada vez maiores, capazes de servir áreas cada vez maiores. Devido à restrição energética, este movimento deveria ser invertido.
[1] -Marie-Anne Charlotte Corday d'Armont (Normandia, França, 27 de Julho de 1768 - Paris, França, 17 de Julho de 1793) entrou para a história ao assassinar um dos mais importantes defensores da política do Terror (Jean-Paul Marat) instaurada em França pelos Jacobinos.
A crise actual coloca a questão da regulação do comércio: o livre comércio não pode mais ser um dogma inquestionável pois não se adapta à situação actual que se caracteriza pelo surgimento de países com alta capacidade tecnológica mas baixos salários e com o preço dos transportes e das telecomunicações a diminuir drasticamente. De repente, a concorrência de empregados de diversas origens tem sido possível e com ela a estagnação dos salários... e o desenvolvimento da dívida para resolver a crise na procura doméstica.
Maurice Allais, Prémio Nobel de Economia em 1988, recorda: "a plena liberalização do comércio e dos fluxos de capitais só é possível e só é desejável no contexto de agrupamentos regionais com países económica e politicamente associados e desenvolvimento económico e social comparável. (Globalização, Paris, 1999)[1].
Como afirma Bruno Aimable (Colloque Fondation Res Publica, Mondialisation régulée des échanges, 28 de Novembro de 2005), A teoria económica diz que há benefícios para o comércio livre, desde que preencham determinadas condições.
Em particular, pode haver benefícios do livre comércio se permitir uma melhor realocação dos factores de produção.O problema é que, se o livre comércio leva a que num país os factores de produção não sejam redistribuídos mas desempregados – e isso são pessoas sem trabalho - é claro que fica de fora dos benefícios do livre comércio.Se houver dificuldades na reabilitação de mão-de-obra para outras actividades, é evidente que a protecção não é apenas desejável mas legítima do ponto de vista da teoria económica.
O horizonte europeu
Não se trata de reconstruir muros intransponíveis e imaginar autarquias absurdas. Não se trata de tentar um proteccionismo nacional absolutamente desadaptado à perspectiva económica actual global. Trata-se de regular o comércio imaginando áreas geográficas suficientemente grandes para evitar a criação de deseconomias de escala – os riscos de proteccionismo. Trata-se de organizar o mundo a nível europeu ou norte-americano ou asiático. Deste ponto de vista, as reacções proteccionistas de alguns líderes europeus que desejam estabelecer uma regulamentação do comércio dentro da Europa são perigosas: em primeiro lugar porque são ineficientes (o mercado é muito desenvolvido para as permitir), depois porque poderia pôr em causa o projecto europeu (vejam-se as reacções dos países da Europa Oriental ao plano automóvel francês) quando o que precisamos é de pensar na recomposição da economia global.
A Europa dos 27 não é certamente uma área ideal regional: tem dentro de si disparidades salariais que não reflectem diferenças de competitividade o que causou uma onda muito grande de deslocalizações: primeiro a alemã e depois a da Europa Ocidental.Mas o conjunto europeu é o mais relevante porque seria impraticável regular os fluxos comerciais dentro de Europa. A União Política não resistiria e esses fluxos comerciais são necessários para a resistência à escala do mundo. Em segundo lugar, as disparidades salariais, quando razoáveis, são boas para a economia: incentivam a inovação e limitam a criação de deseconomias de escala que são um pesadelo para os consumidores.
Finalmente, a história da integração europeia, a seis, a dez e quinze, a 27, é a prova do que o comércio livre pode operar a uma escala regional se for regulamentado, organizado e se fizer convergir actores económicos, tecnológicos e demográficos comparáveis. Espanha, Portugal e, em menor medida a Grécia, podem atestar isso.
Uma unidade de forte crescimento económico, com a concorrência interna a incentivar a inovação, é a condição necessária para a eficácia da regulação do comércio internacional, sabendo que esses grandes grupos já existem, o NAFTA e a América Norte e Sul, a China e o Japão em vias de integração acelerada irrigando o seu poder em todo o Sudeste Asiático.
E talvez amanhã, a entidade europeia possa integrar o Sul do Mediterrâneo ou subsaariano para a reorganização de grandes áreas regionais. Na verdade, é escandaloso que o proteccionismo agrícola, por exemplo, ligue quase sem distinção de aliados naturais e históricos da África e países com os quais não temos grandes interesses. Entenda-se que o proteccionismo é uma arma política e económica que permite definir zona de influência.
Não se trata de nos escondermos atrás de muros que ninguém vai aceitar numa economia mundial integrada, mas sim definir comportas de comum acordo: uma comporta não é um obstáculo – uma muralha da China – é um dispositivo que permite o fluxo de água (e continua a globalização), em níveis diferentes. A regulação do comércio a nível europeu pode oferecer protecção por um tempo, dando tempo para actualizar a Ásia: se a actualização da Ásia levar muito tempo, a comporta continua. Queriam regulação económica? Aqui está uma: por que não usá-la?
À muito especial atenção dos economistas que divulgaram em Junho o apelo: ”Parem. E estudem”.
Há uma meia dúzia de obras inteiramente ao alcance das nossas empresas de construção e das nossas possibilidades financeiras, que nos trarão grandes benefícios, para as quais a Comunidade Europeia certamente nos ajudará, e que nos convém iniciar o mais rapidamente possível. Há outras que devem ser liminarmente postas de lado. Há outras, ainda, que exigem 2 ou 3 anos de estudos prévios sérios e aprofundados para escolher as melhores soluções. Ao meter tudo no mesmo saco, os economistas que, preocupados com o muito grave problema do endividamento nacional, subscreveram o recente apelo: “Parem. E estudem”, transmitiram, certamente sem ser sua intenção e sem se darem conta, uma mensagem negativa: a de que, em vez de estudarmos com muito cuidado aquilo que devemos imediatamente começar a fazer, ou nunca fazer, devemos parar para recomeçar depois de estudar tudo. O que, em termos práticos, significa, em geral, parar e não estudar nada.
(…)
O farol do Bugio foi feito com pedras levadas em carros de bois e há pessoas ainda vivas que foram a pé, ou a cavalo, até ao Bugio. Mas, depois, foram retiradas areias da zona do Bugio para fazer obras na margem Norte do Tejo. Hoje, passam traineiras entre a Cova do Vapor e o Bugio e as praias da Costa da Caparica têm de ser protegidas com esporões. O “fecho da Golada” é o projecto de construir um molhe da Cova do Vapor ao Bugio. É este projecto viável? Qual é o seu custo e quais as suas vantagens e eventuais inconvenientes? A Comunicação Social tem dado pouca atenção a este assunto, mas todos os que se interessam pelo Porto de Lisboa sabem que é uma questão com uma imensa importância para o seu futuro.
A origem da crise é a estagnação da procura interna
Diz-se, ao examinar a crise de 2008, que é uma crise financeira causada em parte pela crise da habitação nos EUA – particularmente pelas famílias menos dignas de crédito (subprime) – e pelos excessos de gananciosos e dos efeitos do slogan populista "todos proprietários!».
Quanto ao agravamento em 2009, foi devido à propagação da crise financeira na economia real, expressão muito estranha…
Esta interpretação não está errada mas é parcial pois ignora a verdadeira origem da crise: a dívida das famílias americanas e, mais genericamente, ocidentais.
Porquê a dívida, se celebramos os últimos quinze anos de enorme crescimento dos EUA? Devido ao optimismo ilimitado dos americanos, à sua história de crédito, à sofisticação dos “produtos” financeiros disponíveis para as famílias cujo risco foi dividido quase por infinito e em seguida distribuído através de securitização. Mas principalmente porque os salários dos americanos da classe média e baixa não aumentaram com rapidez suficiente para suprir às necessidades de consumo. E o que é verdade nos Estados Unidos é também na Grã-Bretanha, Espanha, Alemanha – onde os salários reais caíram, entre 2000 e 2005 – e até certo ponto em França. Quando se compara a curva do endividamento das famílias com a balança corrente americana percebe-se que o desequilíbrio comercial se amplia à medida que cresce o endividamento familiar[1].
A taxa de crescimento é a conjunção de dois factores: a capacidade tecnológica para aumentar a oferta de bens e serviços; a capacidade sociológica de alargar a procura desses bens e serviços. Esta capacidade sociológica falhou. Num nível estritamente identificado e nacional, em particular, uma empresa não assume a prioridade de reduzir os vencimentos dos seus empregados (v.g. o "compromisso fordista" de aumentar os trabalhadores para que possam comprar carros).No entanto, no contexto da globalização, os salários são vistos apenas como um custo e, portanto, estagnam. O herdeiro da Ford hoje poderia dizer "Eu não aumento o meu trabalhador porque vai comprar carros no exterior, onde eles são mais baratos porque os salários são mais baixos", é o argumento do Governo francês, para se recusar a fazer um plano de relançamento.
Mas esta estagnação comprime a procura interna e, consequentemente, a procura agregada e o crescimento da economia: o desemprego aumenta em seguida. Aqui reside o problema fundamental: a procura externa não é maior em relação à procura doméstica. Um aumento dos salários e do consumo permitido por um certo retraimento aos produtos estrangeiros pode mais do que compensar as perdas após o fecho de alguns mercados externos.
Embora todos os políticos tenham a boca cheia de palavras relativas a normas regulamentares internas, é urgente regulamentar o comércio mundial e as finanças globais lançando luz sobre os seus efeitos: é moralmente injustificável não lançar na agenda política estas questões que influenciam as vidas de milhões dos nossos concidadãos.
[1] - Jean-Luc Gréau, L'Avenir du capitalisme , Gallimard, Le Débat, 2005. Ver também: Emmanuel Todd L'illusion économique , Gallimard, 1999; Après la démocratie, Gallimard 2009 e prefácio de Système national l'économie politique , de Friedrich List, ed. Poche. Paperback,
A ocupação do Brasil Central, mais exactamente do Triangulo Mineiro, ocorreu pela visão política de Pombal, que viu nela a maneira de integrar os grandes espaços “vazios” (dominados pelos índios refractários àculturado conquistador) ao resto do país “civilizado”.
Depois de muitas lutas, extermínios, expulsões, dominações, doações e contravenções, o oeste das Minas foi tomado pelos migrantes de outras áreas auríferas, já esgotadas, que vinham em busca de terras para criação de gado. Eram homens ambiciosos e aventureiros que traziam amigos e familiares para povoar as sesmarias que a Coroa doava a quem as fizesse desbravar e produzir. Assim é que surgiu com o tempo uma nova sociedade rural auto-suficiente, longe do poder central, mais ou menos independente, politicamente hierarquizada, baseada no peso dos latifúndios dos coronéis (chefes políticos da comunidade, geralmente fazendeiros com grandes extensões de terra, com muitos agregados e escravos que, submissos e dependentes, lhes garantiam poder político e forte influencia na vida local).
As fazendas das ricas famílias daquelas épocas (sécs. XVIII, XIX, inícios de XX) eram verdadeiras mini-cidades. Possuíam uma sede robusta, bonita e confortável, onde reinava o fazendeiro. E ao redor, espalhadas em grandes áreas cultivadas e de pastoreio, as modestíssimas moradias dos trabalhadores da propriedade.
No interior das Minas Gerais, há uns vinte anos atrás, tive a oportunidade de ver, no município de Conquista, uma fazenda antiga, onde havia uma pequena estação ferroviária que passava dentro dos limites da propriedade. Próxima à sede (casa principal) havia barbearia, botica, terreiro (eira) para secar o café, casas para os agregados, armazéns e capela.
Contam os mais velhos do lugar que no tempo dos seus avós a casa principal era uma construção que apresentava um porão onde ficavam os escravos.Periodicamente o padre ia à fazenda rezar a missa, dar a confissão, e às vezes fazer casamentos e baptizados. Pelo trem ou a cavalo, chegavam visitas, convidados e as novidades. Esses eventos eram motivo para grandes festas. As mulheres se juntavam para fazer queijos e quitandas (bolos, biscoitos, roscas), doces de leite e de frutas em calda. Os licores caseiros de jabuticaba e jenipapo eram a especialidade da casa.
Todos eram convidados, desde as autoridades até os agregados. Era não só uma forma de convívio, como também uma demonstração de prestígio.
Na cidade ou na fazenda para erguer os casarões eram contratados mestres-de-obras portugueses ou italianos, os mais qualificados. Os materiais vinham do próprio local (pedra, cimento, madeira) e até mesmo do exterior, como mármores de Carrara e artísticas barras de ferro da Bélgica para embelezar as varandas e fachadas. O estilo arquitectónico reportava às antigas construções portuguesas. Mas a distribuição dos cómodos respeitava o uso e os costumes dos seus moradores.
Numa antiga casa da fazenda, ao se entrar na ampla sala de estar, ventilada por altas janelas, via-se no meio do aposento, assoalhado por largas tábuas polidas, um jogo de cadeiras em palhinha entorno de uma mesa pequena. Encostada a um canto, uma bonita cristaleira com portas de vidro facetado (bisotê), como uma jóia, exibia orgulhosa uma licoreira, copos de cristal e delicadas peças de porcelana chinesa. Candelabros de alabastro completavam a decoração do ambiente. Ao lado, uma sala de refeições com aparador, encimado por uma rosada pedra de mármore, uma comprida mesa com muitas cadeiras, enfeitada por um “caminho de croché”. Os quartos se interligavam, principalmente os das meninas com os dos pais. Maneira de estar com as jovens sob controlo. O mobiliário constava de camas altas, pesadas caixas ou baús, onde guardavam as roupas de cama. Penteadeira com espelho e cadeirinha, guarda-roupa (guarda-fatos), cómoda e sapateira. Junto à cama uma mesinha de cabeceira, com espaço tampado para o penico (bacio).
Na cozinha, a área mais concorrida da casa onde eram preparadas as refeições do dia a dia, as fofocas ferviam entre as mucamas e as sinhazinhas. O fogão era à lenha com forno e serpentina (tubulação em ferro fundido ou em cobre que levava água quente para o contíguo banheiro). Debaixo da janela uma pia feita em pó de mármore. No centro do ambiente uma utilitária mesa ladeada por dois compridos bancos de igreja. Em um canto da parede, uma porta estreita se abria para a despensa, sempre fartamente abastecida. Queijos curados, vidros com pimentas curtidas. Farinhas de milho e de mandioca mansa, sal, açúcar de cana, mel, arroz, feijão, cachaça, frutas em compota, azeite português, latões com de pães de queijo e quitandas. Biscoitos de polvilho (farinha muito fina apurada pela decantação da mandioca ralada), vasilhas com carnes "cheias" (recheadas com linguiça, miúdos ou outras carnes moídas), previamente temperadas em vinha d´alhos e fritas, mergulhadas na banha. Era uma fartura que enchia de orgulho a dona da casa. As gamelas, cuias, bacias de ágata e tachos de cobre, caçarolas, panelas e chaleiras de ferro, nas prateleiras ou penduradas na parede, esperavam a hora de serem usadas.
Em baixo da escadaria da porta da cozinha, as águas do rego eram desviadas para tanques que abasteciam a casa. No alpendre, o cão e o gato dormitavam sob o mormaço da tarde.
No grande quintal uma variedade de arvores frutíferas atraía as abelhas e os ociosos com seus tentadores cheiros de fruta madura. Bananeiras, jabuticabeiras, pés de mexerica, cajás-manga, vários tipos de laranja, limão China e Siciliano, manga Carlo, Sabina, Espada, Bourbon, Família. Araçás, cajus, seriguelas e goiabas chegavam todo o ano, cada qual no seu tempo.
Protegida por uma cerca, longe das galinhas, patos e gansos, a horta bem tratada abastecia a cozinha de couves, salsinha, cebolinha, hortelã, abobrinhas d’água, cenouras, roxas beterrabas, almeirão, alface, taioba, moranga, cará, batata-doce, mandioca, quiabo, milho, cambuquira, tomate, jiló, cebolas e alhos. No chiqueiro os porcos engordavam, garantiam a banha o ano inteiro. Para o fazendeiro a atenção estava nas plantações e nos pastos, de onde vinha o dinheiro que lhe assegurava o status.
Com as solicitações do mundo moderno e o desenvolvimento das cidades, aos poucos os fazendeiros e suas famílias deixaram o campo e foram morar na cidade. Foi uma pena!
Os cargos, as distinções sociais, mesmo que não sejam compensados remunerativamente, causam sempre um natural prazer aos usufruintes das ditas distinções. Razão tinha o Frei Narciso do nosso Gil Vicente, o qual se defumava com palha centeia para que o rosto amarelo... dos sacrifícios lhe merecesse um bispado, ainda que do ilhéu de Peniche. De igual forma o agravado Cerro Ventoso desejava ser conde “siquer conde das Berlengas”. Era muito justo, já que havia outros com menos mérito, quererem ir ambos para Peniche ou para as Berlengas governar, e estou convicta de que o fariam com muita limpeza. Não governou Sancho Pança – e esse sem se defumar – a sua ilha da Baratária com mais justiça do que o próprio Salomão?
Quanta comoção devem, pois, sentir os doutores “honoris causa” ou os presidentes das Juntas, Conselhos ou Ilhéus de qualquer coisa, no momento em que são designados pela sua competência, o seu saber, a sua posição social, ou os seus ares pálidos dos jejuns!
Confesso que nunca me tinha apercebido do problema em toda a sua extensão, enquanto não foi extensivo à minha pessoa um cargo desses. Bem, não foi bem de presidente nem de conde das Berlengas, longe disso, mas foi um cargo muito útil para a sociedade de que faço parte e que me esforço por servir com coragem, dignidade e esmero, que é assim que devemos proceder, nós as células do agregado humano, para usar uma linguagem metafórica extraída do compêndio de Biologia.
Esta berlenga, aliás perlenga, foi na sala das eleições que a aprendi. Referiram-se ao eleito deposto com muitos elogios sobre a sua competência, zelo, dignidade e altruísmo tantas vezes demonstrados, embora presentemente depostos, porque voos mais largos o chamaram para colaborar na construção do edifício pátrio. Auguraram idênticas demonstrações por parte do eleito recente, cujas qualidades também já várias vezes tinham sido postas à prova e iriam continuar a sê-lo de certeza, até que outros voos o chamassem para a mesma construção.
Por sua vez o eleito recente elogiou a assembleia ilustre de que eu fazia parte penhorada e da assembleia passou à nação que se esforça e à pátria que a representa, com largos vivas, repercutidos na sala atenta e agradada. Toda a gente estava comovida, toda a gente se sentia útil e foi por isso que eu fiquei muito contente por também ter um cargo.
Foi como sucedeu há dias com a minha amiga Alice, com o seu ar “blasé” e indiferente aos mais. Chamei-lhe amigavelmente cínica e respondeu, satisfeita, que pela primeira vez tinha qualquer coisa na vida. Nunca tivera nada e agora, graças a mim, tinha um adjectivo. Como sou generosa, alegrei-me por ter fornecido um adjectivo à minha amiga.
Pois agora também eu me sinto muito feliz com o cargo que me foi fornecido e me dará a oportunidade de me tornar adjectivamente útil à minha pátria.
De facto, não há como as eleições para a gente criar o sentido das responsabilidades e das obrigações que nos incumbem, como obreiros de uma nação sempre em construção e progresso.
Hoje refiro-me à voracidade típica desta época pós-modernista em que só se pensa na competitividade. Contudo, eu prefiro escrever «post-modernismo» à grafia de origem fónica tão ao gosto de jagunços, caipiras, calcinhas e outros que tais…
O post-moderno é ateu ou, no mínimo, agnóstico; para ele a vida é esta em que estamos e mais nenhuma. Por isso mesmo quer TUDO, JÁ! E como não se sente vinculado a uma Moral, também ignora a correspondente Ética. Ou seja, tudo vale para que alcance imediatamente a sua própria felicidade sem sacrifícios pessoais mas eventualmente à custa de sacrifícios alheios. Egocêntrico, assume o egoísmo como algo de natural e não olha a meios para alcançar os seus fins. E fá-lo de consciência tranquila, sem sentimento de culpa, porque amoral e aético.
Quando a inovação tecnológica deixou de proporcionar as margens de lucro ambicionadas pelos vorazes, restou-lhes a matéria prima alvo da sua cobiça, o dinheiro. Assim foram os «capitães de indústria» substituídos pelos magnatas da finança e do investimento produtivo se passou à especulação bolsista à outrance.
Mas entretanto a corda esticou, rebentou e ficámos a braços com a bancarrota mundial…
Que fazer? Eis a questão cuja resposta não passa pelo encarceramento do todos os culpados pois não há grades suficientemente grandes para aprisionar meio mundo. E a reciclagem de mentalidades vai demorar uma geração, no mínimo.
Creio que chegou a hora de celebrarmos uma missa de requiem pelo Liberalismo pois é altura de reconhecermos que não é ao mercado anónimo e suas forças ocultas que compete gerir o bem comum. Vilfredo Pareto que me desculpe, reconheço as suas boas intenções mas dessa tarefa, a da prossecução do bem-comum, se devem encarregar nominativamente os Governos democraticamente eleitos com base em Programas claros e evidentes para o eleitor comum.
Liberalismo, R. I. P.
Mas não podemos celebrar por defunto sem lhe encontrarmos um herdeiro. E se a laicização da sociedade actual induz menos ao temor da ira divina do que nas dos nossos antepassados, pugnemos por princípios aceitáveis pelas elites futuras que orientem globalmente a sociedade em que hão-de viver os nossos sucessores. Para isso cito D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, no seu livro “1810-1910-2010 DATAS E DESAFIOS” na pág. 121: «as coisas não são boas ou más porque Deus as mande ou as proíba; antes as manda porque são boas e as proíbe porque são más». Ou seja, tanto o bem como o mal existem fora da discussão teológica e por isso é possível erigirmos uma Ética agnóstica.
No âmbito das medidas de segurança tomadas para continuar a fazer face a eventuais ataques terroristas, foi dito aos muçulmanos residentes na Austrália e que pretendem viver de acordo com a lei da Sharia para sairem do país. O então Primeiro-Ministro John Howard chocou os residentes muçulmanos declarando que apoiava agências encarregadas de vigiar as mesquitas existentes na Austrália.
OS IMIGRANTES NÃO-AUSTRALIANOS, DEVEM ADAPTAR-SE. É pegar ou largar! Estou cansado de saber que esta Nação se inquieta ao ofendermos certos indivíduos ou a sua cultura. Desde os ataques terroristas em Bali, assistimos a umasubida de patriotismo na maioria dos australianos.
A nossa cultura está desenvolvida desde há mais de dois séculos de lutas, de habilidade e de vitórias de milhões de homens e mulheres que procuraram a liberdade. A nossa língua oficial é o Inglês; não é o Espanhol, o Libanês, o Árabe, o Chinês, o Japonês, ou qualquer outra língua. Por conseguinte, se desejam fazer parte da nossa sociedade, aprendam a nossa língua!
A maior parte do australianos crê em Deus. Não se trata de uma obrigação cristã, de influência da direita ou pressão política, mas é um facto, porque homens e mulheres fundaram esta Nação sobre princípios cristãos e isso é ensinado oficialmente. É perfeitamente adequado afixá-lo sobre os muros das nossas escolas. Se Deus vos ofende, sugiro-vos então que encarem outra parte do mundo como o vosso país de acolhimento, porque Deus faz parte da nossa cultura.
Nós aceitaremos as vossas crenças sem fazer perguntas. Tudo o que vos pedimos é que aceitem as nossas e vivam em harmonia e em paz connosco.
ESTE É O NOSSO PAÍS, A NOSSA TERRA E O NOSSO ESTILO DE VIDA. E oferecemo-vos a oportunidade de aproveitar tudo isto. Mas se vocês têm muitas razões de queixa, se estão fartos da nossa bandeira, do nosso compromisso, das nossas crenças cristãs, ou do nosso estilo de vida, incentivo-os fortemente a tirarem partido de uma outra grande liberdade autraliana: O DIREITO de PARTIR. Se não são felizes aqui, então PARTAM.
Não vos forçámos a vir para aqui. Vocês pediram para vir para cá. Então, aceitem o país que vos aceitou".