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A bem da Nação

HERÓIS DE CÁ - 21

 A NOITE FASCISTA - 1

 
 
Bela orquestração, a que embelezou o 25 de Abril de 1974 e seu parente próximo 1º de Maio: os cravos nos canos das espingardas, as loas à liberdade, a Salvação Nacional garantida por uma Junta, um Governo provisório presidido por outro Professor de Direito com vista à encenação de novo Estado de Direito, o regresso do exílio das ilustres vítimas da «grande noite fascista». Tudo o que fosse conveniente pour épater les bourgeois...
 
Não foi logo de imediato mas também não demorou assim tanto para que se percebesse que as loas cantavam a liberdade de encarcerar todos os que não pensassem como os revolucionários queriam, que a Junta se fracturava, nada salvava e muito menos garantia, que não se ia constituir um novo Estado de Direito mas sim um Estado regido por novo Direito. Só que logo de seguida se percebeu claramente que não haveria qualquer Direito novo. «Direito revolucionário», assim lhe chamavam os ditos revolucionários. Ou seja, completa ausência de Direito. E ausência de Direito significa fascismo – quem melhor do que Dino Grandi para o afirmar...
 
Então sim, no Verão de 1974 ia começar o fascismo em Portugal.
 
Substituído na chefia do Governo o Professor de Direito Adelino da Palma Carlos por Vasco Gonçalves, um obscuro Coronel de Engenharia e substituído na Presidência da República o direitista Spínola por Costa Gomes, o grande amigo da paz soviética, as cabeças militares passaram a liderar abertamente o processo revolucionário, a ditar a Lei: a célebre Quinta Divisão do Estado-maior do Exército que tentou lançar o ideário comunista no nordeste trasmontano através das “Campanhas de dinamização cultural” e apoiando a ocupação de terras no Alentejo, Ribatejo e norte do Algarve; o COPCON (Comando Operacional do Continente) que usava Mandatos de Busca e Prisão pré-assinados, como que «ao portador», aplicáveis a quem as patrulhas revolucionárias o entendessem no improviso da noite; o Conselho da Revolução que tutelava todos os demais órgãos do Poder, nomeadamente a própria Assembleia da República.
 
 
Às Colónias foi rapidamente dada a «independência» sob a liderança de Partidos amigos de Moscovo com desprezo de todas as alternativas que se posicionassem; as propriedades agrícolas no Alentejo, Ribatejo e norte do Algarve foram ocupadas por Comissões de Trabalhadores indigitadas pelo PCP; de um modo geral, os patrões foram expulsos das empresas industriais (e não só) passando a ser geridas pelas Comissões de Trabalhadores controladas pela Intersindical; a unicidade sindical foi decretada; as empresas consideradas estratégicas foram nacionalizadas assim como a banca e seguros. Muitas outras – não estratégicas mas apetecidas pelo PCP – foram intervencionadas.
 
O capital estrangeiro passou praticamente incólume por tudo isto. Conivente, portanto.
 
Aos gritos de que o povo era quem mais ordenava, que era necessário partir os dentes ao capitalismo, que as mais-valias do trabalho eram para os trabalhadores e que era imperioso banir a política de mão-de-obra barata, desapareceram as poupanças empresariais (vulgo, lucro) pelo que também desapareceu o investimento. Emitida moeda para que o Estado suprisse a tesouraria das empresas nacionalizadas ou intervencionadas e apesar da redução da produção, cedo começaram os preços a subir e a inflação a atingir os 30% ao ano. No meio de tudo isto os Partidos – todos os Partidos – a quererem tomar conta da Administração Pública e a meterem lá tantos quantos os militantes que pediam emprego. Depois de desequilibradas as empresas e inflacionada a Despesa Pública Corrente, rapidamente se instalaram os desequilíbrios macroeconómicos e à boa maneira soviética nada melhor do que controlar administrativamente os preços. Muitos foram os bens de primeira necessidade e alguns de consumo tradicional que começaram a rarear até desaparecerem do abastecimento corrente. Numa certa localidade da Beira Interior, o bacalhau de contrabando era armazenado num wagon da CP que estava por conta da sogra do Chefe local da Guarda Fiscal... Sauve qui peut!
 
Mas a celerada «independência» das Colónias em 1975 trouxe os chamados «retornados» e os que cá estávamos já tínhamos a mostarda a chegar-nos ao nariz...
 
Julho de 2009
 
 Henrique Salles da Fonseca

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