Portugal está doente. A doença não tem nada a ver com pobreza e desemprego, passa ao lado do défice e educação, é independente da crise internacional. Isto são sintomas, coincidências, analgésicos ou até parte da cura.
O problema é pior e é bem conhecido. Começou pelo enriquecimento fácil na Europa. Passou a endividamento acelerado no euro. Agora é suspeita generalizada em todo o lado. O nosso drama é fartura prometida mas falhada, direitos adquiridos sem razão, sucesso que os outros parecem ter e eu não. É a velha febre do ouro.
A nossa desgraça é toda a gente achar que há muitos bandidos e ficam impunes. Não porque sejamos roubados, porque até nem somos. Mas porque assim ninguém cumpre o seu dever, e muito menos se sacrifica pelo país, porque sente que mais ninguém o faz. O nosso mal é desconfiar de árbitros e dirigentes desportivos, desesperar dos tribunais, suspeitar de ministros, construtoras, investidores, directores-gerais, funcionários. Até de juízes e magistrados.
Portugal não é corrupto. Mas, como pensa ser, a corrupção fica justificada. A suspeita da aldrabice é pior que a patifaria. O primeiro-ministro recebeu subornos? Não sabemos. Nunca saberemos. Isso é pior que se recebesse.
Tivemos a mesma doença há 450 anos. Primeiro veio o enriquecimento fácil no Império. Depois o endividamento acelerado, que levou D. Sebastião a falir na dívida externa em 1560. Tudo acabou com a perda da nacionalidade em 1580. Desta vez os sintomas não são tão graves. A Europa é menor que o Império. Mas Portugal tem de curar esta febre do ouro.
Ao rever uma novela sobre os costumes da região do Triangulo Mineiro, D. Beja, lembrei-me da possibilidade de Ana Jacinta de São José, mulher de influência na política araxaense, do inicio do século XIX , ser descendente de açorianos.
Contam-nos os historiadores que no apogeu das descobertas auríferas, para facilitar a drenagem das riquezas e tirá-las da influência de São Paulo e da cobiça dos contrabandistas, o então governador da capitania Minas Gerais, o alentejano Gomes Freire de Andrade, seguindo ordens régias, abriu um caminho (PICADA DE GOIÁS) que ligava as minas goianas a São João Del Rei. Para consolidar a política de ocupação das fronteiras e da terra, ele distribuiu sesmarias (de três léguas) ao longo da picada àqueles que ajudaram na obra e nas lutas contra os quilombolas e índios caiapós que aterrorizavam o espaço. Em 1769, o então governador Luis Diogo, determinou uma da ultimas expedições contra os quilombos. Era comandante o já abastado fazendeiro e mestre de campo, regente dos Serões, o açoriano, da Ilha da Terceira, Ignácio Corrêa Pamplona. Contava ele com um grande grupo de outros fazendeiros, parentes e amigos, além de escravos e alguns aventureiros que receberam terras ao final da empresa.
Pacificada a região, pontuada com um ou outro foco de convulsão, as propriedades foram ocupadas pelos respectivos sesmeiros, suas famílias e alguns agregados.
Na sesmaria dos Pains (distrito de Formiga)construiu-se uma fazenda chamada Formiga Grande, onde nasceu a mãe de Beja e de onde dizia o avô dela provir. Confrontando com essa fazenda, existia uma outra chamada Morro Cavado, sendo um dos seus proprietários José Joaquim da Silveira, descendente de Domingos Antonio da Silveira, também açoriano, acompanhante e amigo do Mestre de campo Ignácio Correa Pamplona. Eram filhos de José Joaquim da Silveira , Ana Joaquina de São José, Gertrudes Joaquina de São José , Antonio Rosa de São José. Uma das tias do fazendeiro chamava-se Ana Jacinta de São José. Provavelmente o motivo de D. Beja, a famosa cortesã de Araxá, possuir o mesmo nome.
Nos documentos ela é declarada filha de pai ignorado e ao levar em conta a tendência e
a evolução histórica do povoamento da região, levantamos a hipótese de ser ela filha ou neta de açorianos.
Se alguém souber mais alguma coisa sobre a vida dessa famosa personalidade da nossa região, peço :
Tome a palavra, estamos aprendendo.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba,20/04/09
Referencia e dados:
A Oeste de Minas ( Luis Augusto Bustamante Lourenço)
Fatos Ligados à Vida de D, Beja ( Leopoldo Correa- Fonte o jornal O Pergaminho de 25/05/1992, n.o 11, pg 9)
Academia Galega da Língua Portuguesa participa em cerimónia inter académica na ACL
Numa sessão inter académica, realizada em 14 de Abril no Salão Nobre da Academia das Ciências de Lisboa, foi apresentado o Léxico da Galiza elaborado pela Academia Galega da Língua Portuguesa, e a 5a edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, elaborado pelaAcademiaBrasileira de Letras sob a coordenação do Prof. Evanildo Cavalcante Bechara.
O lançamento realizou-se numa cerimónia que encabeçaram os presidentes das três academias da língua: portuguesa, brasileira e galega. Integraram a representação da Galiza vários académicos da AGLP: Ângelo Cristóvão (Secretário), Joám Trilho (Arquiveiro), Concha Rousia (Vice-Secretária), e Luís Gonçáles Blasco e Fernando V. Corredoira (da Comissão de Lexicologia e Lexicografia). Também assistiu o presidente da AGAL, Alexandre Banhos.
A sessão inter académica decorreu no espaço de 70 minutos com as intervenções do Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Prof. Arantes e Oliveira, o Presidente da AcademiaBrasileira de Letras, Prof. Cícero Sandroni, o académico da ABL, Prof. Evanildo Cavalcante Bechara, o académico da ACL Aníbal Pinto Castro, e o Presidente da AcademiaGalega da Língua Portuguesa, Prof. Martinho Montero Santalha, encerrando o acto o Vice-Presidente da ACL, Prof. Adriano Moreira.
Para além da assistência de uma delegação da Academia brasileira, académicos da ACL e a delegação galega, o acto contou com o Sr. Embaixador do Brasil em Portugal, Celso Vieira de Melo, o Dr. Augusto Joel, Assessor do Ministério da Cultura Português, e o Sr. Gaspar Diaz, Chefe da Conselharia Cultural da Embaixada da Espanha em Lisboa.
O Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Prof. Eduardo Romano de Arantes e Oliveira, assegurou que «há equívocos nas relações entre Portugal e a língua portuguesa», reclamou ter em consideração a Galiza, os países africanos de língua portuguesa e também o Brasil, e afirmou que «vamos num futuro breve editar a nossa própria versão do Vocabulário».
Pela sua parte, o professor Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras (ABL), lembrou que se trata da quinta edição do Vocabulário em consonância com as normas do Acordo Ortográfico de 1990. A ABL edita desde 1970 o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, sucessivamente actualizado. A quinta edição está já disponível no mercado europeu por 60 euros.
Na sua intervenção, o Presidente da AGLP, Prof. José-Martinho Montero Santalha, afirmou que o Léxico da Galiza apresentado em Lisboa, é um primeiro contributo passível de melhoras, que será adaptado conforme aos critérios que forem adoptados na elaboração do Vocabulário Comum.
Sempre devemos desconfiar do que nos contam, mas quando é o Diabo que nos conta... onde há fumo há fogo. E que fogaréu!
1. – Um delegado da Polícia Federal, de curioso nome Protogenes fez uma curiosa investigação sobre um dos milionários cá do pedaço, um tal de Daniel Dantas. O delegado, que se está agora a ver, anda doidinho para entrar na política, decidiu investigar a fundo a questão, dando à operação o codinome de «Satiagrá», palavra de origem indiana que os portugueses conheceram bem quando perderam as colónias na Índia!
Fez umas centenas ou milhares de grampos telefónicos, com e sem autorização judicial, e chegou a grampear até o seu chefe! Investigação é investigação.
Apresentado o relatório, logo um juiz deu voz de prisão ao Dantas. Não tardou vinte e quatro horas e este obtinha um habeas corpus do Supremo. O juiz não gostou, reclamou, e mandou o Danielzinho de volta ao xadrez, e o Supremo, idem, idem, tirou-o da cela. Discussão entre juiz e ministro do supremo, teatro mediático, quem acaba por ser suspenso de suas funções é o Proto delegado.
E aqui é que a história está a ficar envolta em fog londrino, quando nada se vê, porquanto se o delegado abusou de suas atribuições, o que merecia punição, foi cutucar em ninho de marimbondo, daqueles ferozes que mordem antes e nem perguntam se doeu.
Corre pela Internet, com documentação anexada, que o famigerado Dantas é o sócio do lulinha, o filho querido do big kxk, que enriqueceu da noite para o dia: foi de limpador de chimpanzés no zoológico, a fazendeiro, criador de gado de pedigree, latifundiário com várias propriedades espalhadas pelo país, daquelas grandes onde o MST não vai (!!!), e com fortuna avaliada já em muitos milhões de qualquer moeda.
Ora, investigar o banqueiro Dantas e ver onde ele colocou tanto dinheiro surripiado – o trivial na política brasileira – pressupõe investigar o minino do big líder, e isso é que é chato!
Ao ser sabatinado numa CPI, quando lhe perguntaram se também tinha investigado o lulinha e sua mamãe condecorada pela Força Aérea Brasileira e pelo presidente de Portugal – por seus grandes feitos históricos em serviço de... de quê mesmo? - o Proto, prontamente negou: «Não, isso eu não fiz!»
Impossível não ter feito, porque grande parte do dinheiro desviado pelo tal Dantas muito possivelmente foi para os bolsinhos, aliás, bolsões do lulinha e...
Mas ninguém precisa se preocupar com isso. O fog não desaparece e como ainda sobrou dinheiro para uma pizza... no final viram todos muy amigos.
Viva a ética e a justiça!
2.- Ontem, sexa big kxk (não esqueçam que se deve ler caxique) decidiu demitir o presidente do Banco do Brasil porque praticava juros altos! Maravilha das maravilhas.
Deu-lhe o fora e colocou no seu lugar... outro camarilha que, vejam só a coincidência, é o candidato da extrema esquerda a presidente do PT, recomendado, como é evidente, pelo chefe do gabinete do big, uma das grandes eminências pardas que comandam o desmonte deste país, enquanto o cara se esbalda, mundo fora, em ditos graciosos, inúteis e chulos! Se eu acertasse na lotaria como estes casos se acertam...
Continuando. O cara quer juros baixos para todo o mundo, berra que o Banco do Brasil não precisa ter lucros porque é um banco do Estado, e com essa determinação as acções despencaram porque esqueceram que tem um elevado percentual do seu capital em mãos de accionistas particulares que assim vêm, para além da crise, o seu património ser comido.
É evidente que esta é uma medida eleitoreira e bolchevique. Mas o mais engraçado, e triste, desta história é que parece que o cara mandou seguir o caminho dos Lehman Brothers da vida, enchendo a carteira de créditos podres, e o povo que... sifu!
Mas não há problema nenhum. O Zé pagará os prejuízos já que a impressora de moeda está lá bem à mão. E como já se começou a discutir a hipótese de desenhar notas novas de Real, um internético deu a sua opinião Só falta agora criar uma nota com a cara do Lula; vai ser uma nota com um 0 à esquerda.
Esperemos para ver melhor logo que os problemas aflorem mais, se é que vão chegar ao conhecimento público.
Estive para comentar o artigo “O 25 de Abril e a História”, de António José Saraiva, mas o meu texto foi crescendo com o fermento do entusiasmo, depressa ultrapassando os propósitos de um simples comentário. E assim optei por um artigo.
Adriano Miranda Lima
O que é dito por António José Saraiva, ou apenas insinuado, faz-me lembrar as seguintes palavras do general Franco quando lhe deram a notícia do golpe militar ocorrido em Portugal: “Ah, não vai acontecer nada de importante porque eles são cobardes”. Ou foram estas as palavras do Caudilho ou foram outras similares, mas a acusação de cobardia era bem explícita e intencional.
Ora, se tem algum cabimento, caberia a alguém mais capacitado passar em revista este libelo de cobarde e encontrar-lhe possíveis causas psicológicas, sociológicas ou antropológicas, ao passo que o desabafo de Franco temos apenas de o pôr na conta de um qualquer insanável recalcamento que a história do conflito entre os dois povos peninsulares explica sem margem para dúvidas. Penso que qualquer historiador isento poderá fazer toda a sorte de extrapolações, mas certamente que o apodo de cobarde em lugar nenhum encontrará razões para colar ao povo português.
Dito isto, e uma vez que, para o autor, o 25 de Abril terá feito eclodir as nossas fraquezas, inclusivamente a da cobardia, parece assim implícito que a “longa noite fascista” teve o mérito de uma domesticação psicológica, a ponto de obnubilar debilidades congénitas porventura ignoradas ou simplesmente adormecidas. Retrocedendo aos tempos ante-Liberalismo, séculos e séculos sucessivos, também, e por análogo raciocínio, é lícito perguntar se não foi a ausência das liberdades políticas que o futuro traria que permitiu páginas da história portuguesa em que tudo se pode encontrar menos cobardia, pusilanimidade ou conformismo com o destino.
Bem, pode ser prematura a extrapolação, mas é bem possível que tenhamos uma certa dificuldade genética em lidar com a democracia e as liberdades cívicas, pois que é a partir do Liberalismo que os nossos problemas parecem começar a agudizar-se, pela simples razão de, no confronto livre e aberto de ideias, raramente alcançarmos a percepção de que para lá das divergências ideológicas prevalece inapelavelmente o interesse nacional. Salazar percebeu isso e se não colocou o país entre os mais prósperos da Europa teve ao menos o mérito de reorganizar uma casa que a I República deixara em fanicos. Nenhum historiador pode negá-lo.
O golpe militar de 25 de Abril abriu esperanças legítimas que depressa foram estilhaçadas com o emergir na cena nacional do partidarismo político na sua pior feição. Ninguém pode ignorar que o Partido Comunista e algumas desaustinadas forças da extrema-esquerda desarticularam o pensamento original sobre a descolonização. A partir do momento em que o inexperiente MFA se deixou influenciar e contaminar, tudo se perdeu, tudo se precipitou. Nisto, subscrevo o que diz o autor e não é preciso acrescentar mais palavras. Foi efectivamente por culpa e ingenuidade de alguns militares do MFA, que, efectivamente, os “cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma Primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco”. Sobre isso não há nada a dizer.
Quanto à cobardia, que tem uma vertente física e uma vertente moral, julgo ter uma palavra a dizer. Comandei homens em Angola e em Moçambique, sempre em zonas de campanha, e posso afirmar, com muito orgulho e satisfação, que nunca vi casos de cobardia evidente entre os meus soldados. Medo todos temos, seres humanos que somos, mas cobardia é outra coisa.
Saí de Moçambique em Maio de 1974, sendo a minha Companhia rendida por outra que tinha participado em Lisboa em patrulhamentos de rua que se seguiram ao golpe militar. Essa e outras Companhias destinadas a render unidades no Ultramar tomaram parte nesse tipo de missões em Lisboa, mas ficaram irremediavelmente marcadas pelos germes da revolução, tanto no bom como no mau sentido. Do mau apercebi-me logo quando a recebi onde estava, no mato profundo. Os soldados e alguns Quadros inferiores apresentaram-se com pouco aprumo militar e denotando um comportamento a descambar para a indisciplina, não tardando a reparar que o Comandante da Companhia e os subalternos estavam aparentemente fragilizados. Na véspera de deixarmos o local, um soldado, minha ordenança, disse-me: “Sabe, meu Capitão, os gajos desta companhia andam a dizer que quando saírem os “velhinhos” vão mostrar ao seu Capitão e oficiais como é que vão ser as regras”. Fiquei estupefacto e não me surpreendeu, um ano depois, tomar conhecimento de um inacreditável episódio ocorrido com essa Companhia. Um certo dia, e quando as negociações para a descolonização estavam ainda em curso, uma força da FRELIMO aproximou-se dos arredores do quartel dessa Companhia, com intenções não muito claras mas em que não havia qualquer propósito bélico. Os furriéis e os soldados, na sua maioria já “revolucionários”, temeram o pior e resolveram o inconcebível. Prenderam o seu Capitão e os oficiais subalternos e, precipitadamente, embarcaram em todas as viaturas disponíveis, fugindo desordeiramente em direcção à localidade mais próxima, uma vila chamada Marrupa, onde havia um comando de Batalhão. A população local, temendo o pior, optou também pela debandada, ela que antes depositou toda a confiança na força militar antiga e suas antecessoras, com as quais, aliás, viveram em relativa harmonia e sem incidentes. Os que puderam enfiaram-se no espaço sobrante das viaturas militares, outros fugiram mesmo a pé, nomeadamente os guardas cipaios (guardas administrativos), que mais do que ninguém teriam razões para recear represálias da FRELIMO, visto que não só serviram o Administrador colonial local como eram os guias das várias operações militares. O Administrador ficou no seu posto, aguardando o desfecho dos acontecimentos. Muitos anos mais tarde, viria a encontrá-lo em Lisboa e contou-me mais pormenores do acontecimento, que agora não vêm a propósito. Disse-me que não foi molestado pelos homens da FRELIMO e que estes confessaram a sua perplexidade pela debandada dos militares e de grande parte da população.
Marrupa, Província do Niassa, Moçambique
Isto que acabo de contar é, de facto, um minúsculo exemplo destas palavras do autor deste artigo: “Os militares portugueses, sem nenhum motivo para isso, fugiram como pardais, largando armas e calçado, abandonando os portugueses e africanos que confiavam neles. Foi a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir.” Sim, é irrefutável e não tenhamos medo das palavras: VERGONHA. Em toda a extensão e em toda a substância da palavra.
Mas por que razão os mesmos militares, filhos do mesmo povo que, estoicamente, se sujeitou a 13 anos de uma guerra sem esperanças em 3 teatros de operações, viriam a ter comportamentos tão indignos de si próprios como da sua História? Culpa dos militares e do povo? Seguramente que não. E podemos rotular de cobardes muitos comportamentos indignos que macularam a honra de alguns sectores das Forças Armadas naqueles acontecimentos que já se perdem na memória dos 35 anos já decorridos?
É muito complicado psicanalisar certos comportamentos gerados pela confusão e complexidade dos fenómenos sociais, pelo que prefiro voltar à tese que atrás aflorei. Isto é, aos efeitos da fruição inconsciente da democracia, das liberdades cívicas, bens que nos são preciosos para galgar o caminho do futuro, mas cujo alcance real não é bem compreendido por alguns.
Em 25 de Abril, o Partido Comunista Português, conforme diz e bem o autor, achou que devia hipotecar os interesses do seu país às estratégias expansionistas da União Soviética. Com isso, influenciaram e conspurcaram a mente sedenta de progresso e mudança de alguns militares e a mancha depressa se propagou e contaminou as Forças Armadas, até que um rebate de consciência institucional e nacional permitiu trazer ordem onde se instalara a confusão e o desnorte.
Hoje, passados 35 anos desde a restauração das liberdades, compete-nos reflectir, discutir, escrever. É o que fez o António José Saraiva no seu artigo “O 25 de Abril e a História”. Diz ele: “as nossas dificuldades presentes, que vão agravar-se no futuro próximo, merecemo-las, moralmente. Mas elas são uma prova e uma oportunidade. Se formos capazes do sacrifício necessário para as superar, então poderemos considerar-nos desipotecados e dignos do nome de povo livre e de Nação independente”. Acho que, se analisarmos a história do século XX, o seu último quartel só nos oferece razões para optimismo e esperança, bastando comparar e sopesar factos e acontecimentos na sua ocorrência causal e sequencial. A I República soçobrou e justificou um longo regime autoritário, adiando as nossas esperanças de uma democracia europeia como as outras. O 25 de Abril abriu uma porta e por ela lobrigámos caminhos que vêm sendo trilhados com erros de percurso, sim, mas seguramente com sucessos que só um cego pode negar. Trinta e cinco anos de vida é já um tempo que nos dá um certo conforto e confiança.
No entanto, reconheço que permanecem ainda alguns sintomas da nossa dificuldade congénita em lidar com a democracia, sendo prova disso o uso desmedido e irresponsável que alguns continuam a fazer das liberdades, assim como a radicalização das querelas e conflitos partidários. Mas estou seguro de que estes 35 anos que passaram são irreversíveis na sua marcha. Com as dificuldades normais de percurso, com as crises e as conjunturas adversas, vamos por certo aprender continuamente, amadurecer a nossa consciência colectiva, tornar cada vez mais sólidos os ganhos e as conquistas rumo ao futuro. E é tempo de parar de lastimar e lamber feridas constantemente.
Se alguém quisesse acusar os portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom argumento nos acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril.
Na perspectiva de então havia dois problemas principais a resolver com urgência. Eram eles a descolonização e a liquidação do antigo regime. Quanto à descolonização havia trunfos para a realizar em boa ordem e com a vantagem para ambas as partes: o Exército Português não fora batido em campo de batalha; não havia ódio generalizado das populações nativas contra os colonos; os chefes dos movimentos de guerrilha eram em grande parte homens de cultura portuguesa; havia uma doutrina, a exposta no livro Portugal e o Futuro do general Spínola, que tivera a aceitação nacional e poderia servir de ponto de partida para uma base maleável de negociações.
As possibilidades eram ou um acordo entre as duas partes, ou, no caso de este não se concretizar, uma retirada em boa ordem, isto é, escalonada e honrosa.
Todavia, o acordo não se realizou e retirada não houve mas sim uma debandada em pânico, um salve-se-quem-puder.
Os militares portugueses, sem nenhum motivo para isso, fugiram como pardais, largando armas e calçado, abandonando os portugueses e africanos que confiavam neles. Foi a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir.
Pelo que agora se conhece, este comportamento inesquecível e inqualificável deve-se a duas causas:
Uma foi que o PCP, infiltrado no Exército, não estava interessado num acordo nem numa retirada em ordem, mas num colapso imediato que fizesse cair esta parte da África na zona soviética. O essencial era não dar tempo de resposta às potências ocidentais. De facto, o que aconteceu nas antigas colónias portuguesas insere-se na estratégia africana da URSS, como os acontecimentos subsequentes vieram mostrar;
Outra causa foi a desintegração da hierarquia militar a que a insurreição dos capitães deu início e que o MFA explorou ao máximo, quer por cálculo partidário, quer por demagogia, para recrutar adeptos no interior das Forças Armadas. Era natural que os capitães quisessem voltar depressa para casa. Os agentes do MFA exploraram e deram cobertura ideológica a esse instinto das tripas, justificaram honrosamente a cobardia que se lhe seguiu.
Um bando de lebres espantadas recebeu o nome respeitável de «revolucionários».
E nisso foram ajudados por homens políticos altamente responsáveis, que lançaram palavras de ordem de capitulação e desmobilização num momento em que era indispensável manter a coesão e o moral do Exército para que a retirada em ordem ou o acordo fossem possíveis.
A operação militar mais difícil é a retirada; exige em grau elevadíssimo o moral da tropa. Neste caso a tropa foi atraiçoada pelo seu próprio comando e por um certo número de políticos inconscientes ou fanáticos e em qualquer caso destituídos de sentimento nacional.
Não é ao soldadinho que se deve imputar esta fuga vergonhosa, mas aos que desorganizaram conscientemente a cadeia de comando, aos que lançaram palavras de ordem que nas circunstâncias do momento eram puramente criminosas.
Isto quanto à descolonização, que na realidade não houve.
O outro problema era o da liquidação do regime deposto. Os políticos aceitaram e aplaudiram a insurreição dos capitães, que vinha derrubar um governo que, segundo eles, era um pântano de corrupção e que se mantinha graças ao terror policial: impunha-se, portanto, fazer o seu julgamento, determinar as responsabilidades, discriminar entre o são e o podre, para que a nação pudesse começar uma vida nova. Julgamento dentro das normas justas, segundo um critério rigoroso e valores definidos.
Quanto aos escândalos da corrupção, de que tanto se falava, o julgamento simplesmente não foi feito.
O povo português ficou sem saber se as acusações que se faziam nos comícios e nos jornais correspondiam a factos ou eram simplesmente atoardas.O princípio da corrupção não foi responsavelmente denunciado, nem na consciência pública se instituiu o seu repúdio. Não admira por isso que alguns homens políticos se sentissem encorajados a seguir pelo mesmo caminho, como se a corrupção impune tivesse tido a consagração oficial.
Em qualquer caso já hoje não é possível fazer a condenação dos escândalos do antigo regime, porque outras talvez piores os vieram desculpar.
Quanto ao terror policial, estabeleceu-se uma confusão total. Durante longos meses esperou-se uma lei que permitisse levar a tribunal a PIDE-DGS. Ela chegou, enfim, quando uma parte dos eventuais acusados tinha desaparecido e estabelecia um número surpreendentemente longo de atenuantes, que se aplicavam praticamente a todos os casos. A maior parte dos julgados saiu em liberdade. O público não chegou a saber, claramente, as responsabilidades que cabiam a cada um.
Nem os acusadores ficaram livres da suspeita de conluio com os acusados, antes e depois do 25 de Abril.
Havia, também, um malefício imputado ao antigo regíme, que era o dos crimes de guerra, cometidos nas operações militares do Ultramar.
Sobre isto lançou-se um véu de esquecimento. As Forças Armadas Portuguesas foram alvo de suspeitas que ninguém quis esclarecer e que, por isso, se transformaram em pensamentos recalcados.
Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regímen, como não se fez a descolonização.
Uns homens substituíram outros, quando os homens não substituíram os mesmos; a um regime monopartidário substituiu-se um regímen pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente.
Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: «a longa noite fascista».
Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral.
A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar.
O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior; mais a vergonha da deserção. E com este começo tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob a capa de democratização do ensino; vieram «saneamentos» oportunistas e iníquos, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, nos partidos e no Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão pelo Governo e pelos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio honesto de viver.
Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma Primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco.
Ao contrário das esperanças de alguns, não se começou vida nova, mas rasgou-se um véu que encobria uma realidade insuportável. Para começar, escreveu-se na nossa História uma página ignominiosa de cobardia e irresponsabilidade, página que, se não for resgatada, anula, por si só todo o heroísmo e altura moral que possa ter havido noutros momentos da nossa História e que nos classifica como um bando de rufias indignos do nome de Nação.
Está escrita e não pode ser arrancada do livro.
É preciso lê-la com lágrimas de raiva e tirar dela as conclusões, por mais que nos custe.
Começa por aí o nosso resgate. Portugal está hipotecado por esse débito moral, enquanto não demonstrar que não é aquilo que o 25 de Abril revelou.
As nossas dificuldades presentes, que vão agravar-se no futuro próximo, merecemo-las, moralmente. Mas elas são uma prova e uma oportunidade. Se formos capazes do sacrifício necessário para as superar, então poderemos considerar-nos desipotecados e dignos do nome de povo livre e de Nação independente.
Em 1910, Portugal tinha uma taxa de analfabetismo adulto (1) que rondava os 90%; os restantes 10% eram maioritariamente constituidos por padres, freiras e militares. Ou seja, eramos um país em que imperava a boçalidade, o pé-descalço; não passávamos de uma ralé de bisonhos tementes da ira divina ou do castigo temporal exercido pelos Padres de aldeia em função de um código que o povo não entendia facilmente (2).
Ficava quem se submetesse, emigravam os insubmissos. Por alguma razão, dentre todos os europeus, fomos os primeiros a fazer um Império e os últimos a desfazê-lo. Mas também houve insubmissos que ficaram; a muitos destes se lhes chamou revolucionários.
Os insubmissos emigravam
Ser-se revolucionário significa possuir um raciocínio especulativo, não aceitar o dogma. E este tanto pode ser de índole religiosa como meramente social: o que se baseia na Fé; o do statu quo. E não há incompatibilidades nem qualquer relação biunívoca entre estes dois tipos de dogmas: pode-se aceitar o dogma religioso e ter um pensamento social crítico; pode-se ser ateu e socialmente enquadrado; pode-se ser totalmente revolucionário. Quem for totalmente acrítico, dogmático, não é revolucionário.
Perante a debilíssima rede escolar então existente, quem vivesse fora dos grandes centros urbanos e quisesse estudar para progredir socialmente, tinha que recorrer aos Seminários ou à carreira das armas. Os insubmissos que optassem pela via religiosa não tomavam ordens; os que optassem pela vida militar assumiam ipso factu um estilo de vida com enormes conveniências sociais nomeadamente um enquadramento institucional praticamente ímpar no resto do país. Eis como o Clero se manteve imune a insubmissos; eis como no Exército e na Marinha apareceram muitos revolucionários cuja insubmissão só ia sendo controlada pela rígida disciplina militar.
Este, o Portugal dos finais da monarquia: uma elite politicamente dominante encabeçada pelo Rei conjugada com um Clero socialmente dominante, conjugação esta apoiada num Exército destinado à contenção dos revolucionários, estes também manipuladores da ralé dos bisonhos.
Entre os finais do séc. XIX e os princípios do séc. XX, os revolucionários portugueses – tanto civis como militares – eram quase todos republicanos e no dia 5 de Outubro de 1910 saiu vencedora com relativa facilidade a República que destronou D. Manuel II, o último Rei de Portugal.
Posto o statu quo em causa, abrem-se as portas aos desencontros, ao desequilíbrio, ao tiroteio. Essa a tónica da nossa I República, arena livre dos insubmissos, calvário de muitos portugueses honrados e também ela canhão para a carne de muitos bisonhos.
Neste cenário se cruzaram personalidades magníficas aparentemente em posições antagónicas mas, na essência, com um mesmo objectivo: o bem de Portugal.
A eles me referirei mais logo…
Lisboa, Abril de 2009
Henrique Salles da Fonseca
(1) - Analfabetismo estatístico – actualmente, a definição corresponde ao maior de 14 anos de idade que não sabe ler nem escrever; no tempo do Doutor Salazar, se o adulto (maior de 21 anos) soubesse assinar («desenhar» o nome) não era considerado analfabeto; antes do consulado salazarista, maiores de 21 anos de idade que não soubessem ler nem escrever
(2) - Com a vitória do liberalismo, os Senhores locais deixaram de exercer o poder judicial em nome do Rei
O texto anterior mostra sobretudo a genealogia deste antepassado e deixou algumas dúvidas no ar.
Pesquisa, procura, insiste, até que se encontrou a autora do texto que escreveu sobre a tal Primeira Sociedade de Emancipação de Escravos no Brasil, professora Carmen Schiavon da Universidade de Pelotas, cidade onde nasceu o meu avô, Francisco, filho deste João.
Foi de facto João Driesel Frick um dos fundadores da dita Sociedade, fundada não em Porto Alegre, mas em Rio Grande, no Rio Grande do Sul, a cidade que está na entrada do Lago dos Patos e que deu nome ao Estado, porque foi a sua primeira capital.
O conhecimento desta Sociedade e da primeira reunião que aconteceu no escritório do João Frick, em 1869, quando, por dinheiro recolhido pelos sócios, se libertaram quatro escravas, provém de uma carta escrita por ele mesmo, de Londres, em 1884 e que foi publicada em Lisboa (onde?) em 1885.
João Frick estava no Brasil pelo menos desde 1868, porque consta já o seu nome na Loja Maçónica Acácia Rio-Grandense, de que foi 1° Vigilante.
Como se disse ele enviuvou da primeira mulher, Joana Viana Lobo, tinha seu filho Francisco um ano e pouco em 1882. Casou, possivelmente em 1883 ou 84, com a filha mais nova do Visconde Mauá e, de acordo com a carta acima, estaria em Londres nesse ano, onde terá deixado os seus três filhos com Joana Lobo entregues a uma irmã.
Em 1885 está no Brasil, quando participou do funeral do sogro e assinou contrato de fornecimento de água a Piracicaba.
Em 1900 vai definitivamente para Londres. Lembro-me de minha mãe me dizer (ela ouvira isso de seu pai) que João Frick deixara o Brasil para tentar cobrar dívidas de empresas ou indivíduos ingleses, mas que nada teria conseguido.
Pensando em todas estas informações, e uma vez que não parece que João Frick tivesse pessoalmente negócios com Inglaterra, o mais provável terá sido, uma vez que seu sogro teve em vida muitos e altos negócios com os ingleses, que este lhe tivesse confidenciado ter ainda créditos a cobrar a súbditos de sua majestade britânica!
Viveu os seus últimos nove anos em Londres, mas receber dos “amigos” ingleses... até hoje!
Em pesquisas anteriores foi fácil encontrar o sobrenome Frick em alemães, suíços, austríacos e até boêmios, hoje checos. Nem sempre o nome era bem escrito, alguns “escriturários” dos séculos passados eram meio analfabetos, ou os sotaques variavam de região para região, e assim encontrámos, além de Frick, Fricks, Fricke, Fritsch, Fritsche, e outros. Vamos nos fixar no Frick.
Em registros de 1804 e 1825 da Igreja Evangélica Alemã em Lisboa, consta um Jean Daniel Frick, assim como uma quantidade de outros alemães cujos descendentes são hoje portugueses, como Meyer, Oom, Ulrich, Hintze, Moser, Poppe, etc.
Luiza Driesel era filha de imigrantes da Boémia, hoje república Checa e teve mais três irmãos que não deixaram descendência.
Filho (único?) de João Daniel Frick, que seria suíço, e de Tereza Emília de Araújo, casados em Lisboa em 1790, Francisco Daniel Frick (que se crismou João e assim se passou a chamar) nasceu em Lisboa em 1794 e casou com Luiza Driesel, também lisboeta de 1804.
Francisco Daniel (João Daniel) e Luiza tiveram seis filhos: Cristina, Palmira e Georgina, solteiras, Virgínia que casou com um senhor Finger, e tiveram uma filha Berta que casou com Hugo Castelo Branco, por sua vez com uma filha solteira e dois filhos, um também Hugo de Lacerda Castelo Branco, que chegou a vice-almirante e Fernando de Lacerda Castelo Branco, advogado.
Outra filha, Luiza, como a mãe, casou com um senhor Schroeter. Tiveram, entre outros, pelo menos uma filha Louise Sophie que casou com Johannes Alfred Wimmer, pais de Anna Marie avó do conhecido historiador e colecionador de armas antigas, Rainer Daenhardt. Até aqui todos em Portugal.
Finalmente, o bisavô: João Driesel Frick, nascido em Lisboa em 1839 e que faleceu em Londres em 1909.
Considerava-se suíço, talvez por ter mantido a nacionalidade do avô, e assim era conhecido no Brasil para onde veio depois de formado em engenharia. Não sabemos a razão porque terá escolhido o Rio Grande do Sul, Porto Alegre, onde já se encontravam alguns emigrantes de nome Frick, de origem austríaca, como um Guilherme, um Carlos e um Luiz. Possível coincidência.
Não sabemos também se terá sido este João Driesel Frick que participou da Primeira Sociedade de Emancipação do Brasil, em 1869, em Porto Alegre, mas sabemos que aí casou com Joana Viana Lobo, e veio a constituir uma sociedade Frick & Cia., com o construtor italiano Carlos Zanotta.
Deste primeiro casamento nasceram primeiro duas filhas, Luiza e Joana, que ficaram solteiras e a seguir um rapaz, Francisco, meu avô materno, nascido m Pelotas. Tinha este pouco mais de um anos, em 1882, quando a mãe faleceu, e o pai mandou os três filhos, pequenos, para Londres ao cuidado de duas de suas irmãs, também solteiras. Em 1885 já estava novamente casado com a filha mais nova do Visconde de Mauá, Lísia Ricardina, que deixou quatro filhos, todos no Brasil.
Em 1880 assina, pela firma Frick & Cia., um contrato com a Prefeitura de Cuiabá, para construir o abastecimento de água à cidade em desenvolvimento, que foi inaugurado em 1882 e em 1885, estabelece outro contrato semelhante, desta vez com Piracicaba, mudando o nome da firma para Empresa Hidráulica de Piracicaba.
Em 1900 desfaz-se da sociedade e vai viver para Londres.
A última notícia que temos dele é uma carta datada de Londres, de 1 de Fevereiro de 1907, sob o pseudónimo de Gonçalo da Gama, intitulada “Tradição não é história”, publicada no jornal O Portugal, N.º 2 de 1907 e reproduzida em O Oriente Portuguez, Nova-Gôa, vol. IV, Abril de 1907, pp.150 – 156, onde diz que Camões não esteve em Macau porque, à data, Macau não existia, não passando dum covil de piratas, o que até hoje provoca celeuma!
Não sei porque se meteu em discutir Camões, mais ainda sob um pseudônimo, quando a sua especialidade era engenharia hidráulica, mas...
Quando há dias lancei este enigma sobre a quem darei o meu voto, logo afirmei que, dentre todas as eleições previstas para 2009, considero as legislativas como as mais importantes. Porquê?
Pese embora todos os meus compatriotas poderem considerar esta uma questão axiomática, não será demais lembrar que o sistema político português democrático foi buscar a Salazar um instrumento que lhe satisfaz as conveniências deixando para a propaganda o discurso contra a «longa noite fascista», a «pesada herança» e outras bizarrias que tais. E que instrumento é esse? O Decreto-Lei.
O Decreto-Lei é a arma totalitária que permite ao Governo exercer o Poder de um modo muito próximo do arbitrário. Basta-lhe não pecar por alguma mais ou menos evidente ou mais ou menos recôndita inconstitucionalidade, basta-lhe não afrontar descaradamente alguma Lei (de génese parlamentar) em vigor, basta-lhe dispor de uma maioria de Deputados apoiantes do Governo que lhe permita ultrapassar os pedidos de ratificação parlamentar e eis que nada o impede de valer como lei. E se todas estas hipóteses se conjugarem sobre conceitos iníquos, não haverá quem lhe impeça a passagem e lhe marque o passamento. Mesmo o Presidente da República de pouco nos poderá valer pois o nosso semi-presidencialismo é muito mais teórico do que prático.
Ou seja, em Portugal quem dispõe do Poder efectivo é o Governo.
Perante tal hipótese de governação iníqua (no sentido contrário à equidade), tenho a maioria absoluta como uma potencial calamidade democrática, a maioria simples como uma boa solução e a minoria de todos e cada um dos Partidos representados no Parlamento como pré-caótica. Porque não temos qualquer hipótese de gerir o processo que não apenas com o voto individual de cada um, qualquer uma daquelas alternativas pode ocorrer e, portanto, vou votar em conformidade com dois critérios: o perfil individual dos candidatos; o programa político de cada Partido concorrente.
Sim, exactamente por esta ordem: primeiro as pessoas, depois os programas. Como assim? Muito simplesmente porque podemos imaginar um programa político lindíssimo mas apresentado por cadastrados e nessa altura devemos optar por um programa não tão brilhante mas proposto por gente honrada. Quero acreditar que não subam à ribalta programas iníquos apresentados por facínoras.
Assim, o meu critério de selecção dos candidatos a Deputados à Assembleia da República vai ser exactamente o mesmo que identifiquei para as Autárquicas e, portanto, votarei em quem me der garantias de praticar os seguintes requisitos:
·Ética – democrática ocidental;
·Integridade – de conduta recta, pessoa de honra, educada, imparcial, briosa, pundonorosa, justa, que não se vende; pessoa para quem a moral não tem preço e é indiscutível;
·Responsabilidade – obrigação de responder pelas próprias acções induzidas por razões ou motivos plausíveis, no exercício do livre-arbítrio, tendo plena consciência das consequências dos actos praticados, sempre em favor do bem-comum;
·Respeito pela Lei – nunca legislar em benefício próprio mas apenas tendo em mente o interesse geral;
·Respeito pelos direitos do próximo – nunca se esquecer de que não é «dono» de Portugal mas apenas mandatário ao serviço dos eleitores na busca do bem-comum;
·Transparente – ser pública e privadamente de boas contas.
Depois que se perfilem inúmeros candidatos com estas características (quero acreditar em que os Partidos se vão preocupar na selecção de gente assim e não com outras motivações), então passarei à análise dos programas políticos.
E antes que se faça tarde no esclarecimento de questões essenciais, desde já informo que votarei num Partido que inequivocamente se enquadre no arco democrático ocidental e excluirei ab initio quaisquer hipóteses que se inspirem em doutrinas com origem totalitária próxima, afastada ou longínqua.