Até alguns anos atrás, ser médico do interior era mais que ser um profissional na arte de curar, era ser também um confessor, um aconselhador de gente. Muitas vezes o paciente contava segredos que obrigava a atitudes nem sempre convencionais.
Relato um caso médico que exemplifica com clareza essa afirmação.
Com a morte prematura do marido num acidente, Maria viu-se sozinha e com três filhos pequenos para criar. Por sorte sabia costurar. Passou a trabalhar dia e noite. Ganhava o suficiente para sustentar a família, porém não sobrava muito tempo para se cuidar. Engordava. Alguns fios brancos permeavam a cabeleira negra. Pequenas veias azuis mapeavam as pernas bem torneadas.
O tempo passava e a jovem viúva sentia a falta de um companheiro. Quando ia levar ou buscar os filhos à escola, ao passar pela oficina do vizinho, percebia cumprimentos velados, enfatizados por longos olhares e palavras de agrado aos pequenos. Passou a reparar no rapaz, que devia ter mais ou menos a mesma idade. Envaidecida, passou a se” produzir”. Cortou os cabelos, pintou os lábios, fez regime, passou a usar roupas da moda, mais” transadas". Dali por diante tudo aconteceu muito rápido. Conversas, namoro e casamento.
Maria vivia no paraíso. Tinha um lar e uma nova e feliz família. Mas, depois de um ano, toda essa felicidade ficou ameaçada. João queria ter também seus próprios filhos e ela não engravidava. Fez de tudo, levou-a até à benzedeira e finalmente ao médico.
Durante a consulta o casal demonstrava ansiedade. A anamnese nada esclarecia. Porém, ao examinar a paciente o doutor percebeu dentro dos pêlos púbicos uma fina e tênue linha cicatricial. Seu instinto disse-lhe para ficar calado ao perceber o olhar aflito da jovem mulher. Pediu os exames e aguardou os resultados. Mas foi com surpresa que viu Maria voltar no dia seguinte, sozinha. Queria esclarecer a cirurgia. Na ultima gestação ela e o primeiro marido haviam decidido pela esterilização tubária. Receando não ser aceita pelo novo companheiro, omitiu o facto. Pensou que com o tempo João se conformasse com a falta de filhos, afinal tantos casais não têm crianças....Infelizmente ela se enganara e agora não sabia o que fazer. Queria ajuda do profissional para resolver o seu problema.
O médico disse-lhe que teria que falar a verdade, caso João o procurasse para maiores esclarecimentos. Chorosa, pediu que não dissesse nada. Tinha medo que seu casamento acabasse. Em dilema, e sentindo o peso da responsabilidade, o médico pediu que voltasse com o marido quando os exames ficassem prontos. À noite não dormiu, matutava uma maneira de dizer a verdade sem prejudicar aquele relacionamento.
No dia em que o casal voltou com os resultados dos exames, diagnosticou:
- O mal estava nas trompas que estavam obstruídas.
- Mas como isso pode acontecer? Perguntou João.
- Na realidade pode haver várias causas, infecções, aderências, bridas, obstruções...Mas há uma chance cirúrgica de tratamento, embora os êxitos sejam ainda pequenos... Podemos tentar resolver o problema com a desobstrução das trompas....
Foi assim que o doutor ganhou mais um afilhado e salvou um casamento!
Num momento em que várias iniciativas, de grande qualidade, divulgam, muito justamente, a obra de alguns artistas do que se convencionou chamar o Movimento Modernista Português (veja-se a magnífica exposição sobre literatura na Fundação Calouste Gulbenkian ou a edição do Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português), poderá ser interessante despertar a atenção para um compositor que, tendo feito parte do núcleo duro desse movimento, e conseguido, no seu tempo, uma projecção nacional e internacional provavelmente sem paralelo na música erudita portuguesa, é hoje praticamente desconhecido do público, não obstante a recente reedição (colecção PortugalSom) de um dos raros CD's com a sua música.
Ruy Coelho nasceu num local tão fora-de-mão como seria Alcácer do Sal em 1889. O mais velho de oito filhos de um casal modesto. O pai, barqueiro de profissão, levava-o por vezes, como ajudante, nos transportes que fazia para Setúbal, e quando apanhavam mau tempo, amarrava-o a um cabeço da amurada. Ainda miúdo começou a aprender música na Real Sociedade Filarmónica Progresso Matos Galamba. Uma das histórias que recordava desse tempo, era a de ter passado um concerto a improvisar pensando que ninguém ouviria o seu flautim, para no fim levar uma grande descompostura do Maestro.
Em 1904, com apenas quinze anos, foi estudar para o Conservatório de Lisboa com o apoio de mecenas de Alcácer que lhe pagaram "durante uns tempos" um quarto na Graça e os almoços numa pensão do Chiado. Sozinho, e sem meios na capital, deparou-se com a difícil tarefa de aprender piano, sem ter piano. O que só terá conseguido porque o Sr. Schwalbach, Director do Conservatório, o autorizou a usar as instalações fora de horas. Tinha de começar a praticar pelas sete da manhã, tendo assim de se levantar às seis. Como não tinha despertador, nem ninguém que o acordasse, inventou um método que resultava na perfeição: amarrava com força as pernas muito direitas e quando, a dormir, se tentava virar, acordava. Começava os dias com uma caminhada até ao Conservatório – pois nem para o eléctrico tinha dinheiro – estudava, assistia às aulas e voltava a praticar, terminando as noites a tocar nos animatógrafos e teatros de operetas (ou revistas), deitando-se cerca das duas da manhã. Outros episódios que deixou relatados são também demonstrativos das dificuldades que passou nesse período, como os almoços que comia a dobrar, sem pestanejar, quando a empregada da pensão não se lembrava de o já ter servido, ou os pães que, de tarde lhe mandava um atento director do Conservatório.
Nesses tempos, aquilo que mais desejava era assistir a uma Ópera. Mas, ao contrário dos colegas, não tinha meios para o fazer. Um dia, a tentação foi forte de mais: esgueirou-se pela entrada dos artistas do Teatro de S. Carlos e deu por ele a assistir à "Aida" de Verdi, deitado sobre umas pranchas penduradas no travejamento do tecto sobre o palco. Foi uma revelação e uma sorte, pois não caiu para uma morte certa. Estava longe de imaginar que passados poucos anos voltaria ao local do crime para assistir a uma Sinfonia escrita por si, e que ao longo da vida haveria de dirigir muitas das suas obras no S. Carlos.
O professor Alexandre Rey Colaço terá detectado o seu potencial pois, na audição aos novos alunos, escolheu-o para lhe dar aulas particulares, gratuitamente. Ruy Coelho tinha uma enorme admiração por ele, considerando-o um excelente professor, pois em poucas aulas, conseguiu, ao piano, transportar Fugas de Bach (meio ou um tom) às indicações do mestre. Capacidade que por várias vezes referiu como determinante no acompanhamento de cantores, e que lhe serviu para "ganhar a vida" nos teatros, onde assim que as cantoras se desviavam do tom tinha de as acompanhar. E se não fosse capaz de o fazer, era posto na rua. A esta fase chamou mais tarde, no âmbito de uma das suas polémicas, "pedagogia ao vivo", aconselhando-a aos que, “ao invés de subirem a pulso, e passo a passo na profissão, eram só pregadores de palavreado musical”…
Foi Rey Colaço quem o apresentou a Jorge Jerosch Herold, empresário e violinista amador que precisava de um pianista para o acompanhar na execução dos românticos e clássicos alemães, como as Sonatas de Beethoven. Ruy Coelho ter-lhe-á manifestado a vontade de continuar os estudos em Berlim, e passado cerca de um ano de sessões musicais, foi ele quem lhe proporcionou esse decisivo passo na sua carreira.
Rousseau (Jean-Jacques, 1712-1778) achava que seria necessário italianizar o francês para que então a língua passasse a ser «cantabile». Toda a música vocal francesa lhe soava mal e, portanto, os compositores franceses não prestavam. Simultaneamente, considerava que qualquer adulteração da sua língua seria um flagelo pelo que mais valia que os franceses não entrassem na música vocal. Contudo, ele próprio compôs uma ópera, Le Devin du Village, estreada em Fontainebleau em 1752.
Sem dúvida, um raciocínio bastante discutível com Rameau (Jean-Philippe, 1682-1764) a ser dispensado de entrar na galeria dos ilustres da nossa civilização. Se Rameau entrou para a História da música com pleno reconhecimento dos contemporâneos e seus descendentes, então é o silogismo de Rousseau que claudica algures.
Mas adivinho duas razões para que Rousseau não gostasse de Rameau:
- Os cantores já então pronunciavam todas e cada uma das sílabas do libreto (o que frequentemente soa mal a quem tenha essa como língua materna) em vez de se concentrarem na melodia;
- Rousseau queria todas as atenções viradas para si sem dividir a glória cultural em França com mais ninguém.
Vaidade? Inveja? Vaidade invejosa? Inveja vaidosa? Talvez tudo misturado em quantidades enigmáticas e por certo também alguma razão.
De qualquer modo, Rousseau entrou para a História como filósofo e Rameau como músico sem interferências mútuas de significado maior.
Relativamente à dicção, os poetas que me perdoem mas a Amália Rodrigues marcou a Cultura Portuguesa esboçando apenas muitas das palavras que cantava e desdenhando a técnica tão ensinada nos Conservatórios da pronúncia meticulosa de todas as sílabas. Esta técnica produz resultados de esmero completamente ridículo, pretensioso, artificial e que, para além de se tornar agreste para o ouvido e de secundarizar a música, incita os homofóbicos à chalaça. Admito que fosse contra esta ridicularia que Rousseau blasfemava, obviamente não contra a língua francesa.
A outra hipótese que coloco - a da não repartição da glória - parece-me tão plausível como a anterior e vejo-a como resultado da inveja provocada pela vaidade.
Vaidade é o desejo de atrair a admiração do próximo exibindo com extravagância os pontos que o próprio considera positivos e ocultando os negativos; inveja é o desgosto pelo bem dos outros e o desejo violento de possuir esse bem alheio.
A ordem dos factores não é arbitrária e o mais provável é que Rousseau não quisesse que Rameau se tornasse famoso para que este não o ensombrasse. Como o mérito do músico era amplamente reconhecido, tornava-se necessário dizer mal dele. Mas para que o feitiço não se virasse contra o feiticeiro, vá de teorizar a crítica em vez de a centrar no «alvo a abater».
Todos reconhecemos na cena política casos mais ou menos doentios de vaidade, de inveja, de vaidade invejosa e de inveja vaidosa e devíamos ter um cuidado especial impedindo que esse tipo de sindromas se arvorasse na característica perene do regime político em que vivemos.
De acordo com Karl Popper, não deixemos que a discussão sobre o supérfluo significado das palavras nos distraia das discussões sobre as teorias e hipóteses, sobre os problemas que estas levantam, sobre os que resolvem e sobre os que deixam em aberto.
Isso, sim, deveria ser urbi et orbi o âmago da cena política.
Observemos, meditemos, excluamos o supérfluo e optemos por quem falar sobre assuntos sérios. Sobretudo, excluamos da cena quem mereça desconfiança e optemos por quem nos garanta uma atitude ética assumindo inequívoco Sentido de Estado.
São muitos os nomes que os vários povos e crenças dão a quem os lusófonos chamam de Deus, os hindus preferem chamar o Absoluto ou o Incognoscível, os chineses Tao, etc. No entanto há uma diferença grande entre as várias visões que os seguidores das três religiões monoteístas têm do seu Deus, Javé ou Eloim, ou Alá.
Numa síntese bem meditada, sem se saber por quem, diz-se que os muçulmanos conhecem Alá, os judeus temem Javé e os cristãos amam a Deus, mesmo sabendo-se que todos têm conhecimento do primeiro mandamento «Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo!»
Os muçulmanos, pelo Corão, são incentivados a conquistar, se necessário pelas armas, mais seguidores de Maomé, crime que os cristãos já praticaram e de que ainda hoje se devem penitenciar entristecidos.
Os judeus criaram um mito da sua etnia, proclamando a sua desventura através do «exílio forçado desde há 3.000 anos», continuam a temer a Deus e para isso se fecham cada vez mais, desprezando, quando não odiando, o mundo que os rodeia. Não só em Israel, mas um pouco em todo o lado.
Parece, não, não parece, a verdade é que ambos preferiram retirar do primeiro mandamento a conclusão do mais importante: «Amarás ao próximo como a ti mesmo»!
Amar a Deus, respeitá-l’O, respeitar um Ente Incognoscível, não parece ser um ato de grande dificuldade, porque só a consciência de cada um pode julgar a sua devoção. E consciência... como orar, ou bater com a mão no peito, desfilar contas de rosários, recitar interminavelmente passagens do Talmud ou do Torá, em pouco ou nada ajuda a melhorar a vida na Terra.
O mundo não precisa tanto de orações como de acções de Amor! De doações de si próprio em benefício do Outro!
Por isso cada vez que vemos um homem que dedicou toda a sua vida a transmitir esse Amor, esse entusiasmo no Deus do Amor, a vibrar com uma imensa alegria interior com tudo quanto pudesse ajudar o Outro, a nossa alma vibra também contagiada pelo ardor que a Verdade comporta.
Há muitos homens e mulheres assim. Aliás, infelizmente são raros. Muito raros. São excepções, quando excepções deveriam ser os outros, os egoístas e gananciosos que só pensam em si próprios e um dia vão enfrentar-se num espelho que não mente.
E quando vemos desaparecer um homem destes, que mesmo com idade avançada, o corpo sofrendo cheio de problemas e de dores, mas sem esmorecer na sua imensa alegria do dever cumprido, continuar a transmitir essa Alegria no Senhor, mesmo sabendo que finalmente descansou e está já a gozar a recompensa que merece, nós, os menos capazes de nos darmos, não podemos deixar de chorar. São lágrimas sinceras, mas egoístas. Choramos por nós.
O meu querido amigo durante quase cinquenta anos, um espanhol de sangue basco, alma a transbordar de força e alegria, que tanto nos ensinou e que tanta amizade dispensou, já não está mais entre nós. Terminou o seu sofrimento, grande, na terra.
De certeza que está agora a descansar. E com isso eu tenho que festejar, em vez de chorar.
- Intervenção e não intervenção europeia 1936-1939
Autor: Luís Soares de Oliveira
Editores: PREFÁCIO – Edição de Livros e Revistas, Ldª.
Edição: 1ª, Janeiro de 2009
Como diria José Carlos Ary dos Santos,
«As coisas são o somenos que elas são:
O que é um gato é um gato,
O que é um cão é um cão.»
Mas na Diplomacia, seguidora de Friedrich Nietzsche sempre que lhe convém, não é exactamente assim: «Não há factos; há apenas interpretações.»
Com esta frase de Nietzsche nos dá o Autor um resumo do típico modo de actuação do diplomata, o tal que quando diz sim significa talvez e quando diz talvez significa não. Um diplomata nunca diz não.
E com subtilezas interpretativas misturadas com declarações cautelosas e com cautelas subtis enformando declarações interpretativas, eis que se juntam em Londres todos aqueles que apregoam a paz fazendo descaradamente a guerra. Porquê? Porque…
A crescente influência da CNT[1] junto dos trabalhadores colocou o estado espanhol nos braços de uma tenaz infernal: - corrupção, à direita; terrorismo, à esquerda. A oligarquia que dominou a vida política espanhola ao longo do século XIX destruiu gradualmente a velha ordem da Monarquia absolutista mas não teve energia para construir outra ordem viável. Comprava poder para que este reprimisse os seus opositores. Ao ascender ao trono[2], Afonso XIII rejeitou a proposta de repressão violenta formulada pelo chefe conservador António Maura – que foi demitido – e optou pelo modelo transformista proposto pelos liberais. O rei pensava que o problema se poderia resolver sem recurso à força. Encarregou a facção liberal de proteger o flanco esquerdo do regime com os seus esquemas de agregação económica. A solução liberal de «co-opção» – participação nos benefícios do sistema – revelava contudo incompreensão da natureza do fenómeno. Os anarquistas não pretendiam beneficiar do sistema; pretendiam acabar de vez com o sistema. Visavam o empobrecimento geral nivelador e não o aumento da riqueza e melhor repartição. A solução liberal era exactamente a que mais desprezavam.
E por aqui me quedo com a transcrição pois se continuasse por mais uma linha que fosse, era tentado a copiar o livro todo.
E também porque tanto à Alemanha nazi como à URSS se lhes tinha metido nas cabeças que haviam de destronar a hegemonia britânica passando eles a dominar os demais povos, Espanha foi considerada o teatro fundamental para isolar a Europa ocidental do resto do mundo. Quem dominasse a Península Ibérica haveria de controlar a Europa.
Aquela de os anarquistas quererem «o empobrecimento geral nivelador», faz-nos lembrar o discurso do PCP no post-25 de Abril de 1974 quando falava em democracia. Sim, passados cerca de 50 anos, o discurso repetiu-se aqui mesmo ao lado de onde foi proferido inicialmente. Dá para repetir a frase de Friedrich Hölderlin que já citei tanta vez: «somos originais porque não sabemos nada» …
Cenário internacional de grande fragilidade e França, com um Governo presidido por Léon Blum, a querer conciliar o inconciliável, a demagogia eleitoralista e as exigências sociais a dificultarem ou até mesmo a impedirem as políticas estrategicamente prementes para os superiores interesses do país. A toda esta envolvente se refere o Autor num excepcional desenvolvimento explicativo.
Portugal como centro de muitas discussões desde Moscovo a Londres e Salazar a desenvolver uma política de grande clareza na defesa dos princípios em que cria. O xadrez mundial a desenhar-se junto das fronteiras portuguesas e nós, os não comunistas, a termos hoje que reconhecer que o nosso anti-salazarismo poderia ter muitos fundamentos mas não os relativos à guerra civil espanhola.
Somos transportados ao longo do livro através de relatos admiráveis; inúmeros os factos históricos descritos que não éramos capazes de imaginar; ficamos com a sensação de estarmos a participar nas reuniões, com os diplomatas a terem que dizer o que os respectivos patrões lhes impunham, a ouvirem coisas para que não estavam preparados, a improvisarem argumentos que os poderiam conduzir à demissão nas situações mais benignas ou à decapitação física nas mais intervencionistas.
Nem tudo foram rosas ali sobre o Baluarte do Livramento, foz do Tejo à vista, no Palácio das Necessidades. Difícil a vida dos diplomatas em tempos de guerra.
Um bom livro sob inúmeros pontos de vista, nomeadamente para relembrar o discurso estalinista da militância antifascista ainda hoje na boca de tanto rot Gauleiter que nem sequer sabe o que era o fascismo.
Finalmente, duas perguntas para espevitar a curiosidade:
- Sabe quem foi Saint John Perse?
- Sabe quem foi Alexis Léger?
Livro a não perder.
Lisboa, Fevereiro de 2009
Henrique Salles da Fonseca
[1] -Confederação Nacional do Trabalho (anarquista)
[2] - Em 1902, ao completar 16 anos de idade e assim sendo considerado maior de idade
Em resumo dos dois textos antecedentes, diria que me fixei, muito sucintamente, em duas linhas de orientação: as relações entre o investimento e o mundo do trabalho e o papel do Estado.
Como notam, deixei de usar o termo Capital para o substituir por Investimento. Há, pois, uma posição pessoal que quero deixar já bem clara: as minhas palavras não têm como objectivo fazer “fretes” a quem quer que seja, nomeadamente, ideologias. O pensamento económico do séc. XXI jamais será o mesmo que conhecemos nos sécs. XIX e XX. Estamos longe da economia pura de mercado e da economia colectivista. Baseio-me em tudo que pude absorver, através da leitura dos grandes gurus do pensamento económico e da Bíblia que está sempre na minha cabeceira; e umas incursões pela Tora e pelo Corão(*), e, também, da minha capacidade de observação do comportamento da minha geração do período pós II Guerra Mundial até agora, em que perfaço 61 anos e das realidades que vivo desde essa época.
Atravessei os consulados de Oliveira Salazar e Marcello Caetano. Vislumbrei na Primavera Marcelista um ténue assomo de claridade e remeti-me, como a maioria dos portugueses, ao silêncio da frustração. O que é que a experiência me ensinou? Que os grandes profetas da história da evolução do pensamento económico se esqueceram de que a Ciência nos ensina que aquilo que é teórico necessita de uma fase experimental e em face dessa experiência, os grandes gurus das teorias económicas, mantiveram-se, prudente e hipocritamente, longe da verdade da prática do dia a dia do ser comum, porque as grandes conclusões práticas lhes retirariam, face às teorias expendidas versus ser comum, o estatuto de estrelas da ribalta académica, sem o qual não existiriam os salões da celebridade dos prémios Nobel e o poder associados.
Mas mais, as grandes teorias foram-se enredando em volta de complexidades aritméticas absolutas que contrastam com a teoria simples e primitiva do “do ut des” e o cacete para defesa de interesses próprios. Dou-vos, como exemplo, na economia pública uma das várias obsessões, designadamente, a do défice, que nos atiram como “papão”, para nos manterem enclausurados em regras inventadas para sustento de alguns mentores de subserviências afectas ao interesse global, encadeados num jogo de PIBs, PNBs, dívidas externas, balanças de pagamentos e por aí fora.
Mas, a seu tempo, lá iremos. Em algumas aulas, no período de cinco anos, em que leccionei, como Monitor na Faculdade de Direito de Lisboa, constatava, com espanto, que os meus alunos, fruto do imenso “saber” que lhes provinha de uns comícios e de umas leituras recomendadas pelo período “revolucionário” que incluíam um livrinho fininho do Vladimir Illich Ulianov Lenine, “Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico”, ficavam conhecedores, técnica e cientificamente, de toda a saga do Bem e do Mal do proletariado versus capitalismo e da revolução cultural maoísta com a leitura inclusa do livrinho vermelho; teorias que lhes eram repetidamente recitadas, acompanhadas do estudo rápido, tendencioso, enviesado e suspeito, por isso mesmo, de Marx e de Engels, em acções de formação política de várias horas; e que saber umas patacoadas sobre as leis da superstrutura e da base, os credenciava para serem
Ministros das Finanças; ignorando, com constatada falta de inteligência, de que as teorias de Marx foram escritas no período específico da Revolução Industrial que alguns ainda hoje não sabem o que foi... e que, erradamente, serviram para aplicar e adaptar a tudo quanto se mexesse em matéria de economia e debitasse teorias sobre perseguições do capital ao operariado desprotegido.
Karl Marx, em presença destas novas realidades, construiria outra teoria, provavelmente, totalmente diversa. É claro que houve operariado perseguido, quem nega? Assim como houve aos cristãos na Roma Antiga, aos judeus no Nazismo, aos reformistas na Revolução Cultural Maoísta e mais uma data de exemplos. Não refiro nomes, porque o meu objectivo não é condenar a juventude iluminada e imatura (também lá passei) sequiosa de liberdade, igualdade e fraternidade; o meu objectivo é ajudar a tornar compreensível o que se passa e caminhar para o pensamento económico do séc. XXI.
Pretensão minha? Seja, mas falo e digo o que penso, baseado no estudo teórico e confrontando-o com o dia a dia das sociedades! Assentemos, pois, que o Capitalismo, tal como o conhecemos, já teve a sua era, com defeitos e virtudes, tal como os outros sistemas económicos. Revivendo, ainda, esse período longínquo do 25 de Abril de 1974, de iluminismo político que os historiadores irão ter dificuldade em classificar de Revolução ou Golpe de Estado, recordo os meus alunos que chegaram a atingir a barbárie do conhecimento quando me confundiam Engels com Hegel, apesar de este ter deixado teoricamente a porta aberta para nos enredarmos entre o socialismo e a social-democracia, que hoje é prática política comum entender-se pela acção governativa de que não há diferenças entre uma e outra posição ideológica.
Deus nos valha!
Aos políticos que nos governam bem falta lhes fazia lerem-me Soljenitsine ou, quiçá, Camus, ou então, fazerem umas expiações culturais nos arrozais nas margens do grande rio Huang Ho, ou umas estadias, em regime de férias controladas, em qualquer gulag na Sibéria.
Mas estas referências são mais desabafos intelectuais e defeitos do estilo barroco do modo como me expresso escrevendo, do que o futuro que nos aguarda e sobre o qual vos pretendo falar, sugerindo.
AS LEIS DA ECONOMIA
Não, o Adam Smith e Lord Keynes, não são para aqui chamados. Pensemos por nós.
Se a economia funciona é porque tem de haver quem queira comprar bens, quem queira vender e quem produza. Nesta trilogia, neste contexto global, a riqueza faz parte desta soma aritmética: matéria prima para produzir o bem que alguém quer comprar e que outrem quer vender. Mas, em vez de se reduzir a esta singularidade primária, o ser humano tinha de inventar o lucro, ou seja, a diferença entre o custo da matéria-prima, acrescidos dos encargos da produção e o valor do produto final mais a usura. E as leis foram crescendo, complicando-se, para esconder o óbvio, determinando-se os valores pela dependência da oferta e da procura (que também são leis), inventando-se, mais uma vez, a escassez ou o excesso de produção, para determinar o preço. O preço? Ah! O preço pai do lucro. O grande erro dos gurus das teorias que foram determinando a evolução do pensamento económico é terem-se esquecido de um factor determinante no funcionamento dos mercados e da economia e que esteve sempre presente: o factor humano! E de lei de mercado em lei de mercado, foram-se acrescentando complexidades matemáticas a estas, com inclusão de impostos para sustentar as máquinas do Estado, cada vez maiores e mais complexas.
Foram crescendo cada vez mais indústrias e comércios, produzindo-se cada vez mais riqueza, acumulada em património duradouro ou bem fungível, que foram ficando retidos nas bolsas de privilegiados e as economias foram ficando saturadas de excessos de toda a ordem... A globalização trouxe-nos a compreensão de uma verdade inexorável, cada vez mais é urgente repensar melhor a distribuição da riqueza, não para diminuir os classificados de ricos, mas para equilibrar a partilha e minorar o sofrimento.
Não tenho qualquer dúvida de que o fosso nunca desaparecerá, não há Igualdade Absoluta; poderá é ficar menos escandalosamente evidente. Assim, não diria como
Engels e Marx, mas como cidadão da globalização: “Povos de todo o Mundo, uni-vos!” Neste conceito cabem todos e não só osproletários. Ao referirem no seu célebre chamamento só os proletários àluta de classes, Marx e Engels impuseram logo à sociedade global doisopostos: os proletários, vítimas e os outros, quando do conhecimentoactual sabemos que as vítimas mais indefesas não eram os proletários.
Creio que é necessário rever todas as leis da economia, tal como as aprendemos no passado e são prática no presente, atentos à influência incontornável de duas realidades absolutas: a informação que nos dá conta da verdade global e a robótica que nos organizará o futuro.
(continua)
(*) No final desta dissertação referirei toda a bibliografia
Há pouco mais de cinquenta anos, um brasileiro branco embrenhou-se nos matos e florestas deste país, foi viver junto com os índios, e acabou por se apaixonar por uma linda jovem, outra Iracema! Homem reto, não quis simplesmente viver, como hoje eufemisticamente se diz, namorado ou amancebado com a sua amada. Quis casar. A lei, sempre as malditas das leis feitas por gente besta e ignorante, não permitia nesse tempo (parece que foi há mil anos!) casamentos entre brancos e indígenas!
O caso deu brado, entrou no conhecimento popular e saiu até samba sobre o assunto.
Assis Chateaubriand, o grande jornalista, dono dos Diários Associados, da revista O Cruzeiro e da Rádio Tupi, inteligente, aproveitou a popularização do incrível caso e decidiu apoiar os noivos. Com a sua fortíssima influência, obteve autorização para o casamento, convidou os noivos a vir ao Rio, e mandou celebrar um casamentão na Igreja da Candelária!
Nessa época, no Brasil já com uma imensidão de descendentes de brancos e índias, e até de índios com brancas, fora as outras misturas todas, as leis insistiam nos problemas raciais!
Hoje em dia, com um kxk completamente desgovernado, os jornais começam a publicar previsões sobre o que será a herança a deixar pelo atual governo: completa falta de infraestruturas e um país sem brasileiros, mas com índios, negros e brancos, obrigados por leis a se olharem de viés! E os mestiços, a maioria dos brasileiros, onde ficam? Como aquele pobre desgraçado há poucos dias preso em flagrante quando roubava R$ 1,25 (US$ 0,60 ou $ 0,42 Euros !) em moedinhas, esmolas que o povo deixara num prato em frente a uma imagem da Senhora... que não precisa de esmolas!
Sempre houve quem quisesse tapar o sol com peneiras. Mas tinham pelo menos a vantagem de alguma coisa enxergarem através dessas redes, mesmo as mais apertadas.
Com a total inépcia e desvario pseudo esquerdista a desarticular o, mesmo pouco, de bom que já por aqui se tinha alcançado, o problema tem-se vindo a agravar: uma imensa parcela do território reservada a índios, as universidades dando prioridade a negros (áqueles que se identificam como negros, mesmo que só tenham um tataravô de origem africana) e os restantes, os que pensavam que o Brasil seria de todos os brasileiros, sem exceções,... perdidos no meio de tamanha estupidez e sanha racista.
Em oposição ao Fórum Econômico de Davos o Brasil criou o Fórum Social que este ano se reuniu em Belém do Pará. Compareceu a esquerda esclerosada, incapaz de formular a mínima das hipóteses para melhoria do mundo, somado ao azar de este ano não terem mais o Bush para malhar, mas apareceu um grupo, daqueles ativistas de circo, que, com cartazes e bandeiras propunha a defesa dos palestinos, a liberação da maconha e o incentivo ao sexo livre como solução para preservar a Amazônia! Liderados pelo feroz defensor do ambiente, o cearense Edelezildo da Silva! Tu quoque, Edelezildo?
Vai bem o mundo!
Com a crise mundial, que vai afetar já afeta de forma violenta o caixa deste (des)governo, o desemprego, e o fomento idiota para que o povo se endivide mais ainda, não parece difícil antever um futuro complicado, que só peneira com fundo em chapa grossa não consegue enxergar.
Peneira igual à usada pelos kxk do PT, com sua corrupção desmesurada e maniqueísmo esquerdista onde há um Deus só para eles e o Diabo para todos nós!
«Os Portugueses no Faroeste – Terra a perder de vista», de Donald Warrin e Geoffrey Gomer
À primeira vista, os nomes John Vey, John Phillips ou John Enos não serão uma referência para nenhum emigrante português. Mas quando se sabe que estes «americanos» nasceram João da Cunha Veiga, Manuel Filipe Cardoso e João Ignácio d’Oliveira, a impressão já é outra… Em comum têm o local e século em que nasceram - os Açores, na primeira metade do século XIX - o facto de terem emigrado para os Estados Unidos, onde os nomes foram «americanizados», e ainda de estarem entre os primeiros portugueses a conquistar o Faroeste americano. A saga destes pioneiros foi reunida num livro lançado em Portugal.
EUA: Os heróis açorianos do faroeste
Mais de século e meio depois, as histórias destes e de outros pioneiros – maioritariamente nascidos no arquipélago dos Açores – foram reunidas numa obra que pretende registar e homenagear homens (e também algumas mulheres) inovadores e destemidos que se destacaram numa região dos Estados Unidos em tudo diferente da terra onde nasceram e à qual, muitos, nunca mais voltaram.
O livro «Os Portugueses no Faroeste - Terra a perder de vista», de Donald Warrin e Geoffrey Gomer, acaba de ser lançado em Portugal, e fala de portugueses que ultrapassaram os seus limites e obtiveram resultados surpreendentes em áreas que nada tinham a ver com as tradicionais actividades que muitos exerciam em Portugal, como a exploração de ouro, o comércio de peles, a exploração mineira, a construção civil ou a criação de grande número de cabeças de gado e de ovinos. “Espantaram-me. Foram inovadores, valentes, individualistas, homens de destaque a nível unitário, estadual e regional. Era gente esperta e destemida, e é-me muito difícil resumir as suas características em algumas palavras”, revelou o historiador americano Donald Warrin a O Emigrante/Mundo Português.
Dez anos de investigações
O livro resulta de uma investigação extensiva e rigorosa, e reúne 50 fotografias e biografias pormenorizadas de figuras de destaque e de outras menos famosas, mas igualmente importantes. Os historiadores Donald Warrin e Geoffrey Gomes começam por oferecer um panorama geral da história de Portugal, com destaque para a emigração e o papel de relevo desempenhado pela caça à baleia, na ida de portugueses para a Nova Inglaterra e mais tarde para a Califórnia. Explicam ainda as condições geográficas, sociais e históricas encontradas por esses colonos portugueses numa determinada região, para depois contarem as muitas e bem sucedidas histórias de que foram protagonistas. Donald Warrin explica que foram precisos dez anos para concluir a obra, porque as investigações eram realizadas nos tempos livres. “O Geoffrey não viajava, gostava de ficar nos arquivos. Eu, sempre que tinha possibilidades, durante os verões quando não leccionava, passava semanas a viajar pela grande expansão do oeste americano, em estados como o Novo México e Wyoming, a descobrir comunidades de interesse e informações escondidas em arquivos”, recordou. A história da parceria entre os dois historiadores - um americano sem raízes portuguesas e um luso-descendente - surgiu numa conversa informa. “Moro na área da baía de São Francisco, estou a par da presença portuguesa por aqui e nos estados vizinhos e interessei-me pelo assunto”, começa por explicar. Professor de Literatura Portuguesa e Brasileira durante muitos anos, Donald Warrin começou a interessar-se pela comunidade açoriana que reside na Califórnia e a escrever artigos sobre a literatura produzida por membros dessa comunidade. Não foi preciso muito tempo para começar a escrever sobre a história da sua emigração… Em 1986, publicou duas colectâneas de poesia de açorianos radicados na Califórnia. Ao investigar em jornais em língua portuguesa naquele estado, acabou por descobrir tantos autores, que decidiu publicar, juntamente com o professor Eduardo Bayonne Dias, da Universidade da Califórnia, um livro intitulado «Cem Anos de Poesia Portuguesa na Califórnia». Um dos retratados era Alfred Lewis, natural da Ilha das Flores, autor de livros de poesia. “Foi na altura do lançamento de um livro de Alfred Lewis, em Angra do Heroísmo, que alguém se aproximou de mim, disse-me que tinha sido nomeado sócio correspondente do Instituto Histórico da Ilha Terceira e pediu-me para voltar no ano seguinte para fazer uma comunicação. Aceitei e disse que iria falar sobre os portugueses nos estados de Nevada e Oregon”, recorda. Entretanto, o trabalho de investigação levou-o a descobrir “tantas histórias interessantes” em Nevada, que o trabalho incidiu apenas em histórias de portugueses naquele estado. “Fiz várias viagens e entrevistas, publiquei alguns artigos e depois continuei por Oregon. Ficava cada vez mais surpreendido com as minhas descobertas”, sublinha. Foi nessa altura que, ao conversar com o amigo Geoffrey Gomes, soube que o historiador luso-descendente tinha «descoberto» dois portugueses - Peter Joseph e António Monteiro - negociantes de peles no interior do Faroeste e ainda Manuel Brazil, um criador de gado bovino do estado do Novo México e natural da Ilha de São Jorge, que ficou célebre por ter ajudado o xerife Pat Garret a prender o célebre pistoleiro Billy the Kid. “Decidimos então escrever o livro. O Geoffrey escreveu sobre esses homens e eu escrevi o resto do livro, mas ele ajudou-me a editá-lo”.
Comunidades longínquas…
«Os Portugueses no Faroeste» reúne histórias que percorrem um período de cem anos, entre 1830 até 1930, desde a chegada dos primeiros pioneiros até ao declínio da emigração portuguesa em estados do interior, como o Wyoming, Novo México ou Oregon. Mais tarde, foi a Califórnia a atrair a emigração portuguesa, proveniente principalmente dos Açores. “Não chegaram muitos açorianos depois da corrida ao ouro, a grande emigração de portugueses para o Faroeste foi por volta de 1880”, revela o historiador que percorreu muitas pequenas cidades do interior desses estados para descobrir histórias, muitas delas em locais onde, a princípio, não acreditava que as pudesse encontrar. Das viagens - que afirma ter sido a parte do trabalho que mais lhe agradou – recorda a passagem por uma pequena cidade no estado do Wyoming. “Entrei na biblioteca, expliquei que andava à procura de histórias da presença portuguesa. E a senhora surpreendeu-me ao dizer que tinham uma colectânea de informações. Mostraram-me vários documentos relacionados com a antiga presença de açorianos na região. Telefonei ao Geoffrey quase imediatamente a dizer-lhe que ali, tão longe, conheciam bem os portugueses. Foi uma surpresa”, contou. A cidade em questão, chama-se «Buffalo». Donald Warrin não tem dúvidas de que as viagens “foram enriquecedoras” e sublinha que, do que mais gostou ao longo dos dez anos de pesquisa, foi ter podido travar conhecimento “com muitos indivíduos, famílias e comunidades ligadas aos portugueses”. E perceber que estes preservam com orgulho as histórias dos seus antepassados. “Recolhi muitas histórias orais e percebi que a memória desses pioneiros mantém-se muito «viva» nos seus descendentes”, afirmou, recordando a surpresa que teve, mais do que uma vez, ao chegar a uma cidade para entrevistar uma ou duas pessoas, “geralmente muito idosas”, e encontrar metade da comunidade reunida a assistir à entrevista. “Têm realmente muito orgulho do seu passado, às vezes as suas recordações não estavam cem por cento de acordo com os documentos, mas de modo geral, ajudaram-me a dar um toque mais vital à obra e a dar-me ideias para prosseguir na investigação”.
Assentemos, pois, que estamos em época de mudança de práticas muito discutíveis e mentalidades retorcidas. Talvez a mudança seja a última, a única arma de que disporemos (para além do voto) e, também a última oportunidade, para revertermos esta situação em que nos colocaram.
Talvez seja, também, a ultima e, neste caso, única oportunidade, para acordarmos e nos redimirmos como Povo. À luta, portanto! Mas, a luta a desenvolver não pode partir de princípios errados, de irrealismos e interesseirismos políticos ilegítimos, de politiqueirices partidárias e de sonhos que não passam disso mesmo, ou seja, nada é como era dantes e nada se pode resolver com métodos que já demonstraram a sua ineficácia.
Alerto os políticos para o facto de as grandes revoluções que estão na génese de guerras civis sangrentas têm um só leit motiv: as populações atingidas e sentidas com as injustiças de que são vítimas, cansam-se e reagem mal, a maior parte das vezes, sem cravos. Todos nós, em conjunto, podemos acertar numa sociedade melhor e com menos desigualdades, em que uns aceitem contribuir um pouco mais e prescindir de alguns privilégios (que podem vir a perder à força) e outros queiram contribuir com a sua mão de obra, num clima de respeito pela sua dignidade, em que se terá de pôr de lado a ideia de que só existem direitos e não há obrigação de cumprir deveres. Neste clima de entreajuda e compreensão mútua conseguiremos fugir do pântano do radicalismo. Concluamos, pois, com uma máxima lapalissiana: Todos nós somos necessários, todos nós precisamos dos outros, porém, os cemitérios estão povoados de imprescindíveis.
Em termos muito simplistas, as forças de produção que criam riqueza carecem do capital para comprar a matéria-prima que servirá de suporte à produção, (o Vladimir Illich não explicaria melhor); por sua vez, o capital não pode exigir mais do que o lucro razoável pelo seu investimento e, quando esse lucro não chega ao desejado pelo capital, encerra-se pura e simplesmente a empresa. Esta cultura do lucro sem limites terá de ser revista... nem que seja por decreto.
As entidades patronais têm de ser fiscalizadas. Por outro lado, o trabalho tem de aceitar ser fiscalizado em várias vertentes, designadamente, nas baixas por saúde, extirpando-se esta mania para a vigarice e comportamentos desviantes.
Comecemos, então, por atacar este problema do emprego, a exigir responsabilidade dos patrões e dos empregados. O Estado terá o papel que deveria ter tido sempre: autoridade supervisora.
A fiscalização do patronato começará pelo rigor da contabilidade empresarial. Todas as empresas teriam um fiscal tributário dedicado e esse fiscal teria de responsabilizar-se pela seriedade das contas de um determinado número de empresas e as empresas mudariam de fiscal num período determinado por Lei, que evitasse as oportunidades de compadrios ou favores. Os políticos já nos ensinaram o quão tentador é estar vários anos nas mesmas funções e nos mesmos lugares de decisão.
E sabem porque sugiro este acompanhamento permanente e vigilante? É muito simples, fui consultor de empresas e tive um cliente que chegou aos 500,000 € de dívidas à Segurança Social. Entrevistei várias pessoas do escritório e conclui que o homem sacava dinheiro da Tesouraria como queria e quando queria. Quando o tentavam travar exclamava em altos gritos que o dinheiro era dele. Numa das reuniões de consultoria para a gestão, disse-lhe que ele estava equivocado, porque a partir do momento em que criava uma empresa e punha dinheiro nesta, o dinheiro deixava de ser dele e passava a ser da empresa e os gastos nas empresas tinham leis para cumprir. Resultado, não gostou da minha análise e fui-me embora.
A prática é esta e a mentalidade também. Tem de ser mudada a prática e a mentalidade. O Patrão português não consegue libertar-se desta dura realidade (para ele) de que uma vez passadas ao plano da empresa, as coisas deixam de ser dele. Ele é, tão somente, o fiel depositário e responde, em juízo, por essa responsabilidade.
Portanto, Patrão, que no próximo futuro, ficasse fraudulentamente com o dinheiro que retém dos trabalhadores para entregar à Segurança Social e não o fizesse, com a convicção de que é dele e o pode gastar como entender (comprar Ferraris, p. e.), tinha, na hora, as consequências que a Lei lhe impusesse.
Há necessidade de criar um novo código de conduta empresarial, para controlar os excessos do patronato. Já estou a ver uns silvisticos olhos sindicais a brilharem no escuro... (temos andado todos às escuras)!, mas esqueçam opiniões seguidistas da minha parte, o meu papel não é representar quem quer que seja, o meu papel é dar, aqui, uma opinião séria e sincera como contributo para, no meio desta crise, emergirmos para uma sociedade melhor.
Fascismo espanhol manifesta-se em Santiago protegido pela polícia.
8 de Fevereiro de 2009.
Em Santiago de Compostela, uma manifestação a favor da supremacia do castelhano na Galiza, convocada em toda a Espanha, reúne 1500 pessoas (alguns jornais espanhóis elevam esta cifra a 4000). O protesto, para pedir a derrogação da legislação protectora da língua da Galiza, e exigir a segregação dos estudantes no ensino conforme à língua familiar (galega ou castelhana), foi contestado por cidadãos galegos (250, segundo fontes policiais), convocados por diversos colectivos cívicos e culturais, e o apoio do partido político independentista Nós-Unidade Popular.
Contingentes da polícia, deslocados para proteger o protesto dos espanhóis, dissolveram com brutais agressões os galegos que se manifestavam, simultaneamente, contra a aniquilação da sua língua. Informações da imprensa indicam que doze galegos, alguns dos quais militantes independentistas, foram espancados e levados à esquadra policial. Um deles ingressou de urgência num hospital.
Os manifestantes anti galegos, alguns vindos de Madrid ou o País Basco, mostraram numerosas bandeiras espanholas e reclamaram a defesa dos seus privilégios políticos com lemas como "Derecho a elegir" e "Libertad de elección". O protesto, convocado pela associação "Galicia Bilingue", foi apoiada pelos partidos políticos Falange Española, Partido Popular, Unión Progreso y Democracia, e outras entidades como "Asociación de Vítimas contra el terrorismo", "Asociación Por la Tolerancia de Cataluña", "Circulo Balear" ou "Plataforma para la Libertad de Elección Lingüística de País Vasco".
A Galiza, em que historicamente foi imposto o castelhano, com especial violência e repressão durante a ditadura do General Franco (1936-1975), com milhares de patriotas galegos fugidos, assassinados e desaparecidos, o galego é co-oficial com o castelhano desde 1980. Na teoria, é possível exercer este direito ao uso da língua da Galiza em todos os âmbitos sociais, mas, de facto, continua excluído em âmbitos essenciais, como a justiça, enquanto o castelhano goza de completa protecção. Esta desigualdade tem provocado a perda de 20% de utentes do português galego, só nos últimos 20 anos.
Para o ensino, a actual legislação, que desenvolve a "Lei de Normalización Linguística" aprovada unanimemente por todos os grupos do Parlamento Autónomo (Partido Socialista, Partido Popular e Bloco Nacionalista Galego), dita que deverá leccionar-se um 50% das matérias em galego, mantendo outro 50% das matérias em língua espanhola, que continua a usufruir, em muitos casos, os mesmos privilégios do regime da ditadura do General Franco. Há casos de escolas com a maior parte das aulas leccionadas em espanhol, em que só o galego é dado em galego, situação tolerada pela inspecção do ensino, conivente com as práticas castelhanizadoras, mas muito atenta a alguns casos de uso "excessivo" da língua da Galiza, na Galiza.
A manifestação anti galega de Santiago enquadra-se na pré campanha das eleições autonómicas. As sondagens publicadas em todos os meios indicam que se repetirá o governo de coligação entre o PSOE e o Bloque Nacionalista Galego (BNG). Ambas as formações políticas manifestaram o seu rejeitamento à convocatória anti galega, e confirmaram, com maior ou menor intensidade, o seu apoio à promoção do galego. Ao nível do PSOE espanhol, no governo de Madrid, o Secretário de Organização do PSOE, José Blanco, mostrou também o seu rejeitamento a essas atitudes, que vinculou com movimentos da extrema-direita espanhola.