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A bem da Nação

Coisas lidas

 

 
 
Uma Autobiografia Disfarçada
 
 
João Hall Themido
Uma Autobiografia Disfarçada, ID, 2008
 (ed. Instituto Diplomático)
 
 
 
No Ministério dos Negócios Estrangeiros do meu tempo (1953-1972), quatro funcionários atingiram a excelência no exercício das suas funções: Helder Mendonça e Cunha, no protocolo, José Calvet de Magalhães, na negociação; Alberto Franco Nogueira na retórica argumentativa e João Hall Themido na comunicação diplomática. Cada um na sua especialidade, mas todos exímios. O embaixador Hall Themido, nas memórias que acaba de publicar, além da perfeição formal a que nos habituou, transmite-nos outra faceta do seu carácter: - a sinceridade. E esta, por seu turno, confere imediatamente mérito ao livro. Só assim vale a pena escrever memórias. De outro modo, o escrito degenera em apologia e perde rapidamente interesse. O autor, não sendo político, dispensa-nos da estafada demagogia própria da classe, e, sendo sincero, evitou a esquiva habitual no funcionário em relação a matérias controvertidas.
 
Temos pois o valioso depoimento de um profissional de reconhecida competência a quem coube papel de relevo na execução de uma política hoje objecto de contestação apaixonada: - a defesa das colónias, do Ultramar, como então se dizia. Hall Themido não tem dúvidas quanto ao mérito substantivo da política a que ajudou a dar forma.
 
Ao fim e ao cabo, na substância, a política estava certa ou errada?
 
Themido mostra que a questão não se punha. A política correspondia à vontade da nação naquele momento histórico. A opinião pública não consentiria qualquer outra atitude em relação ao Império. Era assim desde a expedição de D. João I a Ceuta no século XV. A fronteira sul foi sempre considerada dotada de dinamismo indiferente a Mares e Oceanos. Absolutistas, Liberais, Republicanos e Nacionalistas sucederam-se mas não alteraram uma vírgula que fosse a este adquirido da cultura política portuguesa: - O Ultramar era património pátrio. Foram precisos treze anos de guerra para modificar a percepção portuguesa nesta matéria, tão fundo ela estava radicada.
 
O autor poderia ter acrescentado que a política teve o mérito prático de nos assegurar a transição entre uma fase em que não havia alternativas para outra em que a Europa passou a constituir alternativa válida. Quando começou o ataque movido pela Índia, em 1951, a Europa nem sequer existia; quando o oportunismo de Kennedy lançou a segunda vaga, dez anos depois, a Europa pouco mais era do que um projecto. Só, em 1971, quando do primeiro alargamento europeu com a adesão britânica, a Europa ganhou foros de projecto viável e representava hipótese a considerar. Em 1974, a Europa existia de jure e de facto e salvou-nos da repetição da madrugada mais triste da nossa história: - o amanhecer pós Alcácer-Quibir.
 
***
Outro aspecto importante do livro em referência reside na informação sobre o fenómeno político representado pelos EUA. A América não é Nova Iorque. A América que pesa está para lá dos Apalaches. Essa América pouco se preocupa com o estrangeiro, salvo as imediações latinas e os mercados asiáticos. O observador europeu frequentemente esquece este aspecto e engana-se.
 
Tem mais, muito mais assuntos que o livro ajuda a esclarecer, mas o melhor é lê-lo.
 
 Luís Soares de Oliveira 

CRÓNICA DO BRASIL

 

A caminho do Apartheid !
 
Grande luta travou, durante mais de trinta anos, o grande Nelson Mandela para alcançar a independência do povo sul-africano e sobretudo acabar com a maior vergonha que ficara do tempo da escravatura, o apartheid! Por todas as razões Mandela é considerado um dos maiores líderes dos tempos modernos e de todos os tempos da história da humanidade. Um grande Homem adorado e respeitado em todo o mundo por gente de todas as tonalidades de pele.
O Brasil, mais uma vez, insiste em caminhar na contramão da história! Um país com um tremendo déficit social, onde só é branco de verdade quem tiver uma grossa soma de dinheiro, mesmo que o não seja, trabalha em várias frentes para criar, estúpida e violentamente, um apartheid, inclusive jurídico!
O nosso incansável (des)governo decidiu agora criar novas delegacias de polícia, unicamente reservadas para queixas apresentadas por descendentes de africanos! Se um indivíduo, tipo ou parecido com caucasiano, for agredido, assaltado, maltratado, levar um tiro, morto ou receber outras meiguices semelhantes, não poderá queixar-se nessas delegacias! Mesmo que tenham sido os mais escuros que o assaltaram! Só o inverso é aceitável, e como se está mesmo a ver a isenção da investigação será...
Se alguém for chamado de neguinho ou negão, apelido que até hoje existe mesmo entre os mais amigos e até no seio das famílias, pode queixar-se nessas delegacias. E tem ganho de causa rapidinho. Mas se um caucasiano for chamado de branquela, alemão ou gringo, bem pode ir chorar para a praia, ajudar a maré a encher que ninguém o vai ouvir.
Algumas universidades já reservam até 60% das vagas para epidermes mais escuras, mesmo que os alunos não tenham atingido sequer 50% da classificação que deveria ser indispensável para acessar ao ensino superior, o que significa que estamos a produzir ainda mais burros diplomados do que, infelizmente, já grande quantidade existe, porque depois as universidades não podem apresentar um índice de reprovação de 70 ou 80%! Vão ter que os diplomar “na marra”, e o país... que se dane.
Mas entretanto, dentro do mesmo conceito de intelectualidade no (des)governo, o ministério da agricultura acaba de publicar uma peça de antologia que mete num chinelo toda a produção literária de Machado de Assis a Guimarães Rosa, não esquecendo Jorge Amado nem Luis Fernando Veríssimo. Ora deliciem-se:
 
Diário Oficial' publica regra para fazer caipirinha
O Ministério da Agricultura publicou, no Diário Oficial da União de sexta-feira, um regulamento técnico que estabelece "padrões de identidade e qualidade" para se preparar uma autêntica caipirinha. Segundo a publicação, as regras servem tanto para a bebida produzida no Brasil quanto à feita no exterior.
O regulamento, assinado pelo ministro Reinhold Stephanes, explica que os principais ingredientes são a cachaça, o limão e o açúcar. "O açúcar aqui permitido é a sacarose - açúcar cristal ou açúcar refinado -, que poderá ser substituída total ou parcialmente por açúcar invertido e glicose, em quantidade não superior a 150 g/l e não inferior a 10 g/l, não podendo ser substituída por edulcorantes sintéticos ou naturais", detalha o texto.
Além disso, o regulamento do ministério informa que o limão pode ser usado em sua "forma desidratada". A água pode ser adicionada à bebida alcoólica, mas apenas com objetivo de "padronização da graduação alcoólica do produto final", que deve variar entre 15% e 36%.
FINALMENTE alguém aqui descobriu como se faz uma caipirinha! O povo brasileiro, e o estrangeiro, porque a LEI engloba também as caipirinhas feitas tanto no Japão como na Alemanha e até no Kosovo ou na Geórgia, agradecem penhoradamente a sexa o ministro – que Deus lhe perdoe tamanha mediocridade! – a receita “oficial”. O Reinhold devia estar de cara cheia ao se lembrar de publicar semelhante manifestação de...
Eu que bebo uma caipirinha lá de quando em vez... vou ter que tomar muito cuidado ao preparar a próxima, não vá cair das garras da lei!
Bons tempos os de Machado de Assis quando as crianças brincavam com papagaios e não com pipas e os passageiros dos transportes coletivos, se deslocavam em diligências, gôndolas, ônibus puxados a burros ou mulas, mais tarde nos bondes, e os que subiam os morros utilizavam as maximbombas, mas... podiam, em qualquer lugar, beber caipirinha a seu gosto, sem controle ministerial ou policial!
Que Deus nos dê a virtude da paciência para agüentar tanto erro, que o povo não merece.
 
Rio de Janeiro, 3-nov-08
 
Francisco Gomes de Amorim

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