Não há muito tempo um tal arqui-milionário, presidente do partido que jamais fez oposição, porque não sabe, não quer e... nem partido é, se insurgiu violentamente contra a pretensão de uma empresa portuguesa querer comprar a maior companhia de telefonia do Brasil. “Que era uma perca da nossa soberania, que era isto e mais aquilo...” e os portugas caíram fora.
Entretanto a este rapaz pobre – repetindo: presidente da chamada oposição e que contribuíra com largos milhões para a última campanha do big líder – surgiu outro concorrente, desta vez vindo da Itália, através dum banco que não se sabe bem se é brasileiro se de algum paraíso fiscal, se... Enfim.
O amigalhaço do big líder, repetindo, o tal presidente da oposição (carnaval, né?) conseguiu que o governo desse um nó no opositor, estrangulando o tal banco, mandando retirar dos seus depósitos uma grossa maquia dos fundos de previdência, e deste modo comprou, não com o dinheiro dele, mas com o nosso, o do povo – porque obteve um empréstimo especial do Banco do Brasil a juros mais baixos do que a taxa do Banco Central – a tal companhia telefónica, ficando assim o “rei da escuta”! ( Segundo consta há neste país qualquer coisa como 400.000 telefones sob escuta! Viva a liberdade!)
O perdedor ficou só com a sua banqueta e negociatas de dinheiro vai-e-vem via paraísos para se livrar, a si e aos estimados clientes, do pagamento dos necessários impostos.
A PF – a temível e mediática Polícia Federal – armou um esquema e prendeu o dono da tal banqueta, um senhor que se chama Daniel. Entrou na cova dos leões, isto é, na cadeia. Logo os advogados correram e horas depois o presidente do Supremo tribunal concedeu um habeas corpus. O juiz que o tinha mandado engaiolar não gostou do habeas, emite outro mandato de prisão, e lá vai o Daniel, algemado, novamente para o covil. Sexa ministro do supremo, rápido no gatilho, puxa da Mont Blanc, aparo de ouro e solta o Daniel! Os leões... neca, não comem o Daniel!
E gera-se uma guerra interessantíssima: juiz de 1ª instância indignado com o presidente do supremo, palavra puxa grunhido, grunhido puxa pelas leis, que são feitas de forma que há sempre modo, quando os daniéis têm grana suficiente, para burlar a ida para a cova! Dos leões.
Em simultâneo entra na liça o ministro da justiça, que apesar de licenciado em direito nada sabe de leis e comenta o tal habeas do supremo, que logo replica informando a população que sexa ministro da justiça é um ignorante, coisa que era já do conhecimento trivial.
Não contente com isto surge em cena o grande big líder porque nas investigações policiais aparece o nome do seu chefe de gabinete, envolvido nas maracutaias dos dinheiros celestiais, e vá de mandar despedir o delegado chefe da investigação!
Olhem, isto é uma novela e tanto! Não se sabe ainda em quantos capítulos o assunto vai correr, mas não admira que no final o delegado seja despachado para uma aldeia de índios caiapós, o ministro da justiça cale o bico para não dizer mais besteirol, o povo vai esquecer o envolvimento do chefe do gabinete de sexa presidente e o Daniel receba de volta os seus fundos de pensão e beije o big líder, se por acaso o conseguir encontrar no Brasil, porque normalmente está em viagem.
A última foi para oferecer, dar, de graça, ao seu estimadíssimo colega Morales uns trezentos milhõesitos de dólares para ele fazer uma estrada na província que se quer separar do governo central, enquanto por aqui os buracos nas estradas continuam a arejar o interior da Gaia e a rebentar com os nosso amortecedores!
Ah! Já faltava esta notícia, eminentemente ecológica e fraternal: o Brasil vai dar, de graça, OFERECER, de borla, ao Paraguai, uma usina termelétrica, a carvão, as mais poluentes do mundo, a construir em território brasileiro! Só para produzir energia, de borla, DE GRAÇA, para os vizinhos
Diz o ministro que a única paga do lado do Paraguai é... a amizade.
Como é evidente a estrada e a usina vão ser pintadas de vermelho... vivo! Ou morto?
Quando acabei de escrever este artigo, fiz um exame psíquico e o médico achou que eu é que estava louco!
Raramente li um livro que me desse tanto prazer, com a vantagem de ter apenas 82 páginas do tamanho dos habituais «livros de bolso». Do tamanho de um livrinho; da dimensão de um tratado. Mas tive um prazer egoísta porque não passou uma linha com que eu não concordasse; li o que queria ler, não o seu oposto; não tive o prazer da dialéctica, tive o axiomático.
Os dois textos centrais – um de cada co-autor – são antecedidos pelo prefácio de Giancarlo Bosetti e sucedidos pelo posfácio de Jean Baudouin. Objectivamente, quatro textos admiráveis.
Karl Popper (Viena, 1902 – Londres, 1994) é autor de vasta obra literária tanto no âmbito da filosofia como no da genética revelando uma prodigiosa erudição e extraordinária clareza que fizeram dele um dos pensadores mais estimulantes do século XX.
John Condry (não consegui descobrir quando e onde nasceu e presumo que esteja vivo), psicólogo americano, ensinou na Universidade de Cornell e fundou o Centro de Pesquisas sobre os Efeitos da Televisão. Tem vasta bibliografia muito referida na Internet.
Giancarlo Bosetti (não consegui descobrir quando e onde nasceu e presumo que esteja vivo), italiano, dirigente do jornal comunista L’Unitá, fundou a revista Reset. Fez uma entrevista a Karl Popper que ficou célebre, La lezione del Novecento.
Jean Baudouin (não consegui descobrir quando e onde nasceu e presumo que esteja vivo), francês, é professor de Ciências Políticas na Universidade de Rennes. Autor de vários estudos sobre Popper nomeadamente La philosophie politique de Karl Popper.
Tudo se passa em torno da constatação de Popper de que a televisão poderia ser um portentoso instrumento educativo mas não o é porque sacrifica tudo aos níveis de audiência, os que pagam a publicidade que a financia. E para atingir esses níveis de audiência os realizadores de televisão não olham a meios, argumentam com o sofisma «Devemos oferecer às pessoas o que elas esperam» e abdicam mesmo dos princípios éticos sempre que estes se apresentam como escolhos aos objectivos traçados.
Porque não educa e frequentemente deseduca de múltiplas formas e de um modo repetitivo faz a apologia da violência e da razão da força (ganham os bons porque vence o mais forte) em vez de pugnar pela força da razão (ignorando que o vencido poderia ser o dono da razão), a televisão revela-se como uma potente inimiga da democracia cuja mais sublime vocação é a de permitir aos cidadãos que se elevem aos superiores níveis da cultura e, portanto, da dignidade. Sim, já quase nos esquecemos deste objectivo fundamental da democracia pois estamos cilindrados pelo mais badalado – e praticado – que é o relativo aos mais elevados índices de conforto material. Contudo, «nem só de pão vive o homem».
Mas Popper não se queda pelo diagnóstico e pela acusação: preconiza uma solução que pode espantar o leitor incauto, o acesso condicionado ao exercício da profissão de produtor de televisão.
(...) quem participe na produção televisiva deveria ser titular de uma autorização, de uma licença ou de uma carteira que poderia ser-lhe retirada definitivamente se alguma vez agisse em contradição com determinados princípios. (...) A instituição com poder para retirar a licença seria uma espécie de Ordem. (...) a licença só seria entregue após uma formação, seguida de exame. (...) O objectivo desta formação seria levar as pessoas que se destinassem a fazer televisão a compreenderem que iriam participar num processo de educação de alcance gigantesco. Todas as pessoas que viessem a fazer televisão deveriam tomar consciência de que têm um papel de educadores pelo simples facto de a televisão ser vista por crianças e adolescentes. (...) abordando-se com uma atenção especial o risco existente, para as personalidades vulneráveis, de confundir realidade com ficção e os efeitos que estas confusões podem desencadear. - Págs. 25 e seg.
A conclusão aponta no sentido de que (...) a democracia não pode subsistir de uma forma duradoura enquanto o poder da televisão não for totalmente esclarecido (...) e enquanto prevalecer o critério de que «Devemos oferecer às pessoas o que elas esperam», os programas serão cada vez mais medíocres e então (...) só nos resta ir para o Inferno! (...).
Eu axo q os alunos n devem d xumbar qd n vam á escola. Pq o aluno tb tem direitos e se n vai á escola latrá os seus motivos pq isto tb é perciso ver q á razões qd um aluno não vai á escola. Primeiros a peçoa n se sente motivada pq axa q a escola e a iducação estam uma beca sobre alurizadas.
Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto montanhoso? ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? ou cuantas estrofes tem um cuadrado? ou se um angulo é paleolitico ou espongiforme? Hã?
E ópois os setores ainda xutam preguntas parvas tipo cuantos cantos tem 'os lesiades', q é um livro xato e q n foi escrevido c/ palavras normais mas q no aspequeto é como outro qq e só pode ter 4 cantos comós outros, daaaah.
Ás veses o pipol ainda tenta tar cos abanos em on, mas os bitaites dos profes até dam gomitos e a malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem abitos de leitura e q a malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras foi q ele h-xoce bué da rapido e só o 'garra de lin-chao' é q conceguiu assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler tudo qt é livro desde o Camóes até á idade média e por aí fora, qués ver???
O pipol tem é q aprender cenas q intressam como na minha escola q á um curço de otelaria e a malta aprendemos a faser lã pereias e ovos mois e piças de xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar um gravetame do camandro. Ah poizé. Tarei a inzajerar?
Quando ia aos Açores, nas férias, gostava de visitar a casa de minha avó materna. Naquele tempo ela morava no Vale dos Flamengos, região húmida e arborizada, cortada por uma ribeira de águas claras e pedras roliças, onde se instalaram os primeiros povos colonizadores da Ilha do Faial, os flamengos. À entrada da modesta morada, de janelas envidraçadas, resguardadas por cortinas brancas e rendadas, havia um pequeno portão de madeira que dava para um jardim multicolorido. Rosas, cravos, margaridas, dálias, amores-perfeitos, ervilhas de cheiro e hortênsias, de todos os matizes, disputavam lugar com canteiros de couves, alfaces, ervilhas, tomates e ramas de feijões rajados. Embora gostasse do visual, não entendia bem aquela mistura de elementos, que se renovava a cada período específico. Como é que vovó cultivava folhas tão importantes para a alimentação, junto de flores, coisinhas tão vistosas e cheirosas, mas sem nenhuma utilidade, a não ser a beleza? Pensava eu, candidamente. . Só mais tarde, entendi o porquê daquela combinação. Além do pouco espaço para plantar, as flores embelezavam o ambiente, atraíam pássaros, que comiam as lagartas das hortaliças, e chamavam as abelhas, que espalhavam o pólen para se ter mais plantas, flores e mel.
Quem já sentiu a emoção de ganhar rosas vermelhas do seu amado, por certo sabe a força que elas têm. Curiosa, fui pesquisar sobre as flores e, lendo, descobri que foram os ingleses, no século XVIII, que aprenderam com os turcos a linguagem social e romântica das flores, quando o gesto representava mais que a palavra, tornando-a em certas ocasiões até dispensável.
Apreciadas desde sempre, as flores encantaram pessoas, sensibilizaram corações e enterneceram mentes. Na vida e na morte, em todos os momentos importantes, elas foram companheiras inseparáveis. Agradaram, acolheram, despediram, consolaram, seduziram e até rotularam. Enfeitaram casas, templos e túmulos. Emprestaram sua beleza para a aristocracia, como símbolo de nobreza. Quem não conhece a flor de Lis, aquela dos Luizes, símbolo da coroa francesa? E a rosa, a que deu nome à disputa do reino inglês, na Guerra das Rosas, entre as famílias Stuart (rosa branca) e Lancaster (rosa vermelha)?
O poder das flores vai muito além da simbologia romântica e da força comercial que exerce sobre os homens. Sem elas não há vida, como órgãos reprodutores que são, quando num ciclo vital se transformam em frutos e sementes, origem de todo o ser vegetal, base do todo o alimento.
Na saúde têm aplicações imensas, desde a modesta genciana, que trata fungos e bactérias, até a azálea, que mata com seu poderoso veneno. Sem falar da antiquíssima papoula, matéria prima do ópio, actualíssimo problema. As suas tintas coloriram tecidos, cabelos e corpos, em sinal de feitiço e lutas.
Nos lares, dos mais simples aos mais bastados, frequentam as mesas em vistosos arranjos, em apetitosas saladas, em saborosas geleias e delicadas pétalas cristalizadas, em licores e vinhos (sabugueiro e dente-de-leão) deliciosos.
Mas é sem dúvida nos perfumes que mais se destacam, espalhando odores, marcando presença, insinuando amores.
Participaram da História, nos escudos dos bravos, no regaço de rainhas e no peito das damas. Estiveram nas cabeças coroadas. Figuras omnipresentes nas lendas e nos mitos das civilizações humanas. Foram mensageiras dos deuses e protectoras dos homens, como a íris que Hipócrates achava ter capacidade de curar distúrbios de ordem sexual. O certo é que as vovós de muitas gerações usaram o pó da sua raiz para aliviar as dores das gengivas das criancinhas.
Lugares e cidades do planeta Terra deram testemunho da sua importância como Florença na Itália e a Ilha das Flores nos Açores.
Como curiosidade, do livro Linguagem das flores (Sheila Pickles) retiramos o significado simbólico de algumas flores:
Cravo - ai, meu coração
Camélia - beleza perfeita
Margarida - inocência
Gerânio-tristeza
Jasmim-graça e elegância
Íris – mensagem, autoridade,dor
Alfazema - desconfiança
Lírio - pureza
Narciso-vaidade
Amor-perfeito - pensamentos
Prímula-juventude
Rosa-amor
Girassol-altivez
Violeta - modéstia
Amarílis – orgulho
Com tantas mensagens insinuadas na linguagem simbólica das flores, as pessoas deveriam usar mais essas belezas para dar recados. Com certeza, haveria mais harmonia e entendimento.
É sabido que a instrução, em Portugal, só foi tornada obrigatória, sobretudo o 2° grau, depois da revolução de Abril! Era Portugal o país mais atrasado da Europa em nível de alfabetização, apesar de ter sido um dos primeiros a criar estudos superiores, no tempo do grande rei Dom Dinis.
Se assim era na chamada Metrópole, o Ultramar não poderia ter sido melhor!
No entanto, pelo menos em Angola, era grande a preocupação da maioria dos Governos Gerais pelo desenvolvimento da Instrução Pública, que se deparava normalmente com a falta de professores capacitados!
Em meados do século XIX já havia em Luanda alguns advogados, raros, a quem por vezes se pedia que examinassem um ou outro sargento para avaliar da sua capacidade para servir de professor da Instrução Primária!
Por isso é muito curioso o quadro estatístico da Instrução Pública em Angola, no mês de Maio de 1848:
Loanda Aula de Gramática Latina Nativos Europeus Total
Existiam8 0 8
Sahiram 1 0 1
Existentes7 0 7
O professor A. da Conceição Carvalho e Rego
Aula de Instrução Primária Brazil NativosEuropeus Total
Existiam 1 125 14 140
Sahiram 02 1 3
Entraram 012 012
Existentes 1 135 13 149
O professor interino, Casemiro José Fernandes
Aula de MeninasNativos Europeus Total
Existiam 10 1 11
Sahiram1 0 1
Entraram 3 0 3
Existentes 12 1 13
A Mestra Régia D. M. Augusta de Carvalho
Benguela Aula de Instrução Primária NativosEuropeus Total
Existiam 40 0 40
Sahiram 0 0 0
Existentes 40 0 40
O professor interino J. Correia da Conceição
São José do EncogeNativosEuropeus Total
Existentes 27 0 27
O professor Manuel Nunes Dias
Muxima Aula de Instrução PrimáriaNativos Europeus Total
Existiam 59 0 59
Sahiram 1 0 0
Entraram 9 0 9
Existentes 67 0 67
O professor Balthazar de Silva e Sousa
in Boletim Official do Governo Geral da Província de Angola, nº 167, de 9/Dez/1848
Não se pode afirmar que se desprezou o ensino nas colónias. Se ele era pouco mais do que inexistente em Portugal! Haverá todavia muitos xenófobos que não vão gostar de saber isto (e muitas outras coisas) mas é só consultar as fontes e verificar a veracidade da informação!
E ainda diz o mesmo "Boletim" que do Duque de Bragança "faltou o mapa deste mês"! É bom notar que nessa altura o Ambriz era pouco mais do que terra de ninguém, onde os americanos, a quem os ingleses nada podiam fazer no controle dos navios negreiros – nem lhes interessava, claro! - continuavam a traficar e a levar gente para o Caribe e Estados Unidos, Malange... tinha somente dois ou três comerciantes e em Moçâmedes, Namibe, procurava-se um "sargento" que pudesse desempenhar a docência...
E as festas no Palácio do Governador nos dias dos aniversários da Rainha, dos Príncipes, nas festas religiosas, etc?
O conhecido poeta e escritor angolano Mário António, num artigo intitulado "Música e danças tradicionais em Luanda", publicado no "Boletim Cultural da Câmara Municipal de Luanda, nº 11, de Abril a Junho de 1966, afirma que o médico italiano Tito Omboni, autor de uma "Viaggi nell'Africa Ocidentalle", editada em Milão em 1848, "se sentiu pouco à vontade num baile no Palácio do Governo de Luanda, à vista de tantos mestiços e negros divertindo-se na contradança francesa..."
Era assim Angola dos tempos antigos. Muito antigos, sobretudo depois que se aboliu o tráfico de escravos que, apesar de ter abalado o "comércio" daquela terra, não esfriou o entusiasmo e o sentido de humanidade, que tão bem Gilberto Freyre encontrou no português e que hoje se procura denegrir.
Alguém ouviu falar em bailes nos palácios dos governos ingleses, em meados do século XIX, com aquele colorido de gente?
(Notas extraídas do livro "A Velha Loanda" de José de Almeida Santos, Luanda 1972)
E evoluem a partir de uma base através de um processo etimológico-fónico. Essa evolução pode ser mais ou menos elaborada conforme feita por uma de duas vias: a erudita ou a popular. É frequente coexistirem expressões com a mesma origem que evoluíram em paralelo por cada uma dessas vias. Por exemplo, têm actualmente plena legitimidade expressões alternativas como «morto» e «morrido» ou «matado» e como «frito» e «fritado». Os exemplos são tantos que seria fastidioso estender o rol.
Ou seja, a cátedra fica-se hoje pelos mesmos direitos que a rua mas aquela sabe o que diz enquanto esta repete o que ouve e frequentemente deturpa pelo que lhe soa. Isto é, a via erudita respeita a base etimológica enquanto a via popular segue sobretudo a base fónica.
A reconhecida igualdade de direitos entre as duas vias resulta claramente da necessidade sentida por alguém de legalização duma delas – a popular – que até há pouco tempo representava a larguíssima maioria da população. Basta-nos recordar que aquando da implantação da República (1910) o analfabetismo adulto rondava os 90% da população residente, que em 1974 essa taxa ainda era de 25% e que hoje, 2008, ainda devemos padecer de uns 4 ou 5%. Ou se legalizava a via popular ou se ilegalizava a maioria da população... ao contrário do que alguém terá dito nos tempos soviéticos: «O povo não concorda com o Comité Central, mudemos de povo».
Então, no que ficamos? O que mais vale?
A resposta só pode ser uma: há que optar pela educação ou pela falta dela.
Mas como nesta sociedade post-moderna em que vivemos o que prevalece é o alcance das metas sem grande preocupação com os meios para atingir esses fins, havia que arranjar estatísticas nivelando por baixo para nelas cabimentar uma sociedade avessa à erudição, desconfiada dos Doutores que equipara aos burros carregados com livros.
Mas se até os navegantes sentem necessidade de faróis e bóias sinalizadoras, como poderemos encarar o futuro da nossa língua se sucessivamente desprezarmos a etimologia e optarmos pela sonoridade?
Camões e Fernando Pessoa têm versos que parece terem sido escritos a semana passada e os mais conhecidos escritores dos PALOP’s escrevem em português europeu. Ou seja, a erudição lusófona tem uma claríssima tradição europeia e uma parte importante da erudição brasileira é pertença da mesma escrita. Em todos os escritores de renome, as expressões populares são maioritariamente reservadas ao discurso directo, raramente ao indirecto e praticamente nunca às partes descritivas.
E como a erudição popular não existe, essas expressões mais vernáculas acabam por desempenhar nos textos literários a função folclórica e são sobretudo registadas como a forma que o autor escolheu para lhes garantir a vida para além da morte: - Naquele tempo e naquele lugar falava-se assim... Verdadeira visita a museu da língua, para não dizer que se trata da visita a algum jardim zoológico.
Daqui resulta uma reacção negativa por parte da erudição portuguesa face ao Acordo Ortográfico agora ratificado: se perdermos o padrão, nunca uma variante se imporá como norma pois não faltarão regionalismos que não farão sentido noutras regiões. Basta recorrermos ao calão actual da juventude portuguesa para deixarmos qualquer plateia escolástica perturbada com a eventualidade de um novo Acordo Ortográfico que dê abrigo a essa variante agora já tão legitimável como qualquer outra.
Não é por os carregarmos de livros que eles serão Doutores e à mesa dos eruditos não são chamadas a savana, a favela nem o Cais do Sodré. Temos que os educar para que subam à nossa mesa, não somos nós que nos devemos baixar. Para não referir os interesses comerciais que o fundamentam, o actual Acordo Ortográfico é favelar.
Uma forte desaceleração da economia mundial tornou-se inevitável; há quem diga que o pior virá depois de Agosto
Os chineses são muito supersticiosos. A abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim se dará num dia 8, número perfeito. De Agosto, mês 8 de 2008. Pelo que sei, às 8 horas, 8 minutos e 8 segundos.
Se depender da numerologia, dará tudo certo.
Não obstante tanta sorte encomendada, há uma dúvida crescente sobre o depois. "Após as Olimpíadas", me disse, compenetrado, o diretor de commodities da poderosa Bolsa Mercantil de Chicago, "tudo será diferente; é outra coisa". Mesmo? Uma sombra se espalha sobre o que pode ocorrer na China e na economia mundial.
As cotações da Bolsa de Xangai não respeitaram a Olimpíada: cravaram 50% de queda em relação ao pico do índice, ao final de 2007. E as Bolsas americana e europeia fecharam o pior semestre em muitos anos. O resultado de ontem, 1 de Julho, continuou muito ruim. Uma forte desaceleração da economia mundial tornou-se inevitável. O nome é conhecido: estagflação.
O cenário actual - "lúgubre", como diria conhecido economista - não estava nem nas piores expectativas de Alan Greenspan, quando usou a expressão "Nova Economia" para descrever a bonança que se desenhava até a virada do milénio.
Greenspan acreditou, ou disse aos outros que acreditava, numa nova força estabilizadora dos ciclos económicos, capaz de deter as caídas recessivas ou depressivas, com injecções cuidadosas de liquidez e juros bem baixos. O Fed usou essa "pedalada" de juros para esticar a fase eufórica da economia americana várias vezes na sua gestão à frente do Board (1987-2005).
Vozes críticas aos excessos de liquidez, como a de Paul Volcker, seu antecessor no Fed, foram caladas pela mídia, diante das definitivas explicações do mago Alan sobre como a vibrante economia mundial conseguira o "match" perfeito, entre americanos consumindo, guerreando e se endividando, enquanto asiáticos produziam as manufaturas e financiavam os "bonds" do Tesouro dos EUA. Como actores coadjuvantes, nações provedoras de commodities minerais e agrícolas - como o Brasil, a Austrália, o Canadá, a Argentina e a Rússia, além de países ricos em petróleo- entraram em cena produzindo mais e forrando-se de dólares em suas reservas. Mesmo o Brasil, secularmente desatento às oportunidades mundiais, foi literalmente "atropelado" pelo sucesso, a partir de 2003.
Sorte de Lula!
Só não combinaram com o sistema financeiro para moderar suas apostas no futuro. O lado cruel do ciclo económico mostrou a cara quando os compromissos dos americanos com o pagamento de imóveis financiados a perder de vista, com prestações reajustáveis pela inflação, passaram a explodir o orçamento do endividado cidadão. O recuo da construção civil nos EUA generalizou -se em 2007 e os números do desemprego, agora, espalham-se.
Como quase sempre ocorre na fase do ajuste, os custos de produção repicam para cima mas as receitas futuras das empresas encolherão. Com a rentabilidade esperada em baixa, tome desemprego...
Para fazer seu dever de casa, os bancos americanos e europeus precisam de se recapitalizar face às suas posições alavancadas e suas apostas temerárias. O Fed já gastou meio trilhão de dólares socorrendo o sistema bancário.
A onda inflacionária que bate na economia brasileira é só a parcela inicial da conta do ajuste mundial que o sucessor de Greenspan terá que manejar. Há quem diga que o pior, só depois de Agosto.
O Museu da Poesia, inaugurou no dia 19 de Julho, o seu sítio na Internet no endereço www.museudapoesia.com. Aí, pode encontrar diversas propostas no âmbito da literatura poética, enviar e ler os poemas dos visitantes do sítio, conhecer eventos, espectáculos e recitais de poesia de autores de língua portuguesa, inscrever-se em Workshops de "Arte de Dizer" e "Escrita Poética", além de poder ouvir alguns poemas, na voz do Diseur Nuno Miguel Henriques.
O Museu da Poesia possui serviços educativos com várias propostas pedagógicas inovadoras e criativas para estudantes do ensino entre o 6º e o 12º ano e Universidades da Terceira Idade, descentralizadas geograficamente.
O Museu da Poesia pretende homenagear e prestigiar todos aqueles que, de algum modo, contribuíram para a lírica e a poética na literatura escrita, oral e multimédia.
O Museu da Poesia é hoje uma realidade, fruto do somatório de vivências e experiências que esperam materializar-se num curto espaço de tempo.
Quando mantemos usos, costumes e valores, herdados dos nossos antepassados, através da repetição, dizemos que é uma tradição. Quando percebemos a fleuma saxónica, o fatalismo oriental, o fetichismo africano, o utilitarismo americano, a hospitalidade brasileira, estamos conferindo aspectos especiais à conduta de um povo que vai lhe imputar, de uma maneira geral, características culturais.
No Brasil, cada região tem uma marca registada, de acordo com a influência do povo que a colonizou. Em Santa Catarina , mais precisamente na região litorânea e na capital, Florianópolis, as tradições açorianas deitaram raízes tão fortes, que perduraram mais ou menos intactas, ao longo destes mais de dois séculos no sul do país, a ponto de que hoje o resgate dessa cultura, em certas ocasiões, tome caminho inverso. Como o caso da nossa prezada e graciosa amiga, professora, socióloga e escritora Lélia Pereira da Silva Nunes, catarinense de Tubarão, açoriano-descendente, personalidade de destaque no panorama cultural do estado de Santa Catarina que, com frequência, é convidada para encontros culturais em Portugal, em especial nos Açores, aonde dá testemunho das histórias e da cultura popular açoriano-catarinenese, através de palestras, livros e trabalhos editados.
Caminhos do Divino
No culto aos santos, em especial ao do Espírito Santo, nos costumes de fundar Irmandades e Associações, nos hábitos de fazer de procissões, no gosto pela musica de viola e festas populares de caráter quase sempre religioso, no apreço pelos folguedos, encontros e confraternizações, no prazer da mesa sempre farta, no respeito e amor incondicional à família, nos arraigados valores e julgamentos, no amor pelo seu rincão natal, o açoriano, nas terras catarinenses, viu renascer as antigas tradições do seu povo.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 13/07/08
Foto encontrada no livro Caminhos do Divino (de Lélia Pereira da Silva Nunes)
A economia portuguesa é uma das mais flexíveis e dinâmicas do mundo. Esta frase, hoje tão controversa e quase contraditória, permanece indiscutivelmente verdadeira. As provas são fáceis de apresentar.
Portugal tem sido um sucesso notável de desenvolvimento registando, no produto por habitante em paridades de poder de conta, a oitava taxa de crescimento mais elevada do mundo na média de 1960 a 2001. Só sete países no planeta melhoraram mais que nós na segunda metade do século XX. Na União Europeia, o "bom aluno luso" ainda é exemplo: mantém-se como uma das economias pobres que mais se desenvolveu nos primeiros três anos após a adesão, só atrás dos três bálticos e Eslováquia. Além disso, nos 20 anos de 1980 a 2001, tivemos a taxa de desemprego mais baixa da Europa do Sul e a terceira mais baixa dos Doze da UE.
Outros sinais são claros. O nosso país permanece a única economia mundial onde um plano de estabilização do FMI correu bem. Aliás, por duas vezes, em 1977 e 1983. Em ambos os casos, a austeridade funcionou rapidamente, resolvendo o desequilíbrio em menos de três anos. Na sequência, conseguimos ser um dos poucos países a viver 13 anos no sistema cambial de crawling-peg, mecanismo que conta mais fiascos que sucessos na sua história. É precisa muita flexibilidade para sustentar a rigidez dessa disciplina.
Também os importantes fluxos migratórios, característica histórica hoje renovada, são sintomas dolorosos do mesmo dinamismo e flexibilidade. A enorme emigração lusa dos anos 50 e 60 bateu recordes mundiais, com valores só ultrapassáveis por casos de catástrofes naturais. Por outro lado, os episódios de imigração, quer no regresso dos "retornados" em 1975 quer desde a viragem do milénio também são fenómenos em escala incomparável, absorvidos na sociedade com custos elevados mas sem perturbações de maior. Até algumas das chamadas "chagas", como a precariedade do emprego e economia paralela, são evidentes sinais de flexibilidade.
Muitas outras provas poderiam ser aduzidas para substanciar a afirmação. Ela sente-se na recente e incrível transformação estrutural no produto, emprego e comércio externo. Em 35 anos absorvemos 40% da população activa, que estava na agricultura em 1950. Em 15 anos substituímos 20% das nossas exportações, que em 1990 eram têxteis. Hoje as mudanças continuam evidentes, com o crescimento dos serviços e o aparecimento de novos sectores. Se é assim, porque estamos em crise há tanto tempo?
Existe uma serpente neste paraíso, uma Dalila para este Sansão, uma kryptopnite deste Superman. O País que fundou o mais longo e vasto império colonial da História, que defrontou com sucesso a EFTA, a CEE e o mercado único, conhece bem o veneno que corroeu os sucessos iniciais nessas realizações. Não é difícil compreender porque os dois trunfos do nosso desenvolvimento, flexibilidade e improvisação, não têm hoje os resultados de outros tempos. Contra eles conspiram múltiplas forças paralisadoras, as mesmas que nos bloquearam no passado. Enorme camada de parasitas suga o progresso.
Os portugueses, que se excedem nos momentos de dificuldade, costumam cair numa modorra quando tudo corre bem. Após o obstáculo, onde revelámos o nosso melhor, deslizamos para a complacência e cumplicidade, pela instalação dos interesses, bloqueio das corporações, paralisação das burocracias. A economia portuguesa continua tão dinâmica e flexível como sempre. A globalização impõe hoje, como no passado, uma reestruturação, que se verifica. Mas muito lentamente. O motor está atrelado a um peso morto que tem de arrastar: regulamentos e portarias, burocratas e mandarins, impostos e multas, fiscais e inspectores, directivas e diuturnidades, direitos adquiridos e justas reivindicações.
Nos reinados de D. Fernando, D. João III e D. João V, nos consulados do Duque de Loulé, António José de Almeida e desde António Guterres, "um fraco rei faz fraca a forte gente" (Os Lusíadas III, 138). Porque a forte gente se deixou adormecer na apatia das repartições.