A nossa poetisa Cecília Meirelles apresentava traços fortes e profundos que sua origem genética açoriana não nega. Como dizia Vitorino Nemésio, ao falar do ilhéu, tinha “uma universal inquietude” e uma visão poética influenciada pela raiz cultural e mística, passada pela avó micaelense que a criou. A consciência ancestral e depressiva da fragilidade humana, a fatídica preocupação em demonstrar o mutável, o efêmero da vida. Buscava no mar, de uma forma sublimada, a sua raiz, seu caminho. Neste poema vemos o espírito ilhéu de Cecília
Mar Absoluto
Cecília Meireles
Foi desde sempre o mar, E multidões passadas me empurravam como o barco esquecido.
Agora recordo que falavam da revolta dos ventos, de linhos, de cordas, de ferros, de sereias dadas à costa.
E o rosto de meus avós estava caído pelos mares do Oriente, com seus corais e pérolas, e pelos mares do Norte, duros de gelo.
Então, é comigo que falam, sou eu que devo ir. Porque não há ninguém, tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos.
E tenho de procurar meus tios remotos afogados. Tenho de levar-lhes redes de rezas, campos convertidos em velas, barcas sobrenaturais com peixes mensageiros e cantos náuticos.
E fico tonta. acordada de repente nas praias tumultuosas. E apressam-me, e não me deixam sequer mirar a rosa-dos-ventos. "Para adiante! Pelo mar largo! Livrando o corpo da lição da areia! Ao mar! - Disciplina humana para a empresa da vida!" Meu sangue entende-se com essas vozes poderosas. A solidez da terra, monótona, parece-mos fraca ilusão. Queremos a ilusão grande do mar, multiplicada em suas malhas de perigo.
Queremos a sua solidão robusta, uma solidão para todos os lados, uma ausência humana que se opõe ao mesquinho formigar do mundo, e faz o tempo inteiriço, livre das lutas de cada dia.
O alento heróico do mar tem seu pólo secreto, que os homens sentem, seduzidos e medrosos.
O mar é só mar, desprovido de apegos, matando-se e recuperando-se, correndo como um touro azul por sua própria sombra, e arremetendo com bravura contra ninguém, e sendo depois a pura sombra de si mesmo, por si mesmo vencido. É o seu grande exercício.
Não precisa do destino fixo da terra, ele que, ao mesmo tempo, é o dançarino e a sua dança.
Tem um reino de metamorfose, para experiência: seu corpo é o seu próprio jogo, e sua eternidade lúdica não apenas gratuita: mas perfeita.
Baralha seus altos contrastes: cavalo, épico, anêmona suave, entrega-se todos, despreza ritmo jardins, estrelas, caudas, antenas, olhos, mas é desfolhado, cego, nu, dono apenas de si, da sua terminante grandeza despojada.
Não se esquece que é água, ao desdobrar suas visões: água de todas as possibilidades, mas sem fraqueza nenhuma.
E assim como água fala-me. Atira-me búzios, como lembranças de sua voz, e estrelas eriçadas, como convite ao meu destino.
Não me chama para que siga por cima dele, nem por dentro de si: mas para que me converta nele mesmo. É o seu máximo dom. Não me quer arrastar como meus tios outrora, nem lentamente conduzida. como meus avós, de serenos olhos certeiros.
Aceita-me apenas convertida em sua natureza: plástica, fluida, disponível, igual a ele, em constante solilóquio, sem exigências de princípio e fim, desprendida de terra e céu.
E eu, que viera cautelosa, por procurar gente passada, suspeito que me enganei, que há outras ordens, que não foram ouvidas; que uma outra boca falava: não somente a de antigos mortos, e o mar a que me mandam não é apenas este mar.
Não é apenas este mar que reboa nas minhas vidraças, mas outro, que se parece com ele como se parecem os vultos dos sonhos dormidos. E entre água e estrela estudo a solidão.
E recordo minha herança de cordas e âncoras, e encontro tudo sobre-humano. E este mar visível levanta para mim uma face espantosa.
E retrai-se, ao dizer-me o que preciso. E é logo uma pequena concha fervilhante, nódoa líquida e instável, célula azul sumindo-se no reino de um outro mar: ah! do Mar Absoluto.
Final da 5ª parte: As relações tradicionais e os compromissos recentes entre a Metrópole e a Inglaterra indicavam que tudo poderia ser obtido por negociações, cujas bases estavam lançadas e eram ajudadas pelas circunstâncias, inclusive a de estar a Metrópole sob ocupação francesa. Com o Brasil era preciso estabelecer as relações de soberano e subalterno e exigir obediência a ser paga como preço da protecção a que o Ministro Strangford se referira em sua correspondência a Conning, ainda em Lisboa. Conquistada essa posição no Brasil, a Inglaterra faria base aqui e lançar-se-ia à conquista do mercado platino nas melhores condições e conforme as circunstâncias, utilizar Portugal e o Brasil para alcançar os seus objectivos. A ideia do porto em Santa Catarina obedecia a essa finalidade.
Parte 6: A abertura dos portos
A abertura dos portos efectivada na Bahia a 28 de Janeiro de 1808, só pode ser compreendida no contexto dos acontecimentos que constituem o processo de expansão mercantil britânica e, em particular, o da conquista do mercado brasileiro. A decisão foi tomada pelo príncipe em Salvador. A abertura dos portos consentida em carácter provisório e apenas em relação a alguns ancoradouros, surgia como imposição natural. Evitá-la ou protelá-la seria concordar no bloqueio da colónia.
O governo português recusou ratificar a disposição relativa ao porto na ilha de santa Catarina, que os ingleses pleiteavam. A protelação aconteceu em decorrência de sucessivos acontecimentos que exigiu as atenções e providências mais urgentes.
A abertura dos portos não se identificou com a intenção de beneficiar o Brasil, mas com a necessidade de dar continuidade às relações comerciais com o exterior, dele recebendo as mercadorias indispensáveis e destinando-lhes aquelas da produção local, além de proporcionar ao erário os tributos sem os quais não se poderia manter. O acto foi benéfico à Colónia, não resultou da intenção de beneficiá-la mas, sem dúvida, beneficiar a Inglaterra, que ficava com o monopólio comercial externo brasileiro. Quando esse comércio deixou de beneficiar aquele país, devido a alteração nas circunstâncias, impôs o tratado de 1810, que lhe deu as condições que as novas circunstâncias haviam retirado.
A Colónia negociava directamente com o exterior pela primeira vez, mas não com os seus capitais, que não os tinha, nem com os seus navios que também lhe faltavam. O comércio crescia desde a abertura dos portos e em consequência da estrutura colonial de sua economia, o Brasil precisava vender para poder comprar. O Rio de Janeiro tornou-se o grande entreposto colonial. Ao seu porto afluíam mercadorias que de lá eram distribuídas pela costa da Bahia a Montevideu e para o norte. Recebia variedade de mercadorias da Europa, da Índia, da China, de Angola e Moçambique, apesar de na época o mercado consumidor ser limitado.
vDesde há anos que o terreno nos mercados do crude (o mercado à vista e os mercados a prazo) está coberto de restolho. Restolho que alguns Bancos Centrais (com o FED à cabeça) têm vindo a aspergir com o material mais ígneo que se conhece: a liquidez.
vMas foram os capitais que não cessam de afluir ao mercado, e a pressão cada vez maior sobre os investidores institucionais para que apresentem taxas de retorno decentes, a chama que pôs tudo aquilo a arder. Uma fogueira que arderá até consumir liquidez, capitais e poder de compra.
vPara perceber o que se passa por cá, é conveniente conhecer um pouco da economia do petróleo. Quatro tópicos bastam:
vA refinação do crude é um processo de co-produção de onde saem, inevitavelmente, como que de braço dado, “voláteis” (etano, propano, etc.), “naftas” (gasolinas, etc.) e “pesados” (gasóleo, thick fuel, asfaltos) – e, por vezes, um sub-produto residual (o coque de petróleo);
vO tipo de crude determina o peso relativo dos co-produtos no refinado (peso relativo esse que se designa por “composição do barril”);
vNão é frequente as refinarias, principalmente as mais antigas, poderem processar todos os tipos de crude disponíveis no mercado (por exemplo, a refinaria de Sines, nos seus primórdios, não podia refinar o crude de Cabinda, por ser demasiado “pesado” - o que diz bem da qualidade dos nossos planeadores encartados);
vEnfim, a gestão de uma refinaria pode fazer variar o peso relativo dos seus co-produtos, mas sempre dentro de limites particularmente estreitos – limites esses completamente determinados pela composição do barril que estiver a ser refinado e pelas características técnicas dos equipamentos existentes.
vE cá vai mais uma das nossas muitas singularidades. A gestão das refinarias portuguesas há muito que tem de atender ainda a uma terceira condicionante: a política fiscal.
vO paradoxo arrepia, mas ninguém parece preocupado: (1) no mercado internacional, o gasóleo, por ser mais escasso, é mais caro do que as gasolinas; (2) nós, porém, importamos gasóleo e exportamos gasolinas, não porque a capacidade de refinação instalada seja insuficiente, mas porque não existe tancagem que dê para armazenar as gasolinas co-produzidas, que o mercado interno não absorve e que o mercado externo, aliás, paga mal; (3) o mercado interno prefere o gasóleo à gasolina porque esta, cá dentro, é tradicionalmente mais cara; (4) e é mais cara, não porque custe comparativamente mais produzi-la (na realidade, até custa menos), mas porque suporta uma carga fiscal superior à do gasóleo. Nisto estamos.
vNo tempo dos combustíveis tabelados, o preço de referência do crude para refinação era obtido através de uma fórmula em que uma das parcelas reflectia o custo do transporte por mar. Que todo o crude provinha do Golfo Pérsico pressupunha a fórmula – e era com base no custo do frete Golfo Pérsico/Roterdão que as contas se faziam.
vSó que – o grosso das importações de crude não vinha de tão longe, nem fazia tão longa viagem. Como é bem de ver, nem a fórmula, nem os preços tabelados se preocuparam alguma vez com semelhantes detalhes.
vVemos assim que a manipulação mais grosseira de todas as parcelas que formam o preço final dos combustíveis tem, entre nós, direitos adquiridos. E que um dos dedos mais manipuladores e atrevidos é justamente o do Fisco.
vA gasolina que se consome hoje em Portugal é, na sua maior parte (uns 90%), produzida e fornecida pela GALP, que abastece, quer a rede de retalho própria (diz-se “sob embandeiramento próprio”), quer os restantes distribuidores. Estes, por sua vez, colocam-na nos postos que têm sob o seu embandeiramento.
vApesar de, em determinadas épocas do ano, o preço das gasolinas no mercado internacional alinhar pelos custos varáveis de produção, os distribuidores (não a GALP, obviamente) não aproveitam desse facto por quatro ordens de razões: (1) não existe, por cá, tancagem livre suficiente; (2) o mercado potencial de cada distribuidor, na presença da GALP, não justifica o investimento em tancagem própria; (3) a dimensão do mercado interno, com a estrutura actual, também não justifica que eles se ponham de acordo para investir num parque de tanques comum; (4) tente o Leitor, julgando ver nestes distribuidores apetecíveis clientes “naturais”, explorar o negócio da tancagem logística de combustíveis.
vE com o gasóleo é igual, apesar de a componente importada ser um pouco maior.
vSó um legislador em delírio é que poderia acreditar que de uma tal estrutura de mercado brotasse um ambiente de concorrência exemplar. Quando, para todos os efeitos, existe um só fornecedor, a cartelização é uma fatalidade, não uma tramóia.
vTradicionalmente, as refinarias formam os preços dos refinados tendo por base o preço dereposição dos seus stocks de crude – e daí não virá mal ao mundo. A concorrência nos mercados dos refinados estabelece-se, então, em torno: (1) da composição do barril que cada refinaria processar; (2) das condições técnicas de refinação; (3) do maior ou menor acerto no peso relativo de cada co-produto; e (4) do maior ou menor controlo sobre os custos (aprovisionamento, produção e logística).
vVariáveis bastantes para gerar um clima de sã - mais do que sã, aguerrida concorrência nos mercado mundiais do crude (e dos refinados) e para fazer surgir mercados financeiros eficientes, onde são transaccionados activamente instrumentos que têm subjacente o crude (e vários dos seus refinados).
vVisto tudo isto, creia-me Leitor que no meio do bruá-á que por aí vai, só duas questões merecem ser debatidas:
vComo assegurar a transparência dos preços finais num mercado pequeno e com um só fornecedor (as importações são marginais)?
vComo vigiar para que a regra do preço de reposição seja escrupulosamente cumprida em todas as circunstâncias – e não apenas quando convém a esse fornecedor?
vO mais é só fumaça...Erre-se numa qualquer, numa só destas duas questões (e eu aposto que vem aí uma das tais respostas astuciosas que deixam tudo na mesma) e só em Eça encontraremos refúgio e consolo:
O povo paga e reza. Paga aos que o exploram e reza aos que o enganam.
(Lourenço Marques, 28 de Maio de 1922 - Maputo, 6 de Fevereiro de 2003)
«Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto[1]. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José. Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato...
A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros.
Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: seu irmão.
E a partir de cada nascimento, eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terrra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe preta.
Nasci ainda outra vez no jornal O Brado Africano. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noémia de Sousa.
Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por parte de minha mãe, só resignação.
Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.
Minha grande aventura: ser pai. Depois, eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.
Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes, altas horas a noite.»
vO povo barafusta porque os preços da gasolina e do gasóleo não param de subir.
vOs transportadores barafustam porque não conseguem repercutir nas tarifas que praticam os aumentos no preço dos combustíveis que têm vindo a suportar.
vOs retalhistas barafustam porque uma fatia cada vez maior da revenda de combustíveis líquidos está a ser perdida para Espanha.
vA GALP, acusada não se sabe muito bem de quê, sente-se injustiçada – e barafusta também.
vOs restantes distribuidores não barafustam, encolhem os ombros - e murmuram umas coisas vagas.
vO Governo, esse, medita - dividido entre dois sentimentos contraditórios: mais receita fiscal que acabará por arrastar mais despesa pública, como ele bem sabe.
vPor onde andará a racionalidade de tudo isto? Andará, se bem vejo, por causas remotas e por causas próximas, tanto externas como muito nossas. Vejamos quais.
vExternamente, à oferta de crude vinha a apetecer-lhe, de há uns tempos a esta parte, umas subidas de preços. Não eram só os países exportadores a queixarem-se de que já tinham conhecido melhores dias. Nem os fabricantes de equipamentos para a fileira do petróleo a deitarem contas à vida porque os investimentos por essas bandas andavam meio parados.
vEram também as grandes petrolíferas ocidentais que tinham sido apanhadas numas pequenas falcatruas contabilisticas: distraídas, continuaram a registar nos seus Balanços jazidas de crude (e gás natural) que não era rentável explorar aos preços de então - e isso violava gravemente normas em vigor nas Bolsas onde estavam cotadas.
vOra, a subida do preço do crude viria mesmo a calhar: (1) permitir-lhes-ia contabilizar como reservas conhecidas jazidas até então mantidas fora do Balanço; (2) reforçaria as respectivas estruturas financeiras, um pouco depauperadas com os ajustamentos contabilísticos que lhes tinham sido impostos; e (3) dispensaria boa parte dos aumentos de capital que as autoridades de supervisão não cessavam de lhes exigir.
vEnfim, a guerra do Iraque teria de ser paga – e lá só há crude por onde pagar. Quanto mais elevado estivesse o preço do crude, mais depressa a guerra ficaria paga (ou o custo de mantê-la ficaria amortizado), sem deixar nos iraquianos a sensação desagradável de estarem a ser espoliados.
vEm data mais recente, o anúncio, um tanto exagerado, mas habilmente esgrimido, de que estavam à porta mil e trezentos milhões de chineses e quase outro tanto de indianos a exigirem o seu quinhão de crude e prontos a consumirem-no como norte-americanos, fez o resto. E o resto foi criar nas economias desenvolvidas uma paranóia de escassez.
vO golpe decisivo veio, porém, dos investidores institucionais. Escaldados no mercado das acções (a “bolha” dot.com), escaldados no mercado imobiliário (a crise dos créditos hipotecários subprime e não só), restava-lhes os mercados das commodities, suficientemente líquidos e bem organizados, para cuidarem das suas vidas - antes de se lançarem de cabeça no jogo suicida da especulação cambial.
vE que melhor commodity para especular (isto é, para correr riscos elevados na expectativa de ganhos ainda mais elevados) do que aquela que faz girar a economia mundial, cujo mercado vivia em equilíbrio algo instável, em que a oferta anunciava vezes sem conta que não conseguiria responder de imediato a eventuais acréscimos da procura e onde começava a instalar-se um sentimento de escassez?
vA tentação dos investidores puros e duros era irresistível: (1) tirar partido da lógica dos contratos “de futuros” sobre crude, onde é possível fazer e desfazer posições (quer compradoras, quer vendedoras) a qualquer momento; (2) aceder a ganhos fortemente alavancados; e (3) constituir com dinheiro emprestado as contas margens que são necessárias para operar nos mercados “de futuros” pagando as taxas de juro extremamente baixas que a política monetária do FED tem vindo a praticar com desvelo.
vPara se fazer uma ideia do esquema: uma posição de USD 100 no mercado “de futuros” exige uma margem inicial de não mais que USD 6; se esta margem inicial for totalmente financiada em USD, como é usual, o custo efectivo de a manter durante seis meses será de 6x3%x6meses/12meses = 0.09 (9 cêntimos); uma variação favorável de 10% no valor da posição (o preço do activo subjacente) corresponderá a um proveito bruto de USD 10 com um custo de 9 cêntimos - ou seja, um lucro limpo de 11000%, só em 6 meses!
vQuem voltaria as costas a uma oportunidade destas, quando o sentimento do mercado era que o preço do crude, daí em diante, só poderia subir? Mas, acima de tudo, quando não se avistavam alternativas de investimento credíveis no horizonte?
vO sentimento, algo manipulado, de escassez; a liquidez no sistema financeiro internacional, que a há em abundância; a sobreliquidez de muitos investidores internacionais, designadamente dos Fundos de Pensões; e a ineficiência dinâmica nos mercados financeiros denominados em USD - levaram o mundo ao ponto em que nos encontramos hoje. (cont.)
Guardiões da cultura açoriana na Ilha de Santa Catarina, os manezinhos estão desaparecendo empurrados pela onda de migrantes gaúchos, paulistas, brasileiros de outras plagas e estrangeiros que vêm em busca de uma vida mais calma, junto ao mar e à natureza. Os políticos, ambiciosos, facilitam e estimulam a expansão imobiliária e industrial, a qualquer preço, em nome da modernidade e do desenvolvimento. Esquecem o passado dessa gente, ignoram o risco do desrespeito ao meio ambiente.
Eles chegaram há mais de 260 anos atrás em busca de um pedaço de chão que lhes desse paz, segurança e pão. Fugiam da miséria que a superpopulação e os vulcões dos Açores lhes infringiam periodicamente. Sozinhos, aos poucos esquecidos e abandonados pelas autoridades, tiveram que vencer toda a sorte de privações e dificuldades. Ainda mais uma vez, nestas terras brasileiras, a vida não lhes seria fácil. Para sobreviver agregaram-se em grupos familiares e comunidades de mesma origem. Abriram matas cerradas, venceram a hostilidade dos índios e aprenderam com eles novas técnicas de cultivo, caça e pesca. Com as sementes, um facão e uma enxada, dados pelo governo, construíram nas suas quadras de terreno rústicas casas, fizeram roças e plantaram hortaliças. Aprenderam a utilizar a mandioca, no lugar do trigo, para ter a farinha, usando a tecnologia daqui e a que traziam do velho continente. Tiraram do mar, o peixe para seu alimento. Fizeram da caça à baleia, das rendas de bilro, do artesanato e da criação de gado meios econômicos de sustento. Místicos, usavam as raízes e a bruxaria para tratar e afastar os males físicos e imaginários. Tinham medo de assombração. Erigiam igrejas em homenagem aos santos, faziam procissões marítimas em louvor a Nossa Senhora dos Navegantes, comemoravam com festas o Divino Espírito Santo.
Os colonizadores açorianos vieram em levas, alguns individualmente. O Brasil precisava ocupar espaços, demarcar e defender as fronteiras. Os portugueses eram poucos para tanta terra conquistada. A solução veio com a colocação dos mais pobres e sofridos, os oriundos da periferia portuguesa (ilhas, regiões ultramarinas e mais pobres do reino), nessas áreas. Vinham também degredados políticos e criminosos, além de nobres de segunda linha para postos administrativos e de comando.
Em 1619 aportaram ao Maranhão 200 casais de colonos açorianos. No Pará, em 1666, chegaram mais outros 200. No final do século XVIII desembarcaram mais mil pessoas. Mas o maior contingente deles foi para Santa Catarina. De 1748 a 1756 chegaram 6071 almas que se juntaram às 4197 pessoas já lá existentes. Dessas, 1400 migrariam para a região mais meridional do pais, dando inicio à colonização do Rio Grande do Sul.
Os manezinhos, açoriano-catarinenses descendentes, viveriam na ilha de Santa Catarina até 1960 em relativo isolamento, longe dos benefícios (e malefícios) da civilização. Se para o meio ambiente e cultura tradicional foi uma grande coisa, pois houve preservação da natureza e de uma identidade, para a genética do homem trouxe algumas deficiências, como o aumento da incidência de más formações físicas e mentais, resultantes das freqüentes uniões consanguíneas. A partir da segunda metade do século XX, enfim, chegou a modernidade para essa gente. Veio com a gula dos migrantes que descobriram na ilha de Santa Catarina a beleza e a paz preservadas, o paraíso perdido, entregue segundo as palavras um senhor estrangeiro, pouco conhecedor da história da ilha, à inérciaimprodutiva dos ilhéus.
Pobres manezinhos, rechaçados, acuados no seu habitat tão duramente conquistado, desta vez pelo apetite voraz e a força capitalista dos migrantes nacionais e internacionais, que vêem na ilha um tesouro financeiro a ser explorado.
Desenvolvimento é preciso, mas que chegue com inteligência e sabedoria. Temos um rico patrimônio natural e cultural herdado que faz a diferença com as outras regiões do país. Só com critério e especificidade teremos um bom e rentável crescimento com qualidade de vida. De que vale muitas e grandes indústrias, uma larga rede imobiliária se não tivermos, águas limpas que dêem o peixe, áreas verdes de mata que dêem ar puro e histórias para contar para nossos filhos. A ilha dos manezinhos sem a natureza e sua cultura não é nada.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 25/05/08
Dados estatísticos:
Oswaldo A. Furlan (Prof. titular da UFSC) no livro INSVLANA ( vol. LIV)
(órgão do Instituto Cultural de Ponta Delgada, São Miguel, Açores)
Foto de propriedade de Maria Eduarda Fagundes: Praia do Sambaqui ( Ilha de Santa Catarina)
vMais velho ainda que a mais velha profissão do mundo é o temor de não saber o que futuro reserva. E, desde sempre, à sombra desse temor prosperaram todos aqueles que se atrevem a tratar por tu a incerteza e o desconhecido: os xámans, os iluminados para quem o futuro não tem segredos.
vProsperaram é uma maneira de dizer. Tempos houve em que predizer certeiramente uma ameaça ou uma calamidade era caminho seguro para uma vida regalada, mas desgraçado estava quem falhasse na predição: com sorte, perdia valimento; em dia mais aziago, perderia a cabeça.
vEra o tempo em que predizer significava arriscar: arriscar a glória, ou arriscar a morte (da morte rápida às mãos do patrono insatisfeito, à morte lenta dos que não mais privariam com o poder). Tempos cruéis, esses, mas onde se podia fazer fé no futuro predito: anunciá-lo não era coisa de brincar – sabia-se bem o que estava em jogo.
vNos tempos que correm, lidar com a incerteza continua a não ser fácil. Que bom seria poder decidir hoje conhecendo com meridiana clareza o que o dia de amanhã trará - e assim sucessivamente, numa longa cadeia de informações completas, construída passo a passo, mas sempre por antecipação!
vHélàs! não. E, tal como outrora, o que não falta hoje é quem se deite a adivinhar. Uns, consultando os astros, as entranhas de animais sacrificados, os desenhos que pedrinhas, conchas e ossos, lançados ao acaso, deixam no pó; outros, consultando números. Cada um com o seu ritual, mas todos ao mesmo.
vInfelizmente, perdeu-se entretanto aquela regra que apontava, ora para a glória, ora para a desgraça, e que dava mística ao ofício de predizer. Hoje, ligada à predição, permanece ainda uma atmosfera de prestígio e proventos. Mas o que se arrisca será, quanto muito, uma certa aura e a perda do mercado que essa aura sempre ia proporcionando. E, por vezes, nem isso. Convenhamos que é arriscar pouco.
vHábeis a prever eram, num passado ainda muito recente, os metereologistas: sabedores de que nada poderiam fazer para alterar o tempo que aí viesse, limitavam-se a anunciá-lo com fatalismo - e com simpática imprecisão. Não mais. A partir do momento em que puderam observar do alto a dinâmica de ciclones e anti-ciclones, passaram a conhecer de ciência feita o que nos cairia literalmente em cima nos dias imediatamente seguintes. Agora sabemos com o que contamos quanto ao tempo, mas a previsão meteorológica perdeu muito da sua mística.
vSucederam-lhes na cátedra das previsões imprecisas e fatalistas os economistas. Não há economista que se preze que resista à tentação de lançar, dia sim, dia não, a sua previsão sobre isto ou sobre aquilo. Como modelos suficientemente testados e calibrados em que tais previsões se apoiem é coisa que não existe, o que se passa é que os nossos economistas se deitam a adivinhar, dando uns palpites.
vArriscam algo? Como assim, se passados uns dias já ninguém se lembra do que fora previsto, muito menos se dá ao incómodo de confrontar o adivinho com os erros do que lhe palpitou. Eis pois uma actividade prestigiante e segura que seria tolice não aproveitar.
vQuando as previsões económicas provêm de organismos internacionais, compreende-se que sejam anunciadas com um certo fatalismo - à imagem do que acontecia com as previsões meteorológicas, aliás. Afinal, estes previsores não dispõem de meios que lhes permitam contrariar as tendências que crêem ter detectado.
vMas que dizer quando são os Governos e as Autoridades Monetárias (para não falar noutras instituições ligadas à política económica) a prever como se o futuro que nos aguarda fosse inevitável? Não lhes foram confiados poderes e instrumentos para inverter o rumo da realidade? Não guardam eles o exclusivo desses poderes e desses instrumentos? Então porque não exercem uns e usam os outros - o que só eles podem fazer, pois é para isso, justamente, que são pagos?
vÉ tempo de dizer que não nos impressiona a adivinhação dos novos xámans – os quais nem sequer se dão ao trabalho de dançar para que os maus espíritos se afastem. Se eles querem deitar-se a adivinhar, e é bom que desenvolvam a capacidade de “observar do alto” que os meteorologistas já alcançaram, então que cumpram as rezas rituais e que digam como pensam afastar os maus espíritos.
vUma previsão económica desacompanhada das medidas que reforcem a tendência detectada, se for favorável, ou que a contrariem ou mitiguem, se for desfavorável, é um acto gratuito e inútil. Não justifica a tinta da notícia que a faz pública.
vAh! Que saudades dos tempos em que predizer o futuro era um jogo de glória ou morte.
Conheço um escritor de grande valor que se bate por várias causas, a nível mundial.
Não só luta contra os "males" do Mundo, numa época em que o Capitalismo Selvagem dita a sua lei sobre governos, povo e nações, como luta para que todos os povos tenham o direito de se governar como entenderem. Esteve até na Palestina, apelando à Independência desta em relação a Israel. Apoiou a independência de Timor. Apoia a ideia dum Curdistão independente.
Este homem apela a que deixem os povos decidir. Combate as elites iluminadas que manipulam a vontade desses mesmos povos. Nega-se a aceitar que haja povos mais ou menos inteligentes.
Este homem viu, desde 1989/1990, inúmeros povos reclamarem a sua independência e a sua constituição em Estados soberanos. Ainda recentemente, vimos o pequeno Montenegro proclamar a Independência.
O homem em questão cita o exemplo de países como a Eslovénia como capazes de ultrapassar Portugal, e sabe que a mesma se separou duma União maior chamada Jugoslávia.
Talvez tenha até ouvido o Primeiro-Ministro dinamarquês comparar Portugal e a Dinamarca e dizer que ambos são pequenos países com pouca população (e, nestes aspectos, Portugal é superior), com um vizinho poderoso, mas que fazem o possível por sobreviver e que, se a Dinamarca foi capaz de se tornar um dos países mais ricos do mundo, Portugal também o poderá fazer.
O nosso homem sabe que não se vislumbra, por essa Europa fora, nenhum movimento de retrocesso em relação a independências adquiridas há menos tempo que Portugal. Ninguém tem conhecimento de que a Holanda se queira reintegrar na Alemanha, ou a Bélgica, ou parte dela, na França.
Sabe e di-lo, que um dos problemas das elites em Portugal, ao longo dos séculos, é o seu desprezo pelo povo que as sustenta e a tentação da riqueza fácil "adquirida", se necessário, vendendo-se ao estrangeiro. Sabe que o próprio povo tem varrido essas elites.
Este homem é de Esquerda, Republicano, Laico, Anti-imperialista.
Este homem chama-se José Saramago, e recebeu um Prémio Nobel pelo que escreveu em Língua Portuguesa, enchendo de alegria muitos compatriotas.
Mas este homem não aplica ao seu País o que defende para o resto do Mundo. Acha que o povo de que é filho é menos inteligente que os demais. Acha que não tem o Direito à Independência. Como as elites que critica, acha os portugueses incapazes de se governarem sozinhos e acena ao estrangeiro... mesmo quando este é governado por uma Monarquia... que nasceu depois de uma guerra brutal que esmagou os seus companheiros ideológicos (ressalve-se que os actuais monarcas não tiveram a culpa!).
Pior, acha que "sem se encostar" a um "padrinho" poderoso, não pode subsistir, porque não tem sido capaz de se governar sozinho. E acha isto depois de 850 anos de independência... com os seus altos e baixos, naturalmente.... mas em que resistiu a tudo e todos.
Saramago, Saramago, meu caro Nobel: aplica ao teu povo o que desejas para os outros. Não cries, em quem adora tua Literatura, problemas de consciência. Por uma vez, copia um pouco a altivez da Espanha que admiras e aplica-a ao teu País. Contribui para a saída da crise, apelando ao amor-próprio de todos nós, em vez de agravares os nossos sintomas depressivos. Lembra-te do teu livro "Levantados do Chão".
Estremoz, Setembro de 2007
Carlos Eduardo da Cruz Luna (leitor/apreciador da obra de Saramago)
Consumo de arroz carolino pode fazer baixar os preços
O aumento dos preços do arroz nos mercados internacionais já está a ter efeitos nos orçamentos familiares dos portugueses, através da subida do preço do quilograma deste bem alimentar. Contudo, este efeito pode ser limitado. Desde que os consumidores comecem a comprar mais arroz do tipo carolino, cuja produção nacional é suficiente para abastecer o mercado. Quem o diz é o presidente da Associação Nacional dos Industriais de Arroz (ANIA). Ernesto Morgado espera que as pessoas não entrem em pânico com as subidas dos preços.
"Importamos mais de 50% de arroz devido ao consumo crescente dos tipos agulha, vaporizado e basmati. Uma consequência natural dos novos estilos de vida, com a procura de experiências diferentes e curiosidade por novos produtos", sublinhou Ernesto Morgado. "Se houvesse uma tendência de subida do consumo de arroz carolino, podia resolver-se eventuais problemas nas colheitas no exterior e podia resolver-se a situação dos preços altos."
Parte do consumo de arroz agulha é abastecimento através do recurso às importações. E é devido a essa procura que os produtores e distribuidores têm de subir os preços, para acompanhar a escalada nos mercados. Ernesto Morgado tem outra explicação para o aumento do preço do agulha. "O carolino é mais adequado à nossa gastronomia, sobretudo no arroz de peixe, de marisco ou no arroz malandrinho. Mas o agulha apresenta melhores resultados para quem não sabe cozinhar ou não tem tempo para se dedicar à cozinha." E, devido ao aumento do consumo, "mesmo que haja boas colheitas na Europa, não resolve o problema do agulha". Recorde-se que dentro de mês e meio, aproximadamente, começarão a ter efeitos nos mercados europeus as colheitas sazonais de arroz.
A propósito do carolino, Ernesto Morgado garante: "Luto há muitos anos para que o Estado apoie uma campanha de promoção do consumo. Mas ainda não conseguimos avançar com essa iniciativa, que podia ajudar a resolver os preços altos".
Ernesto Morgado, que acumula ainda a presidência da Federação dos Industriais de Arroz Europeus (FERM), critica também a política agrícola comum (PAC), que obrigou Portugal a reduzir a área de cultivo de arroz. "Tínhamos antes 33 mil hectares para produzir por ano. Com a PAC, a União Europeia congelou áreas e ficámos apenas com 23 mil hectares. Por outro lado, fomos muito prejudicados porque o consumo de arroz carolino caiu e nós tivemos de continuar a produzi-lo. Se houver uma revisão da PAC neste ponto, Portugal pode ter uma área de cultivo mais adaptada às suas necessidades". Apesar das subidas do preço do quilo este ano - que interromperam uma década de descidas -, Ernesto Morgado apelou a uma desdramatização. "Não devemos dramatizar. Em Portugal, o problema não é gravíssimo como nos países do Oriente ou África. Se as pessoas não entrarem em pânico e não começarem a açambarcar arroz sem necessidade, não haverá problemas de abastecimento". Ernesto Morgado adianta: "Com uma consciencialização para não se aumentar o consumo desnecessário e incentivos ao aumento da oferta, conseguiremos passar esta fase de preços altos."
A propósito de um pedido de boicote à Galp e à BP que circula na Internet, peço aos leitores residentes em Portugal que meditem no seguinte.
Essa é a estratégia das petrolíferas espanholas para combaterem a Galp em Portugal. A BP está lá só para disfarçar assim como a origem francesa da mensagem. A especulação com os preços é mundial e se fizermos isso só em Portugal, estaremos apenas a dar um tiro nos nossos próprios pés, não resolveremos nada a nível global e só daremos espaço aos espanhóis no nosso mercado, o português. Os espanhóis não toleram a soberania política portuguesa e estão agora a combater o que nos resta de soberania económica. Esta é uma estratégia claramente contrária ao interesse nacional. Espoliado por espoliado prefiro sê-lo por portugueses do que por estrangeiros.
Temos que procurar outra forma de actuação. Creio que vai ser necessário levar os 27 Governos da UE a tabelarem os preços de venda ao público de todos os combustíveis derivados do petróleo e do gás natural. Acredito que desse modo se possa mexer na manipulação global; Portugal, isolado, não faz absolutamente nada.
Mas é necessária uma pressão política forte e conjugada porque os Governos - todos os Governos, a nível mundial - são claramente coniventes nesta manipulação pois os lucros das petrolíferas têm crescido desmesuradamente e os IRC's também!
Portanto, peço grande ponderação nesta atitude. Pelo meu lado, não alinho e mesmo quando vou a Espanha de carro só me abasteço na Galp. Note-se que não sou accionista nem funcionário da PETROGAL. Sou apenas português, vítima da manipulação global dos preços dos combustíveis e dos cereais… até ver.
Mas se avançarem mesmo assim para o boicote, façam-no também às petrolíferas espanholas.