v50 anos atrás, durante a preparação do II Plano de Fomento, havia uma certeza e um sem número de interrogações.
vTodos - Governo, técnicos e povo - concordavam num ponto: o atravessamento do Tejo próximo da foz era essencial para o desenvolvimento da Margem Sul e, por arrastamento, de uma região bem mais vasta, baptizada hoje como “Lisboa e Vale do Tejo”. As opiniões dividiam-se, porém, quanto à solução: Ponte? Túnel?
vCálculos e estimativas mostravam que a solução “túnel”, mesmo que de uso misto (rodo/ferroviário), era a mais barata e a mais segura, fosse em caso de desastre natural (sobretudo, sismos, já que o leito do estuário assenta numa falha geológica), fosse em caso de guerra (estávamos em plena Guerra Fria e um novo conflito na Europa era um cenário bastante plausível). Só os incêndios davam alguma vantagem à solução alternativa, mas os técnicos asseguravam que esse risco poderia ser minimizado e que a integridade dos utentes em nenhuma circunstância estaria em perigo.
vO impasse era tão-só aparente. Por aqueles tempos, o processo de decisão, mesmo em questões menores, o que estava longe de ser o caso, surpreendia pela simplicidade: uma vontade - e todos (ou quase) muito contentes com a excelente decisão que a clarividente vontade tinha tomado.
vLevada a controvérsia a quem detinha o monopólio de decidir, houve decisão pronta e seca: “Quero obra que se veja!”. E fez-se a ponte.
vVeio-me tudo isto à ideia mal ouvi as primeiras discussões acesas em torno de um novo atravessamento no estuário do Tejo: Chelas/Barreiro; Beato/Montijo; Algés/Trafaria; de não sei onde para o lado fronteiro - pois importante, importante parece ser haver obra. Sempre pontes, what else.
Antevisão da ponte Chelas-Barreiro a partir do Castelo de S. Jorge, em Lisboa
vSei que nada sei sobre o momentoso tema. Mas chama-me a atenção que ninguém habilitado tenha vindo ainda ao proscénio explicar ao povo povo, em linguagem que dê para perceber, por que fás e por que néfas a solução “túnel” foi, como tudo indica, liminarmente chumbada.
vA vantagem do custo, que a solução “túnel” tinha meio século atrás, perdeu-se entretanto de forma irremediável?
vO facto de o leito do estuário do Tejo, mais a montante, ser raso de água (o que permitiria, talvez, trabalhar em vala, sem beliscar a ecologia local) não é desafio bastante para a engenharia portuguesa?
vO mero detalhe que é ser mais fácil enterrar linhas férreas do que elevá-las uns bons metros acima da sua cota inicial não dará o desejado impulso à depauperada economia portuguesa, nem contribuirá decisivamente para combater o flagelo do desemprego?
vOu, de modo mais prosaico, é ainda e sempre a mesma vontade clarividente, agora com uma multiplicação de novos rostos sempre iguais, a querer, simplesmente, “obra que se veja”?
Não. Infelizmente não se trata daquela lindíssima música de Ary Barroso de 1939, que se divulgou pelo mundo através do filme do Walt Disney de 1942, mas de notícias recolhidas hoje, ao acaso, do jornal:
- Continua a manter-se a média de 17 homicídios por dia, no Rio de Janeiro, e por cada 11 bandidos mortos morre um policial;
- O (des)governo exige de todas as escolas, públicas ou privadas, um relatório minucioso sobre todos os alunos, em que, entre outros detalhes, que deveriam permanecer confidenciais, se obriga a indicar a cor da pele: se é preto, pardo, branco, índio, ou não declarado (deverá ser cor indefinida!). Isto no país que tem até um ministério da igualdade racial !!!
- A Universidade de Brasília, depois de ter comprado duas lixeiras por $999 reais cada uma, e um saca rolhas a $859, para a casa do reitor, sabe-se agora que comprou também caviar que pagou com verba destinada à saúde de indígenas. A anotar: o caviar é muito bom para a saúde! Sobretudo dos índios.
- A Polícia Federal prendeu ontem 16 prefeitos, 1 juiz, 6 advogados, 1 gerente da Caixa Econômica Federal e mais um monte de gente ligada à justiça, por formação de quadrilha, entre outras ações de benemerência que os detidos praticavam (em proveito próprio como é evidente). Ninguém precisa se preocupar porque a maioria tem foro privilegiado e não tarda 3 ou 4 dias estarão todos cá fora. Deverá ficar na cadeia o porteiro de algum prédio daqueles ou o faxineiro. Sempre os culpados! Depois a farra continua com a quadrilha ampliada e a dar risada.
- O óleo de soja já aumentou este ano 25,5%. É o óleo que a quase totalidade da população consome. E a soja e o óleo são produtos 100% nacionais. A culpa é da China que está a comer muito!
O padrão da língua portuguesa é o que se fala em Portugal. Este é um dogma, não um axioma nem um teorema.
O que se fala noutras latitudes também é português mas não é o padrão; são variantes que enriquecem a língua, não são desvios nem variantes espúrias. Têm toda a legitimidade para se intitularem como língua portuguesa só que com as tonalidades locais.
E compreende-se que o português falado em Salvador da Bahia tenha influências diferentes das que incidem sobre o falado pela elite goesa assim como o que se fala em Santiago de Compostela seja diferente do dos calcinhas de Luanda. Pois se há diferenças entre a expressão de um trasmontano e a de um algarvio, por maioria de razão essas diferenças se justificam quando há solução de continuidade na ligação geográfica entre as diferentes regiões.
Espartilhar tanta variedade num documento estático e monolítico é castrar a capacidade imaginativa dos autores da língua, os falantes e dar preponderância a certas vertentes – ganhadoras no processo negocial desse mesmo documento – em detrimento de outras de igual legitimidade mas eventualmente representadas por «advogados» menos hábeis.
Não se respeitando um padrão, não faltarão ocasiões para que a «norma legal» evolua em sentidos que só o acaso poderá determinar em função da capacidade negociadora dos representantes de cada grupo já para não dizer que a mando de cada lobby. A isso se chama andar à deriva.
O sector editorial brasileiro há muito que tenta liderar a política da língua portuguesa e disso é prova a iniciativa do Embaixador José Aparecido de Oliveira ao convencer os demais países lusófonos a constituir o Instituto Internacional da Língua Portuguesa o qual, para não se localizar bem junto dos seus mandantes, se convencionou sedear-se na cidade da Praia, em Cabo Verde. Constatando-se a completa ineficácia de tal instituição, decidiu o Governo Brasileiro instituir o Instituto Machado de Assis o qual, passados alguns anos, teima em não sair do papel em que foi decretado.
Daqui resulta que o único instrumento que existe para implementação da política da língua portuguesa é o Instituto Camões que desenvolve uma obra notável na divulgação do português padrão, timbre de que não pode abdicar na salvaguarda da independência linguística portuguesa.
Se, contudo, se verificar que as estruturas do Instituto Camões são insuficientes, então há que as ampliar pela adução de apoios não públicos que lhe reforcem as capacidades mas não lhe alterem o mandato de promoção da língua portuguesa padronizada em Portugal.
Conclusão: o Acordo Ortográfico em discussão parlamentar é um verdadeiro Cavalo de Tróia do Brasil nos PALOP’s.
Em Dezembro último escrevi sobre este assunto, afirmando que não entendo nada de economias mundiais mas achava estranho ver, de repente, essas economias a crescer, as cidades a transbordar de gente, etc., e que este frenesi económico cheirava a falso. É evidente que é falso.
Proliferam os paraísos fiscais, as cavernas dos Ali-Babás, políticos e especuladores.
Os mega investidores, os que brincam com o dinheiro do mundo e arrasam ou levantam economias, correm com bilhões de um lado para o outro e cada vez mais acumulam montões, trilhões, etc, sem que alguém lhes vá aos bolsos e lhes cobre, no mínimo 90% sobre essas especulações financeiras.
As grandes indústrias farmacêuticas, que foram um bodo para os investidores, deixaram de ter interesse, dentro da medida que não se adivinham para breve grandes novidades, como foi o Viagra e outros, cujas patentes em dois a três anos acabam.
O armamento continua a ser um primeiríssimo negócio, mas está nas mãos de alguns assassinos, sobretudo ligados a governos. A droga será outro, mas mais complexo de gerir sentadão em Wall Street. O petróleo tem sido outro bodo para as companhias petrolíferas, mas a minha bola de cristal chora para poder dizer que a faixa dos US$ 100 deve cair bastante durante este ano. Os países mais pobres não aguentam mais o tranco.
Como o segundo maior movimento de capitais continua a ser os alimentos, nada melhor do que os inflacionar, especulativamente, e tirar daí lucros incomensuráveis.
Aumentaram de forma absurda o trigo, milho, arroz, feijão e soja, e seus derivados, como frango, assistindo, por exemplo, em Inglaterra a um aumento de 50% no chiken and fries, quase 30% nas pastas em Itália, e como reação em cadeia, todos os produtos alimentícios seguem a mesma alta.
A população mundial aumenta, bem como o consumo. Pobre, se já comia pouco, com os preços absurdos dos produtos base... que se dane. Não coma. Não perturbe os lucros dos especuladores! Morra de fome.
O Brasil, mesmo sem governo, país produtor de alimentos, quase autónomo em petróleo, está dando risada com estes sobrevalores que atingem também o aço, em percentuais de aumento incríveis.
Em 2007 abaterem-se 30,5 milhões de bovinos, 26,8 milhões de suínos, 4,4 bilhões de frangos, produziram-se 18 bilhões de litros de leite e comercializaram-se 2,2 bilhões de dúzias de ovos! A previsão da safra de grãos para 2008 é de 140 milhões de toneladas, o que significa um aumento de 41% sobre a produção de 2003 e quase o dobro de 1993 (!), e mostra a capacidade do país em produzir sempre mais. Serão 60 milhões de toneladas de soja, 57 de milho, e...
Uma festa, que mal administrada, em vez de se encaminhar para a educação e desenvolvimento... acaba nos bolsos das quadrilhas.
Entretanto o (des)governo parece não se dar conta que os grandes especuladores estão sempre preparados para dar o bote no câmbio dos emergentes. O Brasil estará já na mira dessa corja, visto continuar a oferecer a maior taxa de juros do mundo!
Está tudo louco. Até eu, que gostaria de ver os homens serem sapiens, e só os enxergo a atropelarem tudo e todos, porque o que vale é o saldo das contas bancárias, a droga, o sexo e em paralelo os filmes a estimularem a violência e o sexo desbragado.
Perdeu-se a noção da decência e do valor dos netos, porque é esta a moral e a ética que estamos a deixar para gerações vindouras!
A língua é elemento essencial de uma Nação não só como modelo de comunicação e veículo de uma Cultura mas também como instrumento de unidade e de cumplicidade histórica, elemento de distinção e efectivo modo de afirmação.
Discutir o Acordo Ortográfico não é, pois, fazer uma guerra do alecrim e da manjerona mas sim tratar de um elemento essencial da nossa vida colectiva.
O Acordo Ortográfico não pretende influenciar a língua a não ser na forma de a escrever. Deixa-a livre para ser pronunciada ao bel-prazer de cada um e não entra na sistematização de sentidos idiomáticos. Poder-se-ia assim imaginar tratar-se de documento menor mas na verdade todos lhe sentimos a importância e assim é que estamos muito motivados na sua discussão. Aliás, enquanto discutirmos um documento que alguns consideram menor, não discutimos aqueles, eventualmente maiores, que esses alguns possam querer fazer passar despercebidos tais como o Tratado de Lisboa e outros de gabarito semelhante que por ai andem.
Ninguém duvida de que a forma de escrever acaba por influenciar a pronúncia e está-se mesmo a ver que os nossos netos vão ter que aprender uma língua que terá substanciais diferenças relativamente à que nós, os avós e pais, falamos.
As perspectivas com que os lusófonos das várias latitudes observamos o Acordo em discussão têm a ver com as motivações de cada grupo. O único efectivamente dividido sobre a matéria é o desta Velha Lusitânia a que pertenço. Nos demais, consta haver unanimidade entre os eruditos já que, como quase sempre, o “povão” não é tido nem achado.
Como principais grupos de interesse, considero os de Portugal, os do Brasil, os dos outros luso-descendentes e, mais modernamente, os dos luso-ascendentes.
Sim, os luso-ascendentes são paradoxalmente mais modernos no processo do que todos os outros pois só há pouco tempo se puderam afirmar como Nação amordaçada encetando modernamente a reconstrução da língua perdida. É óbvio que me refiro aos galegos cuja lusofonia, à semelhança dos timorenses, é uma arma política no exacto sentido do primeiro parágrafo que escrevi neste mesmo texto. E é como arma política que por aquelas latitudes – Galiza e Timor – a língua portuguesa tem que ser considerada. Também o devia ter sido em Goa se por lá a lusofonia não tivesse baixado os braços para ser praticamente vencida pelo lobby anglófono. Mas talvez a Fénix ressurja das cinzas… como na Galiza.
A posição favorável ao Acordo assumida pelos lusófonos galegos tem tudo a ver com a necessidade de afirmação política e se entrassem no processo numa posição de contrariedade, não faltaria serem acusados de quererem chamar a si a paternidade da língua, imutável perante influências estranhas. Daí a sentirem-se banidos do processo evolutivo não faltaria muito. Estando eles numa fase de reconstrução da língua perdida, tanto lhes faz que o português continue ou deixe de ser assim ou assado: eles entram no comboio em andamento e não se preocupam com o lugar em que se sentam; o que querem é entrar no comboio. Pois que sejam bem-vindos mas só lhes peço que saibam que nós sabemos ao que andam e que a usucapião já nos deu a nós, portugueses, a paternidade da língua.
O Brasil é o grupo de interesses mais sonoro e o documento em discussão mais poderia ser chamado de Genuflexório da Língua Portuguesa Perante o Brasil. Só não vê quem não quer ver que o lobby editorial brasileiro ditou a maioria dos artigos do dito documento. Diz-se que com o objectivo estratégico da conquista do mercado editorial dos PALOP’s o que, a ser verdade, faz todo o sentido comercial.
O grupo africano de interesses apoia o Acordo apesar disso significar uma nova dependência perante o Brasil porque significa uma afirmação da independência em relação a Portugal e é a sublimação de adormecidos complexos de colonialismo. Só que talvez assim enveredem por um processo de neo-colonialismo de que Portugal os isentava por isso ser para nós historicamente espúrio, razão que os novos Senhores não reconhecem num mundo globalizado em que não se olha a meios para alcançar fins.
Não peças a quem pediu; não sirvas a quem serviu.
E se nós, portugueses, viermos a fazer a ratificação parlamentar do documento, é necessário que os Deputados saibam que nós, os dos joelhos tesos, ficamos desconfiados sobre a legitimidade dos interesses que eles terão servido.
Nas Páginas Simples de Domingo-1 publicadas em 30 de Março de 2008 afirmei que era importante saber que foi “(…) naquela sala do castelo de Palmela, [que] o Rei D. João II apunhalou o Duque de Viseu (…)”
Ora, sem ter lido o que escrevi por não ser navegador na Internet, o meu amigo António Teixeira Homem referiu-me há dias que lera um trecho do cronista Rui de Pina específico a esse acontecimento e qual não foi o meu espanto quando fiquei a saber que o Duque de Viseu não foi assassinado onde muitos de nós julgamos mas sim em…
E seendo ElRey em Alcácer do Sal, sabendo o Duque, e os da conjuraçam, que avia de tornar por mar determinaram esperallo na praya, e ali ao sair dos batees ho matarem. Do qual perygo ordenado, ElRey foy per Dom Vasco logo avisado; pello qual mudou por isso a vynda por mar, e fez o caminho de Landeira por terra, bem acompanhado de boa gente de sua guarda, que por isso, e sem algum alvoroço, fingindo outro achaque, a mandou perceber; porque depois da morte do Duque de Bragança, sempre ElRey trouxe guarda de Câmara, e dos Ginetes, de que era Capitã Fernam Martyns Mazcarenhas, que nestes feytos, em que a vida e saúde d’ElRey e do Regno pendiam, sempre servio bem, continoada, e muy lealmente, e de quem ElRey entam mais confiava. Chegou ElRey a Setuvel sesta feira vinte e sete dias d’Agosto de mil quatrocentos oytenta e quatro; e ao outro dia Sábadomandou vyr o Duque de Viseu de Palmella onde pousava, e em se çarrando a nocte ho chamou a sua guardarroupa, que era nas casas que foram de Nuno da Cunha, em que entam ElRey pousava; onde ho Duque entrou de todo desacompanhado, e sem muitas palavras que precedessem, ElRey ho matou per sy aas punheladas…
Como sería Setúbal no tempo de D. João II?
Portanto, ao contrário do que muitos de nós julgávamos, D. João II assassinou o Duque de Viseu, seu cunhado, em Setúbal nas casas que foram de Nuno da Cunha e não no Castelo de Palmela.
Quem seria aquele Dom Vasco que preveniu o Rei da existência da conjura? Como teve ele acesso à informação? Seria ele próprio um dos conjurados? Em Setúbal, onde se situarão as tais casas que foram de Nuno da Cunha?
Aqui ficam temas para investigação por quem pretenda desenvolver alguma tese.
Lisboa, Abril de 2008
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA: Rui de Pina, Chrónica de D. João II, Cap. XVIII, pág. 59 in Mendes dos Remédios,Joaquim – História da Literatura Portuguesa, 2ª edição, 1902, pág. 84 e seg. (por gentileza de António Teixeira Homem)
Ser como o vinho, quanto mais velho melhor! Eis a utopia! Mas, como o vinho, nem todos os homens amadurecem bem com o tempo, só os de qualidade.
Numa sociedade que supervaloriza a juventude e a beleza, como o fez o nosso “poetinha”, Vinicius de Morais, quando em versos escreveu: “Que me perdoem as feias, mas a beleza é fundamental...”, envelhecer com reconhecimento é uma proeza.
Escultura de Juarez Paraíso - Salvador da Bahia
A idade madura traz rugas, cabelos brancos, perda de memória e de dentes; obesidade e flacidez. Tira o viço da tez. Manter uma fisionomia agradável aos olhos e aos sentidos é para os poucos que conseguiram se embelezar de dentro para fora, para aqueles que aprenderam, com a vivência, a aprimorar as qualidades, a aplainar os defeitos, a ver bondade nos outros e em neles mesmos, a usar o conhecimento para viver com inteligência.
O ser humano gosta do belo porque ele atrai, relaxa, irradia bons sentimentos. Talvez seja por isso que as mulheres, em geral mais sensíveis e suscetíveis que os homens, procurem deter os sinais deletérios da passagem dos anos com plásticas, maquiagens, dietas e exercícios para manterem a forma e o espírito jovem. Mas, felizmente, há também as transformações que se sobrepõem à beleza física, que ocorrem em certas pessoas, que com a idade desenvolvem um charme e brilho interior, que fazem o feio parecer bonito, que cativam com suas palavras e presença. O tempo as torna mais doces, mais sábias e compreensivas, faz a larva virar borboleta, numa metamorfose vivida.
Não muitas décadas atrás a maturidade era uma parte da existência atingida por pouca gente, pois a maior parte morria ainda jovem. No século X antes de Cristo a expectativa de média de vida era somente de 18 anos. No século I a.C, no Império Romano, era de 25; no final do século XIX, nos USA, era de 49, e agora é mais de 75anos. Isso foi conseguido nos países mais desenvolvidos, onde a taxa de mortalidade apresentou um progressivo declínio. Essa situação fez com que doenças próprias da idade avançada, como a aterosclerose, hipertensão e câncer, fossem cada vez mais constatadas. Por outro lado, no mundo industrializado, onde a maioria dos individuos trabalha, atingir a aposentadoria com saúde permite desfrutar a maturidade com novos interesses, habilidades e amizades. É a época de realizar outros sonhos, fazer novos cursos, viajar, aproveitar o lazer, contribuir com o que se sabe, sem compromisso, ou então de não fazer nada.
Para viver bem essa fase é preciso conhecer-se a si mesmo, ter consciência da suas próprias potencialidades, respeitar os seus limites e o momento (... antes eu dava conta do recado...). É preciso reconhecer a passagem do tempo, ter humildade, aprender a delegar posições e responsabilidades, sem, no entanto, esquecer os ensinamentos do passado e deixar de encarar os desafios do presente, da nova realidade. Não se entregar ao ostracismo, aproveitar o instante que resta com avidez, sem remorsos e sem ter medo de parecer egoísta. Enfim, seguir a ainda atual filosofia do pensador francês do século XVI, M. Montaigne, que dizia sobre a eminente possibilidade da morte:
“Je suis pour cette heure en tel état, Dieu merci, que je puis déloger quand il lui plaira, sans regret de chose de quelconque... Je veux que la mort me trouve plantant mes choux.”
Final da parte 1: O comércio tornara-se para a Inglaterra a primeira necessidade da sua vida econômica e o objetivo principal da sua atividade. A agricultura, como era no século XVIII, transformara-se em atividade industrial, benefício esse alcançado graças à reconstituição das grandes propriedades de luxo e do forçado êxodo dos camponeses para os centros urbanos.
Parte 2: O mercado português e o brasileiro foram os mais cobiçados pelos ingleses em sua expansão marítima e comercial. Primeiro, a metrópole consentiu na sua função de intermediação para uma segunda etapa eliminar esta onerosa intermediação, quando Napoleão invadiu a Península Ibérica.
"Como a Inglaterra consumia pouco dos produtos agrícolas do Reino, houve o saldo que seria pago em ouro do Brasil. Assim aquela nação foi progressivamente apropriando-se de todo o tráfico com Portugal. Para lá exportava seu trigo, munições, navios e até capitais. O comércio interior passou em boa parte para as casas de feitoria inglesa com seus correspondentes nas várias províncias. O ouro que saía não era somente para pagamento do excedente das exportações inglesas sobre as importações portuguesas. Os navios de guerra britânicos carregavam-no também por contrabando, pois tal exportação era legalmente defesa". A nota de Napoleão em 1807, ao governo de Lisboa, colocava a Inglaterra sob a ameaça de perder as vantagens rendosas exercidas diretamente na metrópole e indiretamente nas suas colônias. Cabia aos ingleses tomar providências em defesa de seus interesses ameaçados. Não ceder aos franceses resultava evitar a ocupação da colónia na América.
"Observam as memórias de Sir Sidney Smith que, para o governo francês, um motivo havia de fazê-lo estimar a trasladação da família Bragança (...): pelo menos se obstava com tal deliberação a que as colónias portuguesas caíssem nas mãos da Grã-Bretanha. O almirante é o primeiro a reconhecer que essas colónias estariam de fato perdidas para a metrópole se Dom João não emigrasse para o Brasil. Os ingleses ocupá-las-iam sob o pretexto de as defender(...)".
(Oliveira Lima:op.cit., p. 74,I).
A Inglaterra estava representada em Portugal por diplomata à altura das graves responsabilidades que o momento impunha. Strangford
Percy Clinton Sydney Smythe, Lord Strangford (1780-1855)
como outros diplomatas ingleses, era mais de proteger do que negociar, capaz de alcançar o reconhecimento dos interesses da sua nação, que aquele tempo visava a expansão e a conquista da supremacia mercantil perante os demais países.
De secretário de Embaixada em Lisboa foi elevado ao cargo de ministro, quando já se aproximavam as ameaças de invasão francesa liderada por Napoleão. Suas ações em Portugal justamente nessa fase proporcionaram-lhe o seu viscondado irlandês. Tanto pela Inglaterra como pela Irlanda desenvolveria intensa atividade diplomática depois de passar pelas Cortes de Portugal e do Brasil. Era um característico representante do mercantilismo inglês em expansão na fase preparatória do imperialismo.
vHoje, perante a crise do crédito hipotecário, não é difícil chegar à conclusão de que o FED levava muito a peito as suas preocupações com a estabilidade dos Bancos norte-americanos, mas que o fazia de modo algo canhestro: mal surgiam nuvens negras no horizonte, por isto ou por aquilo, vá de injectar liquidez - sem cuidar de verificar que uso era dado a essa liquidez e se os Bancos dispunham de capitais próprios suficientes para a “digerir” (melhor se diria: para a reciclar através novas operações de crédito que iriam aumentar a exposição do sistema financeiro ao risco).
vA fragilidade do sistema financeiro norte-americano não era só institucional: aqui, operadores arrumados em grupos estanques para efeitos de regulação e de supervisão; acolá, vários Supervisores, cada um para o seu grupo, que entre eles mal se falavam; mais além, operadores com grande influência na dinâmica dos mercados financeiros (brokers de operações hipotecárias e hedge funds) e que ninguém cuidava de regular ou supervisionar.
vIa mais fundo, atingindo as operações de open market (as operações onde o FED era parte) e a ideia que o FED fazia dos riscos a que os Bancos se encontravam expostos. Ou seja, contaminava não só o terreno que a política monetária mais prezava (as operações de open market), mas também o próprio exercício da supervisão prudencial. E a teoria pouco ajudava para que as coisas fossem feitas de maneira diferente.
vDesde logo, passava despercebido o contra-senso que era o Supervisor levar os Bancos a estarem cada vez mais atentos ao risco de crédito que pudesse vaguear pelos mercados interbancários (aquilo que o FED, e com ele todo o Comité de Basileia, designava por “disciplina de mercado”) e a Autoridade Monetária, nas suas operações de open market, tratar sempre todos os Bancos por igual. Contra-senso mais evidente quando, como era o caso, as figuras de Autoridade Monetária e de Supervisor se confundiam. Contra-senso que, diga-se, lá vai prosseguindo a sua carreira sem que ninguém (muito menos os Bancos de maior dimensão e com capitais próprios mais “à pele”) se sinta, ainda hoje, incomodado.
vMas difícil, difícil era medir de forma consistente e comparável os riscos a que os Bancos supervisionados se expunham. O facto de os modelos de supervisão, desde os idos da Grande Depressão, se terem acomodado a umas quantas “verdades” não ajudava mesmo nada. E que “verdades” eram essas?
vQue o risco de crédito dependia fundamentalmente da natureza jurídica do devedor. Que um Banco, salvo se se debatesse já com dificuldades óbvias, representava tanto risco quanto qualquer outro Banco – o que é dizer, praticamente nenhum. Que os preços das casas e dos terrenos urbanos (não tanto dos imóveis comerciais e, certamente que não, dos solos agrícolas) nunca viriam por aí abaixo. Que, para os Bancos, as perdas jamais excederiam uns coeficientes fixados com burocrática certeza. Que, em matéria de risco criado, as cláusulas contratuais valiam todas por igual, mesmo aquelas que nunca tinham sido postas à prova em tribunal. Que uma contabilidade certinha mais uma aritmética simples bastavam para comprovar se um Banco representava, ou não, uma ameaça para a estabilidade do sistema financeiro.
vA presente crise veio demonstrar que estas “verdades”, afinal, não eram tão verdadeiras assim. Bendita crise, pois - que mais não seja, só por isto.
vDesde logo, um Banco é, por mais que se negue, causa de risco. E o risco por ele criado reflecte, inevitavelmente, todos os riscos a que se encontrar, por sua vez, exposto (risco de crédito, risco de contraparte, riscos de mercado, vários riscos operacionais e tantos outros), ampliados por uma gestão inábil (mais riscos operacionais, o risco de reputação entra em cena) e amortecidos pelos capitais próprios que existirem. Por isso, considerar - como o Acordo de 88 fazia, e como muitos Supervisores ainda hoje fazem - que os Bancos, em condições normais, pouco ou nenhum risco representam é contar tão-só com a fiança prestada ad perpetuum pelos contribuintes (sob a forma de mutuante de último recurso), sem ter a honestidade de o admitir publicamente.
vPor certo, os preços das casas não exibem a volatilidade típica das cotações de muitos outros instrumentos financeiros: é frequente permanecerem relativamente estáveis, em termos reais, durante longos períodos. Mas também não é raro formarem-se “bolhas” especulativas, aqui e acolá, ora neste, ora naquele segmento do mercado imobiliário, alimentadas por expectativas que se auto-justificam. Os preços das casas, quando desatam a subir, crescem, crescem, apenas com tímidos recuos pelo meio, como se não tivessem limite...até ao momento em que, por nenhuma razão aparente, caem de forma abrupta, arrastando com eles famílias, investidores e instituições financeiras. Esta fraca volatilidade histórica torna completamente inúteis os modelos de previsão financeira baseados em volatilidades constantes ou facilmente previsíveis. Por estranho que pareça, as dificuldades que o mercado imobiliário coloca à política monetária e à supervisão prudencial resultam precisamente do facto de os preços das casas não serem suficientemente aleatórios: neles, o acaso só irrompe de tempos a tempos – e metade das vezes para dar más notícias.
vOs coeficientes (8%, ou menos) usados para determinar o Capital Mínimo Adequado às posições longas que os Bancos mantenham nos seus Balanços são completamente falhos de suporte estatístico – facto que ninguém quer reconhecer. Se, para as posições “investment grade” (de AAA até BBB, na escala da Standard&Poor’s) isoladamente consideradas, coeficientes entre 4% e 8% parecem ser suficientes para respaldar confortavelmente as perdas não esperadas (isto é, a parcela que vai da perda esperada à perda máxima provável), já para as carteiras de crédito que são geridas por grandes números (como é o caso da Banca Comercial e da Banca de Retalho) são manifestamente insuficientes pelo menos em dois cenários: conjunturas derecessãoprofunda (ainda que circunscrita a um dado recanto da economia) e cúmulo derisco (ou seja, várias posições longas vulneráveis a um único factor de risco). Acontece que esta insuficiência mais se acentua quando as taxas directoras se situam em níveis muito baixos, posto que, em tais circunstâncias, os Bancos têm dificuldade em repercutir no pricing dos empréstimos o risco de crédito a que se expõem – e, então, o Capital Mínimo Adequado terá de acautelar também a modéstia das taxas de retorno.
vCúmulo de risco (um mesmo bem e, quantas vezes, uma mesma entidade causadora do risco associados a um amplo leque de instrumentos financeiros, firmes uns, contingentes outros, cujo capitais, somados, são múltiplos da dívida original) e pricing claramente desajustado é o que mais se vê por todo o lado, na presente crise. E os Supervisores não conseguiram detectar nem uns nem outros. Nisso estamos. (cont.)
- Oh vizinha Rosa! Dá-me um pezinho de salsa do seu canteiro?
- Pois não, vizinha D’mitília. Tenho muito prazer… e da próxima é a vizinha que me dá uma colher de açúcar.
* * *
- Então, Zé! Ouvi dizer que deixaste de beber vinho e te passaste p’ró chá de tília?
- Sim, sim! ‘Tá-se mesm’a ver não ‘tá-se?
* * *
Engenharia linguística complicada, esta que se usa em português quando para se dizer «não» se diz «sim» e para se dizer «sim» se diz «não». Compreende-se que qualquer estrangeiro com menor luso-folgança se sinta atordoado no meio de tais sentidos idiomáticos.
Contudo, o Acordo Ortográfico ora em processo de ratificação parlamentar a nenhuma questão deste estilo se refere pelo que a confusão idiomática continuará. E compreende-se que um documento que se debruça sobre questões ortográficas nada refira quanto ao sentido das expressões.
Em terminologia actual, a língua é o conteúdo e a ortografia o programa que deve ser instalado no hardware. O hardware somos nós, os falantes. Só que somos de marcas diferentes e o documento em discussão pretende tão só compatibilizar-nos.
Assim, com a discussão entre linguistas catedráticos e outros escolásticos superiores, o documento pretende fazer de modo erudito aquilo que todos nós fazemos empiricamente: entendermo-nos. E ao longo da História o entendimento foi a tal ponto que proliferaram os mulatos e outros mistos conforme as latitudes por que nos pavoneámos. E esse entendimento foi fácil porque nós, os colonizadores de alma lusa, não tínhamos um tão elevado nível médio de erudição que nos impressionasse a chega às gentes colonizadas a quem alguns chamavam selvagens. E nós éramos mais sofisticados? Talvez menos, até porque entretanto estávamos voluntariamente desenraizados ou isso mesmo mas à força: degredados.
E foi com base na via mais popular – e quantas vezes “a ferros” – que a língua portuguesa se disseminou por aí além… Os escolásticos menos que isso fizeram pois ficaram em Portugal, nas capelas e a perorar ex-cathedra.
Fará algum sentido tratar com real ou pretensa erudição um modo de comunicação de origem vincadamente popular? Mais: num mundo como o lusófono flagelado pelo analfabetismo adulto, que importância tem a discussão de subtilezas da sintaxe, do til, do hífen e do «h» mudo?
Temo que tudo isto não passe de mera bexiguice para o comum dos mortais lusófonos que continuarão a entender-se como desde o tempo em que os primeiros navegadores se fizeram ao mar oceano nos idos do séc. XIII, já vai para 800 anos…
E assim como a rádio e a televisão vieram dar algum sentido de unidade aos diversos falares locais e regionais dentro dum mesmo país, também hoje a Internet esbateu as distâncias e eu próprio – que estou em Lisboa – me contacto instantaneamente com amigos brasileiros, portugueses, africanos nas duas costas, goeses e cingaleses. É este contacto que esbate as diferenças e eu não estou de facto minimamente preocupado em saber se os meus amigos do Brasil usam um fato ou um terno, se os de Moçambique empurram ou chovam um carro que se avariou e se o amendoim do Algarve se chama alcagoita. Nada disto é grave. Pelo contrário, é riqueza. E esta riqueza linguística deve ser aproveitada, não neutralizada e de maneira nenhuma anulada. Quando todos comunicarmos com todos – como só agora começa a ser tecnicamente possível – o entendimento será mais fácil, os pontos de vista tenderão a uniformizar-se assim como os modos de expressão. E mais uma vez a língua e a sua expressão impressa se desenvolverá e uniformizará com a naturalidade que só os povos sabem fazer.
Está-se mesmo a ver que vingará a via popular em detrimento da erudita saindo vencedor quem colocar mais telenovelas no ar. Cá pelo meu lado, hardware me confesso, informo que estou programado há 60 anos de um modo que não tem revelado grandes males e, portanto, vou continuar nele. Decretem Suas Excelências o que muito bem entenderem.
E, para concluir, um aroma no moderno esperanto: toda a sofisticação que se está a querer dar ao assunto cheira a lobby.