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A bem da Nação

Viva o 1.º de Dezembro!



D. João IV 

D. João IV (1604-1656)

No próximo 1.º de Dezembro comemoram-se 367 anos da Restauração da Independência.
Olivença foi das primeiras povoações a aclamar D. João IV como seu legítimo soberano, logo em 5 de Dezembro de 1640, identificando-se com a divisa que lhe fora outorgada pelos Reis de Portugal:
NOBRE, LEAL E NOTÁVEL VILA DE OLIVENÇA!
Ocupada militarmente por Espanha em 1801 e mantida sob o seu domínio, Olivença não pode hoje viver, com os demais portugueses, a sua Portugalidade.
A usurpação de Olivença, em violação do Direito, da História, da Cultura e da Moral, constitui alerta eloquente para todos os portugueses que querem um Portugal livre e independente.
Lembrando a ocupação estrangeira do território oliventino e apelando à participação cívica de todos na exigência da sua retrocessão, o Grupo dos Amigos de Olivença participará como habitualmente nas comemorações nacionais do Dia da Restauração.
Convidam-se todos os associados e apoiantes a integrarem a Comitiva do Grupo dos Amigos de Olivença que se concentrará, no dia 1.º de Dezembro, às 15:30 horas, frente à sua sede, na Casa do Alentejo, dali saindo para comparecer nas cerimónias públicas que terão lugar às 16:00 horas, na Praça dos Restauradores, em Lisboa.

Olivença É Terra Portuguesa!                                
   
Lisboa., 24-11-2007.
A Direcção
Grupo dos Amigos de Olivença
www.olivenca.org

Português com açúcar

 

 

Jean Baptiste Debret (1834-39) Família pobre em sua casa  

O emprego da forma reduzida do gerúndio no português do Brasil e as diferenças na linguagem e forma de falar têm dado discussões sobre o que seria o mais correcto, se a forma brasileira ou a portuguesa, que emprega o infinitivo gerundivo. Do excelente artigo de André Petry “Acusando, culpando e errando” retirei alguns trechos que acho poderão dar alguma luz sobre o tema.  

“Na História de Portugal de Fernão de Oliveira, autor da primeira gramática da língua portuguesa, aparece 61 vezes o gerúndio dos brasileiros, e nenhuma vez o infinitivo gerundivo dos novos lusitanos. (...) Os portugueses passaram a usar o infinitivo gerundivo nos fins do século XIX e a aplicação se consolidou na primeira metade do século XX. (...) Segundo Núbia Mothé (Professora da Universidade Federal do RJ), o português emprega a nova forma mais na língua falada que na escrita e principalmente entre os jovens (até 35 anos). O que significa que em Portugal ou no Brasil usam-se as duas formas. A diferença é que preferimos a antiga e clássica e os portugueses a nova. (...) Mas também é indiscutível que, em terras brasileiras, o idioma de Portugal ganhou com os africanos e com os outros imigrantes, novas palavras, novas formas de falar. (...) Segundo Gilberto Freire em Casa Grande e Senzala, a negra africana, mãe preta, bábá e cozinheira da casa, fez com as palavras o mesmo que com a comida, machucou-as, tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. Daí esse português que no norte de Brasil, principalmente, é uma das falas mais doces do mundo. (...) Mas também Miguel de Unamuno, escritor espanhol dizia que o português é como “o espanhol sem ossos”. (...)  Depois que as negras amaciaram o nosso idioma com seus dengos e cafunés, com seus quitutes e quindins, todas essas palavras de origem africana Eça de Queirós percebeu e disse que o idioma do Brasil era “português com açúcar”.

Tudo isso são variações, acréscimos e modificações que o tempo e a evolução histórica trouxeram à língua portuguesa e que a ajudam a sobreviver.

Trechos do Artigo de André Petry: “Acusando, culpando e errando”, editados na revista VEJA em 31 Outubro/2007.

Uberaba, 13/11/07

Maria Eduarda Fagundes

 

A PROVÍNCIA PLATINA - O TROPEIRISMO NO BRASIL - 2

                          
 
Final parte 1: A actividade dinâmica da Bacia do Prata estimulou o governo português a intervir na região. Mesmo antes da assinatura do Tratado de Madrid em 1750, Portugal actuava com a intenção de incorporar a região a seus domínios, interessado em participar no comércio local. Isto explica a fundação da Colónia de Sacramento em 1680 e o estímulo à ocupação das terras gaúchas ao sul do território português.
 
 
Vejamos a visão do lado português sobre a região sul do território:
 
Para a compreensão do desenvolvimento da região de Campanha e de toda a província de São Pedro do Rio Grande do Sul é necessário considerar aspectos físicos e políticos, os sociais e os económicos, que por longo tempo marcaram a região. Estes aspectos se referem à distância que separava a antiga Comandância Militar, depois Capitania, do núcleo político colonial e nacional constituído no centro-sul, em torno do Rio de Janeiro, estendendo-se às regiões de Minas Gerais  e São Paulo. A distância isolou a população da costa e do interior em sua tentativa de articular uma existência social e política mais estável ante ameaças de toda ordem. A distância e o isolamento foram agravados pelo factor de zona de transição - geográfica, política e nacional que a Capitania e a província sempre desempenharam. Soma-se a esses aspectos a característica de região de fronteira sempre disputada. O isolamento proveio também da existência de uma costa difícil, obstáculo à navegação até a sua proximidade. Estes motivos explicam o isolamento da região sul do território português dos contactos com o núcleo político e administrativo situado na região centro-sul do território. Em conseqüência, o Rio Grande do Sul desenvolveu uma existência autónoma por bom tempo. A autonomia marcou seus contrastes, suas peculiaridades diferenciando a sua formação, condicionando o desenvolvimento de sua integração e de sua fisionomia. O factor transição acentuou ainda mais esses traços. O Rio Grande do Sul apresentava geograficamente uma extensa área de transição entre o território que viria a ser brasileiro e aquele onde argentinos e uruguaios acabaram por estabelecer a sua autonomia; onde antes as lutas de sucederam em disputas prolongadas.
 
A fronteira concedeu marco histórico à região sul do território português habitado, nas origens,  por índios Guaranis.
Padre Antonio Vieira
 
Com o domínio espanhol sobre Portugal e suas colónias depois da derrota de Alcácer-Quibir, as terras americanas, nesta parte do continente, ficaram sob uma única bandeira. Por essa razão deixou de existir a demarcação de Tordesilhas, que limitava a expansão dos espanhóis e portugueses no território de suas colónias da América do Sul. Portugal e Espanha, nações católicas, aliaram à tarefa de colonização em todo mundo a catequese jesuítica. Nos domínios Portugueses a catequese não aconteceu pela necessidade que surgiu desde os primeiros tempos, de se servir do braço indígena; necessidade esta ampliada mais tarde. Na zona de povoamento do nordeste existia o cultivo agrícola com o trabalho escravo negro. Na região subsidiária vicentina (actual Estado de São Paulo) operava a servidão indígena reforçada com a crise do domínio holandês. Surge o tráfico dos índios capturados. A acção dos jesuítas foi insuficiente para deter essa realidade. Os religiosos acabaram expulsos de São Paulo, centro de irradiação das bandeiras de apresamento indígena.
 
Continua.
Belo Horizonte, 22 de Novembro de 2007.
Therezinha B. de Figueiredo 

LIDO COM INTERESSE – 22

 

Detalhes do Livro 

Título: Mandela

Autor: James Gregory & Bob Graham

Tradutores: Maria João Diniz e João Paulo Diniz

Editores: Casa das Letras

Edição: 1ª, Setembro de 2007

 

 

Como notas prévias, tenho a referir que acho o título excessivamente longo “Mandela. Meu prisioneiro, meu amigo – GOODBYE BAFANA” e por isso decidi abreviá-lo como está acima e que se Bob Graham é Autor, não se dá pela sua presença pois todo o livro é escrito na primeira pessoa, a do outro co-Autor, James Gregory.

 

Foi numa das minhas visitas semanais aos escaparates que decidi não esperar pelo Pai Natal e comprar logo este livro cujas badanas e Prólogo me encantaram de imediato.

 

É um livro escrito ao contrário pois começa pelo fim, ou seja, pela tomada de posse de Mandela como Presidente da África do Sul, passa para a juventude do narrador em contacto muito próximo com a civilização zulu a que pertencia o seu grande amigo Bafana e daí para o ingresso numa carreira profissional que, no caso, foi a de guarda prisional ao serviço do apartheid.

 

Dá para adivinhar o futuro quando o jovem Gregory se apresenta ao serviço na prisão de Robben Island e lhe mostram Nelson Mandela:

«- Gregory – acenou [o Chefe dos guardas que o estava a introduzir no serviço] com óbvio desdém pelo homem – este aqui é Nelson Mandela.

A voz deste era firme e directa como os seus olhos:

- Bom dia – disse – Bem-vindo a Robben Island.

A minha resposta foi pouco usual:

- Bom dia – respondi – Eu vejo-te.

Era uma frase que eu tinha aprendido há muitos anos, em criança, a crescer perto dos Zulus, uma saudação de amizade. Imediatamente parei, pensando porque raio usara esta frase, pela primeira vez, desde Ongemak.»

 

Seguem-se 20 anos de convivência em que o não muito convicto racista branco se transforma em amigo e confidente do ‘seu’ prisioneiro.

 

Curiosidade literária que a tradução portuguesa terá permitido mas que no original em língua inglesa pode ser menos evidente: o guarda sempre tratou o prisioneiro por ‘tu’ e este sempre tratou o guarda por ‘Senhor Gregory’. Foram 20 anos de respeitoso relacionamento que se foi transformando em verdadeira amizade em que sempre foi patente a superioridade intelectual do prisioneiro e que culminou com uma frase final no momento da libertação em que o emocionado guarda agradeceu dizendo «-Obrigado, senhor

 

O estilo e o conteúdo provocam alguma voracidade na leitura e é com pena que se chega ao fim. Dá para imaginar que um dia destes o Autor vai publicar a continuação da história pois não apetece ignorar o que foi a vida do guarda (o narrador) depois da libertação do prisioneiro, o que foi a vida do cidadão comum na África do Sul enquanto Mandela assumiu a Presidência da República e onde está hoje Bafana, o miúdo preto do princípio do livro e cujo nome pertence ao título.

 

Bafana esse que pertence a uma civilização em que as mulheres se enfeitam com colares de contas pois «os espíritos que nós invocamos vêm sentar-se nos laços das contas e falam apenas aos nossos ouvidos».

 

Terá certa vez dito Kobie Coetsee, Ministro da Justiça nos Governos de Botha e de de Clerk, ao apresentar James Gregory a um afamado juiz, «Este é o homem que tirou a Nelson Mandela o ódio contra o homem branco.»

 

Como a História da África do Sul poderia ter sido diferente se Nelson Mandela não tivesse sido guardado por James Gregory, o homem que pacificamente derrotou o apartheid.

 

Lisboa, Novembro de 2007

 

Henrique Salles da Fonseca

A PROVíNCIA PLATINA - O TROPEIRISMO NO BRASIL - 1

                         
 A palavra tropeiro deriva de tropa. Refere-se ao conjunto de homens que transportavam gado, mulas e mercadorias durante o período do Brasil colónia a partir da região do Rio Grande do Sul até aos mercados de Minas Gerais e posteriormente São Paulo e Rio de Janeiro. O tropeirismo é associado à criação e venda de gado, actividade iniciada com o desenvolvimento da mineração entre os séculos XVII e XVIII. É associado também ao transporte de mulas devido ao difícil acesso da região mineradora. Somente as mulas conseguiam ultrapassar os obstáculos e chegar àquela região.
 
                        A MINERAÇÃO
 
A descoberta do ouro e posteriormente dos diamantes foram responsáveis por um grande afluxo populacional para a região das minas gerais. Paulistas, portugueses e escravos procuravam a região. Essa corrida em busca do eldorado causou um grave problema - a falta de alimentos e produtos básicos. A escassez de géneros agrícolas resultou em elevada porcentagem de mortes. Crises de fome atingiram a zona mineradora por longo período.
Os que migraram para a região sonhavam com a riqueza mineral e poucos se dispunham a trabalhar a terra. Esta situação fez florescer um comércio interligando o porto do Rio de Janeiro ao interior. Os produtos manufacturados que chegavam de Portugal eram transportados no lombo de animais. A Capitania não produzia para o consumo de suas necessidades. Daí a importância das tropas na movimentação da produção das minas.
 
                      A Região Sul e o Gado 
 
É difícil falar em sul do Brasil, pois no início do período da mineração a América era ainda dividida pelo tratado de Tordesilhas e teoricamente a região onde se localiza o actual Estado do Rio Grande do Sul pertencia à Espanha. Nessa região as actividades económicas assemelhavam-se às da Argentina, Paraguai e Uruguai. Toda a área constituía o VICE -REINADO DO PRATA. Sem o estudo da formação sulina fica difícil o entendimento mais amplo do quadro platino. Falar da formação sulina é também falar do quadro platino. Ele procura completar do lado brasileiro o que é visto do lado argentino. A questão platina para o Brasil não se limitava ao que interessava às forças dominantes, metropolitanas antes da autonomia e latifundiárias depois dela. Às forças dominantes interessava o problema da conquista do mercado platino em seu benefício e particularmente em benefício do mercantilismo britânico. Este é um dos lados da questão. Havia outro factor de importância fundamental - a existência de uma área brasileira platina, de caráter um pouco platino, na colónia e no império com interesses locais misturados a todos aqueles que existiam na zona dominada pelos espanhóis. Isto acarretou uma série de intervenções na região.
 
A criação do gado na região teve início para abastecer as minas de prata no interior do Peru, tanto no sentido de transportar para o interior os produtos provenientes da Espanha, como trazer das minas a prata, que era embarcada em navios nos rios da Bacia do Prata e no porto de Buenos Aires para a metrópole. Esta actividade dinâmica da bacia do Prata estimulou o governo português a intervir na região. Mesmo antes da assinatura do tratado de Madrid em 1750, Portugal actuava com a intenção de incorporar a região nos seus domínios, interessado que estava em participar no comércio local. Isto explica a fundação da Colónia de Sacramento em 1680 e o estímulo à ocupação das terras gaúchas. Esta é uma visão simplificada do lado espanhol.
 
Vejamos a visão do lado português sobre a região sul do território: (Continua).
 
Belo Horizonte, 19 de Novembro de 2007.
Therezinha B. de Figueiredo

Lógica cartesiana

Combate aos fogos

Este foi o ano com menor área ardida dos últimos 30 anos. Este excelente resultado deve ser atribuído às óptimas políticas do Governo.

Este Outono foi dos que teve mais fogos. Este facto deve ser atribuído às temperaturas anormalmente elevadas para a época.

(Autor anónimo, texto recebido por e-mail)

CRÓNICAS DO BRASIL

 CULINÁRIA TAMBÉM É CULTURA

                                 

 

             Polenta de milho verde com carne moída e quiabo

 

O Brasil, pais de imigrantes, tem uma culinária rica e variada. O brasileiro utiliza as receitas básicas trazidas pelos imigrantes e agrega elementos e novos sabores, transformando e enriquecendo o alimento ao seu gosto.

 

A polenta, espécie de mingau à base de milho, de consistência mais ou menos cremosa, é uma comida de origem italiana que faz sucesso na culinária rural, onde adquiriu novas formas de se apresentar e ser apreciada, como esta receita que utiliza a polenta com toques africanos.

 

 

Polenta de milho verde com carne moída e quiabo.

 

10 espigas de milho verde

3 colheres de sopa de margarina

3 colheres de sopa de óleo

2 caldos de galinha

1 Kg de carne moída

100g de queijo ralado

100g de tomatada

Pimenta

Sal

Cheiro verde

Cebola e alho

 

Modo de preparo:

 

Corte o milho das espigas e bata-o no liquidificador.

Leve o creme ao fogo (lume) até engrossar. Acrescente a margarina, metade do queijo ralado, o caldo de galinha e o sal.

 

Refogue a carne moída e o quiabo com a cebola picada, sal, pimenta,  tomatada, um dente de alho picado e por ultimo o cheiro verde. Coloque a polenta num pirex e cubra com um molho de carne e quiabo. Polvilhe com o restante do queijo.

 

Sirva o prato quente, sozinho ou como acompanhamento.

 

Receita de Fabiana Borges ( Restaurante Fazendinha Sabiá)

 

Maria Eduarda Fagundes

Uberaba, 12/11/07

AS DESVENTURAS DA DEMOCRACIA

 

Portugal e a Europa vivem mudanças ocultas mas radicais na sua política. Estas provêm da degradação das elites e, por reacção, do excesso democrático que reduz a democracia.

A sociedade precisa de elites políticas, culturais, intelectuais e económicas. Destacando-se da população, elas influenciam decisivamente a evolução social. A democracia não se opõe, pelo contrário necessita dessa classe dirigente, desde que seja aberta, móvel, lúcida e respeite as regras. Nem sempre o povo entende o caminho proposto e é normal que desconfie dos líderes. Estes, sob pressão, sentem necessidade de se justificar, corrigir, gerar resultados. Esta interacção saudável entre classes faz a comunidade progredir, mesmo com zangas e lutas.

Um dos maiores dramas sociais é, portanto, a decadência cíclica das elites. Quando tal acontece aparece a tentação de as eliminar. Há 200 anos os jacobinos e há 100 os comunistas disseram criar a democracia perfeita na "sociedade sem classes". Mas a anulação das diferenças é tonta, como impor igualdade de gostos ou alturas. As classes sociais são um fenómeno tão natural como o sono, a família ou a chuva. Este facto, evidente com um mínimo de atenção, é negado em certas épocas mais arrogantes que julgam poder mudar a natureza humana, acabando por sofrer os efeitos do atrevimento.

O pior de tudo é que, ao insistir na tolice de recusar diferenças, se deixa de actuar onde é conveniente e necessário. O esforço de cada época deve ser, não eliminar desigualdades mas injustiças, não erradicar classes mas evitar a sua degradação e promover a mobilidade. Cada grupo deve cumprir o seu dever no bem comum. Os problemas surgem quando, por cobiça ou preguiça, se alteram os papéis sociais. Como disse Confúcio: "Deixem o dirigente ser um dirigente, o súbdito um súbdito, o pai um pai, o filho um filho." (Analectos XII, 11).

O estádio actual da integração europeia manifesta bem o problema. Desde sempre a CEE constituiu um projecto das elites. Os grandes avanços comunitários de partilha de soberania são rasgos de génio de um punhado de líderes que mal conseguiram o apoio alheio e distraído das massas. Os sucessivos tratados europeus foram aprovados de forma expedita, com o povo concordando tacitamente e sem entender bem o que se passava. Houve erros e abusos, mas grandes benefícios.

O sucesso das elites trouxe a desorientação. A arrogância levou-as à fúria do alargamento que mudou para sempre a Comunidade. Pior, embebedadas de euforia, acharam que o povo ia aprovar a malfadada Constituição Europeia. O resultado foi, não mais representatividade, mas a maior crise institucional da Europa que, se vier a ser resolvida, deixará cicatrizes duradouras.

Entretanto, Portugal caía num mal-entendido equivalente. Adoptando eleições directas para escolher os seus líderes, os grandes partidos mudaram para sempre a natureza da política portuguesa. O resultado, como nos EUA, não é mais democracia ou eficácia, mas mais populismo. Isso trará ao poder dirigentes como Clinton e Bush, Menezes e Santana, com relações ambíguas com os aparelhos e as ideologias.

Os efeitos são lentos. Nas primeiras "directas" as elites partidárias pareceram manter o controlo. O sufrágio de 24 e 25 de Setembro de 2004 no PS, com o poder já próximo, levou as massas a apoiar a liderança. O PP seguiu-se a 18 de Junho de 2005, mas com um só candidato indicado pelo congresso. A coisa só foi a sério a 21 de Abril de 2007, mas, regressando o ex-líder, a elite recebeu o benefício da dúvida, tal como antes no PSD, a 5 de Maio 2006. As bases só se atreveram a desafiar os barões, com evidente confusão e despeito destes, a 28 de Outubro de 2007. As recentes eleições no PSD constituem assim o primeiro exemplo claro daquilo que em breve se tornará normal.

A degradação das elites na Europa e Portugal levou ao sufrágio populista, dos referendos e directas. Mas, sem se equilibrar em classes sociais naturais e saudáveis, a democracia cai na oligarquia ou na demagogia. Como veremos por cá nas próximas décadas.

João César das Neves

Burricadas nº 10

 

Chuva de molha-tolos (cont.)

v      Quando se pronunciam sobre a actual turbulência nos mercados financeiros internacionais, os nossos políticos e outros “fazedores de opinião” cá do sítio são de um optimismo a toda a prova, animados por um raciocínio que, à primeira vista, parece sólido, incontroverso e de meridiana clareza: dos Balanços do Bancos portugueses não constam posições de crédito sobre o mercado hipotecário norte-americano, muito menos as temidas operações subprime; logo, tudo isto não passa de uma tempestade lá nos antípodas. Ponto final, assunto arrumado.

v      Assim será, de facto, quanto às aplicações financeiras dos Bancos portugueses. Mas não é só aí que os efeitos da crise no segmento subprime podem poisar e fazer ninho. Por isso, a conclusão é capaz de ser um pouco precipitada, e o sentimento de alívio algo exagerado.

v      Mesmo olhando só para as posições longas (os items do Activo, no dialecto dos financeiros), haverá que investigar com mais cuidado o que se passa nos Fundos de Investimento, sobretudo os mais agressivos que, por norma, investem fortemente em instrumentos derivados “fornecidos” pelos grandes operadores internacionais. Não haverá por lá nada que tenha subjacente o risco subprime ?

v      Não sei, mas duvido – certo como é que o clima de taxas de juro nominais muito baixas que se arrastou até finais de 2006 foi propício a investimentos de maior risco, na busca de uma rentabilidade que não envergonhasse. Acontece que os Bancos portugueses nunca hesitaram em jogar a sua reputação nos Fundos que promoviam, competindo arduamente por rentabilidades – e o perigo está à vista, ainda que os tais Fundos “agressivos” tenham reduzida expressão, entre nós.

v      E as Seguradoras? E, principalmente, os Fundos de Pensões? Não terão caído eles também na tentação de enveredar por estratégias credoras, subscrevendo CDO (Collateralised Default Obligations) e CDS (Credit Default Swaps), na esperança de que os modestos prémios que vinham engrossar os modestíssimos proveitos de hoje não se transformassem em pesadas indemnizações a pagar amanhã? Ora, muitos destes CDO e CDS têm subjacentes operações estruturadas construídas a partir dos tais créditos hipotecários subprime. Valeria a pena verificar melhor – já que medir com precisão riscos financeiros está longe de ser uma das nossas mais assinaláveis virtudes.

v      Mas não são só as posições longas que expõem um sistema bancário ao risco. O modo como os Bancos se financiam - conjugado com a composição das suas carteiras de crédito bancário - também pode revelar vulnerabilidades insuspeitadas.

v      Os aumentos de capital que os cinco maiores grupos bancários portugueses (CGD, BCP, BES, BST e BPI) levaram a efeito em 2006, reduziram significativamente a alavancagem monetária externa (isto é, a rácio entre o endividamento nos mercados interbancários internacionais e os capitais próprios exibidos) que era, aliás, o seu selo de marca desde 1999 - e a emissão de dívida no mercado de capitais também terá dado uma boa ajuda para tal. Já não era sem tempo.

v      Mesmo assim, a alavancagem monetária externa, bruta (isto é, sem tomar em linha de conta as aplicações em Bancos não residentes – já que estas são por prazos muito curtos), no fecho do exercício de 2006, oscilava entre 1.3x e 3.8x os capitais próprios destes cinco Bancos.

v      Forçoso é concluir que os grandes Bancos portugueses continuam a depender dos fundos obtidos nos mercados interbancários internacionais para prosseguirem com as suas actividades correntes (os Bancos portugueses de menor dimensão, esses, encontram nos mercados interbancários internacionais, quanto muito, soluções para a gestão pontual das suas tesourarias, mas não financiamento estável).

v      No capítulo da composição do Activo (expressa como deve ser em múltiplos dos respectivos capitais próprios), em quatro destes cinco Bancos a exposição ao mercado residencial ultrapassava 7x (oscilando entre 3.6x e 10.5x) os respectivos capitais próprios. A exposição directa ao mercado imobiliário (somando os empréstimos hipotecários residenciais, os empréstimos hipotecários não residenciais e os financiamentos à construção) poderá ser, talvez, o dobro. O peso da fileira da construção civil (isto é, de todas as actividades que confluem para a construção civil) na economia, e o facto de se tratar de empresas que operam tradicionalmente com níveis de endividamento bancário muito elevado, deixa entrever que, por cá, as coisas podem tornar-se verdadeiramente complicadas.

v      Não será exagerado afirmar que estes Bancos são, uns mais que outros, predominantemente originadores de empréstimos hipotecários residenciais. Créditos que mantêm em carteira – ou que titularizam, dispersando-os pelo mercado de capitais, mas retendo quase sempre uma grossa fatia do correspondente risco.

v      Poderão os Bancos portugueses demonstrar, quer nos mercados interbancários internacionais, quer no mercado de capitais, a qualidade das suas carteiras de operações hipotecárias?

v      Muito dificilmente, visto que, em Portugal, não existe um verdadeiro mercado imobiliário, antes um feixe de operações avulsas onde impera a assimetria de informação (selecção adversa). Ninguém consegue demonstrar qual o valor de mercado de um qualquer imóvel – tudo dependendo das circunstâncias em que tenha de ser vendido.

v      Com a agravante de que nenhum destes Bancos dá a conhecer os respectivos rácios loan-to-value (a cobertura dos capitais em dívida pelas garantias reais que lhes aproveitam, avaliadas estas a preços de mercado). Por isso, será muito difícil obter, a partir do exterior, uma visão clara do risco a que os Bancos portugueses estão expostos – e a que, por sua vez, expõem.

v      Neste ambiente de aversão ao “risco hipotecário” que a crise subprime veio criar, a estratégia de captação de fundos que os Bancos portugueses têm prosseguido (até 2006, privilegiavam os mercados interbancários internacionais; mais recentemente, viraram-se para o mercado de capitais, já directamente, com dívida emitida, já indirectamente, através de operações de titularização de créditos) fica, deste modo, seriamente comprometida.

v      E uma Balança de Transacções Correntes estruturalmente deficitária só agrava o que já de si não era nada fácil.

v      Os que transpiram optimismo e se crêem ao abrigo da tormenta, fariam melhor se começassem a escorar as suas casas.

A. PALHINHA MACHADO

Novembro 2007

Histórias do Canal

 

«Entrando no porto sobre remos»

 

 

 

Era uma madrugada escura e ventosa. No caminho coberto de pequenas pedras de lava petrificada os pés do homem afundavam num ruído seco e crocante. Andava ligeiro. No peito o coração batia-lhe acelerado. Ele percebia-o. Era jovem, tinha cabelos e olhos castanhos.  A pele era branca, mas curtida pelo sol e maresia. A barba crescida e a testa marcada mostravam fisionomia apreensiva e cansada. Sua mulher dera à luz há poucos dias e estava mal. O médico que a havia atendido disse ao marido que ela precisava ser tratada com gelo, colocado no baixo-ventre, até que a febre cedesse. E naquela ilha, no inicio do século XX, só se arranjava gelo no cume da montanha do Pico ou na ilha que ficava em frente, a Ilha do Faial. Era o seu primeiro filho que nascia e a mulher prostrada no leito ardia em febre, podia morrer.

Os pensamentos surgiam em sua mente como flashes. Precisava chegar à vila da Madalena, ao amanhecer, quando os homens , no cais, avaliam o mar para saber se podem ou não navegar. Só mestre Vital, o domador de oceanos até as terras do bacalhau, poderia ajudá-lo a atravessar o canal. 

 

Era março, ainda no inverno, e o mar cinzento e mexido respondia ao vento norte que trazia nuvens ameaçadoras, rasgadas pelos primeiros raios da aurora. Entre Pico e Faial, um extenso canal de mar profundo e com fortes correntezas ligava e separava aquelas ilhas irmãs. O Pico, ilha montanha, mais atrasado, não tinha porto seguro, mas tinha homens corajosos, caçadores de baleia, grandes conhecedores dos segredos do reino de Netuno. O Faial, com o seu porto abrigado da Horta, recebia novidades de outros lugares e comerciava , tornando a ilha mais evoluída e cosmopolita. Porém, ambos, Pico e Faial eram filhos de vulcão, dividiam as alegrias e agruras, na luta pela sobrevivência.

 

Na vila o jovem encontrou o amigo, que após olhar pensativo para o mar decidiu ajudá-lo.

Dentro e fora do barco o mestre do mar era respeitado, sua palavra era sentença de sabedoria e responsabilidade. Ouvia os companheiros e podia até acatá-los. Mas a sua palavra era a última a ser dada, nunca discutida ou contestada. Era sempre executada. Cabeça arguta escolhia os marinheiros a dedo, dele dependia a segurança da embarcação.

 Naquele dia, mestre Vital chamou os braços mais fortes, os espíritos mais corajosos. Começou pelos da própria família. Não deixaria Julinha, aquela jovem que vira nascer, morrer por falta de gelo. Iria ao Faial, até a Central Elétrica, buscá-lo.

 Bradou para a tripulação: Vamos arriar!

 A movimentação começou no cais. Em angustioso murmurinho, aos poucos o povo se aglomerou no cais. Eles iriam atravessar o canal.

 

Com manobras seguras e precisas o barco desceu a rampa do varadouro, e entrou no mar, surgindo e desaparecendo no fosso das ondas até tornar-se invisível ao olhar.

Ninguém arredou o pé do cais. Tudo ficou em suspenso. Fizeram uma vigia, promessas e orações. Quando o sino da igreja da Madalena batia, todos se benziam. Por mais de duas horas as pessoas esperaram, até que novamente algo apareceu entre as ondas e veio dar ao varadouro. Era o barco de mestre Vidal Chatinha com o gelo. Julinha estava salva!

 

Maria Eduarda Fagundes

11/10/07

 

Dados :

A Comunidade do Canal (Tomaz Duarte Jr.)

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