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A bem da Nação

BURRICADAS - 2

 

 

Chuva de molha-tolos ( II )

v      A crise financeira que, dizem, anda por aí é, por definição, dizem também, made in USA.

v      Estranho. E então as bolhas imobiliárias que a actividade bancária tem espalhado por essa Europa fora (Espanha, UK, Portugal, Alemanha, etc.)? Passam ao lado da crise? Com a agravante de que, por cá, a maior parte deste risco repousa ainda nos Balanços consolidados dos Bancos credores (o que parece não acontecer nos Estados Unidos, onde, mais dizem, a exposição dos Bancos é, em larga medida, indirecta).

v      Este é, talvez, o elemento novo no presente episódio: os Bancos americanos estariam expostos aos sobressaltos do mercado imobiliário, não directamente, mas por via dos financiamentos que concederam a quem (sobretudo, EIC/Entidades de Investimento Colectivo: Fundos de Investimento, Fundos de Pensões, Hedge Funds, etc.) quis investir fortemente no mercado dos créditos hipotecários (e não só).

v      De facto, com taxas de juro nominais excepcionalmente baixas, muitos investidores eram tentados a “alavancar” com dívida (dívida a Bancos, naturalmente) o capital próprio que tinham investido - para, desse modo, verem multiplicado o rendimento que as suas carteiras lhes poderiam proporcionar.

v      E, tentação maior, porque não “alavancar” ainda mais o capital próprio com “estratégias credoras” – isto é, subscrevendo risco (através dos tais “derivados de crédito”), agindo como seguradoras de riscos financeiros e cobrando prémios por isso. Na esperança de que o boom do mercado imobiliário (e não só) durasse, se não para sempre, pelo menos até que o risco subscrito se extinguisse paulatinamente?

v      Muitos investidores (com especial destaque para Fundos de Pensões e Hedge Funds) se bem o pensaram, melhor o fizeram. Com grande satisfação dos Bancos que, deste modo, emagreciam os seus Balanços, livravam-se do risco retido (ou seja, do risco de crédito residual a que continuavam expostos, apesar das operações de titularização que tinham originado) e assim libertavam capitais próprios, sem que vissem os seus proveitos minguar.

v      Não eram só os investidores a ser tentados, porém. Alguns Bancos, deslumbrados com o negócio, caíram na tentação de o expandir ainda mais com uma chuva de empréstimos destinados a financiar a mínima tentação dos investidores. Não se apercebiam eles, Bancos, de que lhes entrava pela janela o risco que tinham visto sair pela porta. E a Federal Reserve, aparentemente, tardava em aperceber-se disso, também.

v      Se as tais operações subprime andarem pelos USD 150 mil milhões que têm sido referidos, a dimensão das perdas potenciais só é motivo de preocupação se se concentrarem em, apenas, uns poucos Bancos de projecção internacional. Mas, a haver crise financeira, o primeiro embate será suportado por EICs – o que terá diferentes consequências para a estabilidade do sistema bancário.

v      As perdas dos Hedge Funds reflectir-se-ão nos Balanços dos Bancos por quatro vias: três traçadas pelo risco de crédito; a outra, pelo risco de mercado.

v      O risco de crédito manifestar-se-á: (1) pela dificuldade dos Hedge Funds, atingidos por perdas significativas, servirem pontualmente os empréstimos bancários que contraíram; (2) pela impossibilidade dos Hedge Funds pagarem as indemnizações previstas nos instrumentos de diversificação de risco que subscreveram; (3) pelo accionamento, por terceiros, das contragarantias que os Bancos tenham eventualmente prestado no âmbito dos riscos subscritos pelos Hedge Funds; (4) pelo desencadear do risco de reputação, dado o papel que os Bancos têm tido em tudo isto.

v      O risco de mercado, esse, agravar-se-á: num primeiro momento, quando os Hedge Funds mais previdentes começarem a vender títulos para reforçarem as suas posições de liquidez; mais tarde, quando a pressão dos resgates já não lhes deixar alternativa.

v      É provável que os Fundos de Investimento, sujeitos a regulamentos mais apertados, não tenham enveredado ostensivamente, nem por “estratégias credoras”, nem por empréstimos bancários, para “alavancar” proveitos. O tempo dirá. Deles, a ameaça maior para a estabilidade do sistema financeiro vem, sem dúvida, dos resgates que os forcem à venda massiva de títulos - e do efeito que isso não deixará de ter na volatilidade das cotações.

v      Acresce que muitos destes Fundos de Investimento giram na órbita dos Bancos, que os promovem activamente - se é que não partiu mesmo dos próprios Bancos a iniciativa de os criar. Por isso, o mercado envolve uns e outros na mesma capa de responsabilização – o que levará muitos Bancos, por razões de imagem e reputação, a fazer tudo para que os resgates não sejam suspensos e para que este ou aquele Fundo não seja declarado insolvente. Em tais circunstâncias, esse “tudo” (o esforço financeiro a desenvolver) estará longe de ser insignificante.

v      Enfim, é de temer que os Fundos de Pensões sejam, também eles, forçados a despejar títulos no mercado. Não por causa de resgates - que poucos admitem. Mas para repor a liquidez que as indemnizações previstas nos “derivados de crédito” forem sugando (e sabe-se como os Fundos de Pensões devem operar com níveis de liquidez relativamente elevados). Aliás, suspeita-se, há muito, que o grosso destes instrumentos de dispersão do risco passeie, sem se fazer notado, pelas contas extra balanço de Fundos de Pensões e Seguradoras.

v      Os efeitos das perdas patrimoniais que resultarem do default e, no limite, do write off de títulos (hipotecários ou não) poderão só ser sentidos a prazo, mas manifestar-se-ão, desde logo, no rácio de solvência dos Fundos de Pensões, face às responsabilidades que eles tenham assumido. Neste ponto, o que sairá abalado, mais do que a estabilidade, é a confiança no sistema financeiro. Os danos serão, por isso, bem mais difíceis de reparar.

v      Em suma: se o risco de crédito arrasta para o interior do sistema bancário a crise no mercado imobiliário, é o risco de mercado (primeiro, pela queda das cotações; depois, pela maior volatilidade das cotações) que dá a crises deste tipo uma projecção financeira verdadeiramente global. (cont.)

 

A. PALHINHA MACHADO

 

Setembro 2007

BURRICADAS - 1

Chuva de molha-tolos ( I )

v      E, de surpresa, estalou a crise nos mercados financeiros (fala-se ainda de uma crise passageira).

v      Um momento, Leitor: Surpresa? Crise? Aguaceiro breve em dia de Verão? Será assim? Pelo que se lê, dir-se-ia que é. E, no entanto...

v      Tudo parece ter origem no mercado imobiliário norte-americano. Afinal, um episódio mais do “efeito valsa” entre taxas de juro nominais e preços de imóveis: aquelas a descer e estes a subir, num rodopio.

v      Surpresa é que não foi, certamente. Desde que assumiu o cargo de Chairman da Federal Reserve (EUA), vai para dois anos, B. Bernanke não pára de alertar tudo e todos para a bolha especulativa que se estaria a formar no mercado das operações hipotecárias - em especial, nos compartimentos “não residencial” (que ainda não deu um ar da sua graça) e “residencial/risco agravado” (eufemisticamente, subprime - o que é dizer, com risco acima da média do mercado).

v      Crise será – mas, porquê? E, antes disso, como?

v      O “como” percebe-se. As taxas de juro nominais praticadas, em cada instante, nas operações sobre activos financeiros denominados numa dada moeda, não são fruto do acaso: formam-se a partir das taxas directoras que quem exerce a autoridade sobre essa moeda vai fixando de tempos a tempos.

v      Quando as taxas directoras descem, sobem (uns mais, outros menos) os preços dos activos financeiros (aqui entendidos como direitos, firmes ou contingentes, de receber liquidez em datas futuras) denominados nessa moeda (a razão de ser desta relação de causa/efeito é, de há muito, bem compreendida). E, por ricochete (ou contágio), os activos financeiros denominados noutras moedas vêem os seus preços variar também. Foi o que aconteceu nos EUA, e na UE, a partir de Setembro de 2001 - por razões de todos conhecidas.

v      Acontece que os imóveis têm uma dupla natureza: são bens de uso – a sua posse satisfaz necessidades que compõem a esfera real da economia; e são activos financeiros que pertencem à esfera nominal da economia - a sua propriedade (um acervo de direitos que podem ser transaccionados livre e separadamente) é fonte de rendimento. E é justamente por serem activos financeiros que as bolhas especulativas do imobiliário ocorrem de tanto em tanto.

v      No caso, tudo terá começado na América, de maneira quase linear: (1) taxas nominais mais baixas implicavam, para os devedores, menor esforço financeiro – logo, mais rendimento disponível; (2) preços do imobiliário (e dos terrenos) em crescendo sugeriam mais valias futuras, ali, ao alcance da mão - e pela certa; (3) preços mais altos (de imóveis e terrenos urbanizáveis) aumentavam, pelo menos à primeira vista, a capacidade de endividamento de quem já fosse proprietário; (4) com taxas nominais a descer, era possível contrair novas dívidas, mantendo o esforço financeiro que vinha do passado - tanto mais que o desemprego não se fazia sentir por aí além. Enfim, o azul do céu num radioso dia de Verão.

v      Muitos dos que podiam endividar-se ainda um pouco mais, não hesitaram. E, até os que não podiam, não quiseram deixar passar a oportunidade. Os Bancos (e outras instituições financeiras), esses, é que não podiam, de maneira nenhuma, perdê-la: também para eles, com a descida das taxas de juro nominais, o que pingava das suas carteiras de activos puramente financeiros começava a não dar para, simultaneamente, pagar estruturas, regra geral, pesadas e oferecer aos accionistas um retorno decente. Se a procura de liquidez (e a correspondente oferta de dívida) por parte das “Famílias” pressionava e pressionava, só havia que satisfazê-la, para manter o barco equilibrado e melhor compor os resultados no final do ano.

v      A tentação, para os Bancos, era enorme: de todo o lado pulavam as oportunidades para concretizar operações (os empréstimos hipotecários residenciais) que a tradição via como aplicações das mais seguras e que a supervisão (à luz do Acordo de 1988) tratava com desmedido favor.

v      Era certo que os empréstimos hipotecários residenciais, sobretudo esses, tinham prazos que tornavam os Balanços dos Bancos demasiado rígidos e algo difíceis de financiar. Mas a titularização de créditos, os instrumentos de dispersão do risco (por exemplo: “derivados de crédito”) e as operações “sintéticas” - as “meninas bonitas” dos mercados financeiros, desde meados dos anos ‘90 – aí estavam para afastar o incómodo.

v      Para os Bancos, tudo parecia bater certo: (1) mais e mais empréstimos bancários, com as correlatas comissões; (2) empréstimos que eram seguidamente desmembrados e reagrupados por prazos e por limiares de risco, formando carteiras supostamente homogéneas; (3) carteiras que eram, por sua vez, colocadas no mercado, através de operações de titularização (verdadeiras ou “sintéticas”) que rendiam ainda maiores comissões; (4) operações que envolviam “derivados de crédito” para maior sossego de quem nelas investisse; (5) instrumentos complexos, talhados caso a caso, que nem sempre eram fáceis de descodificar, mas que lá iam gerando umas comissões mais.

v      De financiadores últimos, os Bancos transmutavam-se, assim, em prestadores de serviços e fornecedores (“originadores”, é o termo técnico) do mercado de capitais. Com duas apreciáveis vantagens para eles, Bancos: comprometiam capitais próprios em fracções menores e por prazos mais curtos; e não viam necessidade de empolar o seu próprio passivo para obterem proveitos.

v      Perfeito, dir-se-ia – e era essa, na verdade, a convicção geral: dos Bancos, já se viu porquê; de quem sonhara com casa própria, porque podia finalmente tê-la; dos que já tinham casa, porque conseguiam converter em liquidez a valorização potencial desse seu património, sem ter de alienar o que quer que fosse; dos investidores, porque as novas alternativas de investimento permitiam-lhes atenuar os efeitos da descida das taxas de juro nos seus rendimentos, com a sensação de estarem imunes ao risco.

v      Se assim era, o que terá corrido mal? Ou aquele não seria ainda o mundo perfeito em que tantos acreditavam estar a viver já? (cont.)

A. PALHINHA MACHADO

Setembro de 2007

Corsários da nobreza

 

Nau do século XV

 

Era 1589, no Mar dos Açores o corso e a pirataria estavam no auge. Profissões desde antiga Grécia toleradas, principalmente em tempos de guerra, como desculpa para enfraquecer o inimigo, com aval dos reis, ou para enriquecimento fácil, através da pilhagem desautorizada de foras da lei. Em geral usavam marinheiros desertores, descontentes ou fugitivos, que conheciam os mares e suas rotas, para integrar as suas hostes. Era gente ousada, destemida e cruenta que enfrentava a morte no dia a dia, em busca de riquezas.  Inglaterra, França, Holanda, Argélia e as terras do Sol Nascente tinham homens nessa labuta, até os portugueses, principalmente nas Índias, usavam desse expediente.

 

As naus que vinham das Américas e do Oriente, carregadas de riquezas e especiarias, pesadas e pouco protegidas, seguiam uma rota que passava pelas ilhas dos Açores, onde faziam aguada e se abasteciam de provisões. As ilhas, habitadas por gente pacífica enfraquecida pelas recentes lutas pela disputa do trono português e que tinha para sua defesa poucos soldados e armamentos, eram um petisco para a pirataria em geral e para o corso inglês, que via a oportunidade de minar as forças espanholas, suas rivais, que naquele tempo se instalaram no arquipélago açoriano.

 

Era primeiro de agosto, pleno verão, o sol estava a pino e o mar calmo de um azul forte e cristalino, sem nuvens no horizonte. Ao largo da Ilha de São Miguel, a frota de 13 navios do Conde de Cumberland velejava à cata de navios que faziam a carreira comercial das Américas e das Índias. Tiveram sorte. Da proa da nave capitânia Vitória, o comandante, através da sua luneta, espreitava o movimento das duas naus espanholas, carregadas de vinho e azeite, que se refrescavam no ancoradouro. Em terra , um tiro de canhão troou, ameaçando os olheiros, que sorrateiros mantiveram-se longe dos olhos e do alcance dos pesados projeteis do Castelo-fortaleza. Esperaram pacientemente a noite. Protegidos pelas sombras, entraram no Porto e após débil resistência pilharam a sua presa.  Não se satisfizeram. Continuaram na sua ronda, à espera de outra nau incauta que lhes desse mais riquezas. Quatorze dias após, ainda no Mar dos Açores, procuraram água e mantimentos, com os habitantes da Ilha das Flores. Pagavam com azeite e vinho...! Em ilhas tão distantes e isoladas, sem defesa, no meio do Atlântico, melhor era fazer negociações. O preço de uma recusa poderia sair mais caro. Alguns tripulantes que desceram a terra, curiosos inspecionaram a pequena ilha. De volta levaram mantimentos e noticias que havia uma frota espanhola na Ilha da Terceira. Zarparam a toda pressa. Mas ao passar pela Ilha do Faial, uma das embarcações se aproximou demasiadamente do Porto da Horta, em reconhecimento. Foi recebida como inimigo, com um tiro de canhão certeiro, saído das ameias do castelo–fortaleza de Santa Cruz.  Atingida, não gravemente, retirou-se sem responder ao ataque e reuniu-se à frota que partiu em direção à Terceira, bordejando outras ilhas. Não queriam desperdiçar tempo e munição naquele momento.

 

Ao chegarem ao largo da Ilha Terceira, decepcionado, o Conde de Cumberland constatou que não havia mais nada no Porto. Porém o espírito de revanche lembrou-lhe do episódio no Faial. Havia uma alternativa para pilhagem, a ilha que tão mal o recebera. A 6 de setembro a frota chegou à ilha. Para sorte deles, na baia do Porto da Horta, uma nau da Índia e outras sete embarcações, ancoradas, se reabasteciam. Capitaneando a nau Vitória, guarnecida por 80 peças de artilharia, aguardou a proteção da escuridão da noite para se aproximar e atacar as presas. A luta demorou pouco mais de uma hora. Os espanhóis e portugueses, derrotados, atiravam-se ao mar, na tentativa de atingir a terra a nado, fugindo do inimigo.  Dias depois da rapina, ainda ocupando as águas do porto, o Conde de Cumberland enviou emissários a terra. Exigia a rendição da fortaleza de Santa Cruz, que aquela altura não tinha carga e homens suficientes para enfrentar o poderio da esquadra inglesa, e um resgate para poupar as vidas dos habitantes e a vila. O governador e os capitães da Ilha do Faial responderam que não tinham mais o que entregar, pois havia poucos anos tinham sido saqueados pelos espanhóis (1583) quando das lutas para a ocupação da coroa portuguesa, em defesa do Prior do Crato. Mas se quisessem mantimentos teriam que vir a terra fazê-los com trabalhos.  O inglês não gostou da resposta e decidiu bombardear a fortaleza. Invadiu e atacou a vila, pondo em fuga a população aterrorizada para as matas do interior da ilha. Quando tomaram a fortaleza havia lá somente sete homens, o vigário e os capitães Gaspar Dutra, Tomás Porrás, Domingos Fernandes e João Francisco. Apesar dos civilizados e débeis protestos do nobre conde, os seus marinheiros- piratas saquearam casas e igrejas. Não satisfeitos exigiram também 20 mil cruzados para se retirarem poupando do fogo a vila. Contentaram-se com os 2 mil que lhes conseguiram arranjar com muito custo de particulares e com as pratarias escondidas das igrejas. E para demonstrar a “civilidade britânica”, antes de partir, Cumberland deu um lauto jantar a bordo da sua nau capitania e mandou convidar toda a população, com exceção do governador Diogo Gomes.  Aceitaram o convite quatro indivíduos desbriosos que a história poupou os nomes, mas que diz que foram muito bem tratados. Receberam na ocasião uma carta simbólica em que os ingleses prometiam não mais atacar a vila. Carta que mostrou não ter nenhuma valia naqueles tempos de pirataria, pois anos depois, no verão de 1597, a Horta  foi novamente atacada e invadida, desta vez pela frota de Conde de Essex, mais exatamente pelo seu imediato, o capitão Walter Raleigh, que lhe tirou a honra da ocupação e destruição da vila. Coisa que ele nunca lhe perdoaria.

 

A história se repetia.  A população mais uma vez debandou esbaforida para as matas e esconderijos dentro do coração da Ilha. Seguiu-se um ato de barbarismo que os historiadores ingleses esqueceram de contar, mas que a narrativa faialense deixou registrada na alma e na história daquela gente. Saques, destruição, cenas dantescas e macabras de abertura de sepulturas, à cata de tesouros supostamente escondidos, de fogueiras dentro das naves das igrejas, roubos, quebradeiras, cenas de pirotecnia pela ilha inteira. O que não puderam levar destruíram. Despedaçaram móveis, queimaram casas e cartórios, arruinaram arquivos e com eles boa parte da memória do Faial. Ao partirem deixaram um rastro enfumaçado de destruição. Da Matriz, das Igrejas da Praia do Almoxarife, da Conceição, dos Flamengos, e do Convento São Francisco, sobraram as paredes denegridas pelas labaredas. A horda distraída no seu festim, não percebeu que ao largo, no horizonte, passava a frota vinda das Índias, em direção à Terceira, carregada de riquezas que eles tanto ambicionavam.

O Conde Essex, através do seu imediato, Raleigh, tinha dado uma grande lição àqueles míseros ilhéus que tiveram a ousadia de recebê-lo à bala, para defender o pouco que ainda tinham de seu!

 

Maria Eduarda Fagundes

Uberaba 16/08/07

 

Dados bibliográficos:

Anais do Município da Horta

História da Ilha do Faial (Marcelino Lima)

Famelicão- 1940


AS NOIVAS DO MINHO

 

 

As noivas no Minho usavam o negro porque com o fato que se casavam seriam enterradas, um símbolo de fidelidade ao compromisso – isto é a versão corrente. Cá para mim, o negro era usado para realçar o belíssimo ouro de família. Lindo também o contraste que provoca com o véu, curto, fino e muito branco.

Para pegarem no ramo, branco também, usavam lenços bordados durante o namoro e sobre o namorado, os "lenços de namorados" (divirto-me sempre no americano dia de S.  Valentim quando levo fotocópias desses lenços para os meus alunos decifrarem e copiarem. Depois distribuo lenços de papel e o desafio de pintarem algo semelhante e descubro, espantadíssima, que a simbologia deles é absolutamente prosaica e, mais espantada ainda, que eles também chegam a essa conclusão e não gostam). Ou levavam lenços brancos, bordados pelas próprias, como no caso da fotografia.

 

Voltando ao ouro: será uma herança dos Celtas ou dos Suevos e perdura no gosto tão minhoto de o usar. Todas as figuras têm significado, sempre em torno do tema Amor, e são muitas as formas, é uma ourivesaria muito rica em imaginação, simbologia e beleza.

 

Quando passar a moda da massificação, pode ser que as noivas do Minho se voltem a casar de negro e ouro e não de branco e plástico, eu gostava que isso acontecesse.

 

Maria Eugénia Múrias

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