Foram estas duas as posições que, além de outras de ordem religiosa, opuseram os holandeses, invasores, aos brasileiros, luso-brasileiros e/ou portugueses, que, desde há um século, haviam adotado o Nordeste do Brasil em sua terra e aberto os caminhos da produção com um esforço que hoje é difícil de imaginar e reconhecer.
Os holandeses vieram para chupar a teta da produção existente, assaltar e roubar, sem qualquer intenção de se fixarem ao solo e aqui formarem uma nova pátria, do mesmo modo que abandonaram Nova Amsterdam (aliás vendida, que de tudo eles sacavam grana), por não sair dali o negócio que os «patrões» nas Flandres, esperavam.
Ficou, da sua estadia, a marca de um homem, só. Maurício de Nassau. Grande administrador. Os seus antecessores e posteriores, movidos pela ganância e intolerância ajudaram a fomentar o nacionalismo local, que acabou por correr com eles daqui para fora. A um elevado custo, já que o frágil rei de Portugal precisava do apoio da Holanda para consolidar a coroa recém retomada dos Filipes, e apesar da grande vitória no terreno, sofreu forte derrota nas finanças!
Maurício de Nassau (1604-1679)
Parece que a história se repete. Três séculos e meio mais tarde, o panorama que hoje se enxerga no Brasil é de um «mercantilismo» das instituições públicas, em triste confronto com o que seria de esperar: um nacionalismo verdadeiro, a elevação do nível geral da população, a começar pela instrução e cultura.
O mercantilismo impera em todos os segmentos da governança, e tanta é a pouca vergonha que os tribunais, em alguns casos, vão levar dez ou vinte anos para resolver, se... ainda nesse tempo longínquo algo houver a ser resolvido.
O compadrio é uma doença extremamente contagiosa. E o poder, um mal que, entrado no corpo, os «doentes» não o largam mais. É pior que alucinógeno!
O Brasil, como quase todos os países da América do Sul, vive no paternalismo político. O povo, paciente, aguarda que os governos resolvam os seus problemas, como no caso do Bolsa Família que já alcança mais de 25% da população (que votarão novamente no PT enquanto continuar esta mamata!), e assim o crescimento harmônico jamais acontecerá.
Estimula-se a vagabundice com esmolas e não se criam empregos que dignifiquem quem trabalha. Assim se compram votos e se mantém a maioria do povo na ignorância.
O que é essa compra de votos se não um mercantilismo moderno?
E nacionalismo não seria algo como o interesse em dar vida digna a todos?
Será que se perdeu a força da raça que, à custa Deus sabe de que sacrifícios, correu daqui com os invasores holandeses?
Com tanta terra e água à vontade (hoje nem tanta), num país com diferentes variedades de climas, que oferece frio e neve no sul, calor e sol permanentes no nordeste, chega-se à conclusão que Pero Vaz de Caminha tinha razão quando profetizou o destino agrícola do Brasil, na carta a D. Manuel: ...”Na nova terra tantas e boas são as águas que em se plantando tudo dá”.
Com a irrigação, defensivos e corretivos agrícolas, que combatem as pragas e corrigem o pH e qualidade do solo, não há mais terra ruim para a plantação, quase tudo é cultivável.
Há 52 anos atrás, quando cheguei dos Açores, no Brasil só havia para consumo do mercado popular frutas nativas ou aquelas trazidas pelos portugueses do Oriente e Europa, há séculos atrás, já adaptadas ao solo e clima tropicais.
A maçã, rara e cara naquela época, vinha da Europa e da Argentina. Hoje ela é produzida em grande quantidade nos estados do sul (principalmente Santa Catarina) e em variedades desenvolvidas com tecnologia nacional, algumas até mais saborosas que as importadas. A uva, o vinho, frutas de clima frio e exóticas, a soja, o feijão, o arroz e muitos outros produtos agropecuários hoje são produzidos no país, de uma forma comercial, graças aqueles que acreditaram no estudo, na pesquisa e na capacidade do produtor brasileiro.
Apesar das dificuldades políticas, que arrastam o país no atraso, o Brasil evoluiu muito, principalmente nas áreas agrícola, pecuária e na agroindústria. Temos o maior rebanho comercial bovino do mundo e em diversos produtos agrícolas estamos no topo da lista. Somos os primeiros na produção da cana de açúcar e café, os segundo em soja, e os terceiros em algodão. Na fruticultura, por exemplo, só perdemos para a China e Índia.
A mídia, através dos formadores de opinião, divulga pesquisas de que comer frutas é saudável e não engorda, levando o mundo a aumentar o consumo. A OMS (Organização Mundial da Saúde) declara:
Frutas, legumes, vegetais, leite e peixe são a base de uma boa alimentação. Isso tudo para o Brasil é muito bom. E sabendo que a maior parte da produção agrícola nacional (66%) vem do sudeste, ficamos esperançosos de que quando as outras regiões do Brasil produzirem o que podem, respeitando o espaço ambiental e vocação cultural do seu povo, sejamos de fato uma grande potência em recursos alimentares.
No entanto, ainda faltam políticas adequadas que nos tornem fortes no agro-negócio. Investimento governamental em qualificação, amparo à produção e uma boa infra-estrutura que garanta armazenamento, escoamento, industrialização, comercialização e competitividade, interna e externa, dos nossos produtos.
Quando os governantes deste país derem ouvidos ao que disse Pero Vaz de Caminha, quem sabe o Brasil seja o que ele acreditava que a terra descoberta um dia fosse: umparaíso tropical de fartura e beleza! Para nós, do século XXI, uma potencia econômica mundial!
Dirá um brasileiro: «Esse país não tem jeito!» Qual país? O Brasil. Então porque não dizem «Este país não tem jeito?» A resposta é de uma simplicidade tocante: porque não!
Sem razão aparente, ou talvez por demasiado científica, o «este» quase desapareceu do português do Brasil, para dar lugar a «esse»! O «este» só é usado em casos de extrema raridade.
Agora que o livro "Um Abraço à Vela" foi para a editora, começou por passar pela revisão de duas especialistas, que devem ter feito talvez um milhar de propostas de correções ao texto inicial, para além daquelas gralhas evidentes ou erros de digitação.
Faltavam muitas vírgulas, muitas. Na reunião para discutir as prepostas correções, houve que fazer um pequeno preâmbulo para que as senhoras ficassem cientes de que não se tratava de rever um texto de Machado de Assis, o purista, o mais correto escritor de língua portuguesa do Brasil, nem de Guimarães Rosa com todos os seus regionalismos, e muito menos do senhor prémio Nobel que não usa vírgulas, nem pontos, nem nada desses (ou destes?) sinais de pontuação, provocando faltas de ar em quem se atreve a ler as suas premiadas obras.
Passou-se à revisão, e logo se deparou entre o autor e as simpáticas revisoras um pequeno problema: possivelmente por uma questão de economia, o brasileiro quase já não usa, também, o pronome pessoal. Por exemplo, os portugas dirão: «no cais estava o João, o Fagundes, o Afonso e a Tereza.» Enquanto por aqui «estaria João, Fagundes, Afonso e Tereza.»
E quando se tocou na famigerada crase, aí a «nossa briga» animou, no meio de animada e alegre - sempre - troca de opiniões, porque para crasear há que ter a preposição e o pronome, com o efeito, em Portugal, de abrir a vogal, que no Brasil está sempre aberta. Como os braços do Cristo do Corcovado, seja o «a» mudo ou não.
O livro, escrito num (em um!) linguajar mestiçado de português das várias margens do grande rio Atlântico, causava alguma dificuldade ao «purismo» da língua, acabando por concluir-se, com humildade, que não se tratava de uma obra de literatura, mas de um relato e impressões de viagem, necessitando para isso, o autor, de se expressar sem pretensões de ser proposto a imortal de qualquer academia!
Nem sempre a vitória foi do autor! Como no próprio título da obra: "Um Abraço à vela!" A que propósito é que este (esse?) «à» aqui é craseado? As revisoras propuseram uma comparação bem simples: «E se o abraço fosse num barco com motor? Seria um Abraço a motor ou ao motor?» Aí o autor capitulou! Não havia dúvidas. A crase no título está errada. Mas quem vai dizer, em português, com o «a» mudo, "Um Abraço a vela?" Ninguém. Não faria sentido.
À boa moda ditatorial houve que impor a opinião, mesmo que cientificamente errada, do autor:
Vai ter que levar a crase! Levou. E o livro, com crase e tudo, vai ficar muito bom.
São estas singularidades ou disparidades ou... que nos unem. São as curiosidades da língua. É a riqueza da Lusofonia. A falar é que a gente se entende.
Agosto de 2007 cumpriu a regra e apresentou na região de Tavira alguns dias de mau tempo que nos impediram de ir à praia. Sabendo desse costume, já tínhamos decidido em Lisboa que desta vez havíamos de optar por um programa alternativo diferente do que é a habitual opção da maioria dos veraneantes no Sotavento algarvio, o das compras nas cidades mais próximas. Em Tavira, Ayamonte, Faro ou Huelva, esta alternativa tipicamente feminina, a das compras, pode ter a componente masculina de atestar o depósito do carro nas bombas da Galp em Espanha para se poupar bom dinheiro na componente fiscal do preço da gasolina. Ficamos de consciência tranquila por mantermos a opção por um produto português e poupamos a bolsa. Assim se junta o útil ao agradável. É claro que a poupança se esvai logo de seguida numa almoçarada de «revueltos», tapas, «calamares», «atum al horno», «braço de cordero» e outras iguarias andaluzas. Fica a sensação de vingança contra a voraz hidra fiscal portuguesa e ninguém se lembra de ler o cartão de agradecimentos do relativamente módico Fisco espanhol.
Portanto, desta vez não “educámos” o Fisco português e rumámos para o interior do Concelho de Tavira, região serrana praticamente desconhecida dos veraneantes. Abandonado o Algarve do slogan que diz que “il y a mer et mer, aller et Voltaire”, aí vamos nós à procura do tal Portugal desconhecido que nos espera algures. De Tavira ao Cachopo anunciam-se nada menos do que 40 kms mas há o cuidado de nada dizer sobre o número interminável de curvas típicas dum traçado que em tempos serviu asininos, equinos e respectivos transgénicos a que prosaicamente chamamos mulas. De piso irrepreensível, o traçado é fantástico para nele se imaginar um rally automóvel, de preferência com carros antigos para melhor condizer com o perfil serrano.
E o que vemos? Qualquer desavisado responderá: nada! Permita-me esse alguém que o corrija e diga: muito! Vê-se tanto vazio como o silêncio é por vezes ensurdecedor.
O percurso desta estrada tem a particularidade geográfica de passar directamente do litoral para a serra sem qualquer transição pelo chamado barrocal, aquela zona intermédia que ao longo de quase todo o Algarve faz a transição entre as praias e aluviões e a região claramente serrana. Passe o erro algébrico e diria que passamos de repente do 80 para o 8. Não, passamos do 80 para o zero. E de niilismos vamos tendo inúmeros exemplos ao longo da subida até Alcaria do Cume para iniciarmos a descida da encosta norte rodeados de um pujante … niilismo.
Encostas e cumes praticamente carecas das árvores que possam em tempos ter tido, eis a revelação da falência total de uma economia que nada produz para além de um ou outro núcleo minúsculo em torno de algum restaurante de estrada onde só param turistas no Verão e onde se sugere que no Inverno só lá vão durante o dia por causa das neblinas nocturnas e dos penhascos para que se debruçam certas bermas desprotegidas. A população que ainda por lá reside, claramente envelhecida, fala-nos da emigração dos jovens para o litoral, para Lisboa e para o estrangeiro e conta com o apoio domiciliário de um ou outro Centro Paroquial – financiado pela Segurança Social, é bem de ver – para não morrer ao abandono, longe de um mundo que já a não reconhece como útil e a visita como espécie em vias de extinção. Moram no fundo de barrancos onde antigamente havia alguma água e deram-lhes nomes fantásticos como o afixado naquela placa que nos deixa boquiabertos: Marrocos. Reminiscências da conquista de Ceuta? Assunto a estudar.
Houve por ali alguma agricultura de subsistência mas actualmente já não há quem tenha forças para arcar sequer com um molhe de estevas. Contudo, partindo do princípio de que haja por lá quem saiba ler, alguém afixou num poste de iluminação pública no Cachopo um escrito que rezava assim:
AVISO
Avisa-se os interessados que pagamos € 0,80 (16 Escudos)
o kg de esteva, até ao fim da campanha em Dezembro de 2007.
É para uma empresa espanhola e francesa.
Ass) … (esqueci o nome)
Desconheço se se trata de preço justo e não encontrei quem me dissesse se esta procura é correspondida. Presumo que as estevas – maioritariamente urze – sirvam para a extracção do óleo essencial e cá fico eu com pena de ver uma actividade que poderia muito bem ser realizada no local em vez desta mera recolha sem outro valor acrescentado que não a mão-de-obra indiferenciada. E dado o envelhecimento da população, já estou a ver a apanha ser feita por forasteiros que nem o valor da mão-de-obra deixem na serra algarvia e, pelo contrário, a transformem em transferências para o Brasil, Roménia ou Bulgária.
O niilismo é por vezes interrompido por plantações de pinheiro manso e dizem-me que se trata de uma acção pública no âmbito das Matas Nacionais[1]. Faço votos sinceros para que os pirómanos se desviem para outras bandas, de preferência para os lados das Penitenciárias ou dos hospícios psiquiátricos.
A profusão de Núcleos Museológicos anunciados na estrada nada deve ter a ver com o número de turistas que os procure e apenas sugere que algum arqueólogo ou antropólogo por ali andou à solta sem grandes restrições de verbas. Era Sábado e estava fechado o único museu que procurei, na aldeia do Cachopo.
Assim se vê como o pouco que na serra mexe resulta sobretudo – se não mesmo em exclusivo – da iniciativa pública, ou seja, tem origem nos impostos que o Fisco cobra. Do que vi, concluo que a serra do Caldeirão nada produz actualmente que justifique os dinheiros públicos para lá encaminhados. Numa época de restrições orçamentais, tudo de mau pode suceder caso não se encontre um modo de ressurgimento da economia produtiva local.
Em alternativa ao investimento público, creio que em algumas daquelas encostas se poderiam muito bem expor amplos vinhedos a ressuscitar a mais antiga Região Demarcada de vinhos, a de Tavira, agora que água não falta no Sotavento algarvio e admito que pudesse interessar a exploração dos ventos ou dos raios solares para a produção energética mas estas sugestões poderão ser menores ou até risíveis perante os resultados de um concurso de ideias para a recuperação desta serra como parte produtiva de Portugal. A Câmara Municipal de Tavira devia sentir-se obrigada a debater estas questões ou, no mínimo, a promover o tal concurso de ideias. Não tenho notícia de que esteja para aí virada.
Descendo pela encosta norte, rapidamente chegamos a Martinlongo e a um belo planalto que se estende até Alcoutim, na margem do Guadiana. Considerando que esta pequena vila encontrou no rio a razão de ser do desenvolvimento turístico que agora ensaia, é com uma certa dose de angústia que me pergunto sobre qual o modo de vida das outras gentes naquele planalto de terras abandonadas.
É com pesar e quase revolta que constato a paralisia total da economia agrícola portuguesa em enormes extensões de território humanamente desertificado e já não perco muito tempo a identificar a origem deste flagelo: nunca houve a preocupação de promover a transparência dos mercados agrícolas e, pelo contrário, parece sempre ter prevalecido a preocupação histórica de beneficiar o comércio. Portugal não tem um problema agrícola muito complicado mas em compensação tem um gravíssimo problema comercial e deste modo não há dinheiros públicos que cheguem para colmatar as necessidades duma sociedade rural moribunda que ao longo de gerações se esvaiu para faraónicos Centros Comerciais.
Bucólica mas triste esta viajem em que percorri 162 kms de completa infertilidade.
Por este caminho, o interior desertificado português em breve chegará às portas de Lisboa.
Tavira, 26 de Agosto de 2007
Henrique Salles da Fonseca
[1] - Será o pinheiro espécie monopolista das Matas Nacionais? Não haveria outras árvores mais apropriadas à Serra do Caldeirão como alfarrobeiras, amendoeiras, figueiras, azinheiras ou mesmo os tão protegidos sobreiros?
Era isso que a maioria das pessoas das grandes cidades gostaria de fazer. No entanto elas ocupam todo o tempo em rotinas intermináveis para ganhar a vida, que esquecem de viver. “Ganharás o pão com o suor do teu rosto”, profetizou Deus a Adão e Eva.
O trabalho deve ser não só um meio de ganhar a vida, mas também o prazer de realizar ou fazer alguma coisa que nos preencha, que nos torne útil, que nos faça crescer. Deve dar margem a que se tenha outras experiências, não deve ser obsessivo nem totalmente absorvente. Deve dar espaço para ser companheiro(a), amigo(a), pai, marido. Deve dar tempo para se estar só, consigo mesmo, para se poder meditar e avaliar sobre o sentido da vida.
Num mundo que não dá tréguas para a lentidão ou cadência é preciso saber fazer escolhas, ter prioridades, administrar e aproveitar sabiamente o tempo. Quantos não sonham em sair desse turbilhão das grandes urbes para cidades pequenas e pacatas, mesmo ganhando menos, à procura de qualidade de vida? Muitos com certeza. Motiva-os viver melhor. Poder levantar pela manhã, sem o ruído ensurdecedor do trânsito, abrir a janela e apreciar a natureza, tomar café devagar com as crianças, levá-las no fim de semana a passeios, almoçar em família, vê-las crescer.
Quem não gostaria de ir pescar com seus filhos no meio de um riacho, conversar com eles, na varanda, em noites encaloradas, sob a luz do luar? Cavalgar pelos campos, fazer caminhadas nas trilhas das matas, tomar banho de cachoeira? É lá, no interior, que ainda se pode rir com as travessuras dos mais novos e se arrepiar com as estórias das almas penadas, contadas pelos mais velhos em volta de uma fogueira. Celebrar juntos as datas festivas como desculpa para mais um encontro daqueles que amamos, para lhes roubar mais um pouco da sua companhia. São momentos de disponibilidade e de trocas de vivências que marcam para relembrar no ocaso da vida.
Parar de correr, respirar bem, encher a vista com a beleza da natureza, ouvir os ruídos do dia, saborear o frescor da água, apreciar o trivial, poder “curtir”aqueles que nos cercam, é verificar que a verdadeira felicidade está ao alcance de todos, pois ela está na simplicidade e no essencial.
Talvez a idade nos ensine a viver melhor. Sem pressa, com sabedoria, se programando, dando margem aos imprevistos, guardando pra si o máximo do seu tempo, que corre como a areia, ligeira, entre os dedos.
Não se entra em lar brasileiro, do mais modesto ao mais requintado, sem que se ofereça uma xícara de café, feito na hora, fresquinho, como sinal de apreço pela visita e receptividade do anfitrião. É sinal de boa “educação”! Seja em casa ou no trabalho, num bate-papo informal, confortavelmente instalados numa cafeteria ou em pé em qualquer bar de esquina, após uma refeição, numa pausa de Congresso, na choça do caboclo, na sala de qualquer Secretaria do Planalto, para estimular ou acalmar, ou mesmo sem motivo, o costume de tomar um cafezinho é um prazer nacional, e porque não dizer mundial.
Mas houve um tempo em que apreciar um bom café no Brasil, não era comum. O de melhor qualidade era exportado, ficando para a população o refugo, de categoria inferior. Motivo pelo qual muitos imigrantes se decepcionavam com o café brasileiro, quando cá chegavam. Havia também a idéia difundida que café fazia mal ao coração, sendo para as crianças, até desaconselhável. Verdade é que, como estimulante circulatório, tomado em grandes quantidades, poderá levar a taquicardia (ritmo acelerado dos batimentos cardíacos), tendo neste caso os “antigos” alguma razão. Em recentes pesquisas, nas quais o marketing se embasa, esse conceito foi contrariado. Agora dizem que, como antioxidante natural, tomado logo após ser preparado, tem a virtude de combater doenças como Alzeheimer, Parkinson, depressão e até câncer.
Como outros produtos, que fazem a marca de uma nação, o café tem aumentado de consumo com a globalização. Até o Japão, a China, a Coréia do Sul e a Índia, onde o chá mais que um hábito é um ritual, tornaram-se grandes consumidores desse produto, em que o Brasil é o maior produtor mundial.
Desde o ano 2000, a ABIC (Associação Brasileira da Indústria do Café) tem notificado a melhoria considerável da qualidade dos grãos plantados pelos nossos agricultores, trazendo à população um produto de qualidade. Agora já temos nos Supermercados café de tipo Superior e Gourmet, para a regalia dos apreciadores do ouro verde brasileiro. Apesar disso, temos a noticia que a safra de 2007/2008 deverá cair, por causa de problemas climáticos ocorridos na época da floração da planta. Segundo a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) uma redução de mais ou menos de 26,9% ante a safra de 2006. Somos o segundo maior consumidor mundial (16,33 milhões de sacas/ano), perdendo só para os USA (20milhões de sacas/ano). Preparemo-nos para mais uma alta no Mercado.
Esse fruto, de origem Africana (Etiópia), difundido pelos árabes e pelos venezianos levado à Europa, onde foi artigo de luxo, guardado e explorado pelos holandeses e franceses, no Brasil chegou romanticamente pelo Sargento-mor Francisco de Melo Palheta. (Qual o carioca que não se lembra do famoso Café Palheta, tão consumido no Rio de Janeiro, no meio do século passado?). Trouxe-o escondido do Suriname, onde a esposa do governador da Guiana Holandesa lho dera em confiança. No Brasil encontrou terras e clima favoráveis ao seu cultivo. Com D. João VI foi estimulada a sua expansão e desenvolvimento principalmente nas terras do sul e sudeste, onde se tornou na época dos Barões do Café (século XIX e XX) um dos produtos de maior representatividade na economia e cultura brasileiras. Foi ainda a produção do café que trouxe para o país uma grande leva de imigrantes italianos e portugueses para trabalhar nos campos, quando a escravidão negra terminou no país, aumentando assim a miscigenação do povo brasileiro e enriquecendo a sua cultura.
A história conta que do oriente à Europa apareceram as cafeterias. Das mais simples às mais luxuosas, ponto de encontro da burguesia e intelectuais. Johann Sebastian Bach prestou homenagem ao grão da Abissínia quando compôs a Cantata do Café. Em Viena misturou-se leite e açúcar ao café coado. Todos aprovam.
O café se propagou e se universalizou. Na América do Sul, o Brasil tornou-se um grande produtor-exportador. Santos Dummont foi o maior produtor mundial do seu tempo. Com a cafeicultura a riqueza chegou ao interior. Vieram então os ingleses trazendo as ferrovias. Foi com eles que os mineiros aprendem a falar o “UAI” (why). Na América do Norte cafeterias vulgarizaram-se. A saca de café passa a ser cotada pela Bolsa de Nova York. O café descafeinado é colocado no mercado por Ludwig Roselius. As máquinas de café expresso popularizam-no por todo o mundo.
O cultivo do café está cada vez mais aprimorado. No planalto mineiro, um dos maiores produtores do país, encontramos o café do Cerrado, cultivado em região demarcada, considerado um dos maiores potenciais agro-econômicos do país.
Para completar a “conversa”, que tal um cafezinho coado na hora, feito com grãos moídos, selecionados e torrados ao ponto, sem misturas ou sujeiras?
Hum... dá até pra sentir o seu aroma se espalhando pela casa inteira!
vAo estilo português, uma associação empresarial, pouco conformada com a perspectiva do NAL (Novo Aeroporto de Lisboa) na Ota, reuniu um grupo de sábios para opinar sobre a momentosa questão. E os sábios – os que de tudo sabem e sobre tudo opinam, quase sempre os mesmos – não se fizeram rogados...e opinaram. Que disseram eles?
vQue NAL, sim, mas em Alcochete, e só com uma pista, para a coisa sair mais em conta. E que a Portela continue como até agora, pois tem ainda muitos e bons anos pela frente.
vUma opinião muito à nossa moda: bate, mas não magoa. Exemplar q.b. Para nos deixar, se não esmagados por tanto saber, pelo menos reverentes, agradecidos e desvelados perante tamanha argúcia. Afinal, nunca ninguém tinha pensado nisso, antes!
vO diabo são os detalhes. Detalhes que, diga-se em abono da verdade, os sábios de cá, volta e meia, desprezam, por serem indignos (eles, os detalhes, não os sábios) da visão “de grandeur” que eles (agora os sábios, não os detalhes) caprichadamente cultivam. E, no caso, são três os mafarricos que saltitam em redor: (a) o número de pistas a construir no NAL; (b) a articulação dos fluxos de tráfego entre a Portela e o NAL; (c) a expansão do NAL, uma vez chegado o dia. Vejamos um por um.
vNão vou defender (como já ouvi a um alto, mas não tão sábio, responsável) que bom, bom, seria o NAL ter logo três pistas (ainda não perdi a esperança de lhe perguntar como é que ele faria o milagre de distribuir, sem desastres pela certa, as operações aeroportuárias por três pistas paralelas; e de lhe lembrar também que, se se cruzassem, só uma delas poderia estar operacional à vez - o que, bem vistas as coisas, para efeitos operacionais, era como se existisse uma só pista[i]). Acontece, para desmerecimento dos nossos sábios, que Portugal (e, já agora, a região de Lisboa) não tem - quando deveria ter já, por muitas e poderosas razões - um aeroporto com duas pistas que possam ser operadas simultaneamente.
vDispusesse a Portela de duas pistas paralelas plenamente operacionais (e fosse mais tolerante a regulamentação sobre o ruído em áreas urbanas) e, mesmo com os volumes de tráfego que se projectam para os próximos 20 anos, estar-se-ia ainda longe do ponto de saturação. Haveria que investir, é certo, na zona de parqueamento das aeronaves e em terminais de passageiros e de carga que separassem o tráfego aéreo intracomunitário do intercontinental; mas isso custaria 1/6, vá lá, 1/5 das verbas agora faladas para o NAL. Só que não dispõe, nem poderá jamais dispor, por evidente falta de espaço (e por força dos tais limites regulamentares em matéria de ruído).
v1ª Conclusão: o que há que debater é a concepção, o modelo (Aeroporto regional? Hub intercontinental?) de um aeroporto com duas pistas aptas a operar de forma independente, com segurança máxima. E, só lá mais para diante, sabendo-se conscienciosamente o que se quer, abalar por aí, à procura da localização mais conveniente.
vImaginemos, por um momento, que já estão operacionais Portela e Alcochete (como poderia ser a Ota com uma só pista). A ideia dos opinativos sábios é que o NAL seja a segunda pista da Portela, suficientemente distante para permitir operações simultâneas. Muito bem.
vNão seria difícil por aí além distribuir os fluxos de tráfego aéreo ponto-a-ponto (isto é, os que, pelo ar, demandam a região de Lisboa; e os que de cá voam para o estrangeiro) pelos dois aeroportos. Talvez uns quantos, a quem saísse na rifa Alcochete (ou a Ota), resmungassem contra a má sorte. Mas seria tempestade de pouca dura. Com o tempo, todos se habituariam – e a contribuição das ligações terrestres para diluir más vontades seria insubstituível.
vO busílis está nos trânsitos: os voos feeder (voos regionais que, pendularmente, carreiam tráfego para os voos intercontinentais e distribuem o tráfego que os voos intercontinentais trazem) só têm razão de ser se operarem no mesmo aeroporto dos voos intercontinentais; e, simetricamente, sem voos feeder não é realista explorar comercialmente rotas intercontinentais. As sábias opiniões, para surpresa dos vulgares mortais, não se detiveram nesta questão de somenos.
vNem parece estarem cientes de que, sem o problema dos trânsitos bem resolvido, o NAL só contará com voos intercontinentais esporádicos. E que, sem voos intercontinentais regulares: (1) os volumes de tráfego aéreo que se perspectivam são uma ficção; (2) a TAP deixará de existir – pelo menos, tal como hoje a conhecemos.
v2ª Conclusão: a variável estratégica do NAL não é nenhuma daquelas que as projecções até hoje feitas abordam. São os trânsitos. E a escolha é entre um aeroporto para servir tráfego aéreo ponto-a-ponto em rotas regionais (um aeroporto regional, pois) e um hub intercontinental (en passant: por estranho que pareça, o Aeroporto Sá Carneiro tem condições para se tornar um hub regional, o do noroeste peninsular; condições que Lisboa, pela sua localização absolutamente periférica, está longe de reunir).
vEnfim, a possibilidade de expandir um aeroporto – logicamente, com uma segunda pista (a ampliação dos terminais, sendo um bico de obra, não compromete o modelo de exploração de nenhum aeroporto, nem impede que os aviões lá continuem a operar em segurança; incomodidade, nestes casos, não é sinónimo de menor segurança).
vPara que a pista existente pudesse continuar a operar em segurança, a pista a construir teria de estar afastada umas boas centenas de metros, o que dificultaria as futuras condições de exploração (além de agravar o custo final do investimento, com ligações terminais/pistas desnecessariamente longas). E a alternativa (encerrar a pista existente enquanto decorresse a construção da segunda pista – durante, para aí, uns 2, 3 anos) é completamente descabelada.
v3ª Conclusão: O NAL pode arrancar com terminais sobredimensionados, faraónicos mesmo – ou em modestos barracões. Agora, o que não pode deixar de ter, logo desde o primeiro dia, é duas pistas aptas a operar com toda a segurança, simultaneamente.
vO que seria da silly season sem episódios facetas como este que a inconformada associação acaba de nos servir?
A. Palhinha Machado
AGOSTO 2007
[i] Configurações de pistas, como a que se vê na Portela, são fruto do tempo em que os aviões operavam em função do regime de ventos e de outras condicionantes meteorológicas. Não mais.
Causou muitos engulhos a um dos maiores pobretões desta terra, presidente da Telemar, saber que uma empresa portuguesa de telefonia se mostrou interessada em participar no capital da, ainda hipotética, nova empresa resultante da fusão da Telemar com a Brasil Telecom. Berrou, barafustou, e afirmou que isso seria uma interferência no controle da nação!
Dono de grande parte do Nordeste do Brasil, incluindo os orgãos de comunicação - não confundir com o Norte onde impera a dinastia Sarney - na sua entrevista, afirmou ainda que, como o governo americano controla uma boa parte dos hotéis lá nos EUA, com medo da chegada de possíveis «inimigos» (deve controlá-los todos, mas... ), a nova companhia, deve ter capital exclusivamente nacional para poder controlar o país todo... em caso de guerra! Não se sabe que guerra o ilustre milionário tem em mente, mas com os avanços do Chavez e as velhas reivindicações da Bolívia... quem sabe?
No entanto afirmou também que uma boa, grande, parte do capital atual da Telemar provem de investimentos estrangeiros, vindos de fundos de pensão de diversos países. Deve ser dos países «amigos»! É estranho que esse ataque de patriotismo xenófono se tenha manifestado agora com a hipótese de entrarem capitais portugueses na futura empresa!
Há um velho ditado que diz que quando alguém te odeia é porque tem inveja de ti, e é um inimigo inexorável, conforme dizia o rei dos romancistas portugueses, Camilo Castelo Branco.
Será que ele pensa que o novo presidente, a roubar-lhe o belo tacho de que hoje desfruta, seria, por exemplo o Pedro Álvares Cabral? E como porta voz da companhia o intelectual Pero Vaz de Caminha, tirando assim mais um cargo chorudo a outro de seus apaniguados?
Tasso mesmo a ver que aqui anda mutreta!
Se ele não quer portugueses no negócio, quando for a abertura da composição de capital... faça uma oferta superior.
Muito se fala no Brasil em apagão. Palavra que, há tempos anda na ordem do dia como o «mensalão», e tudo terá a ver com a sua rima-gêmea: ladrão!
No bairro onde vivo, no Rio de Janeiro, quase não precisa chover, basta um ventinho de ameaça, e lá vem o «apagão»! Reclama, mas agüenta um mínimo de duas horas à luz de velas e do velho lampião de querosene. Daqui a três anos, segundo as mais otimistas previsões de sexas (ir)responsáveis, vou ter uns milhões de colegas às escuras, o que tudo leva a concluir que neste momento a área a investir será na fabricação de velas e lampiões!
Pior tem sido o «apagão» das obrigações do governo, perdão, desgoverno. Em pouco tempo tivemos dois horrorosos desastres aéreos, por causas que dificilmente serão apuradas e/ou divulgadas com o rigor que a ética e o respeito pelo público deveriam exigir. Tráfego demasiado intenso, pistas mal construídas, construções sem plano de urbanização feitas nas cabeceiras e laterais, aviões superlotados e com «pequenos defeitos», controladores mal orientados, tudo num caldeirão de irresponsabilidade. Morrem centenas de pessoas e a conta... ficará sempre por pagar!
Agora, altura em que tudo malha, não só no governo, mas nos imensos lucros das empresas aéreas (esqueçamos os bancos que isso até é vergonhoso), é ocasião para perguntar porque uma passagem entre Rio e São Paulo, cujo vôo tem 40 a 45 minutos de duração, custa entre R$ 129, e R$ 359, equivalente a $ 50,0 até $ 138,0 e na Europa uma passagem entre Vitória, em Navarra, Espanha, e Londres, vôo com quase duas horas, pode custar, taxas e encargos incluídos... € 22,0! Menos da metade da mais baixa tarifa Rio-São Paulo, para um vôo no mínimo três vezes mais longo, o que leva a concluir que a diferença é de um para seis ou sete! Alguma coisa certamente vai mal. Até porque este preço consegue ser inferior ao de uma passagem de ônibus no mesmo trajeto do Brasil. E a empresa aérea européia que faz estes preços é uma das que tem todos os anos balanços positivos. Como eles conseguem e nós não?
Será que as companhias aéreas brasileiras e mais a ANAC, a INFRAERO, o ministro da Fazenda e outras muitas intervenientes entidades poderão esclarecer?
Serão taxas, impostos, má gestão, lucro desmedido, que tudo se pode resumir em falta de vergonha?
E, quer o Brasil aumentar o fluxo de turistas, internos e estrangeiros, ou... isto está bom mesmo só para o AeroLula ?